O CURRÍCULO ESCOLAR DA ESCOLA DE BELLAS ARTES E
INDÚSTRIA DO PARANÁ ENTRE OS ANOS DE 1886 A 1896.
Daniele Cristina Mendes (PIC/FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA/FAP) Marlete dos
Anjos Silva Schaffrath (Orientadora), e-mail: [email protected]
Faculdade de Artes do Paraná/ Departamento de Educação / Curitiba, PR
Palavras-chave: Escola de Artes, Paraná, historiografia da educação.
Resumo:
Os resultados de pesquisa que se apresenta buscaram analisar e relatar a
trajetória da Escola de Bellas Artes e Indústria do Paraná, na cidade de
Curitiba, entre os anos de 1886 a 1896. O estudo está baseado na análise
do currículo escolar e das práticas que dele derivaram no ensino pioneiro no
campo das artes e ofícios no Paraná.Pretendeu-se trazer para o foco da
investigação científica na área do ensino e sua historiografia, os processos
que organizaram a referida escola assim como os processos (pedagógicos,
artísticos e sociais) que se colocavam para a sociedade do período. Trata-se
de uma pesquisa documental, com documentos oficiais da Instrução Pública
do Paraná, e bibliográfica com o estudo de referências sobre o tema.
Introdução
A Escola de Belas Artes e Indústrias do Paraná, fundada em 1886 pelo
professor Antônio Mariano de Lima na cidade de Curitiba, inicialmente com o
nome de “Escola de Desenho e Pintura”, foi a primeira do gênero no Paraná e
uma das primeiras no Brasil. A criação de uma instituição voltada ao ensino
das artes e ofícios em Curitiba nesse período é considerada, portanto, um
empreendimento de vanguarda, em uma cidade que buscava alinhamento, no
processo de modernização social e econômica, com capitais como Rio de
Janeiro e São Paulo.
O trabalho de pesquisa que desenvolvemos, procurou destacar a
inserção que a Escola tinha na sociedade Paranaense e o modelo de
formação adotado no currículo prescrito para a formação de profissionais na
área da Arte da Indústria.
Materiais e métodos
Subsidiada pelo método de investigação histórica, a pesquisa está
baseada no levantamento e catalogação de fontes primárias e secundárias
do período compreendido entre os anos de 1886 e 1896. Para este trabalho
contamos com o acervo das Bibliotecas das Universidades Federais do
Paraná e da Universidade Católica do Paraná, do Arquivo Público do Estado
do Paraná, além da Biblioteca da Faculdade de Artes do Paraná. Os dados
coletados sobre o funcionameto da Escola foram catalogados e analisados
em conjunto com referências bibliográficas que tratam da referida escola e
da conjuntura da Instrução Pública paranaense no período.
Resultados e Discussão
A pesquisa e análise dos relatórios oficiais e fontes documentais pode
oferecer a visão de aspectos importantes da história da educação no
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
Paraná. Podemos diagnosticar currículo, as disciplinas, programas e práticas
escolares inseridas no interior de uma instituição, tendo como reflexo a
cultura escolar.
Julia (2001) propõe a seguinte definição para cultura escolar:
“Para ser breve, poder-se-ia descrever a cultura escolar
como um conjunto de normas que definem conhecimentos
a ensinar e condutas a inculcar, e uma conjunto de práticas
que permitem a transmissão desses conhecimentos e a
incorporação desses comportamentos; normas e práticas
coordenadas a finalidades que podem variar segundo as
épocas
(finalidades
religiosas,
sociopolíticas
ou
simplesmente de socialização).” ( Julia, 2001)
Andre Chervel (1998, p.188) defende a idéia do poder da escola em
conceber uma cultura específica. A escola passa ser um agente que
transmite saberes específicos para colaborar fora da instituição, na
sociedade. O autor argumenta também que as disciplinas escolares têm
uma grande responsabilidade na formação da cultura escolar. E traduz a
disciplina escolar como um instrumento para gerar a “aculturação de
massas” e a escola um recipiente de “subprodutos culturais da sociedade”. A
disciplina então forma o indivíduo e uma cultura que vai interferir na cultura
da sociedade global.
No ano de 1886 é fundada na capital do Paraná a primeira Escola de
Artes e Indústria do Paraná que teve o seu inicio na Escola Carvalho, em um
terreno cedido pelo comendador Antonio Martins Franco, na Rua
Alquidabam (hoje conhecida como Emiliano Perneta) cujo diretor e
professor era Antonio Mariano de Lima que administrava o estabelecimento
junto com um corpo docente.
O estabelecimento passou a ser visto como uma escola de
extraordinário desenvolvimento e benefício para a capital e um instrumento
de difusão das artes para todas as classes sociais.
Em outubro de 1894 o diretor da Escola de Bellas Artes apresentou para o
Secretário do Estado um relatório em que a intenção foi apresentar
informações sobre o movimento da Escola. Os alunos realizavam trabalhos
práticos de desenhos artísticos, arquitetura, escultura e pintura. Os trabalhos
passavam por comissão de Professores que avaliavam e premiavam os
alunos. Para Lima1 a execução desses prêmios aumentava o movimento da
Escola e o grande progresso moral e intelectual dos alunos.Totalizava 4.435
produções de trabalhos práticos no primeiro semestre.
“Desenho rudimentar- 3080,elementar-33, secundario- 1080
e superior-90. Total-4283. Architectura: - Desenho de
ornamentos-27, de systema de construcção-19, e de
architectura (plantas)- 12. Total 116. Esculptura:Estatuaria-1. Pintura: - Primaria- 7, secundaria-22 e
superior 6. Total -36. Total geral -4435.2
1
2
Fala de Antonio Mariano de Lima ao Secretario d’ Estado dos Negócios do Interior, Justiça e
Instrução Publica- 11 de Outubro de 1895.
Fonte: Relatório apresentado ao Secretario d’ Estado dos Negócios do Interior, Justiça e Instrução
Publica pelo Director da Escola de Bellas Artes e indústria do Paraná Antonio Mariano de Lima11 de Outubro de 1895.
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
Com esses trabalhos a Escola de Bellas Artes e Indústria alcançou
exposições de grande hierarquia, pois foi o único Estado que, segundo o
diretor e professor Mariano de Lima3 se fez representar por trabalhos
exclusivamente dos alunos.
“Effectivamente, a freqüência de alunos e os resultados
obtidos apresentam de 1886, data da fundação da escola,
ao corrente anno um progresso constante e os balancetes
demonstram a louvovel economia com que tem sido geridos
os recursos concedidos a esse estabelecimento pela
administração estadual e pela bolsa particular de diversos
cavalheiros.”4
No mesmo relatório de 1894 encontramos o decreto de oito de
novembro de 1890, onde é aprovada, pelo chefe do governo provisório
Manoel Deodoro da Fonseca, a mudança de nome de Escola de Bellas
Artes e Indústria do Paraná para Escola Nacional de Bellas- Artes. Segundo
o relatório, o ensino continuou sendo gratuito e fornecia gratuitamente a
todos os matriculados o material indispensável e o custo das viagens
necessárias ao estudo.
Os alunos já podiam contar com um ateliê e uma biblioteca. Na
biblioteca constava mais de 400 livros de artes inclusive música, coleções de
estampas de consultas, fotografias, gravuras de vários gêneros, oleografias,
etc.
As lições eram dadas em salas apropriadas, nas galerias, em ateliê e
ao ar livre. Esses trabalhos escolares não excediam de sete horas, entre as
nove da manhã e às quatro da tarde, distribuía-se o tempo para as diversas
aulas já mencionadas. Os alunos que mostravam bom rendimento nesses
trabalhos escolares recebiam a aprovação, diversos prêmios, os diplomas e
titulo de habilitação.
Assim, para Lima, os trabalhos práticos que ocorrem dentro do
estabelecimento escolar colaboraram para o progresso das indústrias
manufatureiras, pois “sem os respectivos conhecimentos não pode haver
bons officiaes de officina5
Muito embora se considere que o currículo prescrito pode se distanciar em
alguma medida daquilo que o cotidiano da Escola poderia significar, temos
claro que as leis e a prescrição do currículo indicam um movimento em
direção a uma formação determinada, com características peculiares e que
demarcam claramente um interesse do Poder Público no tipo de educação
oferecida.
Conclusões
3
4
5
Fala de Antonio Mariano de Lima ao Secretario d’ Estado dos Negócios do Interior, Justiça e
Instrução Publica- 11 de Outubro de 1895.
Relatório apresentado ao Secretario d’ Estado dos Negócios do Interior, Justiça e Instrução
Publica pelo Director da Escola de Bellas Artes e indústria do Paraná Antonio Mariano de Lima11 de Outubro de 1895.
Relatório apresentado ao Secretario d’ Estado dos Negócios do Interior, Justiça e Instrução
Publica pelo Director da Escola de Bellas Artes e indústria do Paraná Antonio Mariano de Lima11 de Outubro de 1895.
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
Motivadas pela curiosidade científica de desvendar o passado,
procurou –se teorias que sustentassem pesquisa na área da historiografia
da educação. Os escritos de Frago (2008) e Julia (2001) forneceram
subsídios teóricos importantes para compreender a escola de Bellas Artes e
a dinâmica das relações sociais que se estabeleceram para sua criação e
funcionamento.
A Escola de Bellas Artes e Indústrias foi um projeto pioneiro do ensino
de artes no Estado do Paraná. Através de uma análise do funcionamento
interno da instituição consegue-se perceber o auxílio que a escola dava no
processo de transformação e progresso na sociedade, isso fica visível na
proposta de currículo, nas práticas escolares, no programa de ensino, etc.
O currículo, as práticas escolares e o programa de ensino que se
estabelecem na escola não podem ser analisadas sem se considerar o
contexto histórico. O século XIX é, reconhecidamente, um período de grande
avanço técnico e artístico, a Escola de Belas Artes e Indústria do Paraná vai
se configurar nesse período colocando para seus alunos as lições e os
programas, ou seja, o altíssimo número de trabalhos práticos para facilitar o
desenvolvimento e o progresso econômico e social do Estado do Paraná. As
matérias e os conteúdos que eram veiculados na instituição garantiam o
aperfeiçoamento das artes industriais do Estado, oferecendo formação de:
“marceneiros, ferreiros, carpinteiros, decoradores de casas, etc.”6
O presente trabalho não pretende ser uma análise definitiva sobre o
assunto, sobretudo por que sua análise se restringiu, neste momento, ao
currículo prescrito para a Escola de Belas Artes e Indústrias. Fica, portanto,
o gosto do aprendizado e a certeza que muito mais há para se aprender
sobre o tema.
Agradecimentos
Agradeço à Fundação Araucária pelo incentivo através da bolsa de pesquisa
e à Faculdade de Artes do Paraná pela viabilização deste trabalho de
iniciação à pesquisa.
Referências
A ARTE. Órgão da Escola de Desenho e Pintura. Curitiba. Periódicos
diversos, BPP, Microfilme. Setor de documento Paranaense 04. março 1888.
CHERVEL, A. História das disciplinas escolares. In: Revista Brasileira de
Historia da educação. Campinas SBHE/ Autores Associados, n. 18.2008
JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. In: Revista
Brasileira de História da Educação. Campinas:
SBHE/ Autores
Associados, n. 01, 2001.
PARANÁ. Relatório do Secretario do Diretor da Escola de Bellas Artes e
Indústria do Paraná Antonio Mariano de Lima. Outubro de 1895.
Relatórios e Falas do Diretor da Escola de Bellas Artes e Indústria do
Paraná. APEPR. 1895.
6
A arte. Órgão da Escola de Desenho e Pintura. Curitiba. Periódicos diversos, BPP, Microfilme. Setor
de documento Paranaense 04. março 1888.
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
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