Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região | Ano VI . N° LXI. Outubro de 2012
EDITORIAL
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CONSUMISMO E HEDONISMO
O sistema capitalista de produção em que vivemos é centrado no consumo
desregrado. O mercado nos induz a consumir, nos empanturra os sentidos, nos
magnetiza, nos vende o elixir da felicidade, o paraíso imediato e a jato. É só ter
dinheiro e comprar, chafurdar-se no prazer. Tudo nos conduz ao gozo, à ebriedade,
à erotização. Desde um simples hidratante de pele, um absorvente, a um automóvel,
a um celular de última linhagem.
Os mentores e exploradores desse modelo – o todo poderoso e cínico “mercado”
– na verdade, predadores e tiranos monstruosos de nossa consciência, nos
transformam em servos da falsidade, da embriaguez coletivizada e de uma quase
total despersonalização. Os métodos de subjugação e espoliação, hoje, tão sutis,
são digeridos e exaltados pelos próprios escravizados. Nesse processo, nesse
festim pantagruélico em que se banqueteiam a luxúria e o engodo, há um outro
comensal, um outro sócio exultante, um orgíaco comparsa: o Estado arrecadador,
geralmente parasitário e perdulário, que se mantém nas costas e às custas da
máquina escravizadora do consumismo. Ambos, mefistofélicos maestros, regem
sarcasticamente o coral da vassalagem consumista. E com que alucinado delírio! E
com o aplauso dos espectadores narcotizados, espoliados!
Entregamo-nos de corpo e alma, despimo-nos de nossa real identidade, a fim
de usufruirmos e ostentarmos objetos, muitos grotescos, que nos dizem ser
expressões de poder, de ter. Carros, joias, roupas de grife, produtos de beleza, o
ipad, cavalos de raça, até cerveja são exemplos dessa paranoia de afirmação da
personalidade, de supremacia de um rito fugaz ou irreal de sentimentos, pulsões e
emoções a serem puerilmente exteriorizados. O próprio ser humano, dentro dessa
feira degradante, é um mero objeto que pode ser igualmente consumido, degustado,
manipulado, “produzido”, “sarado”. Assistimos, assim, perplexos, a bacanais,
sodomias e a prostíbulos virtuais, via televisão e redes sociais, franqueados até a
crianças. Uma violência inominável!
Compramos, na verdade, máscaras, fetiches, sensações, ilusões. Nos
despersonalizamos. Roubadas são as nossas experiências simbólicas, nossas
fantasias maiores, nossas viagens e jornadas conscienciais, vivenciais e espirituais.
Passamos a nos realizar pelo que temos ou por aquilo que os outros nos impingem
como “moda”, “status”, “estar por cima”, “ser invejado”. Sobre renúncia de nossos
desejos, a impossibilidade de satisfação plena de nossas pulsões, a impermanência
existencial, a publicidade glamourosa, mentirosa, mórbida, a máquina de vender e
corroer, nada diz. Daí não sabermos conviver com frustrações, fracassos, tragédias,
revezes. Com a universalidade, a ocasionalidade e a irreversibilidade de situações
como doenças, limitações físicas. É esse o mesmo sistema que não nos introduz no
mundo da civilidade, da urbanidade. Quem adquire e usa o produto X é superior, é o
máximo. O proprietário de carro valiosíssimo, um Porsche, é, às vezes, o primeiro
a desrespeitar sinais e semáforos, a estacionar em fila dupla; a jovem turbinada,
pejada de quinquilharias e penduricalhos, ainda que tidos de última moda, recheada
até mesmo de títulos acadêmicos é, muitas vezes, quem atira lixo na rua, despreza o
porteiro do luxuoso condomínio onde mora ou o funcionário subalterno da empresa
onde trabalha.
O sistema consumista conecta, enfim, a ideia de superioridade, de arrogância
aristocrática, ainda mais num País como o nosso, de ranço e resíduos escravagistas.
Esse mesmo sistema, hora alguma, vemo-lo estimulando a cultura, a educação, a
sociabilidade, a sustentabilidade, interioridade, a espiritualidade, a promoção do ser
humano, valores éticos imprescindíveis à subsistência social. Gasta-se uma fortuna
para se dispor de uma roupa top, mas não se gasta um centavo para a aquisição
de um livro formativo ou investimento até mesmo na saúde pessoal. Observou-se,
há tempos, um cidadão circulando em veiculo luxuoso, modelo caríssimo e dizia-se
com os filhos menores carentes de tratamento médico e dentário e até sem material
escolar básico. Caso para o Conselho Tutelar...
O próprio e convencional ato de comprar, ir ao shopping, tornou-se um símbolo de
“inteligência”, de lazer, de poder. Onde iremos ?! Um sistema que rompe, corrompe
e rouba às crianças e jovens os processos da fantasia, das viagens internas, das
dimensões subterrâneas e dos elos entre desejo, pensamento e emoção; em que
tudo é sexualizado, em que o corpo, em especial o da mulher, é visto e explorado
apenas como objeto e imagem negocial; que falseia-nos o ser, que nos diz que tudo
é permissível e passível de realização. Até religiosos propugnam, em pregações
bombásticas, biblicamente manipuladas, o paraíso diário, a dolce vita, a estasia
dos bens terrestres, para seus seguidores, desde que regadas a polpudos dízimos
e decerto com constrangimentos íntimos e inauditos por parte dos anestesiados e
sangrados fiéis.
Ouvimos, pasmos, conhecido e polêmico pastor dizer em seu programa de
televisão: “Se você, meu irmão, deseja um carro do último modelo, gozar as
melhores e mais paradisíacas férias, o melhor emprego, é só pedir. Deus é obrigado
a lhe dar, pois Ele nos garantiu: “Pedi e recebereis” E prosseguiu: “Doe agora mil
reais para essa igreja e você verá os resultados. Terá o que desejar e se não for
atendido, cobre a Deus...” Sem comentários...
Inversão de valores, esperteza, a falta de ética, a impudícia e a insânia
institucionalizadas. O cidadão, a começar lamentavelmente por autoridades, nessa
ótica consumista, hedonista, vangloria-se de conquistas, de vantagens até mesmo
ilícitas, “superiores”, de dirigir alcoolizado e recusar-se ao exame do bafômetro, de
negacear, sonegar, trapacear, o “viver o dia de hoje”, o “estar acima da lei”...
Teremos que rever, em algum momento, essa postura de “grandeza” externa,
de incompletude existencial e do caos interno em que nos metemos. Vazio,
ilusionismo, indigência existencial. A nossa condição de impermanência e
temporalidade no mundo e de seletividade da própria civilização forçam-nos a abrir
mão de satisfações e pulsões. Há deveres e fazeres. Ou seja, para nos mantermos
harmoniosos, equilibrados ontologicamente, necessitamos de ambientes criativos,
inteligentes e do exercício de valores superiores. Uma crise profunda que, talvez, nos
exija respostas culturais, reinvenções humanas, introspecções, reposicionamentos,
resgate e reafirmação da interioridade, espiritualidade e que passará por duras
transformações e infelizmente, como se vê nas notícias diárias veiculadas pela
imprensa, - guerras, acidentes trágicos, crimes bárbaros - por muito “choro e
ranger de dentes”.
AO PÉ DA FOGUEIRA
Fatos pitorescos, históricos, lendários, folclóricos etc...de São Tiago e região
CADÊ PASTO PARA TANTO CAVALO...
Década de 1920. O sr. Octávio Leal Pacheco empenhado na construção da
usina hidrelétrica no Rio Sujo: às voltas e às turras com a aquisição de material,
equipamentos e maquinários (estes importados da Alemanha), levantamento
de recursos, viagens. Uma azáfama de compromissos, serviços a mil. Sobrava,
contudo, ainda tempo para um bate papo e um trança roda a qualquer hora, em
qualquer viela ou praça com os moradores do arraial, todos afoitos e excitados com
a novidade da “luz”, a maioria simplesmente “boiando”...
Em uma das muitas rodas que se formavam em torno do “Dotô” Pacheco, este
comenta que, para o funcionamento da usina, dependendo da demanda de energia,
seriam exigidos de 300 a 900 cavalos-força (Horse power ou HP na linguagem técnica)
C.R., famoso patriarca e fazendeiro local, ali presente, ouvinte atento, mais por
fora que arco de barril e buscando se inteirar
de tão palpitante tema, dirige-se, então, ao
sr. Pacheco:
- Mas, aonde, Sêo Pacheco, o senhor vai
colocar tantos cavalos?!
Após cofiar amplamente a áspera barba,
arremata:
- Vai se gastar um bocado de pasto para se alojar tanto cavalo, ah, isso sim...
(Outra versão diz que o fazendeiro, ao ouvir o assunto, com a referência a
centenas de “cavalos”, aprumou o corpo, ergueu o rosto e solícito, voz firme,
informou ao sr. Pacheco:
- O senhor disse “cavalos”?! Tenho uns quatro sobrando e criando anca na
fazenda. Estão disponíveis. O sr. pode mandar pegá-los à hora que quiser...
CURIOSIDADES SOBRE RÁDIO E TELEVISORES
EM SÃO TIAGO
1- Por que o galo canta de olhos fechados?
2- Como se faz um omelete de chocolate?
3- O que é que uma impressora diz para a outra?
4- Qual é o bicho que não vale nada?
Respostas: 1- Porque ele já sabe a letra de cor; 2- Com ovos de
páscoa; 3- Essa folha é tua ou é impressão minha?; 4- Javali;
Provérbios e Adágios
* O prato não é para quem o faz, mas para quem
o come.
* O proibido aguça o dente.
* O que não se faz no dia de Santa Luzia, faz-se no
outro dia.
* Não se pode o orador deixar-se levar pelo furor.
* Quem canta não assobia.
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QUEM SOMOS:
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necessitando de apoio de todos os SãoTiaguenses, amigos de São Tiago e
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Redação: João Pinto de Oliveira, Heloisa Helena
V. Reis Oliveira e Marcus Antonio Santiago
Apoio: Ana Clara de Paula e Angela Carolina
Ribeiro Costa
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Realização:
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Matéria “História do Rádio em São Tiago” publicada na edição nº LVII, Junho/2012,
deste boletim, temos/recebemos informações de que, por volta de 1958, o sr. Bráz Navarro,
são-tiaguense residente em Belo Horizonte, conhecedor e expert em eletrônica, realizou
experiências com uma rádio em nossa terra. Com um transmissor de 5 watts, instalado
na Praça da Matriz, Bráz procedia a entrevistas com moradores, transmitia auditórios
escolares e ainda jogos de futebol de clubes locais (tendo como locutor o sr. Alair Navarro
de Castro, hoje advogado na capital mineira), rodava músicas sertanejas, etc.
Quanto aos aparelhos receptores de rádio, bem como fonógrafos, radiolas, etc. São
Tiago já dispunha deles, desde a década de 1920, quando da implantação do sistema de
energia elétrica (1925).
Outros equipamentos e aparelhos como gravador, filmadora, então desconhecidos
pela população local, eram também utilizados pelo sr. Bráz e atraíam muitíssimo a
atenção, em especial das crianças e jovens, que se aglomeravam e coparticipavam
das gravações e filmagens. O rádio de pilha, outra grande revolução da época, uma
verdadeira febre entre a população, em especial no meio rural, surgiu, entre nós, ao
que parece, também em meados da década de 1950, trazidos por são-tiaguenses que
trabalhavam em São Paulo. Diz-se que o rádio de pilha foi uma das causas do êxodo
rural para São Paulo, a partir da década de 1950,pois as pessoas, enquanto trabalhavam
no eito, no cabo de uma enxada, sintonizavam as rádios paulistas e essas repetiam,
a cada minuto, as maravilhas da “cidade que não para”, “a terra do progresso”, “a
locomotiva do Brasil”. Dali, foi um passo para largar a enxada à beira do roçado e pegar
um “pau de arara” para o paraíso paulista...
Já os primeiros televisores foram instalados, entre nós, por volta de 1960. Residências
como as do sr. João Wálter Silva, José Afrânio da Mata, Geraldo Caputo, dentre outras,
foram as primeiras a contar com aparelhos de TV, então preto e branco, imagem muito
precária (“Chuviscos”).
Na tentativa de melhorar a recepção de sinal, o sr. José Afrânio e o Dr. Marcelo Albanez,
engenheiro da ACAR (hoje EMATER), certa feita, montaram uma antena receptora na
Serra da Bandeira e que, através de fiação e posteamentos por terra, chegavam às suas
residências. Uma extensão de uns 3 km de rede! Já a torre de recepção, ainda hoje
instalada no Morro chamado, em tempos idos, de Morro das Cobras. Para atendimento
a toda a comunidade, foi instalada na gestão do sr. Raul.
Prof. José Francisco Campos
Registramos com pesar e emoção o falecimento dia 04/10 último do Prof. José
Francisco Campos, inestimável figura de nossa comunidade, incomparável professor de
matemática e que prestou os mais relevantes serviços à educação e formação de nossos
jovens, nos idos tempos do ginásio Colégio Normal. Santiaguense filiado à rede CNEC,
que funcionaram entre nós entre 1958 a 1986.
À família, nossos respeitos e condolências. E a mais profunda e imorredoura
homenagem!!!
Patrocínio:
Apoio Cultural:
Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região
OBSERVAÇÕES DE RAIMUNDO JOSÉ DA CUNHA MATOS SOBRE
A REGIÃO PRÓXIMA DE SÃO TIAGO, EM 1823 E 1825
Francisco Rodrigues de Oliveira (bisneto de Antônio Carlos de Oliveira)
Raimundo José da Cunha Matos (1776 – 1839) nasceu em Faro (Portugal)
e faleceu no Rio de Janeiro. Era militar e veio para a Bahia em 1817. Foi
promovido a Brigadeiro em 1822 e no ano seguinte, já residindo no Rio de
Janeiro, foi nomeado Governador das Armas da Província de Goiás. Em 1823
viajou do Rio a Goiás para assumir seu cargo e retorna em 1825 para tomar
posse como deputado na Assembleia Legislativa, pelo partido liberal. Nestas
viagens cronometrou detalhadamente o roteiro e fez muitas observações sobre
os costumes e a economia regional, que o levou a editar o livro “Itinerário
do Rio de Janeiro ao Pará e Maranhão pelas Províncias de Minas Gerais e
Goiás”. Fez outras viagens por Minas, em caminhos alternativos e não mais
cronometrados.
Viagem do Rio a Goiás, em 1823
Partiu do Rio em 8 de abril e seguiu a trajetória do Caminho Novo: Rio
Paraíba (21/04), Registro do Paraibuna (23/04), Juiz de Fora (26/04), Borda
do Campo e Barbacena (01/05), de onde partiu em 3 de maio, passando pelo
Ribeirão do Alberto Dias (hoje Alfredo Vasconcelos), onde largou o Caminho
Novo e tomou o rumo noroeste. Antes de atravessar o Rio Carandaí, pousou
no Sítio das Galés, que parece coincidir com a atual fazenda do Jaborandi e de
onde foi assistir missa na fazenda do Capote, a uma légua de distância, que
pertenceu a Inácio Correia Pamplona, proprietário das fazendas “Mendanha”,
próxima de Lagoa Dourada, e outra entre Prados e Tiradentes, além de um sítio
em Matozinhos, onde faleceu. Ele foi um dos delatores da Conjuração Mineira
e que, inexplicavelmente, sequer foi inquirido. Em 7 de maio atravessou o Rio
Carandaí e passou pelo “pequeno e agradável arraial da Lájea (atual Resende
Costa), onde existe uma antiga e mui decente capela de Nossa Senhora da
Penha de França. Há no arraial várias casas menos más”.
Após atravessar os córregos do Retiro e Pinhão, chegou à fazenda do
capitão Joaquim Pinto, certamente a fazenda do Rio do Peixe, de Joaquim
Pinto de Goes Lara, que em 1879 foi vendida a Antônio Carlos de Oliveira,
que deixou uma grande descendência e faleceu em São Tiago em 1910. Nesta
fazenda, próxima do Ribeirão Santo Antônio, ele pernoitou e foi muito bem
tratado. Impressionou-o a louça toda de estanho.
No dia seguinte, atravessou o Rio do Peixe em ponte de madeira (aqui parece
haver um engano, pois a fazenda do Rio do Peixe fica na margem direita do rio),
e nas proximidades fica a casa de José Jacinto, “um estabelecimento muito
bom”. Passou pelo rancho do Ouro Fino, que talvez gerou a atual fazenda
homônima. Na parte da tarde entrou no “alegre e pequeno arraial de São João
Batista (atual Morro do Ferro), onde existiam 14 casas e uma pobre capela”.
De São João Batista passou por uma fazenda chamada Patrimônio, à
esquerda do Rio Jacaré e, posteriormente pelo rancho do Guilherme, onde é a
encruzilhada com o caminho para São Tiago, à esquerda. Nas proximidades,
existe atualmente um córrego chamado Guilherme. Em 9 de maio chegou
a Oliveira. “A vila consta de uma rua imensamente larga, com a Igreja de
N.S. de Oliveira no alto. Este templo tem todos os seus ornatos em mármore
verde. O mestre de obras que a construiu foi o mesmo que está construindo a
igreja da Boa Morte, em Barbacena (José Antônio Fontes). Existe outra igreja
na parte baixa, dedicada ao Senhor dos Passos e estão construindo outra, de
N.S. do Rosário, no alto da chapada. Há duas boticas bem sortidas e dois maus
cirurgiões. O Capelão, Pe. Manuel Fernandes Martins, é um grande benemérito
e atua como médico”. No dia seguinte partiu com destino à cidade de Goiás,
então capital do Estado, chegando em 15 de junho, após 69 dias de viagem.
pessoas, o que gerava muitas doenças e mortes, por arrancharem próximo de
lugares insalubres. Os padres ficavam muito satisfeitos com essas missões,
“pois um largo número de pessoas dos dois sexos santificaram pelos laços
do matrimônio as suas antigas camaradagens. Têm-se realizado conciliações
de inimigos e promovido uma grande reforma moral do povo, de todas as
classes”. Partiu no dia 7, passando pelo rancho do Guilherme; daí virou à
direita, tomando o caminho para São João del Rei.
Chegou em São Tiago na manhã de 8 de abril. “Este arraial foi mui extenso
e teve bons edifícios, a maior parte dos quais se acha em ruínas e outros
desertos, sorte de todas as povoações procedidas da mineração. É tão grande
a escassez neste arraial, que dificultosamente encontrei duas galinhas e alguns
ovos para jantar”. Pernoitou em São Tiago e no dia seguinte atravessou o Rio
do Peixe, passando num arraial chamado Conceição, do qual não se descobriu
a toponímia atual (a atual Ritápolis, teve os nomes de de Santa Rita do Rio
Abaixo e Ibitutinga). Observou muitos vestígios de mineração nesta região.
Atravessou o Rio das Mortes e chegou a São João del Rei, de onde saiu em 11
de abril, entrando pelo vale do Rio Elvas, passou próximo à Ibertioga e chegou
à fazenda do Curral Novo, já no alto da Mantiqueira, continuando daí por diante
pelo mesmo caminho de ida.
Comentários do autor
Os caminhos da época, próprios para cavaleiros e carros de boi, situavamse nas partes mais altas, para atravessar cursos de água mais facilmente, por
causa da vazão menor, e ficavam distantes das fazendas, que necessitavam
ser mais próximas de córregos ou rios. Isso causou em Cunha Matos uma
impressão de região pouco habitada e de aparente subutilização para agricultura
e criação. Na ida, após sua passagem por Resende Costa, encontrou uma
grande boiada, juntamente com carneiros, cabras e suínos, que iam para o
Rio de Janeiro, certamente via São João del Rei, onde provavelmente seriam
abatidos, e a carne e toucinho seriam salgados e transportados por tropa até
ao Rio. Os caminhos de maior trânsito de animais, em alguns trechos, eram
margeados por valos, para evitar a sua dispersão.
Também não percebeu que a população rural afluía aos centros urbanos
quase apenas nas festas religiosas, tendo ficado com uma impressão
exagerada de abandono das vilas e povoados. Nas fazendas era muito bem
recebido, inclusive pelas mulheres, o que modificou a informação que tinha de
que elas não apareciam para as visitas, conforme afirmação de vários viajantes
estrangeiros.
Para a alimentação durante a viagem, levava apenas açúcar. Pois, feijão
preto, toucinho, galinha e porco eram facilmente encontrados.
Suas sugestões para o desenvolvimento da região, podem ser sintetizadas
pela impressão que lhe causou São João del Rei: “É o comércio, é a agricultura,
é a passagem contínua dos tropeiros que dão vida e crescimento à vila de São
João del Rei”.
Viagem de Goiás ao Rio, em 1825
Foi eleito pelos moradores da Província de Goiás como deputado à
Assembleia Legislativa do Império e saiu de Goiás em fevereiro de 1825, para
exercer seu mandato.
Em 6 de abril de 1825 chegou a Oliveira, onde havia uma missão realizada
pelos padres da Congregação do Caraça. Era muito grande a aglomeração de
Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região
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Igreja Matriz de São Tiago Maior e Sant’Ana
completou 90 anos de sua inauguração
A primeira capela construída, em São Tiago, foi através da distrito, sobretudo, para realizar atos civis. Fato esse que se
concessão de uma provisão datada de 02 de dezembro de 1761, comprova que, conforme designado pelo Governo da Província em
pelo primeiro Bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz aos 31/10/1881, ocorreu a primeira eleição para deputado e senador
moradores com terras situadas entre o Rio do Peixe e do Jacaré da província dentro da Igreja Matriz da Freguesia de São Tiago. Ao
e suas vizinhanças, com invocação ao Apóstolo São Tiago Maior final do ano, registrou-se também a realização da segunda eleição
e a Senhora Sant’Ana. O responsável para lançar bases a essa para vereador da Câmara Municipal de Bom Sucesso (08/12/1881).
edificação foi o Revmo. Padre Francisco Xavier da Costa Fialho,
Prestando serviços pastorais na freguesia, entre os anos de 1869
juntamente com moradores do antigo
a 1901, Padre Júlio José Ferreira viu que havia
arraial. Possivelmente a construção do
a necessidade de construir uma nova igreja
templo se deu no ano seguinte. O mesmo
para acolher o povo de Deus. Nesse intuito,
sacerdote delimitou o terreno da capela
angariou os primeiros recursos para o início
e adro (cemitério) e deu a bênção nesse
da obra almejada.
espaço que seria o templo de oração da
Na curta passagem do Revmo. Padre Antônio
população nascente. Como no Brasil, a
Corrêa de Lima nesta paróquia, como vigário,
construção de uma igreja foi sempre o
em 1902 demoliu a velha igreja por extrema
germe fecundo de uma cidade. São Tiago
necessidade, a fim de dar início as obras. Em
deve ter tido sua pedra fundamental
arrojado lance, deu início à construção da nova
nesta Igreja.
igreja. Para que os fiéis não ficassem privados
Com o passar do tempo, o crescimento
de sua casa de oração até a construção da
Igreja Matriz – década de 1930
da localidade ia se firmando no entorno
nova Matriz, participavam das missas e atos
da vila e terras próximas. Capelães já visitavam a vila para celebrar religiosos na extinta e modesta Capela Nossa Senhora do Rosário,
as missas e ministrar sacramentos. Com isso, o templo não mais que ficava na praça central.
comportava o número crescente de fiéis e nem as condições a que
Três comissões superintenderam a obra: a primeira, organizada
se acha eram boas. Talvez, a ampliação da capela fosse uma das pelo vigário, Padre Antônio Corrêa Lima, seu presidente, teve como
preocupações dos capelães e vigários, ao observar o crescimento tesoureiro o Capitão João Pereira Santiago e como secretário o
da população.
Professor Guilherme Alves de Andrade. A segunda constituída no
Anos mais tarde, o distrito de São Tiago, já com vistas de um começo de 1904, pelo Padre Crispiniano Antônio de Souza, que,
lugar de paradas de tropeiros, viajantes e vendedores crescia e no fim deste mesmo ano, passou a presidência ao vigário, Padre
tornava-se um lugar agradável de se viver, muitas pessoas por aqui José Duque de Siqueira que nomeou os seguintes membros:
iam se firmando e construindo suas famílias e laços de amizades. José Zeferino Gabet, Capitão Vicente Gaudêncio de Sousa, Luiz
Em 16 de junho de 1855, pela Lei Mineira Nº. 727, o curato foi Caputo, Joaquim da Mata Sobrinho, Francisco Mendes de Almeida
elevado à categoria de freguesia (paróquia). Foi um passo grande e Eduardo de Sousa Pinto. A terceira comissão, organizada pelo
na historicidade local.
vigário, Padre José Duque (presidente), Capitão Vicente Gaudêncio
A antiga capela, agora com ares de Igreja Matriz da Freguesia de de Sousa (tesoureiro), José de Campos (secretário) e demais
São Tiago se ostentava ainda mais, pois tinha
membros, os senhores: Modesto José de Castro,
vigário (pároco) próprio, Padre José Mendes
Domineu Coelho dos Santos, Joaquim Coelho
dos Santos. Sacerdote esse incumbido
Júnior e Joaquim Carlos de Campos. Comissão
de organizar a paróquia e ainda ajudar na
esta que desempenhou suas funções até 1922, data
organização civil das propriedades (glebas)
do término da construção do templo.
que iam sendo vendidas aos seus primitivos
Tomando posse como novo vigário da paróquia,
moradores. Na nova freguesia podia se casar
o Revmo. Padre José Duque de Siqueira, com
sem ter que esperar a vinda dos capelães
a ajuda de uma comissão e do povo do distrito
que não eram tão frequentes. Havia missa
de São Tiago, com muita luta e dedicação, deu
cotidianamente, e os batizados podiam ser
continuidade à obra começada, finalizando-a em
celebrados assim que a crianças nasciam.
1922.
A Igreja Matriz não era somente para
Dr. Augusto Viegas, em sua obra Notícia Histórica
realizações religiosas daquela época,
do Município de São Tiago (1972) registra:
constituía-se um lugar amplo, onde abrigava
“A Igreja Matriz tornou-se sobranceira, na
quase todos os moradores do pequeno
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Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região
parte alta da Praça Ministro Gabriel Passos. Este templo,
que começou a ser erigido em 1902, terminando em 1922, é
solidamente construído de alvenaria de pedra nos alicerces
e de tijolos em todas as paredes. Medindo 44,70 metros de
comprimento por 12,20 de largura, este edifício, alto, bem
proporcionado, de linhas suaves, oferece a vista um conjunto
harmonioso e agradável. A fachada dividida em dois planos, tem
no térreo a porta principal, a cujos lados se vêem dois nichos
simetricamente dispostos, enquanto no superior apresenta três
janelas que iluminam diretamente a grande nave e a tribuna
de música. Esguia torre quadrangular justaposta no meio da
frontaria, sobre bem trabalhada base de granito se levanta
apoiada em elegantes arcadas ogivais de granito. Na parte da
torre que sobreleva o plano do coro, na face da frente, está o
relógio, e acima a sineira, onde para todos os quadrantes, se
rasgam em ogivas, como as demais construções, quatro amplas
janelas onde a voz dos campanários, com autoridade e encanto,
convoca os fiéis para as piedosas cerimônias de nossa fé, que
a cruz, dominadoramente, no alto, evoca. Nas faces laterais
externas se abrem de cada lado duas portas para a grande nave
e uma para cada um dos corredores que ladeiam a capela-mor”.
Com grande júbilo e ação de graças, a Igreja Matriz estava pronta
e entregue ao Povo de Deus. No dia 15 de agosto de 1922, a nova
Igreja Matriz foi abençoada e inaugurada pelo Revmo. Padre José
Duque com a presença dos reverendíssimos sacerdotes: Padre
Aureliano Santiago, Vigário de Passa Tempo; Padre Crispiniano
Antônio de Souza, Vigário de Ritapólis e Padre José Cocozza,
Vigário de Morro do Ferro; e da comunidade paroquial e visitantes.
No dia primeiro de janeiro de 1949, ocorreu um fato
significativo, o distrito São Tiago
obteve a emancipação política e
administrativa onde foi elevado
à categoria de município. Com
grande vibração cívica, renomadas
autoridades civis e pessoas das
cidades vizinhas vieram prestigiar
o ato de instalação do município
de São Tiago. Às 9 horas do
mesmo dia, houve desfile cívico,
apresentação das bandas de
cidades vizinhas e a bênção da
imagem do padroeiro São Tiago
da Igreja – término
que, na ocasião, havia chegado do Reforma
Solenidades 05/04/1998
Rio de Janeiro, após restauração.
Durante a missa campal, presidida pelo Padre José Duque,
Padre Francisco Eloi, Vigário Cooperador pronunciou-se a oração
gratulatória rendendo graças a Deus pela elevação do distrito de
São Tiago à categoria de município.
Tempos depois, a Igreja Matriz passou por reformas mais
profundas no intuito de estilizá-la e equipá-la a contento. O início da
reforma se deu em 1948 e terminou em 1950, graças ao Altíssimo
e o empenho do povo de Deus e dos sacerdotes, Padre José Duque
e Monsenhor Elói. A Igreja Matriz foi reinaugurada oficialmente
pelo Bispo Diocesano, Dom José Medeiros Leite no dia 7 de maio
de 1950. A festa de reinauguração foi um acontecimento marcante
para todos da cidade de São Tiago. Este evento movimentou toda a
Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região
cidade, inclusive autoridades religiosas e civis, isso sem contar na
presença efetiva do povo de Deus.
Aos cinco dias do mês de junho de 1997, devido a um forte
vendaval, seguido de uma tempestade, uma parte do telhado da
Igreja Matriz desabou, consequência da queda de uma parede
triangular, construída com a finalidade de dar “acabamento
estético” à construção. Logo, o então Administrador Paroquial,
Revmo. Padre Lúcio Carlos Vieira juntamente com o recémformado Conselho Paroquial para Assuntos Econômicos - CPAE,
pediu a todos os conselheiros envolvimento, seriedade e dedicação
no desenvolvimento das obras que estariam para começar.
Na oportunidade, a coordenadora do CPAE, Sra. Maria da
Conceição Silva Mata, juntamente com os conselheiros (Tesoureiro,
Marcos de Oliveira
Reis; 1º Secretário,
Rogério Ladeira
Franco;
2º
Secretária: Josefa
Maria
Peluzzi
Silva e demais
membros: Rubens
de Oliveira Mata,
Sebastião Patrício
Interior do Templo
da Silva, Anatália
Sousa Coelho Reis, Edna Silva Pinheiro Franco, Márcia Helena
Alves Sousa, Valdir Ferreira Reis, Ermínia Carvalho Caputo
Resende e Laerte Silva Resende) relatou e destacou quatro itens
que consideraram importantes como alicerces desta reforma: “1ºAs bênçãos de Deus, a quem agradecemos por esta luz que nos
conduziu; 2º- A obstinação do incansável Padre
Lúcio, que esteve à frente de todas as etapas da
reforma; 3º- A generosidade do povo de São Tiago
que compreendeu a necessidade de ajudar e não
mediu esforços, item este que estendemos aos
amigos de nossa terra e 4º- A disponibilidade dos
conselheiros do CPAE, que marcharam junto com
o Padre Lúcio nesta caminhada”. Para finalizar,
registrou em documentos da reforma da Igreja
Matriz: “Hoje, 5 de abril de 1998, há exatos 10
meses do lamentável incidente, quando estamos
reinaugurando a nossa Igreja Matriz, podemos
constatar diversos melhoramentos e novas
obras realizadas e, como por exemplo podemos
descrever: 1º- a reestruturação da sacristia, que recebeu novo
piso, banheiros e um bebedouro; 2º- a ampliação do local onde
se encontra a Pia Batismal, oferecendo maior comodidade em
dias de batizados; 3º- a reforma da escadaria que dá para o coro;
4º a reforma completa do sistema de sonorização; 5º- a reforma
e a aquisição de lustres e arandelas; 6º- a aquisição de novos
ventiladores, próprios para igrejas; 7º- a construção da Capela do
Santíssimo e 8º- o novo engradamento, de estrutura metálica. Por
tudo, Deus seja louvado”!
A Igreja de São Tiago Maior e Sant’Ana ocupa importante lugar
junto à comunidade de São Tiago, porque é na Igreja Matriz, onde se
realizam as principais solenidades religiosas e civis do município.
Marcus Antônio Santiago – Secretário do IHGST
5
NOTAS DA REDAÇÃO DO S&S
I – A oralidade popular reza que os
mineradores (ou bandeirantes) que aqui
chegaram em 1708, de origem espanhola,
ergueram uma ermida ou orada em honra a
São Tiago Maior, padroeiro e patrono da terra natal (Espanha),
em cumprimento à promessa pelo sucesso da descoberta de
ouro em nosso meio, mais precisamente no lugar “Vargem
Alegre”.
Desconhece-se o local onde teria sido edificada essa primeira
capela e que viria a ser substituída pelo templo em honra a
São Tiago Maior e Sant’Ana, em terras doadas pelo sesmeiro
Domingos da Costa Afonso e sua mulher e provisionada em
1761 por D. Manuel da Cruz, 1º bispo de Mariana.
Em conversa e mediante estudos do Dr. Luis Antonio
Gonçalves Lindquist, médico e historiador residente em
Araraquara (SP), segundo este o arquiteto e construtor da
capela de São Tiago foi seu avô em 5ª geração, Manoel Marques
de Carvalho , português natural de Rui Vaz/Braga (Portugal),
que residiu em São Tiago entre os anos de 1758 a 1766 (nesse
ano, Manoel Marques foi aquinhoado com uma sesmaria na
região de Pium-i e São Roque de Minas, para onde se mudou,
continuando igualmente a sua função de arquiteto e construtor)
II – Sabe-se ainda pela oralidade e por notícias de jornais da
época (SJDR) que o frontão da antiga Igreja Matriz ruiu no ano
de 1861, sendo reparado. Resistira precisamente um século. O
templo continuou a apresentar problemas que se intensificaram
em 1891, o que levou praticamente à sua demolição em 1902,
tendo sua reconstrução perdurado ao longo de 20 anos (até 1922).
III – Com – e após - a emancipação político-administrativa de
São Tiago em 1949, a Igreja Matriz sofreu novas e substanciais
reformas, tendo sido reinaugurada em 07/05/1950, num dos
maiores e mais pomposos eventos
religiosos e cívico-populares de nossa
história. Augusto das Chagas Viegas
em “Notícia Histórica do Município
de São Tiago”, págs. 83/84, assim se
refere:
Graças ao Altíssimo, a 7 de maio
de 1950, com justificada alegria de
tôda a população inaugurou-se o
templo que ao coração tanto nos toca.
Nesse jubiloso dia, em frente à Igreja
de Nossa Senhora do Rosário, com a
assistência de verdadeira multidão de
fiéis foi, pelo Revmo. Padre Francisco
de Assis, celebrada a Santa Missa em que se realizou a páscoa
coletiva das môças.
Após, foi benta a imagem de Sant’Ana, nossa co-Padroeira,
sendo então entoados hinos pelo admirável “Côro Regina
Coeli”, da Cidade de Oliveira, competentemente regido por Frei
José Badim, verificando-se em seguida procissionalmente a
trasladação das imagens da Igreja do Rosário para a da Matriz.
A seguir, o Exmo. e Revmo. Dom José de Medeiros Leite,
Bispo-Diocesano, procedeu à cerimônia da Bênção da Igreja,
celebrando após solene pontificial a que estiveram presentes
o Vigário José Duque de Siqueira. Francisco Elói de Oliveira,
Vigário Cooperador, o Cônego Heitor Trindade, Frei Optato
Van de Oven, os Padres Francisco de Assis, José Mariano
Nagib Gibran e Frei Gil Gomes, da Ordem dos Pregadores, que
proferiu notável oração alusiva à cerimônia e ao sacerdócio, em
cuja sagrada missão o Revmo. Vigário José Duque de Siqueira
completara nesse dia 59 anos. Logo após, o Vigário Francisco
Elói de Oliveira, congratulando-se com seus paroquianos, deu
graças a Deus pelo feliz êxito do almejado empreendimento.
IV – O desabamento de parte do telhado da Igreja Matriz
em 05/06/1997, em consequência de forte ventania e vendaval,
(por erro de construção, diga-se de passagem) além dos graves
prejuízos materiais, foi um grande golpe para a cultura, a arte
e a memória de nossa comunidade. Afrescos e pinturas murais
de autoria de Octávio Vitoi e Saturnino Aquino, quase todos da
década de 1950, que descreviam passagens bíblicas e fatos
da vida missionária e mesmo lendária de São Tiago Apóstolo
foram destruídos e não recuperados, quiçá por desinteresse
ou omissão de responsáveis. Dentre os afrescos perdidos,
podemos mencionar: Expulsão de Adão e Eva do Éden; a
transfiguração de Cristo no Monte Tabor: São Tiago Cavaleiro
na batalha de Clavijo, etc.
Da esquerda para a direita: Em pé, 1ª fila:
Bensente, José Lara, Vicente Mendes, João
Reis | 2ª fila (em pé): José Resende Santiago
(Pereirinha), Dr. Henrique Pereira, Mons.
Francisco de Assis (Prados), Mons. Francisco
Elói de Oliveira, Frei José Badim(?), Joaquim
Vivas da Mata (Zizi). | Sentados: Dr. Augusto
das Chagas Viegas, Pe. José Duque de Siqueira,
D. José Medeiros Leite, Mons. Leão, Dr. Júlio
Ferreira de Carvalho.
FOTO DE REINAUGURAÇÃO DO TEMPLO – 07/05/1950
6
Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região
ANTIGAS MEDIDAS AGRÁRIAS E COMERCIAIS
Apesar da evolução econômico-social e tecnológica da
humanidade, ao longo das civilizações e dos tempos, defrontamonos regularmente, no dia a dia, com menções e principalmente
com o uso popular de medidas e pesos antigos, alguns milenares,
sejam para fins agrários, comerciais e até mesmo como referenciais
monetários. (preços)
O antigo sistema português de medidas de superfície e de
capacidade para sólidos e líquidos, utilizado ainda hoje entre nós,
especialmente nas áreas rurais, veio do termo metrológico “moio”
(do latim “modius”). O dicionário “Aurélio” registra: “Moio – antiga
unidade de medida de capacidade para secos, equivalente a 15
fangas, ou seja, 21,762 hectolitros”.(1) As medidas de capacidade
eram definidas através de certo número de alqueires ou
almudes e suas subdivisões em quarteiros. Estas
passaram a ser aplicadas igualmente como
medidas de superfície agrária, mediante
a determinação da área do terreno que
poderia ser semeada com um “moio” de
sementes.
Na Roma antiga, o moio (“modius”) era
uma medida de capacidade equivalente a
8,7 até 9,2 litros. Na região da Lusitânia
ou Condado Portucalense (atual Portugal),
já no século XI, aparecem documentos em
que o moio local correspondia à grandeza ou
capacidade variável de 3 a 9 moios romanos, sendo a
medida mais comum, correspondente a 6 moios romanos ou a 64
alqueires (cerca de 220 litros). No reinado de Afonso I, o alqueire
detinha já a equivalência de 560 litros, capacidade que se ampliou
sob o reinado de Pedro I para 630 litros. No sistema implantado, no
reinado de D. Manuel I, correlacionou-se o moio em 60 alqueires
(alqueires de 13,1 litros - medida padrão de Lisboa),o equivalente a
790 litros. Embora as várias tentativas oficiais, jamais se conseguiu
uniformizar o valor do moio (medida atualmente em desuso) e
mesmo do alqueire, com variações de região para região, como
observamos até hoje no Brasil.
O moio servia, ademais, durante a idade Média, como
especificador de preços, alcançando um valor próximo entre 25
a 55 litros de cereal. Como unidade de medida de área agrícola,
o moio manteve-se em uso corrente em inúmeras regiões e
juntamente com o alqueire e as suas frações (a vara, o côvado,
etc) Assim, um alqueire de terra, vara pequena, também chamado
de “prato”,na Ilha Terceira, Açores, e no Brasil, (2) corresponde a
968 m2. O litro tem uma correspondência de 605 m2 (com base na
área de terreno onde ocorra a semeadura de um litro de sementes
de milho debulhado, aplicando-se cinco ou seis grãos por m2).
Outras medidas de superfície antiga eram a centúria, de origem
grega, equivalente a 400 acres (um acre = 1.260 m2) e o “pé”
(quadrado) equivalente a 876 cm2.
Outra antiga medida agrária – e ainda muito utilizada ´- é o “braço”
(ou “braça”) equivalente a 2,2 metros. O alqueire, de acordo com
Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região
costumes e fatores locais, é variável em torno (nº) de “litros” ou
“pratos” ou ainda “quartas”. Daí a expressão “alqueire de tantos
litros” ou “alqueire de tantos pratos”.
O alqueire, como unidade de medida de superficie agrária, sofre
inúmeras variações em nosso País e até mesmo dentro de um
mesmo Estado.
Assim encontramos o alqueire de 3,00 há, de 2,42 (São Paulo
e Norte do Pais), 4,84 há (Goiás), 9,68 há (Bahia) O hectare (ha),
por sua vez, equivale a 100 ares ou um hectômetro quadrado ou
ainda a 10.000 m2 (medida padrão internacional) Utilizava-se ainda
o alqueire como unidade de capacidade para secos, equivalente a
36,27 litros ou a quatro “quartas”. No Pará é empregado como
medida de capacidade correspondendo a dois
“paneiros” ou a cerca de 30 quilos.
Outras
medidas
encontradas
comumente em nosso meio são:
1) tarefa, utilizada antigamente
nas terras destinadas às lavouras
de
cana-de-açúcar
e
café,
correspondendo a 3.630m2 no
Ceará, a 3.025 m2 em Sergipe e
Alagoas e a 4.356 m2 na Bahia.
2) Braça (do latim “brachia”, plural
de “brachin” - braço). Antiga medida
de comprimento equivalente a 10 palmos
ou seja 2,2 m. Braça é também uma unidade
de comprimento do sistema métrico inglês correspondente a
1 metro. Registramos ainda a “braça quadrada”, medida agrária
utilizada no Mato Grosso e correspondente a 4.356m2 (1 braça
= 2,2 m ou 30 braças = 66m e portanto 30 x 30 braças = braça
quadrada, ou seja 4.356 m2. E que correspondem igualmente a
uma tarefa baiana). c) Palmo ou 8 polegadas, equivalente a 22cm.
Há referências de cunho popular,
ainda, ao “tacho”,
correspondente a 25 litros e à teiga, que era uma medida variável
utilizada para a medição de cereais.
(1) Segundo o “Aurélio”, fanga – antiga unidade de medida de
capacidade para secos, equivalente a quatro alqueires.; lugar
ou casa onde se vendiam cereais por estiva
(2) Segundo o sr. Pedro Coelho, 95 anos, esta extraordinária
figura de nossa comunidade, experiente e exemplar homem
do campo; a vara, entre nós, correspondia a medida de 22
palmos “cheios” e a tarefa a sete varas quadradas. “Coisa que
nenhum lavrador de hoje faz mais”, comenta o sr. Pedro, com
sua proverbial sabedoria e longas risadas...
7
Mulheres...
de aço ou de flores?
Não sei... ou até saberia... mas... Hoje
não seria dia internacional da mulher,
nem dia das mães, nem das
filhas nem nada, muito
menos das esposas...
mas é certamente um
santo dia.
Dia desses, daqueles
que em nossa mente seriam dias quaisquer
- bisbilhotando as estantes de minha irmã...
deparei - me com um livro... lindo, por sinal... e
me chamou atenção.
Sem perda de tempo, abri – o apressadamente
e, na folha de rosto, pude ler: “Mulher, ó mulher!
Pudesse eu recomeçar este mundo, inventaria de
criar-te primeiro, e somente depois retiraria Adão
de suas costelas”, uma frase que quase poderia
dispensar as 245 páginas do livro, embora
comovente, disposto em vinte capítulos.
Absorvendo esses dizeres do escritor –
provavelmente já identificado pelo leitor, voltei
prontamente à capa branca do bonito livro,
enfeitada por uma rosa semicolorida, nas
elaboradas letras do título: Mulheres de Aço e de
Flores.
No cabeçalho, também com letras bonitas, o
nome do autor: Padre Fábio de Melo - escritor,
padre, cantor, compositor e professor. No rodapé,
via-se o nome da editora, seguindo a introdução
com os agradecimentos e dedicatórias do autor.
E o prefácio de seu amigo Walcir Carrasco, que
termina suas palavras com a brilhante frase: “Ler
este livro é como receber um abraço”...
Perpassando o olhar – mesmo com óculos
escuros – sobre a orelha do livro, anotei ainda:
“Linhos e linhas nas linhas da alma... em cada
desenho entrelaçado de linhas... o entrelaçamento
8
das tramas que são próprias da vida real...” ” Em
cada linha e cor um respiro de esperança, um
pedacinho de dor”. “Sou mulher de bordados
extensos. Nunca temi a demora das tramas.
Enquanto isso, eu envelheço”.
Ao longo e no discorrer dos textos, observei de
modo especial o capítulo: Simplicidade, onde Pe.
Fábio - como bom mineiro que é – não teria deixado
de retratar e destacar tão carinhosamente nossas
mineiridades, recheadas de tradições, lembrando
os costumes no lar; e a vida, os compromissos
e habilidades da mulher, da mulher mineira, da
mulher de aço, da mulher de flores...
Após “catar” a essência da obra, buscando
interpretá-la de forma coerente e em sintonia com
a intencionalidade do autor, pude perceber sua
constatação sobre “ o respeito à dor de cada hora,
a esperança de cada momento; portanto, a dor
que sabe esperar”.
No dorso do livro, um resumo da obra, que inclui
a belíssima frase do autor: “As mulheres guiam o
mundo, embalam os destinos e entrelaçam num
mesmo tecido as cores da fragilidade e da força.
Elas são de aço, elas são de flores...”
Ao folhear as páginas do precioso livro do Padre
Fábio de Melo - Mulheres de Aço e de Flores muitas emoções... principalmente pela garra e pela
valorização da mulher, pela busca do crescimento
pessoal, pelas lutas e dificuldades da vida no
cotidiano, pelas tramas que nos impõem e se
sobrepõem a cada ser humano. Muitas emoções
também pela riquíssima e proveitosa leitura, pois,
como dizem os sábios: “Cada vez que lemos um
bom livro alguma coisa muda dentro de nós”.
Nilza Trindade de Morais Campos
Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região
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