SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO DO VALE DO IPOJUCA
FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA – FAVIP
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
ERICA DOS SANTOS TANAKA
VIVIANE ANDRESA DA SILVA
CULTO AO CORPO FEMININO NA CONTEMPORANEIDADE
CARUARU
2011
ERICA DOS SANTOS TANAKA
VIVIANE ANDRESA DA SILVA
CULTO AO CORPO FEMININO NA CONTEMPORANEIDADE
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como
requisito para obtenção do título de bacharel em
Psicologia pela Faculdade do Vale do Ipojuca –
FAVIP.
Orientadora: Professora
Cavalcanti.
CARUARU
2011
Ms. Rosália
Andrade
T161c
Tanaka, Erica dos Santos.
Culto ao corpo feminino na contemporaneidade. / Erica dos Santos
Tanaka e Viviane Andresa da Silva. -- Caruaru : FAVIP, 2011.
40 f. :
Orientador(a) : Rosália Andrade Cavalcanti.
Trabalho de Conclusão de Curso (Psicologia) -- Faculdade do Vale
do Ipojuca.
1. Culto ao corpo feminino. 2. Contemporaneidade. 3. Patologias. I.
Silva, Viviane Andresa da. II. Título.
CDU 159.9[12.1]
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367
Diretor Superintendente
Luiz de França Leite
Diretor Superintendente
Vicente Jorge Espíndola Rodrigues
Diretora Executiva
Mauricélia Bezerra Vidal
Diretor Acadêmico
Marjony Barros Camelo
Coordenadora do Curso
Raffaela Medeiros
DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho acadêmico a Deus que nos concedeu o dom da vida e que nos
permitiu chegarmos até aqui. Dedicamos também a nossa família que desde o princípio
acreditou e nos incentivou em todos os momentos; a nossa orientadora Rosália Andrade, que
esteve disponível durante toda a elaboração desta produção. E a professora Valeriana Porto
que participou da banca avaliadora contribuindo para o estudo da elaboração deste trabalho de
conclusão de curso, e, a todos que acreditaram no nosso desempenho.
Erica dos Santos Tanaka.
Vivivane Andresa da Silva.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus que me concedeu o curso de psicologia, por ter me dado
força, saúde e sabedoria para chegar até aqui. Meu eterno agradecimento aos meus
professores e coordenação. O meu muito obrigado ao meu esposo, amigo e companheiro
Mauro Souza, por ter caminhado comigo, me dando forças nos momentos de fraqueza, por ter
secado as lágrimas quando precisei chorar. Agradeço também aos meus pais: Yasuo Tanaka e
Creuza Tanaka, as minhas irmãs e a minha amiga Viviane que comigo caminhou na
construção desse trabalho. Aos meus amigos e a todos que acreditaram na minha capacidade e
no meu sucesso.
Erica dos Santos Tanaka
Agradeço á Deus, primeiramente, que me permitiu chegar até aqui, sem ele nada valeria, o
sonho de ontem é a realidade de hoje e é o projeto para outros sonhos e outros caminhos,
outra vida. Serei eternamente grata aos meus pais Maria Auxiliadora M. da Silva e Severino
A. da Silva, que são o meu alicerce e sempre estiveram ao meu lado; ao meu irmão
Gutembergue A. da silva e toda minha família. Aos anjos que Deus colocou em minha vida,
pessoas que foram essenciais para minha formação. A todos os professores e mestres de
graduação, a minha amiga Erica Tanaka, que comigo construiu este trabalho, sou grata pela
sua amizade e companheirismo, nossa união foi de suma importância para que tudo
percorresse da melhor forma possível. E a sua família pelo apoio, o meu sincero
agradecimento. E a todos os amigos de formação acadêmica. Sou a soma da força e confiança
de cada um de vocês, a todos, o meu muito obrigado.
Viviane Andresa da Silva
RESUMO
Diante de uma sociedade impregnada pela mídia que tem como objetivo induzir o sujeito a
cultuar a aparência externa e canalizar a atenção ao corpo, tornando-o a base mais importante
para o sujeito. Sujeito esse que vive atualmente numa constante busca pela “perfeição”. Com
tudo é importante ressaltar que a mídia por si só omite ao sujeito as patologias tidas como
conseqüências para alcançar essa dita perfeição física; bem como: Anorexia, Bulimia,
Vigorexia e compulsão a cirurgia plástica. O indivíduo além de ser hoje um sujeito cortado e
moldado pelas intervenções das cirurgias plásticas,é também sujeito industrializado pelo
mercado que aposta nos produtos de beleza e nas várias dietas .tratando-se deste modo do
culto ao corpo feminino na contemporaneidade.
Palavras chave: Culto ao corpo. Feminino. Contemporaneidade. Patologias.
ABSTRACT
Faced with a society permeated by media that aims to induce the subject to worship outward
appearance and focus attention to the body, making it the most imoportant basis for the
subject. This guycurrently living in a constant quest for “perfection”. With all it is important
to note that the media itself omits the subject pathologies seen as consequences to achieve this
so-called physical perfection, as well as anorexic, bulimy, and bing vigorexi plastic sugery.
The individual todau as well as being a guy cut and shaped by the intervention of plastic
sugery, is also subject to the industrial market bets on beauty products and various diets. In
the case of this mode of worship of the female body in contemporary society.
Keywords: Cutl of the body. Female. Contemporary. Pathologies.
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO.........................................................................................................11
2
O CULTO AO CORPO DA MULHER CONTEMPORÂNEA..........................15
3
POR QUE O DESEJO DE POSSUIR UM “CORPO IDEAL”...........................22
4.
O IDEAL DE “CORPO PERFEITO: possíveis patologias..................................29
5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................38
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................39
"O seu corpo é a base e a metáfora da sua vida, a expressão da sua
existência. É a sua Bíblia, sua enciclopédia, sua história de vida. Tudo
o que acontece com você é armazenado e refletido no seu corpo. No
casamento da carne e do espírito, o divórcio é impossível".
Gabrielle Roth
1. INTRODUÇÃO
“O ego é, primeiramente e acima de tudo um ego corporal; não é simplesmente uma
entidade de superfície, mas é ele próprio a projeção de uma superfície” (FREUD, 1923, p.39).
Foi destacando esse modo de pensar que despertou em nós o interesse de abordar as várias
representações da figura feminina na contemporaneidade, explorando e destacando as diversas
formas de culto ao corpo para a mulher do século XXI.
Os recursos estéticos para moldar o corpo estão cada vez mais presentes no discurso
feminino. Resgatando o conceito freudiano de corpo, entendemos que o eu se faz numa troca
de experiências corporais, e que hoje ganha destaque, gerando inúmeros danos tanto
psicológicos como biológicos para aquelas que não se enquadram no modelo considerado
“perfeito”. Neste sentido, pretendemos apontar os “diversos” fatores responsáveis pela
propagação desse ideal imaginário, destacando as possíveis patologias que podem ser
desencadeadas, tais como, anorexia, bulimia, vigorexia e compulsão a cirurgia plástica
(VILHENA, 2008).
Para isso, tomamos a psicanálise como referência neste estudo, visto que ela tenta
fazer uma passagem da lógica da anatomia para a lógica da representação. Segundo Dr. Freud,
o corpo é habituado pela linguagem, ou seja, lugar onde se tece a trama das relações entre o
psiquismo e o somático que estrutura a linguagem própria do Inconsciente, marcado pela
determinante do desejo. Esse desejo torna-se objeto de consumo e de foco para a construção
identitária da mulher.
O século XXI nos leva a uma viagem corporal sem limites, induz o sujeito a modelar e
transformar corpos naturais em corpos aprisionados por um modelo inacabável de
feminilidade. Tanto no âmbito nacional quanto mundial é notório perceber que o ser humano
está se angustiando muito e tentado fugir do tempo que o aproxima da velhice, tornando-a um
incômodo. Isso se dá pelo fato de se viver numa sociedade impregnada pela cultura da
competitividade, da beleza e do culto ao corpo (SOUZA,2010).
Diante de tantas outras questões como, por exemplo, o desemprego e a violência, o
corpo passou a ganhar ênfase mundial começando a despertar reflexões entre psicanalistas e
outros profissionais. Como ressaltar as implicações psíquicas no universo do ser mulher?
Questionamos assim o ideário de corpo atribuído pelas mulheres que se submetem as
09
cirurgias estéticas, permitindo que o corpo seja cortado e sugado pelas dietas, além de
agredidos pela lipoaspiração.
As cirurgias plásticas, com frequência, têm se configurado como um novo modo de
apresentar-se socialmente. As formas e os recursos estéticos para moldar o corpo, estão cada
vez mais presentes no discurso do universo feminino na contemporaneidade (VILHENA,
2008).
Vale ressaltar que Freud aborda o sujeito em quatro fases: infância, adolescência,
adultidade e velhice e fica nítido perceber o incômodo que o ser humano manifesta para não
chegar à terceira idade. Viver num perfeito padrão físico obriga o homem a renunciar a esta
última etapa da vida. Dolto (1984) diz que a ideia de imagem do corpo é definida numa
construção histórica e Inconsciente das vivências corporais mais primitivas do sujeito (LEO,
et. alli. 2010).
A estética tem o objetivo de visar uma preocupação da mulher em permanecer jovem,
magra e bela, sem rugas, estrias e celulites, explorando o sujeito contemporâneo no culto ao
corpo, alienando-o a uma verdadeira obsessão, tornando esse corpo como roupa feminina,
sendo manipulado e costurado para uma perfeita exibição. A esse estilo de vida sem limites
que não visa às conseqüências, resultou uma epidemia de doenças tais como: anorexia,
bulimia ,vigorexia e compulsão a cirurgia plástica (SOUZA, 2010).
A mídia é um dos fatores responsáveis, apresenta o corpo como capital físico,
elaborando um modelo de ser mulher, e as que não atingem este padrão, acabam por
manifestar perda de alto estima. A imagem do corpo exerce um papel importantíssimo na
constituição psíquica da existência humana, tratando aqui na construção feminina. Que poder
a sociedade tem para canalizar a visão humana a limitar a tensão ao físico? (GARRINI, 2007).
Freud ressalta que o ego é primeiramente e acima de tudo um ego corporal. Sendo
assim, este ego corporal freudiano nos faz entender que o eu se constitui numa troca de
experiências corporais. Embora padrões estéticos tenham se modificado com o tempo, a luta
para atingir o ideal de beleza vigente é algo que vem marcando a relação da mulher com seu
corpo, isto em diversas culturas e que hoje ganha destaque avassalador gerando inúmeros
danos psicológicos e biológicos para aquela que não se enquadra no modelo ditado
socialmente como perfeito.
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A psicanálise tenta fazer uma passagem da lógica da anatomia para a lógica da
representação. Segundo Freud, o corpo é habituado pela linguagem, ou seja, lugar onde se
tece a trama das relações entre o psiquismo e o somático, e isso estrutura a linguagem própria
do Inconsciente, marcado pelas determinantes do desejo (NETO, 2010).
Neste trabalho abordaremos as diferentes formas de culto ao corpo feminino que,
ultrapassando os limites, levam o sujeito a distorcer sua própria imagem, desenvolvendo então
patologias, tais como: anorexia, bulimia,vigorexia e compulsão a cirurgia plástica, como
dissemos acima, e que geram danos físicos e biológicos. As mulheres vão aos poucos
modificando em parte seus corpos, tornando-se geradoras de moda. Aumentando a incidência
da anorexia e bulimia. Inclusive, numa camada industrializada, a mesma passa a ser magra ou
malhada, seios siliconizados e em busca de uma aparência jovial. Recorrendo a um padrão de
beleza da classe feminina, vive numa constante insatisfação com seu corpo, buscando as mais
radicais dietas e diversas formas de intervenções cirúrgicas. O corpo que a sociedade
apresenta como o “ideal”. Por tanto vale salientar que o Brasil é ainda o segundo país em
número de cirurgias plásticas (VOLICH, 2005).
Na utopia a busca da juventude eterna está presa a uma das fantasias femininas, dando
surgimento à indústria da beleza que convida a mulher a possuir um corpo ideal e inacabado.
Sendo assim, a mesma recorre também à academia, a spas, a lipoaspiração e as modificações
do corpo com a cirurgia plástica. A mídia contribui para a industrialização do sujeito
feminino, tornando-o uma mulher contemporânea reduzida a um padrão de beleza. Contudo
a mulher inserida numa sociedade que elege a boa aparência como fator primordial no sujeito,
isto resulta numa grande incidência do surgimento das patologias relacionadas aos distúrbios
alimentares, bem como a anorexia e a bulimia. Inclusive a vigorexia. Distorcendo a imagem
do sujeito que vivencia hoje uma promessa de sofrimento e gozo. Buscamos explorar a
representação da figura feminina nos dias atuais, destacando as exigências do corpo perfeito
da mulher; identificar possíveis fatores responsáveis pela propagação desse ideal de corpo;
apontar as possíveis patologias desenvolvidas em decorrência
de buscar um corpo
considerado pela sociedade como “perfeito”. Utilizamo-nos de uma pesquisa bibliográfica
obedecendo a uma estrutura descritiva. A partir de uma pesquisa qualitativa acerca do tema
que está emergindo no meio social, destacando as possíveis patologias relacionadas à temática
abordada. Realizamos uma pesquisa e análise bibliográficas da obra de Freud, bem como da
psicanálise contemporânea a partir de autores que procuram problematizar as implicações
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acerca do modelo de “corpo ideal e inacabado” ditado pela sociedade e propagado pela mídia
como “perfeito”. O estudo foi referenciado a partir de uma concepção psicanalítica, tendo,
portanto, a psicanálise como respaldo teórico.
12
2. O CULTO AO CORPO DA MULHER CONTEMPORÂNEA
Neste capítulo faremos um breve histórico das mudanças culturais acerca do corpo
feminino e que hoje se constituem de forma exarcebada nos diversos contextos da
contemporaneidade. Almejar o corpo perfeito não é apenas objeto de preocupação, é também
fonte de angústia para o sujeito do sexo feminino.
As diversas práticas corporais estão sendo cada dia mais radicais, incentivando o
sujeito a fazer uso de vários métodos, por exemplo, academias, spas, lipoaspiração, dentre
outros, para escapar da tão temida e ameaçadora “gordura”, onde socialmente é vista como
descuido e ridículo. Contudo, pode-se afirmar que a cultura do corpo tomou conta da cena
contemporânea, de tal modo que o mundo está sendo moldado para que seus habitantes
obedeçam e se limitem ao padrão imposto, ou seja, ser magro, jovem, belo, e sempre numa
“perfeita” exibição (VILHENA, 2008).
A grande massa social com alto índice de cobrança em relação à perfeição acaba
sufocando o sujeito que passa a dar valor apenas ao físico, omitindo o próprio valor do ser
humano. Logo, já se pode imaginar o tão sofrido sujeito que não se enquadra nos padrões de
belezas vigentes: “o corpo que busca a singularidade é o mesmo que tenta negar a diferença e
a alteridade” (VILHENA et. alli. 2088, p. 384).
Podemos perceber que o espaço conquistado pelas mulheres se encontra modificado e
diferenciado dos tempos passados. Cada época teve sua preferência e seus padrões de estética
corporal. “Ao estudar os corpos femininos dos séc. XVIII e XIX Philippe Perrot (1984)
encontrou uma espantosa diversidade de silhuetas e relevos que testemunhavam a diversidade
das referências somáticas entre a sociedade e a época.” (STREY, p.149) Portanto, vale
ressaltar alguns surgimentos de adereços de beleza para as mulheres. Em 1925 surgiu o
batom, nos anos 50 cortaram-se os cabelos. O decote levou a mesma a aderir à depilação e o
espartilho tornou-se soutien. Enriquecendo e rebuscando mais ainda o padrão de beleza
(STREY, 2004).
Tomando como base a posição da psicanálise lacaniana visando o sujeito feminino, a
mulher nem sempre foi passiva, faz uso de uma ferramenta poderosa, a chamada sedução, que
as vezes é maquiada por várias atitudes. Contudo, vale salientar que a mulher e a feminilidade
nunca estão perfeitos e surgem certas doses de conflito (KEHL, 2008).
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Segundo a ideologia dos Anos Dourados, ser mulher era ser mãe, dona de casa e
esposa, esse era o destino das mulheres. Consequentemente o casamento e a maternidade
formavam a essência feminina, sem chance de história e contestação. Em contra partida a
masculinidade era definida como a força e a participação no mercado de trabalho, aliado ao
espírito de aventura. Do contrário a mulher que contestasse o caminho feminino da época
estaria contradizendo a natureza, não seria feliz e nem faria ninguém feliz. Assim sendo,
desde criança, a educação da menina se voltava para ser dona de casa e mãe exemplar. A
autora Bassanezi (2007) também destaca que o casamento era o “objetivo” de vida das jovens
solteiras, era visto como uma realização feminina.
Ser espetáculo na Sociedade Contemporânea é fazer uso da aparência física. Cada
sujeito responsabiliza-se por si próprio. Essa é uma forma de aparecer e se destacar
socialmente. Na medida em que se torna motivo e causa de admiração por outros olhares,
gosta mais de si, o que aumenta a auto-estima. É importante ressaltar novamente que cada
época teve sua preferência por uma estética corporal determinada. O desejo de se realizar
através do corpo está associado inconscientemente à falta de realização no eu, ou seja, em sua
própria existência .Esse existir se revela por um corpo mostrado, desejado:
O corpo ocidental está em plena metamorfose. Outrora o belo era redondo,
hoje é magro quase esquelético. Quando o laço social se desfez, quando o
individualismo se expande, somente o olhar do outro pode nos proporcionar
uma verdadeira existência social. Queremos existir através de um corpo
revelado, mostrado, desejado (PRIORE, s/a, p.18).
A ação de reconhecer em alguém sua beleza interna remete nesse sujeito uma
valorização de sua auto-estima. Este reconhecimento é de suma importância em nossa vida
cotidiana, esperamos também este reconhecimento em nossas relações, seja por parte dos pais,
ou dos filhos, e dos parceiros. Este reconhecimento vai além da beleza física: “a beleza
externa é um dado, mais a mesma beleza interna é um mérito”. Neste podemos perceber a
dignidade pessoal conquistada. E nesta Sociedade do Espetáculo nosso valor está
representado segundo nossa aparência, no entanto necessitamos de uma sustentação interna. A
beleza se expressa no corpo: “O corpo é apenas o lugar onde a beleza se deixa ver, mais é da
agonia de nós mesmos que vamos emergindo com mais verdade, beleza e respeito próprio. O
nome disso é auto-estima” (PRIORE, s/a, p.20).
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A psicanálise aborda o corpo da seguinte forma:
O “corpo real” situado além da representação, o corpo pulsional. Corpo de
uma pulsão que não é força natural, porém tem “potência corporal”,
representando as exigências que o corpo faz a mente, e que não são de origem
biológica. Não sendo nem energia física nem psíquica (CATULO, 1998, p.
40).
Possuímos assim um “corpo simbólico” que atravessa a linguagem, corpo
representado também no psiquismo, que de forma indireta representa a pulsão. Segundo
Barata, 2004 (apud GARRINI, 2007), o destaque dado ao corpo humano na sociedade
contemporânea, principalmente no mundo da moda e da publicidade, constitui objeto de
constante reflexão e pesquisa artística. Sendo que os padrões estéticos revelado pelo mundo
“fashion” vão além da prescrição do vestir, onde interferem na construção do corpo social.
Tais padrões e referências, lançam o homem numa procura desenfreada pelos espelhos
externos, reflexos de uma sociedade consumista, possibilitando a construção de uma imagem
ideal. O homem ocidental rende-se a estilos muitas vezes impostos, sendo seduzido pela
mídia a comprar modelos físicos que estão distantes da realidade (GARRINI, 2007).
Atualmente, vale mais um corpo malhado, seco e bem definido, do que um encontro
com a família. O corpo idealizado é aquele que é visto como objeto de consumo que desperta
prazer (NOVAES, apud VILHENA et. alli. 2006). Há diversas mudanças que o padrão de
beleza vem operando para alcançar o ideal de perfeição, elegendo a aparência como o que
realmente importa. No entanto, a adoração ao corpo transformado em uma perfeita escultura
tem crescido incondicionalmente e de forma espantosa. Em decorrência desse modelo, o
sujeito se permite ser industrializado, alimentado por diversas medicações, cortado,
grampeado e comprado nas mais diversas clínicas de estética. O homem, resultado das
influências do mundo que o rodeia, encontra-se sofrendo por se preocupar excessivamente
com sua aparência física, alienando-se ao que o social diz: o corpo tem que ser escultural
(GARRINI, 2007).
Em relação às enormes transformações referentes às mulheres e aos homens neste
contexto, a classe feminina vem adquirindo uma autonomia e conseqüentemente um
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individualismo. Contudo, elas estão conquistando novas posições na sociedade, na sua própria
vida, no contexto da família, ou seja, no setor público e privado. É importante enfatizar que o
modelo de mulher inserido no contexto social contemporâneo traz consigo o valor real que a
mulher tem para a sociedade, podendo então desmistificar que as funções dadas a ela tais
como: procriar, educar, ter vida limitada aos cuidados do lar e serem excluídas das hierarquias
institucionais por serem julgadas como sujeito inferior ao sexo masculino, excluída do direito
de exercer sua cidadania, sem liberdade sexual, onde não podiam escolher ser ou não
procriadoras. O que antes era naturalizado, essencializado, hoje é passado (VASCONCELOS,
2011).
Segundo a autora Renata Udler Cromberg, a construção “sobre o feminino e a
feminilidade esteve sempre pautada por uma tentativa de dar positividade ao princípio
feminino, para que ele pudesse sair do lugar abismal, de falta absoluta, expresso, por exemplo,
na consagrada expressão de Freud „enigmático continente negro‟” (ALONSO, 2002 p. 329).
Nas últimas décadas nasce um novo olhar em relação à mulher e a sua feminilidade,
onde ela deixa de ser objeto. Segundo Cromberg (1993), a diferença entre identidade feminina
e feminilidade trata-se da seguinte maneira: a primeira relaciona-se ao universo da
representação, com o mundo fálico-simbólico, ou seja, os papéis nomeados como função da
mulher, como por exemplo, a maternidade dita como uma espécie de função da identidade
feminina. No entanto, a feminilidade funciona como um suporte a essa identidade, sem
descartar a pulsão que dita valores sexuais (ALONSO, 2002).
Conforme Cromberg “Valores sexuais que não são investimentos morais, mas sim
intensidades, o que lhes dá o caráter de investimentos afetivos que diagramam uma ética
como invenção singular da vida” (CROMBERG, 1993, 2002). Em contra partida, a classe
feminina toma novos destinos, tendo abertura social, alcançando o direito de por si só
governar-se, libertando-se das limitações sociais premeditadas. De acordo com Focault in
Figuras clínicas do mal estar contemporâneo “o controle da sociedade sobre os indivíduos
não se operou pela consciência ou pela ideologia, mas com o corpo” (FOUCAULT, apud
BREYTON, 1979, p. 71)
Visto isto, a sociedade numa visão capitalista apostou no biológico, somático e no
corporal. E atualmente vem recebendo grande retorno nos mercados cirúrgicos que tem como
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objetivo atuar no físico das mais diversas maneiras. Com base em Focault, o corpo é “uma
realidade biopolítica” permitindo-se a sair da esfera privada para o domínio público (Idem).
Nos últimos anos, a classe feminina vem enfrentando novos modelos de corpos
narcisistas, sendo a ela imposto o culto da boa aparência forçando-a na busca de um corpo
jovem e belo. A magreza ativa foi à resposta do século, onde o culto do corpo entre as
mulheres evidenciou que o padrão de beleza está intimamente ligado a manutenção de um
corpo magro. Ao passar do tempo as mulheres foram aos poucos tornando-se geradoras de
modas, modificando em parte seus corpos. Permitindo que a mesma ganhe grande espaço na
cultura e na própria vida, em distintas dimensões e nos diversos lugares. (Ibidem. 2002).
Assim, a partir da década de 80 a incidência de casos femininos com transtorno
alimentar e compulsão a cirurgia plástica, é consideravelmente maior do que casos
masculinos, confirmando a prevalência da anorexia e da bulimia em mulheres que fazem
parte das sociedades nas camadas industrializadas, chegando na década de 90, a mulher passa
a se tornar geradora de moda, corpo magro ou malhado, aparência jovem,e seios
siliconizados, desenvolvendo patologias que atingem também as classes menos desenvolvidas
(ALONSO, 2002).
A partir dessas epidemias e doenças para atingir o modelo de corpo ideal, os
epidemiologistas deram início a investigação para entender o grande desejo de emagrecer,
junto à grande insatisfação com o corpo, usufruindo das diversas e radicais dietas e de outros
tipos de comportamentos como baixa alto estima isolamento social e distorção da própria
imagem ligada à perda de peso. É notório perceber que esses comportamentos tem se
manifestado cada vez mais cedo, inclusive em pré-púbere e crianças, chegando então na
sociedade do novo milênio. As mulheres recebem da sociedade o permanente convite ao
consumo, propagando uma imensa variedade de produtos a venda, que incentivam o sujeito a
emagrecer.
A exigência da boa aparência chegou a um topo alto e caro, sem se refletir sobre
conseqüências e limites. Portanto, vale ressaltar que no Brasil, 53 % da população feminina
faz regime e nos últimos cinco anos o uso de remédios para perca de peso cresceu 500%. O
Brasil é ainda o segundo país em número de cirurgias plásticas (VOLISH, 2005). No entanto,
pode-se afirmar que essa estatística nos remete a pensar que ir ao consultório e ter uma
consulta médica com o objetivo de se moldar e de se reconstruir o corpo passou a ter uma
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relação muito próxima, tornando-se estima e acessível ao sujeito. As epidemias anoréxicas e
bulímicas adquiriram escala de massa através da sociedade do consumo, e de maneira global
foram desencadeadas com adição de todo tipo (LAURENT, 2007) a sociedade do sintoma.
O corpo torna-se presente em todos os lugares, ou seja, corpo que evidencia a
condição de existir, de ser-no-mundo. É a essência do sujeito o que faz estar vivo, e
relacionar-se com o mundo, com as pessoas. Segundo a autora Bárbara Nascimento Duarte
(2011), quando vimos um homem caminhando e o apontamos, não afirmamos que ali vai um
corpo, e sim um homem. O corpo e o sujeito se confundem. O corpo não modificado “perde”
o valor perante os avanços da tecnociência. O corpo transformado ganha lugar de destaque, ou
seja, é glorificado, “erguendo um troféu que simboliza a vitória da cultura sob a natureza”
(DUARTE, 2011).
A magreza é objeto de culto ao corpo, sendo assim vemos a afirmação de Vindrau
“que esse ideal de magreza da sociedade ocidental se acentuou nessas últimas décadas e
domina em todas as classes sociais” (VINDRAU, 1991, p.67).
Sendo assim, a mesma era enquadrada num modelo de dona de casa, cuidadora do lar
e da família, não tendo espaço para participar ativamente de movimentos políticos e sociais.
Essas mudanças estão ligadas ao contexto sócio cultural. Nos dias atuais, podemos ressaltar
que na maioria dos contextos familiares a mulher ainda é a principal responsável pelos
cuidados com a família e com a casa. No entanto, essa mesma mulher, preocupa-se com a
realização profissional e corporal, dando ênfase também a aparência.
Percebemos que no imaginário do senso comum a idade avançada vem sendo
associada a uma imagem negativa de ser velho; no entanto, a terceira idade também adere aos
kits que vendem uma nova imagem, aderindo aos processos e estratégias para combater a
decadência do corpo biológico, tentando retardar o envelhecimento. Sabemos que as
limitações do corpo e a consciência do tempo surgem como uma problemática essencial no
decorrer do envelhecimento (MORI; COELHO, 2004).
[...] Corpo e tempo se entrecruzam no devir do envelhecimento, e das formas
desse entrecruzamento nascerão às múltiplas velhices. O sujeito velho que
fala na clínica e na vida nos fala de tempo o tempo todo. Fala-nos de uma
consciência de finitude, fala de morte e de um corpo imaginário que se nega a
envelhecer e que não se reconhece no espelho (CATÚLIO, 1998, p. 13).
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A propaganda por si só, embasada na mídia, usa como ferramenta para induzir o
sujeito às revistas e às novelas que destacam celebridades com seu corpo “perfeito”, felizes e
financeiramente bem estruturadas. Essa propaganda convida principalmente a classe feminina
a conviver numa enorme insatisfação do seu próprio corpo saudável para viver preso a um
olhar onde distorce a visão em um corpo defeituoso que precisa sempre estar em manutenção
(GARRINI, 2007).
Na panóplia do consumo, o mais belo, precioso de todos os objetos ainda mais
carregado de conotação que o automóvel, que no entanto os resume a todos é o corpo.
A sua “redescoberta”, após um milênio de puritanismo sobre o signo da libertação
física e sexual a sua onipresença (em especial do corpo feminino...). Na publicidade
na moda e na cultura das massas, o higiênico, dietético e terapêutico com que se
rodeia a obsessão pela juventude, elegância, feminilidade, cuidados, práticas
sacrificiais, que com ela se conecta, o mito do prazer que circunda tudo hoje
testemunha que o corpo se tornou objeto de salvação. Substituiu literalmente a alma,
nesta função moral e ideológica” (BAUDRILLARD, 2005, p.136).
O século XXI possui uma sociedade do espetáculo, priorizando principalmente os
fatores voltados a imagem de “boa e perfeita aparência “repercutido o que afirma (KERL
apud GARRINI, p. 11) “Somos o que enxergamos no espelho e o que exibimos como
imagem. Com alto índice de ênfase que a maior parte social da ao corpo o sujeito se pergunta:
com que corpo vou me apresentar? “Induzindo as pessoas a acreditarem que tem o poder de
traçar seu destino como traçam seu corpo”.
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3. POR QUE O DESEJO DE POSSUIR UM “CORPO IDEAL”?
Neste capítulo, destacaremos o que induz este sujeito a cultuar o corpo como principal
fonte de “existência” no que diz respeito a uma possível “satisfação” e “bem estar”.
Atualmente parece existir apenas um tipo de corpo possível: o corpo magro, pois, “vivemos
em uma época de “lipofobia” e que esta diretamente associada a uma “obsessão pela magreza,
sua rejeição quase maníaca é a obesidade” (FISCHLER, 1995, p. 15).
O processo de construção e destruição da imagem corporal acontece pela
necessidade em buscarmos a imagem e o corpo ideais. Refere-se a percepção,
aos sentimentos e aos pensamentos sobre o corpo e suas experiências, a para
analisar esses fatores, a psicologia estuda a subjetividade .Inspira ações que
vão da contemplação reverencial e silenciosa a ousadias de ordem conceitual
e/ou produzi-la, mas que também se furta a uma definição objetiva
(TEIXEIRA, apud FALCÃO, 2001, p. 26).
As exigências em relação ao corpo estão aproximando o homem à escravidão corporal.
Sendo assim, pode-se imaginar a grande dimensão do sofrimento que o mesmo vivencia.
Questionamo-nos sobre que gozo o sujeito procura? Ao se falar do gozo é importante destacar
que o mesmo é diferente do prazer, sendo assim, o gozo se refere a algo mais além do
princípio do prazer. O corpo é olhado de várias formas em diversos ângulos, visto também
como corpo que nos dá suporte, que é constituído pela cultura, recheado, afetado, induzido
pela mídia. Quanto mais alto for ideal, sua auto-estima será mais baixa devido o parâmetro
idealizado (VILHENA; NOVARES; ROCHA, 2008).
Como toda moda, o culto ao corpo na sociedade causa impacto e só pode ser detectado
na medida em que os ditames são refletidos pelas pessoas que mesmo participando de grupos
sociais diferentes, lhes emprestam significados próprios (NOVAES apud FALCÃO, s/a, p.
25).
Segundo Vilhena, Novaes e Rocha, “Certamente a matéria do corpo não evapora e por
isso acreditamos que temos um corpo para cuidar e adorar, mas trata-se de um corpo que
levanta acompanhamento a todo instante” (2008, p. 399). A mulher é objeto de desejo em
todas as culturas. Ainda hoje, mesmo podendo controlar o corpo com pílulas
anticoncepcionais para não procriar, ela ainda é bastante submissa. Segundo a autora Mary
Del priori em seu livro Corpo a corpo com a Mulher, essa submissão não é mais ás múltiplas
20
gestações, mas a tríade de “perfeição física”. As prescrições de corpo ideal agora vêm do
discurso publicitário e jornalístico, um verdadeiro bombardeio de imagens na TV.
O declínio orgânico é uma das tarefas mais difíceis de ser encarada no decorrer da vida
de todas as mulheres. Os cirurgiões plásticos fazem o uso de tecnologias aderindo a uma
combinação do bisturi com tratamento dermatológicos de última geração (FALCÃO, 2009).
O que será desta pobre mulher que vê a degradação de seu corpo? Pinturas
faciais, mudança na cor dos cabelos, cirurgias estéticas apenas prolongação de
sua “juventude agonizante”. E nada mais são do que tentativas de trapacear o
espelho, pois o processo de envelhecimento irreversível destruirá “todo
edifício construído durante a puberdade”. Neste momento se sentirá tocada
pela morte (BEAUVOIR apud MORI; COELHO, 2004, p. 184).
No século XV e XVI, o corpo feminino era adorado com peitos grandes. Os corpos
gordos eram admirados. Já na década de 1910, o corpo se assemelhava às bonecas de louças.
Na década de 20 à mulher corta os cabelos, exibe sua silhueta e passa a fumar em público,
ganhando mais espaço. Na década de 40, estão extremamente sedutoras, passando a ser
símbolo de desejo e consumo. Nos anos 70, o corpo como moda passa a ser excessivamente
magro, que ganha mais ênfase na década de 1980, onde usa as ombreiras para seduzir mais.
Nesse período o corpo musculoso passa a ser objeto dos homens e mulheres (GARRINE,
2007).
O século XXI vem recheado de diversas e infinitas maneiras de moldar as pessoas em
algo artificial, tornando o sujeito um ser banalizado. Sendo assim, a banalização ao corpo
acaba tendo do sujeito a própria vida como forma de pagamento (GARRINI, 2007):
A prudência é o valor que ajuda a reflexão e a consideração dos efeitos
produzidos por nossas ações e palavras. A falta dela ou a impulsividade trará
sempre conseqüências em todos os níveis. A prudência é a virtude que preza
pela integridade e salva-guarda as aspirações humanas (GUZZO apud CRUZ,
p. 6).
Uma das freqüentes fantasias no mundo feminino está associada à utopia da busca pela
juventude eterna, e o investimento na produção das diversas técnicas para manter a beleza
tornou-se um atributo essencial das mulheres.
Isto vem crescendo constantemente na
21
contemporaneidade, cada vez mais cedo lança mão das mais diversas técnicas para manter a
perfeição, dando surgimento a indústria da beleza, onde induz a classe feminina a possuir um
corpo ideal e inacabado, que sempre estará em processo de mutação. O corpo da mãe e a
representação da sexualidade estão diretamente ligados ao valor da feminilidade e a
construção dessa imagem feminina e corporal (ALONSO, 2002).
Ter um corpo “perfeito” destaca o sujeito. “Um corpo que representa a liberdade por
seu desnudamento, mas que muitas vezes é vigiado e punido (FOUCAULT, apud GARRINI,
1987, p. 2). A sociedade atual induz o sujeito ao consumo exacerbado referente às correções
do corpo, onde mantém distante o envelhecimento. Sendo assim, são utilizados pela mídia
como produtos que tem finalidade de seduzir o público (GARRINI , 2007).
Apostando no mercado de consumo da beleza, a mídia é responsável pelo grande
incentivo ao consumo que resulta no sujeito um modo de viver a vida com vários recursos e
produtos de beleza que prometem uma perfeita aparência física, gerando insatisfação com sua
forma física (CRUZ; NILSON; PARDO; FONSECA, 2008).
A abrangência de conquistas femininas tem refletido no modelo de mundo, onde o
olhar passa a ser menos preconceituoso, ressaltando um modo contemporâneo de ser no
mundo unissex. Logo, as diversas conquistas possibilitaram a mesma de sucumbir ao modelo
ideal de magreza, postulado pela sociedade. Contudo a busca pela aparência atinge hoje uma
enorme abrangência na classe feminina, tornando-a produto da cultura. Sendo que esse
modelo de completa perfeição tem influenciado para o aumento desenfreado das patologias,
bem como a anorexia, bulimia, compulsão a cirurgia plástica e vigorexia. Patologias essas que
transitam entre o somático e o psíquico (AZEVEDO, 2007).
Inserido no padrão de beleza almejado, a mulher busca recursos de diversas formas,
inclusive nos tabus alimentares, que vem sendo em muitos casos o responsável pelo
surgimento da anorexia, visando um corpo que corresponde ao ideal, e que enfrenta a dor da
fome. Em relação às diversas patologias, muitas não se preocupam com a dor sofrida pelo
próprio corpo. A de se submeter às cirurgias plásticas, para gozar dessa perfeição, parecem
não enxergar que esse corpo de carne, ao ser furado pelas seringas, cortado pelo bisturi,
verbaliza de alguma forma o grito de socorro, a necessidade de ter limite e aceitar o corpo
como ele é: um mero suporte que não consegue atingir a “perfeição” (VILHENA, et. alli.
2008). “É a partir de certo olhar e de uma escuta atenta que a psicanálise enfrenta o desafio de
22
compreendê-la nesse sacrifício do corpo que faz delas limitantes de uma política social.”
(GORGATI, 2002, p. 116).
É nítido observar o alto índice de exigência em apresentar-se numa perfeita aparência,
que torna o sujeito ser limitado ao corpo. Corpo esse, com anorexia, bulimia, suado, surrado,
ferido, musculoso, medicalizado e, muitas vezes deformado. Fatores esses propagados pela
mídia que levam o sujeito a intolerar a velhice. É através da palavra que o ego formará, na
presença de um interlocutor para o diálogo, pois toda palavra requer resposta, mesmo quando
essa resposta for o silêncio:
O corpo se tornou o lugar da identidade pessoal. Sentir vergonha do próprio
corpo seria sentir vergonha de si mesmo (...) mais do que as identidades
sociais, mais caras ou personagens adotadas, mais até do que as idéias e
convicções frágeis e manipuladas, o corpo é a própria realidade da pessoa.
Portanto, já não existe mais vida privada que não suponha o corpo (KATZ,
apud Prost, 1987 p. 1050).
Os espaços de intervenções destinados à prática de atividades corporais como
academias, clínicas para tratamento estético, cirurgia plástica e tudo que remete ao culto do
corpo, parecem cada vez mais solicitados. Com tanta propaganda para determinado fim, as
revistas semanalmente trazem ilustrações de diversas informações para modelar e transformar
corpos femininos, fazendo referência, induzindo esta parcela consumidora de tais informações
a acreditarem como o corpo não pode deixar de ser (AZEVEDO, 2007).
As mulheres quando se vêem e se comparam no espelho que a mídia manipula,
apresentando modelos de corpos perfeitos, usados como referência do que deve ser uma
mulher, quando a aparência não se enquadra ao modelo, acaba gerando sofrimento psíquico,
mal-estar e inadequação com a imagem, tornando-a mercê de um mercado que vende
aparência, que permite que ela seja reconstruída e tornada “perfeita”. O ideal estético tornouse uma forte característica da sociedade, junto ao desejo de alcançar o corpo ideal (GARRINI,
2007).
É notório perceber que a mídia nos programas de TV, reforma o narcisismo
contemporâneo junto a uma sociedade completamente narcisista, pondo tudo à venda,
inclusive o próprio corpo que passa a ser capital. A cirurgia plástica vem propagando uma
completude e uma promessa de “perfeição”, como uma possível garantia de melhor auto-
23
estima. Sendo assim, crescem extraordinariamente o número de cirurgias plásticas na classe
feminina (GARRINI, 2007).
De acordo com Queiroz e Otta, citado por Falcão:
Quando as pessoas recorrem a procedimentos cirúrgicos, ou consumem
produtos tecnologicamente produzidos, objetivando modificações na
aparência corporal, podem melhorar sua imagem e auto-estima, alcançando a
felicidade, mas correm também o risco de escorregar sutilmente para a
patologia (FALCÃO, 2009, p. 42).
Vale salientar que cuidar do corpo é prazeroso, mas não esquecendo que é importante
respeitar o limite, o mesmo fala numa linguagem não verbal, mas denuncia manifestando
sintomas. As conseqüências e os riscos parecem não ser vistos pelo sujeito alienado pela
mídia produtora de subjetividade feminina. Nos últimos anos a preocupação com o corpo vem
atingindo todas as classes sociais, resultado desse englobamento é o crescente número de
mercados que apostam nas diversas tecnologias e recursos que possibilita ao sujeito
“alcançar” o corpo almejado. Podendo utilizar anabolizantes, intervenções cirúrgicas para
retirada de gordura ou, colocação de prótese de silicone, dentre outras (GARRINI, 2007).
Talvez Orlan leve ás últimas conseqüências uma das práticas mais correntes
na construção da beleza feminina no final do século XX, que Phelippe Perrot
resume de maneira feliz: “infiltrada de vitaminas, de colágeno e de elastina,
encolhida ou inchada com silicone, depilada, hidratada, bronzeada, enrijecida
e mostrada em perfeição, esquiva de fato sua nudez, pois essas intervenções
apresentam-se como sua própria roupa, sem falhas, sem cicatrizes”
(BREYTON, et alli. s/a, p.64).
Portanto, entendemos que ser mulher numa visão contemporânea nada mais é que ser
um sujeito superficial, vaidoso e dominado pela sensualidade. Podemos afirmar que a cultura
contemporânea está sendo uma era da cirurgia, e é entendida como uma re-inserção da
medicina que reduzia a mulher a seus ovários no século XIX. E em contra partida no século
XXI reduz a mulher a um padrão de beleza. Abrindo espaço para as diversas formas de
intervenções que revelam uma possível alienação do próprio corpo, levam o sujeito a viver no
palco sematológico, moldando cada parte do corpo e corrigindo as marcas do tempo, este fato
leva o sujeito a creditar que envelhecer é descuido (GARRINI, 2007).
Dietas, das mais simples as mais mirabolantes, são meios que as mulheres recorrem
para garantir a perda de peso. Além dessa ferramenta, tem-se também a academia, spas,
24
lipoaspiração e personal trainer, onde prometem fazer de você uma nova mulher. Se por acaso
essas estéticas não tiverem êxito, ainda existem outras possibilidades para “alcançar corpos
ideais”: são as cirurgias plásticas que ajudam a esticar a pele, encurtar ou aumentar o nariz,
tornar lábios mais sedutores, ou seja, moldar corpos naturais em corpos industrializados para
atingir o perfil de corpo contemporâneo (GARRINI, 2007).
No século XX, o sujeito encontra-se encantado com o brilho de uma existência sem
limites, o corpo sofre várias mudanças para alcançar as diversas exigências culturais que
giram em torno de um corpo falado, ou seja, almejado e idealizado. Logo, o homem
contemporâneo, dá ênfase apenas ao corpo-carne, não visando o eu interior que habita nesse
corpo insaciável de perfeição. Porém, o sujeito do corpo biológico é ligado a um corpo
psíquico, logo, o sujeito necessita olhar para sua permanência e conseqüentemente aceitar as
suas mudanças inevitáveis da vida, a saber, física e psíquica, até que a morte as finalize.
Contudo, deve-se compreender que o discurso e o olhar social canalizam a atenção do sujeito
a viver sobre os efeitos científicos, sendo entregues a um discurso puramente cirúrgico
(GARRINI, 2007).
O feminino por si só vivencia transformações, bem como a menstruação, gestação,
pele flácida e os diversos efeitos sintomáticos da menopausa. Vale ressaltar, que o corpo é o
primeiro comunicador genético da raça e da classe, sendo o mesmo um campo de batalha,
dando-lhe oportunidade de ser transformado, recortado e reconstruído e moldado semelhante
à argila, a serviço de uma “imagem ideal”. Logo se pode afirmar que a ciência faz uma
enorme intervenção na atividade reprodutiva feminina, atuando neste corpo que apresentou
estrias, seios caídos após a amamentação, aumento de peso, rugas, flacidez e celulites (MORI,
2004).
Ao pretenderem “reconstruir” ou “curar” um corpo saudável, o mercado de cirurgiões
plásticos estéticos seria da ordem do imaginário. A cirurgia plástica garante “oferecer “uma
série de recursos que permite que o sujeito envelheça apenas no tempo cronológico,
recuperando o que o biológico por sua natureza desgastou, seja no corpo ou na face.
(FALCÃO, 2009).
Contudo, o ser humano é livre para vivenciar novas passagens em sua vida, podendo
desprender-se de sua imagem original e reinventar seu corpo e sua aparência. Como já foi
mencionado anteriormente, o mercado de cirurgias plásticas garante “oferecer „uma série de
25
recursos para moldar corpos, não se pode deixar de apresentar aos leitores que essas diversas
formas que o mercado de beleza publica para atuar nesse corpo, visto apenas no olhar de
corpo-carne, omitem ao sujeito que essas intervenções bem como: lipoaspiração, silicones,
dentre outros, são ferramentas violentas para o ser humano, pois, o corpo é cortado, encubado,
amarrado, agredido e costurado. Corpo este que sangra, que sofre, que geme e muitas vezes
não suportam e morrem (FALCÃO, 2009).
Barbara Kruger, artista contemporânea, em outdoor espalhados por Nova Iorque, nos
anos 1990 disse o seguinte: “Seu corpo é um campo de batalha” (ALONSO, 2002, p. 67).
Aonde essa batalha na cultura vem alienando o sujeito a recusar os limites corporais, usando
as intervenções em série das práticas cirúrgicas.(ALONSO, 2002)
26
4. IDEAL DE “CORPO PERFEITO”: POSSÍVEIS PATOLOGIAS
Apresentaremos neste capítulo de forma mais detalhada as patologias que podem
surgir na obsessão de ter um “corpo perfeito”, com o intuito de apresentar ao leitor os
possíveis distúrbios alimentares como: a Anorexia, Bulimia, Vigorexia e Compulsão à
cirurgia plástica, atuando no corpo feminino.
O corpo é pulsão, reúne inscrições e marcas das relações afetivas, tanto as satisfações
como as frustrações nela percorridas. Todo corpo se formula numa cultura, numa linguagem.
Logo, não existe corpo autônomo e solto. É apoiando-se na satisfação de necessidades que
surge a sexualidade humana. Levando em conta a importância do corpo, Freud pontua que a
relação entre anorexia e sexualidade deve-se a intensidade da pulsão sexual neste momento de
vida, quando o corpo sexuado não é integrado ao eu (LEMOS, 2005).
Na sociedade atual, é nítido e comum encontrarmos familiares em prantos e em luto
pela perda de um ente que tinha distúrbio alimentar. Contudo, o transtorno alimentar tem
atingido todas as classes sociais principalmente na fase da adolescência. Mas, essa patologia
se manifesta por vários fatores, incluindo a ordem genética, biológica e comportamental. A
sociedade com sua competitividade relaciona o estresse ás experiências de vida traumáticas
acompanhada da busca pela imagem perfeita (Duarte, 2011).
A disputa de estar mais bela tem sido responsável pelo mau trato do próprio
organismo, seja diminuindo ao extremo a alimentação ou comendo demais. Mahan afirma que
os distúrbios alimentares podem ser classificados como comportamentos anormais
relacionados a alimentos, bebidas em excesso, vômitos, abusos de laxativos ou até mesmo a
exercícios excessivos. Estes geralmente vem acompanhados de idéias irreais sobre imagem
corpórea, alimentação e transtornos psicológicos (BAPTISTA, 2005).
Os distúrbios alimentares mais comuns são a bulimia e a anorexia, sendo que as causas
são múltiplas, “fatores genéticos” (parentes de primeiro grau do paciente apresentam grande
risco de desenvolver a patologia dos distúrbios alimentares). Nos fatores biológicos, presentes
nas alterações hormonais que ocorrem durante a puberdade e as disfunções de
neurotransmissores cerebrais, tais como: a dipomania, serotonina e a noradrenalina que estão
ligados a regulação normal do comportamento alimentar e a manutenção do peso. Já nos
27
fatores comportamentais, incluímos os modelos de sistemas familiares que procuram
identificar determinados padrões de funcionamento alimentar alterado como a minimização
de conflitos, o envolvimento da criança com tenções familiares e pais ausentes (LEMOS,
2005).
A anorexia manifesta no sujeito a forte recusa de se alimentar e o mínimo peso
corporal em relação a idade e a altura. A mesma se caracteriza pela limitação de alimentação
por conta da obsessão de se manter magra acompanhada do medo de adquirir uns pesinhos
(LEMOS, 2005).
Com base no Compêndio de Psiquiatria (2007), no que se refere ao transtorno
alimentar do tipo anorexia nervosa, as autoras Souza e Falceto afirmam que a (AN) é
caracterizada por um comportamento que canaliza a atenção do sujeito apenas no tocante a
perca de peso associado a atenção exacerbada com o peso corporal. Comprometendo a
imagem externa e amemorréia. Por tanto as pessoas para perder peso reduzem drasticamente a
quantidade de alimentação, junto com rigorosas práticas de atividades físicas. A anorexia
nervosa tem início na adolescência e prevalece mais nas mulheres do que nos homens
(SADOC, 2007).
A epidemiologia nos aponta as seguintes porcentagens: A adolescência é a fase que a
anorexia se manifesta em alto índice, sendo que 5% dos anorexos tem início por volta dos 20
anos. Em contra partida o DSM-IV-TR, afirma que a idade mais comum é dos 14 aos 18 anos.
Em se tratando dos fatores psicológicos a (AN) tem indícios de ser uma reação a cobrança de
que os adolescentes se comportem de maneira independente e adquira mais seu desempenho
social e sexual (REFOSCO, 2010).
Em alguns casos, só através de uma autodisciplina extraordinária será possível o
paciente desencadear a autonomia e uma possível noção de si próprio. Em relação a bulimia o
sujeito desenvolve uma compulsão alimentar, passando a ingerir mais alimentos do que as
outras pessoas e também se preocupam com a sua própria imagem. A pessoa com (BN)
apresenta desconforto físico, isto é, forte dores abdominais, faz uma interrupção na
alimentação por muitas vezes sentir sentimento de culpa e a depressão. Também apresentam
comportamentos, bem como vômitos induzidos, excessivo uso de laxantes ou diuréticos.
Contudo, vale ressaltar que, diferente da anorexia a bulimia pode manter um peso normal, e
acontece mais tarde na adolescência (SOUZA, 2007).
28
No transtorno anorexo o sujeito apresenta uma distorção de imagens, onde se vê gorda
no espelho mesmo estando com baixo índice de IMC, associado ao ato de perder peso que
passa a ser sua principal obsessão. Em contra partida a bulimia é um transtorno alimentar que
se caracteriza por inúmeras crises de compulsões de excesso alimentar. O paciente procura se
livrar desses alimentos ingeridos através do vômito voluntário, junto com abuso do uso de
laxantes e diuréticos com o intenso ato de praticar exercícios físicos. E nesse transtorno, o
índice de massa corpórea oscila pelo ato de ingerir grande quantidade de alimentos
(REFOSCO, 2010).
A pessoa anorexa, tende a negar o seu corpo natural, procura estar sempre se culpando
pela sua realidade física. Buscam decisões rigorosas em relação a alimentação, maltratando-se
com a alto proibição de ingestão alimentar, causando então uma deficiência nutricional. No
entanto, na bulimia os recursos usados são menos radicais, pois, a pessoa não deixa de se
alimentar, não comprometendo muito o quadro nutricional. Vale salientar que os sintomas dos
distúrbios alimentares são muito semelhantes no que se referem ao medo exagerado de
aumentar peso (LEMOS, 2005).
Dando ênfase ao que já foi citado anteriormente, que na bulima a deficiência é menos
grave e os sintomas são perceptíveis, enquanto na anorexia os recursos são mais rigorosos e
intensos, sendo de fácil percepção. Há uma série de riscos na saúde das pessoas
diagnosticadas com os distúrbios alimentares, sendo assim, na anorexia o indivíduo se
compromete nos seguintes danos biológicos: comprometimento do ciclo menstrual, podendo
ser chamada de amenorréia, ausência de estrogênio que compromete a estrutura óssea,
tornando frágeis e quebradiços, a pele fica seca e amarelada, unhas fracas, pelos finos,
anemia, massa cardíaca diminuída, dentes fracos, fortes dores abdominais e desidratação. Já
os sujeitos bulímicos se comprometem da seguinte forma: ciclo menstrual irregular,
desequilíbrios eletrolíficos, pneumonia, frequentes gases, cólicas, refluxo do suco gástrico,
azia, doença gengival e perca do esmalte dentário .(LEMOS, 2005)
Baptista comentando acerca de Clark, 1998, relata que a maioria das pessoas com
transtornos alimentares se exercita compulsivamente. Os atletas com tendência a anorexia se
exercitam como um meio para criar um déficit calórico, já os que tendem a bulimia se
exercitam para queimar as calorias consumidas durante uma refeição (BAPTISTA, 2005).
29
O paciente apresenta uma forte resistência no que se refere a aceitação dos distúrbios.
Com isso, a maior dificuldade é incluir o mesmo no tratamento. Cabe ao médico revelar aos
familiares a gravidade do problema, desmistificando falsas expectativas de que a cura é fácil.
A intervenção pisicofarmacoterápica existe e é indispensável, pois atua com métodos
antidepressivos, estimulando possíveis ganhos de peso (RIBEIRO, et alli.1998).
Numa entrevista para a Revista Percurso, Jurandir Freire destaca o aumento de casos
de depressão, toxicomanias e do „distúrbio da imagem do corpo‟ assim denominados por ele 1.
Realmente, pode-se constatar que nas diversas maneiras de apresentar o sofrimento humano, o
corpo vem ocupando grande espaço, sendo forte fonte de sofrimento, frustrações e
insatisfação (FERNANDES, 2006).
Atualmente o corpo, fonte de grande parte das interrogações e vivências
puncionais do sujeito, tem sido tema de investigações científicas e
tecnológicas, que parece movida por um só objeto: evitar que tenhamos de
suportar ou elaborar os conflitos, os estranhamentos ou as insatisfações
(BREYTON; ARMENIO,et alli.,2002, p.66).
No entanto, a própria psicanálise investiga os movimentos desejantes, centradas no
prazer e no gozo. Portanto, as modificações no corpo podem auxiliar o sujeito na busca dos
próprios ideais, do próprio desejo. As estatísticas nos apontam que o corpo feminino é o mais
afetado pela dupla anorexia/ bulimia. Embora semelhantes à anorexia e a bulimia, se
inscrevem como respostas às angústias de uma mesma origem. Ambas revelam o fracasso da
elaboração psíquica, uma promessa de sofrimento e gozo. Na bulimia é identificado “orgasmo
alimentar”, enquanto na anorexia se tem o orgasmo da fome. Vale ressaltar que tanto a
anorexia quanto a bulimia lutam para desconstruir as forma femininas do corpo. (LEMOS,
2005). A anorexia pode ser caracterizada como um transtorno alimentar caracterizado por um
grande temor de ganhar peso, ainda que o paciente esteja muito abaixo do peso ideal. Ele se
submete a uma rígida dieta de restrição alimentar. É uma patologia que tem início
principalmente na fase da adolescência, e isso ocorre pelo fator das transformações físicas e
psíquicas (LEMOS, 2005).
A bulimia só foi descrita como doença de mulheres jovens a partir de 1979, assim
como no caso da anorexia, houve interesse de investigar se a bulimia poderia se originar de
1
Cf. Percurso-Revista de Psicanálise, ano XIII, n. 24, 2000, p.104).
30
uma causa metabólica orgânica ou genética. Apesar dessas pessoas serem obcecadas com
peso e silhuetas como as anoréxicas, elas mantém seu peso dentro do limite normal. Diante
dessa aparente normalidade, esse se torna o mais secreto dos transtornos alimentares porque
não está à mostra para as pessoas de fora (REFOSCO, 2010).
A incidência de bulimia nervosa é tão difícil de estimar quanto à de anorexia. Ela afeta
cerca de 1% a 2% da população feminina entre 15 e 45 anos, no entanto, é virtualmente certo
que ela é muito mais comum do que esses números indicam, e muito mais comum do que a
anorexia (LEMOS, 2005).
Como já foi mencionado as patologias que o sujeito pode desencadear são para
alcançar uma “perfeita aparência física”. É importante trazer neste estudo uma outra patologia
que se assimila aos sintomas dos sujeitos que são diagnosticados com transtornos alimentares
(anorexia) distorce a imagem do indivíduo fazendo com que o mesmo se veja uma pessoa
gorda. A vigorexia é um transtorno obsessivo-compulsivo (Toc) ou síndrome de Adônes
(deus grego, dono de uma beleza física) (CAMARGO, et alli, 2008).
Sendo assim, o mesmo é uma patologia desencadeada pelo culto patológico ao corpo.
O transtorno dismórfico foi descrito pala primeira vez em 1993 pelo psiquiatra americano
Harrison Pope, da Faculdade de Medicina de Harvard. Apesar de causar comprometimento na
saúde psíquica do sujeito a vigorexia não esta inclusa no DSM-IV nos transtornos mentais
como doença específica, não tendo uma identidade clínica própria, passa a ser abordada como
uma manifestação de um quadro já existente pelo DSM-IV como transtorno dismórfico
corporal ou transtorno dismórfico muscular. (Baptista, 2005).
Com base na psiquiatria, essa síndrome manifesta no sujeito uma visão distorcida que
acarreta uma opinião patológica a respeito do seu próprio corpo. A pessoa portadora desse
transtorno está sempre numa excessiva preocupação com sua aparência estando sempre
insatisfeita com sua massa corpórea, não estando bem com sua auto-imagem o sujeito busca
incessantemente praticar exercícios na academia (Baptista, 2005).
O sujeito portador da vigorexia possui alguns traços característicos de
personalidade, onde costumam ter baixa auto-estima junto com dificuldade de
socialização e geralmente são introvertidos, apresentando possibilidades de
rejeitar ou aceitar com sofrimento a própria imagem corporal ( CAMARGO,
2008).
31
Tendo por base a teoria psicanalítica podemos relatar possíveis causas da vigorexia e
a relação do mesmo com o seu corpo e a sociedade. No transtorno dismórfico muscular há
indícios de traços narcísicos, como a atenção voltada ao físico de forma abusiva gerando culto
ao corpo. Nas patologias de traços narcísicos pode-se perceber uma grande concentração da
libido sendo canalizada para o ego, despertando o auto-erotismo que pode surgir na
exacerbada preocupação com o corpo (SEVERIANO, 2010).
Em sua teoria, Dr. Freud nomeou ego ideal que se manifesta quando o indivíduo não
sai do seu narcisismo primário, desenvolvendo um ideal de onipotência, onisciência e de
perfeição. Ainda segundo Freud todo sujeito possui um ideal herdado do narcisismo primário,
mas existem pessoas que tem dificuldade para sair do primário e entrar no narcisismo
secundário, ocasionando no ego o ideal extremamente exigente e narcísico.
O superego faz grandes exigências. O ego por sua vez encontra-se muito cobrado,
passando a buscar um ideal altíssimo, ou seja, um “ego ideal” o que torna o sujeito exigente
consigo mesmo e com os demais. Portanto, quanto mais alto seu ideal for, mais comprometerá
sua alto estima relacionada ao parâmetro idealizado:
O ser narcísico não está disposto a renunciar a perfeição narcisista de sua
infância e quando ao crescer se ver perturbado pelo despertar de seu próprio
julgamento crítico e de terceiros, de modo a não mais poder reter aquela
perfeição, procura recuperá-la sob a nova forma de um ego ideal (FREUD
apud ANDREOLA, 1914).
A atenção canalizada apenas ao físico gera uma obsessão de possuir um corpo
“sarado” que leva o sujeito a desafiar suas limitações comprometendo sua ordem psíquica,
causando uma patologia na musculatura que pode levar o sujeito a morte. Vale ressaltar que,
assim como os outros transtornos, a pessoa vigoréxica sente dificuldade para admitir que
precisa de ajuda e procurar tratamento. (Baptista, 2005).
O sujeito portador desta síndrome manifesta uma sintomatologia, tais como: imagem
distorcida que acarreta no desejo associado a prática de musculação com excesso de
treinamento que implica na pessoa algumas alterações, tais como, irritabilidade, depressão,
insônia, menor desempenho sexual, batimento cardíaco acelerado, incluindo também a perca
de peso em decorrência a falta de apetite. O sujeito nunca está satisfeito com o volume de
massa corporal (IMC) fazem exagerado uso de anabolizantes e suplemento alimentar. Quando
32
são acometidos por alguma doença o episódio que o impede de freqüentar a academia por
algum tempo, fazendo com que ele perca alguns quilos, passará a apresentar quadro
depressivo pela imagem distorcida do espelho. (Baptista, 2005).
Embora as síndromes sejam mais freqüente na classe masculina, há indícios de casos
na classe feminina, sendo que o índice é menos elevado. Quando o sujeito é diagnosticado
com vigorexia em ambos os sexos o desejo de fazer treinamento em grande quantidade está
intimamente ligado ao descontrolável uso de drogas psicotrópicas, como o anabolizante, o
hormônio e a insulina. Além disso, o indivíduo com a síndrome da vigorexia recorre também
a medicamentos de uso exclusivo veterinário. E em relação afigura feminina a ingestão de
hormônio masculinizante do tipo testosterona compromete sua estrutura orgânica, passando a
desenvolver pêlos associado à barba, aumenta os grandes lábios da vulva e o clitóris.
Vale ressaltar que o sujeito acometido por este transtorno além de gozar do uso de
anabolizantes fazem também grande ingestão de alimentos que contém alta quantidade de
proteínas. Ao se falar dos transtornos associados à preocupação com a auto imagem, vale
salientar que a anorexia, a bulimia, a compulsão a cirurgia plástica afeta mais a classe
feminina; em contra partida o índice de vigorexia é diagnosticado com mais freqüência nos
homens. No entanto a super valorização da boa aparência inclusiva nas mulheres tem se
configurado uma alto perversão. Onde a mesma toma o corpo como objeto ou instrumento,
permitindo-se estar no lugar desejante pelo outro, sendo vista não em sua totalidade apenas ao
corpo, corpo este que pode ser comprado no mercado de beleza (GARRINI, 2007).
Como já foi dito anteriormente, corpo-carne que sofre, sangra e que é agredido pelas
lipoaspirações, moldados e supostamente industrializados. Com base nessas informações, vale
a pena dar ênfase à contribuição que o Narciso e a sociedade capitalista têm apresentado ao
sujeito, que o corpo está a venda, é só querer e poder. A mídia está cada vez mais produzindo
a subjetividade feminina, as assistentes de palco de televisão ao expor seus corpos malhados
são grandes influências para as mulheres desejarem e distorcerem seu comportamento em
relação ao seu corpo (GARRINI, 2007): “O corpo se oferece como lugar para encarnar o
significante da falta. Se o sujeito se constitui na sua relação com o outro, o corpo segundo
Lacan é também o outro de si, o lugar de desvio do sujeito dele mesmo” ( QUEIROZ,
S/A).
Ao se falar na síndrome da vigorexia que tem como público alvo o sexo masculino,
mas que não deixa de atingir as mulheres, em contra partida bem como a anorexia e a bulimia
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tem seu palco a classe feminina. Ambos os descuidos alimentares se caracterizam pela
ingestão compulsiva dos alimentos seguidas de vômitos. A anorexia nervosa compromete
principalmente meninas adolescentes que reduzem a ingestão de alimentos por um medo de
engordar, tendo como conseqüência uma excessiva perca de peso que pode levar a morte.
Apresenta alterações somáticas caracterizadas pelo baixo índice protéico-calório junto com
amenorréia contando também com distúrbios psicológicos como depressão, fobia relacionada
a alimentação, compulsões além da imagem distorcida, dentre outros (CAMARGO, S/A).
Essa síndrome não pode ser vista como caso isolado envolve questões biológicas,
psicológicas, familiar e sociocultural. Conforme a patologia progride e muitas vezes tendo
início nas dietas com o objetivo de perder muito peso aliadas a atividades exaustivas de
exercícios físicos. É através da percepção de grande perca de peso que os cuidadores
procuram intervenção médica e psicológica, sendo em muitas vezes contra a vontade do
paciente. Vale ressaltar que o diagnóstico da anorexia nervosa estabelecido pelo DSM-IV,
aponta a tensão para descartar primeiro a possibilidade de ser uma doença tulmonal,
hormonal, gastrointestinal ou ser patologias do quadro intestinal, ou também depressão e
esquizofrenia (SADOC, 2007).
Para nos dar suporte em fechar o diagnóstico do distúrbio alimentar da anorexia é
importante perceber no sujeito sintomas inseridos na tabela I (307-1) - DSM-IV apontar tais
critérios: a pessoa não admite manter seu peso corporal ideal ou acima do peso mínimo para a
altura e a idade. Além de apresentarem intenso medo de ganhar peso, mesmo estando muito
magra acompanhado da imagem corporal distorcida, entre outros (RIBEIRO, 2010).
No distúrbio alimentar bulimia nervosa foi diagnosticado como síndrome distinta da
anorexia a partir da década de 80. Caracteriza-se pela exacerbada ingestão de alimentos
acompanhado pela eliminação voluntária, junto com o uso abusivo de laxantes, diuréticos e
excessivas atividades físicas. A atitude desse distúrbio levanta no sujeito vergonha, depressão
e sentimento de culpa. É importante destacar que a bulimia inclui história de abuso sexual na
infância, depressão crônica e ansiedade. No entanto o quadro da bulimia não compromete
tanto o paciente no quadro nutricional quanto a anorexia (RIBEIRO, 1998).
Distúrbios gastrointestinais, em alguns casos são fatais, bem como dilatação gástrica
aguda como possibilidades de ruptura, hipertrofia de parótidas, os dentes perdem seu esmalte,
e a esofagite. Por tanto para realizar o diagnóstico da bulimia usamos critérios oferecidos pelo
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DSM-IV. Primeiro é importante distinguir da anorexia, observando episódio de compulsão
alimentar, bem como, comer em grande quantidade e em pequenos intervalos e
posteriormente provocar o vômito, além de laxantes, diuréticos, grande atenção ao corpo e ao
peso (RIBEIRO, 1998).
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos neste estudo o corpo feminino adorado na contemporaneidade, visto
que a mídia tem grande contribuição para a propagação desse corpo dito “perfeito”.
Trouxemos também as patologias tidas como consequência na busca de apresentar-se
fisicamente bem. Ressaltamos de que gozo o sujeito se satisfaz quando canaliza sua atenção
apenas à aparência externa.
Contudo, o corpo feminino não pode ser restringido à fisiologia humana, associado a
um ciclo biológico reprodutivo. Pois os padrões estéticos do século permite ao sujeito
comprar, moldar e esculpir o corpo tornando-o industrializado, preso a uma incansável
transformação. Salientando que o desejo de estar em constantes mutações sofre influências
socioculturais. Sendo assim o modelo de saúde contemporâneo é representado pela beleza e
juventude, logo, envelhecer numa sociedade do espetáculo da beleza é angustiante.
Pontuamos com base no DSM-IV, as patologias de distúrbio alimentar, bem como: anorexia,
bulimia e vigorexia. Onde manifesta no indivíduo uma distorção da sua própria imagem.
O presente estudo trouxe também o avassalador investimento no mercado de beleza,
que induz o sujeito a estar sempre em consumo e na busca incessante da “juventude eterna”.
Destacamos também que o corpo pode ser comprado nas clínicas de estéticas, com a cirurgia
plástica. Corpo que é cortado, furado, surrado, agredido, costurado, moldado. Enfim, corpo
que geme e sofre, mas que não está sendo visto como estrutura que tem limites e que muitas
vezes o seu grito de socorro cala com a morte.
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(referência incompleta).
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CULTO AO CORPO FEMININO NA CONTEMPORANEIDADE