J. A. Leite Moraes Apontamentos de viagem Joaquim de Almeida Leite Moraes foi um homem digno de admiração. Além de defender a democracia em pleno Império e tornar-se presidente da província de Goiás, garantindo o bom andamento da primeira eleição distrital direta nesse estado, demonstrou bravura nas viagens que realizou no lombo de cavalos ou a bordo de botes e navios. Como afirma o professor Antonio Candido na introdução deste volume, Leite Moraes era um homem afável, culto e muito interessado no desenvolvimento de seu país. Nascido em 1834 na cidade de Tietê, em São Paulo, formou-se em direito pela Universidade de São Paulo, tornando-se deputado e, em seguida, presidente da Câmara Municipal de Araraquara. Em 1881, viajou a Goiás como presidente da província e por lá permaneceu ao longo de quase um ano. Considerado por especialistas um dos melhores livros de viagens já escritos no Brasil, Apontamentos de viagem contém os relatos das andanças de Leite Moraes pelo país. O autor partiu de São Paulo de trem e depois foi a cavalo rumo a Goiânia, de onde, um ano mais tarde, viajou a bordo de uma embarcação a vapor e de um bote a remo para Belém. Lá, tomou um navio para o Rio de Janeiro, um trem para São Paulo e partiu para Araraquara, onde finalmente reencontrou sua família, pondo fim a seus escritos. 1 1. Como era a relação de Leite Moraes e Carlos Augusto? Apesar de Carlos Augusto ser oficial de gabinete de Leite Moraes e, portanto, subordinado a ele, a relação entre os dois era afetuosa. Leite Moraes considerava-o um filho e importava-se muito com ele. Ao partir de São Paulo, escreveu sobre a saudade que sentiria e se consolou dizendo que não estava só, pois Carlos Augusto era um pedaço da família que estava presente. Alguns anos após o término da viagem, Carlos Augusto tornou-se de fato um pedaço da família de Leite Moraes, ao se casar com sua filha, Maria Luiza. 2. Qual foi o primeiro perigo enfrentado por Leite Moraes e seus companheiros quando ainda viajavam pela província de São Paulo? Eles precisaram pegar uma balsa, que estava em péssimo estado, para atravessar o rio Grande. Suas tábuas estavam estragadas e o peso da carga era enorme. Ao longo da travessia, a balsa começou a rodar com a força da correnteza, não mais obedecendo aos comandos do piloto e ameaçando naufragar. Por fim, o homem conseguiu controlar a balsa e todos chegaram ao outro lado do rio, desembarcando com segurança no porto. (“De São Paulo à capital de Goiás”) 3. Em determinado momento da viagem, já na província de Minas Gerais, Leite Moraes, Carlos Augusto e Dantas tomaram um caminho diferente dos outros companheiros e se perderam. Onde e como passaram a noite? Depois de muito caminharem em busca do caminho correto, Leite Moraes, Carlos Augusto e o alferes Dantas acharam uma casinha de sapé. Lá morava um caboclo que lhes ofereceu uma casa onde 2 poderiam dormir. Os três companheiros entraram nela e se instalaram, acendendo o fogo, mas então perceberam que a casa estava tomada por baratas de todos os tamanhos e cores. Os insetos cobriam as paredes, o chão e as camas, e subiam em seus corpos. Tanto Leite Moraes quanto Carlos Augusto passaram a noite em claro, tamanho o incômodo causado pelas baratas. (“De São Paulo à capital de Goiás”) 4. Como Leite Moraes descreve a capital de Goiás e os goianos? Leite Moraes descreveu a capital de Goiás como uma cidade do que já foi, do passado. Considerou-a decadente e antiga, com casas mal construídas e ruas mal calçadas que não prendiam a atenção do visitante. A cidade não possuía iluminação, tampouco passeios públicos. O comércio era pobre, não havia indústria e a lavoura restringia-se aos gêneros alimentícios. O goiano foi descrito por Leite Moraes como obsequioso, afável, franco, jovial e generoso. No que diz respeito à política, o autor afirmou que seguia duas vertentes: se o governo o agradasse, ele o apoiava com dedicação; se o governo o desagradasse, ele devassava a vida privada do governante e o cobria de insultos. (“De São Paulo à capital de Goiás”) 5. Leite Moraes relatou algumas melhorias que implementou na capital como governador de Goiás. Quais foram elas? Leite Morais construiu um novo matadouro, instalou lampiões, abriu uma rua arborizada ligando o novo matadouro ao mercado, que serviria como um passeio público, e proibiu homens e mulheres de se banharem nus no rio Vermelho, dando uma nova opção de passeio às famílias goianas. (“De São Paulo à capital de Goiás”) 6. Ao deixar o cargo de governador, Leite Moraes foi acompanhado por chefes dos partidos oposicionistas. Por que ele se sentiu honrado com isso? O costume de soltar foguetes e comemorar a partida dos governadores era bastante comum naquela época. Por isso, Leite Moraes sentiu-se honrado ao partir da capital acompanhado por chefes oposicionistas, que não demonstraram contentamento com sua saída. Para a surpresa de Leite Moraes, a imprensa oposicionista também agiu de forma digna e respeitosa diante de sua partida. (“Da capital de Goiás a Belém do Pará”) 3 7. Ao longo da viagem pelo rio Araguaia, Leite Moraes e seus companheiros depararam algumas vezes com índios. Como se deram esses encontros e que tipo de troca ocorria entre brancos e indígenas? Foram, em geral, encontros pacíficos, marcados pela curiosidade de ambos os lados diante do outro povo. Em geral, Leite de Moraes oferecia fumo, facas e armas aos índios, que em troca davam frutas, arcos, flechas, animais e lenhas. (“Da capital de Goiás a Belém do Pará”) 8. Quando Leite Moraes estava a bordo do bote Rio Vermelho, a igaraté que levava três de seus companheiros acidentou-se. Como se deu o acidente e qual foi sua consequência? A igaraté que levava Barbosa, criado de Leite Moraes, um dos remeiros do Rio Vermelho e o sertanejo Basílio encheu de água e naufragou. Barbosa e o remeiro alcançaram as margens do rio, enquanto Basílio tentava salvar a igaraté. Ao perceber que Basílio precisava de ajuda, Barbosa jogou-se na água e foi em direção ao companheiro. Porém, não conseguiu alcançá-lo e afogou-se. A morte de Barbosa entristeceu profundamente todos os tripulantes do Rio Vermelho, em especial Leite Moraes, que prezava muito o criado. (“Da capital de Goiás a Belém do Pará”) 9. A igaraté comprada para substituir a que havia naufragado também sofreu um acidente, mas dessa vez a história teve um final feliz. Qual? Ao enfrentarem uma cachoeira no rio Araguaia, a corrente que prendia ao bote a igaraté recém-comprada foi arrebentada pela força da água. O piloto do bote, com a ajuda dos proeiros, tentou controlá-lo para que pudessem procurar a igaraté, mas ele resvalava nas pedras, sacudindo de um lado para outro. Finalmente, avistaram a igaraté, que girava em torno de redemoinhos, e com muito esforço resgataram-na, mantendo-a perto do bote. Todos comemoraram o resgate, sentindo-se vencedores de uma verdadeira batalha travada com a natureza. (“Da capital de Goiás a Belém do Pará”) 10. De que forma Leite Moraes e seus camaradas enfrentaram a temível cachoeira Itaboca? Os camaradas de Leite Moraes consideraram que seria prudente que ele e Carlos Augusto não enfrentassem a Itaboca pelo rio, mas seguissem o caminho por terra. Leite Moraes, então, desceu do bote, 4 menos por vontade própria do que por consideração à sua família e a Carlos Augusto. Os outros camaradas enfrentaram a Itaboca a bordo do Rio Vermelho. Depois de muito caminharem, apreensivos com o destino de seus amigos que seguiam pelo rio, Leite Moraes e Carlos Augusto ouviram vozes conhecidas e gritos de comemoração. Eram os tripulantes, que haviam sobrevivido à Itaboca e celebravam esse feito. (“Da capital de Goiás a Belém do Pará”) 11. O que aconteceu com Leite Moraes ao desembarcar do navio Ceará em Fortaleza? Por que podemos considerar esse incidente irônico? Ao descer do Ceará, Leite Moraes subiu em uma jangada um tanto precária para poder desembarcar em terra firme. Quando estava prestes a sair da jangada, uma onda atirou-o ao mar, levando junto o embrulho de roupas limpas que segurava. Ao desembarcar em Fortaleza, Leite Moraes estava ensopado, assim como as roupas que levava. A ironia desse incidente encontra-se no fato de um homem aventureiro como Leite Moraes, que navegou o Araguaia, e o Tocantins e enfrentou suas cachoeiras, ter naufragado no porto de Fortaleza, prestes a pisar em terra firme. (“De Belém do Pará a São Paulo”) 12. De que forma Leite Moraes diferencia Salvador de Recife e Belém? Para Leite Moraes, Salvador é uma cidade maior do que Recife e Belém, mas estas são mais belas, têm mais vida e mais encantos. Enquanto Salvador vive de suas tradições e preserva as grandezas do passado, Recife e Belém miram o futuro e vivem dos sonhos que ainda estão por virar realidade. (“De Belém do Pará a São Paulo”) 5 Leituras recomendadas Almeida, Nogueira. A Academia de S. Paulo: tradições e reminiscências. São Paulo: Estudantes Estudantões Estudantadas, 1908. Moraes, Rubens Borba de. . Lembrança de Mário de Andrade. São Paulo: 7 Cartas, 1979. Vampré, Spencer. Memórias para a história da Academia de São Paulo, v. 2. Brasília: INL e Conselho Federal de Cultura, 1977.