Evangelho segundo S. João 15,26-27.16,1-4.
«Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-de
enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. E vós também haveis de dar
testemunho, porque estais comigo desde o princípio.» «Dei-vos a conhecer estas coisas para
não vos perturbardes. Sereis expulsos das sinagogas; há-de chegar mesmo a hora em que
quem vos matar julgará que presta um serviço a Deus! E farão isto por não terem conhecido o
Pai nem a mim. Deixo-vos ditas estas coisas, para que, quando chegar a hora, vos lembreis de
que Eu vo-las tinha dito. Não vo-las disse, porém, desde o princípio, porque Eu estava
convosco.»
Catecismo da Igreja Católica
§686-690, 737
"Ele dará testemunho a meu favor. E vós também haveis de dar testemunho"
A missão conjunta do Filho e do Espírito
"Aquele que o Pai enviou a nossos corações, o Espírito de seu Filho" é realmente Deus.
Consubstancial ao Pai e ao Filho, ele é inseparável dos dois, tanto na Vida íntima da Trindade
como em seu dom de amor pelo mundo. Mas ao adorar a Santíssima Trindade, vivificante,
consubstancial e indivisível, a fé da Igreja professa também a distinção das Pessoas. Quando o
Pai envia seu Verbo, envia sempre seu Sopro: missão conjunta em que o Filho e o Espírito
Santo são distintos, mas inseparáveis. Sem dúvida, é Cristo que aparece, ele, a Imagem visível
do Deus invisível; mas é o Espírito Santo que o revela.
Jesus é Cristo, "ungido", porque o Espírito é a unção dele, e tudo o que advém a partir da
Encarnação decorre desta plenitude. Quando finalmente Cristo é glorificado, pode, por sua
vez, de junto do Pai, enviar o Espírito aos que crêem nele: comunica-lhes sua glória, isto é, o
Espírito Santo que o glorifica. A missão conjunta se desdobrar então nos filhos adoptados
pelo Pai no Corpo de seu Filho: a missão do Espírito de adopção será uni-los a Cristo e fazêlos viver nele.
A missão de Cristo e do Espírito Santo realiza-se na Igreja, Corpo de Cristo e Templo do
Espírito Santo. Esta missão conjunta associa a partir de agora os fiéis de Cristo à sua
comunhão com o Pai no Espírito Santo: o Espírito prepara os homens, antecipa-se a eles por
sua graça, para atraí-los a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor ressuscitado, lembra-lhes sua
palavra, abrindo-lhes o espírito à compreensão de sua Morte e Ressurreição. Torna-lhes
presente o mistério de Cristo, eminentemente na Eucaristia, a fim de reconciliá-los, de colocálos em comunhão com Deus, a fim de fazê-los produzir "muito fruto". Assim, a missão da
Igreja não é acrescentada à de Cristo e do Espírito Santo, senão que é o Sacramento dela: por
todo o seu ser e em todos os seus membros, a Igreja é enviada a anunciar e testemunhar,
actualizar e difundir o mistério da comunhão da Santíssima Trindade
Paulo VI, Papa de 1963-1978
Evangelii nuntiandi
«Quando vier o Defensor, o Espírito de verdade, ele testemunhará a meu favor»
É graças ao apoio do Espírito Santo que a Igreja cresce. Ele é a alma desta Igreja. É Ele que
explica aos fiéis o sentido profundo do ensino de Jesus e o Seu mistério. Ele é aquele que,
hoje como nos primórdios da Igreja, age em cada evangelizador que se deixa possuir e
conduzir por Ele, e põe na sua boca as palavras que sozinho não saberia achar, predispondo
também a alma daquele que escuta para o tornar aberto e receptivo à Boa Nova e ao Reino
anunciado. As técnicas de evangelização são boas, mas as mais perfeitas não conseguiriam
substituir a acção discreta do Espírito. A preparação mais cuidada do evangelizador nada
opera sem Ele. Sem Ele, a dialética mais convincente é impotente sobre o espírito dos
homens. Sem Ele, os esquemas sociológicos ou psicológicos mais elaborados depressa se
revelam desprovidos de valor. Vivemos na Igreja um momento privilegiado do Espírito.
Procuramos por todo o lado conhecê-Lo melhor, tal como a Escritura o revela. Fica-se feliz
por se esta r sob a Sua acção. Reunimo-nos à Sua volta. Queremos deixar-nos conduzir por
Ele. Ora se o Espírito de Deus tem um lugar proeminente em toda a vida da Igreja, é na sua
missão evangelizadora que Ele mais age. Não foi por acaso que o grande início da
evangelização teve lugar na manhã do Pentecostes, sob o sopro do Espírito. Pode-se dizer que
o Espírito Santo é o principal agente da evangelização... Mas também se pode dizer que Ele é
o termo da evangelização: só Ele suscita a nova criação, a nova humanidade à qual a
evangelização deve conduzir, com a unidade na diversidade que a evangelização desejaria
provocar na comunidade cristã. Através dEle, o Evangelho penetra no coração do mundo, pois
é Ele que faz discernir os sinais dos tempos-sinais de Deus-que a evangelização descobre e
realça no interior da História.
Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein], (1891-1942), carmelita, mártir, co-patrona da
Europa
Poesia, Pentecostes 1937
"O Defensor que vos enviarei de junto do Pai, o Espírito de verdade"
Quem és tu, suave luz?...
És tu o raio que brota qual relâmpago
do trono altíssimo do eterno Juíz,
penetrando como um ladrão na noite da alma
que se ignorava a si mesma? (Lc 12,39)
Misericordioso, mas também imparável,
tu penetras até às profundezas escondidas.
A alma assusta-se com o que vê de si mesma
e esconde-se num sagrado temor
diante do princípio de toda a sabedoria
que vem do alto
e nos prende solidamente ao alto,
diante da tua acção que nos recria,
ó Espírito Santo, raio que nada pode parar!
És tu a plenitude do espírito e do poder
que permite ao Cordeiro romper os selos
do decreto eterno de Deus? (Ap 5,7)
Por ordem tua, os mensageiros do julgamento
cavalgam por todo o mundo e separam,
com o gume da sua espada,
o Reino da Luz do reino das trevas (Ap 6,2).
Os céus serão novos e nova será a terra (Ap 21,11)
e, pelo teu sopro ligeiro,
tudo reencontrará o seu justo lugar:
Evangelho segundo S. João 16,5-11.
«Agora vou para aquele que me enviou, e ninguém de vós me pergunta: 'Para onde vais?'
Mas, por vos ter anunciado estas coisas, o vosso coração ficou cheio de tristeza. Contudo,
digo-vos a verdade: é melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a
vós; mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei. E, quando Ele vier, dará ao mundo provas irrefutáveis
de uma culpa, de uma inocência e de um julgamento: de uma culpa, pois não creram em mim;
de uma inocência, pois Eu vou para o Pai, e já não me vereis; de um julgamento, pois o
dominador deste mundo ficou condenado.»
Santo António (cerca 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja
Sermões para os domingos e as festas dos santos
“Se eu não for, o defensor não virá a vós; mas se eu partir, eu enviá-lo-ei a vós”
O Espírito Santo é o sustento que nos reconforta no caminho da pátria, é o vinho que nos
alegra na tribulação, o óleo que adoça as amarguras da vida. Faltava este triplo socorro aos
apóstolos que deviam ir pregar no mundo inteiro. Por isso Jesus lhes enviou o Espírito Santo.
Ficaram cheios dele – cheios, para que os espíritos impuros não pudessem ter qualquer acesso
a eles: quando um copo está bem cheio, não se pode por nada nele.
O Espírito Santo “vos ensinará” (Jo 16,13), para que vós saibais; ele vos sugerirá, para que
vós queirais. Ele dá o saber e o querer; juntemos o nosso “poder”, na medida das nossas
forças, e seremos templos do Santo Espírito (1Co 6,19).
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de uma ordem religiosa,
teólogo.
12 sermões sobre Cristo
«Se Eu for, enviar-vos-ei o Paráclito, o Defensor»
Poderíamos ser levados a dizer: «Cristo voltou, mas em espírito; é o seu Espírito o que veio
em seu lugar; e, quando Ele diz que está connosco, isso significa simplesmente que o seu
Espírito está connosco». Ninguém, certamente, pode negar que o Espírito Santo veio; mas por
que veio? Para suprir a ausência de Cristo ou para realizar a sua presença? Com certeza para
O tornar presente. Não pensemos, sequer por um momento, que Deus Espírito Santo possa vir
de maneira que Deus Filho Se mantenha à distância. Não, Ele não veio para que Cristo não
venha, mas antes para que Cristo possa vir na sua vinda. Com o Espírito Santo entramos em
comunhão com o Pai e o Filho… «Cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça
em vós o homem interior, diz-nos são Paulo, para que Cristo habite, pela fé, nos vossos
corações» (Ef 3, 16-17). O Espírito Santo suscita; a fé acolhe a habitação de Cristo no
coração. Sendo assim, o Espírito não ocupa o lugar de Cristo na alma, antes assegura esse
lugar a Cristo.
São Paulo insiste nesta presença de Cristo naqueles que possuem o seu Espírito (cf. 1 Co 6,
15; 1 Co 12. 13.27) … O Espírito Santo digna-Se, portanto vir a nós para que, pela sua vinda,
Cristo possa vir a nós, não corporal ou visivelmente, mas penetrando-nos. E é assim que Ele
está, ao mesmo tempo, presente e ausente; ausente na medida em que deixou a terra; presente
pelo facto de que Ele não se afasta da alma fiel; ou, como Ele mesmo dizia: «O
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa,
teólogo
Meditações e Devoções, cap. 14 O Paráclito, 3.
«Se Eu não partir, o Paráclito, o Defensor, não virá a vós; mas se Eu partir, enviar-voLo-ei»
Meu Deus, eterno Paráclito, adoro-Te, Luz e Vida. Poderias ter-Te limitado a enviar-me de
fora bons pensamentos, para além da graça que os inspira e os realiza; poderias conduzir-me
pela vida dessa maneira, limitando-Te a purificar-me, pela Tua acção interior, no momento da
minha passagem para o outro mundo. Na Tua compaixão infinita, porém, entraste na minha
alma desde o começo, dela Te apossaste, dela fizeste o Teu templo. Pela Tua graça, habitas
em mim de modo inefável, unindo-me a Ti e a toda a assembleia dos anjos e dos santos. Mais
ainda, estás pessoalmente presente em mim, não apenas pela Tua graça, mas pelo Teu próprio
ser, como se, mantendo embora a minha personalidade, eu fosse de alguma maneira absorvido
em Ti, a partir dessa vida. E, como quiseste mesmo apossar-Te do meu corpo, na sua
fraqueza, ele se tornou igualmente templo Teu (1 Cor 6, 19). Verdade espantosa e temível! Ó
meu Deus, creio que assim é, sei que assim é!
Poderei pecar, estando Tu tão intimamente com igo? Poderei esquecer Quem está comigo,
Quem está em mim? Poderei expulsar o hóspede divino por via daquilo que Ele abomina mais
do que tudo, da única coisa que pode ofendê-Lo, da única realidade que não é Sua? […] Meu
Deus, possuo uma dupla segurança contra o pecado: a primeira é o temor de semelhante
profanação, na Tua presença, de tudo quanto és em mim; a segunda é a confiança de que essa
mesma presença me protegerá do mal. […] Nas provas e na tentação, chamarei por Ti. […]
Graças a Ti, nunca Te abandonarei.
Santa Teresa Benedita da Cruz [€dite Stein] (1891-1942) carmelita, mátir, co-padroeira da
Europa
Poesia de Pentecostes 1937
"É bom para vós que eu parta porque, se não partir, o Paráclito não virá a vós"
Quem és tu, doce luz que me enches
e iluminas as trevas do meu coração?...
És o Mestre da obra,
o construtor da eterna catedral
que se eleva desde a terra ao Céu?
Tu dás vida às suas colunas, que se erguem,
altas e rectas, sólidas e imutáveis (Ap 3,12).
Marcadas pelo sinal do Nome divino e eterno,
lançam-se para a luz e suportam a cúpula
que termina e coroa a santa catedral,
a tua obra que abraça o universo inteiro:
o Espírito Santo, Mão criadora de Deus!...
És tu o doce cântico do amor
e do sagrado respeito que ressoa sem fim
à volta do trono da Trindade santa (Ap 4,8),
sinfonia em que ecoa
a nota pura dada por cada criatura?
O som harmonioso,
o acorde unânime dos membros e da Cabeça (Ef 4,15),
no qual cada um, no auge da alegria,
descobre o sentido misterioso do seu ser
e o deixa brotar em gritos de júbilo,
livre e paricipante no seu próprio jorrar:
Espírito Santo eterno júbilo!
Evangelho segundo S. João 16,12-15.
«Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora.
Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não
falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de
vir. Ele há-de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a
conhecer. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: 'Receberá do que é meu e volo dará a conhecer'.»
Santo António (c. 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja
Sermões para os domingos e as festas dos santos
“Ele vos guiará para a verdade plena”
O Espírito Santo, o Paráclito, o Defensor, é Aquele que, como um sopro, o Pai e o Filho
enviam à alma dos justos. É por Ele que somos santificados e merecemos ser santos. O sopro
humano é a vida dos corpos; o sopro divino é a vida dos espíritos. O sopro humano torna-nos
sensíveis; o sopro divino torna-nos santos. Este Espírito é Santo, porque, sem ele, nenhum
espírito – nem angélico nem humano – pode ser santo.
“O Pai – diz Jesus – vo-Lo enviará em meu nome” (Jo 14, 26), isto é, em minha glória, para
manifestar a minha glória; ou ainda, porque Ele tem o mesmo nome que o Filho: é Deus. “Ele
Me glorificará”, porque vos tornará espirituais e vos levará a compreender como o Filho é
igual ao Pai e não simplesmente um homem como O vedes, ou porque vos tirará todo o temor
e vos fará anunciar a minha glória a todo o mundo. Porque, a minha glória é a salvação dos
homens.
“Ele vos ensinará todas as coisas”. “Filhos de Sião, alegrai-vos”, diz o profeta Joel, porque o
Senhor vosso Deus vos deu Aquele que ensina a justiça” (2, 23 Vulg.), que vos há-de ensinar
tudo o que diz respeito à salvação.
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja
Relações, nº 33
“Reconhecendo a glória da Trindade eterna, adorando a sua omnipotente unidade"
(colecta)
A verdade sobre a Santíssima Trindade tinha-me sido exposta por teólogos, mas nunca a
compreendi como a compreendo agora, depois daquilo que Deus me mostrou. [...] Foram-me
representadas três Pessoas distintas, que podem ser consideradas e com quem se pode
conviver em separado. Percebi depois que só o Filho encarnou, o que mostra claramente a
realidade desta distinção. Estas Pessoas conhecem-Se, amam-Se e comunicam entre Si. Mas,
se as três Pessoas são distintas, como dizemos que têm, todas três, uma mesma essência? Com
efeito, é nisso que acreditamos; trata-se de uma verdade absoluta, pela qual estaria disposta a
sofrer mil vezes a morte. Estas três Pessoas têm um único querer, um só poder, uma única
soberania, de tal maneira que nenhuma delas pode coisa alguma sem as outras, e que há um só
Criador de tudo quanto foi criado. Poderia o Filho criar uma formiga que fosse sem o Pai?
Não, porque eles têm um mesmo poder. E o mesmo acontece com o Espírito Santo.
Assim, há um só Deus todo-poderoso, e as três Pessoas constituem uma só Majestade. Poderá
alguém amar o Pai sem amar o Filho e o Espírito Santo? Não, mas aquele que se torna
agradável a uma destas três Pessoas torna-se agradável às três, e aquele que ofende uma delas
ofende as outras duas. Poderá o Pai existir sem o Filho e sem o Espírito Santo? Não, porque
têm uma mesma essência, e onde se encontra uma Pessoa encontram-se as outras duas, porque
não podem separar-se.
Como é então que vemos três Pessoas distintas? Como é que o Filho encarnou, sem que o Pai
e o Espírito Santo tenham encarnado? Eu não o compreendo; os teólogos sabem explicá-lo. O
que eu sei é que as três Pessoas concorreram para esta obra maravilhosa. De resto, não me
detenho durante muito tempo em questões deste género; o meu espírito passa imediatamente à
verdade de que Deus é todo-poderoso e de que, tendo-o querido, pôde fazê-lo, e poderia, da
mesma maneira, fazer tudo o que quisesse. Quanto menos compreendo estas coisas, mais
acredito nelas, e mais devoção delas retiro. Bendito seja Deus para sempre! Ámen.
S. Siluane (1866-1938), monge ortodoxo
Escritos espirituais
"Quando vier, o Espírito de verdade guiar-vos-á para a verdade completa"
Se quiseres rezar no teu coração e não fores capaz, contenta-te com dizer a oração com os
lábios e mantém o teu espírito atento ao que dizes. Pouco a pouco, o Senhor te dará também a
graça da oração interior e saberás então rezar sem distracções. Não procures realizar a oração
do coração através de meios técnicos; prejudicarias o teu coração e, no fim, estarias a rezar só
com os lábios. Reconhece a ordem da vida espiritual: Deus concede os seus dons à alma
humilde e sincera. Sê obediente, conserva a moderação em tudo, no alimento, na palavra, em
toda a atitude. Então o próprio Senhor te dará a graça da oração interior...
O silêncio espiritual nasce do desejo de cumprir o mandamento de Cristo: "Ama o Senhor teu
Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças" (Mt 12,33). Esse
silêncio nasce da procura do Deus vivo, naquele que se quer libertar das tentações deste
mundo para encontrar o Senhor na plenitude do amor, para viver em sua presença na pura
oração. Senhor, como poderia eu não te procurar? Tu revelaste-te à minha alma de uma forma
tão incrível! Fizeste-a prisioneira do teu amor, ela não pode esquecer-te. Com efeito,
repentinamente, a alma reconhece o Senhor no Espírito Santo; quem pode descrever esta
alegria e esta consolação? O Espírito Santo age no homem todo, na inteligência, na alma e no
corpo; por isso, Deus é reconhecido na terra como no céu. Na sua infinita bondade, o Senhor
concedeu-me esta graça, a mim que sou pecador, para que os homens o conheçam e se voltem
para ele.
Pregador do Papa: «Família deveria ser reflexo terreno da Trindade»
Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a solenidade da Santíssima Trindade
ROMA, sexta-feira, 1º de junho de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe.
Raniero Cantalamessa, ofmcap. -- pregador da Casa Pontifícia -- sobre a liturgia do próximo
domingo, solenidade da Santíssima Trindade.
***
Iguais e diferentes
Domingo da Santíssima Trindade
Provérbios 8, 22-31; Romanos 5, 1-5; João 16, 12-15
No Evangelho, procedente dos discursos de despedida de Jesus, perfilam-se no fundo três
misteriosos sujeitos inextricavelmente unidos entre si. «Quando Ele vier, o Espírito da
verdade, vos guiará até a verdade completa... Tudo o que tem o Pai é meu [do Filho!]».
Refletindo sobre estes e outros textos do mesmo tipo, a Igreja chegou à sua fé no Deus uno e
trino.
Muitos dizem: que enigma é esse de três que são um e de um que são três? Não seria mais
simples crer em um Deus único e ponto, como fazem os judeus e os muçulmanos? A resposta
é fácil. A Igreja crê na Trindade não porque goste de complicar as coisas, mas porque esta
verdade lhe foi revelada por Cristo. A dificuldade de compreender o mistério da Trindade é
um argumento a favor, não contra sua verdade. Nenhum homem, sozinho, teria idealizado
jamais um mistério assim.
Depois de que o mistério nos foi revelado, intuímos que, se Deus existe, não pode mais que
ser assim: uno e trino ao mesmo tempo. Não pode ter amor mais que entre duas ou mais
pessoas; se, portanto, «Deus é amor», deve haver n’Ele um que ama, um que é amado e o
amor que os une. Também os cristãos são monoteístas; crêem em um Deus que é único, mas
não solitário. A quem Deus amaria se estivesse absolutamente só? Talvez a si mesmo? Mas
então o seu não seria amor, mas egoísmo, ou narcisismo.
Eu gostaria de lembrar o grande e formidável ensinamento de vida que nos chega da
Trindade. Este mistério é a máxima afirmação de que se pode ser iguais e diferentes: iguais
em dignidade e diferentes em características. E não é isso de que temos a necessidade mais
urgente de aprender, para viver adequadamente neste mundo? Ou seja, que se pode ser
diferentes na cor da pele, cultura, sexo, etnia e religião, e no entanto gozar de igual dignidade,
como pessoas humanas?
Este ensinamento encontra seu primeiro e mais natural campo de aplicação na família. A
família deveria ser um reflexo terreno da Trindade. Está formada por pessoas diversas por
sexo (homem e mulher) e por idade (pais e filhos), com todas as conseqüências que se
derivam destas diversidades: diferentes sentimentos, diferentes atitudes e gostos. O êxito de
um matrimônio e de uma família depende da medida com que esta diversidade saiba tender a
uma unidade superior: unidade de amor, de intenções, de colaboração.
Não é verdade que um homem e uma mulher devam ser à força afins em temperamento e
dotes; que, para pôr-se de acordo, os dois tenham que ser alegres, vivazes, extrovertidos e
instintivos, ou os dois introvertidos, tranqüilos, reflexivos. E mais, sabemos que
conseqüências negativas podem derivar-se, já no plano físico, de matrimônios realizados entre
parentes, dentro de um círculo estreito. Esposo e esposa não têm de ser «a meia laranja» um
do outro, no sentido de duas metades perfeitamente iguais, mas no sentido de que cada um é a
metade que falta ao outro e o complemento do outro. É o que pretendia Deus quando disse:
«Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma ajuda adequada» (Gn 2, 18). Tudo
isso supõe o esforço de aceitar a diversidade do outro, que é para nós o mais difícil e aquilo
que só os mais maduros conseguem.
Vemos também daqui como é errôneo considerar a Trindade como um mistério remoto da
vida, que se deve deixar à especulação dos teólogos. Ao contrário: é um mistério próximo. O
motivo é muito simples: fomos criados à imagem do Deus uno e trino, levamos sua marca e
estamos chamados a realizar a mesma síntese sublime de unidade e diversidade.
[Tradução realizada por Zenit]
ZP07060103
Catecismo da Igreja Católica
§687-688
"O Espírito da Verdade há-de guiar-vos para a Verdade completa"
"O que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito de Deus" (1 Cor 2,11). Ora, seu
Espírito que o revela nos conhecer Cristo, seu Verbo, sua Palavra viva, mas não se revela a si
mesmo. Aquele que "falou pelos profetas" faz-nos ouvir a Palavra do Pai. Mas, ele mesmo,
nós não o ouvimos. Só o conhecemos no momento em que nos revela o Verbo e nos dispõe a
acolhê-lo na fé. O Espírito de Verdade que nos "desvenda o Cristo "não fala de si mesmo".
Tal apagamento, propriamente divino, explica por que "o mundo não pode acolhê-lo, porque
não o vê nem o conhece", enquanto os que crêem em Cristo o conhecem, porque ele
permanece com eles (Jo 14,17).
A Igreja, comunhão viva na fé dos apóstolos, que ela transmite, é o lugar de nosso
conhecimento do Espírito Santo:
- nas Escrituras que ele inspirou;
- na Tradição, da qual os Padres da Igreja são as testemunhas sempre atuais;
- no Magistério da Igreja, ao qual ele assiste;
- na Liturgia sacramental, por meio de suas palavras e de seus símbolos, na qual o Espírito
Santo nos coloca em Comunhão com Cristo;
- na oração, na qual Ele intercede por nós;
- nos carismas e nos ministérios, pelos quais a Igreja é edificada;
- nos sinais de vida apostólica e missionária;
- no testemunho dos santos, no qual ele manifesta sua santidade e continua a obra da salvação.
Concílio Vaticano II
Lumen Gentium, § 4 e 12
“Quando vier o Espírito da verdade, guiar-vos-á para a verdade total”
Pelo Espírito de vida “nascente de água a jorrar para a vida eterna” (Jo 4,14), o Pai dá vida
aos homens, mortos pelo pecado, até que ressuscite em Cristo os seus corpos mortais (Rom
8,11). O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo (1Co 3,16); ele
ora neles e dá testemunho da adopção de filhos de Deus (Gal 4,6). Esta Igreja, que ele conduz
à verdade total, que unifica na comunhão e no ministério, o Espírito constrói-a e dirige-a com
diversos dons, hierárquicos e carismáticos, e adorna-a com os seus frutos. Assegura a sua
juventude pela força do Evangelho, renova-a continuamente, leva-a à união perfeita com o seu
Esposo. Porque o Esposo e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: “Vem” (Ap 22,17)...
A totalidade dos fiéis consagrados pela unção que vem do Espírito Santo, não pode enganarse na fé. Ele manifesta este dom particular por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo,
quando este, “desde os bispos até ao último dos leigos fiéis” (Santo Agostinho) manifesta
consenso universal em matéria de fé e costumes. Com efeito, graças a este sentido de fé, que é
despertado e sustentado pelo Espírito da verdade, o povo de Deus, deixando-se conduzir com
fidelidade pelo magistério da Igreja, já não recebe uma palavra vinda dos homens: ele recebe
verdadeiramente a palavra de Deus (1Tess 2,13). Ele adere indefectivelmente “ à fé
transmitida aos santos uma vez por todas” (Jud 3), aprofunda-a pelo seu juízo acertado,
aplica-a mais totalmente na vida.
Guilherme de S. Thierry (cerca de 1085-1148), monge beneditino e cisterciense
«O Espírito de Verdade guiar-vos-á à plenitude da verdade»
“Quem pois conhece os segredos do homem, senão o espírito do homem que está nele? Do
mesmo modo, ninguém conhece os segredos de Deus, senão o Espírito de Deus” (1 Co 2,11).
Apressa-te pois a comungar o Espírito Santo. Ele está lá desde que o invoquem; não o
invoquem se ele está presente. Chamai, ele vem; ele chega na abundância das bênçãos
divinas. É ele o rio impetuoso que alegra a casa de Deus (Sl 45,5). Desde a sua vinda, se ele te
encontra humilde e sem inquietude, tremente à palavra de Deus, ele repousará sobre ti e
revelar-te-á o que Deus esconde aos sábios e aos prudentes deste mundo. Começarão a brilhar
para ti todas as coisas que a Sabedoria possuía, quando ela estava na terra, revelada aos
discípulos, mas que eles não podiam possuir antes da vinda do Espírito da verdade que lhes
ensinaria toda a verdade...
Do mesmo modo que aqueles que adoram a Deus devem necessariamente adorá-lo em espírito
e em verdade (Jo 4,24), também aqueles que desejam conhecê-lo não devem procurar no
Espírito Santo senão a inteligência da fé... Entre as trevas e a ignorância desta vida, para os
pobres em espírito é ele mesmo a luz que ilumina, a caridade que atrai, a doçura que encanta,
o amor de quem ama, a piedade de quem se entrega sem reserva. É ele que revela aos crentes
a justiça de Deus; ele dá graça sobre graça, e, pela fé “que vem daquilo que não entendemos
(Rm 10,17), a iluminação.
Evangelho segundo S. João 16,16-20.
«Ainda um pouco, e deixareis de me ver; e um pouco mais, e por fim me vereis.» Disseram
entre si alguns dos discípulos: «Que é isso que Ele nos diz: 'Ainda um pouco, e deixareis de
me ver, e um pouco mais, e por fim me vereis'? E também: 'Eu vou para o Pai'?» Diziam,
pois: «Que quer Ele dizer com isto: 'Ainda um pouco'? Não sabemos o que Ele está a
anunciar!» Jesus, percebendo que o queriam interrogar, disse-lhes: «Estais entre vós a inquirir
acerca disto que Eu disse: 'Ainda um pouco, e deixareis de me ver, e um pouco mais, e por
fim me vereis'? Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo
que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se
em alegria!
São Cesário de Arles (470-543), monge e bispo
Sermão 166
«O Reino de Deus […] é justiça e paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 17)
O que é, irmãos, a verdadeira alegria, senão o Reino dos céus? E o que é o Reino dos céus,
senão Cristo Nosso Senhor? Sei que todos os homens desejam possuir uma alegria verdadeira.
Aquele, porém, que quer alegrar-se com as colheitas sem cultivar o campo está equivocado; e
engana-se aquele que pretende recolher frutos sem plantar árvores. Não se possui a verdadeira
alegria sem justiça e paz. […] Presentemente, respeitando a justiça e possuindo a paz,
penamos durante um curto período, como que debruçados sobre uma tarefa. Em seguida,
contudo, alegrar-nos-emos sem fim com o fruto desse trabalho.
Escuta o apóstolo Paulo, que diz acerca de Cristo: «Ele é a nossa paz» (Ef 2, 14) [...] E o
Senhor, falando aos seus discípulos, diz-lhes: «Voltarei a ver-vos e o vosso coração alegrarse-á, e ninguém poderá tirar-vos a vossa alegria». Que alegria é esta, que ninguém poderá
tirar-nos, a não ser Ele próprio, o vosso Senhor, que ninguém poderá tirar-vos?
Examinai, pois, a vossa cons ciência, irmãos; se nela reina a justiça, se quereis e desejais a
todos a mesma coisa que a vós próprios, se a paz está em vós, não apenas com os vossos
amigos, mas também com os vossos inimigos, sabei que o Reino dos céus, quer dizer Cristo
Senhor, permanece em vós.
Do Catecismo Católico
Quando Jesus voltar
Jesus não revela plenamente o Espírito Santo enquanto Ele próprio não for glorificado pela
sua morte e ressurreição. No entanto, sugere-O, pouco a pouco... Aos seus discípulos fala
d’Ele abertamente a propósito da oração e do testemunho que devem dar.
Só quando chega a Hora em que vai ser glorificado, é que Jesus promete a vinda do Espírito
Santo, pois a sua morte e ressurreição serão o cumprimento da promessa feita aos
antepassados. O Espírito da verdade, o outro Paráclito, será dado pelo Pai a pedido de Jesus;
será enviado pelo Pai em nome de Jesus; Jesus o enviará de junto do Pai porque do Pai
procede. O Espírito santo virá, nós O conheceremos, Ele ficará connosco para sempre,
habitará connosco; há-de ensinar-nos tudo, há-de lembrar-nos tudo o que Cristo nos disse e
dará testemunho d’Ele; conduzir-nos-á à verdade total e glorificará a Cristo. Quanto ao
mundo, confundi-lo-á em matéria de pecado, de justiça e de julgamento.
Evangelho segundo S. João 16,20-23.
Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-
de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria! A
mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque chegou a sua hora; mas, quando deu
à luz o menino, já não se lembra da sua aflição, com a alegria de ter vindo um homem ao
mundo. Também vós vos sentis agora tristes, mas Eu hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso
coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. Nesse dia, já não me
perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em
meu nome, Ele vo-la dará.
S. João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia depois de Constantinopla, doutor da
Igreja
Homilia 79 sobre S. João
A tristeza que gera a alegria
Depois de ter derramado a alegria na alma dos seus discípulos pela promessa que lhes fez de
lhes enviar o Espírito Santo, o Salvador entristece-os de novo ao dizer: "Mais um pouco e não
me vereis mais". Age desta forma para os preparar, através desta linguagem triste e severa,
para a ideia da sua próxima separação; porque nada é mais próprio para acalmar a alma
mergulhada na tristeza e na aflição do que o pensamento frequente nos motivos que
produziram nela essa tristeza.
Eles não compreendiam, quer por causa da tristeza que os impedia de pensar no que Ele lhes
dizia, quer por causa da obscuridade das próprias palavras que pareciam conter duas coisas
contraditórias, mas que, na realidade não o eram. Porque, se Te vemos, podiam eles dizer,
como te vais embora? E, se te vais embora, como Te poderemos ver?
Nosso Senhor, querendo depois mostar-lhes que a tristeza gera alegria e, ainda, que aquela
tristeza seria curta ao passo que a sua alegria não terá fim, toma a comparação da mulher que
dá à luz. Com tal comparação, Ele quer também exprimir, de um modo figurado, que Ele se
libertou dos constrangimentos da morte e que, assim, regenerou o homem novo. E não diz que
não haverá tribulação mas que não se lembrarão dela, tão grande vai ser a alegria que lhe
sucederá.
S. Gregório de Nisa (335-395), monge e bispo
Contra Eunómio
“Toda a criação... tem gemido e sofrido as dores de parto, até ao presente” (Rom 8,22)
O apóstolo Paulo... testemunha a respeito do Filho único que ele não criou apenas os seres,
mas ainda que, tendo a antiga criação envelhecido e tornando-se caduca, ele operou uma nova
criação. E assim, o próprio Cristo é o primogénito de toda a criação (Col 1,15) pelo
Evangelho anunciado aos homens...
Como se tornou Cristo “primogénito de uma multidão de irmãos” (Rom 8,29)?... Por nós, ele
fez-se como nós, tendo participado na carne e no sangue para nos transformar, de corruptíveis
em incorruptíveis, pelo nascimento do alto, da água e do Espírito (Jo 3,5). Mostrou-nos o
caminho de um tal nascimento assim que atraiu, pelo seu próprio baptismo, o Espírito Santo
sobre a água. Tornou-se assim o primogénito de todos os que são regenerados espiritualmente,
e todos os que tomam parte nesta regeneração pela água e pelo Espírito são chamados irmãos.
Tendo depositado na nossa natureza humana a força da ressurreição de entre os mortos, Cristo
tornou-se também primícias dos que adormeceram e primogénito dos mortos (Col 1,18).
Primeiro entre todos, abriu-nos o caminho da libertação da morte. Pela sua Ressurreição,
destruiu os laços da morte que nos mantinham cativos. Assim, por esta dupla regeneração, do
santo baptismo e da ressurreição dos mortos, ele torna-se o primogénito da nova criação.
Este primogénito tem irmãos. Ele disse a Maria Madalena: “Vai ter com os Meus irmãos e
diz-lhes que vou subir para Meu e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). É por isso
que, como mediador entre Deus e os homens (1Tim 2,5), abrindo o cortejo de toda a natureza
humana, ele envia aos seus irmãos esta mensagem e lhes diz: “Pelas primícias que assumi, em
mim, eu reconduzo ao nosso Deus e Pai tudo o que é humano”.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hippone (África do Norte) e doutor da Igreja
Sermões sobre S. João, nº 101
«Ninguém tirará a vossa alegria»
Estas palavras do Salvador: «Eu hei-de ver-vos de novo e o vosso coração alegrar-se-á e
ninguém vos poderá tirar a vossa alegria» não devem ser reportadas a esse tempo em que,
após a ressurreição, ele se mostrou aos seus discípulos na sua carne e lhes disse para o
tocarem, mas a este outro tempo do qual ele já dissera: «Aquele que me ama, meu Pai o amará
e eu me manifestarei a ele» (Jo 14,21). Esta visão não é para esta vida, mas para a do mundo
que há-de vir. Ela não é para um tempo, mas não terá fim. «A vida eterna consiste nisto: que
Te conheçam a Ti, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste» (Jo 17,3).
Desta visão e conhecimento, o apóstolo Paulo disse: «Hoje vemos como por um espelho, de
maneira confusa, mas então veremos face a face. Hoje conheço de me maneira imperfeita:
então, conhecerei exactamente, como também sou conhecido» (1 Cor 13,12).
Este fruto do seu trabalho, a Igreja o produz agora no desejo, então ela o produzirá na visão;
agora ela o produz na dor, então ela o produzirá na alegria; agora ela o produz na súplica,
então ela o produzirá no louvor. Este fruto não terá fim, porque só o infinito nos será
cumulado. É o que fazia Filipe dizer: «Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta» (Jo 14, 8).
S. Cesário d’Arles (470-543), monge e bispo
Sermão 166
“O Reino de Deus...é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rom 14,17)
Qual é a verdadeira alegria, irmãos, senão a do Reino dos céus? E o que é o Reino dos céus,
senão Cristo nosso Senhor? Eu sei que todos os homens querem ter uma verdadeira alegria.
Mas enganam-se os que querem ser felizes recolhendo sem cultivar o seu campo; enganam-se,
os que querem recolher os frutos sem plantar as árvores. Não se possui a verdadeira alegria
sem a justiça e a paz... No presente, respeitando a justiça e possuindo a paz, afligimo-nos
durante um curto prazo, como quando estamos a braços com um grande trabalho. Mas em
seguida, regozijamo-nos sem fim com os frutos desse trabalho.
Escutai o apóstolo Paulo que diz de Cristo: “Ele é a nossa paz” (Ef 2,14)... E o Senhor,
falando aos seus discípulos, disse-lhes: “Voltarei a ver-vos e o vosso coração regozijar-se-á, e
ninguém poderá roubar a vossa alegria”. Que alegria é esta que ninguém poderá roubar, senão
ele próprio, o vosso Senhor, que ninguém vos pode roubar?
Examinai pois a vossa consciência, irmãos; se n ela reina a justiça, se quiserdes e desejardes
para os outros o mesmo que para vós próprios, se estais em paz, não apenas com os vossos
amigos, mas igualmente com os vossos inimigos, sabei que o Reino dos céus, quer dizer, o
Cristo Senhor, habita em vós.
S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Homilias sobre o Cântico dos Cânticos, n° 37
"Haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza transformar-se-á em alegria"
"Vão chorando ao lançar a semente"... Mas irão chorar para sempre? Certamente que não:
"Regressarão na alegria, trazendo as espigas" (Sl 125,8). E terão razões para se alegrarem,
pois trarão as espigas da glória. Mas, dir-me-eis, isso só acontecerá no último dia, no tempo
da ressurreição, e a espera é bem longa. Não percais a coragem, não cedais a infantilidades.
Enquanto esperais, recebereis "primícias do Espírito" (2Co 1,22), suficientes para que ceifeis
desde hoje mesmo na alegria. Semeai na justiça, diz o Senhor, e recolhereis a esperança da
vida. Ele não vos remete para o último dia, em tudo vos será dado realmente e já não em
esperança. Ele fala do presente. Claro que a nossa alegria será grande, o nosso júbilo infinito,
quando começar a nova vida. Mas a esperança de tão grande alegria não pode, desde agora,
ser privada de alegria.
Evangelho segundo S. João 16,23-28.
Nesse dia, já não me perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes
alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará. Até agora não pedistes nada em meu
nome; pedi e recebereis. Assim, a vossa alegria será completa.» «Até aqui falei-vos por meio
de comparações. Está a chegar a hora em que já não vos falarei por comparações, mas
claramente vos darei a conhecer o que se refere ao Pai. Nesse dia, apresentareis em meu nome
os vossos pedidos ao Pai, e não vos digo que rogarei por vós ao Pai, pois é o próprio Pai que
vos ama, porque vós já me tendes amor e já credes que Eu saí de Deus. Saí do Pai e vim ao
mundo; agora deixo o mundo e vou para o Pai.»
Clemente de Alexandria (150 - c. 215), teólogo
Estrómata 7,7
"Pedi e recebereis: ficareis assim repletos de alegria"
Venerar e honrar aquele que nós acreditamos ser o Verbo, nosso Salvador e nosso chefe, e,
por Ele, o Pai, tal é o nosso dever, não em certos dias especiais (tal como outros fazem) mas
continuamente, durante toda a nossa vida e de todas as formas. "Sete vezes por dia cantei o
teu louvor" (Sl 118,164), exclama o povo eleito... Por isso, não é num lugar determinado, nem
num templo escolhido, nem em certas festas ou em certos dias fixos, mas é durante toda a
vida, em todo o lugar, que o homem verdadeiramente espiritual honra a Deus, isto é, proclama
a sua acção de graças por conhecer a verdadeira vida.
A presença do homem de bem, pelo respeito que inspira, torna sempre melhor quem com ele
convive. Quanto mais aquele que está continuamente em presença de Deus, pelo
conhecimento, pela maneira de viver e pela acção de graças, não se irá tornando cada dia
melhor em tudo: acções, palavras e disposições!... Vivendo, pois, toda a nossa vida como uma
festa, na certeza de que Deus está totalmente presente em toda a parte, trabalhamos cantando,
navegamos ao som de hinos, comportamo-nos à maneira dos "cidadãos do céu" (Fl 3,20).
A oração é, se o ouso dizer, uma conversa íntima com Deus. Mesmo se murmuramos
suavemente, mesmo se, sem mexer os lábios, falamos em silêncio, nós gritamos
interiormente. E Deus volta constantemente o seu ouvido para esta voz interior... Sim, o
homem verdadeiramente espiritual ora durante toda a sua vida, porque orar é para ele um
esforço de união com Deus, e rejeita tudo o que é inútil porque atingiu aquele estado em que
já recebeu, de certa maneira, a perfeição que consiste em agir por amor... Toda a sua vida é
uma liturgia sagrada.
S. Bernardo (1091-1153), monge de Cister e doutor da Igreja
Sermão da Quaresma nº 5,5
“Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, ele vo-lo concederá”
Sempre que falo da súplica, parece-me perceber no vosso coração certas reflexões humanas
que tenho ouvido muitas vezes, mesmo no meu próprio coração. Não cessando nós nunca de
suplicar, como é que tão raramente parece que experimentamos o fruto da nossa súplica?
Temos a impressão de sair da oração de súplica como entrámos; ninguém nos responde uma
única palavra, nos dá nada, temos a impressão de ter pedido em vão. Mas o que diz o Senhor
no evangelho? “Não julgueis pelas aparências, julgai segundo a justiça” (Jo 7,24). O que é um
julgamento justo, senão um julgamento de fé? Porque “o justo vive pela fé” (Gal 3,11). Julgai
pois preferencialmente pela fé, em vez de o fazerdes pela experiência, porque a fé não engana,
enquanto que a experiência pode induzir em erro.
E qual é a verdade da fé, senão a que o Filho de Deus, ele próprio, prometeu? “Tudo quanto
pedirdes, orando, acreditai que o recebereis e obtereis” (Mc 11,24). Assim, que ninguém entre
vós, irmãos, tenha em pouca conta a sua prece! Porque, vos asseguro, aquele a quem ela é
dirigida, não a tem em pouca conta; antes mesmo dela ter saído da vossa boca, ele a escreveu
no seu livro. Podemos estar certos, sem a mínima dúvida, que, ou Deus nos concede o que lhe
pedimos, ou nos dará qualquer coisa que ele sabe ser mais vantajoso. Porque “nós não
sabemos o que devemos pedir em nossas orações” (Rom 8,26) mas Deus tem compaixão da
nossa ignorância e recebe a nossa prece com bondade... Então “põe no Senhor as tuas delícias;
conceder-te-á os desejos do teu coração” (Sl 36,4).
Bem-aventurado Henri Suso (c. 1295-1366), dominicano
O livro da Sabedoria eterna
«Para que encontreis em mim a paz»
«Senhor, desde os dias da minha juventude, que o meu espírito busca um não sei quê, com
uma sede impaciente. O que é então, Senhor? Ainda não consegui apreendê-lo perfeitamente.
Há tantos anos que o desejo ardentemente e ainda não consegui apreendê-lo... E contudo é
mesmo o que atrai o meu coração e a minha alma, e sem o que não posso estabelecer-me
numa verdadeira paz.
Senhor, eu queria procurar a minha felicidade nas criaturas deste mundo, como via tanta gente
fazer à minha volta. Mas quanto mais buscava, menos encontrava; quanto mais me
aproximava, mais me afastava. Com efeito, todas as coisas me diziam: «Eu não sou aquilo
que procuras». És então tu, Senhor, aquilo que procurei durante tanto tempo? Era então para
Ti que o enlevo do meu coração sempre e sem cessar puxava? Porquê, então, não Te
mostraste a mim? Como pudeste adiar este encontro durante tanto tempo? Por quantos
caminhos extenuantes não me atolei? É que é verdadeiramente feliz o homem que prevines
com tanto amor ; Tu não o deixas em repouso até que ele busque o repouso só em Ti.»
S. João Maria Vianney (l786-l859), Padre, Cura d’Ars
Catecismo sobre a oração
«Até agora, ainda não pedistes nada. Pedi e recebereis; assim sereis cumulados de
alegria».
Vede, meus filhos: o tesouro do cristão não está na terra, mas no Céu. (Mt. 6, 20). Pois bem!
O nosso pensamento deve estar onde está o nosso tesouro. O homem tem a bela função de
orar e amar. Vós orais, e amais: eis a felicidade do homem sobre a terra.
A oração, outra coisa não é senão uma união com Deus. Quando se tem o coração puro e
unido a Deus, sente-se um bálsamo, uma doçura que inebria, uma luz que encandeia (atrai,
seduz). Nesta íntima união , Deus e a alma são como dois pedaços de cera fundidos entre si;
jamais se podem separar. É uma coisa muito bela esta união de Deus com a sua pequena
criatura. É uma felicidade que não se pode compreender. Nós não éramos dignos de rezar,
mas Deus, na Sua bondade, permitiu que Lhe falássemos. A nossa oração é um incenso que
Deus recebe com um extremo (imenso) prazer.
Meus filhos, vós tendes um coração pequeno, mas a oração dilata-o e torna-o capaz de amar a
Deus. A oração é um ante gozo do Céu, um fluxo do paraíso. Ela nunca nos deixa sem doçura.
É um mel que desliza pela alma e tudo dulcifica. Os sofrimentos (as dores) derretem-se diante
duma oração bem feita, como a neve diante do sol.
Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Um caminho muito simples
«Disse-vos estas coisas para que encontreis em Mim a paz»
As obras do amor são sempre obras de paz. Cada vez que partilhais o amor com outros,
sentireis que a paz vos envolve a vós e a eles. E onde há paz, aí está Deus. É derramando a
paz e a alegria nos corações que Deus toca as nossas vidas e nos mostra o seu amor.
Conduzi-me, Senhor, da morte à vida
Do erro à verdade.
Levai-me do desespero à esperança,
Do temor à confiança.
Fazei-me passar do ódio ao amor,
Da guerra à paz.
Fazei que a paz encha os corações,
O nosso mundo, o nosso universo:
Paz, paz, paz.
João Paulo II
Mensagem Para o Dia Mundial da Paz 2002
«No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança, Eu já venci o mundo!»
As famílias, os grupos, os Estados, a própria Comunidade internacional, precisam de se abrir
ao perdão a fim de reatar os laços rotos, ultrapassar as situações estéreis de condenações
recíprocas, vencer a tentação de excluir os outros recusando-lhes toda a possibilidade de
apelação. A capacidade de perdoar está na base de qualquer projecto de uma sociedade que se
quer mais justa e solidária.
A recusa do perdão, pelo contrário, sobretudo se ela mantém a continuidade de conflitos. Tem
repercussões incalculáveis para o desenvolvimento dos povos. Os recursos são aplicados a
sustentar a corrida aos armamentos, às despesas da guerra, ou a fazer face às consequências
das represálias económicas. Por isso faltam disponibilidades financeiras necessárias ao
desenvolvimento, à paz, à justiça. Quantos sofrimentos não afligem a humanidade por não
haver reconciliação, quantos atrasos não sofre por não saber perdoar! A paz é a condição do
desenvolvimento, mas uma paz verdadeira só é possível através do perdão.
A proposta de perdão não é coisa que se admita como uma evidência ou que se aceite
facilmente; em certos aspectos é uma mensagem paradoxal. De facto, o perdão encerra
sempre, a curto prazo, uma perda aparente, enquanto que, a longo prazo, assegura um ganho
real. A violência é exactamente o contrário: opta por um ganho a curto prazo,
Evangelho segundo S. João 16,29-33.
Disseram-lhe os seus discípulos: «Agora, sim, falas claramente e não usas nenhuma
comparação. Agora vemos que sabes tudo e não precisas de que ninguém te faça perguntas.
Por isso, cremos que saíste de Deus!» Disse-lhes Jesus: «Agora credes? Eis que vem a hora e
já chegou em que sereis dispersos cada um por seu lado, e me deixareis só, se bem que Eu não
esteja só, porque o Pai está comigo. Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a
paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!»
Liturgia caldeia
Hino do ofício do 2º dia do «Ba’oussa», de Santo Efrem (trad. do Conselho Pontifício para a
Unidade dos Cristãos)
"Para que encontreis a paz em mim"
Senhor, a tua misericórdia é eterna. Ó Cristo, tu que és todo misericórdia, dá-nos a tua graça;
estende a tua mão e vem em auxílio de todos os que são tentados, tu que és bom. Tem piedade
de todos os teus filhos e vem em seu socorro; concede-nos, Senhor misericordioso, que nos
refugiemos à sombra da tua protecção e sejamos libertos do mal e dos adeptos do Maligno.
A minha vida está crispada como uma teia de aranha. No tempo da desgraça e da perturbação,
tornámo-nos como que refugiados e os nossos anos esmoreceram sob a miséria e as
infelicidades. Senhor, tu que acalmaste o mar só com uma palavra, apazigua também na tua
misericórdia as perturbações do mundo, sustenta o universo que oscila sob o peso das suas
faltas.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Senhor, que a tua mão misericordiosa repouse
sobre os crentes e confirme a promessa que fizeste aos apóstolos: "Estou convosco todos os
dias até ao fim do mundo" (Mt 28,20). Sê o nosso socorro como foste o deles e, pela tua
graça, salva-nos de todo o mal; dá-nos a segurança e a paz, a fim de te rendermos graças e
adoremos o teu Santo Nome em todo o tempo.
S. Siluane (1866-1938), monge ortodoxo
Escritos Espirituais
"Disse-vos isto para que encontreis em mim a paz"
Não foi o próprio Senhor quem disse: "O Reino de Deus está em vós" (Lc 17,21)? É agora
que começa a vida eterna. Peço-vos, meus irmãos, fazei a experiência! Se alguém vos
ofender, vos caluniar, vous roubar o que vos pertence, mesmo se for um perseguidor, rezai a
Deus dizendo: "Senhor, nós somos todos tuas criaturas, tem piedade dos teus servos e conduzlhes o coração à penitência". Então, sentirás a graça na tua alma. Naturalmente que, ao
princípio, tens de fazer algum esforço para amares os teus inimigos; mas o Senhor, ao ver a
tua boa vontade, ajudar-te-á em todas as coisas e a própria experiência te mostrará o caminho.
Pelo contrário, aquele que medita coisas más contra os seus inimigos não pode possuir o amor
nem conhecer Deus.
Não sejas nunca violento para com o irmão, nunca o julgues, convence-o na mansidão e no
amor. O orgulho e a dureza roubam a paz. Ama, portanto, aquele que não te ama e reza por
ele; assim, a tua paz não será perturbada.
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Evangelho segundo S. João 15,26-27.16,1