SELEÇÃO SEMANAL DE
NOTÍCIAS CULTURAIS
Edição Nº 169
[ 19/12/2013 a 25/12/2013 ]
Sumário
CINEMA E TV ............................................................................................................ 3
FOLHA DE S. PAULO - Documentário mostra experiência de criador de software para deficientes ... 3
Cineasta exibe em Lisboa filme inspirado em tela de Victor Meirelles ............................................ 3
ESTADO DE MINAS - Cheio de graça .................................................................................................. 5
ESTADO DE MINAS - Berlinale: Minas na mostra Panorama .............................................................. 6
FOLHA DE S. PAULO - Forte em humor, Multishow vai se arriscar no drama .................................... 7
VALOR ECONÔMICO – Brasil + Argentina / Avant-première / Coluna ................................................. 8
O ESTADO DE S. PAULO – Brasil garante presença no Festival de Berlim ......................................... 8
JORNAL DE BRASÍLIA - Filmes nacionais no Festival de Berlim .......................................................... 9
AGÊNCIA BRASIL - Filme brasileiro O Som ao Redor está fora da disputa do Oscar ........................ 9
O ESTADO DE S. PAULO – Viajando na Cabeça dos jovens descolados: Matheus Souza e Clarice
Falcão sabem o que estão fazendo das suas vidas ........................................................................ 9
ESTADO DE MINAS - Festival de cinema de Tiradentes divulga os selecionados para a Mostra
Aurora ............................................................................................................................................. 11
TEATRO E DANÇA ................................................................................................. 12
CM& LA NOTICIA (COLÔMBIA) - Festival Iberoamericano de Teatro de Bogotá declarado Patrimonio
de Colombia ................................................................................................................................... 12
ARTES PLÁSTICAS ................................................................................................ 13
O ESTADO DE S. PAULO – Rodrigo Moura é o novo diretor de arte de Inhotim ............................... 13
ESTADO DE MINAS - Cerâmica: Viagem emocional ......................................................................... 13
O GLOBO – 'Embaixador da arte brasileira' ..................................................................................... 14
ESTADO DE MINAS - Povo no poder ................................................................................................. 14
O ESTADO DE S. PAULO – Volpi Total .............................................................................................. 16
CORREIO BRAZILIENSE - Fatia latina ................................................................................................. 18
MÚSICA ................................................................................................................... 18
ESTADO DE MINAS – Mozart em português ...................................................................................... 18
O ESTADO DE S. PAULO – Livro recupera trajetória do Roupa Nova ............................................... 19
Biografia oficial conta a história da banda que, forjada pelo mercado, conseguiu sobreviver a ele
........................................................................................................................................................ 19
LIVROS E LITERATURA ......................................................................................... 21
VALOR ECONÔMICO - Em feitio de oração / Entrevista / Adélia Prado ............................................. 21
VALOR ECONÔMICO - Carlos Lacerda "narra" romance do neto / Resenha / Fernando G. Carneiro
........................................................................................................................................................ 23
O ESTADO DE S. PAULO - Literatura policial ganha mais espaço no mercado em 2014 ................. 25
FOLHA DE S. PAULO – Em entrevista exclusiva, Ariano Suassuna diz que fez 'pacto com Deus' para
terminar livro ................................................................................................................................... 26
CORREIO BRAZILIENSE - Inspiração no cárcere ................................................................................ 31
MODA ...................................................................................................................... 33
FOLHA DE S. PAULO - Brasil e África misturam padrões de design, revela pesquisa de dez anos . 33
FOLHA DE S. PAULO – Publicação examina cem anos da moda de rua brasileira .......................... 34
OUTROS .................................................................................................................. 35
O ESTADO DE S. PAULO – Enciclopédia voltada às artes merece nova versão ............................... 35
O ESTADO DE S. PAULO – Coleções de Niemeyer, Leonilson e Elomar serão reunidas em sites e
mostras ........................................................................................................................................... 35
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CINEMA E TV
FOLHA DE S. PAULO - Documentário
mostra experiência de criador de software para
deficientes
Paula Lago, colaboração para A Folha
(19/12/2013) Fernando Botelho, vencedor do Prêmio Folha Empreendedor Social de Futuro 2012,
será personagem de "Com os Olhos de Quem Não Vê", um documentário sobre a cegueira com
previsão de estrear no ano que vem.
O média-metragem de 52 minutos pretende mostrar a autonomia das pessoas com deficiência visual.
Christiana Bernardes, jornalista e cineasta com experiência de 15 anos no mercado de audiovisual,
diretora do estúdio Jardim Elétrico e também do documentário, há quatro anos começou uma
pesquisa sobre o tema.
Sua ideia era clara: falar sobre a visão no mundo contemporâneo por meio de pessoas com
deficiência visual.
A história será contada a partir de três pontos de vista diferentes: o de uma criança que nasceu sem
enxergar, o de um jovem que está em fase de perda de visão e o de um adulto totalmente cego.
Por enquanto, apenas a personagem adulta está definida. "Ainda estou escolhendo quem mais tem a
ver com a proposta. Só neste ano me dei conta de que o Fernando [Botelho] era quem eu queria
retratar. Foi como uma ficha que caiu. Escrevi pra ele, marcamos uma conversa via Skype, e ele
acabou aceitando participar do meu projeto."
A escolha se deu graças às histórias de vida do empreendedor. "O Fernando tem características que
admiro numa pessoa, como força de vontade, perseverança e atitude. No começo da minha
pesquisa, conversamos muito sobre como é viver no mundo de hoje sendo cego. E, com isso, fui
amadurecendo minha ideia sobre a forma como devemos perceber a vida."
Botelho, criador do F123, um software totalmente acessível e de baixo custo, diz que ficou surpreso
com a proposta de ter uma equipe de filmagem acompanhando-o.
"Acho que sempre que um filme ou um livro nos mostra a experiência de outras pessoas enfrentando
o desafio que nos preocupa [como se tornar cego], aquilo deixa de nos assustar tanto. Boa parte do
desafio é o medo, a superação da cegueira em si é mais uma questão de paciência e persistência."
O filme faz um paralelo entre "o modo de percepção da vida entre cegos e não cegos, num mundo
dominado pela cultura da imagem, em que estamos reféns da informação visual", conta a diretora.
O projeto, que está em fase de captação de recursos, tem preocupação em ser acessível --a ideia é
que seja lançado com audiodescrição.
"É um filme destinado a quem nunca conviveu com pessoas com deficiência visual", diz Bernardes.
"A estudantes, a psicólogos, mas também aos cegos, suas famílias e seus amigos."
O ESTADO DE S. PAULO – Diretora
Ana Carolina redescobre o Brasil
Cineasta exibe em Lisboa filme inspirado em tela de Victor Meirelles
Cena de 'A Primeira Missa', de Ana Carolina
Luiz Carlos Merten
(19/12/2013) Ana Carolina tem sido uma diretora
bissexta. Em quase 40 anos de carreira, iniciada com
Getúlio Vargas em 1974, ela não fez uma dezena de
filmes. E não foi por opção, mas pela própria
descontinuidade do sistema de produção e distribuição
no País. Mas Ana nunca demorou tanto para realizar
um filme quanto agora. O encanto quebra-se na noite
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de quinta, mas bem distante do Brasil, em Portugal. Passaram-se quase dez anos desde O Boca do
Inferno, sobre Gregório de Mattos.
Ela tentou levantar fundos no País para fazer A Primeira Missa. Conseguiu um pouco de dinheiro e
uma parceria no exterior, com a Ibermédia e o produtor português José Fonseca e Costa. Seu
contrato estipula que A Primeira Missa tem de ser mostrado ainda este ano, e ela o faz pela primeira
vez, hoje à noite, em Lisboa, numa sala que pertence à cadeia de Paulo Branco, o ex-produtor de
Manoel de Oliveira. Será uma sessão fechada, como a que Ana Carolina vai realizar no sábado, em
Santarém, convidada pela prefeitura da cidade em que nasceu e está enterrado o descobridor do
Brasil, Pedro Álvares Cabral.
Tem tudo a ver com A Primeira Missa, que se inspira no quadro de Victor Meirelles. Ana Carolina
filmou com atores portugueses, Rui Unas, Marcantonio Del Carlo, etc. Encantou-se com eles. O
elenco brasileiro inclui Dagoberto Feliz, Alessandra Maestrini, Fernanda Montenegro, Rita Lee, Arrigo
Barnabé. “Me acostumei com os nossos atores, que são grandes, mas a capacidade de invenção dos
portugueses me deixou louca. Eles são de um profissionalismo extraordinário e, ao mesmo tempo,
respondem aos estímulos e embarcam na viagem da gente.” Sobre a dificuldade para concretizar o
filme, resume – “Precisei me reinventar.” Mas acrescenta: “O filme tem aquela minha natureza que
você sabe”.
Desde Getúlio, com seu subtítulo, Trabalhadores do Brasil, Ana Carolina tem feito filmes para
entender o mundo e a si própria. A trilogia Mar de Rosas, Das Tripas Coração e Sonho de Valsa,
entre 1977 e 87, discute a mulher e a família na sociedade sob o jugo da ditadura militar. A
psicanálise sempre foi uma ferramenta integrada à sua pesquisa de linguagem. Com Amélia e O
Boca do Inferno (Gregório de Mattos), sem abrir mão do discurso essencial de sua obra, ela o
ampliou. Amélia aborda as relações entre colonizadores e colonizados. Gregório, O Boca do Inferno,
sobre o poeta, leva a contestação e a provocação ao limite. A própria presença do poeta Waly
Salomão no papel realçava a transgressão. O trágico é que O Boca do Inferno é de 2002 e Salomão
morreu no ano seguinte.
Tendo chegado tão longe, Ana Carolina resolveu voltar ao princípio. E o Brasil começa com a
oficialização da posse, quando Pedro Álvares Cabral faz rezar a primeira missa, que inscreve a terra,
recém-descoberta, na tradição ocidental cristã. Essa integração carrega uma conotação cultural e
outra econômica. Vai criar uma dependência – do índio, da terra ocupada. O quadro de Victor
Meirelles chama-se A Primeira Missa no Brasil e foi pintado em 1860, mais de três séculos depois do
evento real. A par de sua qualidade (perfeição?) técnica e estética, comporta uma riqueza muito
grande de símbolos. A cruz domina a composição, situando-se ao centro do quadro. Os portugueses,
que chegam pelo mar, ocupam a direita. São os conquistadores. Os índios ficam à esquerda, são os
conquistados. Não são reverentes, mas sua postura sugere um tanto de curiosidade e outro de
aceitação. É uma coisa assim, “meio Mário de Andrade”, define a diretora, referindo-se ao escritor
modernista.
Quase 100 anos depois, em 1948, Cândido Portinari criou a sua versão da Primeira Missa. Ela difere
radicalmente da de Victor Meirelles, mas ambas adotam o partido da desvalorização da cultura
indígena, que Meirelles suaviza (ou atenua) e Portinari radicaliza. No fundo, o que as telas, e a de
Victor Meirelles, a que mais interessa a Ana Carolina, propõem é uma reflexão sobre o próprio
conceito de nação, e isso tem estado na obra recente da diretora – na obra dela como um todo. Ela
só lamenta que, ao se reinventar, e reinventar seu filme – o roteiro foi todo modificado –, terminou
tendo de adequar, ao dinheiro que tinha, uma reflexão que era, como define, ‘mais corpulenta’.
Flerte com o mundo da música
Quando Ana Carolina elogia os atores portugueses de seu novo filme, ela não subestima o que os
brasileiros lhe trazem. A grande Fernanda Montenegro é sempre um assombro, mas o que dizer de
certas presenças que podem parecer insólitas em A Primeira Missa? Ana Carolina, que já integrou o
poeta e músico Waly Salomão ao elenco de O Boca do Inferno, agora recorre a Arrigo Barnabé e Rita
Lee.
Vale lembrar que Waly Salomão integrou o movimento tropicalista – na poesia e na música. Rita Lee,
então, nem se fala. Com os Mutantes, ele já era imortal em Domingo no Parque, de Gilberto Gil.
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Arrigo obteve reconhecimento de público de cara, logo no primeiro disco. Clara Crocodilo, de 1980,
foi recebido pela imprensa, na época, como a maior novidade na música brasileira desde a Tropicália.
Seis anos mais tarde, Arrigo Barnabé interpretou e coescreveu (com o diretor Chico Botelho) Cidade
Oculta. O filme de 1986 pertence à tendência chamada de néon realismo, quando o cinema brasileiro
flertou com a pós-modernidade. Um marginal, o Anjo, volta ao mundo depois de sete anos de cadeia.
E cai nos braços de Shirley. Barnabé fez a trilha, claro, e a Shirley de Carla Camurati fez furor por sua
voltagem erótica, com aquela roupa sadomasô de couro preto.
ESTADO DE MINAS – Prêmio
em festival canadense
O som ao redor, de Kléber Mendonça Filho, faturou o prêmio de diretor estreante em Toronto
(19/12/2013) O longa do pernambucano Kleber Mendonça, O som ao redor, foi premiado pela
Associação de Críticos de Toronto, no Canadá, como o melhor "primeiro filme", categoria que elege a
obra de um diretor estreante. O longa, que já foi exibido em cerca de 100 festivais pelo mundo,
também concorre a uma indicação ao Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro. Os indicados
serão anunciados em 16 de janeiro.
Retratando o cotidiano de uma rua de classe média no Recife (PE), o filme entrou para a lista dos 10
melhores do ano do crítico de cinema estrangeiro da revista Variety. E já recebeu prêmios da Mostra
de São Paulo, do Festival do Rio, do Festival de Gramado, do CPH Pix 2012 (em Copenhague,
Dinamarca) e o prêmio da crítica do Festival de Roterdã, na Holanda.
Na premiação dos críticos de Toronto, Inside Llewyn Davis – Balada de um homem comum, de Ethan
Coen e Joel Coen, ficou com o prêmio de melhor filme. O protagonista Oscar Isaac venceu o prêmio
de melhor ator. Já o de melhor atriz foi para Cate Blanchet, por Blue Jasmine.
ESTADO DE MINAS - Cheio
de graça
Leandro Hassum estreia Até que a sorte nos separe 2, na semana que vem, e se prepara para
estrelar seis longas-metragens em 2014, entre eles Capitão Gay
Carolina Braga, São Paulo
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(20/12/13) Quando ele passa, pode saber que haverá um rastro de risadas. É que Leandro Hassum é
assim: faz graça com tudo e todos. “Agora, quando as pessoas falam ação eu não respondo mais. Só
quando dizem action”, brinca sobre as filmagens de Até que a sorte nos separe 2 em Las Vegas.
Assim ele vai emendando uma piada na outra. O filme dirigido por Roberto Santucci chega a 750
salas brasileiras no dia 27 com vocação de bater o feito do primeiro: o público recorde de 3,5 milhões
de espectadores em 2012.
Boa parte do sucesso se deve às tiradas do fluminense da Ilha do Governador, ex-morador de Niterói,
que escolheu a comédia como ofício e não esconde o orgulho. “Sei que muitos comediantes se
magoam com essa história de dizer que a comédia não é reconhecida, não ganha prêmio. Cara, faço
isso pelo público. Quero fazer as coisas serem divertidas”, diz. Ele não se tem decepcionado.
Aos 40 anos, Leandro Hassum completou uma década de participações no cinema nacional. O
primeiro trabalho foi como Barba Azul, uma ponta em Xuxa abacadabra (2003), dirigido por Moacyr
Góes. Dali em diante marcou presença em 13 longas-metragens (sucessos como Se eu fosse você e
Até que a sorte nos separe estão nesta lista) e a dublagem de três animações, entre elas o Gru de
Meu malvado favorito.
Para 2014, tem outros seis projetos em pauta. Entre os mais esperados estão filme sobre o
personagem eternizado por Jô Soares, Capitão Gay, com direção de Luiz Henrique Fonseca, e O
candidato, a primeira comédia política da dupla Santucci e Paulo Cursino, o roteirista da franquia Até
que a sorte nos separe.
Mesmo com carreira extensa na TV, onde se tornou conhecido com os personagens de Zorra total,
até hoje Hassum se diz um homem de teatro. “Sou um cara que não tenho ego algum na minha
profissão, no sentido artístico. Não tem isso de estrela. Acredito muito na galera. A equipe com a qual
estou trabalhando, seja no cinema ou na TV, é a minha primeira plateia. Faço para eles”, revela. O
talento em fazer graça com o cotidiano foi detectado por uma professora, que sugeriu à mãe dele que
o levasse para aulas de interpretação. Fez a tradicional Escola Tablado, no Rio de Janeiro, foi
estudar nos Estados Unidos e logo identificou-se com o gênero.
“Sou histriônico e caricato, como todos sabem. Não tenho o menor problema quanto a isso. Eu, o Luiz
Fernando Guimarães e o Pedro Cardoso temos uma persona muito forte, que sempre vai nos
acompanhar. É uma bobagem tentar apagar isso”, afirma. Leandro Hassum é o típico ator que se
entrega ao personagem. Se é em função da piada, vale tudo. “Sou um vendido. Essa barriga e esse
rego de fora já pagaram um bocado de contas lá em casa”, brinca.
DE PRIMEIRA
A única exigência que costuma fazer é que seja tudo de primeira, sem repetições desnecessárias de
cena. Mas isso também tem fundamento. “Piada funciona é na espontaneidade”, frisa. Tanto é assim
que a fama dele nos bastidores é do ator do improviso, que não segue o texto. Se vai ensaiar a cena,
pode ter certeza de que ele vai guardar a brincadeira para depois do comando do diretor.
“Realmente, gosto muito de fazer isso. Mas preciso que tenha uma cama boa, um roteiro. A piada de
improviso às vezes funciona e outras não. Se dá errado, preciso ter para onde voltar. Se tenho uma
história bem contada não tem problema. Não se improvisa em cima do nada”, ressalta. Leandro
Hassum é defensor da ideia de que todo improviso tem que atirar para dentro da história, para não
correr o risco de tornar-se alegoria gratuita. “É um improviso para colaborar com a história. Não para
atirar e ser apenas vaidoso. Quando faz só pela piada, fica pouco e vazio.”
Até que a sorte nos separe 2 deixa nítida essa situação. Como é a segunda vez que Leandro Hassum
interpreta o esbanjador Tino, fica claro o quanto ele está à vontade em cena. Na continuação, sai
Daniele Winits e entra Camila Morgado no papel de Jane, a esposa do protagonista. Também
reforçam o elenco Kiko Mascarenhas, Rita Elmôr, Arlete Salles, Berta Loran e o lutador Anderson
Silva.
Na continuação, a família falida sai da miséria graças à herança deixada por um tio de Jane. Para
atender o último pedido do finado, eles embarcam para Las Vegas, onde Tino demonstra, mais uma
vez, não levar muito jeito para gastar pouco. “Acho que tem espaço para tudo. O que as comédias
estão fazendo é levar a família inteira para o cinema. O grande barato deste filme é isso”, defende.
ESTADO DE MINAS - Berlinale:
Minas na mostra Panorama
(20/12/13) Gracie Santos - A dobradinha Minas-Pernambuco conquistou Berlim. Ficção que encerra a
trilogia sobre a solidão de Cao Guimarães (depois de A alma do osso e O andarilho), O homem das
multidões, realizado em parceria com o diretor pernambucano Marcelo Gomes, foi selecionado para a
mostra Panorama da Berlinale. O filme está entre os 19 da primeira leva (serão 50 escolhidos entre
milhares) anunciada ontem para a mostra paralela do 64º Festival de Berlim, que ocorre entre 6 e 16
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de fevereiro de 2014. Outro brasileiro na lista – Hoje eu quero voltar sozinho –, longa de estreia do
paulista Daniel Ribeiro sobre um adolescente cego e homossexual, baseado no curta premiado em
Paulínia, que já teve mais de 2,5 milhões de visualizações no YouTube.
Inteiramente rodado em Belo Horizonte, O homem das multidões, que conta a história de dois
ferroviários, Margô (Silvia Lourenço) e Juvenal (Paulo André, do Galpão), é baseado em conto de
Edgar Allan Poe. “A solidão é tema muito presente na cultura europeia. O conto é inglês, então,
achamos que na Alemanha o filme terá compreensão muito boa. Tratamos de questão muito presente
na sociedade urbana e essa será a primeira exibição fora do Brasil (o longa levou o Redentor de
direção do Festival do Rio deste ano),” afirma Marcelo Gomes, contando que eles foram convidados
para importantes festivais estrangeiros (“mas ainda é segredo”).
O diretor diz ainda que a receptividade tem sido muito e que ele e Cao Guimarães estão felizes de
participar “da mostra de maior público dos festivais internacionais (ingressos são colocados à venda),
de grande visibilidade e em um mercado forte”. Produzido por Beto Magalhães, da Cinco em Ponto, e
João Viera Jr., da REC Produtores, o longa tem a Figa Films como agente internacional e será
distribuído no Brasil pela Espaço Filmes, com previsão de estreia para maio.
FOLHA DE S. PAULO -
Forte em humor, Multishow vai se arriscar no drama
História sobre prostituição e seriados médico e policial já estão em produção e devem estrear em
abril e agosto
'Acerto de Contas' mostra homem que tenta se readaptar à vida em família após passar dez anos
preso
Isabelle Moreira Lima, de São Paulo
(20/12/13) Em 2014, o Multishow pretende ir além dos seus programas de humor e da transmissão de
grandes eventos musicais como o Rock in Rio.
O canal de TV paga cujo slogan "A vida sem roteiro" vai trair essa ideia e passar a investir em séries
com roteiro dramático no próximo ano.
Três programas estão em produção, com estreias agendadas para abril e agosto do ano que vem.
O primeiro deles, "Segredos Médicos", é uma mistura de reality show e dramaturgia, explica o diretor
do canal, Guilherme Zattar.
Trata-se de mais uma série que vai se passar em um hospital, para mostrar dificuldades de médicos e
pacientes, tudo baseado em histórias reais e com cara de GNT.
A maior novidade do programa é o elenco, que mistura atores profissionais e amadores --médicos e
pacientes que passaram por casos semelhantes na vida real.
"A gente fez um casting' [escolha de elenco] superdifícil. São médicos que trabalham com a memória
afetiva deles", afirma Zattar.
Entre os casos a serem mostrados pelo drama está o de um garoto de programa que busca um
urologista para tentar resolver um problema de disfunção erétil.
"Ele descobre que o problema não era apenas físico e estava relacionado a uma perda que teve na
vida. Isso tudo é verdadeiro", diz.
"Acerto de Contas" é um policial situado em Campo Grande, bairro da zona oeste do Rio. Conta a
história de um ex-detendo que, após dez anos na prisão, tenta se readaptar à vida em família.
Foi criado e protagonizado por Silvio Guindane, o Lacraia do "Vai Que Cola", e tem no elenco Antonio
Pitanga, Stepan Nercessian, Ângelo Paes Leme, Aline Fanju e Brendha Haddad.
Completa a tríade a série "A Segunda Vez", baseada no romance "A Segunda Vez que te Conheci"
(2008), de Marcelo Rubens Paiva, e produzida pela Conspiração. Conta a história de um jornalista
que é demitido e expulso de casa pela mulher.
O protagonista, vivido por Marcos Palmeira, vai parar num apart hotel nos Jardins, bairro nobre de
São Paulo, e se vê rodeado de mulheres lindas. Ele começa a se relacionar com elas e cai a ficha:
são prostitutas. Desempregado e envolvido, o próximo passo é virar o cafetão.
Apesar da aposta nos novos formatos, o diretor do Multishow diz que música, humor e transmissões
ao vivo continuam como prioridade do canal, que terá exibido, até 31 de dezembro, 261 shows ao
vivo neste ano.
Para 2014, o canal já tem programada a exibição do festival Lollapalooza. "A música é ao vivo e isso
traz um peso muito grande, audiência em massa de todas as classes sociais", diz. Zattar afirma que,
no futuro, espera que a maior parte das transmissões seja ao vivo, incluindo os humorísticos.
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VALOR ECONÔMICO – Brasil
+ Argentina / Avant-première / Coluna
(20/12/2013) A partir do mês que vem, estará aberto o processo de seleção para o 4º edital de
fomento à coprodução cinematográfica entre Brasil e Argentina. A Ancine escolherá dois projetos de
longa apresentados por produtoras brasileiras - com um prêmio total de US$ 600 mil. Na Argentina, a
seleção de mais dois projetos será realizada pelo Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales (Incaa).
Um dos filmes premiados em edições anteriores foi "Corazón de León", de Marcos Carnevale, que
chega aos cinemas do Brasil em fevereiro, depois de levar 1,7 milhão de pessoas aos cinemas
argentinos.
O ESTADO DE S. PAULO – Brasil
garante presença no Festival de Berlim
Programação terá filmes de Daniel Ribeiro e Marcelo Gomes e Cao Guimarães na importante seção
Panorama
Luiz Carlos Merten
'O Homem das Multidões'. A solidão de maquinista
em Belo Horizonte
(20/12/2013) Dieter Kosslick, o todopoderoso dirigente da Berlinale, tem
anunciado em conta-gotas os filmes que
integram a seleção de 2014. O festival
será inaugurado dia 6 de fevereiro com o
novo longa de Wes Anderson, Hotel
Budapeste. Ainda não se sabe se o Brasil
vai participar da competição. Em anos
recentes, o País venceu duas vezes o
Urso de Ouro – com Central do Brasil, de
Walter Salles. e Tropa de Elite, de José
Padilha, em 1998 e 2008.
O que já se sabe é que o Brasil estará representado, sim – e por dois filmes –, em outra importante
seção do próximo Festival de Berlim, o Panorama. Wieland Speck, o diretor artístico da mostra, já
divulgou quase 20 filmes de sua seleção. São filmes dos EUA, de Taiwan, das Filipinas e de Hong
Kong. Os brasileiros são os únicos representantes da América Latina, até agora. O Homem das
Multidões, de Marcelo Gomes e Cao Guimarães, foi livremente adaptado do conto de Edgar Allan
Poe. No recente Festival do Rio, onde integrou a Première Brasil, os diretores já anunciavam que iam
tentar levar o filme a Berlim. Conseguiram.
O Homem das Multidões conta a história de um personagem que é o oposto disso – um solitário
maquinista do metrô de Belo Horizonte, interpretado por Paulo André. Narrado com minimalismo, o
filme adota um intrigante conceito visual – isolam os personagens dentro de planos largos, usando
linhas e objetos que definem quadros dentro do quadro. É muito interessante, e fecha com as
pesquisas de linguagens de ambos os diretores.
Daniel Ribeiro dirige o outro longa brasileiro do Panorama 2014. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é
capaz de confundir o espectador que já viu o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, de 2010. O título
próximo não é mera coincidência. O projeto já existia como longa, mas até para conseguir levantar os
recursos, o diretor de São Paulo fez o curta, meio que a título de experimentação. Foi um sucesso.
Eu não Quero Voltar Sozinho, que conta a história de um garoto cego – interpretado por Guilherme
Lobo –, teve quase 3 milhões de acessos no YouTube e o número continua crescendo.
Vai aumentar ainda mais agora que a versão esticada vai para um dos mais importantes festivais de
cinema do mundo. Daniel Ribeiro já esteve em Berlim, no Talent Campus. Ele explica o título – “O
personagem reafirma seu desejo de independência. No outro filme era muito protegido. Desta vez,
quer voltar sozinho para casa.” Sobre filmar a cegueira, ele diz – “Não existem regras, mas Guilherme
(o ator) se impôs de cara com um olhar vazio muito interessante que ele construiu.”
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JORNAL DE BRASÍLIA -
Filmes nacionais no Festival de Berlim
(21/12/13) Os longas de ficção Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
, de Daniel Ribeiro, e O Homem das Multidões , de Marcelo
Gomes e Cao Guimarães, serão exibidos na Seção
Panorama do Festival de Berlim, que acontece entre os dias
6 e 16 de fevereiro de 2014.
O filme de Ribeiro partiu de seu curta Eu Não Quero Voltar
Sozinho, lançado em 2010 e que soma mais de 2,5 milhões
de visualizações no Youtube. O longa traz os mesmos
personagens que o curta, mais desenvolvidos, e mostra a
busca por independência de Leonardo (Ghilherme Lobo), adolescente cego que se apaixona por um
novo colega de classe.
FICÇÃO. Já O Homem das Multidões, gravado em Belo Horizonte, é inspirado em um conto de Edgar
Allan Poe e conta a história do maquinista de metrô Juvenal, interpretado por Paulo André. O filme
tem estreia prevista no Brasil em maio do ano que vem. Entre os 19 filmes já confirmados para
participar da seção, há produções dos EUA, Taiwan, Filipinas e Hong Kong. Os brasileiros são os
únicos representantes da América Lati- na, até agora. A abertura ficará a cargo do filme Yves Saint
Laurent, do diretor francês Jalil Lespert.
AGÊNCIA BRASIL - Filme
brasileiro O Som ao Redor está fora da disputa do Oscar
Marcelo Brandão
(21/12/13) O filme brasileiro O Som ao Redor ficou fora da disputa pelo Oscar de 2014. Na lista
divulgada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, o filme do
cineasta Kleber Mendonça Filho não figura entre os nove que continuam na corrida pelo prêmio na
categoria Melhor Filme Estrangeiro.
O longa-metragem foi escolhido pelo Ministério da Cultura para concorrer a uma indicação ao Oscar
2014.
O Som ao Redor é o primeiro longa-metragem do pernambucano Kleber Mendonça Filho, que dirigiu
vários curtas. O filme foi incluído na lista dos dez melhores de 2012 do crítico A. O. Scott, do jornal
americano The New York Times e recebeu prêmios em festivais de cinema de mais de 70 países.
O filme narra a reviravolta que ocorre em uma rua de um bairro classe média da zona sul do Recife
depois da chegada de uma milícia, que oferece segurança aos moradores. A personagem Bia,
casada e mãe de duas crianças, precisa achar uma maneira de lidar com os latidos constantes do
cão de seu vizinho. O longa é uma reflexão sobre história, violência e barulho.
Os filmes que seguem na disputa são The Broken Circle Breakdown (Bélgica); An Episode in the Life
of an Iron Picker (Bósnia e Herzegovina); The Missing Picture (Camboja); The Hunt (Dinamarca); Two
Lives (Alemanha); The Grandmaster (Hong Kong); The Notebook (Hungria); The Great Beauty (Itália)
e Omar (Palestina). A lista final dos indicados terá apenas cinco filmes e será anunciada no dia 16 de
janeiro.
O ESTADO DE S. PAULO –
Viajando na Cabeça dos jovens descolados: Matheus
Souza e Clarice Falcão sabem o que estão fazendo das suas vidas
Com 'Eu não Faço a Menor Ideia do Que eu Tô Fazendo com a Minha Vida', dupla mostra que pensa
a sua geração
Luiz Carlos Merten
(24/12/2013) Matheus Souza ainda estava na faculdade de cinema. Fez um filme que teve uma
madrinha poderosa, a produtora Mariza Leão. Matheus mal tinha deixado as fraldas – como se diz
brincando – e já estava nas salas com Apenas o Fim, de certa forma repetindo o fenômeno Bruno
Barreto, que também começou ‘muito’ jovem (com A Estrela Sobe, nos anos 1970). A coisa poderia
ter terminado aí, como um conto de fadas, mas Matheus ganhou novos padrinhos. Domingos Oliveira
fez saber a todo mundo que Matheus era ele, mais jovem. E surgiu Daniel Filho, ator em Eu não Faço
9
a Menor Ideia do Que eu Tô Fazendo com a
Minha Vida e diretor de Confissões de
Adolescente, em que Matheus é roteirista.
O garoto prodígio – está com 24 anos – toma de
assalto mais de 400 salas nesta virada de ano
com um filme e um terço. Talvez fosse mais certo
dizer – um filme e meio, mas é que Confissões foi
dirigido a quatro mãos por Daniel Filho e Cris
D’Amato. Somem-se a essas (mais de) 400 salas,
em janeiro, as 10 de Eu Não Faço a Menor Ideia.
Como um filme pode ter um título assim
quilométrico? Mais interessante que essa
pergunta talvez seja – por que o filme tem esse
título? Queridinho dos grandes, Matheus Souza
começou a fazer muita coisa. Fez a nova versão
de Confissões de Uma Adolescente, de Maria
Mariana, para o teatro, instalou-se na internet.
Um belo dia, sonso de tanta atividade, levantou-se e, ao se olhar no espelho, pensou consigo mesmo
– “Eu não faço a menor ideia do que tô fazendo com minha vida.” No minuto seguinte, pensou que
aquilo dava título de filme – que escreveu e realizou, há dois anos, embora somente agora ele
chegue ao circuito, lançado pela distribuidora Vitrine, de Sílvia Cruz. Vamos ser objetivos – Eu não
Faço a Menor Ideia não atraiu muita gente no fim de semana. Se você é jovem e não está na praia, o
que está fazendo? O filme interpretado por Clarice Falcão, Rodrigo Pandolfo e com participações de
Gregorio Duvivier, Leandro Hassum, Daniel Filho e Kiko Mascarenhas (entre outros), tem a sua cara.
Você vai esperar para baixá-lo na rede? Vai terminar perdendo o bonde – xiiiii, a expressão é antiga.
Denuncia a idade de quem está dizendo.
Em Eu não Faço a Menor Ideia, Matheus Souza está colocando na tela a geração internet. Twitter,
Facebook, como os jovens se comunicam hoje em dia? O que estão fazendo de suas vidas? O filme
é isso, sobre isso? Clarice Falcão virou um fenômeno na internet. Lançou um filme no YouTube,
colaborou com a mãe – Adriana Falcão – no seriado Louco por Elas, da Globo, estourou no Porta dos
Fundos, lançou até disco virtual. Clarice faz uma garota com cara de sonsa no filme. Não sabe o que
quer da vida, mas sabe muita coisa que não quer. Ao contrário da personagem, Clarice é esperta. E
centrada. Fala com carinho do pai (João Falcão), da mãe. “Família é tudo.” Nesse conceito de família
ela engloba Matheus Souza. “A gente fez faculdade juntos. Somos como irmãos.”
Na sexta, quando falava com o repórter pelo telefone, foi feito o anúncio da morte do cantor e
compositor Reginaldo Rossi. Você pode imaginar que o universo de Clarice seria muito distante do
dele, mas não. “Que triste! Tenho muito carinho por quem não tem vergonha de expor seus
sentimentos nem falar de amor. Pode me chamar de brega, mas eu gosto muito de música de amor.”
Num encontro no Rio, Matheus Souza disse que tenta não apenas reproduzir o diálogo do jovem,
mas também o que pensa e como age. O ser e o estar do jovem. Seu ídolo é um cara que já passou
dos 70 anos, na verdade tem quase 80. “Woody Allen é como um tio para mim. Encaro seus filmes
como presentes. Às vezes, o presente do tio não é tão bom, em outras é mais maneiro. E tem vezes
em que é um presentão, como agora com Blue Jasmine.” E a Cate Blanchett? Matheus faz cara e o
gesto de quem não tem palavras. Outro que curte demais é Judd Apatow. “Ele quebrou o paradigma
de beleza de Hollywood. Sabe aquela coisa, só gente bonita? Judd Apatow nos resgatou, os outros.
Gente como a gente. Glamour não é tudo.”
Trailer disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,matheus-souza-e-clarice-falcaosabem-o-que-estao-fazendo-das-suas-vidas,1111878,0.htm
'Eu Não Faço a Menor Ideia' e o mundo em que ninguém sabe o que faz da sua vida
Matheus Souza, por se identificar com seus personagens, é terno demais com eles
Luiz Carlos Merten
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Como se faz um retrato geracional? Federico Fellini, Domingos Oliveira, Woody Allen – todos fizeram
isso. Mas Fellini, ao retratar os adultos infantilizados de Os Boas Vidas, tinha mais de 30 anos (quase
35). Domingos era até mais jovem, tinha 30 quando fez Todas as Mulheres do Mundo. Em geral, é
preciso distanciamento para ser crítico. Outra forma de se fazer retrato de geração é simplesmente
colocando na tela, no palco, na música, o que se é, como se é.
É o que faz Matheus Souza. Boa parte da crítica já caiu matando sobre Eu Não Faço a Menor Ideia
do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida. Não é um grande filme, mas tem a cara de seus
personagens. Clara, interpretada por Clarice Falcão, é chata ou gracinha, vai depender de você. Mas
não é a atriz/comediante/cantora, é a própria personagem. Rodrigo Pandolfo não fornece um leque
tão amplo de opções – ele é ótimo.
Eu não Faço a Menor Ideia é sobre jovens na era da internet e no vórtice do consumismo. Diz alguma
coisa que a faculdade frequentada por Clara seja num shopping – mas isso não é ficção, é a
realidade – e que ela passe boa parte de seu tempo num boliche, onde conhece Guilherme
(Pandolfo). Clara está fazendo medicina, mas não tem a menor certeza de que é isso que quer. Por
isso mesmo, mata as aulas e fica inventando desculpas – dizendo mentiras – para os pais. Guilherme
é filho do dono do boliche e trabalha numa função singular – ele deve estimular os indecisos a
consumir mais.
OK, Matheus Souza não é nenhum Jean-Luc Godard, que em Masculino Feminino, nos anos 1960,
uma época de intensa transformação, fez o retrato de uma geração filha de Marx e da Coca-Cola.
Mas não é culpa de Matheus nem de sua geração que Marx tenha virado uma referência remota e
que a Coca-Cola tenha se estabelecido como receita de felicidade. Estimulada por Guilherme, Clara
inicia uma espécie de brincadeira. Ela deve imaginar qual é a verdadeira função de uma profissão, e
exercitá-la, para ver se é isso que quer. Na verdade, ambos – ele e ela – estão mais certos do que
não querem.
Eu não Faço a Menor Ideia transcende o retrato geracional porque é um filme sobre um mundo de
incerteza. Deixe os teens de lado, pegue os adultos. O pediatra é infantilizado, o cardiologista tem o
coração partido, o nutricionista (Gregório Duvivier, marido de Clarice na vida) é o maior guloso.
Ninguém sabe o que faz da vida, exceto, talvez, ganhar dinheiro para consumir, e esse é o mundo
real da vitória do capitalismo. Solidariedade virou tema de ficção científica, ou de Ken Loach, autor
que críticos inseridos no mundo globalizado chamam de ‘anacrônico’.
O maior problema, ou a maior qualidade de Eu Não Faço a Menor Ideia é que Matheus Souza, por se
identificar com seus personagens, é terno com eles. Ele teria feito outro filme, se fosse mais duro.
Mas não – Clara é seu alter ego, seus mestres são Woody Allen e Judd Apatow. E, como diz Clarice
no texto acima, a família é importante. Só que o filme não tem a mesma destreza ao mostrar Clara
tomando café só com a mãe (uma cena boa) ou almoçandeo com os pais (e aí a cena não convence).
Uma coisa é certa – se fosse hollywoodiana, essa comédia estaria atraindo muito mais gente.
Festival de cinema de Tiradentes divulga os selecionados para
a Mostra Aurora
ESTADO DE MINAS -
'A mulher que amou o vento', produção mineira de
Ana Moravi, integra a mostra
(25/12/2013)
Sete
longas-metragens
inéditos foram selecionados para o
segmento competitivo da Mostra de
Cinema de Tiradentes destinado a jovens
realizadores. Entre eles, estão quatro
produções mineiras
Sete longas-metragens inéditos foram
selecionados para a Mostra Aurora,
segmento competitivo da Mostra de
Cinema de Tiradentes destinado a jovens
11
realizadores. Quatro das produções são mineiras: A vizinhança do tigre, de Affonso Uchôa; Aliança,
de Gabriel Martins, João Toledo e Leonardo Amaral; O bagre africano de Ataleia, de Aline X e
Gustavo Jardim; e A mulher que amou o vento, de Ana Moravi. Os outros três selecionados foram
Bat-Guano, de Tavinho Teixeira (PB), Branco sai preto fica, de Adirley Queirós (DF) e Aquilo que
fazemos com as nossas desgraças, de Arthur Tuoto (PR).
Os filmes foram selecionados entre mais de 50 inscritos, todos de diretores com até três longas no
currículo. “A 17ª Mostra de Tiradentes confirma a tendência debatida na edição de 2013, de que a
regionalização é um fato também na produção independente. Os critérios de seleção partiram de um
pressuposto: um entendimento panorâmico dos estilos e dramaturgias em jogo no cinema brasileiro
contemporâneo”, afirmou o curador Cléber Eduardo.
Pelo segundo ano consecutivo, o melhor filme da Mostra Aurora segundo a crítica vai ganhar o
Prêmio Itamaraty, no valor de R$ 50 mil. Além disso, será agraciado com o Troféu Barroco e serviços
e materiais cinematográficos. O título vencedor pelo Júri Jovem leva o Troféu Barroco e prêmios em
serviços. Os sete filmes serão avaliados pelo Júri da crítica e pelo Júri Jovem, formado na Oficina de
Análise de Estilos Cinematográficos realizada na Mostra Cine BH em outubro. O evento em
Tiradentes será realizado entre 24 de janeiro e 1º de fevereiro.
TEATRO E DANÇA
CM& LA NOTICIA (COLÔMBIA) - Festival
Iberoamericano de Teatro de Bogotá declarado
Patrimonio de Colombia
(12/12/2013) La ley garantiza el apoyo del Estado para "el fomento, internacionalización, promoción,
financiación y desarrollo del Festival.
El Festival Iberoamericano de Teatro de Bogotá (FITB) fue declarado Patrimonio Cultural de la Nación
por el Gobierno de Colombia, informó hoy la organización del evento, que en la versión de 2014
contará con artistas de 26 países y tendrá a Brasil como invitado de honor.
La inclusión del FITB en la lista del patrimonio
nacional se hizo mediante la Ley 1686
aprobada el pasado 6 de diciembre por el
Congreso de Colombia, informó la dirección
del Festival.
"Declárase como Patrimonio Cultural de la
Nación el Festival Iberoamericano de Teatro
que se celebra cada dos años en la ciudad de
Bogotá", señala el primer artículo de la norma.
La ley garantiza el apoyo del Estado para "el
fomento, internacionalización, promoción,
financiación y desarrollo del Festival
Iberoamericano de Teatro de Bogotá como un producto y una manifestación inmaterial que
generaColombia para el mundo".
La dirección del Festival calificó como "una gran noticia" esta ley que reconoce los 25 años de labores
del FITB, fundado en 1988 por la actriz y empresaria cultural Fanny Mikey, nacida en Argentina y
naturalizada colombiana.
Fanny Mikey dirigió el festival hasta su muerte, ocurrida en la ciudad de Cali (suroeste) en agosto de
2008.
"Para nosotros es un orgullo, estamos felices pues sentimos que es un gran reconocimiento por parte
del Gobierno Nacional a nuestro trabajo, a la labor de Fanny Mikey por las artes escénicas del país, al
papel que juega el Festival en la transformación de la ciudad y de sus ciudadanos", manifestó en un
comunicado la directora Ejecutiva del Festival, Ana Marta de Pizarro.
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La decimocuarta versión del Festival se celebrará del 4 al 20 de abril de 2014, con la participación de
compañías y artistas de 26 países y con Brasil como invitado de honor.
EFE
ARTES PLÁSTICAS
O ESTADO DE S. PAULO –
Rodrigo Moura é o novo diretor de arte de Inhotim
Ele ocupa o cargo da coreana Eungie Joo
(19/12/2013) O Instituto Inhotim anunciou nesta terça, 18, que seu curador, Rodrigo Moura, foi
nomeado agora diretor de arte e programas culturais da instituição. Ele ocupa o cargo da coreana
Eungie Joo, que se tornou diretora de Inhotim em agosto de 2012. Eungie deixa a instituição
brasileira para se dedicar à curadoria da próxima Bienal de Sharjah, nos Emirados Árabes, marcada
para março de 2015.
Moura integra a equipe de Inhotim, museu a céu aberto em Brumadinho, Minas Gerais, desde 2004.
“É uma honra e um desafio ocupar este cargo depois de meus queridos colegas Eungie Joo e Jochen
Volz. Planejo trazer o foco para projetos solos em novas escalas, assim como dar atenção especial
ao cuidado e circulação da coleção”, afirmou Moura, em comunicado.
“Inhotim é uma instituição especial e agradeço aos meus colegas pela generosidade e suporte
durante minha passagem”, disse Eungie Joo. A gestão de Rodrigo Moura começa em fevereiro de
2014. Sua equipe será formada por Allan Schwartzman, curador-chefe do Instituto Inhotim, além dos
curadores Jochen Volz e Júlia Rebouças. O diretor executivo da instituição, criada pela empresário
Bernardo Paz, é Antônio Grassi.
A próxima grande realização de Rodrigo Moura em Inhotim é a abertura, programada para 2014, de
um pavilhão dedicado à fotógrafa Claudia Andujar. Outro projeto em andamento é a construção da
Grande Galeria, prevista para ser inaugurada até 2016.
ESTADO DE MINAS
- Cerâmica: Viagem emocional
Urnas cinerárias, trabalho de Neide Pimenta
(20/12/2013) Na exposição Ode, a artista
plástica Neide Pimenta apresenta duas
instalações (Vasos lacrimais e Urnas
cinerárias), um vídeo e duas fotos. O
trabalho se inspira em uma cerejeira
plantada em sua casa, referência de festas
durante a florada. Depois da poda, a planta
morreu.
Cinzas, poda e partes da árvore se tornaram
motivos de um trabalho que se refere tanto a
dores e perdas quanto à vida e ao mundo.
Em cartaz no Centro Cultural UFMG, Ode já
foi apresentada na Galeria Nello Nuno, em
Ouro Preto. Além das referências à cerejeira,
há vasos que, de acordo com Neide, evocam celebrações festivas ou funerárias em culturas antigas.
“Não priorizo nem forma nem objeto”, avisa ela, dizendo que as peças dão corpo a sentimentos e
memórias.
Apesar de as obras partirem de referências do contexto pessoal da artista, ela nega que seu trabalho
seja biográfico. “É investigação mais emocional, que carrega tensões e emoção”, explica. Também
servem de motivo temas como tempo, família e aspectos socioculturais, como as bateias que ela
expôs em Ouro Preto.
O trabalho com cerâmica surgiu de estudos com Adel Zouki no Centro Cultural Jambreiro, em Nova
Lima (MG). “Essa técnica mexe muito com quem se dedica a ela”, observa Neide Pimenta. A lida com
o barro induz, inevitavelmente, à imersão em temas transcendentes, revela.
Para Neide, há duas concepções ligadas à cerâmica no Brasil: a dos ceramistas, com sua busca de
objetos que surjam de formas, esmaltes e queimas perfeitas, e o uso do barro por artistas
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contemporâneos. Se os primeiros buscam a beleza estética, os outros se voltam para a expressão do
mundo com matérias cerâmicas. “É visão mais ampla. Ela não fica fechada em aspectos formais, mas
discute questões e incentiva a pesquisa”, conclui. (WS)
O GLOBO – 'Embaixador
da arte brasileira'
(22/12/2013) O carioca José Olympio Pereira, de 51 anos, é um dos grandes colecionadores de arte
moderna e contemporânea no país, com mais de mil obras, predominantemente de artistas
brasileiros. Seu nome está ligado ao conselho de diversas instituições, como Museum of Modern Art
(MoMa), nos EUA, Reina Sofía, na Espanha, e Tate Modern, no Reino Unido.
- Eu me vejo como um embaixador da arte brasileira. Essa participação em museus me permite
divulgar a nossa arte fora. Temos uma produção de artes plásticas de primeira qualidade.
O nome, ele herdou do avô, livreiro famoso. Mas o interesse pela arte, que afirma ter desde sempre,
recebeu forte influência da avó, Vera Pacheco Jordão, que inaugurou, em 1959, a coluna de artes
plásticas do GLOBO. Ele lembra que a primeira obra adquirida foi um quadro de Carlos Vergara.
Mas nem sempre o gosto pessoal coincide com o artista em evidência no momento. José Olympio
conta que, de primeira, não viu "a menor graça" na produção do artista plástico Vik Muniz. Ele foi
apresentado ao trabalho dele pelo marchand Marcantônio Vilaça, na fase em que o artista usava
chocolate em suas obras. Depois de um período, mudou de ideia.
- Não coleciono arte para investir. Comecei a olhar e pensei, 'estou errado'. Hoje em dia gosto muito
do trabalho dele.
Hoje, José Olympio está atento ao trabalho de novos artistas:
- Olhar gente nova é muito mais desafiador intelectualmente do que olhar quem já está consagrado.
Com esses artistas, você não sabe se está gostando porque é bom mesmo ou se foi influenciado pela
crítica ou pelo sucesso.
Seu mais recente foco de interesse é o trabalho de Odires Mlászho, artista paranaense que
representou o Brasil na Bienal de Veneza recentemente. Curiosamente, Mlászho lança mão de livros
como material básico para suas obras. (B.V.B. e J.L.)
ESTADO DE MINAS - Povo
no poder
Walter Sebastião
(23/12/2013) Com ano cheio de recordes, as artes plásticas se consagram como setor privilegiado do
lazer de qualidade. Novos espaços e festival de fotografia foram os destaques
Maior sucesso do ano, a mostra A magia de Escher atraiu mais de 200 mil pessoas às galerias do Palácio das Artes
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O mais importante personagem das artes visuais em 2013 foi… o público. Pessoas de todas as
idades e faixas sociais fizeram filas na porta de instituições para ver exposições e não esconderam o
seu encanto com o que viram. Movimento tão intenso que atingiu marca recorde em Belo Horizonte:
quase meio milhão de visitantes. Se a conta incluir os sempre expressivos número dos que visitam
Inhotim, na região metropolitana (315 mil pessoas), vai muito além dessa cifra. Estatística que fica
incalculável se acrescida dos dezenas de milhares que, atenciosamente, curtiram A terra vista do
céu, mostra de fotos do francês Yann Arthuis-Bertrand, caprichosamente instaladas nas grades do
Parque Municipal.
O sucesso de público colocou em evidência o crescimento da qualidade da programação de artes
visuais em 2013, talvez a mais expressiva e variada em décadas. Revelou também o quanto a boa
divulgação e o bom atendimento ao público são ingredientes que contribuem para que exposições de
arte se afirmem como lazer qualificado.
A exposição mais vista do ano foi A magia de Escher, no Palácio das Artes. Extensa e preciosa
mostra da obra de artista singular, o holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972). Apresentação de
face do modernismo pouco observada, que faz com que as formas tradicionais se voltem contra elas
mesmas, como faz, por exemplo, o escritor tcheco Franz Kafka com as fábulas, lendas e mitos. Toda
a longa tradição de figuração, ligada à precisão do registro, é usada por Escher para evidenciar
mundos labirínticos. O sucesso da mostra veio movido também por discutível – mas não
necessariamente negativo – uso de aparatos que criam ilusão de ótica. O que deixou sensação de
espaço saturado, incômodo para observação das obras do artista.
Portinari
O público consagrou também a exposição
Guerra e paz, dedicada a painel que
Portinari
(1903-1962)
fez
para
a
Organização das Nações Unidas (ONU).
Exposição de concepção sólida, bem
fundamentada
historicamente,
que
reafirmou o papel decisivo do artista no
modernismo brasileiro. Proporcionou algo
raro, o contato direto com conjunto
expressivo de obras do artista. O que
evidenciou aspecto que fica diluído em
reproduções: o excepcional pintor e a
qualidade da fatura pictórica. São pinturas
de calculado impacto e que chamam a
polêmica (daí toda a discussão que as
obras provocam). Um certo acordo entre inovação e aspectos tradicionais é opção do artista, que vê
na comunicação criativa com o espectador um valor político.
Fotografia
Este ano, o público ganhou uma aula completa sobre
fotografia moderna e contemporânea no Brasil. A parte
histórica foi apresentada em duas mostras: As origens
do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro
(1940-1960), no Centro de Arte Contemporânea e
Fotografia; e Coleção Itaú de fotografia, no Palácio das
Artes. Um panorama mostrando caminhos atuais da
fotografia veio com mostra especial, a melhor de 2013:
o Festival Internacional de Fotografia de Belo
Horizonte, com imagens de 32 artistas de 19 países,
em vários locais, entre eles as estações do metrô. E
duas belas mostras solo: a de Pedro Motta, na Celma
Albuquerque Galeria de Arte, e a de João Castilho, na
Funarte. Em todos os casos, esteve em evidência o
olhar sobre o mundo e, especialmente nos contemporâneos, a foto como arte.
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Contemporâneos
O melhor da arte contemporânea veio de mostras que jogaram luz
sobre artistas formados a partir dos anos 1960 e dos artistas que o
moldaram, autores que vão ganhando, merecidamente, lugar
importante na história da arte. Exposições que, voluntária ou
involuntariamente, revelaram o olhar e a sensibilidade
contemporânea, seja com relação ao passado ou ao presente. Como
a mostra Elles (CCBB), extenso panorama da produção de artistas
notáveis (com direito a expressiva presença de autoras brasileiras),
que sinalizou ainda o quanto o feminismo, que é contemporâneo ao
nascimento do pós-moderno, contribuiu para ampliação de temas e
conteúdos, e para o reconhecimento da singularidade de certas obras e visão mais aprofundada da
história da arte.
Pop-art
A mesma perspectiva pôde ser vista na ótima retrospectiva da carioca
Wanda Pimentel, na Manoel Macedo Galeria de Arte, com singular
pintura que faz dialogar pop-art, discussão da imagem e feminismo. Ou
na mostra de Amilcar de Castro (1920-2002), no CCBB, privilegiando
pintura que está nos limites da geometria e pluralidade de gestos postos
pela obra. A atenção contemporânea para imaginários não hegemônicos
pôde ser vista também na mostra Mira!, no Centro Cultural UFMG, com
127 obras de 54 artistas, de 27 etnias e de cinco países – Bolívia, Brasil,
Colômbia, Equador e Peru.
As pequenas
Nem só de grandes e panorâmicas exposições viveu o ano de 2013. Mostras deliciosas pela pequena
escala, excesso de compromissos históricos e estéticos, que proporcionaram observação
concentrada da singularidade de certos autores foram: Borracharia Duchamp, de Marcos Coelho
Benjamim, na galeria Murilo de Castro; e a de pinturas de Ricardo Homem, na AM Galeria de Arte. O
mesmo espírito brilhou em homenagem ao centenário do escultor mineiro G. T. O. – Gilberto Teles de
Oliveira (1913-1990), e em Universo Bordallo – Bordallianos no Brasil, no Museus de Artes e Ofícios.
Esta com cerâmica do português Rafael Bordallo Pinheiro (1846-1905), que também foi chargista.
Numeros de visitantes
82.958, CCBB; 83 mil, Cine Theatro Brasil Vallourec; 329.606, Palácio das Artes; 315 mil, Inhotim
Exposições mais vistas
203.668, A magia de Escher (Palácio das Artes)
83 mil, Portinari (Cine Theatro Brasil)
67.309, Elles (CCBB)
O ESTADO DE S. PAULO – Volpi
Total
Antonio Gonçalves Filho
(23/12/2013) Desde 1957, quando uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio
consagrou a arte do pintor Alfredo Volpi (1896-1988), não se via tanta agitação em torno daquele que
é considerado nosso maior pintor moderno. No dia 27 de março, quando for aberta outra grande
retrospectiva sua, desta vez na Galeria Almeida & Dale, uma nova etapa na carreira póstuma de Volpi
será inaugurada: a mostra será seguida pelo lançamento do catalogue raisonée do artista, que está
sendo preparado pela Base 7 (a mesma empresa responsável pelo catálogo deTarsila), e,
possivelmente, pela primeira grande mostra internacional do pintor, ainda em negociação (o Museu
Reina Sofia, de Madri, é um dos mais cotados).
Há tempos se fala numa retrospectiva de Volpi, que seria realizada na Tate Modern, em Londres,
mas o marchand Antonio Almeida descarta essa possibilidade. "Há, sem dúvida, interesse por sua
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pintura entre funcionários da Tate, mas não há confirmação
por parte da diretoria sobre a mostra", garante. É possível
que essa situação mude, pois a retrospectiva em sua
galeria deve atrair curadores estrangeiros que virão para a
feira internacional SP-Arte (de 3 a 6 de abril do próximo
ano). "Vamos organizar uma visita deles à exposição para
divulgar sua obra", revela Almeida, que promoveu este ano
uma elogiada retrospectiva do pintor paulista Aldo Bonadei,
modelo para a organização da mostra de Volpi em março.
Se o Brasil inteiro disputa Volpi, por que sua presença em
leilões internacionais é ainda tímida? O presidente do
Instituto Volpi, Marco Antonio Mastrobuono, um dos maiores
colecionadores de sua obra (ele chegou a ter mais de 80),
diz que os compradores nesses leilões estrangeiros são
brasileiros. "Acontece um fenômeno muito parecido com o
do cubano Wilfredo Lam, que é comprado por patrícios
residentes na Flórida." No mercado de leilões internacionais
existem ainda trabalhos remanescentes dos anos 1950 e
1970 levados por estrangeiros que conheceram Volpi no
Brasil, lembra Mastrobuono. Eles são colocados à venda por colecionadores em idade avançada,
como um francês que comprou telas de Volpi nos anos 1970, vistas com frequência nos leilões da
Christie’s.
Esse recente fenômeno dos leilões de casas internacionais comercializando obras de Volpi tem
despertado cobiça. Em maio deste ano, a casa de arte nova-ioquina Phillips retirou do leilão uma
têmpera em papel timbrado, sem título, dos anos 1970, após o Instituto Volpi questionar sua
autenticidade. A mesma Phillips vendeu no ano passado uma tela da série Fachadas, da década de
1970, por US$ 92,5 mil.
Dos 3 mil trabalhos executados por Volpi, pelo menos 300 deles são considerados de "autoria
questionável" pelo Instituto Volpi de Arte Moderna, criado por colecionadores para catalogar e
divulgar sua obra (recentemente cedeu obras em comodato ao MAC). "Por isso vamos parar no ano
1984, quando o mestre começou a apresentar dificuldades motoras e sinais do mal de Alzheimer",
adianta. E o que acontece com as telas datadas de 1985 a 1988? "Quem quiser que faça outro
catálogo", responde Mastrobuono.
Restauro das obras é maior problema dos colecionadores
Não são só os Volpis falsos que tumultuam o mercado do pintor no Brasil. Há uma preocupação
permanente entre os colecionadores sobre o restauro de sua obra pictórica, de técnica sofisticada,
antiga (têmpera), execução sutil e incomparável inteligência visual entre os modernos. "Para obter o
efeito de transparência, Volpi tinha de trabalhar a têmpera como quem faz uma aquarela, ou seja,
sem considerar a hipótese de um pentimento, comum na pintura a óleo, pois qualquer erro colocaria a
obra em risco", observa o colecionador Marco Antonio Mastrobuono, que acompanhou sua carreira e
foi amigo do pintor.
Volpi era um mestre no artesanato, além de grande artista, um dos poucos a executar murais e
afrescos na antiga tradição italiana, como o do Hospital do Jaçanã, em São Paulo (que fez com
Bonadei, Zanini e Manoel Martins, em 1949) e o painel O Sonho de Dom Bosco, uma das raras obras
públicas de grande porte do artista, pintada para o segundo andar do edifício do Itamaraty em 1966.
O afresco foi danificado durante as obras de reparação do prédio, atingido pela ação bárbara de
manifestantes durante os protestos de junho.
O Instituto Volpi recebeu denúncia sobre o estado da obra, cobrou uma resposta do Itamaraty e já
enviou ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) uma carta solicitando licença
para consultar um especialista em Amsterdã na esperança de salvar o afresco, bastante
comprometido. Como se sabe, o acervo do Itamaraty é tombado, assim como o prédio que abriga o
afresco dedicado ao patrono de Brasília, o que valeu ao governo críticas ao descuido com seu
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patrimônio artístico por ter esse mesmo governo baixado um decreto que permite monitorar coleções
privadas do País.
A curadora será a mesma, Denise Mattar, que conseguiu reunir trabalhos de todas as fases de Volpi.
"Isso porque me interessa mostrar onde começa a abstração em sua pintura", justifica a crítica,
revelando que a ênfase será, porém, nos anos 1950. Serão 60 pinturas, 25 delas emprestadas por
colecionadores, entre paisagens dos anos 1940, "bandeirinhas" dos anos 1960 e fachadas dos anos
1970, que muitos consideram seu melhor período - há controvérsia a respeito, embora seja uma das
fases mais procuradas, fato confirmado pela galeria Almeida & Dale, que vendeu mais de 200 obras
de Volpi nos dez últimos anos, algumas para o Norte e Nordeste do país, regiões que começam a
competir com São Paulo o direito de ter o pintor na parede (só a Fundação Edson Queiroz, de
Fortaleza, tem 27 telas de Volpi em seu acervo).
Slideshow com obras de Volpi disponível no link:
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,volpi-total,1111637,0.htm
CORREIO BRAZILIENSE - Fatia latina
(25/12/2013) A arte de países emergentes ainda
não está na mira dos compradores do Golfo
Pérsico, mas futuramente, quando as coleções
dos grandes museus precisarem olhar para além
da Europa, será possível o surgimento de algum
interesse pela América Latina. A gaúcha Marga
Pasquale, proprietária da galeria Bolsa de Arte,
decidiu investir na região. Todo ano, ela participa
da Art Dubai. Já fez sete edições do evento e, em
março de 2014, embarca de novo para o oriente
com obras de 10 artistas brasileiros na bagagem.
Na última edição, Marga vendeu trabalhos de
Nelson Leirner, Mario Cravo Neto e Shirley Paes
Lemes, esta última para uma fundação do Qatar. “A ideia que a gente tem do mercado árabe de
Dubai é a de um mercado de compradores árabes, mas nele há gente do mundo inteiro, é bem
internacional”, explica. “Eles possuem uma verba imensa para fazer coleções. O Qatar é quem mais
gasta no mundo. Certamente, em algum momento, vão chegar na arte da América Latina, mas
apontar nomes, por enquanto, é difícil.”
Muitos artistas brasileiros que ocupam o topo das lista de cifras de leilões são contemporâneos e
estão vivos. Na semana passada, a pintura O casamento, de Beatriz Milhazes, foi vendida por US$
1,025 milhão na Christie’s, que dedicou um dia de leilões para a produção latino-americana. No ano
passado, Meu limão, também de Milhazes, saiu por US$ 2,1 milhões. No leilão da última terça-feira, a
obra da artista carioca só ficou atrás do mexicano Rufino Tamayo, que saiu por US$ 1, 445 milhão.
Os contemporâneos saíram na frente durante a sessão latina da Christie’s: O relevo nº 285, de Sérgio
Camargo, foi vendido por US$ 749 mil e Sequência visual S-51, de Abraham Palatinik, por US$ 785
mil. Em 2011, outra artista passou a casa dos seis zeros. A tela da carioca Adriana Varejão foi
leiloada na Christie´s por US$ 1,049 milhão. “Não tenho a menor dúvida que nomes icônicos
brasileiros vão acabar indo para o Oriente Médio. Eles estão comprando cultura”, diz Eduardo Leme,
proprietário da Leme Galeria, no Rio de Janeiro.
MÚSICA
ESTADO DE MINAS – Mozart
em português
Orquestra Barroca do Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga de Juiz de Fora lança
CD com registro inédito no Brasil de Réquiem, com instrumentos de época
Ailton Magioli
18
(19/12/2013) Depois do Magnífico, de Bach, e de algumas sinfonias de Mozart e Haydn, entre outros,
chega a vez de Réquiem, de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), ganhar a primeira gravação
brasileira com instrumentos de época, a cargo da Orquestra Barroca do Festival de Música Colonial
Brasileira e Música Antiga de Juiz de Fora.
Sob a regência de Luís Otávio Santos, a Orquestra Barroca
do Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga de
Juiz de Fora gravou Réquiem, de Mozart
Preparando-se para comemorar, ano que vem,
o jubileu de prata, um dos mais importantes e
prestigiados eventos do gênero do país lança o
14º álbum que inclui o registro, inédito no Brasil,
daquela que é considerada uma das mais
aclamadas e populares obras do repertório
erudito.
Sob a regência do maestro e violinista Luís
Otávio Santos, 35 músicos gravaram Réquiem,
de Mozart, com direito à participação das 25
vozes do Conjunto Calíope, do Rio de Janeiro, cuja estreia, coincidentemente, ocorreu na edição de
1993 do festival juiz-forano.
Por se tratar de peça de fôlego, segundo o regente, a obra de Mozart exigiu interpretação cuidadosa
da Orquestra Barroca. “Fiquei contente com o resultado, que acho estar superior às muitas versões
de Réquiem que já experimentei e ouvi”, confessa o maestro Luís Otávio Santos.
Segundo ele, o Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga de Juiz de Fora não é apenas
um encontro marcado para estudantes de música do Brasil e do exterior. “Poucos eventos do gênero,
por exemplo, têm essa longevidade”, avalia, salientando que o objetivo principal do festival é a
formação de estudantes jovens, além de trazer o ensino de instrumentos de época para o país.
Atmosfera fúnebre
Na gravação de Réquiem, de Mozart, por exemplo, além de trompetes naturais, que não têm válvulas
como os atuais, a Orquestra Barroca usou o corno de basseto, espécie de clarineta tenor que acabou
caindo em desuso no decorrer do tempo. “É um instrumento adequado para a atmosfera fúnebre da
obra de Mozart”, explicando a importância do resgate do instrumento. “Mais importante ainda”,
assegura Luís Otávio Santos, “é a maneira de tocar o instrumento”. Conforme faz questão de lembrar
o maestro, o trabalho de pesquisa na área é muito longo e demanda tempo para estudos.
No mesmo disco, além de outra obra de Mozart (Ave Kerum), a música colonial está representada
pelo expoente máximo do gênero, o padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), por meio de
duas obras breves: os motetos Dies sanctificatus e Gradual de São Sebastião.
Apesar de o lançamento do disco já ter ocorrido, a Orquestra Barroca só se reúne por ocasião de
cada nova edição do festival.
O ESTADO DE S. PAULO – Livro
recupera trajetória do Roupa Nova
Em Londres: Para autora, músicos foram alvo de preconceitos ao
longo da carreira
Biografia oficial conta a história da banda que, forjada
pelo mercado, conseguiu sobreviver a ele
Renato Vieira
(23/12/2013) A questão da autorização prévia para
biografias no Brasil ainda não havia tomado a
dimensão dos últimos meses quando a jornalista
Vanessa Oliveira começou a escrever Tudo De Novo,
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livro que conta a história do Roupa Nova e leva em seu subtítulo a palavra "oficial". Mas, procure
saber: o adjetivo não caracteriza o livro como chapa-branca. Bem apurada, a publicação relata sem
maniqueísmo as personalidades de cada um dos seis integrantes, o preço do sucesso e,
principalmente, a capacidade de se adaptar dentro do mercado que os forjou.
Inicialmente, o grupo resistiu à ideia do livro. Na primeira reunião entre a autora e os músicos, em
2010, eles perguntaram a Vanessa se o livro seria publicado mesmo sem autorização. "Se vocês não
autorizarem eu coloco de graça na internet. A história de vocês precisa ser conhecida", foi a resposta.
Aos poucos, Cleberson Horsth, Ricardo Feghali, Kiko, Nando e Paulinho abriram suas casas,
corações e baús. A exceção foi Serginho. De personalidade reservada, não forneceu depoimento e
nem compareceu às sessões de autógrafos do livro.
"No caso do Serginho, tive de recorrer a outras fontes. Ele é uma pessoa que gosta de manter a vida
privada. Mas nada foi imposto em nenhum momento por nenhum deles, ninguém me impediu de
nada", afirma Vanessa, fã do Roupa Nova desde criança. Ela conta que sua principal motivação ao
escrever o livro era desfazer alguns mitos, entre eles o de que o grupo só fez sucesso por conta de
músicas em trilhas de novela.
Os integrantes do Roupa Nova começaram a carreira no final dos anos 1960, em conjuntos de baile
do subúrbio carioca. Na década seguinte se aglutinaram na banda Famks, com a qual registraram
diversos compactos, dois LPs e álbuns com sucessos do momento. Em 1979, o produtor Mariozinho
Rocha, então na gravadora Polygram, precisava de um grupo no estilo de A Cor do Som e 14 Bis
para seu elenco. Foi ele quem batizou o grupo, inspirado na música de Milton Nascimento e
Fernando Brant.
Baile. Mas foi graças a um impulso agressivo de um dos integrantes que o Roupa Nova passou a
existir definitivamente. O livro relata que o grupo chegou aos anos 1980 dividido entre o dinheiro
garantido como Famks e a possibilidade de uma carreira com nova denominação. Após um baile no
interior de Minas sob o antigo nome, vendo os colegas comendo churrasco com farofa e batata frita
de lanche, o guitarrista Kiko ficou paralisado e reagiu, chutando o tabuleiro com a comida. "É isso que
vocês querem? Porque não é isso que eu quero", disse. Foi - literalmente - o pontapé que faltava
para convencer os outros músicos.
A partir de 1984, com a ida para a RCA, o grupo chega ao seu auge comercial. O primeiro disco na
gravadora teve total interferência do produtor Miguel Plopschi. Tudo de Novo mostra que os
integrantes ficaram divididos entre entregar o álbum nas mãos de Plopschi, que queria torná-los mais
pop e comerciais, ou manter a linha dos álbuns anteriores, com repertório fornecido por compositores
alinhados com a MPB. A partir daí, o grupo emplaca hits como Whisky A Go Go e permanece nas
paradas de sucesso até o início dos anos 1990, quando o sertanejo e o pagode passaram a reinar
absolutos.
O renascer da banda acontece nos anos 2000, após o projeto Roupacústico, bancado pela própria
banda. A ideia inicial era de que o Roupa Nova gravasse um Acústico MTV. Mas a emissora negou a
proposta, alegando que a banda não atingia seu público-alvo. "Eles sofreram muito preconceito desde
o início, porque têm diversas influências e não se encaixam em nenhum estilo. Foi o talento deles e a
vontade de fazer música, além do contato com o público, que os fez permanecer na ativa", observa
Vanessa.
O livro também disseca os bastidores das colaborações do Roupa Nova com grandes nomes da
MPB. Milton Nascimento, fã de primeira hora da banda, chamou o grupo para fazer a base de duas
músicas do álbum Caçador de Mim (1981), entre elas Nos Bailes da Vida, e se tornou uma espécie
de padrinho da banda. Com Rita Lee e Roberto de Carvalho, eles participaram do álbum lançado pela
dupla em 1982, no qual consta Flagra e Cor de Rosa Choque.
E artistas internacionais também cruzaram seus caminhos com o do grupo, como o ex-Deep Purple e
vocalista do Whitesnake David Coverdale. Enquanto o inglês ficou encarregado de interpretar o jingle
de uma marca de cigarros, a banda fez a base instrumental. O cantor questionou a pronúncia de
trechos da letra e quase abandonou o estúdio quando o Roupa Nova tocou, de improviso, Smoke On
The Water. "Uau, nunca vi essa música ser tocada tão bem", disse ele. A partir daí, tudo transcorreu
sem problemas.
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LIVROS E LITERATURA
VALOR ECONÔMICO -
Em feitio de oração / Entrevista / Adélia Prado
José Castello
(20/12/2013) Adélia: "Toda pessoa tem dentro de si
espaços invioláveis onde é possível habitar. (...) Temos de
cuidar do nosso jardim, do confortável interno. Sem isso,
nos desidratamos psicológica, física e espiritualmente"
Rio de Janeiro - "Miserere", o novo livro de poemas da
mineira Adélia Prado (Record), leva ao extremo um
caminho que a poeta nunca abandonou: a mistura,
implacável, entre poesia e mística. Para Adélia, poeta e
místico lidam com os mesmos materiais: o mistério, a
unidade original, o inalterável caminho do homem da imperfeição rumo à perfeição. A miséria é,
portanto, uma condição intermediária, transitória, que só aponta para o próprio fim, como já saberiam
místicos e poetas.
Nesta entrevista, Adélia Prado expressa, delicadamente, um pouco de sua mágoa a respeito da
incompreensão que, por causa da aliança entre poesia e fé, sempre cerca sua poesia. "Já apodaram
o que escrevo de poesia de sacristia", desabafa, entristecida. Mas, contrita, prefere seguir a
admoestação de São Paulo: "Agir contra a convicção é pecado".
Por isso mesmo, o livro de Adélia é atordoante: ele trata, ao mesmo tempo, da profunda imperfeição
humana - expressa na fragilidade da linguagem - e de sua tendência inexorável ao reencontro com a
perfeição. Expõe feridas graves para, por meio delas, mostrar a porta da salvação. O forte fundo
religioso de seus poemas, contudo, não deve assustar os leitores agnósticos ou ateus. Ou mesmo os
que, ao contrário dela, não sejam cristãos, abracem outros credos. É uma poesia que, do início ao
fim, fala sempre do grande espanto que é viver. Dor e maravilha, paradoxo sem fim, que só a pena do
poeta - como a alma do místico - consegue integrar e acolher.
Em seus poemas, o universo inteiro, até mesmo Satanás, está contaminado pela miséria humana.
Ela escreve: "A Deus entrego meu pecados,/ entrego-os a quem pertencem,/ não a Satanás que é um
dos nossos/ e sofre também o tormento dos filhos/ que têm o Pai ocupado em alimentar pardais". Em
um mundo que é pura dor, pura miséria, a poesia aparece, para Adélia Prado, como uma forma de
salvação. Sobre a incompreensão que, tantas vezes, a cerca, ela pergunta, sempre perplexa: "Por
que é tão difícil aceitar um pobre crente pelejando para viver sua fé e escrevendo poesia?"
Valor: "Miserere" parece ser o livro mais triste que você já escreveu. Também aquele que vai mais
fundo nas relações entre poesia e mística. O que você pensa dessas duas avaliações?
Adélia Prado: A cada novo poema se confirma para mim o parentesco genético entre mística e
poesia. Braços de uma mesma e única fonte, que não está no poeta, mas lhe doa a água da qual
bebe e tenta expressar com mais ou menos acerto. Ambas, mística e poesia, me centram numa
dimensão de sentido e significação da vida e do mundo. São experiências que incluem
maravilhamento e dor. Todo místico, o que eu não sou, se expressa poeticamente, pois essa é a
única linguagem capaz, através de seus paradoxos, de esboçar palidamente as vivências
transcendentais ou mais propriamente espirituais. Eu sou apenas poeta e como tal muito feliz por ter
a mística como vizinha. Ambas experimentam o real, a mística em um grau que nem suspeitamos.
Lendo os místicos nos aproximamos do que falaram.
"Por que é tão difícil aceitar um pobre crente pelejando para viver sua fé e escrevendo poesia?",
pergunta a poeta, sempre perplexa
Valor: Seus poemas falam também de um mundo abandonado por Deus, onde "tudo segue a si
mesmo" naturalmente (está em "Pontuação"). Parece haver um fatalismo em sua poesia. Você é uma
mulher fatalista?
21
Adélia: Nunca. Não sou fatalista de jeito nenhum. Acho incongruente poesia e fatalismo, pois ela é
exatamente o que é vivo e novo a cada vez. Fatalidade é condenação. Poesia é voo e libertação.
Valor: Quanto mais seu misticismo se adensa, mais a vida lateja em seus versos. Talvez alguns se
surpreendam com esse misticismo que, em vez de elevar, leva para o chão.
Adélia: Poeta e místico são os que têm mais ferramentas para nos centrar na realidade, que muitos
acham que está no chão. A realidade não tem uma dimensão localizável. Experimentá-la é romper a
barreira da aparência. O que parece ser uma pedra apenas se revela a olhos atentos.
Valor: No belo "Lápide para Steve Jobs" você contrapõe o poder terreno de um grande homem - o
magnata da informática - ao desamparo provocado pela indiferença de Deus. Poderia falar dessa
indiferença? Em que medida ela nos lança em uma inexorável solidão?
Adélia: Já pensou se sentir criatura e não recorrer a um criador? É de desesperar. É mais que
solidão, é inferno.
Valor: Em outro poema, "Distrações no Velório", você fala da necessidade de suportar a existência e
também de um cansaço do mundo, expresso no desejo de fazer um retiro. Em nosso mundo
superpovoado, quase não restam chances para um retiro. Divinópolis é seu retiro?
Adélia: Às vezes, faço retiros. Recomendo os "Exercícios Espirituais de Santo Inácio". Não podendo,
toda pessoa tem dentro de si espaços invioláveis onde é possível habitar, fazer contatos, mesmo
dentro do bulício da casa ou do mundo. Temos de cuidar do nosso jardim, do confortável interno.
Sem isso, nos desidratamos psicológica, física e espiritualmente.
Valor: Você nos fala também, em "Pingente de Citrino", do frágil limite entre os atributos humanos.
Mostra o homem como um ser de paradoxos. Descobre súbitas semelhanças entre o que parece
absolutamente distante. O ser humano é indecifrável? Somos regidos pelo mistério?
Adélia: Tudo é mistério. E nós, um mistério que falamos a respeito. Ser misterioso não é
necessariamente ser indecifrável. Peço socorro a São Paulo: "Agora vemos de maneira confusa, por
espelhos, mas depois veremos face a face". Creio nisso.
Valor: Admiro muito um poema como "O Que Pode Ser Dito", que fala da imensa fragilidade da
linguagem, que deixa quase tudo de fora. Um dia, de repente, as coisas surgem à nossa frente. É
tudo uma questão só de saber olhar?
Adélia: Sem sair de si mesmo não aprendemos a ver nem a ouvir. Quando chega a graça, vemos e
não há como voltar atrás. Seria catastrófico. Tudo é uma questão de despertar. Sim, saber olhar.
Valor: Até que ponto literatura e religião, nas mãos de Adélia Prado, também experimentam essa
explosão de fronteiras?
Adélia: Na "Bíblia", em primeiro lugar, literatura e religião explodem às vezes com muito escândalo. A
beleza na poesia e Deus na fé podem ser muito desconfortáveis. Ver a circulação do próprio sangue
deve ser maravilhoso, mas não necessariamente relaxante.
Valor: No mínimo "Num Jardim Japonês", você escreve: "Ao minuto de gozo do que chamamos
Deus,/ fazer silêncio ainda é ruído". Pergunto: o ser humano está preparado para Deus?
Adélia: Creio que fomos criados por Deus e para ele. Estar despreparado é estar ainda inconsciente
de nosso destino eterno. Mas como fiéis e infiéis somos todos seus filhos, cada um será chamado e
despertará.
Valor: Você fala da naturalidade do cosmos, que se desenrola indiferente às aflições humanas.
Também é assim quando você escreve poesia - algo surge indiferente a seus desejos e aflições?
Adélia: Perfeitamente. Isso mesmo. Não diria indiferente, porque a poesia também é cosmos.
Valor: Em "Inconcluso", você nos fala de um sonho inconcluso que, no entanto, não parece levar ao
pessimismo. Você é uma mulher de sonhos? Os sonhos nos fazem bem ou fazem mal?
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Adélia: Sonho demais. Adoro sonhar. Os sonhos nos fazem bem, até os maus sonhos, que se
considerarmos com atenção é nossa alma nos mandando recados.
Valor: Já em "Sacramental", você pede a Deus perdão pelo desejo de ser perfeita - enquanto a vida
se desenrola imperfeita. Você parece colocar a vaidade entre os mais graves dos pecados. Vivemos
em um mundo de grifes, passarelas e superexposição. Como você se sente nele?
Adélia: Me sinto bem. Amo o mundo, o planeta, a vida, tão imperfeita e maravilhosa, a aventura de a
cada dia tentar amar melhor coisa e gente. Evito o que me perturba, o que pode me tirar do centro. A
tecnologia é bem-vinda. O problema não é a máquina, somos nós.
"Acho incongruente poesia e fatalismo, pois ela é exatamente o que é vivo e novo a cada vez.
Fatalidade é condenação. Poesia é voo e libertação"
Valor: Em "Sala de Espera", você escreve: "Tudo é igual a tudo,/ mas por agora a unidade nos cega".
Trata-se de uma crítica ao individualismo? Contudo, em uma realidade na qual estamos todos
solitários, não nos tornamos prisioneiras da unidade e do Um? É possível ultrapassar o individual? E
isso seria bom?
Adélia: Falo da origem comum de todas as coisas (big-bang). Não somos capazes agora (fora os
místicos e de novo eles) de experimentar a unidade de tudo. Temos que nos haver com a pluralidade.
A unidade é a vocação primeira do que existe, coisas e pessoas, voltar à origem. O casamento é uma
tentativa de unidade. O que tenta subsistir separado do resto é fadado à destruição. Precisamos das
coisas e uns dos outros. Só na unidade final, na Parusia, é que todos descansaremos, bicho, coisa,
gente e Deus. A unidade não tem a ver com individualismo.
Valor: No mesmo poema, você escreve: "Nunca me senti moradora,/ a sensação é de exílio". No
cenário da literatura brasileira contemporânea, você se sente uma solitária? Parece que o misticismo
é um dos obstáculos maiores de acesso e aceitação de sua poesia, que muitos confundem com
oração. Isso a incomoda?
Adélia: O problema religioso causa e sempre causará incômodo, porque apela sempre ao profundo
de cada um, obrigados a ver algo que não queremos. Supõe adesão, compromisso e a difícil
humildade de se admitir criatura, carente, imperfeita, necessitada de comida e de sentido. É mais
fácil, até certo ponto, ser descrente. As mais belas orações se revelam poesia. Por que a poesia não
pode mostrar-se como oração? Não gosto de dizer isso, mas sou obrigada se quero respondê-lo.
Quem não aceita a poesia por causa da oração desconhece uma e outra. Já apodaram o que escrevo
de "poesia de sacristia". Para tais pessoas, o ateísmo, a descrença, tem enorme charme. Continuo
escrevendo do mesmo jeito, porque não sou boba de desobedecer a São Paulo, um apóstolo muito
brabo: "Agir contra a convicção é pecado". Há poetas ateus maravilhosos. Há desesperados
maravilhosos, os suicidas, os loucos. Por que é tão difícil aceitar um pobre crente pelejando para
viver sua fé e escrevendo poesia?
Valor: Impressionam-me, muito, os versos - que me parecem ameaçadores - de "Rapto". Transcrevo:
"Quando a máxima atenção te deixa distraído,/ o sequestrador te pega/ e diferente daqui/ conhecerás
o lugar/ onde quem desperta repousa". Somos prisioneiros do susto? A vida está sempre onde não
esperamos que ela está? O mundo é dos sensitivos?
Adélia: O mundo é de todos, sensitivos, brutos, insensíveis, alienados, inteligentes. Mas é que, de
vez em quando, muito de vez em quando, uma janelinha se abre e botamos o pé num lugar diferente
e maravilhoso, onde a vida palpita com indizível esplendor. Não é nada ameaçador, pois já viramos
esse lugar sem compreendê-lo. É tão bonito que dá susto mesmo.
VALOR ECONÔMICO - Carlos
Lacerda "narra" romance do neto / Resenha / Fernando
G. Carneiro
Fernando G. Carneiro é cientista político
(20/12/2013) Rodrigo Lacerda não escreveu uma biografia, que fique claro. Ele criou um narrador que
conta suas memórias. Carlos Lacerda é o narrador desse livro que parece inaugurar um novo gênero.
Uma nesga de biografia autorizada misturada ao romance histórico descrito por um narrador criador
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que não o autor. Memórias pessoais do além já as temos. Mas esse artifício literário foi utilizado com
muito sucesso em "A República das Abelhas" ao se adicionar uma espécie de historicismo biográfico
periférico. Ou seja, à margem do narrador-personagem. Onde podemos observar pessoas e fatos por
uma ótica muito peculiar. O desafio seria casar a pessoa Carlos Lacerda com sua persona. Quem
acertou na dose foi o autor. Este vem a ser o neto do próprio Carlos Lacerda, o laureado romancista
Rodrigo Lacerda, radicado há muitos anos em São Paulo.
Temos um início de fôlego, com pitadas de sagas de Norman Mailer e Gore Vidal, decrevendo a
trajetória dos Werneck, alegando o narrador serem judeus alemães que ainda povoam em bom
número o Vale do Paraíba e lá chegaram via Açores. O ritmo é intenso e nos traz imagens dos
indígenas e do Brasil em formação, com descrições de padres e de candeeiros iluminando rostos em
assombrações. Como no tempo das missões.
Desde o início, o autor impediu que a voz do narrador ficasse caricata com ufanismos ou afins. Nas
passagens descritivas do desenrolar histórico, o tom tampouco se apresenta professoral. As
observações estão coalhadas de opiniões, e são editorializadas pelo narrador. Mas esse ponto de
vista é sempre contraditório, o que torna a empreitada da leitura muito mais crível. Seria difícil acertar
o tom, se não tivéssemos essas escolhas por parte do autor. Sim, temos revoluções de 1930, 32,
Intentona Comunista de 35 e todo o Estado Novo, pois a narrativa acaba antes da Redentora de 64.
Ao se ler tudo, parece que estamos ainda dias após a Proclamação da República. E o narrador era
apenas um observador, posto que era jovem e seu protagonismo foi mais tardio.
O autor foi "matando" o narrador aos poucos, descrevendo a aproximação do seu calvário logo no
início da obra, assim conseguindo algo inusitado. Teve sucesso em paradoxalmente dar mais vida ao
personagem-narrador. Em se tratando de Carlos Lacerda, viu-se que mesmo morto ou morrendo,
historicamente no ocaso político, já uma figura não tão amarga, mas talvez amargurada - há uma
elevação da "pessoa física" e não da "jurídica". O que não deixa de ser uma bela justaposição do
autor. O narrador fica mais acessível e "vivo" ao morrer, para poder narrar a história da nascente
república, com uma visão muito particular e interessante de seu avô Sebastião e de seu pai, Maurício.
Ainda assim o livro não tem uma lógica cartesiana cronológica. Temos vinhetas sobre o que seria a
política, na visão do narrador. Temos também trechos onde Carlos Lacerda faz exegeses sobre o que
pensava do próprio uso da retórica e oratória que são superlativos e didáticos. A metáfora do enxame
de abelhas comparada ao poder político foi bastante feliz.
Carlos Lacerda: metáfora do enxame de abelhas comparada ao poder
político foi feliz
De Lacerda pouco temos de Carlos. Ora, não somente o
pai e o avô - linha direta - tiveram um protagonismo
retumbante e inquestionável. Mas dois tios foram
secretários-gerais do PCB em épocas de efervescência
bolchevique. Daí ao erro histórico brasileiro de associar o
udenismo e lacerdismo a atraso golpista "de direita",
quando tudo o que foram eram carbonários da pior
espécie, em todos os sentidos. Nunca Plinio Salgado
estava com estes. Nem em momento de composição de palanque. O "atraso" era o getulismo
recalcitrante que não ouviu Maurício rogando por uma constituinte. Daí os "black blocs" serem hoje,
sem saber e de certa forma, reacionários.
O atraso está no poder desde sempre e os Lacerda foram derrotados, todos sumindo no degredo
pessoal e curiosamente terminando, sem exceção, em silencio sepulcral, ultrapassados pelo
reacionarismo que se cansaram de combater. Todos condenados ao ostracismo e a um cansaço que
nos fala pouco deles, mas muito dessa nossa nação.
Contamos com a História maiúscula, mas a "pesquisa de campo" do autor não esbarra ou atrapalha a
cadência do texto. Rodrigo Lacerda nos revela como o Brasil continua a ser a mesma "ideia" desde a
monarquia. Nada mudou, infelizmente. Esse talvez tenha sido o maior desafio do autor. O de narrar
eventos históricos sem que o texto pudesse soar como uma apostila, mas sim que viesse pontuado
por uma interpretação dos fatos pelo narrador. Ele não pode estar ausente, mas não necessita ser
protagonista todo o tempo. Outra vez, em se tratando de Carlos Lacerda, o desafio é complexo. Não
existe obra literária que não seja agostiniana. Todas vêm com pecados concebidas. Pode-se apontar
uma ou outra escolha como questionável, mas jamais algo que comprometa o edifício e estrutura do
todo.
Ao ler essas páginas compreendemos muito melhor a transição da monarquia para a república, e o
papel de destaque de Sebastião e Maurício de Lacerda. Nem tanto na formação do narrador, algo
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que não é muito estudado na biografia de Carlos Lacerda escrita por John Foster Dulles, mas um
pouco da visão do "país pelos pais". Outro jogo prosódico utilizado de forma brilhante.
Vemos que tudo fica igual ao mudar... Lutava-se pelo abolicionismo e republicanismo. Sai o
imperador e temos em pouco tempo um executivo republicano no nome, mas todavia imperial. E
nisso a família demonstra pendor para o viés parlamentar, dado que o "toma lá dá cá" do executivo
não apetecia aos humores sensíveis e iras profanas instadas no DNA do clã desde sempre.
O autor arrisca um belo solo literário ao introduzir um imaginário cão negro materializado,
entremeando suas aparições com o conhecido hábito do narrador de cultivar rosas. Rodrigo Lacerda
transforma o cão negro no seu "rosebud" orsonwelliano de forma literal, sem rodeios e rebolados.
Num trecho descritivo das roseiras, houve um "casamento" entre o cão e a flor. Que fique bem claro,
um "matrimônio fisionômico". E fechando a "coda" do livro com lacerdinhas, as vespas que
infernizavam cariocas nos anos 60.
Ao narrar o Sebastião avô, temos um personagem
complexo e multifacetado que, se não existisse, diriam que
era um "lego" de caricatura de obra de realismo mágico.
Nunca veremos um misantropo acumular tanto cargo
público. E essa também foi a trajetória de Maurício, filho de
Sebastião e pai do narrador. Essa sístole e diástole entre o
campo e cidade seria muito comum na Europa e pouco no
Novo Mundo. O retiro total no meio quase rural e as
atividades na capital. De ser parte do gentio, mas com
canudo de advogado (Largo de São Francisco, São Paulo)
debaixo do braço, o que dava diferencial. De a posteriori
convocar os militares "justicialistas" contra o coronelismo analfabeto do Vale do Paraíba - mas ainda
assim de forma velada e já com a ajuda do filho, que vem a ser o pai do narrador, mas com papel
destacado na obra.
Há muito de romance histórico na descrição do avô, no sentido de uma leveza (na melhor acepção do
termo) histórica descritiva entremeada com observações ricas e luxuriantes dos personagens que
brotam, tanto autoridades como parentes pincelados e sombreados à margem da tela. Mas ainda
assim o leitor fica muito preso à voz melíflua do narrador. Ele ainda dá o tom e as cartas. Trata-se de
um livro em que o narrador parece tomar a caneta das mãos do autor. E isso sempre se constitui
numa vitória para este.
"Carlos Lacerda: A República das Abelhas"
Rodrigo Lacerda. Companhia das Letras 520 págs., R$ 49,00 / AA+
AAA Excepcional / AA+ Alta qualidade / BBB Acima da média / BB+ Moderado / CCC Baixa qualidade
/ C Alto risco
O ESTADO DE S. PAULO - Literatura
policial ganha mais espaço no mercado em 2014
Celebrado por fãs, gênero comemora bons resultados deste ano.
(21/12/13) Dois bons anos para a literatura policial, que atrai uma
legião de fãs, é festejada no mundo inteiro e que ainda é
considerada por alguns como um gênero menor, de entretenimento:
o que está terminando e o que virá. Em 2013, ela chegou às finais
de importantes prêmios, ganhou um festival e inspirou um grupo
editorial a criar uma editora para se dedicar exclusivamente ao
gênero. Para 2014, a lista de lançamentos está repleta de livros de
mistério, de tribunal, de detetive, suspenses, thrillers, etc.
A realização da segunda edição da Pauliceia Literária, criada este
ano pela Associação dos Advogados de São Paulo e que trouxe
nomes como o advogado e escritor Scott Turow (25 milhões de
exemplares vendidos no mundo), ainda é incerta e é mais provável
que só ocorra em 2015. Mas há no horizonte de 2014 a realização
de um festival de filmes e romances policiais nórdicos, com
curadoria do finlandês Pasi Loman, dono da agência literária Vikings of Brazil.
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Loman conta que o gênero não chama mais só a atenção de editoras já conhecidas pelo investimento
em policiais, como Record, Rocco, Suma das Letras e Companhia das Letras. De acordo com ele,
nos últimos 18 meses, editoras de pequeno e médio portes começaram a testar o mercado. "Elas
estão conseguindo comprar títulos incríveis de autores de grande sucesso internacional que as
grandes editoras também gostariam de publicar, mas que não o fazem porque não têm espaço no
catálogo", conta. E dá alguns exemplos. "A Amarylis publicou o ótimo Queimado, de Thomas Enger; a
Nova Alexandria comprou três títulos de Torsten Pettersson, Arnar Ingolfsson e Karin Alvtegen, que
eram editados pela Record, e a Autêntica comprou títulos de autores que já venderam milhões de
cópias, como Leena Lehtolainen e Gunnar Staalesen."
O grupo mineiro Autêntica, aliás, fez um grande investimento na área ao inaugurar, em agosto, a
Vertigo. De lá para cá, foram lançados sete títulos, todos de autores desconhecidos ou pouco
conhecidos do brasileiro, e esse ineditismo é uma das apostas do diretor Arnaud Vin.
Uma curiosidade: em novembro, Pierre Lemaitre, de 67 anos, um desses "novos" autores, era
anunciado o vencedor do prestigioso Goncourt por Au Revoir là-haut enquanto outra obra dele,
Vestido de Noivo, saía da gráfica aqui. Dele, a editora lançará, em 2014, Cadres Noirs, um livro
violento sem nenhuma gota de sangue, na explicação de Vin.
"A Vertigo, hoje, é articulada em torno de três vertentes: o policial histórico, o policial escandinavo, ou
scandi crime, e o thriller", conta o diretor. Entre os lançamentos do próximo ano estão O Assassino e
o Profeta, de Guillaume Prévost, ambientado na Jerusalém do século 6; O Enigma da Rua de BlancsManteaux, de Nicholas le Floch; Indesejadas, de Kristina Ohlsson; Arrivederci Amore, Ciao, de
Massimo Carlotto, entre outros.
O ano de 2013 foi de surpresa para a Rocco, editora do best-seller John Grisham e de Benjamin
Black, pseudônimo de John Banville. Ela apostou no romance O Chamado do Cuco, do estreante
Robert Galbraith. Antes de lançá-lo, em novembro, a verdadeira identidade do autor foi revelada e a
tiragem, que poderia ter sido de 3 mil exemplares, saltou para 125 mil. Pudera, era a estreia de J.K.
Rowling, de Harry Potter, no romance policial. Ela, ou Galbraith, prepara um segundo livro, que
também está na programação da Rocco para 2014.
Outra aposta da editora é a britânica Sophie Hannah, de 42 ano, considerada a herdeira de Agatha
Christie. Sairão pelo menos três obras aqui: Hurting Distance, que deve ser a primeira, Kind of Cruel
e Lasting Dammage. Vale dizer que ela foi a escolhida pelo espólio de Agatha Christie para dar
continuidade às histórias do detetive Hercule Poirot, e trabalha nisso agora.
Entre os brasileiros com livros a serem lançados em 2014 está Patrícia Melo, também da Rocco, que
pela primeira vez terá uma protagonista mulher, e o advogado carioca Raphael Montes, de 23 anos,
finalista este ano dos prêmios São Paulo e Machado de Assis por Suicidas (Benvirá), que já vendeu,
desde 2012, 5 mil exemplares. Ele não ganhou os prêmios, mas chamou a atenção das grandes
editoras e terá seu segundo romance, Dias Perfeitos, lançado pela Companhia das Letras em maio.
Que o leitor não se engane com o título da obra. "É um suspense de amor obsessivo sob a visão do
psicopata estudante de medicina", adianta.
Muitos clássicos também estão previstos para o ano. A L&PM lança 30 títulos de Agatha Christie
(1890-1976) e a Globo prepara cinco lançamentos e três reedições da Dama do Crime. Já Raymond
Chandler (1888-1959) estreia no catálogo da Alfaguara em outubro com The Lady in the Lake e The
Long Goodbye.
FOLHA DE S. PAULO –
Em entrevista exclusiva, Ariano Suassuna diz que fez 'pacto
com Deus' para terminar livro
Fabio Victor, enviado especial ao Recife
(23/12/2013) "Mexeu com o físico, mas com a cabeça não buliu não. Se você quiser, recito todinho o
episódio de Inês de Castro, de 'Os Lusíadas'", brincou Ariano Suassuna, 86, na última terça-feira.
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Fazia alusão ao copioso trecho do clássico português,
mas deu várias outras provas de que falava a verdade.
Na tarde/noite daquele dia, quase quatro meses depois
de sofrer um infarto (agora ele revela terem sido dois) e
tratar um aneurisma cerebral, o escritor e dramaturgo
recebeu a Folha em sua casa no Recife para uma
entrevista exclusiva, a primeira depois de duas
internações e do repouso forçado.
Dizendo-se cansado, optou por falar deitado em sua
cama. Acabara de posar para fotos e na véspera
retomara suas aulas-espetáculos com um tributo ao
compositor Capiba, uma palestra intercalada por shows
de música e dança que durou 1h45min.
Mais magro que o habitual e aparentemente mais fraco
(recusou o lanche que lhe chegou, uma fatia de bolo e
água de coco), mantém, porém, a cabeça a mil. Em uma
hora de entrevista, não perdeu em nenhum momento a
lucidez ou a argúcia.
Recitou de memória versos inéditos de sua autoria que estarão no romance em que trabalha há 33
anos e cujo primeiro volume, após seguidos adiamentos, ele diz ter enfim concluído, sob pressão dos
problemas de saúde.
Para pôr fim ao primeiro livro daquela que considera a obra de sua vida -e que deverá ter sete
volumes, mesclando romance, poesia, teatro e gravura-, Ariano afirma ter tido uma ajuda divina.
"Fiz um pacto com Deus: se ele achasse que o romance tinha alguma coisa de sacrílego ou de
desrespeitoso, que interrompesse pela morte."
A obra concluída -ainda sem previsão de lançamento- será um romance epistolar, chamado "O
Jumento Sedutor", homenagem a "O Asno de Ouro", do escritor Lucius Apuleio, do século 2. A série
completa levará o nome de "A Ilumiara".
O autor de "Romance da Pedra do Reino" e "O Auto da Compadecida" falou ainda sobre morte e a
aversão que sentiu da UTI e de política.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Folha - O sr. enfrentou problemas graves de saúde, acaba de pular uma fogueira braba...
Ariano Suassuna - [interrompendo] Na verdade eu pulei três fogueiras: eu tive dois infartes e um
aneurisma estourou no meu cérebro.
Foram dois infartos, então?
Foram.
Pois é, e depois de quase quatro meses entre internações e repouso, o sr. retomou as atividades
públicas ontem numa aula-espetáculo. Como se sente?
Eu fazia muita questão de dar essa aula. Eu disse para mim mesmo que só não dava a aula se não
tivesse a menor condição. E queria avaliar minhas forças, para saber se podia continuar, dentro
desse pequeno prazo que a gente ainda tem [no mandato de Eduardo Campos, que deixará o cargo
até abril para disputar a Presidência], podia continuar a programação que a gente vinha seguindo [de
aulas-espetáculos]. Combinei que a gente faria essa no Recife e, de acordo com o comportamento do
meu corpo, a gente daria outra em Pombos [agreste de PE].
Deu para avaliar como o corpo reagiu?
Deu. Dá para ir, senti que dá para retomar num ritmo mais leve.
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O sr anda falando muito o nome da Caetana, que é como o sr chama a morte. De onde vem esse
nome?
No sertão da Paraíba e de Pernambuco chamam a morte de Caetana.
Que é uma moça, mas pode ser também uma onça...
Não, isso aí [de ser onça] já foi invenção minha. Eu aproveitei e comecei a recriar literariamente um
mito que foi criado pelo povo. Como o povo sertanejo é machista, só criou a morte feminina. Aí eu, de
minha parte, já inventei a contrapartida masculina. Eu acho que a morte aparece como mulher aos
homens e como homem às mulheres.
E com que nome?
Caetano.
O sr. já disse que se recusava a morrer e que toda morte é como um suicídio. Como essa experiência
afetou o modo com que o sr. lida com ela?
Não afetou não. É claro que, objetivamente, eu sei que vou morrer. Não sei se você já notou, mas
nenhum de nós acredita que morre, o que é uma bênção. A gente se porta a vida toda como se
nunca fosse morrer, o que é muito bom. Porque se a gente for pensar na morte como uma coisa
fundamental, inevitável e próxima, a gente vai perder o gosto de viver, vai perder o gosto de tudo. Eu
digo isso procurando verbalizar uma inclinação que acho que é de todo mundo. A gente tem uma
tendência a acreditar que não morre.
[Pensar que vai morrer] prejudica um pouco a qualidade de vida, e eu sou um apaixonado pela vida,
amo profundamente a vida. Olhe que essa maldita tem me maltratado, mas eu gosto dela.
No "Romance da Pedra do Reino", Quaderna tem um sonho no qual a Caetana [a morte] como que
dita para ele palavras de fogo. O sr. teve algum sonho ou alucinação durante este período?
Não. Ordinariamente não tenho... Às vezes eu tenho uns sonhos que se transformam em literatura.
Tenho um poema chamado "Sonho" que foi um sonho. E às vezes quando não estou acordado ainda,
mas não estou mais dormindo, é o momento em que invento muita coisa, muito criativo.
Essa experiência mudou alguma coisa no seu jeito de perceber o mundo e as pessoas?
Não. Poucos dias antes de adoecer eu dei uma entrevista em que me perguntaram se eu tinha medo
da morte. E eu disse: eu não gosto de contar valentia antecipada, acho que a gente só pode dizer
que não tem medo de alguma coisa depois de enfrentá-la. Agora, até onde eu vejo, eu não tenho
medo da morte. Eu tenho pena de morrer sem ter realizado certas coisas. Por exemplo: se visse que
não dava para terminar o romance que escrevo, aí teria muito pena de morrer.
Engraçado, quando eu estava lá [no hospital] nos primeiros momentos, que descobri que tinha tido
um infarto –fui saber disso no hospital– eu me agoniei muito porque tinha deixado o manuscrito aqui
[em casa]. Eu disse: preciso conversar com Carlos Newton [Junior, professor universitário,
especialista na obra do escritor], dizer a ele como era, para levar adiante [o livro].
Primeiro eu dividi o livro grande em vários livros. Cada capítulo do livro é escrito em forma de cartas,
sob certo aspecto é um romance epistolar, e toda carta termina do mesmo jeito. Porque eu digo lá
que fiz um pacto com Deus, e fiz mesmo: se ele achasse que o romance tinha alguma coisa de
sacrílego ou de desrespeitoso, que interrompesse pela morte –coisa com a qual desde agora eu me
declaro de acordo. Meu acordo não vale nada num caso desse, mas por outro lado tem uma
vantagem. É que eu dou ideia da minha conformidade e da minha resignação e tô conseguindo, com
a minha megalomania, um parceiro extraordinário.
O primeiro volume são seis cartas, todas seis terminam do mesmo jeito, com as mesmas palavras.
Qual é o jeito, quais são as palavras?
[uma assessora afirma: "Não diga o que não puder dizer"] A gente tem uma tendência a responder a
verdade, né? É uma tentação desgraçada. Bom, todas terminam com um verso, um martelo gabinete
e um martelo agalopado [martelos são formas poéticas usadas pelos cantadores nordestinos]. O
martelo gabinete é um martelo de seis versos de dez sílabas, e o martelo agalopado são dez versos
de dez sílabas.
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Deixa eu ver se me lembro do martelo. Diz assim: "O circo, sua estrada e o sol de fogo/ Ferido pela
faca na passagem/ meu coração suspira sua dor/ entre os cardos e as pedras da pastagem./ O
galope do sonho, o riso doido/ e late o cão por trás desta viagem".
E o martelo agalopado diz: "Pois é assim: meu circo pela estrada/ Dois emblemas me servem de
estandarte/ No sertão, o arraial do bacamarte/ Na cidade, a favela consagrada/ Dentro do circo há
vida, onça malhada/ Ao luzir do teatro o pelo belo transforma-se num sonho, palco e prelo/ e é ao
som deste canto na garganta que a cortina do circo se levanta para mostrar meu povo e seu castelo".
Então se eu morrer o romance está terminado. E para justificar isso eu cito uns versos de Fernando
Pessoa dos quais eu gosto muito. Ele fala do navegador que descia a costa da África à procura do
caminho das Índias e, quando ele parava em algum lugar na costa da África, plantava um marco. Ele
diz: "O esforço é grande e o homem é pequeno/ Eu, Diogo Cão, navegador, deixei/ Este padrão ao pé
do areal moreno/ E para diante naveguei./ A alma é divina, a obra é imperfeita./ Este padrão sinala ao
vento e aos céus/ Que, da obra ousada, é minha a parte feita:/ O por-fazer é só com Deus".
O sr. já deu por encerrado o trabalho várias vezes, mas sempre o retomou. Os acontecimentos
recentes forçaram o sr a finalmente encerrar pra valer?
Forçaram. Eu me forcei a dar o ponto. Mas repare bem: mesmo assim, só há poucos dias eu tomei a
decisão definitiva. Primeiro, eu, com medo por causa do infarto, decidi que publicaria as duas
primeiras cartas. Depois do infarto, já em casa, resolvi que dava para juntar mais duas, quatro.
Depois mais duas, seis. O primeiro volume está concluído.
O nome do primeiro volume, "O Jumento Sedutor", está mantido?
Está mantido. O nome geral é "A Ilumiara".
Serão cinco volumes?
Eu acho que são sete. Mas o por-fazer é só com Deus.
Numa entrevista que me deu há dez anos, o sr. contou que o protagonista do livro se chama Antero
Savedra, e o antagonista é Quaderna [da "Pedra do Reino"]. Isso está mantido?
Está mantido, mas o negócio ficou mais complexo, porque Antero Savedra desdobrou-se. Fiz de
Antero Savedra um alter ego mais próximo de mim, e criei uma outra máscara chamada... Porque o
nome Antero é muito importante... São quatro irmãos: Altino, Auro (ou Áureo), Adriel e Antero. Altino
é poeta; Áureo é romancista; Adriel é dramaturgo; e Antero é encenador e ator. Antero diz que tem
um parentesco com Orestes e Hamlet, ambos filhos de reis assassinados. Ele cita inclusive uma frase
de Hamlet, que diz: "Sou arrogante, vingativo, ambicioso; tenho mais crimes na consciência do que
[pensamentos para concebê-los, imaginação para desenvolvê-los,] tempo para executá-los".
Então ele procura um alter ego mais manso, mais conciliador, capaz de perdoar os inimigos. Ele diz
uma hora que tem mais facilidade de rezar a Ave Maria do que o Pai Nosso, porque no Pai Nosso se
diz "perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos...".
Agora, o nome dele de verdade é Paulo Antero. Aí ele assina os primeiros versos P. Antero Shabino.
E o Savedra não tem mais?
Tem, a família é Shabino de Savedra, todos os dois escritos com s. Paulo Antero Shabino, e ele
assina P. Antero Shabino. Os inimigos começam a chamá-lo de Pantero, depois Dom Pantero. Ele aí
adota o nome. Quando cria o outro alter ego é Dom Pantero.
"A Ilumiara" tem dois nomes [subtítulos]: "A Ilumiara - Autobiografia musical, dançarina, teatral,
poética e videocinematográfica". Na página seguinte tem: "A Ilumiara - Romance musical, dançarino,
teatral, poético e videocinematográfica."
E tem uma epígrafe de um professor daqui, que foi meu aluno e de quem eu gosto muito –Roberto
Motta, filho de Mauro Motta–, ele escreveu um dia num artigo de jornal: "Todos os livros são
autobiografias. Mas ele conhece os segredos das máscaras com que nos defendemos da morte".
Esse primeiro volume já pode ser lançado em breve?
29
Ainda vai depender. Eu terminei meu texto. Mas ele está grande, em folhas de tamanho ofício.
Precisa ser reduzido para o tamanho do livro. As ilustrações eu fiz, já estão prontas. Tem muita
ilustração baseada em pintura rupestre. Porque eu quero pegar a cultura brasileira desde o começo
mesmo, mostrar que isso aqui não envelhece não. Uma obra de arte está feita para ser
reinterpretada, revista, revisada. E também me baseei muito em desenhos barrocos.
Os outros volumes vão todos seguir a forma epistolar?
Vão.
O sr. vai incluir essa fogueira que pulou?
Vou. Mas não nesse primeiro volume. E vou incluir uma coisa que foi muito importante para mim e
aconteceu ao mesmo tempo [da internação]: a morte de [Gilvan] Samico [gravurista pernambucano
morto em novembro]. Considero Samico um artista de importância mundial. Para mim não há em
nenhum lugar do mundo –Alemanha, França, Rússia, Estados Unidos, Inglaterra– um gravador como
ele. Para mim foi o gravador de nossa época, no mundo inteiro.
Do ponto de vista formal ele é incomparável. Pela importância dele para o nosso tempo e o nosso
país... Ele significa para o Brasil o que Goya significa para a Espanha e Dürer para a Alemanha.
O sr. incluirá figuras públicas entre os personagens do romance?
De certa maneira sim. Não são personagens propriamente, faço alusões. Tem um momento em que
escolhi sete pessoas importantes do Brasil: um arquiteto negro e analfabeto do Estado do Rio de
Janeiro chamado Gabriel Joaquim dos Santos, por quem tenho grande admiração, é o autor da Casa
da Flor. Escolhi Villa-Lobos, e sai por aí...
Do que mais sentiu falta na internação. Conseguiu ler e escrever?
Olhe, um dos piores lugares do mundo é a tal da UTI. Vixe, nossa senhora, que lugar horroroso. A
pessoa não tem privacidade para coisa nenhuma, uma coisa horrível. Não tem autonomia, é ruim
demais. Ficar no hospital no quarto eu até não reclamo muito não. Mas a tal da UTI... Minha atividade
nesse período foi zero.
O sr. tem uma ótima memória, que já definiu como "memória de cachorro vingativo". Ela está intacta?
Está, mexeu com o físico, mas com a cabeça não buliu não –a cabeça está boa. Se você quiser eu
recito o episódio de Inês de castro, de "Os Lusíadas", todinho [risos].
O sr. sempre apoiou Lula e Dilma e sempre apoiou também Eduardo Campos. Mas em 2014 eles
serão adversários. O sr já declarou apoio a Campos. Isso significa rompimento com Lula e Dilma?
Vejo as coisas muito individualmente. Não simpatizo muito com o PT. Nunca dei declaração [de apoio
ao PT], senão no começo [do partido], quando eu dizia que os partidos precisavam ter alguma coisa
das antigas ordens religiosas, e o único que eu via nessa linha era o PT. Nesse tempo o dr [Miguel]
Arraes não tinha entrado no PSB –o PSB era uma academia de letras, não tinha eficácia política
nenhuma. Quando dr. Arraes veio me procurar, eu disse a ele que entrasse no PSB. Ele disse que
precisava fazer coligação e que entraria no PMDB. Agora, quando ele entrou no PSB, aí eu entrei –
nunca tinha entrado num partido político.
Então eu sempre faço uma diferença. Lula é Lula. Não faço restrição nenhuma a Lula, continuo um
entusiasta dele, do mesmo jeito que fui quando ele era presidente. Agora, pelo meu gosto, Lula
apoiaria Eduardo. Nem houve rompimento com Dilma, gosto muito dela também, mas meu
relacionamento com ela é menos fraterno do que com Lula.
Acredita que há chance concreta de Eduardo Campos ser eleito presidente?
Isso eu não sei não. Vou fazer como Capiba [compositor pernambucano morto em 1997]. Ele era
torcedor fanático do Santa Cruz, e ia haver um jogo muito importante do Santa Cruz no domingo. Um
jornalista telefonou a ele pedindo opinião sobre o jogo. Ele deu várias opiniões, até que o jornalista
perguntou: "E qual vai ser o placar?". Aí ele disse: "Me telefone segunda-feira". Me telefone no dia
seguinte à eleição que eu digo.
O sr. costuma dizer que conhece Eduardo Campos desde menino, que foi amigo do pai e do avô
dele. Trata-se de um apoio mais afetivo que político?
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Não, veja bem, eu digo isso realmente, e é verdade: Dudu foi companheiro de infância de meus
filhos, morava aí na frente [numa casa defronte à do escritor], vivia aqui em casa. Então tinha uma
relação afetiva com ele de um tio para um sobrinho. E ainda mais ele casou-se com uma sobrinha de
Zélia [mulher de Suassuna].
Mas eu digo, e realmente é: considero Eduardo Campos o político mais brilhante que já conheci. Ele
é de uma capacidade de articulação que você não pode imaginar. Outra coisa: é paciente, é
obstinado. Ele tem todas as qualidades de um político. Eu digo sempre: um político tem que ser
astucioso, principalmente se ele for boa pessoa. Porque senão ele cai –não faz safadeza, mas cai na
mão dos que fazem.
Há críticas ao fato de ele se utilizar dos mesmos métodos que critica. Fez campanha pra eleger a
mãe para o TCU, formou uma coalizão de 14 partidos, com aliados como Inocêncio Oliveira e
Severino Cavalcanti. Com o sr. vê essas críticas?
Entram por um ouvido e saem pelo outro. Isso é uma necessidade da ação política. Achei até muita
graça quando Inocêncio Oliveira o apoiou. Estava todo mundo cortejando o apoio de Inocêncio, o PT,
todo mundo. Quando ele apoiou Dudu, vieram dizer que ele aceitou o apoio de Inocêncio Oliveira.
Política é assim mesmo. Eu é que não gosto de fazer esse tipo de coisa nunca entrei na política e
nunca entrarei.
E como avalia a gestão Dilma?
Não sou homem político, sou um escritor que tem preocupações políticas, com meu país e com meu
povo. Eu gostava mais do governo de Lula. Tô gostando do governo de Dilma. Entre Dilma e o PSDB,
prefiro Dilma. Mas entre Dilma e Lula, prefiro Lula.
O sr. é bacharel em direito, foi advogado, nos principais livros do sr há julgamentos. Como o sr. viu o
julgamento do mensalão no Supremo? O que achou do resultado?
Aquilo foi uma coisa triste. O que acho triste ali é que de repente houve uma crispação desse
problema. Não tenho elemento pra provar nem ninguém tem, mas a gente sabe que isso não foi
inaugurado naquele momento. Essas práticas existiam em todos os governos e tem havido até agora.
Se você não fizer isso você não governa. Tem que questionar a própria existência do Congresso. É
bom que exista o Congresso? Eu acho que é. Agora, no Congresso existe esse tipo de coisa? Existe
e vai continuar existindo.
A compra de apoio político?
Sim. Sim. Todo mundo sabe que essa ideia de dois mandatos não foi obtida de graça não.
O sr. se refere ao esquema de compra de votos no Congresso para aprovar a emenda da reeleição
durante o governo Fernando Henrique Cardoso [revelado pela Folha em 1997, mas nunca
investigado]...
Sim.
O sr. é um homem muito religioso, católico devoto de vários santos. Qual avaliação faz do novo papa,
Francisco, dos primeiros passos do pontificado dele?
Ah, eu estou entusiasmado com esse papa. Logo no início. Só o fato de ele ter escolhido o nome de
Francisco, vi logo que ele era alguma coisa de novo. Era o que a Igreja estava precisando. Estou
entusiasmadíssimo. Eu de certa maneira acompanhei, porque um grande amigo meu foi para lá fazer
a cobertura, que é Gerson Camarotti [comentarista e repórter do canal Globo News], e conversei
muito com Gerson. Até fiz uma introduçãozinha para o livro dele ["Segredos do Conclave", Geração
Editorial, 304 págs., R$ 34,90].
Olhe, ele foi o primeiro papa jesuíta, o primeiro chamado Francisco e o primeiro papa latinoamericano. Três novidades de uma vez.
CORREIO BRAZILIENSE - Inspiração
no cárcere
Livro de Pedro Tierra, pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva, resgata poemas escritos nos anos
em que esteve preso, durante a ditadura militar
Vanessa Aquino
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(25/12/13) Pedro Tierra era o nome utilizado no período da resistência a
repressão da ditadura militar. Atualmente, é o pseudônimo do poeta
tocantinense e secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira da
Silva, que dá voz ao livro A Palavra contra o muro — registro em versos da
capacidade humana de resistir às agruras da tortura e do cárcere. Mas, afinal,
em que pensa alguém quando é colocado contra o muro? “(Ele) pensa que a
sua humanidade tem que vencer o medo. A possibilidade dele voltar a encarar
o espelho com serenidade depende do comportamento que terá diante dos
seus algozes”, afirma o autor.
Hamilton sentiu na carne a violência da opressão de um dos períodos mais
difíceis da história do Brasil — foi torturado e quase morto durante os cinco
anos em que esteve preso (1972/1977). “Os poemas foram escritos quando eu passei pelo DOI
CODI, DOPS, Presídio Tiradentes, Presídio do Hipódromo, Carandiru e Presídio Barro Branco. Os
poemas refletem um ambiente que se abateu pelo país, definido como anos de chumbo. É um livro
duro, difícil, de testemunho”, diz Hamilton.
Enquanto esteve preso, amigos buscaram contatos na Alemanha para subsidiar a publicação do livro.
Segundo Hermann Schulz, primeiro editor do poeta, os manuscritos de Pedro Tierra chegaram à
Europa em meados da década de setenta. “Foram-me oferecidos por um homem que até então eu
desconhecia, chamado José Ferreira. Tencionavam, com a publicação dos poemas, arranjar recursos
para o movimento de oposição no Brasil, escreveu-me Ferreira de Paris; e que o autor estava preso
havia três anos por motivos políticos. Fora tarefa extremamente difícil conseguir que os textos
saíssem clandestinamente da prisão.”
Na época, as poesias de Pedro Tierra acabaram sendo incluídas no livro Um novo céu — uma nova
terra, que vendeu 35 mil exemplares. Quase 40 anos depois, os poemas ganham coletânea com a
ideia original de transpor os versos para a língua alemã, acompanhados pelos originais em
português. “O interessante é que, em abril do próximo ano, vamos completar 50 anos do golpe militar,
o golpe de Estado que derrubou o Jango. Esse ato foi responsável pela noite de 21 anos que o livro
denuncia, de massacre, de exílio. Os poemas não se dobram, eles denunciam”, revela.
Sobrevivência
Nos versos entro em meu poema / com as mãos atadas. / Luas acorrentadas / ferem-me o pulso /
num riso de ferros / comprometidos / Não espere um gesto de Liberdade. / Este poema nasceu
escravo. / Eu próprio nasci escravo está claro o sentimento de sufocamento decorrente da clausura.
“A busca de alternativas em um regime de terror para fazer sair da prisão os poemas que eu estava
escrevendo me motivava. Os versos eram a condição da minha sobrevivência. Ter escrito um livro
naquelas condições me permitiram me reconstruir como ser humano para enfrentar a vida, para me
reentregar às lutas pelas quais eu havia sido preso. Eu atribuo a minha poesia o fato de ter mantido a
minha integridade como pessoa.”
“O nome Pedro Tierra é uma homenagem à América Latina, pelas lutas e pela literatura que inspirou
Hamilton. Por minha paixão e oposição política, sempre tive vínculo com a América Latina. Pedro
Tierra expressa, também, ligação com a literatura que se produz no continente. Nós passamos quatro
séculos e meio mirando modelos europeus. Escrevíamos poesias, romances, novelas com as costas
voltadas para o nosso continente. Então, minha poesia volta os olhos para aquilo que é produzido
aqui, no Chile, na Argentina, na Colômbia, no Peru, na Nicarágua, por exemplo.” E os modelos
sulamericanos do poeta têm peso: “Octavio Paz, Gabriel Garcia Márquez, Vargas Llosa, Pablo
Neruda. Além dos brasileiros Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira e Vinicius de Moraes”,
cita.
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MODA
FOLHA DE S. PAULO -
Brasil e África misturam padrões de design, revela pesquisa
de dez anos
Esteira de palha de palmeira piaçava da Costa dos
Coqueiros, na Bahia
Pedro Diniz
Colaboração para a Folha
(21/12/2013) Memórias enraizadas trocadas
de geração em geração entre a África e o
Brasil são mais comuns do que supõem as
publicações brasileiras de história da moda e
do design.
Esse é um dos motes do novo livro do tecelão
Renato Imbroisi e da jornalista Maria Emília
Kubrusly, "Lá e Cá: Trocas Culturais entre o Brasil e Países Africanos de Língua Portuguesa",
resultado de uma pesquisa de dez anos em países como Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Salta aos olhos a estrutura têxtil muito parecida apresentrada em produtos de tapeçaria e cestaria do
Brasil e dos países africanos.
Moda África e Brasil
Cestana de Mecúfi, em Cabo Delgado, Moçambique
A obra, que é toda ilustrada, joga luz nas semelhanças entre
a produção artesanal feita em Muquém (MG) e Maciene, na
província africana de Gaza – e também na criação de
acessórios de grifes refinadas como a italiana Bottega Veneta
e a brasileira Serpui Marie.
O trançado usado na cestaria da Costa dos Coqueiros, na
Bahia, por exemplo, é quase o mesmo que a Bottega utiliza
em bolsas, carteiras e sapatos de couro, vendidos a preços
altos em lojas chiques.
Já as bolsas de Serpuie Marie bebem da fonte da cestaria da
cidadezinha de Mecúfi, distrito de Cabo Delgado, em
Moçambique, que por sua vez guarda relações com o que se faz em palha em Parnaíba, no Piauí.
"Não sabemos o que vem de cá e o que vem de lá e há poucos registros sobre essas semelhanças. A
troca de escravos explica alguns exemplos, mas não essa mesma herança estética enraizada nas
duas culturas. O trabalho em tear dos países é idêntico", diz Imbroisi.
Bom exemplo são os padrões geométricos dos teares de Minas, que se assemelham aos do que as
mulheres africanas de Palma produzem.
LÁ E CÁ
AUTOR Renato Imbroisi e Maria Emilia Kubrusly
EDITORA Senac
QUANTO R$ 65 (160 págs.)
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FOLHA DE S. PAULO – Publicação
examina cem anos da moda de rua brasileira
Designer Jussara Romão reúne fotos de 'streetstyle' do século 20 sob ótica de mudanças
comportamentais
Fotógrafos Thomas Farkas e Augusto Malta são destaques; famílias tradicionais abriram arquivos de
imagens
PEDRO DINIZ COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nos anos 2000 a moda vive um momento de libertação
com paradigmas de estilo. A imagem integra o livro
Arquivo Urbano, de Jussara Romão
Mulheres vestidas com traje típico dos anos 1950. A
imagem integra o livro Arquivo Urbano, de Jussara Romão
(22/12/2013) Se no hemisfério Norte livros de "streetstyle" como "The Sartorialist", do americano Scott
Schuman, e "Photo Notes", do holandês Hans Eijkelboom, têm lugar cativo nas livrarias, no Brasil o
estudo da chamada "moda de rua" ainda é incipiente.
Em bom momento, "Arquivo Urbano" da designer e editora de moda Jussara Romão preenche essa
lacuna de títulos que se propõem a identificar o estilo nacional por meio de imagens tangíveis, sem a
característica manipulação das campanhas e dos editoriais de moda.
Durante um ano, a autora debruçou-se sobre quase 400 fotos --ficaram cerca de 250--, colhidas pela
jornalista Goya Cruz em acervos públicos e arquivos pessoais de famílias brasileiras como Moreira
Salles e Munno Corrêa.
"Não queria que alguém de moda reunisse essas imagens. Um olhar viciado como o deles
comprometeria o realismo dos looks", diz Romão.
Ao abdicar da plasticidade com que a roupa é tratada nas publicações de moda, a autora produz um
testemunho das mudanças comportamentais desde a primeira década do século 20 e sua influência
sobre o vestuário brasileiro.
Da ascensão do Rio a balneário internacional, por exemplo, chama a atenção a desenvoltura com
que as mulheres usavam saias mídi no final dos anos 1940 e, depois, nos anos 1960, a controversa
minissaia, que legitimava a liberdade sexual feminina.
"Em comum a todas as épocas talvez esteja a leveza' com que se costuma definir o estilo das
brasileiras. A gostosura das mulheres daqui é uma constante no livro", diz Jussara Romão.
Destaque também é a seleção de fotógrafos da obra --a maioria, aliás, sem prática em moda. Nomes
como Thomas Farkas, José Medeiros e Augusto Malta, figura central dos primórdios da fotografia
brasileira, emprestam seu olhar à publicação.
ARQUIVO URBANO
AUTOR Jussara Romão
EDITORA Luste
QUANTO R$ 85 (232 págs.)
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OUTROS
O ESTADO DE S. PAULO – Enciclopédia
voltada às artes merece nova versão
Em 2014, começam a ser contemplados os episódios e artistas mais significativos também dos
segmentos de música, dança e cinema
Maria Eugênia de Menezes
(24/12/2013) Fonte para estudiosos, pesquisadores e trabalhadores da cultura, a enciclopédia digital
do Itaú Cultural estará de cara nova a partir de janeiro.
Até agora, estavam disponíveis para consulta as áreas de artes visuais, teatro, literatura e arte e
tecnologia. Em 2014, começam a ser contemplados os episódios e artistas mais significativos
também dos segmentos de música, dança e cinema. Outra diferença em relação à base de dados
atual: toda a enciclopédia será acessada de forma unificada, e não separada por segmentos artísticos
como acontecia até agora.
“A experiência com o trabalho de catalogar e organizar acervos acabou deixando evidente que muitos
artistas possuem atuação em diversas áreas”, pontua Tânia Rodrigues, gerente das enciclopédias.
Outro recurso disponível na enciclopédia são os vídeos, que complementam as informações dos
verbetes com entrevistas dos artistas em questão, falando sobre seu trabalho e obras mais
significativas. As gravações devem ter legendas em inglês, francês e espanhol.
O que entra no ar em janeiro é uma versão beta do site, ainda passível de ajustes. Mas já será
possível consultar 176 verbetes de cinema, 101 de dança e 459 de música. Somam 142 os vídeos
disponíveis. </CW>Mesmo com as novidades, as áreas que já eram contempladas anteriormente
devem continuar crescendo. Existem hoje para consulta na internet 5.556 verbetes de artes visuais,
914 de teatro, 655 de literatura brasileira e 109 de arte e tecnologia.
O trabalho foi iniciado há cerca de 25 anos. À época, para chegar ao público, o banco de dados era
transportado dentro de caminhões, que percorriam a cidade e recebiam visitantes. Em 2013, até
novembro, o número de acessos à enciclopédia foi, segundo informações da entidade, de 12,5
milhões. <MC>/ M.E.M.</MC>
O ESTADO DE S. PAULO – Coleções
de Niemeyer, Leonilson e Elomar serão reunidas
em sites e mostras
Coleções dos artistas estão sob a guarda de suas respectivas famílias
Maria Eugênia de Menezes
(24/12/2013) Jorge Andrade, Oscar Niemeyer, Elomar, Flavio Império, Leonilson. Em comum, o fato
de serem grandes artistas. Mas não só. Em 2014, todos eles estarão mais próximos do público: seus
acervos são a base de exposições, filmes e sites a serem lançados em breve. Flávio Império deve
ganhar, a partir de janeiro, um site que detalha sua atuação como artista plástico, cenógrafo e
arquiteto. Em julho, Niemeyer merece uma mostra, em São Paulo e no Rio, que revê sua trajetória e
pretende revelar alguns projetos inéditos do arquiteto. Também no primeiro semestre, Leonilson será
tema de um curta e de um longa metragem, ambos dirigidos por Carlos Nader.
Outro dado une essas coleções. Como ainda acontece com boa parte do legado de criadores
brasileiros, elas não estão sob a guarda de instituições, mas das respectivas famílias, que criam
institutos, fundações e sociedades de amigos para auxiliá-los nessa jornada pela preservação. “É a
família que acaba bancando a maior parte das ações de preservação”, diz Ana Lenice Dias,
presidente do Projeto Leonilson e irmã do artista. “Tentamos várias vezes doar o acervo, mas os
museus só querem ficar com as obras. Não aceitam os móveis, os objetos, as coisas que ele deixou.
Por isso, optamos por manter tudo conosco.”
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Sem uma política de aquisição do acervo, o Itaú Cultural passou a financiar alguns desses projetos
de preservação que acontecem de maneira independente. “Tentamos preservar a autonomia desses
projetos”, diz Eduardo Saron, superintendente da entidade. “Oferecemos recursos e o nosso know
how para que eles caminhem de forma independente.”
A 20 quilômetros de Vitória da Conquista (BA), uma fazenda guarda um pedaço da memória da
música brasileira. Na Casa dos Carneiros, Elomar concilia o cuidado dos animais com a composição
de canções. E, recentemente, passou também a receber os pesquisadores que irão transformar parte
da propriedade em um centro de memória aberto a visitantes e pesquisadores. O trabalho é
conduzido por profissionais da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Além disso, também
estão sendo preparadas, para 2015, uma exposição do acervo e um show do artista no Auditório
Ibirapuera. “Sabíamos que Elomar estava em busca de uma instituição que o apoiasse. Então, fomos
atrás dele”, conta Saron. “Ele disse que para aceitar a parceria precisava primeiro me olhar no olho.
Precisamos criar um vínculo de confiança antes de começar.”
A expertise conquistada ao longo dos anos com a enciclopédia digital mantida pelo Itaú Cultural é
uma das bases dos trabalhos de organização e catalogação de parcela considerável dessas
coleções. “Ao invés de começar do zero, antes de catalogar procuramos sempre entender qual lógica
que já era aplicada pelo artista ou pela sua família”, comenta Tânia Rodrigues, gerente das
enciclopédias.
As criações de Vilanova Artigas, Jorge Mautner, Sérgio Rodrigues e Regina Silveira devem ser os
próximos alvos de ações de organização e digitalização de acervos. “Além de financiar, contratamos
os profissionais e supervisionamos o trabalho”, observa Tânia. “Outro passo importante é dar
instruções de conservação para as famílias. Usar caixas de plástico e não de papelão. Não dobrar
páginas ou usar grampeador. Dicas simples, mas que ajudam.”
Depois da morte de Jorge Andrade, os manuscritos de suas obras, além de documentos, fotografias e
periódicos, permaneceram na casa de parentes. Até que Blandina, filha do artista, resolveu começar
uma peregrinação por instituições que pudessem receber o conjunto. “As coisas estavam começando
a se perder”, conta ela. “Recebemos muitas negativas antes de conseguir um local.” Foi no Centro
Cultural São Paulo que o acervo conseguiu uma casa. As ações de digitalização e organização do
material já estão em andamento. Uma sala climatizada deve guardar a documentação, que inclui
mais de 16 mil páginas com roteiros das novelas que ele escreveu. “E, como começamos a mexer na
coleção, coisas desconhecidas acabaram aparecendo”, comenta Blandina. Um livro com cinco peças
de Jorge Andrade, nunca antes editado, foi descoberto e acabou virando e-book.
Instituições ajudam a preservar cultura nacional
Uma série de instituições dedica-se à guarda de acervos de artistas brasileiros. Na Fundação Casa
de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, repousa um significativo número de arquivos pessoais de
literatos. Entre eles, Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade. Lá também estão coleções de
interesse histórico, como a do ex-presidente Afonso Pena, que deixou importante documentação que
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cobre o período de 1906 a 1909. O Instituto Moreira Salles é outro depositário de acervos. Lá estão
as coleções de escritores importantes do século 20, como Otto Lara Resende e Vinicius de Moraes. A
fotografia recebe especial atenção da entidade, que adquiriu coleções de nomes como Augusto
Malta, Marc Ferrez e Alice Brill. O Instituto de Estudos Brasileiros é outra morada de tesouros sem
par. Lá repousam os espólios de Mario de Andrade, Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa. O
arquivo de Flávio Império também deve ficar sob a guarda da instituição. No Centro Cultural São
Paulo, as coleções mais importantes são a discoteca deixada por Oneyda Alvarenga e o acervo da
Missão de Pesquisas Folclóricas, de Mario de Andrade.
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