JP n 7
GERAL
n Quinta-feira,
1º de novembro de 2007
EMERGÊNCIA
INTERIOR
Passar o rio de canoa para estudar
Estradas
perigosas
> VINÍCIUS SEVERO
Pelo menos cinco estudantes da localidade de
Bexiga estão arriscando
suas vidas todos os dias
para irem à escola. Desde a queda da ponte do
Botucaraí, ocorrida há
mais de um mês, o acesso
dos transportadores aos
estudantes ficou impossibilitado, aumentando o
drama da região, que já
sofre com o isolamento
de mais de 10 produtores.
Os cinco irmãos Carlos
Roberto Almeida, 17
anos, Daniel, 9, Tatiane,
11, Daiane, 13, e Daniela,
sete, todos estudantes da
Escola Antônio Vicente da
Fontoura, precisam se
arriscar diariamente, em
torno das 6h45min, para
atravessar o rio em uma
canoa que sequer bancos
possui, forçando as crianças a ficarem em pé
durante a navegação. “A
correnteza ou até mesmo
um movimento brusco
sobre a embarcação pode
fazer com que ela vire”,
confessa Carlos Roberto,
que faz a travessia dos
irmãos menores.
Apesar do perigo, diz
Roberto, esta é a única
forma de poderem ir para
a escola: “Mesmo já usando a canoa há bastante
tempo, é claro que tem
risco”, alerta. Até agora,
a única medida que a Prefeitura tomou para amenizar o drama das crian-
ças foi disponibilizar coletes salva-vidas, mas os
pequenos não os usam
para atravessar o rio nos
barcos. O pequeno
Daniel, confessou que tem
medo que a canoa vire,
mas demonstra coragem:
“Não tem perigo, tio. Eu
sei nadar”, argumentou.
ATIRADO - Além das
crianças que precisam se
deslocar de canoas, os
produtores também estão enfrentando problemas e indignados com a
situação. Everson Freitas
Prade e seu pai Ênio Francisco Prade, lavoureiros,
mostram-se extremamente preocupados com
a demora para a construção de uma nova ponte.
“Quando precisamos descarregar sementes ou
maquinário temos que
fazer a volta por outra
rota, aumentando a quilometragem em pelo menos 50 quilômetros. Além
do tempo que perdemos
e do cansaço sobre o trator, gastamos mais do que
o dobro do normal do que
quando havia a ponte”,
relata Prade. “A Prefeitura está deixando tudo atirado no interior”, completa. Morador das proximidades da ponte, o mecânico Luis Tadeu Flores
compreende o problema
mas exige solução ao
impasse. “Sabemos que a
coisa está complicada,
mas assim não pode continuar”, argumentou.
VINÍCIUS SEVERO
Remar para aprender: alunos não têm outra alternativa depois da queda da ponte
MUL
TIMÍDIA
MULTIMÍDIA
Acesse o site do Jornal do Povo e
assista às crianças realizando a arriscada travessia no Botucaraí.
Jovens de Bexiga: risco de vida para não perderem a aula na Antônio Vicente
>> IMPORTANTE
O secretário municipal de Educação, Marcos
Flores, soube que os estudantes estavam realizando
a travessia de canoa há pouco mais de uma semana,
informado pelo pai de um estudante. “O que pude
fazer foi enviar os coletes para eles. Não tenho
poder para ir até lá e construir uma ponte, e uma
rota alternativa implicaria em uma quilometragem
quatro vezes maior, aumentando o custo do transporte”, ressaltou, exemplificando que pelo Brasil,
na região amazônica, centenas de crianças vão para
a escola de canoa, e que ele mesmo, com seus filhos,
já andou de canoa pelo Rio Jacuí.
ATENÇÃO
O secretário municipal de Interior e Transportes, Celso Lopes, diz
que não tem como prometer a recuperação
imediata da ponte do
Botucaraí, mas adiantou que isso ocorrerá
quando as obras na ponte do Irapuazinho terminarem.
As chuvas continuam
arrasando com as estradas do interior de Cachoeira do Sul, prejudicando
o tráfego de veículos pesados como caminhões e
ônibus e o transporte escolar. Um dos trechos que
apresenta problemas fica
próximo ao Cemitério
Olhos d’água, no Piquiri,
onde a Estrada da Mineração virou um atoleiro.
De acordo com a secretária da Sulpinos, Cristina
Corbellini, ontem pela
manhã dois caminhões
carregados de madeira ficaram atolados.
Outros caminhões,
além de ônibus de transporte escolar, também já
haviam parado na lama
na terça-feira. Segundo
Cristina, na semana passada a Prefeitura colocou
terra em buracos da estrada. Com a chuva, a terra solta acabou virando
um grande atoleiro. A situação não é complicada
apenas no Piquiri. A donade-casa Janice Bortolin
afirma que a Estrada do
Capané está também em
condições precárias,
“principalmente sobre a
taipa da Barragem”.
Na terça, um carro derrapou no barro, saiu da
estrada e caiu no barranco, capotando três vezes e
parando perto de uma lavoura. O Fiat Uno era conduzido por Regene Lamb,
pastora da Paróquia
Luterana, que por sorte
acabou saindo ilesa do acidente. Diariamente o ônibus que leva os estudantes da Escola Dinah Néri
cruza por esta taipa.
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Passar o rio de canoa para estudar