PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PONTA GROSSA GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PPGEP MARIA HELENA BESSA BARROS O DIAGNÓSTICO DA ORGANIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE TRABALHO UTILIZANDO OS CRITÉRIOS ERGONÔMICOS – SOCIOTÉCNICOS, ADEQUAÇÃO E ECONÔMICOS FERRAMENTA PARA A TOMADA DE DECISÃO GERENCIAL PONTA GROSSA JUNHO - 2009 PPGEP – Gestão Industrial (2009) MARIA HELENA BESSA BARROS O DIAGNÓSTICO DA ORGANIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE TRABALHO UTILIZANDO OS CRITÉRIOS ERGONÔMICOS – SOCIOTÉCNICOS, ADEQUAÇÃO E ECONÔMICOS FERRAMENTA PARA A TOMADA DE DECISÃO GERENCIAL Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Área de Concentração: Gestão Industrial, Gerência de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus Ponta Grossa, da UTFPR. Orientador: Prof. Luis Maurício Resende, Dr PONTA GROSSA JUNHO - 2009 Ficha catalográfica elaborada pela Divisão de Biblioteca da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa n.31/09 B277 Barros, Maria Helena Bessa O diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios ergonômicos – sociotécnicos, adequação e econômicos: ferramenta para a tomada de decisão gerencial / Maria Helena Bessa Barros. -- Ponta Grossa: [s.n.], 2009. 115 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Prof. Luis Maurício Resende, Dr Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Ponta Grossa, 2009. 1. Trabalho - Organização. 2. Ergonomia. 3. Eficiência produtiva. I. Resende, Luis Maurício. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. III. Título. CDD 658.5 AGRADECIMENTOS É com imensa alegria com que esse trabalho foi realizado. Assim agradeço a oportunidade a mim conferida para trilhar um caminho que somente poucos souberam percorrê-lo. Ao meu querido orientador, agradeço profundamente pela realização desta etapa de vida que me permitiu alçar além do crescimento profissional, ou o aguçamento crítico de idéias, mas a ação de combinar as ferramentas da mente com as ferramentas da alma para a construção da coletividade humana. Agradeço também esta instituição, colegas, professores e funcionários pelos momentos de amizade, trabalho, companheirismo e aprendizagem de que todos somos eternos discípulos da vida. “Todo conceito que o homem não modifica com sua evolução se torna um preconceito, e os preconceitos acorrentam as almas à rocha da inércia mental e espiritual.” (RAUMSOL) PPGEP – Gestão Industrial (2009) RESUMO BARROS, M.H.B. O diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios ergonômicos – sociotécnicos, adequação e econômicos. Ferramenta para a tomada de decisão gerencial. 2009. 115 fls. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2009. O presente estudo pretende a proposição de um método diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios ergonômicos sociotécnicos (conforto e eficiência), adequação (usabilidade e segurança) e econômicos (custo-benefício e custo-efetividade) para a tomada de decisão gerencial. A ferramenta proposta objetiva articular em seu escopo a abordagem humanista cujo foco está nas capacidades e competências dos fatores humanos e a abordagem econômica que prima pela eficiência produtiva. Tal determinação se verifica pela constatação que embora tenha havido a evolução e o desenvolvimento das práticas organizacionais, os sistemas de produção vividos pela indústria contemporânea compreendem na sua configuração tanto os enunciados da racionalização do trabalho quanto as técnicas e métodos atuais de gerenciamento da produção, que incorporam tecnologia, conhecimento e inovação. A utilização destes critérios ergonômicos se justifica em razão da consideração sobre o modo como os processos de trabalho estão organização de forma a garantir a sustentabilidade da organização no longo prazo. Para a construção metodológica desta pesquisa foi realizado um levantamento – survey. O universo pesquisado é caracterizado pela organização dos processos de produção de uma unidade agroindustrial do segmento de lácteos situada na região dos Campos Gerais. O modelo proposto é constituído por nove etapas conceituais estruturados em um modelo organizado e sistematizado para verificar a correlação existente entre os dados das unidades de análise consideradas na realidade do contexto organizacional pesquisado. Estas unidades de análise estudadas referem-se aos componentes da organização geral e do processo de trabalho e aos critérios ergonômicos. A aplicação deste estudo permitiu ampliar a visão clássica da análise ergonômica do trabalho e dos métodos de análise dos problemas em vislumbrar os fatores nocivos ao trabalho e ao trabalhador a fim de garantir a melhoria contínua dos processos. A validação metodológica desta ferramenta se configura como um incremento aos modelos administrativos que regem o setor produtivo ao incorporar e integrar ao seu escopo dois enfoques distintos, cuja vivência pela organização ocorre de modo separado: a saúde e a eficiência dos processos. O diagnóstico da integração dos fatores humanos e produtivos na esfera da organização dos processos de trabalho permitiu entender a complexidade da realidade de trabalho a ser investigada. E a partir destas constatações infere-se que a Ergonomia se articula e se contextualiza com o sistema produtivo, contribuindo para o desenvolvimento organizacional como um todo. Palavras-chave: organização do trabalho, critérios ergonômicos, diagnóstico da organização do trabalho, ergonomia e eficiência produtiva. PPGEP – Gestão Industrial (2009) ABSTRACT BARROS, M.H.B. The diagnostic method of organization of work processes using sociotechnical ergonomics criteria (comfort and efficiency), suitability (usability and security) and economic (costbenefit and cost-effectiveness) for management decision making. 2009. 115 fls. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2009. This study aims at proposing a diagnostic method of organization of work processes using sociotechnical ergonomics criteria (comfort and efficiency), suitability (usability and security) and economic (cost-benefit and cost-effectiveness) for management decision making. The proposed tool aims at articulating in its scope the humanistic approach whose focus is on the Human Factors skills and competence, and economical approach that seeks production efficiency. Such proposal results from the finding that although there has been evolution and development of organizational practices, production systems employed by the contemporary industry include in their configuration both the rationalization of work and the techniques and current methods of production management, which incorporate technology, knowledge and innovation. The use of ergonomic criteria is justified on the consideration of how work processes are organized to ensure the sustainability of the organization in the long run. The methodology of this research was a survey. The research universe is characterized by the organization of production processes of a unit of agribusiness in the dairy segment located in the region of Campos Gerais. The proposed model consists of nine steps in a structured conceptual model organized and systematized in order way to verify the correlation between the data of the analysis considered the reality of the organizational context studied. The units of analysis studied refer to the components of the overall organization and work process and ergonomic criteria. The application of this study allowed us to extend the classical view of the ergonomic analysis and methods of analysis when detecting problems, discern the harmful factors to the work and workers to ensure continuous improvement of processes. The methodological validation of this tool is configured as an increase in the administrative models governing the productive sector by incorporating and integrating two distinct approaches to its scope, which are experienced separately by the organization: the health and efficiency of processes. The diagnosis human and productive factors integration regarding the organization of work processes enabled us to understand the complexity of the reality of the work being investigated. From these findings it is inferred that Ergonomics is articulated and contextualized with the production system, contributing to the organizational development as a whole. Keywords: work organization, ergonomic criteria, diagnosis of work organization, ergonomics and production efficiency. PPGEP – Gestão Industrial (2009) LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Modelo sociotécnico que fundamentou a macroergonomia ............ 41 Figura 2 – Modelo proposto de diagnóstico da organização do trabalho ......... 52 Figura 3 – Queixas osteomusculares x área ..................................................... 73 Figura 4 – Queixas osteomusculares da área de Refrigerados x linha de 73 produção ........................................................................................................... Figura 5 - Queixas osteomusculares partes do corpo x turno .......................... 74 Figura 6 – Porcentagem de não-conformidades por checklists ........................ 76 Figura 7 – Diagrama de causa e efeito de Ishikawa ......................................... 84 Figura 8 – Diagrama das relações .................................................................... 86 PPGEP – Gestão Industrial (2009) LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Componentes da organização do trabalho ..................................... 54 Tabela 2 – Tabela de criticidade sob o enfoque multicritério ............................ 60 Tabela 3 – Validação dos problemas ergonômicos por critérios ergonômicos . 63 Tabela 4 - Validação das melhorias ergonômicas por critérios ergonômicos ... 64 Tabela 5 – Modo de monitoramento das ações propostas ............................... 67 Tabela 6 – Sumarização dos componentes da organização do trabalho ......... 69 Tabela 7 - Tabela de criticidade sob o enfoque multicritério – validação 81 metodológica ..................................................................................................... Tabela 8 - Validação dos problemas ergonômicos por critérios ergonômicos - 88 validação metodológica ..................................................................................... Tabela 9 - Validação das melhorias ergonômicas por critérios ergonômicos - 90 validação metodológica ..................................................................................... Tabela 10 - Modo de monitoramento das ações propostas - validação 92 metodológica ..................................................................................................... PPGEP – Gestão Industrial (2009) LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Classificação de risco ergonômico ................................................. 61 Quadro 2 – Resultado da avaliação ergonômica por checklists de Couto ........ 76 Quadro 3 – Descrição dos itens de verificação dos checklists de Couto .......... 78 Quadro 4 – Avaliação ergonômica pelo critério semi-quantitativo de Moore e 78 Garg (1995) ....................................................................................................... Quadro 5 – Descrição do plano de ação para implantação das melhorias 91 ergonômicas definidas ...................................................................................... Quadro 6 – Relatório de diagnóstico ergonômico ............................................. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 93 vii SUMÁRIO AGRADECIMENTOS.......................................................................................... 3 RESUMO .......................................................................................................... 5 ABSTRACT ....................................................................................................... 6 LISTA DE FIGURAS ......................................................................................... 7 LISTA DE TABELAS ......................................................................................... 8 LISTA DE QUADROS ....................................................................................... 9 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12 1.1 Objetivos ..................................................................................................... 16 1.2 Justificativa .................................................................................................. 16 1.3 Limitações do estudo .................................................................................. 18 1.4 Estrutura do trabalho ................................................................................... 19 2. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................... 20 2.1 O contexto da produção industrial .............................................................. 20 2.1.1 Perspectiva histórica das teorias administrativas .................................... 20 2.1.2 O impacto das teorias administrativas no homem e o desenvolvimento 29 das doenças relacionadas ao trabalho ............................................................. 2.2 Ergonomia ................................................................................................... 37 2.2.1 Ergonomia e sistemas automatizados ..................................................... 43 2.2.2 Critérios para ação ergonômica ............................................................... 3. MÉTODO CIENTÍFICO ................................................................................. 45 48 3.1 Caracterização da pesquisa ........................................................................ 48 3.2 Survey ......................................................................................................... PPGEP – Gestão Industrial (2009) 49 viii 3.3 Os sujeitos pesquisados ............................................................................. 50 3.4 Construção das etapas do método proposto .............................................. 51 4. VALIDAÇÃO METODOLÓGICA ................................................................... 68 4.1 Análise dos resultados ........................................................................... 95 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 97 5.1 Recomendações para trabalhos futuros ..................................................... 99 6. REFERÊNCIAS ............................................................................................ 100 APÊNDICE A...................................................................................................... 104 ANEXO A........................................................................................................... 108 ANEXO B........................................................................................................... 109 ANEXO C........................................................................................................... 110 ANEXO D........................................................................................................... 115 PPGEP – Gestão Industrial (2009) 1. INTRODUÇÃO As alternativas para o desempenho e inovação tecnológica bem como o incremento dos modelos administrativos que regem o setor produtivo podem ser encontradas no saber científico. A incorporação científica à realidade industrial pode delinear novos caminhos como aqueles que permitem o desenvolvimento conceitual e da prática dos intervenientes - econômicos, sociais e produtivos que cerceiam a realidade organizacional. No campo da produção científica acerca do trabalho e da organização do processo de trabalho, o Brasil figura como um dos países do hemisfério sul com maior produção científica nesta área, segundo Salerno (2004). Porém, como relata o autor, muitos destes trabalhos à luz acadêmica têm caráter descritivo ou utilizam conceitos da literatura internacional para discutir um caso. E ainda poucos são os estudos que criaram conceitos e que se tornaram referência por estudar a organização e o trabalho em uma perspectiva implícita ou explícita de transformação social. Os modelos administrativos de organização do trabalho experimentados desde o início do século XX até os dias atuais expressam, ante a visão de seus críticos ou seguidores, a contínua evolução dos enunciados e princípios que modelaram cada escola, sempre com o fim de satisfazer as necessidades econômicas e humanas imperadas a cada época. A perspectiva histórica da divisão do trabalho sobrepuja duas abordagens – a humanista e a econômica, a princípio contraditórias em razão da determinação de focos distintos por elas. A primeira é centrada nas capacidades e competências dos fatores humanos enquanto que a abordagem econômica é centrada na eficiência produtiva, sendo que ambas são complementares para a garantia da competitividade empresarial, de acordo com Kovács (2006). Para a autora, esta análise histórica evidencia a abordagem humanista – predominante nas indústrias dos países da Europa central – desenvolvida em decorrência das lacunas deixadas pelos modelos mecanicistas que primavam pelo ser humano como parte mecânica do processo de trabalho sem considerar as suas capacidades e habilidades e tampouco a sua interação psicossocial com o trabalho. Quando a aplicação da abordagem humanista não vislumbrou os resultados de produtividade esperados, os modelos administrativos passaram a ter foco em aspectos Capítulo 1 Introdução 13 econômicos, técnicos e de gestão para a eficiência do processo produtivo. Esta última abordagem é predominante e oriunda de indústrias americanas e japonesas. Entretanto, deve-se ater que tais transformações de paradigmas se desenvolveram em cenários econômicos configurados por crises econômicas, sociais e políticas impelindo as empresas à revisão das formas como conduzem e gerenciam os seus fatores organizacionais. As novas práticas do processo de organização do trabalho, adotadas pelas organizações em todo o mundo frente aos períodos de turbulência e ocorridos em escala mundial como a revolução industrial, a grande depressão dos anos 30, crise do petróleo, concorrência de mercados asiáticos emergentes, desenvolvimento tecnológico, passaram a determinar novas técnicas e métodos de se organizar a produção. Convém salientar que embora tenha havido a evolução e o desenvolvimento das práticas organizacionais, os sistemas de produção vividos pela indústria contemporânea compreendem em seu escopo tanto os enunciados dos modelos do início do século XX quanto as técnicas e métodos atuais de gerenciamento da produção, que incorporam tecnologia, conhecimento e inovação. Esta congruência, identificada por Kovács (2006) infere para a necessidade da discussão sobre a racionalização ou equacionamento dos diversos atores (econômico, social, político e humano) no contexto da divisão do trabalho. E desta combinação entre os preceitos que modelaram a divisão do trabalho que a relação homem x trabalho pode ser vista na literatura acadêmica à luz de duas vertentes: os impactos do trabalho no trabalhador, no tocante à sua saúde e segurança, e o fator humano, como parte do mecanismo de produção sem se aprofundar nas suas capacidades e limites. De um lado, existem as teorias administrativas que evoluíram buscando a produtividade e para isso organizaram a produção sob diversos enfoques. De outro lado, há uma linha puxada pela Ergonomia, que trata do homem no seu ambiente laboral com relação à saúde, segurança, conforto, e ainda compreende medidas qualitativas de desempenho eficiente. Abrahão e Pinho (2002) consideram que o conceito de Ergonomia contempla um conjunto de várias disciplinas (engenharia, psicologia, fisiologia, administração, etc), sendo que esta formação multidisciplinar para o conceito ergonômico não deva implicar somente em uma mera reprodução ou aplicação dos conhecimentos destas disciplinas, mas sim PPGEP – Gestão Industrial (2009) numa relação determinada pela transformação dos Capítulo 1 Introdução 14 conhecimentos destas áreas e nas quais a prática destas disciplinas se revela lacunária. Desta forma, a evolução do conceito ergonômico também permitiu o aperfeiçoamento dos princípios que o compõem. Na visão de Vidal (2002), esse avanço no tempo delimitou um questionamento sobre os princípios contraditórios que configuram a Ergonomia. Tais princípios são definidos como conforto e eficiência. No entanto, este autor explica que existem princípios interdependentes além daqueles entendidos como contraditórios, como saúde e segurança, ou ainda, aqueles relacionados a adequação e usabilidade de produtos. E é a partir destas constatações acerca dos princípios ergonômicos que Vidal (2002) propõe como finalidades de aplicação da Ergonomia a saúde e produtividade e, por conseguinte gerou critérios que norteiam a ação ergonômica: sociotécnicos (conforto e eficiência), de adequação (usabilidade e segurança) e econômicos (custobenefício e custo-efetividade). Portanto, a evolução conceitual da Ergonomia sob o ponto de vista da definição dos seus critérios ocorreu a fim de atender de forma satisfatória as exigências organizacionais atuais. Isto porque, estas exigências organizacionais atuais evidenciam a necessidade de considerar as características (potencialidades e limitações) dos fatores humanos para a eficiência do processo produtivo. A reflexão a partir destes critérios - sociotécnicos, de adequação e econômicos passa a fomentar uma mudança de paradigma em relação ao modo de análise da organização dos processos de trabalho. Porém, esta só será válida quando as empresas puderem observar os benefícios obtidos por meio desta análise que se fundamenta nos câmbios entre a organização do processo de trabalho e os fatores humanos com vistas a sua sustentabilidade no longo prazo. Assim, a sobrevivência da organização no mercado capitalista é dependente de como os fatores humanos no trabalho, considerados como a força motriz para qualquer organização, é conduzida e apreendida pela alta gerência. Tal visão, configurada pelos modelos atuais de gestão dos processos de trabalho, também se consubstancia em razão da legislação existente para a proteção da saúde e segurança dos trabalhadores, regulamentação sindical, assim como as normas e certificações internacionais que privilegiam a saúde e segurança no trabalho. A realidade da aplicação prática dos conceitos ergonômicos também deve estar assentada nos conhecimentos científicos deste campo do saber. Entretanto, são consideradas as abordagens realizadas pela pesquisa científica em Ergonomia que PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 1 Introdução 15 possam promover um ambiente de trabalho em condições de equilíbrio com as questões produtivas, sociais e econômicas. Portanto, em uma análise qualitativa acerca do modo como a pesquisa ergonômica brasileira vem se desenvolvendo no âmbito da engenharia de produção através das publicações científicas dos últimos seis anos do Enegep – Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Barros e Resende (2008) apontam que a principal área de trabalho da Ergonomia no Brasil é a Segurança do Trabalho tendo como objetos de estudo as condições ambientais, os acidentes de trabalho, os fatores de risco no ambiente de trabalho, as condições de segurança e os modelos de normatização em segurança. O estudo também evidencia a organização do trabalho como objeto constante da delimitação das diversas situações problema, sob o ponto de vista do impacto à saúde do trabalhador, modelado por métodos de análise ergonômica do trabalho. O estado da arte ergonômica, segundo a análise realizada pelos autores, se limita quase que as abordagens que visam a correção das inadequações ergonômicas, seja no ambiente industrial, seja no ambiente governamental. A aplicação ergonômica mostra-se tímida no campo da prevenção, situação confrontada pelo exíguo número de propostas de modelos, instrumentos ou metodologias que visem o gerenciamento dos fatores humanos do trabalho à luz da administração da produção. As metodologias encontradas limitam-se ao gerenciamento das condições de saúde e segurança pelas ferramentas gerenciais em uso e difundidas pelos sistemas de certificação da qualidade. Verifica-se ainda neste estudo, que a Ergonomia vem cumprindo a sua finalidade científica e social ao propor soluções para os conflitos entre a inteligência natural e artificial. Porém, deve-se considerar qual o impacto do benefício social ergonômico na conjuntura econômica das organizações. A resposta deste questionamento pode contextualizar a Ergonomia no escopo da administração estratégica das organizações de modo a contribuir efetivamente no desenvolvimento sustentável destas. (BARROS e RESENDE, 2008). As pesquisas acadêmicas realizadas apontam para a polarização dos assuntos a serem trabalhados nesta pesquisa: ou retratam as condições de trabalho sob a ótica da Ergonomia ou verificam os processos de trabalho e a sua organização pelo prisma social ou econômico. Evidencia-se então uma lacuna no campo do saber da Ergonomia e da Engenharia de Produção quando se busca esta interface. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 1 Introdução 16 Muito embora existam diversas nuanças e interfaces entre a organização e os fatores humanos do trabalho, a tônica deste estudo está em como equacionar a abordagem humanista para garantir a satisfação social da força de trabalho sob o ponto de vista dos critérios de adequação do trabalho as características psicofisiológicas dos trabalhadores e a abordagem econômica (eficiência produtiva) no tocante à competitividade das organizações. Assim, este estudo se estrutura na relação entre dois conceitos: organização dos processos de trabalho e Ergonomia e propõe promover uma visão dialética sobre a interação das capacidades humanas no contexto produtivo à luz da Ergonomia, por entender que a base da atuação desta deva estar articulada e contextualizada com o sistema produtivo, ou seja, perante os níveis estratégico, gerencial e operacional. Uma vez que a realidade serve como instrumento balizador na tomada de decisão, torna-se primordial compreendê-la a partir de uma perspectiva da interação entre os fatores humanos e o seu ambiente de trabalho a fim de demonstrar que as situações problemas vivenciados pela organização acabam por impactar na saúde, segurança dos trabalhadores bem como no desempenho dos processos produtivos. 1.1 Objetivos A pesquisa tem como objetivo geral propor um modelo/ferramenta para o diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios ergonômicos propostos por Vidal (2002): sociotécnicos (conforto e eficiência), de adequação (usabilidade e segurança) e econômicos (custo-benefício e custoefetividade) para a tomada de decisão gerencial. Deste objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: - construir as etapas do método de diagnóstico ergonômico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios sociotécnicos, adequação e econômicos; - analisar os resultados obtidos pelo diagnóstico da organização dos processos de trabalho de uma indústria; - validar o método como ferramenta de tomada de decisão gerencial. 1.2 Justificativa PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 1 Introdução 17 É proposto um método de diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando critérios ergonômicos pelos seguintes motivos: • Verificar que a organização do trabalho contempla as três dimensões do processo produtivo técnica, ambiental e organizacional; • Compreender em seu escopo os métodos e os conteúdos do trabalho estruturados de modo a atender as exigências tecnológicas e organizacionais pela repartição de tarefas no tempo (horário e cadência de produção), no espaço (ambiente físico), sistemas de comunicação e cooperação entre as atividades, padrões de desempenho produtivo, mecanismos de recrutamento, seleção e treinamento de pessoas para o trabalho além do perfil de competências e capacidades da força de trabalho. Os critérios ergonômicos – sociotécnicos, adequabilidade e econômicos adotados como balizadores dos problemas encontrados pelo diagnóstico configuram a convergência que deve existir entre os fatores humanos modelos atuais de gestão organizacional. Portanto, consiste este diagnóstico em entender como as pessoas articulam suas atividades com o propósito de produzir resultados que quando combinados resultam nos produtos de uma organização e evidenciar os desajustes decorrentes da articulação inadequada entre desempenho produtivo (qualidade, produtividade e confiabilidade) e competências dos trabalhadores. O diferencial deste método diagnóstico apóia-se na hipótese que qualquer problema enfrentado por uma organização, independente de sua natureza e do nível hierárquico em que se consubstancia acaba por refletir sobre a variável mão-de-obra da organização o que por sua vez se expressa por perdas em saúde, segurança e desempenho dos processos produtivos. Perceber se há várias metodologias de análise e soluções de problemas experimentados para melhoria dos processos em termos de melhoria da qualidade, custo e produtividade. E ao que se refere ao fator humano do trabalho, evidencia-se o método de análise ergonômica do trabalho projetado pela Ergonomia o qual objetiva analisar e propor soluções de problemas acerca da saúde, segurança, conforto e desempenho eficiente do trabalhador. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 1 Introdução 18 No entanto, ambos os métodos tanto voltados para a análise e soluções de problemas quanto para a adequação do trabalho ao trabalhador não se articulam de modo a especificar a relação existente entre os objetos de estudo de cada ferramenta. Tal afirmação parte da constatação de que para a análise ergonômica em razão do seu caráter antropocêntrico considera somente em um segundo plano a melhoria do processo; e para as ferramentas de gestão da produção o seu foco de atuação está primeiramente na melhoria do processo. Isto se evidencia pela perspectiva histórica de formação das teorias administrativas que moldaram o conceito de produtividade para a indústria. Assim a estratégia da atuação diagnóstica proposta fundamenta-se tanto na argumentação de Vidal (2002) sobre a ação ergonômica cuja questão principal se fundamenta na definição do problema da situação de trabalho que compromete a interação entre pessoas, tecnologia e organização e na determinação de uma forma de intervenção; quanto nas premissas das metodologias de análise e solução de problemas como MASP 14 Passos e PDCA utilizadas pela organização para solucionar problemas de modo a garantir a contínua renovação da empresa ao reconhecer que cada problema da organização é uma oportunidade de melhoria para pessoas, processo, produtos e sistemas. Portanto, a análise deve estar baseada na sistematização de formas de inventário e instrumentos ergonômicos e de qualidade como o ciclo PDCA e Masp 14 passos que permita hierarquizar situações, distinguindo os casos simples dos casos complexos (análise detalhada) e propondo medidas para intervenção e monitoramento de acordo com a política estratégica da empresa. 1.3 Limitações do estudo O presente estudo limita-se a realizar o diagnóstico de uma organização de processos de trabalho em uma indústria por meio da utilização de critérios ergonômicos a fim de determinar a situação(s)-problema(s) prioritária(s) para a ação ergonômica pelo nível gerencial. Desta forma, o método proposto neste estudo não pretende analisar e detalhar a estrutura e a descrição teórica tanto da análise ergonômica do trabalho quanto dos métodos de identificação, análise e solução de problemas que juntamente com o escopo que por sua vez assentam as etapas conceituais do método proposto. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 1 Introdução 19 Outro fator excludente neste estudo é a organização geral da organização. O modelo proposto vislumbra e delimita a organização do trabalho posto que a organização geral tenta especificar a organização industrial em um contexto amplo – social, econômico, geográfico e cultural, conforme VIDAL (2002). Isto é, o estudo em questão se volta para o contexto interno da organização, nas suas estruturas funcionais e interdependentes em que se estabelece o método de trabalho. 1.4 Estrutura do trabalho - Capítulo 1: introduz o tema da organização dos processos de trabalho à luz da Ergonomia e apresenta as discussões empíricas e científicas que fundamentam a justificativa da realização da pesquisa proposta; - Capítulo 2: descreve o referencial teórico, o qual promove a revisão da literatura científica acerca dos conceitos que assentam o contexto da produção industrial e a Ergonomia. O início da fundamentação teórica concernente ao contexto da produção industrial ocorre a partir da análise da evolução histórica das teorias administrativas ampliando para o entendimento do impacto destas teorias em relação à saúde da força de trabalho no ambiente laboral que culmina na compreensão atual das causas das doenças relacionadas ao trabalho. Quanto à Ergonomia, sua fundamentação parte da sua descrição histórica seguida da apresentação das suas definições, sua prática contemporânea, suas formas de atuação e os critérios ergonômicos que norteiam a ação ergonômica do trabalho. - Capítulo 3: descreve a metodologia utilizada para a modelagem e descrição das etapas conceituais do método diagnóstico proposto; - Capítulo 4: descreve a descrição da aplicação do método diagnóstico proposto em uma organização de trabalho de uma indústria do setor agroindustrial, bem como a discussão dos dados encontrados que possibilitem a validação metodológica; - Capítulo 5: descreve as considerações finais acerca dos resultados encontrados pela pesquisa proposta, a descrição dos objetivos atingidos assim como os intervenientes que dificultaram as soluções procuradas. Este capítulo é finalizado com as recomendações para novas pesquisas a serem abordadas neste campo do saber. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 20 Capítulo 2 Referencial Teórico CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 - O Contexto da Produção Industrial 2.1.1 Perspectiva histórica das teorias administrativas Uma organização possui uma perspectiva tanto sociológica quanto administrativa. E é a partir da congruência entre estes dois fundamentos científicos que as teorias administrativas que regem uma organização se desenvolveram ao longo dos tempos. A transformação destas teorias também modelou a forma como o trabalho é concebido e determinado em um ambiente industrial de modo a atender o objetivo central de uma organização que é a obtenção de resultados (COUTO, 2007). O entendimento de Cury (1995) acerca do trabalho parte da visão que este é concebido para proporcionar eficiência, a qual vem sendo almejada desde os séculos XV e XVI pela sociedade humana. E ainda destaca que o capitalismo se firmou com o conceito de eficiência como sendo o objetivo básico da administração. E para que se alcance este objetivo, segundo ao autor, deve haver uma ação humana racional em um contexto social. E é a partir desta premissa que Cury (1995) descreve a evolução das teorias administrativas que se utilizaram da melhor engenharia humana para a racionalização do trabalho com vistas à produção. Pode-se identificar a coexistência de diferentes formas de organização do trabalho até os dias de hoje. Nesse sentido, Kovács (2006) entende que há uma falta de consenso acerca da natureza e da direção da transformação do modo de produzir bens e serviços. Acredita-se, segundo a autora, que o período atual das formas de organização do trabalho é resultado de uma transição de paradigmas. Isto é, o velho paradigma caracterizado pela produção em massa e serviços estandardizados em quadros organizacionais rígidos está sendo substituído pelo paradigma da nova era pós taylorista/fordista que se fundamenta em um novo sistema produtivo caracterizado pela diversidade, flexibilidade, inovação e cooperação. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 21 Capítulo 2 Referencial Teórico Esta renovação do modelo de produção, para a autora, é decorrente da necessidade atual das empresas em atender exigências impostas pela forte competição de mercados globais. De concepções manuais, individualizadas e mentalmente empobrecidas como à época da Revolução Industrial, segundo relatos de Drucker (1998), verifica-se a transformação do trabalho atual em natureza predominantemente intelectual inserido em um contexto social de pequenos grupos. No entanto, a evolução dos modelos de organização do processo de trabalho, de acordo com Cury (1995), teve seu desenvolvimento a partir do início do século XX por meio do delineamento de uma abordagem voltada para a produtividade pelo prisma das máquinas. Este período ficou conhecido como escola tradicionalista ou mecanicista ou da administração científica, cujo foco centrava-se nas análises das empresas, nos estudos das estruturas para a hierarquização e da departamentalização. Os expoentes desta época foram Fayol, Taylor, Luther Gulick, James Mooney, Lyndal Urwick. Porém, relata Sprague (2007), que meio século antes de Taylor, as idéias de padronização e especialização, assistência e treinamento da força de trabalho na qual se consubstancia a Administração Científica eram colocadas em prática nos Estados Unidos por Fred Harvey. Enquanto na Grã-Bretanha, segundo a autora, o motor a vapor revolucionava a agricultura e o transporte, nos Estados Unidos prevaleceu o desenvolvimento da estrutura e da gestão da manufatura. Frederick Taylor e Carl Barth passaram mais de 20 anos estudando as máquinas. A motivação para este estudo estava em descobrir a melhor forma de cada trabalho e pretendia descobrir quais os fatores que estavam e não estavam sob o controle do trabalhador (SPRAGUE, 2007). Santos (2000) descreve que, para Taylor, a organização do trabalho é sinônimo de racionalização. A sua concepção determina que a forma como o trabalho seja executado deve privilegiar a exclusão de tempos desnecessários à realização de uma tarefa e que esta forma de trabalho deve ser supervisionada pela gerência, isto é, um controle externo aos trabalhadores. As idéias de Taylor nortearam a forma como as indústrias no mundo inteiro determinassem os seus meios de produção e que posteriormente permitiram novos estudos acerca da produtividade. Ainda segundo Santos (2000), Ford um dos seguidores de Taylor, propôs maior intensidade do processo de trabalho pela integração das esteiras para o PPGEP – Gestão Industrial (2009) 22 Capítulo 2 Referencial Teórico deslocamento da matéria-prima e sua transformação além da fixação dos trabalhadores em seus postos de trabalho. Desta forma, existe uma cadência do trabalho e esta é regulada mecanicamente e externamente ao trabalhador. Entende-se o fordismo como a segmentação dos gestos do taylorismo. Esta fixação do trabalhador em seu posto de trabalho determinou uma economia de tempo significativa na execução do mesmo aliada a super especialização da mão-de-obra ao realizar uma tarefa específica, de acordo com Botelho (2000). Para este autor, a principal característica do fordismo é a racionalidade ao trabalho (SPRAGUE, 2007). O sistema taylorista-fordista percebe as organizações como máquinas e administrá-las significa fixar metas e estabelecer formas de atingi-las; organizar tudo de forma racional, clara e eficiente, detalhar todas as tarefas e principalmente, controlar (CURY,1995; SANTOS, 2000). As inovações geradas pelo fordismo no processo de trabalho refletiram na organização e mobilização dos trabalhadores, que, pelo acúmulo de operários na indústria acirraram as contestações e conflitos entre capital e classe trabalhadora. Na descrição de Botelho (2000), é neste momento que ocorre a sindicalização dos operários. Ainda segundo a análise deste autor, foi a partir desta organização dos trabalhadores que houve o aumento na segurança do emprego, nos níveis do salário direto e um padrão de consumo maior pela força de trabalho. A idéia de Ford de produzir em massa e consumo de massa propiciou um ciclo virtuoso de crescimento econômico. Botelho (2000), a respeito deste período marcante do desenvolvimento econômico em todos os países que adotaram as práticas do fordismo, afirma: “A alta produtividade alcançada pela indústria, o que possibilitou em parte a satisfação das demandas das classes trabalhadoras no que diz respeito ao consumo de massa, foi também resultado da maior padronização de produtos e barateamento dos custos unitários de produção, através das economias de escala, que privilegiam as grandes unidades produtivas (Botelho, 2000, p.21) Enfim, quase na mesma época do desenvolvimento da organização taylorista do trabalho, estabelecia-se na França, por Henry Fayol, uma doutrina de estruturação administrativa da empresa (rigidez militar da via hierárquica), sempre com o objetivo de obter o máximo rendimento. Contudo, os trabalhadores conservavam um papel PPGEP – Gestão Industrial (2009) 23 Capítulo 2 Referencial Teórico passivo e devem obedecer ordens, cujas razões eles mal compreendem, de acordo com Santos (2000). Ampliando o aspecto do trabalho a partir de sua estruturação no chão de fábrica e a utilização de determinadas partes do corpo como extensão do processo de produtivo despontados pelo pensamento administrativo anterior, evidencia-se a necessidade de melhor utilizar a força de trabalho. É assim que ao final dos anos 30 as relações humanas no trabalho passaram a ser analisadas à luz da produtividade. Esta análise definida como revolução ideológica, teve em Mayo, segundo Cury (1995) seu maior expoente. De acordo com Couto (2000), os estudos de Mayo culminaram na chamada escola behaviorista e demonstraram que o homem não reage ao trabalho como uma máquina, mas que necessita de motivação para realizá-lo. Foi durante este período que houve um acentuado desenvolvimento das ciências sociais, como demonstra Cury (1995). Para Santos (2000), outras formas de amenizar o trabalho humano nas organizações e redirecionar o contexto e o posicionamento do homem no trabalho foram surgindo ao longo do tempo; tome-se, por exemplo, o enriquecimento de cargos e necessidade de motivar o trabalhador propostos por Maslow. Santana (2002) argumenta que a teoria de Maslow da Hierarquia das Necessidades se opõe ao taylorismo pela perspectiva da motivação pelo trabalho e evidenciando que o modelo mecanicista não é capaz de manter uma alta produtividade por muito tempo, em vista de negligenciar fatores importantes na motivação do ser humano para o trabalho. À medida que mais pontos de vistas diferentes e até então desconsiderados agregavam a nova visão da administração, maior e mais complexo se tornava o contexto da produção. A cada nova escola administrativa novos fatores surgiram como balizadores para a produção. Ainda nos anos 50, Kovács (2006) destaca a proposição de um modelo alternativo ao sistema taylorista/fordista vigente até então. Este modelo realizou intervenções no sistema produtivo sob a égide de uma perspectiva humanista proposta por estudiosos (antropólogos, sociólogos e psicólogos) do Tavistock Institut of Human Relations de Londres denominada de abordagem sociotécnica. Couto (2000) relata que na década de 60 a abordagem predominante em todo o mundo era a sistêmica. Esta abordagem procurava mostrar o papel de cada um na PPGEP – Gestão Industrial (2009) 24 Capítulo 2 Referencial Teórico empresa e permitiu o desenvolvimento de práticas organizacionais potencialmente agregadoras, como o planejamento integrado. É nessa época que houve o pleno desenvolvimento econômico e industrial de países como os Estados Unidos e da Europa Ocidental. E isso é resultado da forma como as indústrias destes países vivenciaram a sua realidade organizacional congregando todos os fatores já evidenciados pelas teorias anteriores – mecanicistas e comportamentais (COUTO, 2000). Neste ponto da história da organização do trabalho, vale destacar o cenário brasileiro frente este período assim como a indústria nacional vivenciou estas práticas organizacionais do processo de trabalho. A esse período, a realidade brasileira assistia a um grande esforço para sua industrialização que por sua vez foi calcada por ações como aumento do seu parque fabril, incorporação de refinarias, siderúrgicas, metalúrgicas, indústrias de química de base, de bens de consumo duráveis, eletrodomésticos e montadoras de automóveis. Este cenário simbolizava, conforme Salerno (2004) afirma, a transformação da sociedade e de seus modos de produção. A visão brasileira sobre os seus processos de trabalho divergia da visão dos países industrializados. Isto se revela, quando Salerno (2004) descreve que nos anos 70 o debate brasileiro deu-se em torno da sua economia, uma vez que a indústria nacional buscava a sua inserção no processo global capitalista. Em meio a este contexto, ainda figurava o emprego, o desenvolvimento econômico, a estrutura sindical e o sindicalismo como temas principais das discussões. A discussão sobre os processos de trabalho na indústria brasileira passou a ocorrer após a obra pioneira sobre os processos de trabalho no Brasil sob a crítica da divisão do trabalho de Fleury em 1978, como explica Salerno (2004). Esta obra acabou por forjar um novo campo na academia brasileira – trabalho e novas formas de organização do trabalho além de torna-se referência para as ciências como engenharia, sociologia, administração e psicologia do trabalho ao criar conceitos como da rotinização e o modelo de contingência para a organização do trabalho na empresa industrial. A tônica desta tese de doutorado de Fleury esteve em colocar em primeiro plano no Brasil o debate em curso nos Estados Unidos e nos países centrais da Europa e até então ausente no cenário nacional sobre o trabalho e sua organização. (SALERNO, 2004) PPGEP – Gestão Industrial (2009) 25 Capítulo 2 Referencial Teórico As teorias seguintes ao movimento estruturalista tiveram sua tônica voltada para a motivação e nos modelos das ciências do comportamento (CURY,1995). Santana (2002) relata que as teorias motivacionais foram iniciadas por pesquisadores do comportamento e buscaram aprimorar métodos de desenvolvimento de produtividade a partir da compreensão da relação entre o fator psicológico sobre a performance do trabalho. Dentre as ciências do comportamento, destacam-se as seguintes teorias administrativas como a dinâmica de grupo de Lewin, teorias Herzberg e Maslow, McGregor, Blake e Mouton, Likert, desenvolvimento organizacional e abordagem contingencial, segundo Cury (1995). McGregor na década de 50 embasou as teorias X e Y pela perspectiva da relação entre o comportamento humano e a hierarquia. Na teoria X, tem-se segundo Cury (1995) que o gerente parte do pressuposto que a maioria das pessoas prefere ser dirigida a assumir responsabilidades e procura segurança acima de tudo. Foi nos anos 70 que surgiu um movimento de humanização do trabalho e democratização da empresa. De acordo com o relato de Kovács (2006), nos países nórdicos e na Alemanha e posterior aceitação nos Estados Unidos, foi desenvolvida uma visão que se caracterizava pelo empenho na promoção das competências e da participação dos trabalhadores na organização. Tal abordagem ficou conhecida como “Qualidade de Vida no Trabalho”. Cury (1995) entende que o conceito de organização não existe sem a presença de sua força de trabalho procurando realizar determinado bem ou serviço e que, para atingir um alto nível de efetividade, deve administrar seus objetivos, pessoas e hierarquias. Este entendimento do autor fundamenta-se na caracterização do universo organizacional – objetivo, pessoas e hierarquia o que por sua vez determinam o grid gerencial de Blake e Mouton. A premissa deste grid está na articulação entre si dos componentes do universo organizacional, isto é, os objetivos da organização são atingidos mediante o esforço das pessoas quando orientadas por supervisores. Couto (2007) descreve que foi a partir da concorrência com mercados asiáticos que foram injetados nos mercados produtos de alta qualidade e custo baixo, e ainda, crises do petróleo, aumento dos custos governamental com as necessidades da população, a exaustão da organização do trabalho taylorista e fordista no chão-defábrica, provocaram uma convulsão nos modelos administrativos e nas empresas, e acabaram por delinear uma nova abordagem administrativa, a contingencial. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 26 Capítulo 2 Referencial Teórico Couto (2000) salienta que a partir deste momento que se torna imperioso produzir mais a um custo cada vez menor e com qualidade significativa. Entretanto, o foco organizacional deve redimensionar sua produção, uma vez que sua capacidade de sobrevivência depende quase que exclusivamente do manejo dos seus fatores internos e externos. Reengenharia, Downsizing, Benchmarking, TQC são exemplos de tipos de abordagem contingencial, segundo o autor. Santos (2000) entende que a teoria contingencial das organizações, vislumbrada nos anos 60, considera que existe, de fato, em cada situação particular, um conjunto específico de vários fatores, que conduz à escolha de uma determinada forma de organização do trabalho. Dentre estes fatores pode-se citar: - os procedimentos técnicos de produção; - as características da população disponível (compreendendo também os supervisores e os gerentes); - os grupos sociais existentes, as relações que existem entre eles e suas estratégias. Segundo o autor, as diferentes possibilidades de relação entre estes fatores em matéria de organização do trabalho permitem uma discussão mais precisa na empresa sobre as vantagens e os inconvenientes de cada solução proposta. Couto (2007) argumenta que a abordagem contingencial joga por terra qualquer noção sobre um modelo administrativo único e suficiente para todas as realidades. Portanto, o melhor modelo administrativo depende da contingência. É deste modelo organizacional as expressões “orientadas para a produção” e “orientadas para as pessoas”. Como colocado por Cury (1995), o conceito de produção não se limita só aos objetivos, ele compreende tudo aquilo que as organizações conseguem mediante o esforço das pessoas, em termos de resultado. Após o período de desenvolvimento e aplicação das teorias comportamentais nas organizações, um novo cenário passa a ser analisado. Capra (2002) aponta para um novo tipo de capitalismo gestado a partir das três últimas décadas pela revolução da tecnologia da informação e que modificou a forma como a economia vinha sendo conduzida desde a Revolução Industrial e ainda sobre aquela que emergiu após a Segunda Guerra Mundial. A nova economia descrita por Capra (2002) é denominada de “globalização” e fundamenta-se sob os seguintes aspectos: o cerne de suas atividades econômicas é global, as principais fontes de produtividade e competitividade são inovação, geração PPGEP – Gestão Industrial (2009) 27 Capítulo 2 Referencial Teórico de conhecimento e processamento da informação amplamente estruturadas ao redor de uma rede de fluxos de financiamentos. No entanto, segundo o autor, o impacto desta forma de economia demonstrase através de desigualdade e exclusão social, colapso na democracia, deterioração rápida e abrangente do ambiente natural e ascensão da pobreza e alienação necessitando fundamentalmente ser replanejado. No tocante a economia brasileira nos anos 90, houve segundo Mesquita et al (2006) mudanças estruturais que acabaram por desencadear uma adaptação das empresas ao mercado competitivo global. Tais mudanças resultaram nas chamadas reestruturações produtivas que se expressaram pelo fechamento de fábricas, enxugamento de plantas, redução de estruturas hierárquicas, terceirização, modernização tecnológica, redefinição de processos produtivos e outros. É posto por estes autores que as reestruturações produtivas que permaneceram nos anos seguintes determinaram novos métodos de organização e novas formas de gestão. Isto porque novos valores nas relações de trabalho vinham se moldando a medida que as reestruturações se engendravam nas empresas. Estes novos valores se referem ao pouco envolvimento dos trabalhadores nas mudanças ocorridas devido a alta rotatividade de pessoal, o autoritarismo de gerências intermediárias, conflitos e redução da motivação dos trabalhadores. Salerno (2004) corrobora a idéia que o contexto de intensificação da competição global permeou o desenvolvimento da racionalização flexível. O autor descreve em relação este nova forma de organização do processo de trabalho que o seu desenvolvimento acabou por ofuscar a perspectiva humanista pela visão antropocêntrica em voga pela massificação das idéias pelos poderosos mecanismos de divulgação. Assim a ressurgência da racionalização enraizadas nas experiências japonesas e americanas a partir da década de 90, foram expressas nas técnicas e métodos como: just-in-time, outsoursing, downsizing e reengenharia dos processos, qualidade total, empowerment como alternativas para os múltiplos problemas encontrados pelas indústrias (SALERNO, 2004). O autor entende a racionalização flexível e a sua ampla utilização como um meio de retorno financeiro aos acionistas a curto prazo. Kovács (2006) descreve a racionalização flexível - nova forma de organizar o trabalho em razão da constatação que não existe um único modelo para uma nova organização do trabalho. Pois, é necessário implicar estruturas mais inovadoras e PPGEP – Gestão Industrial (2009) 28 Capítulo 2 Referencial Teórico flexíveis além da participação dos trabalhadores. São utilizadas tanto a abordagem humanista de tradição européia como a abordagem centrada na eficiência de inspiração japonesa e americana. No entanto, a abordagem centrada na eficiência acaba por aumentar a responsabilidade dos trabalhadores por um conjunto de tarefas que tem como objetivo a flexibilidade e a redução de tarefas. Os resultados econômicos desta eficiência são denominados de melhores práticas e cuja difusão permite a melhoria da competitividade das empresas e para a força de trabalho estes resultados são expressos por intensificação do trabalho, insegurança e estresse. (KOVÁCS, 2006) Nestes modelos americanos e japoneses, de acordo com Cury (1995), a motivação das pessoas possui um papel fundamental e orienta as organizações para um alto desempenho e efetividade, com clima saudável ao se utilizar de planejamento detalhado, estreita supervisão, liderança diretiva, estruturas organizacionais detalhistas e controles acentuados. Isto é, não se aplica um modelo preconcebido antes de verificar qual é o melhor esquema para cada situação específica em uma ambiência organizacional. Pesquisas sobre novos modelos e quais fatores devem ser considerados no ambiente organizacional vem sendo desenvolvidas assim como a convergência entre estes modelos são encontradas na literatura científica. As pesquisas de Perrow asseveram que uma organização deve ser privilegiada sob diversos pontos de vista ou posições. Os estudos de Lawrence & Lorsch propuseram, segundo relatos de Cury (1995), que as empresas projetam suas estruturas e práticas administrativas de diversas maneiras, assim como a relação contingente que isto tem com o desempenho de parte delas, de diferentes tarefas em diversos ambientes. Nessa ótica, tanto as pessoas e as organizações tem de se adaptar as mudanças produzidas pela tecnologia da informação e comunicação que são consideradas, de acordo com Kovács (2006), as grandes forças que modelam as relações sociais, econômicas e políticas. Ainda é certo refletir que não existe um único modelo organizacional que funcione adequadamente atendendo a todas as variações tecnológicas, ambientais, estratégicas e humanas. O cerne da questão da discussão do trabalho na atualidade está na diferenciação do trabalho e nas condições deste resultando em tipos e graus PPGEP – Gestão Industrial (2009) 29 Capítulo 2 Referencial Teórico diferentes de autonomia do trabalho e não na generalização ou na falta de autonomia deste (Kóvacs, 2006). Esta discussão amplia-se quando Santos (2000) aponta para os determinantes do trabalho em que questiona quando a organização do trabalho é determinada pelos procedimentos técnicos (determinismo tecnológico), ou, ao contrário, a organização do trabalho é totalmente definida pelas relações sociais existentes dentro desta organização (determinismo sociológico). Robbins (2002) defende que a incerteza é o principal determinante da estrutura de uma organização. As empresas enfrentam as incertezas provenientes das constantes mudanças no ambiente, na tecnologia, nas inovações, nas demandas de mercado, atuações dos concorrentes, disponibilidade de mão-de-obra, etc. Na esteira das mudanças organizacionais que recentemente incorporaram tecnologia, conhecimento e informação ao trabalho, verifica-se outro aspecto que por sua vez, também configura as mudanças de comportamentos e métodos operacionais das organizações. Damanpour e Wischnevsky (2006) definem este aspecto como inovação e tem sua importância demonstrada por constituir um conceito central para o crescimento econômico e fonte da sustentação da vantagem competitiva das empresas. Para os autores, a inovação dentro de uma organização deve acontecer para este ser mais eficiente e assim ter condições de competir em mercados globais. Embora existam diferentes definições sobre inovação à luz de várias disciplinas que a estudam, a inovação organizacional é caracterizada como o desenvolvimento e o uso de novas idéias ou comportamentos na organização. As novas idéias relacionam-se a novos produtos, serviços ou métodos de produção – inovação técnica; ou novos mercados ou ainda sistemas administrativos ou estruturas organizacionais (inovação organizacional ou administrativa). No entanto, estas idéias, produtos ou serviços devem ser novos para a população da organização, para Damanpour e Wischnevsky (2006). Desta forma, pode-se apreender que as transformações ocorridas nos modos de organização do trabalho e como esta se orienta para o cumprimento dos objetivos gerenciais acabaram por gerar inovação no ambiente organizacional. Pois as novas práticas de comportamentos e novas oportunidades de crescimento organizacional passam necessariamente pelo conceito de inovação. 2.1.2 O impacto das teorias administrativas no homem: o desenvolvimento das doenças relacionadas ao trabalho PPGEP – Gestão Industrial (2009) 30 Capítulo 2 Referencial Teórico O homem dentro do complexo sistema produtivo é um constante objeto de estudo, uma vez que as transformações do contexto de trabalho, ainda que imersas em cenários economicamente competitivos, possa comprometer a perfeita adaptação do ser humano no ambiente laboral. As conseqüências de todas essas transformações acabam por afetar seja de forma positiva ou negativa a variável humana no processo produtivo. Os primeiros registros sobre a saúde dos trabalhadores relacionados com as condições de trabalho foram encontrados na fase artesanal da produção, fase que antecede a industrial. Este relato foi iniciado segundo Couto (2000), com Hipócrates, pai da Medicina, ao descrever um dos primeiros relatos de distúrbio crônico das mãos causado por movimentos repetitivos no trabalho. Bernadino Ramazzini na obra As Doenças dos Trabalhadores publicado em 1700, apud Couto (2000) descreve a doença dos escribas e notários. Também se encontram descrições das “doenças dos mineiros” que se caracterizava pela violência à estrutura natural da máquina vital com posições forçadas e inadequadas do corpo que paulatinamente acabava por produzir grave enfermidade. Porém, é a partir da produção industrial que o trabalho configurou contornos mais complexos. Esta complexidade se expressa na forma como o trabalho foi sendo estruturado ao longo do século XX sob o ponto de vista dos materiais, métodos, mãode-obra e fatores organizacionais que delinearam os modelos administrativos vigentes nas organizações à cada época. O processo saúde-doença no ambiente laboral é evidenciado em todos os modelos administrativos vivenciados pelas organizações desde a época da Revolução Industrial até os dias atuais. A revolução Industrial promovida na Inglaterra que perdurou de 1801 a 1900, resultou na substituição da força humana pela força mecanizada dando início ao sistema fabril. Couto (2000) relata que as primeiras tentativas de adaptação do trabalho ao homem vieram em razão das epidemias de distúrbios dos membros superiores causados por sobrecargas funcionais. Posteriormente à Revolução Industrial, teve início a fase da Administração Científica. Os princípios e enunciados desenvolvidos por Taylor determinaram o surgimento de uma nova forma racional de estruturar a produção nas indústrias despontadas pelo movimento da Revolução Industrial, a organização do trabalho. Um dos pressupostos da Administração Científica ou Racional é o estabelecimento de uma única forma correta de se realizar determinada tarefa, PPGEP – Gestão Industrial (2009) 31 Capítulo 2 Referencial Teórico independente do corpo posicionar-se de forma confortável ou que permitisse facilidade na execução destas, associada aos tempos necessários para se realizar a tarefa e ainda sob uma supervisão externa ao trabalhador. (DEJOURS, 1992; SANTOS, 2000; SPRAGUE 2007) No entanto, encontra-se descrito na literatura conforme explica Couto (2000), um linha crítica aos princípios tayloristas que entende esta forma de organização centrada na eficiência do trabalhador, acaba por desencadear a evidente separação entre o corpo e a mente com possibilidade de tensão, insatisfação e ainda o trabalho em postura forçada. Caracteriza-se assim, o meio propício para o desenvolvimento de lesões por sobrecarga funcional, para Couto (2000). Ainda segundo este autor, existe outro aspecto desenvolvido pelo taylorismo: o estabelecimento de cálculos para a determinação de tempos de recuperação de fadiga. E a aplicação deste princípio tenderia a reduzir a possibilidade de ocorrência de lesões na organização científica do trabalho. Os princípios tayloristas da organização do trabalho apontam que o controle rigoroso, divisão e a pressão temporal para toda a produção podem causar queixas de sobrecargas, dores, tensões e lesões, conforme explicam Abraão & Torres (2004). Na visão de Dejours (1992) estes princípios pretendem uma organização do trabalho tão rígida que exclui o saber e a capacidade criativa do trabalhador. Para Souza (2005), a penosidade do trabalho a esta época ocorreu além dos aspectos manuais dos modos de produção, mas também em relação a duração extensa da jornada de trabalho, da ausência das condições sanitárias e dos cuidados no manuseio de substâncias perigosas à saúde do trabalhador. Embora se verifiquem diversos fatores que comprometessem a integridade da força de trabalho, os estudos de Taylor, segundo Drucker (1998), constituíram um fator básico para o enorme aumento da riqueza dos países nos últimos 75 anos. Na década de 40 e 50, após Taylor houve o desenvolvimento da Engenharia de Tempos e Métodos por Frank e Lílian Gilbreth. O cerne desta engenharia é alocar o tempo necessário para o trabalhador realizar a sua tarefa. Couto (2000) descreve além deste tempo adequado para o cumprimento da tarefa, tabelas de cálculo de pausas. Para a determinação destas pausas torna-se necessário conhecer os graus de dificuldade do trabalho, para enfim alocar o devido tempo compensatório de realização da tarefa. O modelo seguinte a Engenharia de Tempos e Métodos, o Fordismo, determinou fatores da organização do trabalho com alto potencial de sobrecarga para PPGEP – Gestão Industrial (2009) 32 Capítulo 2 Referencial Teórico o trabalhador. Couto (2000) cita os três princípios básicos da organização do trabalho de Ford: esteira de produção que eliminava a movimentação ativa do trabalhador, ritmo de trabalho ditado pela esteira, que por sua vez, determinava tempo para a realização da tarefa e a super-especialização do trabalhador naquela tarefa. Seis décadas foi o tempo que o fordismo prevaleceu nas indústrias de produção em massa. Isto se deve pela tendência de crise do capitalismo, particularmente em sua manifestação na Grande Depressão dos anos 30 (BOTELHO, 2000). Mattoso (apud Couto, 2000) entende que nos dias de hoje há a “desordem do trabalho” caracterizado por terceirização, células de produção, linhas enriquecidas, grupos semi-autônomos convivendo com a continuidade dos sistemas Fordista e Taylorista. A polivalência do trabalhador especializado é destaque nas células de máquinas a fim de aumentar a produtividade do trabalhador. Nas produções que envolvem montagem, manufatura e trabalho manual não ocorreu qualquer alívio da carga de trabalho com relação ao sistema Fordista, uma vez que esse tipo de organização do trabalho aumentaria a sua densidade, contribuindo para a sobrecarga. Atualmente com a introdução da tecnologia da microinformática, uma série de processos pôde ser redefinida ocasionando alívio da sobrecarga para alguns tipos de trabalho, e um enorme aumento de sobrecarga para outros. (Couto,2000) Nesse sentido, Abrahão e Torres (2004) questionam se os novos modelos de gestão e organização da produção vigentes são compatíveis com as novas configurações do mundo do trabalho. Isto porque os princípios da Organização Científica do Trabalho de Taylor têm seus resquícios nos modelos administrativos que despontaram após esta escola e que se apresentam nos modelos atuais. As lesões por sobrecarga funcional dos membros superiores também acompanham a evolução dos processos de trabalho. As epidemias destas lesões coincidem com a existência de mudanças destes processos de trabalho, na forma pela qual os processos são organizados e pelas alterações nas relações de trabalho. Ribeiro (2002) argumenta sobre as mudanças ocorridas no modo de trabalho, como por exemplo, a diminuição do esforço muscular bruto. Embora existam trabalhos com exigência de baixa quantidade de força muscular, repetição rápida dos movimentos e trabalho sedentário, estes são em grande parte, responsáveis pela intensidade e aceleração da produção e aumento da produtividade. Isto demonstra que as novas exigências da produção e os agravos do trabalho dizem respeito ao conteúdo do trabalho e menos ao uso excessivo de força física. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 33 Capítulo 2 Referencial Teórico É mister frisar que o trabalho no decorrer da sua evolução imprimiu impactos significativos na saúde e na vida dos trabalhadores. Isto se deve, para Martinez (2002) pela correlação entre as relações de trabalho expressos pela organização e atuação de organizações para a luta dos interesses dos trabalhadores, fatores econômicos desencadeados por crises financeiras em escala mundial e pelas mudanças tecnológicas e nos modos de produção. Perante um cenário de transformações constantes, o ambiente de trabalho acabou por constituir um meio propicio ao desajustamento do processo de saúde dos trabalhadores. Martinez (2002) ainda relata que a atenção dada ao processo saúde/doença no trabalho foi intensificada a partir da Revolução Industrial. A esta época, era imperioso que o trabalhador se recuperasse quando acometido por alguma enfermidade a fim de que retornasse ao seu trabalho. As ações pertinentes a saúde do trabalhador desenvolvidas a partir dos anos 60 são demonstradas como sendo o “... resultado de interações dinâmicas e complexas determinadas pelos domínios sociais, mentais, históricos e políticos onde o trabalho tem caráter central.” (MARTINEZ, 2002, p. 46) No tocante as doenças do trabalho, este estudo destaca as osteomusculares e o conhecimento atual da ciência a respeito dos seus fatores causadores. Na revisão da literatura sobre estas doenças foi verificado um número exíguos de trabalhos que tentam explicar as suas causas. Portanto, optou-se pelo entendimento apresentado pelos trabalhos de Couto, um dos maiores expoentes sobre os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho1. Couto (2000) relata que a década de 80 foi marcada pelo crescimento exponencial em todo o mundo das lesões por esforços repetitivos – LER, de natureza osteomuscular e ocupacional. A gênese destas doenças está na existência de quatro fatores denominados de biomecânicos (força necessária para executar uma tarefa, posturas incorretas dos membros superiores, repetitividade, vibração e compressão mecânica das estruturas dos membros superiores) e mais o tempo insuficiente para a recuperação da integridade dos tecidos. 1 Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho – DORT. Designação dada as lesões por esforço repetitivo pela Previdência Social do Brasil em 1998 por meio da publicação de uma instrução interna de serviço, seguindo uma tendência mundial de designação desses transtornos como W.R.M.D – work‐ related musculoskeletal disorders. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 34 Capítulo 2 Referencial Teórico O autor com base nas pesquisas desenvolvidas pelo NIOSH (Instituto Norte Americano de Saúde e Segurança no Trabalho) descreve: “[...] à medida que se aumenta a intensidade de um dos fatores, a partir de determinado ponto crítico, passará a ocorrer um crescimento gradativo na incidência das lesões; se houver um segundo fator, diante de um valor menor do primeiro, já poderão aparecer as lesões; se houve um terceiro fator, mais fácil será a ocorrência. E assim por diante.” (COUTO, 2000, p. 79) Desta forma, este modelo explica porque algumas profissões possuem alta prevalência e incidência precoce ou tardia de LER/DORT. A outra explicação para as causas destas lesões é determinada pela existência de fatores contributivos de natureza pessoal, social e organizacional. Dentre os fatores pessoais, destacam-se segundo Couto (2000) a partir dos estudos de Bammer em 1993, alguns que nitidamente relacionam-se à existência dessas lesões como a força física e aptidão. Quanto a influência dos fatores psicológicos há características da personalidade (tensa com alto senso de responsabilidade e insegurança) e quanto a influência dos fatores sociais não se evidenciam nenhuma relação na origem destas doenças. A partir desta consideração pode-se inferir que o desenvolvimento de doenças relacionadas ao trabalho depende da conjugação de diversos fatores como a organização do trabalho e psicológicos além dos biomecânicos para determinar a causalidade com o trabalho. Portanto, verifica-se que o paradigma biomecânico é insuficiente para explicar as causas destas lesões. Destacam-se ainda os fatores psicossociais e da organização do trabalho. Aqueles relacionados a organização do trabalho podem ser caracterizados pela falta de variabilidade das tarefas e pela ausência de pausas e velocidade do trabalho. (COUTO, 2000). Os estudos de Martinez (2002) a respeito dos fatores psicossociais ou também denominados como fonte de estresse (ou estressores) revelam um conceito amplo destes fatores. A definição apontada pela autora fundamenta-se na definição apresentada pelo OIT – Internacional Labour Office (Organização Internacional do Trabalho) que considera como fatores psicossociais aqueles referentes a interação entre e no meio de trabalho, conteúdo do trabalho, condições organizacionais, habilidades do trabalhador, necessidades, cultura, necessidades extra trabalho pessoais que podem afetar a saúde, o desempenho e a satisfação no trabalho seja por meio das percepções ou da experiência. Assim, no estudo destes fatores, a forma como o trabalho é organizado pode sobremaneira impactar na saúde do trabalhador. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 35 Capítulo 2 Referencial Teórico Várias das exigências físicas do trabalho tem sido objeto de mensuração de acordo com Ribeiro (2002). Dentre estas exigências estão a sobrecarga dinâmica e estática, o número e o ritmo dos movimentos, o tempo de trabalho, etc. No entanto, os fatores de natureza neuropsíquica produzidos a partir de exigências nos campos cognitivo, afetivo e do comportamento carecem de instrumentos de mensuração objetiva e têm sido pesquisadas através de questionários, Na tentativa de encontrar o entendimento das causas dos distúrbios osteomusculares relacionadas ao trabalho quatro linhas alternativas ao modelo biomecânico são descritas por Couto (2000). A primeira linha, de acordo com o autor, é derivada da Ergonomia francesa e sua ênfase está no modo como o trabalho é organizado. Isto inclui o número de horas extras, dobras de turno, possibilidade de aumento da velocidade das esteiras de produção e distribuição inadequada da carga de trabalho. Portanto, a ação preventiva é centrada na reestruturação da organização do trabalho. Este autor explica os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho por meio da abordagem política da doença. Pelo ponto de vista dos ideologicamente engajados na luta contra o capital, as LER/DORT seriam o resultado do sofrimento e exploração impostos à classe trabalhadora pelo capitalismo originado com a Administração Científica do trabalho. Portanto, a redução do sofrimento do trabalho se dará pelo controle social da produção e da organização do trabalho. A psicologia organizacional explica as LER/DORT como sendo o resultado da falência dos mecanismos psicológicos individuais e coletivos de resistência dos trabalhadores diante das práticas administrativas e gerenciais opressivas nas organizações. A promoção da qualidade de vida no trabalho, identidade com a tarefa e eliminação de relações de trabalho rígidas constituem ações preventivas nesta linha. (COUTO, 2000) A explicação e o entendimento atual sobre as causas das LER/DORT advém de uma pesquisa – tese de doutorado realizada por Couto (2007). Este estudo pretendeu elucidar quanto a existência de realidades divergentes de alto e baixo índice de ocorrências de distúrbios de membros superiores em trabalhos semelhantes e ainda destacar os fatores de natureza organizacional e psicossociais envolvidos. Os resultados encontrados neste estudo são apresentados a seguir. Desta forma, Couto (2007) a partir da constatação de uma mesma realidade biomecânica inadequada em empresas cujas incidências de LER/DORT são antagônicas, isto é, uma empresa apresenta alto índice de LER/DORT enquanto a PPGEP – Gestão Industrial (2009) 36 Capítulo 2 Referencial Teórico outra realidade organizacional apresenta baixo índice entende que o modelo biomecânico explica os distúrbios, mas não a diferença na incidência (epidemia). Para o autor, quando o conjunto de medidas definido pela gerência não possibilita condições adequadas de realização da prescrição de trabalho a organização do trabalho fica comprometida em razão da sobrecarga no aspecto físico e da carga de trabalho na realização da tarefa gerando como conseqüência comprometimento na obtenção dos resultados da empresa, predisposição a transtornos psicossomáticos, distúrbios e lesões de membros superiores e estresse. Sendo este último fator de importância considerável devido a sua constância no nível operacional em decorrência da pressão que o próprio trabalho imprime ou pela pressão excessiva sobre os trabalhadores Quando ocorre a quebra dos mecanismos de regulação, isto é, da existência de uma série de fatores que possibilita a retomada do equilíbrio da integridade física/cognitiva/mental ou tensional que se exemplifica pelo uso de estruturas sociais do trabalho (pausas, amortecimento da pressão pelas chefias), da personalidade do próprio trabalhador (indivíduo calmo, mais bem preparado) e também na esfera das relações de trabalho (intervenção ou acompanhamento por sindicatos); o trabalhador tende a adoecer, como descreve Couto (2007) por estar diante de uma carga exagerada de trabalho ou de um nível de tensão e estresse muito altos. Quanto à realidade social para os DORT, Couto (2007) verifica que esta realidade tem papel determinante no alastramento epidêmico dos distúrbios devido a incapacidade da empresa em tratar e realocar as pessoas com quadro de dor nos membros superiores. O trabalhador novo na função assim como a ocorrência de algum evento que subitamente mude a realidade da área de trabalho e ocasione frustração aos trabalhadores constituem uma descoberta importante na determinação do modelo causal de LER/DORT. Esta verificação se entende em razão do trabalhador novo em uma determinada função não apresentar uma condição musculoesquelética adequada para a execução motora e domínio da tarefa ou atividade; vivência de insegurança e medo quando este indivíduo de depara com um ambiente de trabalho tenso e também porque este trabalhador novo tem menor possibilidade de exercer seus mecanismos de regulação (COUTO, 2007). Por fim, o autor destaca que quanto maior for a presença dos fatores elencados acima, maior a probabilidade da ocorrência de epidemias de LER/DORT PPGEP – Gestão Industrial (2009) 37 Capítulo 2 Referencial Teórico 2.2 Ergonomia Enquanto ciência, a Ergonomia é relativamente nova, muito embora o homem tenha desde civilizações antigas procurado adaptar as ferramentas e utensílios de uso cotidiano. Entretanto, a sua origem e evolução foram marcadas pelas transformações sócio-econômicas e sobretudo tecnológicas que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. (IIDA, 2005). Para este autor, o batismo da ergonomia ocorreu no dia 12 de julho de 1949, quando um grupo de cientistas e pesquisadores interessados em discutir e formalizar a aplicação deste novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência se reuniu na Inglaterra e propôs o neologismo ergonomia, formado pelos termos gregos ergo, cujo significado é trabalho e nomos que significa regras e leis naturais. Segundo Moraes e Mont’Alvão (2000) em 1857 durante o ápice do movimento de industrialização europeu o termo ergonomia já havia sido utilizado pelo polonês Woitej Yastembowsky ao publicar um artigo intitulado “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseado nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”. A origem do termo ergonomia é utilizada nos países europeus, incluindo a Grã-Bretanha. Já nos estados Unidos e Canadá, as expressões que mais se aproximam são Human Factors, cuja tradução é fatores humanos. (MORAES E MONT’ALVÃO, 2000). Em relação às formas de atuação ergonômica, preconiza-se em sua conceituação que toda análise e modo de intervenção deve sobremaneira privilegiar o trabalhador, referenciando as suas capacidades e respeitando as suas limitações psicofisiológicas de modo a tornar o sistema compatível com as características humanas. Assim a Ergonomia pretende a mudança na situação de trabalho para promover tal adaptação. Enquanto disciplina, a Ergonomia busca consolidar os conhecimentos obtidos com a sua práxis.Tal proposição justifica a atuação ergonômica que nasceu, segundo Wisner (1994), para dar respostas às situações de trabalho insatisfatórias com o objetivo de gerar melhorias no ambiente de trabalho conforme as capacidades e limitações humanas. Desta forma, a aplicação deste conhecimento de interface entre o humano, tecnológico e ambiental deve ser construída pela ótica de métodos de investigação que permitam corroborar ou aceitar uma verdade prévia ou pressuposto não testado ainda. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 38 Capítulo 2 Referencial Teórico Estas situações de trabalho insatisfatórias correspondem, na percepção de Vidal (2002), às demandas acerca da atividade de trabalho. Estas demandas, no entanto, possuem um espectro amplo, o que dá origem a uma multiplicidade de abordagens para resolver os problemas de interface entre o humano e o tecnológico. Ou seja, a demanda proveniente de uma situação de trabalho corresponde ao problema que esta enfrenta em determinado momento que compromete o aspecto humano do trabalho (condições ambientais que oferecem riscos à saúde do indivíduo), a segurança das instalações até qualidade inadequada de produtos. Santos et. al. (1997) relatam que a Ergonomia desenvolveu métodos de análise, permitindo colocar em evidência as estratégias utilizadas pelo trabalhador para atingir os resultados em qualidade e quantidade, estabelecidos pela empresa. A partir da análise de situações existentes, a Ergonomia propõe recomendações visando implantar modificações nos meios de trabalho, de forma a permitir uma melhor adaptação às atividades dos trabalhadores (Ergonomia de correção e Ergonomia de arranjo físico). Ainda segundo estes autores, a amplitude das transformações tecnológicas e organizacionais a que a indústrias e os serviços estão sujeitos atualmente faz com a Ergonomia, cada vez mais fixe sua atenção sobre projetos tecnológicos e organizacionais. É a partir da interação entre os fatores humanos e o tecnológico que a Ergonomia tem a sua ação, sendo que esta se fundamenta em bases científicas para a adaptação dos meios e métodos de produção ao homem tanto em situações que privilegiam um posto de trabalho com único operador, quanto às instalações complexas com vários trabalhadores. (MORAES E MONT’ALVÃO, 2000) Haja vista a fundamentação ergonômica em bases científicas, Vidal (2002) coloca a partir da descrição de Daniellou (1991) duas dimensões desta disciplina: científica e prática. A primeira traz fundamentos às aplicações que realiza e a segunda torna uma aplicação viável no mundo da produção e também por tratar de problemas onde outras abordagens deixaram de atuar. Assim, torna a Ergonomia sujeita a dois tipos de avaliações: sob critérios científicos e também sócio econômicos. Para Vidal (2002) a atividade de trabalho caracteriza-se como foco da Ergonomia. O que por sua vez é entendida como o resultado da organização da produção que procura estabelecer as formas de trabalhar a partir de seus critérios econômicos, gerenciais e operacionais e que ainda pretende condições de execução desta atividade. Entretanto, este delineamento se confronta com limites colocados PPGEP – Gestão Industrial (2009) 39 Capítulo 2 Referencial Teórico pelas regras legais das várias normalizações da capacidade de organização dos trabalhadores em sindicatos e órgãos de classe. A partir destas considerações, forma-se uma definição de Ergonomia enquanto prática, para este autor: “Ergonomia é a ocupação de pessoas qualificadas em grupos de pesquisa e formação que atuam em equipes de projeto e consultoria para responder às demandas acerca das atividades de trabalho e do uso e manuseio de produtos na sociedade mediante metodologias de análise de projetos de base científica devidamente inseridos num universo normativo e contratual”. (Vidal, 2002; p. 03) Na discussão sobre a atividade de trabalho, pode-se atribui a ela a função de fio condutor para analisar as situações de trabalho em sua totalidade e dimensões, de acordo com Abrahão (2000). A autora ainda descreve que para a realização desta análise, a Ergonomia utiliza uma metodologia própria de intervenção denominada de análise ergonômica do trabalho que tem por objetivo entender o fazer do trabalhador inserido em um contexto real, apreender o trabalho efetivamente realizado, ou seja, como o homem se comporta para executar o que lhe é imposto pela organização do trabalho. Abrahão (2000) fundamenta-se nas idéias de Wisner (1996) acerca da importância da análise ergonômica do trabalho, ao argumentar que reside no fato das ações estarem sempre inscritas em um contexto, tornando-se impossível compreendêla fora dele. Em seu estudo teórico sobre a importância da variabilidade do trabalho, Abrahão (2000), demonstra que as situações de trabalho variam em razão das diferenças individuais do sujeito quando confrontados com os objetivos da produção e os meios de trabalho (social e tecnológico). Este confronto configura, segundo a autora, na singularidade das situações de trabalho e imprime ao trabalhador o uso de suas competências – repertório de procedimentos ou métodos alternativos que permite ao indivíduo adaptar-se de forma mais fina às diferentes situações que se apresentam. É mister frisar que a Ergonomia possui uma visão ampla ou holística da situação de trabalho. Para Vidal (2002) são necessários considerações de ordem física, cognitiva, social, organizacional, ambiental e de outros aspectos relevantes que devam ser considerados. Nesse sentido, foi estabelecida uma divisão didática deste campo do saber de modo a definir sua área de atuação em: ergonomia física, cognitiva e organizacional. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 40 Capítulo 2 Referencial Teórico O delineamento da prática ergonômica tem referência ainda no contexto histórico, o qual demonstra a década de 70 como o ponto para a passagem definitiva da análise situada para o campo da ação com uma crescente integração da Ergonomia na prática industrial, conforme explica Vidal (2002). A esta época houve além do movimento da gestão da qualidade, a introdução de um novo conceito, intervenção ergonômica no ambiente organizacional. Este termo é hoje uma expressão corrente em países com maior avanço da Ergonomia como o Japão, Estados Unidos, França, Canadá, Alemanha, Suécia e Brasil. Acompanhando as transformações dos paradigmas econômicos nos anos 80, a intervenção ergonômica teve sua ampliação para o formato atual, a ação ergonômica. (MORAES E MONT’ALVÃO, 2000) Estas autoras descrevem a intervenção ergonomizadora em cinco etapas: 1 – Apreciação ergonômica: caracterizada por uma fase exploratória que compreende o mapeamento dos problemas ergonômicos da empresa; 2 – Diagnose ergonômica: permite o aprofundamento dos problemas priorizados a partir do diagnóstico ergonômico; 3 – Projetação ergonômica: é a adaptação das estações de trabalho, equipamentos, ferramentas às características físicas, psíquicas e cognitivas do trabalhador; 4 – Avaliação, validação e/ou testes ergonômicos: são as simulações e avaliações através de modelos de teste e da percepção do trabalhador sobre as soluções a serem implantadas; 5 – Detalhamento ergonômico e otimização: revisão projetual segundo as restrições de custo, prioridades tecnológicas e capacidade de instalação das soluções técnicas disponíveis. Para Vidal (2002), a atuação ergonômica obtém melhor perspectiva quando inserida na estratégia organizacional. Esta modalidade de atuação, que passou a vigorar a partir dos anos 90 é denominada de Macroergonomia. No entanto, a segunda vertente, propõe uma Ergonomia voltada para o nível das contingências sociais e culturais em que uma empresa está afeita e no seu ambiente imediato - denominada de Antropotecnologia. Macroergonomia é entendida, de acordo com Kleiner (2006), como o projeto de sistemas de trabalho cujo foco está na interação da organização do trabalho com o sistema. Ainda segundo a autora acoplado com a necessidade atender ao sistema PPGEP – Gestão Industrial (2009) 41 Capítulo 2 Referencial Teórico maior está a necessidade de rendimento de resultados significativos. Neste contexto, parece que os ergonomistas necessitam dos custos justificados em suas intervenções. A macroergonomia é uma maneira de ajudar esta intervenção ao procurar aproximar as abordagens organizacionais clássicas (aspectos de supervisão trabalho, hierarquia, sistemas de recompensa e controle) e humanas (equipes e a sua motivação). A chamada macroergonomia surgiu quando nos anos 70, a partir de estudos dos Fatores Humanos ao predizer as tendências que norteariam a ergonomia nos próximos 20 anos. Estas tendências incluíam: aumento tecnológico, aumento das diversidades demográficas, mudanças de valores, concorrência mundial e falha da microergonomia em conseguir resultados relevantes e significativos. (KLEINER, 2006). É a partir deste cenário onde as empresas primam pelo equilíbrio sociotécnico entre as pessoas, tecnologias e organização, que a Macroergonomia tem a sua ação. Tal equilíbrio é derivado das variáveis relevantes da escola sociotécnica que por sua vez considera que o comportamento das pessoas frente ao trabalho depende da forma de organização do trabalho e do conteúdo das tarefas e serem executadas, pois o desempenho destas e os sentimentos a elas relacionados: responsabilidade, realização, reconhecimento são fundamentais para que o indivíduo tenha satisfação no trabalho. (MESQUITA et al, 2006; KLEINER, 2006). A figura 1 a seguir ilustra os diversos componentes do contexto do trabalho e que fundamentaram o modelo sociotécnico. Assim, pode-se entender que a atividade de trabalho é influenciada pelos componentes da organização do trabalho, das pessoas, procedimentos e instrumentos operacionais o que por sua vez determina as interfaces físicas, cognitivas e organizacionais do trabalho. Figura 1 – Modelo sociotécnico que fundamentou a macroergonomia (Vidal, 2002, p.94) PPGEP – Gestão Industrial (2009) 42 Capítulo 2 Referencial Teórico Portanto, a Ergonomia contribui de forma decisiva e efetiva para que este entendimento almejado pelas empresas se faça assentado em bases de realismo e do ponto de vista da atividade das pessoas nas organizações, segundo Vidal (2002). Mesquita et al (2006) relatam que a proposta sociotécnica, escola na qual a macroergonomia se desenvolveu, foi absorvida pelas empresas a partir dos anos 90 em razão desta proposta atuar como instrumento de eficiência produtiva devido as necessidades de flexibilidade frente as demandas flutuantes de produção e não como instrumento de melhoria das condições de trabalho. Pode-se apreender desta constatação que a macroergonomia desenvolveuse como uma ferramenta para suprir a falha que a teoria sociotécnica deixou se enfatizar – a melhoria das condições de trabalho; porém estas melhorias inserem-se na visão gerencial da organização industrial. A outra vertente, a Antropotecnologia é segundo Vidal (2002), entendida como o resultado da combinação de aspectos ergonômicos e macroergonômicos envolvidos numa transferência de tecnologia. Este termo foi cunhado por pesquisador francês Wisner. Santos et. al. (1997) consideram a Antropotecnologia a partir das proposições de Wisner os problemas decorrentes da transferência de tecnologia, dentre eles as inadequações relacionadas aos aspectos humanos do trabalho. Tais implicações são oriundas de processos de transferência mal conduzidos expressos por produção em qualidade e quantidade inferior ao que foi previsto, desgaste do material transferido e até atrofia do sistema técnico. Nos aspectos humanos, há riscos igualmente elevados tanto pelos acidentes de trabalho quanto pelas doenças profissionais, além de outros fatores como problemas ambientais, enfermidades urbanas e sociais como o aparecimento de doenças. Esta abordagem está voltada para os problemas de organização do trabalho e de formação dos trabalhadores, os chamados aspectos não-materiais da tecnologia do que do próprio dispositivo técnico a ser transferido. (SANTOS et. al. 1997) De todo o exposto, nota-se que Ergonomia se utiliza de uma série de possibilidades de divisão, classificação e tipologias. De acordo com Vidal (2002), essas distintas formas de olhar, a realidade dos sistemas de produção e as situações de uso e manuseio, caracterizam os seguintes conceitos: - A atividade de trabalho como objeto, ou entendida como os fatos da atividade humana em uma situação de trabalho ou em um contexto de uso e manuseio PPGEP – Gestão Industrial (2009) 43 Capítulo 2 Referencial Teórico de produtos, que a Ergonomia tem como interferir e tratar à luz do conhecimento próprio e de suas disciplinas de base; - A teoria da atividade, que busca fundamentar num plano conceitual único a ação localizada ou a atividade em si mesma e a inserção desta atividade num contexto mais amplo (sua macroestrutura); - A noção de sistemas e suas decorrências para a Ergonomia tais como sistema homem-máquina e interfaces. Esquematização metodológica para a análise de sistemas; - Os conceitos do campo da complexidade que definem os enfoques da Ergonomia e as várias disciplinas de síntese contemporâneas. Assim a Ergonomia demonstra ser uma ciência cuja importância social , sobretudo pela potencialidade verificável nos campos da intervenção, do design, da macroergonomia e da antropotecnologia. 2.2.1 Ergonomia e sistemas automatizados As transformações na organização do trabalho e nas formas de gestão decorrentes deste processo de reestruturação produtiva, e principalmente na remodelagem das tarefas que antes seguiam a escola taylorista de organização do trabalho acabam por trazer mudanças profundas nos hábitos, nas atitudes e principalmente na natureza do trabalho. A informatização dos postos de trabalho gerados pela evolução tecnológica transfere a carga de trabalho que antes estava concentrada nos músculos para os órgãos dos sentidos e da atenção. (GRANDJEAN, 1998; MOARES & MONT’ALVÃO, 2000). Neste novo contexto, da automatização dos sistemas produtivos, cabe ao homem o papel mais ativo nas situações de trabalho, pois estas novas condições de controle e regulação do processo necessitam do operador uma vigilância contínua associada a resolução de problemas e tomadas de decisão. Conforme explica Moares & Mont’alvão (2000) este tipo de tarefa pode não implicar em qualquer esforço físico acentuado do operador, mas ocasiona altos níveis de tensão para o homem. A apreensão das causas do erro humano requer o entendimento do contexto de trabalho, a qual a atividade está calcada e onde a organização do trabalho possui papel determinante. Ela, a organização do trabalho, influencia o planejamento, a execução e a avaliação, permeando todas as etapas do processo produtivo. É também PPGEP – Gestão Industrial (2009) 44 Capítulo 2 Referencial Teórico seu objetivo, segundo Abrahão e Torres (2004), prescrever as normas e os parâmetros que determinam toda a estruturação da produção como por exemplo, quem vai fazer, o que vai ser feito, como, quando e com que equipamentos / instrumentos, em que tempo, em que quantidade e qualidade, etc. Na literatura científica atual referente aos aspectos humanos do trabalho, nota-se o aspecto cognitivo humano como cerne na concepção ou reestruturação de artefatos tecnológicos, na construção de sistemas para tomada de decisão, na melhoria das condições de trabalho e nas análises de acidentes de trabalho. (MORAES & MONT`ALVÃO, 2000). Assim, paulatinamente a inovação tecnológica considera o homem não somente como o fim, mas como o meio para atingir seu objetivo de maximizar a produtividade e minimizar os custos do trabalho de modo a facilitar a atividade humana no trabalho. (ABRAHÃO E TORRES, 2004). Para Bouyer e Sznelwar (2005) a eficiência produtiva dos sistemas automatizados é determinada pelos recursos dos dispositivos técnicos empregados e principalmente pela cognição humana. Esta é tida como complexa devido a sua função em suprir as deficiências do sistema assegurando a sua eficiência assim como a consideração de outros aspectos como a organização do trabalho. Por outro lado, ao se desconsiderar os fatores humanos nos sistemas de trabalho, têm-se as falhas do sistema e a ineficiência do seu desempenho. É imprescindível a adaptação das máquinas às características físicas, cognitivas e psíquicas do homem, devido ao número de informações a selecionar, as variáveis a interpretar e as várias possibilidades de solução dentro do sistema. As capacidades e limitações humanas que influenciam na performance da execução da tarefa caracterizam os modelos cognitivos têm como base as idéias de Rasmussen (1986). Carvalho et al (2002) descrevem que estas idéias partem do princípio do processamento da informação pelos seres humanos a partir de componentes como memória de curta e longa duração, do comportamento motor e dos processos cognitivos como atenção, tomada de decisão, etc. Abrahão (2000) considera que a Ergonomia aplicada aos sistemas informatizados busca estudar como ocorre a interação entre os diferentes componentes do sistema a fim de elaborar parâmetros a serem inseridos na concepção de aplicativos que orientem os usuários e que contribuam para a execução da tarefa. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 45 Capítulo 2 Referencial Teórico 2.2.2 Critérios para a ação ergonômica A acepção do termo critério contempla segundo o dicionário de língua portuguesa Larousse, uma norma ou aquilo que serve para julgar ou distinguir o erro da verdade. Portanto, pode-se inferir que o termo critério sob o qualitativo de ergonômico serve para determinar se uma atividade, tarefa, situação de trabalho, ambiente, organização do trabalho ou os demais fatores organizacionais e que constituem o foco da ação ergonômica atendem as especificações de conforto, eficiência, usabilidade, segurança, custo-benefício e custo-efetividade. Os critérios adotados nesta pesquisa são descritos por Vidal (2002)e tem a função de nortear a ação ergonômica. Estes são definidos como sociotécnicos que inclui o princípio do conforto e da eficiência; de adequação cuja composição considera a usabilidade e a segurança; e o critério econômico abrange os princípios de custobenefício e custo-efetividade. Os critérios sociotécnicos, clássicos em Ergonomia, propõe a finalidade da saúde e da produtividade sem confrontações uma vez que estas devem reger primariamente as ações ergonômicas, para Vidal (2002). Para Vidal (2002) há três princípios que fundamentam o critério sociotécnico: - conforto: subentende o princípio de saúde e bem estar (conforto, adequação da carga de trabalho, higiene e qualidade de vida no trabalho). - eficiência ou princípio do bom desempenho social; - segurança: princípio da produção segura e por decorrência o debate da confiabilidade sociotécnica. Os critérios sociotécnicos são caracterizados como uma função progressiva na medida em que uma situação de desconforto gera um estágio de ineficiência o que por sua vez um processo inseguro. Assim, como colocado por Vidal (2002), a prevenção primária na saúde ocupacional e a eficiência produtiva são determinadas pelas condições de conforto na realização das operações do sistema produtivo. Ainda em relação aos princípios de saúde e bem estar, o autor explica que estes princípios possuem características abstratas o que dificulta a sua aplicação na realidade prática. As alternativas para a inserção destes princípios são alcançadas perante a legislação via instrumentos legais como a NR 17 e a convergência com PPGEP – Gestão Industrial (2009) 46 Capítulo 2 Referencial Teórico outros aspectos da organização da produção perante uma demanda determinada por outros elementos importantes. No entanto, o princípio do bem desempenho social ou eficiência se revela sob a égide dos ganhos de produtividade, melhoria da qualidade e aumento da confiabilidade. O critério de adequação revela o objetivo de adaptar o trabalho ao trabalhador e se desdobra no princípio da segurança no plano da produção e no princípio da usabilidade no plano do produto e como base o custo da inadequação para quem é vítima dela. Vidal (2002) defende a idéia que o processo de trabalho deve produzir produtos e saúde e que a integração entre bem estar ativo (saúde e segurança no trabalho) e desempenho produtivo (confiabilidade, qualidade e produtividade) devem formular projetos de organização do trabalho. Este autor entende a usabilidade com o objetivo de proporcionar ao usuário uma melhor interação como o produto ao adaptá-lo ao usuário. Tal princípio ganha importância à medida que ocorre a expansão de mercados. Para Vidal (2002) os critérios econômicos da Ergonomia devem configurar como um investimento para a vida das empresas e com ganhos para o trabalhador. Os princípios destes critérios são as relações custo-benefício e custo-efetividade. Para o autor muitas intervenções ergonômicas se pagam dentro de um prazo de dois anos, muito embora seus efeitos apresentem uma larga sobrevida na organização. É por isso que a intervenção ergonômica deve ser alocada aos investimentos da organização. É notória a sua interferência na economia ao minimizar custos de lesões ou doenças dos trabalhadores, produtividade perdida, habilidades precárias, etc e ainda proteger legalmente o trabalho. O princípio do custo-benefício, de acordo com Vidal (2002) aponta para estimar a magnitude de indicadores ergonômicos, os quais provêem eficiência, reduzem o esforço e o desempenho e que indicam boas decisões econômicas os quais devem preferencialmente apresenta resultados positivos quando alocados aos projetos de investimentos e de despesas anuais. Este é um custo que deriva das conseqüências de estar errado no projeto das condições de trabalho refletindo valores expressivos no tocante danos, perda de produtividade e qualidade. Vidal (2002) dá sentido no investimento em Ergonomia quando o questionamento acerca da promoção de boas relações com os empregados e de boas relações públicas, justificativa destas ações ergonômicas pelos competidores, cumprimento de requerimentos legais e interesse moral dos administradores em não causar danos aos seus empregados são positivos. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 47 Capítulo 2 Referencial Teórico Desta forma, o cerne do critério ergonômico está na habilidade de medir resultados aparentemente inatingíveis e esclarecer exemplos de quantificação dos benefícios. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 3 - Metodologia 48 CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA Neste capítulo serão detalhados os procedimentos metodológicos que foram utilizados no estudo. Serão apresentados a caracterização da pesquisa, o método de pesquisa adotado e o sujeito da pesquisa. 3.1 Caracterização da pesquisa A construção metodológica para atingir os objetivos desta pesquisa será realizada sob os preceitos da pesquisa qualitativa, segundo a forma de abordagem do problema de pesquisa. Quanto à natureza, a pesquisa é definida como aplicada, pois objetiva gerar conhecimentos para a aplicação prática de problemas específicos. O método científico utilizado é o dedutivo. Justifica-se a abordagem qualitativa adotada, segundo as proposições de Alves-Mazzotti & Gewandsznajder (2004), que considera esta pesquisa como uma estruturação prévia na sua forma devido a existência de características como: realidade múltipla e socialmente construída em uma dada situação. O conhecimento é emergente destas múltiplas realidades e pelos participantes sendo que o universo de pesquisa possui uma natureza entendida como não repetível e holística, isto é, exige a visão de sua totalidade. E quanto a formulação do problema, este deve ser referente a uma ou mais variáveis e podem estar relacionadas tanto a conduta do indivíduo quanto a eventos sociais. A abordagem qualitativa da pesquisa determinou a sua classificação quanto aos seus objetivos. Portanto, a pesquisa realizada é tida com caráter predominantemente explicativo. Gil (1991) considera que pesquisa explicativa tem o propósito de identificar os fatores determinantes ou contributivos para a ocorrência dos fenômenos estudados. É uma forma de aprofundamento do conhecimento da realidade ao explicar o porquê e a razão das coisas. O procedimento técnico adotado neste estudo é o levantamento – survey. Quanto a sua definição, o survey segundo Babbie (1999) é um tipo específico de pesquisa social empírica. A determinação deste método se fundamenta na relação das suas características com os objetivos da pesquisa como a necessidade de explicar as razões de um evento, as correlações observadas a partir de um grande número de PPGEP – Gestão Industrial (2009) 49 Capítulo 3 - Metodologia variáveis assim como examinar a importância relativa de cada uma e proporcionar a especificidade científica. Este último, explicado pela forma de medição de cada variável a partir das respostas específicas a itens específicos dos questionários codificados e quantificados de forma específica. Em relação à finalidade da pesquisa na perspectiva deste método, esta é descrita como exploratória, uma vez que visa a aplicação de um modelo de diagnóstico ergonômico organizado e sistematizado para verificar a organização do processo de trabalho de uma indústria e como esta se relaciona no contexto ergonômico e produtivo. Aliada ao objetivo exploratório da pesquisa pretende-se em um segundo momento, fazer asserções explicativas a respeito das causas do fenômeno produzido no universo pesquisado. Lakatos & Marconi (2001) entendem que no método dedutivo a informação ou o conteúdo fatual da conclusão já estava pelo menos implicitamente nas premissas da pesquisa. Assim, este método tem o propósito de explicar o conteúdo das premissas. 3.2 Survey No método de pesquisa survey, o termo que define o que será estudado é denominado de unidade de análise. As unidades de análise, de acordo como Babbie (1999) são derivadas do conceito estudado. Para esta pesquisa optou-se por caracterizar três unidades de análise: • Componentes da organização geral: especificidade, eficiência global, ambulatorial, conseqüências, centralidades, tecnologia física e gestão, oportunidade, simbolismo, gargalo, recursos humanos, segurança do trabalhador; • Componentes da organização do processo de trabalho: métodos e conteúdo do trabalho estruturado de modo a atender as exigências tecnológicas e organizacionais por meio de aspectos como a repartição de tarefas no tempo (horários, cadências de produção), e no espaço (ambiente físico), sistemas de comunicação e cooperação entre as atividades, ações e operações, rotinas e procedimentos de produção, padrões de desempenho produtivo, mecanismos de recrutamento e seleção de pessoas para o trabalho; 50 Capítulo 3 - Metodologia • Critérios ergonômicos: sociotécnicos (conforto, saúde e bem estar, eficiência), adequação (segurança no plano da produção e usabilidade do produto) e econômicos (relações de custo-benefício e custo-efetividade) Os componentes da situação de trabalho são organizados em unidades individuais de análise. Esta separação permite a identificação e coleta de dados relevantes para a análise daquela unidade. 3.3 Os sujeitos pesquisados Dentro do procedimento metodológico - survey adotado para a construção deste estudo tem-se que o universo a ser estudado é caracterizado pela organização dos processos de produção de uma unidade agroindustrial do segmento de lácteos situada na região dos Campos Gerais que é parte de uma das maiores companhias brasileiras do ramo alimentício. Os dados da indústria analisada referem-se ao ano de 2006 e são provenientes de sua matriz. A empresa analisada possuía seu foco no momento da pesquisa na atividade de leite e derivados. Neste período a indústria láctea a mesma apresentou um faturamento anual de R$ 639.974.000,00 contando com 1.767 empregados com vínculo empregatício dentre eles 900 lotados na sua matriz no Paraná e os demais lotados em regionais localizados em outros estados. Em relação ao gênero, verificou-se a essa época 1.362 homens e 388 mulheres. Na categoria tempo de casa, haviam 252 funcionários entre 10 a 20 anos; no período entre 2 a 10 anos constavam 919 funcionários, e tempo de empresa inferior a 2 anos, 579 funcionários. Quanto à faixa etária, o maior contingente de empregados encontrava-se na faixa dos 20 a 35 anos de idade, acima de 36 anos havia 412 funcionários, entre 46 a 55 anos constatou-se 73 funcionários e acima de 55 anos 8 funcionários. Esta empresa é caracterizada pelo modelo taylorista de produção (esteira de produção, fixação do trabalhador em um posto de trabalho, super especialização do trabalhador, fixação de metas) no nível operacional. No nível tático os processos de trabalho estão organizados por máquinas e equipamentos cabendo ao operador a execução de trabalho predominantemente cognitivo em razão do controle e acompanhamento das funções dos dispositivos tecnológicos. Para o nível gerencial cabe a elaboração e o planejamento da produção e da sua capacidade por meio de atividades técnicas e administrativas. 51 Capítulo 3 - Metodologia Permeado aos níveis produtivos, verifica-se a presença de um modelo de gestão que preconiza a confiabilidade dos produtos fabricados, as relações de respeito entre as pessoas e demais funcionários, motivação no ambiente de trabalho e participação direta da execução e solução rápida e eficiente de problemas, além da valorização de equipes e gerenciamento voltado para eficiência e lucratividade. A determinação da empresa para a realização deste estudo foi verificada pelos seguintes critérios: • Acessibilidade da pesquisadora na coleta de dados no ambiente de • A empresa não apresenta metodologias ou trabalhos no campo trabalho; ergonômico à época da pesquisa; • A empresa é referência no seu setor de atuação servindo de modelo e referências as demais empresas do setor. Portanto, para que o objetivo desta pesquisa científica em validar um método de diagnóstico dos processos de trabalho utilizando critérios ergonômicos para a tomada de decisão gerencial possa ser atingido, foi selecionado o contexto do universo e não determinados elementos deste universo, isto é, uma amostra, conforme preconiza o método científico survey descrito por Babbie (1999). Assim, garante-se que as medições realizadas a partir destes elementos possam relacionar, descrever e explicar que fatores da situação de trabalho quando manejados à luz da Ergonomia podem atender os objetivos da gestão da produção. 3.4 Construção das etapas do método proposto Os estágios do método proposto compreendem um ciclo de aperfeiçoamento contínuo para o diagnóstico da organização dos processos de trabalho sendo que este esteja integrado ao sistema global de gerência da empresa com o objetivo de alinhar as competências e capacidades da força de trabalho ao desempenho produtivo organizacional. Convém salientar, que este alinhamento entre a força de trabalho e aspectos econômicos de uma organização não sobrepuja uma abordagem em relação à outra; ao contrário, evidencia os pontos fortes de cada uma para uma interface equilibrada da organização. 52 Capítulo 3 - Metodologia A modelagem diagnóstica proposta trata de 9 etapas conceituais e são apresentadas conforme a figura 2: Figura 2 – Modelo proposto de diagnóstico da organização do trabalho Tais etapas conceituais descrevem a operação e a performance de instrumentos de identificação e avaliação que compõem o diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios ergonômicos. O método sugerido incorpora ao seu escopo os componentes da organização do trabalho configurados pelos critérios ergonômicos que norteiam a ação ergonômica. Desta forma, a sua estrutura é moldada baseando-se nas especificações de uma análise ergonômica do trabalho proposta por Vidal (2002) e nas etapas das metodologias de análise e solução de problemas As etapas conceituais descritas neste estudo formam um ciclo orientado para a melhoria contínua. Portanto, não pretende uma orientação para avaliação e análise do tipo ascendente (bottom – up) ou descendente (up-down) verificadas em metodologias de análise ergonômica do trabalho, mas sim uma avaliação das interfaces entre os componentes da organização dos processos de trabalho. Etapa 1 – Instrução e determinação da demanda diagnóstica 53 Capítulo 3 - Metodologia A fase de instrução e definição da demanda tem por função orientar a construção diagnóstica. Esta fase constitui o contato inicial do pesquisador ou avaliador com a organização geral de uma empresa. O objetivo primeiro deste método consiste na identificação da existência de demandas ergonômicas múltiplas ou problemas nas áreas que compõem o contexto da organização avaliada. Vidal (2002) justifica este primeiro passo de delimitação da demanda como sendo a necessidade de moldurar a forma de investigação, cujo propósito consiste em identificar a finalidade do estudo, assim como ordenar as diversas formas pelas quais uma demanda emerge. A instrução da demanda evidencia para Vidal (2002), o cenário onde o tipo de perda será trabalhado demonstrando a razão da sua definição para a atuação da análise ergonômica e ainda orienta as escolhas e o direcionamento desta análise. Desta forma, este recorte permite delinear a primeira imagem e o esquema explicativo e hipotético que configura o diagnóstico da organização dos processos de trabalho. Isto se faz pela identificação de resultados indesejáveis que comprometem a competitividade da organização geral e dos processos de trabalho ou verificação de problemas existentes, mesmo sem saber a sua real magnitude ou dimensão. Para o primeiro passo desta etapa são identificados os problemas ou os maus resultados relacionados tanto aos fatores humanos (capacitação técnica, saúde e segurança) quanto à gestão da produção (tecnologia, processos de trabalho, transferência de tecnologia, ampliação ou redução de produção, implantação de projetos pilotos de produção ou gestão) vivenciados pela organização como um todo. Para a identificação destes componentes, os gerentes do nível estratégico (quem planeja a produção) e do nível tático (quem executa o planejamento da produção) são questionados através de uma entrevista semi estruturada (conforme anexo A). Witt (2002) argumenta que nas técnicas de identificação e solução de problemas para o processo produtivo a priorização para a escolha do problema a ser tratado ou identificando é uma responsabilidade dos níveis hierárquicos superiores de uma organização. Desta forma a instrução da demanda diagnóstica é definida pelo resultado destas entrevistas. Como neste momento somente são levantados os problemas, podem incorrer divergências na identificação de problemas apontados pelos níveis entrevistados. Isto é, cada um pode apresentar uma visão ou apontar um problema diferente que segundo o ponto de vista deste nível hierárquico compromete o desempenho eficiente da organização como um todo. 54 Capítulo 3 - Metodologia Para o entendimento geral e amplo da estrutura organizacional esta é decomposta em 12 componentes conforme a tabela 1. Desta forma, são identificados em qual componente há uma situação problemática. Esta é a ferramenta que permite identificar quais os componentes da organização geral que determinarão a instrução da demanda diagnóstica. Tabela 1 – Componentes da organização do trabalho (Adaptado de Vidal – 2002, p.156) COMPONENTE DA CARACTERIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO GERAL ESPECIFICIDADE EFICIÊNCIA GLOBAL Escolha da situação devido a pontualidade do problema em uma determinada área. Escolha da situação em que se deseja o funcionamento de todas as potencialidades do negócio. Escolha AMBULTORIAL IDENTIFICAÇÃO da situação devido o número de queixas osteomusculares dos trabalhadores serem mais numerosas ou contundentes. Escolha de locais onde as conseqüências de problemas são CONSEQUÊNCIAS mais graves. Escolha de um dispositivo cujo funcionamento é central na CENTRALIDADE seqüência de fluxo de produção. Escolha de situações onde ocorrerá uma mudança a médio TECNOLOGIA FÍSICA / GESTÃO GARGALO ou em longo prazo. Escolha de uma situação crítica em produtividade Escolha de uma situação emblemática para a organização SIMBOLISMO onde se pretende realizar a melhoria das condições e que implique na imagem da empresa no mercado OPORTUNIDADE Onde um resultado positivo permita realizar outras intervenções de melhoria nas condições do trabalho Escolha da situação devido o número de perdas em absenteísmo, rotatividade, alto custo administrativo com reintegração de funcionário afastado do trabalho por DORT RECURSOS HUMANOS (nexo ou sua suspeita) e acidente de trabalho Análise das características da população - efetivo trabalho (competências e capacidades) quando ampliação ou redução do quadro funcionários. SEGURANÇA DO Escolha da situação devido o número do acidentes e TRABALHADOR incidentes do trabalho ASPECTOS PONTUAIS DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Conteúdo das tarefas, normas de produção, exigências de tempo, determinação do conteúdo de tempo, ritmo de trabalho, carga de trabalho, modo operatório, trabalho prescrito e real. 55 Capítulo 3 - Metodologia Uma vez identificado o componente, propõem-se o levantamento de dados ou indicadores referentes ao componente organizacional evidenciado a fim de que se esboce o dimensionamento da perda identificada. Considera-se a possibilidade de análises dos demais componentes de modo a compreender melhor o contexto da perda do fator organizacional. Pode ocorrer também a identificação de mais de um componente da organização geral. Neste caso, deve-se determinar qual componente apresenta prioridade na investigação ergonômica e para esta situação é utilizada a ferramenta da qualidade GxUxT (Anexo B). Para tanto, os componentes identificados como críticos são ponderados em relação aos dados quantitativos levantados e também realizar uma análise qualitativa por meio desta ferramenta. A ferramenta GxUxT objetiva orientar a tomada de decisão, estabelecer prioridades na solução de problemas detectados e identificar processos críticos sob o enfoque de três critérios ou parâmetros: gravidade, urgência e tendência. (CAMPOS, 2004; MEIRELES, 2001). O passo seguinte nesta fase é estabelecer, conforme a proposição de Vidal (2002), a demanda diagnóstica segundo a sua natureza. O autor identifica a origem desta demanda em dois aspectos: demandas de produção e de injunção, as quais compreendem outras especificações menores. 1) Demandas de produção: quando oriundas do interior da organização, que por sua vez, dividem-se em três esferas segundo o meio em que emerge: a) Demandas estratégicas: formuladas perante as mudanças de natureza cultural e comportamental da organização e onde há a necessidade de transformação ou intervenção nas potencialidades do negócio. b) Demandas gerenciais: quando o problema organizacional é originário ou evidenciado na própria área gerencial sem articular-se ou expandir para os níveis hierárquicos superiores. c) Demandas de chão - de - fábrica: quando a demanda relaciona-se a sua impactação ou repercussão direta sobre a variável mão-de-obra ou sobre os aspectos da organização do trabalho. 2) Demandas de injunção: externas a empresa e formada pela demanda do tipo sindical, de organismos públicos, econômicas, judiciais, estratégias de mercado (aquisição e fusão entre empresas) bem como a certificação por normativas em qualidade, saúde e segurança. 56 Capítulo 3 - Metodologia Esta etapa culmina na determinação diagnóstica, isto é, na escolha da situação característica a qual é constituída pela organização dos fatos levantados a partir do resultado indesejável. Etapa 2 – Definição das situações a serem estudadas A conclusão acerca da situação característica aponta para a necessidade de especificação da situação de trabalho e o local da estrutura organizacional em que se encontra o problema encontrado. Portanto, esta etapa caracteriza-se pela identificação inicial do problema a partir de um resultado indesejável, levantado na etapa anterior. O problema deve ser decomposto em dados mais específicos que ocorrem pela estratificação dos seus indicadores, a fim de determinar de forma pontual em que situação de trabalho se insere ou reside tal perda. Este processo de divisão do problema em camadas menores é o passo inicial para se buscar a origem do problema, pois também permite priorizar a perda e assim conseguir ótimos resultados com ação assertiva. Esta técnica de divisão do problema em problemas menores pela priorização dos dados quantitativos é denominado de Método de Análise de Pareto. Considera-se nesta fase a análise de croqui ou fluxograma de produção para entender e especificar o comportamento desta perda em determinada situação de trabalho e entender a organização do trabalho como um processo que se utiliza de recursos humanos, tecnológicos e administrativos para transformação de materiais em produtos. Etapa 3 – Pré-diagnóstico ou modelagem das evidências encontradas É no pré-diagnóstico que se realiza o levantamento das situações de trabalho relacionadas à situação característica. Isto é, são hierarquizados os componentes da situação de trabalho onde se procura definir o item do componente da situação de trabalho que mereça ser analisado e assim validar a instrução da demanda. Este primeiro passo na estratificação da situação de trabalho descreve claramente e precisamente o problema. Esta descrição dos dados da situação analisada deve ser precisa, imparcial, focalizar o processo, sem especular sobre a causa do problema; especificar as não conformidades e até a dimensão financeira. As 57 Capítulo 3 - Metodologia não conformidades podem ser descritas por qualquer desvio das normas de trabalho, práticas, procedimentos, regulamentos, desempenho do sistema de gestão que por sua vez, possa levar direta ou indiretamente impedir o funcionamento adequado de um componente ou a combinação destes em uma situação de trabalho. É nesta etapa que o problema organizacional apontado será analisado pelos critérios ergonômicos. A inserção da avaliação ergonômica nesta fase se justifica pelo entendimento que em toda situação de trabalho há a presença ou a influência do fator humano. Desta forma, os indivíduos ao realizarem a sua atividade de trabalho podem contribuir para o desempenho ou ineficiência desta situação, bem como sofrer os impactos dos desajustes da situação de trabalho. O levantamento dos componentes da situação de trabalho se inicia com a observação direta do modo operatório por meio da filmagem da tarefa a fim de identificar o ciclo completo de trabalho (seqüência de ações técnicas). A segmentação das ações técnicas realizadas pelo trabalhador desta situação de trabalho é que determina quais as ferramentas ergonômicas serão pertinentes para a identificação dos componentes físico e cognitivo desta situação. O levantamento dos componentes físicos e cognitivos da situação de trabalho é verificado pela aplicação de ferramentas ergonômicas (como por exemplo, Checklists de Couto, Mapa de Corlett, RULA, OWAS). No entanto, a definição da ferramenta a ser utilizada depende da natureza predominante no trabalho da situação em questão o que por sua vez, não exclui a avaliação dos outros campos. Assim, deve-se verificar o trabalho físico, cognitivo e psíquico. As ferramentas de análise ergonômica do trabalho são selecionadas e adaptadas de acordo com as características específicas acerca da natureza deste trabalho que está sendo avaliado. Além dos componentes físicos e cognitivos, devem se verificados os demais componentes da situação de trabalho, conforme a descrição de Vidal (2002): • Conteúdo das tarefas: modo como o indivíduo percebe seu trabalho: monótono ou estimulante; • Normas de produção: formas de proceder que o trabalhador deve seguir para realizar a tarefa (horário de trabalho, qualidade desejada e os regulamentos internos de cada empresa); • Exigência de tempo: o quanto deve ser produzido em um determinado tempo imposto o que abrange a velocidade, cadência, ritmo e duração da jornada; 58 Capítulo 3 - Metodologia • Determinação do conteúdo de tempo: é o que faz o trabalhador em determinado tempo. Mensura-se o tempo necessário para verificar erros ou tomar decisões; ou seja, considera-se os contornos da variabilidade que podem invalidar o tempo necessário para o trabalhador realizar a sua atividade; • Ritmo de trabalho: é o ajuste de cadências ou entendido como que a totalidade do trabalhador (conhecimentos, experiência, estado de saúde) regula-se perante a cadência (velocidade dos movimentos que se repetem em uma unidade de tempo), os objetivos e os meios oferecidos para a execução da tarefa em determinadas condições; • Carga de trabalho: resultado das exigências sobre o desempenho indivíduo no decorrer de sua atividade de trabalho. Assim, a carga de trabalho existe quando o dimensionamento da atividade não atende a capacidade individual do trabalhador; • Distanciamento entre o trabalho prescrito e real: quando ocorre esta situação verifica-se a inadequação da carga de trabalho, física, cognitiva e organizacional do trabalho. Assim, a maneira como o trabalho deve ser executada (configurado pelas formas de utilização de máquinas e instrumentos, tempo de operação, modo e normas operatórias) não condiz com a maneira efetiva que o trabalhador executa sua atividade. Este é o principal componente a ser considerado no diagnóstico; • Modo operatório: é a maneira como as atividades ou operações são executadas para se atingir o resultado final desejado, e consiste em uma parte observável (gestos executados e sua ordem no tempo e no espaço) e outra não observável, que é a parte cognitiva (o que é preciso saber para executar um determinado movimento) e a tomada de decisão implícita no trabalho (numa determinada circunstância qual a estratégia e a tática adotada pelo operador). Resume este componente pelo resultado da regulação pelo trabalhador entre o que é solicitado – tarefa, com o que fazê-lo (meios de trabalho) e como fazê-lo; • Perfil do trabalhador na função: competências necessárias como qualificação técnica, treinamentos, experiência e vivência profissional; • Variabilidade das tarefas: o conceito de variabilidade parte da constatação que em um processo de produção há desempenhos distintos em seus vários momentos de mensuração. Isto de deve à natureza do processo técnico e de trabalho que por sua vez impede a adoção de padrões globais de mensuração numa 59 Capítulo 3 - Metodologia atividade aparentemente similar. O resultado é a ação de manter sob controle e não controlar as variabilidades significativas na realidade do processo de produção. Esta etapa é finalizada pela modelagem das evidências encontradas. Nesta modelagem são articuladas e sumarizadas as informações quantitativas e qualitativas emergidas pelo levantamento realizado que formalizam um modelo teórico, cuja função é determinar a importância de cada item com base em fatos e dados das estruturas envolvidas no problema organizacional suscitado. Esta determinação da importância de cada item da situação do trabalho é feita pela utilização de uma tabela de criticidade com enfoque multicritério, que tem por objetivo ponderar entre os fatores da situação de trabalho de maior significância para o problema delimitado. Isto é, são delimitados parâmetros para se estabelecer os fatores mais significativos de um problema devido a variedade e o relacionamento existente entre estes fatores. Para este estudo, é proposta a tabela a seguir que permite estruturar os fatores significativos e ponderados pelos critérios de segurança, criticidade e severidade. A definição de tais critérios se explica em razão da necessidade de garantir a disponibilidade das funções dos componentes da situação de trabalho de modo a garantir as exigências do processo de produção a qual esta situação está inserida. Assim, a função de algum componente da situação de trabalho desempenhada de maneira insatisfatória pode comprometer a segurança dos indivíduos que realizam o trabalho e das instalações ou ambiente onde o componente está implicado, ou apresentar uma tendência de crescimento em potencial que leve a falha deste componente ou ainda apresentar um efeito negativo que se estabelece a curto, médio ou longo prazo. A estrutura da tabela de criticidade sob o enfoque multicritério é demonstrada na tabela 2 a seguir: 60 Capítulo 3 - Metodologia Tabela 2 – Tabela de criticidade sob o enfoque multicritério (Adaptada pela autora) Segurança Criticidade Severidade Organizacional Físico Cognitivo CONSEQUÊNCIA Tecnológico Ambiental Carga de trabalho A tabela 2 constituiu uma ferramenta que auxilia na tomada de decisão sobre os fatores preponderantes da formação do problema. Para isto são descritos na coluna da tabela os fatores da situação de trabalho considerados significantes para serem confrontados com os parâmetros de acordo com a relevância – segurança, criticidade e severidade que estão descritos na primeira linha da tabela. Para o preenchimento, devem-se ponderar cada fator significativo da situação de trabalho com cada parâmetro e então descrever a conseqüência ou o efeito negativo em cada célula. Entretanto, torna-se necessário definir os limites de variação das conseqüências elencadas entre o fator ou componente da situação de trabalho e o parâmetro. Esta variação pode ser especificada em uma relação de valor e peso qualitativa/quantitativa (3 - alto, 2 - médio e 1- baixo). Assim, quanto mais grave ou de maior impacto esta conseqüência, maior a pontuação e qualificação que esta receberá. A interpretação conclusiva desta tabela baseia-se na somatória dos pontos alocados a cada fator o que determinará o nível de risco ergonômico. Este nível de risco recebe o qualitativo de ergonômico devido a utilização de ferramentas ergonômicas na configuração e entendimento da natureza da atividade de trabalho. O quadro 1 exemplifica os níveis de risco ergonômicos propostos neste estudo: 61 Capítulo 3 - Metodologia Quadro 1 – Classificação de Risco Ergonômico (Adaptado pela autora da técnica Análise Preliminar de Risco de Segurança Industrial) NRE 1 - TOLERÁVEL / Baixa Prioridade - Risco Tolerável: Pode se considerar uma solução ergonômica mais econômica ou aperfeiçoamentos que não imponham ACEITÁVEL custos extraordinários e uma monitoração contínua para assegurar que os (01 a 03 pontos) NRE 2 - MODERADO INVESTIGAR E LOGO MUDAR mecanismos de regulação sejam mantidos. / Média Prioridade - Risco Moderado: Necessidade de redução de risco. Recursos consideráveis podem ser necessários para a redução de risco. As ações ergonômicas devem ser planejadas e implantadas dentro de um (04 a 06 pontos) período de tempo coerente e definido com clareza. Alta Prioridade - Risco Intolerável: Necessidade de redução NRE 3 - INTOLERÁVEL / AÇÃO imediata de risco. Haverá restrições ao trabalho até que o nível de risco seja IMEDIATA reduzido à condição de "moderado". Se isso não for possível através de (07 a 09 pontos) quaisquer operações, nem mesmo se considerando a disponibilidade ilimitada de recursos, o trabalho necessariamente permanecerá suspenso. Por fim, esta etapa, que partiu do levantamento dos componentes da situação de trabalho para determinar aquele de maior significância para a modelação da situação problemática pela hierarquização, orientou o dimensionamento do risco ergonômicos referente às conseqüências da disfunção do componente da situação de trabalho. Etapa 4 – Identificação das causas fundamentais da situação problemática Uma vez determinada a dimensão da problemática da organização do trabalho, passa-se para etapa de identificação e análise das causas do resultado indesejável. Witt (2002) coloca que a análise da causa se dá a partir do efeito observado (característica específica que representa o problema considerado que neste caso, mostrado etapa de delimitação e identificação da demanda) A causa principal ou fundamental como aquela, ou um conjunto delas, que impactam em maior grau no efeito levantado. Para isso, deve-se separar o efeito ou problema levantado das possíveis causas que levam a este efeito. A pergunta que norteia esta análise é “Por que ocorre o problema?”. As relações entre as causas e efeito apontadas por este questionamento são organizadas no diagrama de Ishikawa ou espinha de peixe, pois permite o melhor entendimento e comunicação destas relações de causa e efeito. (WITT, 2002; CAMPOS, 2004). 62 Capítulo 3 - Metodologia No entanto, Witt (2002) ressalta que embora sejam identificadas as causas principais deve-se verificar aquelas que impactam sobremaneira no efeito indesejável. Esta delimitação pode ser realizada baseando-se em dados e nas experiências dos envolvidos para determinar uma hipótese que tente destacar a causa principal ou fundamental. A seguir, para o teste que confirma ou exclui esta hipótese pode ser aplicada a ferramenta Diagrama das Relações. Isto porque, nem sempre as causas se apresentam de forma linear e sucessiva, podendo haver relações cruzadas entre os fatores de causas, como afima Werkema (1995). Determinado o problema, a sua especificação torna-se relevante, uma vez que é neste momento que se distingue o produto da ação diagnóstica e que irá se materializar no projeto de objetos ou produto – ferramentas, utensílios, vestiário, mobiliário – ou no projeto de situações de trabalho – normas, ambientes, procedimentos e demais situações organizacionais. Etapa 5 – Determinação de objetivos Esta fase se caracteriza pela definição dos resultados possíveis a serem alcançados a partir da identificação da causa fundamental do problema abordado anteriormente. Nesta etapa, começa a ser vislumbrado os benefícios que podem ser atingidos pela eliminação das causas que comprometem a situação de trabalho e, por conseguinte a sua organização. A construção dos resultados possíveis ocorre pela descrição da situação de trabalho ergonomicamente adequada. Esta descrição assenta na projeção da situação de trabalho quando as não-conformidades ergonômicas da causa fundamental são eliminadas. É necessário o conhecimento claro e pleno sobre o assunto em questão como colocado por Witt (2002) de forma a definir tanto o tempo quanto o possível resultado a ser alcançado. A visualização desta etapa pode ser expressa pela demonstração da diferença situação real do efeito indesejável versus a situação ideal quando eliminadas as causas do efeito. Etapa 6 – Validação diagnóstica pelos critérios ergonômicos 63 Capítulo 3 - Metodologia A validação da causa fundamental do problema pelos critérios ergonômicos sociotécnicos, adequação e econômicos permite contextualizar esta perda na estrutura organizacional, de modo a promover a tomada de decisão gerencial. É a decisão gerencial que irá fomentar a proposição de melhorias assertivas e eficazes na eliminação deste resultado indesejável, o qual apresenta características complexas e intrincadas com a realidade da organização geral e dos processos de trabalho. Para esta validação, devem ser descritas conforme a tabela a seguir as conseqüências da causa fundamental do resultado indesejado em relação a cada critério ergonômico, conforme exemplificado na tabela 3: Tabela 3 – Validação dos problemas organizacionais por critérios ergonômicos (Proposta pela autora) CRITÉRIOS ERGONÔMICOS DESCRIÇÃO DA CAUSA FUNDAMENTAL DO PROBLEMA CONFORTO (saúde e bem estar) EFICIÊNCIA SOCIOTÉCNICOS (produtividade, qualidade e CONSEQUÊNCIA confiabilidade) SEGURANÇA ADEQUAÇÃO USABILIDADE CUSTO EFETIVIDADE ECONÔMICOS CUSTO BENEFÍCIO Do mesmo modo que ocorre a validação da causa fundamental do problema sob os critérios ergonômicos, também é realizada a validação das melhorias ergonômicas pelos critérios ergonômicos. Para isto, deve haver o preenchimento da tabela 4, de modo a especificar o impacto da melhoria a ser realizada em relação a cada critério ergonômico. A melhoria que contemplar a maior quantidade de critérios é elencada para a realização imediata ou prioritária. 64 Capítulo 3 - Metodologia Tabela 4 – Validação das melhorias ergonômicas por critérios ergonômicos (Proposta pela autora) CRITÉRIOS ERGONÔMICOS DESCRIÇÃO DA MELHORIA ERGONÔMICA CONFORTO (saúde e bem estar) EFICIÊNCIA SOCIOTÉCNICOS (produtividade, qualidade e confiabilidade) DESCRIÇÃO DO IMPACTO DA MELHORIA SEGURANÇA ADEQUAÇÃO USABILIDADE CUSTO ECONÔMICOS EFETIVIDADE CUSTO BENEFÍCIO Para a finalização desta etapa é necessário que a melhoria esteja alinhada, segundo Witt (2002), com o planejamento estratégico e que realmente resulte em melhoria para a organização como um todo. Etapa 7 – Propondo melhorias Inicia-se na descrição dos não cumprimentos dos componentes da situação de trabalho encontrados e que devem ser considerados na elaboração do projeto de melhoria. O projeto, por sua vez, deve especificar a forma de encaminhar a solução – intervenção ou concepção. (VIDAL, 2002) O direcionamento da resolução do problema organizacional que contempla em seu o escopo os requisitos que o projeto deverá atender serão especificados neste momento, ou seja, planejar a solução do problema. Devido o seu caráter multifacetado, a elaboração até a condução da solução pode ser feito por grupo tarefa, sendo este composto por um conjunto de trabalhadores advindos de diversos setores como operação de máquinas, manutenção, supervisão e gerência. Este direcionamento permite a clareza quanto ao escopo do projeto ergonômico, minimizando as chances de incorrer em erros de concepção e delimitação do escopo e permite a indicação temporal dos resultados. 65 Capítulo 3 - Metodologia Torna-se fundamental a caracterização do projeto para que não haja perda do foco de atuação diagnóstica. A complexidade do projeto se orienta para três níveis de acordo com Vidal (2002): • Nível Básico: tratamento de problemas facilmente identificáveis, mediante métodos simples e requerendo encaminhamentos até triviais. Seus resultados ocorrem no curto prazo e a própria equipe interna da empresa é capaz de solucioná-la; • Nível Mediano: tratamento de problemas maiores, utilizando métodos conhecidos e técnicas bem estabelecidas. Por exemplo: verificação por check-list e pelo atendimento a orientações normativas e se definem por projetos rotineiros. Seus resultados ocorrem em prazos escalonados e podem necessitar de uma equipe externa de suporte. • Nível Profundo: tratamento de problemas cuja existência é denotada somente em nível dos seus sintomas e efeitos negativos sem que as causas ou a articulação destas com as conseqüências estejam claras e definidas, impedindo o tratamento anterior. São projetos não rotineiros necessitando de métodos de modelagem e prospecção. Seus resultados dependem do desenvolvimento de soluções não triviais e requer a responsabilidade de consultoria e especialistas externos. Nesta etapa também é imprescindível alocar os recursos e o tempo necessário para resolução do problema. Assim, definir se o problema pode ser solucionado por uma pessoa ou equipe interna e externa, setores envolvidos, pessoas afetadas é a chave para o sucesso da solução. O estabelecimento de uma medida de término determina se a ação será eficaz ou não, indica-se nesta etapa o critério temporal para quando o prazo do problema deva estar solucionado. Desta forma, determina-se o esforço necessário para a solução do problema. Para tanto, deve-se seguir uma metodologia para a construção desses planos de ação. A mais indicada, segundo CAMPOS (1996), é a metodologia conhecida como 5W1H. A mesma consiste em elaborar o plano de ação baseado em seis perguntas que irão definir a estrutura do plano. Essas perguntas compostas no idioma inglês se apresentam, segundo a definição de MELO (2001), da seguinte maneira: 66 Capítulo 3 - Metodologia WHAT (O QUE) – define o que será executado, contendo a explicação da ação a ser tomada (utilizam-se geralmente verbos no infinitivo, de maneira suscinta, a fim de demandar uma ação); WHEN (QUANDO) – define quando será executada a ação (prazo de início e término da ação). Data limite para a ação ser executada. WHO (QUEM) – define o responsável pela ação (nesse caso, aconselha-se que haja apenas um responsável por ação, a fim de manter a credibilidade da execução da ação); WHERE (ONDE) – define onde será executada a ação (pode ser desde um local físico especificado, como um setor da organização); WHY (POR QUE) – define a justificativa para a ação em questão (esse campo apresenta a finalidade imediata da ação a ser tomada); HOW (COMO) – define o detalhamento de como será executada a ação (este campo é um complemento para o primeiro campo – WHAT – detalhando a ação estipulada neste último). Analisando esses seis tópicos, pode-se proceder a estruturação do plano de ação. De uma maneira clara e detalhada, sendo que o mesmo deverá ser divulgado para todos os envolvidos nas ações tomadas. Ou seja, o plano de ação é uma ferramenta integrante a outras ferramentas de controle, auxiliando no controle total dos processos em um sistema de gestão da qualidade. O plano de ação envolve avaliações periódicas e, eventualmente, pode sofrer revisões a fim de se adequar a novos cenários, não previstos anteriormente pela organização. Etapa 8 – Medição do desempenho A medição do desempenho é uma maneira importante de prover informações sobre a eficácia da intervenção ergonômica. Para tanto, serão consideradas medidas quantitativas e qualitativas referentes aos critérios ergonômicos utilizados e estas deverão estar em consonância com os indicadores gerais da organização. Definidos os indicadores ergonômicos passa-se a fase de monitoramento da ação corretiva. 67 Capítulo 3 - Metodologia O enquadramento para cada nível é determinado pela criticidade do problema e os recursos disponíveis para a mantenabilidade da ação tomada. É com base neste enquadramento que se determina o modo de monitoramento a ser realizado, conforme descreve a tabela 5. Tabela 5 – Modo de monitoramento das ações propostas (Proposta pela autora) MODO DE MONITORAMENTO DESCRIÇÃO DO MONITORAMENTO Quando há a necessidade de retomar periodicamente as ações tomadas devido o contexto da produção como a REATIVO OU CORRETIVO sazonalidade de mão-de-obra ou produção. As medidas e ferramentas adotadas nesta etapa se caracterizam como intrusivas, isto é, pode haver ainda a intervenção no ambiente de trabalho. Quando há a necessidade de manter a ação tomada em PREVENTIVO níveis aceitáveis para garantir a funcionalidade ou a promoção da transformação positiva da situação de trabalho. As medidas e ferramentas adotadas é o levantamento contínuo da situação de trabalho modificada para manter os requisitos adotados na etapa do projeto ergonômico. Este monitoramento pode ser PREDITIVO realizado sob a forma de checklists em auditorias periódicas. Etapa 9 – Melhoria Contínua O levantamento periódico da situação visa a melhoria contínua, pois proporciona uma oportunidade para consolidar as mudanças ergonômicas realizadas dentro do contexto da produção. Isto é, se os indicadores ergonômicos determinados orientam-se para as estratégias da organização geral. Para a conclusão desta etapa sugere-se a elaboração de um relatório ergonômico que contemple a sumarização das etapas anteriores a fim de fomentar o critério de tomada de decisão gerencial em que pese situações como produtivas, econômicas e técnicas. Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados 68 CAPÍTULO 4 – VALIDAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Este capítulo compreende a descrição da aplicação do método diagnóstico proposto em uma organização de trabalho de uma indústria do setor agroindustrial no segmento de laticínios, bem como a discussão dos dados encontrados desta aplicação que permita a sua validação. Conforme explicitado no capítulo anterior, o método diagnóstico em estudo é composto por nove etapas conceituais estruturados em um modelo organizado e sistematizado para verificar a correlação existente entre os dados das unidades de análise consideradas na realidade do contexto organizacional pesquisado. Estas unidades de análise estudadas referem-se aos componentes da organização geral e do processo de trabalho e aos critérios ergonômicos, e são caracterizadas como tal devido o procedimento metodológico adotado – survey. Desta forma, com vistas a validação do método em discussão os dados coletados nas suas etapas serão agregados a fim de explicar e descrever a situação problema que demandou a investigação científica. Etapa 1 – Instrução e determinação da demanda diagnóstica O objetivo principal desta etapa é a identificação de resultados indesejados nas áreas que compõem o contexto da organização avaliada. Para que este objetivo seja cumprido é necessário que se estabeleça o cenário onde o problema ocorre de modo a configurar a investigação. Assim, partiu-se da constatação, na empresa estudada, que as perdas ou resultados indesejados registrados referem-se aos fatores humanos. A entrevista semi estruturada com o gerente de produção industrial (nível estratégico) e dois supervisores de produção (nível tático) da empresa revelou que a seguinte situação: • Para o nível estratégico, há o entendimento que as queixas musculoesqueléticas relatadas pelos trabalhadores bem como o afastamento destes durante a realização das tarefas para consulta em ambulatório médico da empresa, e os demais afastamentos do trabalho em decorrência destas queixas, acabam desempenho de todo o processo de trabalho. PPGEP – Gestão Industrial (2009) por comprometer o Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados 69 Tem-se deste modo, que os componentes da organização do trabalho – eficiência global e ambulatorial são caracterizados como instrução da demanda diagnóstica, conforme demonstra a tabela 6. Isto se justifica em razão que as queixas musculoesqueléticas reveladas na entrevista semi estruturada serem provenientes de diversos setores do processo produtivo da empresa analisada. Segundo a visão dos níveis estratégico e tático, estas queixas dificultam a organização da produção devido os afastamentos e as limitações álgicas dos funcionários. Tabela 6 – Sumarização dos componentes da organização do trabalho COMPONENTE DA CARACTERIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO GERAL IDENTIFICAÇÃO Escolha da situação em que se deseja o funcionamento de EFICIÊNCIA GLOBAL todas as potencialidades do negócio. Escolha da situação devido o número de queixas osteomusculares dos trabalhadores serem mais numerosas AMBULTORIAL x x ou contundentes. A partir da definição da instrução da demanda, isto é, identificação da demanda ergonômica é realizado o levantamento dos dados referentes a estes componentes organizacionais. O setor de ambulatório médico da empresa estudada registra todas as consultas médicas realizadas. E a partir do registro de todas estas consultas, foram analisadas e quantificadas aquelas que com referência a dor ou acometimento musculoesquelético. Portanto, dentre todo o universo de queixas álgicas registradas no ambulatório médico da empresa durante todo o ano de 2006, foi considerado para esta pesquisa somente aquelas relacionadas ao sistema musculoesquelético. Isto porque este tipo de queixa é precursor dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho e em razão da predominância do esforço muscular para a execução das tarefas da área de produção. Uma vez determinada a existência de dor ou acometimento musculoesquelético na população da empresa analisada, deve-se verificar como este resultado se configura em relação ao número de funcionários acometidos e o número de queixas musculoesqueléticas registradas em ambulatório médico no período em estudo, bem como o seu impacto econômico para a organização. Para a realização desta etapa, foi realizada uma coleta de dados no setor de recursos humanos, onde foi verificado que: PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados • Número total de queixas osteomusculares: 83. Deste total, verifica-se a existência de 21 queixas recidivas, isto é, 17 funcionários apresentaram mais de uma queixa osteomuscular; • Número de funcionários acometidos: 71; • Número de dias perdidos (incluindo os dias decorrentes do afastamento pelo INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social): 320; • Média de número de dias perdidos por número de funcionários: 4,5; • Número de CAT’s (Comunicado de Acidente de Trabalho) relacionados a LER/DORT: 3; • Número de ações judiciais (acumulativo) relacionados a LER/DORT: 27. Em um segundo momento foram descritos os custos diretos e indiretos destas 83 queixas ambulatoriais. Os custos diretos decorrentes destas queixas são: • Despesas com tratamento médico / fisioterapia = R$ 45.156,00 (R$ 636,30 valor médio por funcionário gasto com Plano de Saúde); • Valor representativo de dias perdidos (média salário) = R$ 6.400,00; • Valor representativo do custo para substituir o funcionário ausente = R$ 6.400,00; • Valor médio da pretensão das reclamatórias trabalhistas = R$ 30.000,00 - (27 – número de reclamatórias trabalhistas sofrida pela empresa x 30) = R$ 810.000,00. A somatória dos custos diretos das queixas musculoesqueléticas até o ano de 2006 pela empresa em estudo foi estimado em R$ 867.956,00. Os custos indiretos das queixas de dor e desconforto musculoesquelético são expressos da seguinte forma: • Ambiente laboral negativo devido a presença de sofrimento osteomuscular do trabalhador na realização do seu trabalho; • Estabilidade do funcionário por 1 ano quando afastamentos superiores a 15 dias; • Custo social: imagem da empresa no mercado; • Custo com redistribuição de tarefas do funcionário acometido; • Passivo trabalhista (funcionários acometidos); PPGEP – Gestão Industrial (2009) 70 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados • Despesa de reembolso pela empresa com medicamentos a estes trabalhadores acometidos; • Redução da qualidade de vida do funcionário acometido; • Remanejamento de tarefa do funcionário acometido. A caracterização dos resultados indesejados pode variar conforme o modo de registro e tabulação dos dados de cada empresa. Deve-se considerar, isto é, medir aquilo que a empresa utiliza como indicadores de resultado. Os dados levantados neste momento representam a existência do comprometimento da saúde da mão-de-obra, caracterizando uma demanda de natureza da produção e mais especificamente uma demanda de chão-de-fábrica devido a sua impactação ou repercussão direta sobre a variável mão-de-obra ou sobre os aspectos da organização do trabalho. Esta repercussão sobre o bem estar do trabalhador também apresenta impacto direto sobre a eficiência global da organização por gerar perdas financeiras pela ausência de dias trabalhados e em reclamatórias trabalhistas. A análise preliminar destes custos diretos e indiretos revela um alto custo decorrente da não adaptação das condições de trabalho ao trabalhador na empresa estudada. Isto se evidencia pelo absenteísmo, dificuldade de obtenção de resultados operacionais narrados pelo nível estratégico e operacional em razão das queixas musculoesqueléticas dos trabalhadores de chão-de-fábrica, pela dificuldade do remanejamento dos lesionados e a reabilitação dos casos antigos, além da tensão nas relações de trabalho geradas pelos processos indenizatórios pelo dano da caracterização como doença osteomuscular relacionada ao trabalho. Esta etapa culmina na determinação diagnóstica, isto é, na escolha da situação característica a qual é constituída pela organização dos fatos levantados a partir do resultado indesejável. Para a conclusão desta etapa inicial há a definição de uma situação característica a qual implica na orientação subseqüente da análise ergonômica. Desta forma, pode-se inferir que a determinação diagnóstica nesta pesquisa é definida como o componente ambulatorial da organização geral por apresentar resultados indesejáveis como o número de funcionários acometidos por queixas musculoesqueléticas e o impacto direto e indireto destas queixas na eficiência global da organização. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 71 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados A identificação do resultado indesejado na variável da mão-de-obra bem como a sua delimitação financeira expressa a caracterização da situação característica ou o cenário onde a investigação ergonômica terá início. Etapa 2 – Definição das situações a serem estudadas É nesta etapa que se define onde o problema ou o resultado indesejável é mais evidente ou apresenta maior impacto pela sua prevalência ou pela sua conseqüência. Esta identificação é dada pelo Método de Análise de Pareto, cuja função segundo Meireles (2001), é priorizar ou determinar um problema a partir da divisão ou estratificação em partes menores assim como organizar os dados referente aos problemas em categorias. Conforme identificado na etapa anterior, o resultado indesejado é caracterizado pelas queixas musculoesqueléticas. Portanto, sendo este resultado relacionado ao fator humano, deve-se identificar de forma precisa quem sofre esta queixa e qual parte do corpo está acometida no ambiente produtivo. Isto é, este resultado se configura pela definição de qual cargo e parte do corpo está em processo de adoecimento, em que linha de produção e área de trabalho este cargo se encontra. Portanto, perante este objetivo de identificação acerca de quem sofre este resultado e que parte do corpo está sob estresse; é proposta a decomposição dos dados referente às queixas musculoesqueléticas a partir do local (área e linha de produção) onde apresenta maior referência, para que a determinação de quem sofre esta queixa (cargo) e qual parte do corpo é mais acometida seja identificada. O primeiro nível de estratificação dos dados referentes ao resultado identificado é demonstrado na figura 3 a seguir. Tem-se que, do total de queixas (83), 31 queixas ou 37% são provenientes do setor Refrigerados. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 72 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados 73 Que ix a s Os te om us c ula re s x Áre a 37% Ref rigerados Merc earia Logís tic a 18% 17% A dm V endas 11% Engenharia 7% 4% 6% GP Outras 1 Figura 3 – Queixas osteomusculares x área da indústria Em um segundo nível de decomposição destas queixas, a partir da área de Refrigerados, identifica-se em qual linha de produção esta queixa é prevalente. A figura 4 revela que das 31 queixas provenientes da área Refrigerados, 6 queixas ou 19% delas ocorrem no setor envase de leite fermentado A e 6 no setor envase de semi fluidos. Como critério de desempate entre as linhas de produção, foi determinado a intensidade da dor e desconforto relatado pelo trabalhador. Neste estudo foi considerado o setor de envase de leite fermentado A. Figura 4 – Queixas osteomusculares da área de Refrigerados x linha de produção Uma vez identificado a área e o setor onde ocorre a queixa, determina-se qual a função ou cargo em que ela é percebida. Tal especificação se faz necessário devido a caracterização do modo operatório. Isto é, quais movimentos e posturas são realizados pelo trabalhador de determinada função e que pode estar relacionada a esta queixa osteomuscular. No entanto, esta análise do modo operatório, cujo objetivo é verificar a relação das condições de trabalho na gênese desta queixa será descrita na etapa 3. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados 74 Verifica-se que todas as queixas desta linha de produção são provenientes do cargo de auxiliar de produção. A partir da identificação da queixa por cargo, determina-se qual parte do corpo esta queixa é predominante. Do total de queixas (6) relatadas pelos auxiliares de produção, todas ou 100% tem localização em membros superiores. Na figura 5 a seguir, é feita a identificação do turno onde estas queixas são prevalentes. A estratificação deste dado, demonstrou que o turno da manhã apresenta 5 ou 83% de queixas do total de 6 queixas do auxiliar de produção. Queixas Osteomusculares Parte do Corpo x Turno 83% Turno 1 - Manhã Turno 3 -Noite 17% 1 Figura 5 – Queixas osteomusculares parte do corpo x turno. A estratificação deste resultado nos níveis em que ela ocorre como área, setor ou linha de produção, cargo, parte do corpo e turno permite especificar o local onde ocorre o problema, quem está sujeito e qual parte do corpo está em processo de adoecimento. Esta identificação é necessária, pois constitui o primeiro passo na verificação da relação existe entre as condições de trabalho e a queixa apresentada pelo trabalhador. Portanto, tem-se que este mau resultado ou problema é definido como dor em membros superiores no auxiliar de produção do setor de envase de leite fermentado A da área de Refrigerados. Etapa 3 – Pré-diagnóstico ou modelagem das evidências encontradas É a partir da localização do problema que este passa a ser analisado sob o enfoque ergonômico. Nesta etapa são descritos os dados e componentes da situação de trabalho de modo a validar por meio da avaliação ergonômica a queixa musculoesquelética evidenciada na etapa anterior. O levantamento ergonômico previsto nesta etapa não aponta para as causas do problema ergonômico. Este levantamento demonstra que a situação de trabalho identificada na etapa anterior possui condições ergonômicas geradoras de queixas PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados musculoesqueléticas e que impactam de forma negativa na saúde deste trabalhador, no seu desempenho e conseqüentemente na eficiência do processo produtivo. O levantamento dos componentes da situação de trabalho teve seu início com a observação direta do modo operatório por meio da filmagem da tarefa a fim de identificar o ciclo completo de trabalho (seqüência de ações técnicas) do auxiliar de produção do setor de envase de leite fermentado. A segmentação das ações técnicas realizadas pelo trabalhador desta situação de trabalho permitiu determinar quais as ferramentas ergonômicas pertinentes para a identificação dos componentes físico e cognitivo desta situação. As ações técnicas identificadas pela filmagem da tarefa são: • Alcançar caixa de papelão da esteira e colocá-la sobre a bancada de trabalho; • Pegar conjuntos do produto de leite fermentado com ambas as mãos e colocar na caixa de papelão até completar o seu volume; • Alcançar outra caixa de papelão e posicioná-la sobre a caixa de papelão anterior; • Pegar conjuntos do produto de leite fermentado com ambas as mãos e colocar na caixa de papelão até completar o seu volume; • Alcançar outra caixa de papelão e posicioná-la sobre a caixa de papelão anterior; • Pegar conjuntos do produto de leite fermentado com ambas as mãos e colocar na caixa de papelão até completar o seu volume; • Alcançar outra caixa de papelão e posicioná-la sobre a caixa de papelão anterior; • Pegar conjuntos do produto de leite fermentado com ambas as mãos e colocar na caixa de papelão até completar o seu volume; • Mover as caixas de papelão até o pallet posicionado ao lado do trabalhador; • Refutar materiais danificados; • Preencher planilhas de controle da produção. As ações técnicas necessárias para a execução da tarefa da situação de trabalho do auxiliar de produção do envase de leite fermentado evidenciam uma tarefa PPGEP – Gestão Industrial (2009) 75 76 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados manual com predominância de uso contínuo de membros superiores em postura fixa no posto de trabalho, tendo seu ritmo ditado pela esteira com pouca demanda cognitiva na execução da mesma. Perante as características evidenciadas pela identificação das ações técnicas desta situação de trabalho, foi determinado o levantamento dos componentes de trabalho por meio das ferramentas ergonômicas Checklists de Couto (Anexo C) para a identificação das não – conformidades ergonômicas e análise do ritmo de trabalho pela ferramenta Critério semi – quantitativo de Moore e Garg (1995) (Anexo D). Os Checklists de Couto utilizados nesta pesquisa foram os seguintes: • Avaliação simplificada do risco de lombalgia; • Avaliação simplificada do fator biomecânico no risco de DORT; • Avaliação simplificada da condição ergonômica do posto de trabalho; • Avaliação simplificada da condição biomecânica do posto de trabalho. A escolha destas ferramentas ergonômicas baseou-se no objetivo destas em identificar de uma forma ampla e ágil os componentes da situação de trabalho que podem indicar uma sobrecarga física do trabalho. Foram inspecionados pelos checklists 63 itens de verificação da situação de trabalho. Deste total 63% ou 39 itens foram caracterizados como não - conformidade ergonômica e 37% ou 24 itens em conformidade ergonômica. O quadro 2 especifica o resultado de cada checklist aplicado na situação de trabalho do auxiliar de produção do envase de leite fermentado: Quadro 2 – Resultado da avaliação ergonômica por Checklists de Couto CHECKLIST RESULTADO 1- Geral Para Avaliação Simplificada do Risco de Lombalgia ALTO RISCO DE LOMBALGIA 2- Geral Para Avaliação Simplificada do Fator Biomecânico no Risco de DORT FATOR BIOMECÂNICO MUITO SIGNIFICATIVO 3- Geral Para Avaliação Simplificada da Condição Ergonômica do Posto de Trabalho CONDIÇÃO ERGONÔMICA RUIM 4- Geral Para Avaliação Simplificada da Condição Biomecânica do Posto de Trabalho CONDIÇÃO BIOMECÂNICA RUIM A estratificação por tipo de não – conformidade ergonômica pelos checklists de Couto nesta situação de trabalho demonstra que o risco de lombalgia é uma condição com maior potencial de lesão de acordo com a quantidade de não – conformidades, como ilustrado na figura 5 a seguir: PPGEP – Gestão Industrial (2009) 77 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados Não - Conformidades CHECKLISTS Risco Lombalgia 69% Risco DORT 65% Condição Ergonômica 60% Condição Biomecânica 57% Figura 6 – Porcentagem de não – conformidades por checklist No entanto, as não – conformidades em relação a sobrecarga de membros superiores demonstra uma avaliação qualitativa significativa ao determinar como resultado a presença de fator biomecânico ou causal significativo para a ocorrência de DORT. Embora na etapa anterior tenha sido identificada a queixa de dor osteomuscular ou musculoesquelética em membros superiores pelos trabalhadores do setor, a avaliação ergonômica inicial evidencia uma condição de trabalho com um número maior de não-conformidades ergonômicas para a coluna vertebral do que para os membros superiores. Esta situação se justifica em razão das características anatômicas e fisiológicas caracterizarem os membros superiores como estruturas frágeis e, portanto, mais predispostas a lesões quando expostas a uma condição de risco ergonômico significativo. O quadro 3 a seguir descreve os itens verificados em cada checklist de Couto como também especifica as não – conformidades encontradas em cada ferramenta. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 78 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados Quadro 3 – Descrição dos itens de verificação dos Checklists de Couto CHECKLIST PARA AVALIAÇÃO ERGONÔMICA GERAL DO PROCESSO Itens de verificação ergonômica em não conformidade ERGONÔMICA BIOMECÂNICA 1. Braços e cotovelos não trabalham na vertical ou próximo X 2. Esforço estático 3. Posição forçada de membros superiores X X 4. As mãos tem que fazer muita força X 5. Há repetitividade frequente de um tipo específico de movimento X 6. Fazer esforço muscular forte com a coluna ou outra parte do corpo X 7. Ausência de flexibilidade postural X X 8. Ausência entre um ciclo e outro X X 9. Bancada de trabalho não está em altura correta X 10. Bancada de trabalho sem regulagem de altura X 11. O trabalho exige elevação dos braços acima do nível dos ombros X 12. Os membros superiores têm que sustentar peso X 13. Objetos e materiais fora da área de alcance X 14. Atingir o chão com as mãos independente da carga 15. Pegar cargas maiores que 10 kg em frequência maior que 1 minuto 16. Manuseio de cargas que estejam longe do corpo 17. Manuseio de cargas com o tronco em posição assimétrica 18. Carregar cargas mais pesadas que 20 kg mesmo que ocasionalmente 19. Carregar cargas mais pesadas que 10 kg mesmo que ocasionalmente 20. Braços e posição longe do corpo em posição suspensa 21. Tronco em posição estática sem apoio 22. Contato da mão ou punho com quina viva 23. Pinça palmar utilizada para fazer força com frequência 24. Esforço manual mais que 10% do ciclo 25. Não há rodízios nas tarefas 26. Tempo exíguo para realizar a tarefa 27. Mesma tarefa realizada por um mesmo trabalhador durante mais que 4 horas por dia LOMBALGIA X DORT X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Para a análise do ritmo de trabalho, uma vez que o trabalho da situação em análise é determinado por uma esteira de produção, foi utilizada a ferramenta ergonômica o critério semi – quantitativo de Moore e Garg (1995) que tem por objetivo verificar o ciclo de trabalho em relação a força (duração e esforço máximo), número de horas trabalhadas em uma tarefa, ritmo de trabalho e posturas inadequadas. O quadro 4 relata os itens avaliados por esta ferramenta bem como a conclusão da avaliação ergonômica. Quadro 4 – Avaliação ergonômica pelo critério semi-quantitativo de Moore e Garg – 1995. O CRITÉRIO SEMI QUANTITATIVO DE MOORE E GARG - 1995 Índice de sobrecarga biomecânica: FIE x FDE x FFE x FPMPOC x FRT x FDT FATOR CLASSIFICAÇÃO FIE - Fator de Intensidade do Esforço Pesado: Esforço Nítido - sem mudança de expressão facial FDE - Fator de Duração do Esforço 50 a 79% do ciclo de trabalho FFE - Fator de Frequência do Esforço Menor ou igual a 3 por minuto FPMOC - Fator de Postura Mão, Ombro, Punho e Coluna FRT - Fator de Ritmo de Trabalho Desvio nítido Razoável - 91 a 100% FDT - Fator de Duração do Trabalho ALTO RISCO DE LESÃO PPGEP – Gestão Industrial (2009) 4 a 8 horas 79 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados Quanto aos demais componentes da situação de trabalho foram identificadas as seguintes condições: • Conteúdo da tarefa: percepção de um trabalho monótono devido a pouca variabilidade de exigências físicas e cognitivas na execução da mesma; • Normas de produção: atendimento a um padrão de qualidade para armazenamento e transporte dos produtos; • Exigência de tempo: ritmo de trabalho ditado pela máquina concomitante a realização de posturas inadequadas de membros superiores; • Determinação do conteúdo de tempo, ritmo e carga de trabalho: na presença de alta demanda de produção o trabalhador possui tempo insuficiente para realizar a tarefa. O ritmo de trabalho passa a ser intenso não contemplando paradas para descanso da parte do corpo exigida; • Distanciamento entre trabalho prescrito e real: em verificação da norma de trabalho da situação avaliada foi constatado a descrição das ações técnicas e responsabilidades da função sem determinação do tempo adequado para a execução do mesmo bem como a descrição da maneira correta de se executar as ações técnicas da tarefa; • Modo operatório: a parte observável da operação desta situação de trabalho demonstra a realização de gestos manuais de caráter repetitivo e em postura inadequada de membros superiores e coluna concomitante à ausência de flexibilidade postural. Quanto à parte não observável do trabalho, foi evidenciada pelo questionamento aos trabalhadores quanto as tomadas de decisão necessárias para a execução do mesmo e as habilidades necessárias para executar determinados movimentos. Constatou-se que os operados desenvolvem métodos próprios de adaptação da bancada e método de trabalho segundo a sua percepção de conforto e a disposição física e os recursos necessários para a execução do mesmo. A parte cognitiva do trabalho refere-se ao preenchimento de planilhas do volume embalado pela máquina. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados • Perfil do trabalhador: para a função de auxiliar de produção da empresa em estudo foram solicitadas competências como escolaridade (1º grau completo) e experiência prévia na função. Não foi constatado nenhum treinamento específico para a realização da tarefa; • Variabilidade da tarefa: os componentes de trabalho como ritmo, postura e modo operatório face aos objetivos de produção imprimem ao trabalhador um auto-ajustamento ao trabalho mediante as suas diferenças pessoais. As condições acima descritas em conjunto com os fatores físicos evidenciados pela aplicação dos checklists de Couto modelam a atividade de trabalho da situação identificada. Esta modelação é importante porque expressa a forma de se trabalhar a partir dos critérios econômicos, gerenciais e operacionais em uma determinada situação de trabalho. Tem-se, portanto, que as ações realizadas na execução do trabalho do auxiliar de produção do setor de envase de leite fermentado A estão inscritas em um contexto, tornando-se impossível compreender o seu trabalho fora dele. Deste modo, a variabilidade da tarefa assume papel significativo na delimitação da atividade de trabalho por entender que a situação de trabalho se modifica na presença do fator humano. Pois, é a partir das diferenças individuais do sujeito quando confrontados com os meios, social e tecnológico, do trabalho e com os objetivos de produção determinam a adaptação do indivíduo às diferentes situações que se apresentam. Neste estudo, a variabilidade da tarefa demonstra que o repertório de procedimentos ou métodos alternativos dos trabalhadores do setor são insuficientes para uma adaptação mais fina às diferentes situações que se apresentam na execução do trabalho; contribuindo desta forma para a ocorrência da queixa osteomuscular. Após a determinação de todas as evidências ergonômicas, faz-se necessário priorizar e hierarquizar cada item da situação de trabalho levantado, de modo a estabelecer os fatores mais significativos para a queixa osteomuscular identificada. Este processo é definido como modelagem das evidências encontradas, e para tanto se utiliza uma tabela multicritério ponderados pelos critérios de segurança, criticidade e severidade. A definição de tais critérios se explica em razão da necessidade de garantir a disponibilidade das funções dos componentes da situação de trabalho de PPGEP – Gestão Industrial (2009) 80 81 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados modo a garantir a integridade do trabalhador e atender as exigências do processo de produção a qual esta situação está inserida. Para o preenchimento da tabela de criticidade sob o enfoque multicritério foi ponderado o impacto da queixa musculoesquelética sob os parâmetros segurança, criticidade e severidade. Para tanto, conforme demonstra a tabela 7, foi utilizado um limite de variação qualitativo e quantitativo para cada conseqüência em relação à segurança do trabalhador e das instalações na execução da sua tarefa, a criticidade desta queixa em levar a falha de execução da tarefa bem como a evolução do(s) efeito(s) no longo prazo e o impacto deste sobre pessoas, processo e resultados; e severidade que se refere a urgência em se eliminar o efeito e o tempo disponível para resolvê-lo. Tabela 7 – Tabela de criticidade sob o enfoque multicritério – validação metodológica Segurança Organizacional BAIXO (1). Criticidade Embora Severidade o MÈDIA (2). A exposição MÈDIA método de trabalho, as durante toda a jornada de Necessidade exigências trabalho do trabalhador ao intervenção estejam método e cedo possível a fim de ergonomicamente exigências tarefa garantir a integridade da tarefa inadequadas, constituem não risco segurança trabalhador a do e das instalações. de trabalho da inadequadas a capacidade sua física pode (2). de o mais musculoesquelética dos trabalhadores levar a redução do seu desta situação desempenho trabalho. com de sobrecarga osteomuscular e fadiga em membros e coluna, superiores produtos mal acondicionados nas caixas e pallets. A longo prazo a queixa determina lesão ou uma doença relacionado ao trabalho. Esta ponderação também se deve ao fato de aptidões físicas diferentes entre os trabalhadores garantindo desta forma a modelagem particular para a execução da tarefa. Físico BAIXO (1). O dimensionamento do lay PPGEP – Gestão Industrial (2009) ALTO (3). O dimensionamento do lay ALTA Necessidade (3). de 82 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados out, percepção de fadiga, out, percepção de fadiga, intervenção transporte transporte de devido a fadiga em fatores membros superiores e risco a presença de fatores podem biomecânicos de risco cargas manual e de fatores manual cargas e biomecânicos de risco biomecânicos para para DORT constituem não fatores de de DORT determinar ao longo do risco para acidente de tempo trabalho ou doença da trabalho uma estes riscos típico comprometimento segurança das instalações. uma lesão ou relacionada ao vez imediata para DORT. que estão expostos continuadamente ao trabalhador. Cognitivo BAIXO (1). BAIXO (1). Presença de BAIXO (1) Presença fatores fatores como memória e de como memória e tomada tomada na memória e tomada de de decisão na execução execução do trabalho não decisão na execução do interferindo do Presença de trabalho interferindo não de modo de decisão de modo fatores como trabalho não negativo do desempenho interferindo de modo negativo na segurança das negativo dos trabalhadores e das processos. pessoas e dos do desempenho instalações. pessoas das e dos processos. Tecnológico BAIXO BAIXO (1). A execução da BAIXO (1). A execução execução da tarefa não tarefa da tarefa não exige exige capacitação capacitação treinamento treinamento técnica e (1). A específico para manuseio do equipamento. de como decisão memória e quando utilizados para de exige técnica e específico manuseio equipamento. dos Componentes tomada não e específico para Utilização manuseio do tomada de equipamento. Utilização dos decisão na execução do componentes trabalho. memória e tomada de modo equivocado treinamento do componentes memória capacitação técnica e decisão na execução não do trabalho. acarretam em acidente de trabalho. Ambiental BAIXO Condições de (1). ruído, BAIXO (1). Condições de BAIXO (1). Condições ruído de ruído iluminamento iluminamento e iluminamento e térmica térmica sem significância e dentro dos limites de para desenvolvimento de significância tolerância além do uso DORT. desenvolvimento de equipamentos proteção individual. PPGEP – Gestão Industrial (2009) de térmica DORT. sem para de 83 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados Carga de BAIXO trabalho distanciamento entre o distanciamento tra trabalho prescrito e o real o trabalho prescrito e nesta situação de trabalho o real nesta situação estudada permite a adoção de trabalho estudada de permite a adoção de (1). O MÈDIO (2). modo próprio entre O MÈDIO o distanciamento operatório baseado na (2). modo O entre operatório percepção de conforto e próprio desempenho percepção de conforto trabalhador. do próprio e baseado desempenho na do próprio trabalhador. Este tabela constituiu uma ferramenta que auxilia na tomada de decisão sobre os fatores preponderantes da formação do problema. Após a ponderação quantitativa e qualitativa dos componentes ergonômicos inadequados é realizado a somatória dos pontos determinados para os parâmetros de segurança, criticidade e severidade de cada componente. Desta forma, o componente físico atingiu a maior pontuação dentre todos os componentes da tabela, isto é, 6 pontos. A seguir, esta pontuação determina a condição para o enquadramento do risco ergonômico, conforme demonstrado no quadro 1 (p.61). A análise da situação de trabalho em estudo evidenciou que o componente físico da situação de trabalho apresenta como resultado da somatória dos parâmetros utilizados 6 pontos, caracterizando desta forma, nível de risco ergonômico 3. Portanto, o risco ergonômico identificado na situação de trabalho do auxiliar de produção da linha de envase de leite fermentado caracteriza-se como NRE ou nível de risco ergonômico 3 ou intolerável. Esta classificação contempla que deve haver uma ação imediata na redução do risco ergonômico até uma condição de nível moderado ou aceitável. Uma vez reduzida a condição de risco, deve-se partir para a redução dos demais níveis dos componentes da situação de trabalho a fim de estabelecer uma condição ergonômica aceitável para todos os componentes da situação de trabalho. Portanto, esta etapa de pré-diagnóstico ou modelagem das evidências encontradas culmina na determinação do risco ergonômico da situação de trabalho problema. Etapa 4 – Identificação das causas fundamentais da situação problemática PPGEP – Gestão Industrial (2009) 84 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados A partir deste dimensionamento de todas as características ergonomicamente inadequadas, bem como a significância destas na situação de trabalho problemática pode-se determinar a causa fundamental que configura o resultado indesejável. A identificação da causa fundamental tem seu início a partir do efeito observado, isto é, a dor em membros superiores no auxiliar de produção da linha de envase de leite fermentado da área de Refrigerados. De acordo com o levantamento realizado na etapa anterior foi constatado que este efeito é decorrente dos componentes organizacional, físico e da carga de trabalho da situação analisada. De modo a nortear a análise da causa fundamental do problema, deve-se realizar a pergunta “Por que o problema ocorre”. Neste caso, tem-se o questionamento a respeito porque ocorre a dor em membros superiores no auxiliar de produção da linha de produção de envase de leite fermentado. As respostas a esta indagação são estruturadas e organizadas no Diagrama de Ishikawa ilustrado na figura 7 a fim de permitir um melhor entendimento das relações entre as causas e o efeito observado. Organizacional Físico Dor em membros superiores do auxiliar de produção de envase de leite fermentado. Carga de Trabalho Figura 7 – Diagrama de causa e efeito de Ishikawa – adaptação pela autora Desta forma, em relação a cada componente da situação de trabalho tem-se as seguintes causas: • Físico: o Mesma tarefa realizada por um mesmo trabalhador mais que 4 horas/dia; o Esforço estático de coluna e ombros; o Posição forçada de membros superiores; PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados o Mãos tendo que fazer muita força para execução da tarefa; o Membros superiores tendo que sustentar e transportar peso; o Atingir o chão com as mãos independente da carga; o Bancada de trabalho com altura inadequada; o Bancada de trabalho sem regulagem de altura; o Objetos e materiais fora a área de alcance; o Esforço com as mãos estando com o tronco inclinado; o Ausência de flexibilidade postural; o Esforço com as mãos estando com o tronco assimétrico; o Contato da mão ou punho com quina viva. • Organização do trabalho: o Tempo exíguo para realizar a tarefa; o Variabilidade da tarefa: características pessoais do trabalhador do setor insuficientes para adaptação ao trabalho; o Ausência de pausa entre um ciclo e outro; o Ausência de rodízios; o Repetitividade. • Carga de trabalho: A verificação da existência das normas de trabalho da função analisada nesta pesquisa (auxiliar de produção do setor de envase de leite fermentado) a fim de determinar os fatores que determinam a carga de trabalho evidenciou a seguinte situação: • Ausência de trabalho prescrito que especifique a postura e os movimentos adequados na execução das ações técnicas bem como o tempo adequado para a execução destas ações e os períodos de descanso. Neste momento, pode ser aplicada a ferramenta Diagrama das Relações a fim de promover a inter-relação existente entre os componentes do trabalho e determinar aquele que é preponderante na formação do resultado indesejável, isto é, especificar aquilo que é causa do efeito. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 85 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados A figura 8 demonstra o mapeamento das relações de causa e efeito entre os componentes da situação de trabalho na determinação do problema ou resultado indesejado por meio de análise e reflexão das conexões lógicas entre os fatores constituintes destes componentes. Figura 8 – Diagrama das Relações A interpretação deste diagrama revela que as variáveis ou fatores dos componentes de trabalho com maior número de flechas de saídas e partidas são entendidos como as causas básicas do problema a serem eliminadas. Os fatores com maior número de flechas de chegada ou entrada são definidos como os principais sintomas do problema em estudo. A caracterização de entradas e saídas dos fatores dos componentes do trabalho é evidenciada por um par de números sobre cada fator onde o primeiro número indica a quantidade de flechas que saem e o segundo número indica a quantidade de flechas que chegam. Tem-se de acordo com este mapeamento de relações de causa e efeito que o fator posição forçada de membro superior é a causa fundamental de dor em membros superiores no auxiliar de produção do envase de leite fermentado. Também deve ser considerado o fator repetitividade na delimitação deste efeito indesejável. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 86 87 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados Portanto, para a ação diagnóstica deverá contemplar um projeto do mobiliário de trabalho a fim de eliminar a causa fundamental do problema que é a postura inadequada dos membros superiores. Etapa 5 – Determinação de objetivos A especificação da causa fundamental do problema possibilita vislumbrar os resultados possíveis com a eliminação desta causa. É neste momento que se delimita uma situação de trabalho ergonomicamente adequada. Isto porque, a ação ergonômica deve garantir a transformação positiva da realidade de trabalho. A eliminação da causa raiz ou fundamental expressa pela postura forçada de membros superiores possibilita a seguinte condição ergonomicamente adequada: • Bancada de trabalho com regulagem de altura para atender as diferentes alturas dos trabalhadores e permitir objetos e materiais dentro da área de alcance, bom posicionamento de membros superiores eliminando condições como posturas estáticas e necessidade de força com as mãos. Convém salientar a necessidade de oportunizar demais melhorias que contemplem a eliminação das demais causas do problema. Neste caso, devem ser previstas medidas para a eliminação da repetitividade que por sua vez se expressa na seguinte medida: • Disponibilização de rodízios entre postos de trabalhos; • Reorganização do ciclo de trabalho por meio de alocação de tempos de pausas para descanso entre um ciclo e outro de trabalho, minimização do tempo de exposição durante o ciclo de posturas em amplitude de movimento máximo pela alternância postural (em pé, semi-sentado e caminhando); • Disponibilização da prescrição do trabalho ergonomicamente adequado aos níveis táticos; • Treinamentos quanto a correta execução dos movimentos e posturas do modo operatório. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados A adequação ergonômica permite a redução do nível de risco ergonômico – NRE 3 do componente físico da situação de trabalho para uma condição aceitável ou nível de risco ergonômico – NRE 1. Esta redução é possível devido a eliminação da criticidade e severidade do componente organizacional físico. A eliminação do parâmetro criticidade determina que não exista condições que no longo prazo possam comprometer a integridade física do trabalhador da situação de trabalho em estudo ou mesmo impactar no desempenho do processo deste trabalhador ou do trabalho. Quanto ao parâmetro severidade, este é eliminado ao se tomar medidas corretivas imediatas à identificação da situação de trabalho problema bem como a sua causa fundamental. Etapa 6 – Validação diagnóstica pelos critérios ergonômicos Nesta etapa procura-se a validação da causa fundamental do problema pelos critérios ergonômicos - sociotécnicos, adequação e econômicos com o objetivo de contextualizar o resultado indesejável em um nível macro para a tomada de decisão gerencial quando na proposição de melhorias assertivas e eficazes. Esta validação é demonstrada na tabela 8: Tabela 8 – Validação dos problemas organizacionais por critérios ergonômicos – validação metodológica CRITÉRIOS ERGONÔMICOS DESCRIÇÃO DA CAUSA FUNDAMENTAL DO PROBLEMA A postura inadequada de membros superiores associada a outros fatores como a repetitividade são fatores que propiciam o recrudescimento das doenças relacionadas ao trabalho bem como a formação de um contingente de CONFORTO (saúde trabalhadores com capacidade física parcial para a e bem estar) execução de suas tarefas. Esta causa também relaciona-se na gênese do estresse e de doenças psicossomáticas SOCIOTÉCNICOS quando a empresa adota um conjunto de ações que impossibilita a vivência de mecanismos de regulação durante o trabalho. EFICIÊNCIA A manutenção da postura inadequada de membros (produtividade, superiores ao longo da jornada de trabalho desencadeia qualidade e processos de fadiga física e estresse que culminam na PPGEP – Gestão Industrial (2009) 88 89 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados confiabilidade) redução do desempenho do trabalhador. Esta queda de performance no trabalho pode gerar produtos com defeitos, má conservação de máquinas e equipamentos. Embora haja na situação de trabalho, condições ergonomicamente inadequadas como postura forçada de membros superiores e repetitividade estes fatores não SEGURANÇA intervém de modo significativo na segurança do trabalhador e das instalações na execução das suas atividades. Devido as condições de postura forçada de membros superiores e repetitividade, a interação com as condições ADEQUAÇÃO USABILIDADE de trabalho no tocante a usabilidade do mobiliário de trabalho torna-se prejudicada. O custo da transformação positiva reflete em indicadores como CUSTO EFETIVIDADE eficiência produtiva, redução de custos administrativos decorrentes das lesões ocupacionais dos trabalhadores e também em resultados intangíveis como ECONÔMICOS boa relação entre empresa e trabalhadores e pública. Refletem CUSTO BENEFÍCIO a magnitude econômica de indicadores ergonômicos que demonstram a transformação positiva da situação de trabalho. Uma vez visualizada a causa fundamental do resultado indesejado segundo uma perspectiva organizacional ampla, isto é, que este resultado tem impacto negativo tanto na saúde do trabalhador quanto no desempenho produtivo e econômico da organização; deve-se também dimensionar a melhoria a ser realizada sob os critérios ergonômicos. A seguir, as melhorias objetivadas na etapa 5 também são balizadas pelos critérios ergonômicos conforme descreve a tabela 9 abaixo: PPGEP – Gestão Industrial (2009) 90 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados Tabela 9 – Validação das melhorias ergonômicas por critérios ergonômicos – validação metodológica CRITÉRIOS ERGONÔMICOS SOCIOTÉCNICOS DESCRIÇÃO DA MEHORIA ERGONÔMICA CONFORTO (saúde e bem Eliminação estar) postura forçada de EFICIÊNCIA membros (produtividade, qualidade superiores. da Eliminação da repetividade. e confiabilidade) SEGURANÇA ADEQUAÇÃO USABILIDADE CUSTO EFETIVIDADE - - Eliminação da postura forçada de membros superiores ECONÔMICOS CUSTO BENEFÍCIO Desta forma ratifica-se que a eliminação da postura forçada de membros superiores pela adequação da bancada de trabalho. A eliminação do fator repetitividade contempla a melhoria direta na percepção de conforto do trabalhador quanto no desempenho do processo de trabalho além de proporcionar retorno financeiro do investimento de implantação. Tem-se, portanto, um dimensionamento da ação ergonômica no escopo da política estratégica da empresa ao expressar a magnitude econômica e operacional e os impactos desta para o ambiente organizacional. Etapa 7 – Propondo melhorias É nesta etapa que se elabora o projeto de melhoria ergonômica pela especificação da forma de solução. Isto é, no caso da situação de trabalho analisada define-se o projeto como sendo de intervenção em um nível básico e ainda determinado por um grupo tarefa devido o caráter complexo e multifacetado do trabalho. O projeto é considerado como intervenção devido a necessidade principal de mudanças pontuais no mobiliário e no conteúdo da tarefa para a adequação ergonômica. O nível básico se justifica por requerer tratamento de problemas facilmente identificáveis, mediante métodos simples. Seus resultados ocorrem no curto prazo e a própria equipe interna da empresa é capaz de solucioná-la. Também são PPGEP – Gestão Industrial (2009) 91 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados descritos os recursos e o tempo necessário para a resolução do problema de forma a impelir a conclusão do problema, conforme a descrição do quadro 5: Quadro 5 – Descrição do plano de ação para implantação das melhorias ergonômicas definidas Etapa 8 – Medição do desempenho A medição do desempenho da situação de trabalho analisada é determinada pela definição de indicadores ergonômicos. De acordo com a situação estudada e a partir da causa fundamental do problema foram determinados os seguintes indicadores: • Número de melhorias implantadas e dentro do prazo estabelecido; • Redução do número de queixa musculoesquelética relacionado as condições de trabalho; • Eliminação das não-conformidades ergonômicas da situação de trabalho; • Redução do custo administrativo do trabalhador com queixa musculoesquelética da situação de trabalho (horas perdidas por PPGEP – Gestão Industrial (2009) 92 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados afastamento do trabalho, custo do tratamento médico, fisioterapêutico e medicamentoso); • Melhora do desempenho produtivo (perda de material, má conservação de máquinas ou equipamentos, atendimento as metas de produção); • Melhora da percepção de fadiga durante o trabalho; • Melhora da imagem da empresa pelo funcionário; Definidos os indicadores ergonômicos passa-se a fase de monitoramento da ação corretiva. Portanto, para o problema identificado neste estudo considera-se o monitoramento preventivo devido a criticidade do problema e os recursos para a mantenabilidade da ação tomada. Sugere-se o monitoramento da intervenção ergonômica semestralmente a fim de evidenciar a eficácia das melhorias adotadas pelo cumprimento dos indicadores ergonômicos, como descrito na tabela 10. Tabela 10 – Modo de monitoramento das ações propostas – validação metodológica MODO DE MONITORAMENTO DESCRIÇÃO DO MONITORAMENTO Quando há a necessidade de manter a ação tomada em níveis aceitáveis para garantir a funcionalidade ou a PREVENTIVO promoção da transformação positiva da situação de trabalho. Realiza-se este monitoramento periodicamente. Etapa 9 – Melhoria Contínua Para que se consolide a transformação positiva da situação de trabalho em consonância com as estratégias da organização geral, recomenda-se e elaboração de um relatório sintetizando todas as etapas do método a fim de visualizar todas as etapas de identificação e solução do problema bem como os objetivos propostos com a ação ergonômica, conforme quadro 6 a seguir. A descrição encontra-se no apêndice A (em anexo). PPGEP – Gestão Industrial (2009) 93 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados Quadro 6 – Relatório de diagnóstico ergonômico RELATÓRIO DE DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO Etapa 1 - Identificação da perda: 1.1 Componente(s) organizacional(ais) onde se evidencia a perda: 1.2 Levantamento de dados da perda: (ano base dos custos diretos e indiretos) 1.3 Natureza da demanda diagnóstica: Resultado indesejável: Etapa 2 - Caracterização e identificação do local onde ocorre o resultado indesejável Etapa 3 – Determinação do nível de risco ergonômico do resultado indesejável Etapa 4 – Causa fundamental do resultado indesejado: Etapa 5 – Objetivos Etapa 6 – Validação da causa fundamental e dimensionamento da melhoria pelos critérios ergonômicos 6.1 Validação da causa fundamental: CRITÉRIOS ERGONÔMICOS CONFORTO (saúde e bem estar) SOCIOTÉCNICOS EFICIÊNCIA (produtividade, qualidade e confiabilidade) SEGURANÇA ADEQUAÇÃO USABILIDADE CUSTO EFETIVIDADE ECONÔMICOS CUSTO BENEFÍCIO PPGEP – Gestão Industrial (2009) DESCRIÇÃO DA CAUSA FUNDAMENTAL DO PROBLEMA 94 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados 6.2 Dimensionamento da ação ergonômica CRITÉRIOS ERGONÔMICOS DESCRIÇÃO DA MEHORIA ERGONÔMICA CONFORTO (saúde e bem estar) EFICIÊNCIA SOCIOTÉCNICOS (produtividade, qualidade e confiabilidade) SEGURANÇA ADEQUAÇÃO USABILIDADE CUSTO EFETIVIDADE ECONÔMICOS CUSTO BENEFÍCIO Etapa 7 – Caracterização do projeto de melhoria ergonômica Etapa 8 – Definição de indicadores ergonômicos e determinação do modo de monitoramento: Etapa 9 – Melhoria contínua PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados 4.1 Análise dos resultados Este estudo pretendeu a proposição de um modelo/ferramenta para o diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios ergonômicos sociotécnicos (conforto e eficiência), adequação (usabilidade e segurança) e econômicos (custo-benefício e custo-efetividade) para a tomada de decisão gerencial. A ação diagnóstica da organização do trabalho nesta pesquisa foi assentada sobre os fatores que cerceiam a realidade organizacional: econômico, social e produtivo. Tal determinação se verifica pela configuração atual da organização do trabalho que contempla aspectos como diversidade, flexibilidade, inovação e cooperação além da estruturação de modos operatórios oriundos de modelos administrativos que preconizam a racionalidade do trabalho. A aplicação da ferramenta proposta na organização do trabalho de uma indústria evidenciou a importância da força de trabalho no contexto organizacional e competitivo. Isto é demonstrado ao se identificar que as perdas econômicas relacionadas com a inadequação do trabalho ao trabalhador são significativas e que podem interferir na competitividade da empresa. No entanto, este alto custo pode passar despercebido pela alta gerência quando esta não analisa a organização dos processos de trabalho à luz de critérios ergonômicos. Isto é, o impacto do trabalho sobre os fatores humanos são vistos de forma isolada do contexto produtivo. A pesquisa demonstrou a importância dos componentes da situação de trabalho na gênese de resultados indesejados. A estratificação e a análise pormenorizada destes por meio de ferramentas de análise ergonômica apontam que determinados componentes ou a sua combinação podem constituir uma situação de risco. Esta situação de risco identificada pelo método proposto dimensiona o impacto que a alteração do componente pode impossibilitar o atendimento as exigências do processo de produção. Devido as características complexas da situação de trabalho pela interação entre homem, tecnologia, ambiente e modelos de gestão, o modelo analisado contempla a identificação da causa fundamental. Para esta identificação é necessário PPGEP – Gestão Industrial (2009) 95 Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados analisar os fatores causadores a partir da análise da relação entre as diversas causas e o efeito do problema. Dimensionar a causa do problema pelos critérios ergonômicos como os sociotécnicos, adequabilidade e econômicos permite vislumbrar a conseqüência do problema no nível operacional, tático e estratégico de modo a facilitar a tomada de decisão gerencial. Esta tomada de decisão torna-se importante, pois, permite esboçar a alocação de recursos bem como a previsão de investimentos necessários para a transformação positiva da situação de trabalho. Isto porque, a melhoria preconizada para adequação do trabalho também é balizada pelos critérios ergonômicos e permite em um segundo momento determinar a complexidade do projeto de adequação. A promoção das mudanças necessárias para garantir uma situação de trabalho que permita o desempenho eficiente de todas as variáveis do processo, necessita de uma medição do seu desempenho a fim de garantir que os resultados alcançados estejam em consonância com os indicadores gerais da organização. A ferramenta proposta contempla esta medição de acordo com a criticidade do problema. Desta forma, a melhoria dos processos é conseguida quando a ferramenta em estudo contempla por meio de sua ação corretiva a oportunidade de melhorias para pessoas, processo, produtos e sistemas orientadas para a sustentabilidade da organização a longo prazo. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 96 Capítulo 5 Considerações finais 97 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A aplicação do método proposto corrobora a hipótese de pesquisa que um problema enfrentado pela organização, independente de sua natureza e do nível hierárquico em que se consubstancia, acaba por refletir sobre os fatores humanos da organização e que, por sua vez, reflete em perdas na saúde, segurança dos trabalhadores e no desempenho dos processos produtivos. Deste modo, este método diagnóstico permitiu ampliar a visão clássica da análise ergonômica do trabalho e dos métodos de análise dos problemas em vislumbrar os fatores nocivos ao trabalho e ao trabalhador a fim de garantir a melhoria contínua dos processos. O método diagnóstico proposto pode ser considerado como inovador por desenvolver novas idéias e comportamentos na organização e permitir condições para o crescimento econômico ser fonte de sustentação da vantagem competitiva da organização. A validação metodológica desta ferramenta se configura como um incremento aos modelos administrativos que regem o setor produtivo ao incorporar e integrar ao seu escopo dois enfoques distintos, cuja vivência pela organização ocorre de modo separado: a saúde e a eficiência dos processos. Constata-se desta forma, que em um método de diagnóstico do trabalho pode equacionar a abordagem humanista da variável da mão-de-obra com a abordagem econômica dos processos produtivos no seu método de trabalho. Esta incorporação e integração dos fatores humanos e produtivos na esfera da organização dos processos de trabalho permitiu entender a complexidade da realidade de trabalho a ser investigada. Para este entendimento foi determinado um método de diagnóstico estruturado sobre as premissas da metodologia de solução de problemas e de análise ergonômica do trabalho a fim de contemplar os componentes físico, psíquico e cognitivo do homem no ambiente de trabalho e o seu impacto nos diferentes níveis organizacionais. O método também considerou os aspectos não visíveis do trabalho em razão destes determinarem a articulação do trabalhador com o contexto do trabalho em razão destes participam da complexidade do trabalho. Portanto a proposição desta ferramenta diagnóstica da organização dos processos de trabalho promoveu resultados relevantes do ponto de vista teórico e PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 5 Considerações finais 98 social. Esta relevância se deve a possibilidade de proteção à saúde do trabalhador e a garantia da sustentabilidade da organização no longo prazo de modo concomitante. A partir destas constatações, entende-se que a Ergonomia se articula e se contextualiza com o sistema produtivo, contribuindo para o desenvolvimento organizacional como um todo. Isto se justifica porque o diagnóstico ergonômico proposto permite gerenciar as não conformidades ergonômicas identificadas ao priorizar a solução dos problemas referentes as condições de trabalho que acabam por gerar perdas no processo produtivo e principalmente na saúde e segurança do capital humano das organizações. A discussão acerca da economia gerada com a adequação ergonômica das condições de trabalho evidencia com esta pesquisa que os benefícios econômicos alçados são expressos indiretamente e a longo prazo na redução dos custos com a assistência médica e no absenteísmo deste capital humano. A estruturação das etapas conceituais do método em estudo e a definição dos seus objetivos permitiram explicar e identificar os fatores determinantes para a ocorrência do fenômeno estudado a partir da realidade múltipla e socialmente construída. Isto é, as queixas osteomusculares existentes na organização do trabalho de uma indústria do segmento lácteo. Convém salientar a importância da capacidade de apreensão e abstração da realidade pesquisada pelo pesquisador, uma vez que esta realidade possui características de natureza não repetível e holística impelindo a visão de sua totalidade tendo a suas variáveis relacionadas tanto a conduta do indivíduo inserido neste contexto quanto a eventos sociais. Pelo exposto acerca da construção do método proposto a partir dos constructos científicos, pode-se inferir quanto a validação metodológica deste modelo/ferramenta por demonstrar a sua aplicabilidade na vivência organizacional e na sua capacidade de explicar a realidade pesquisada. 5.1 Recomendações para trabalhos futuros Em face do estudo apresentado, recomenda-se a aplicação do método proposto em outras situações de trabalho com evidências de comprometimento do fator humano ou do desempenho insuficiente do processo produtivo de forma a PPGEP – Gestão Industrial (2009) Capítulo 5 Considerações finais 99 corroborar e ampliar a interação da Ergonomia com a competitividade organizacional. Sugere-se também a aplicação comparativa deste método com o método de análise ergonômica descrito por Vidal (2002) e com as métodos de análise utilizados pela Ergonomia física. PPGEP – Gestão Industrial (2009) 100 REFERÊNCIAS ABRAHÃO, J.I. Reestruturação Produtiva e Variabilidade do Trabalho: Uma Abordagem da Ergonomia. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa. vol 16, n.1, 2000. ABRAHÃO, J.I. & PINHO, D.L.M. Teoria e prática ergonômica: seus limites e possibilidades. Revista Escola, Saúde e Trabalho: estudos psicológicos, 1999. ABRAHÃO, J.I. & TORRES, C. C. Entre a organização do trabalho e o sofrimento: o papel de mediação da atividade. Revista Produção, v.14, n. 3, p. 067-076, 2004. ALVES-MAZZOTTI; A. J. & GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa qualitativa e quantitativa. 2 ed. São Paulo: Thompson, 2004. BABBIE, E. Métodos de Pesquisa de Survey. Tradução: Guilherme Cezarino. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. BARROS, M.H.B; RESENDE, L.M. A ergonomia e o conhecimento científico: uma análise temática a partir das publicações de enegep orientada para o conceito de desenvolvimento sustentável. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENARIA DE PRODUÇÃO - ENEGEP, XXVIII, 2008. Rio de Janeiro, 2008. CD-ROM. BOUYER, G. C. & SZNELWAR, L.I. Análise do trabalho cognitivo na concepção e implantação de sistemas automatizados para controle de processo contínuo. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENARIA DE PRODUÇÃO - ENEGEP, XXV, 2005. Porto Alegre. Anais. Porto Alegre, 2005. CD-ROM. BOTELHO, A. Do fordismo à produção flexível: a produção do espaço num contexto de mudança das estratégias de acumulação de capital. Dissertação. Mestrado Universidade de São Paulo, 2000. CAMPOS, V.C. Gerenciamento da Rotina de Trabalho do dia-a-dia. 8 ed. Belo Horizonte: INDG Tecnologia e Serviços Ltda, 2004. ____________. Gerenciamento Pelas Diretrizes. Belo Horizonte: Fundação Cristiano Ottoni Escola de Engenharia da UFMG, 1996. 101 CAPRA, F. As conexões ocultas. São Paulo, 2002. CARVALHO, P.V.R & OLIVEIRA, M.V. & VIDAL, M.C.R. A modelagem cognitiva e a confiabilidade humana em organizações que lidam com tecnologias perigosas. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENARIA DE PRODUÇÃO - ENEGEP, XXII, 2002. Curitiba. Anais. Curitiba, 2002. CD-ROM. COUTO, H. DE A. As Novas Perspectivas na Abordagem Preventiva das LER/DORT – Fenômeno LER/DORT no Brasil: Natureza, Determinantes e Alternativas das Organizações e dos demais atores Sociais para Lidar com a Questão. Belo Horizonte: UFMG/FACE, 2000. _________________. Ergonomia Aplicada ao Trabalho em 18 Lições. Belo Horizonte: Ergo Ltda, 2002. ________________. Gerenciando as LER e os DORT nos tempos atuais. Belo Horizonte: Ergo Ltda, 2007. CURY, A. Organização e métodos: uma visão holística. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 1995. DAMANPOUR, F.A; WISCHNEVSKY, D.J. Research on innovation in organizations: distinguishing innovation-generating from innovation-adopting organizations. Journal of Engineering and Technology Management, o.269-291, September 2006. DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo da psicologia do trabalho. Tradução: Ana Isabel Paraguay e Lucia Leal Ferreira. 5 ed. São Paulo: Cortez-Oboré, 1992. DRUCKER, P. F. Introdução à Administração. Tradução: Carlos A. Malferrari. 3 ed. São Paulo: Pioneira, 1998. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2002. GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Tradução: João èdro Stein. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2005. 102 KLEINER, B.M. Macroergonomics: analisys and design of work systems. Applied Ergonomics. vol 37, 2006, pages 81-89. KOVACS, I. Novas formas de organiação do trabalho e autonomia no trabalho. Sociologia, problemas e práticas. nº52, p.41-65, 2006. LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2001. MARTINEZ, M.C. As relações entre a satisfação com os aspectos psicossociais no trabalho e a saúde do trabalhador. Dissertação. 2002. (Mestrado em Saúde Ambiental). Programa de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo, São Paulo. MEIRELES, M. Ferramentas administrativas para identificar, observar e analisar problemas: organização com foco no cliente. Série Excelência empresarial, v.2, São Paulo: Arte e Ciência, 2001. MELO, C. P. CARAMORI, E.J. PDCA Método de Melhorias para Empresas de Manufatura – versão 2.0. Belo Horizonte: Fundação de Desenvolvimento Gerencial, 2001. MESQUITA, R. et al. Análise da implantação da organização do trabalho em grupos em empresas do setor químico tendo como referência o modelo sociotécnico. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENARIA DE PRODUÇÃO ENEGEP, XXVI, 2006. Fortaleza. Anais. Fortaleza, 2006. CD-ROM. MORAES, A. & MONT’ALVÃO, C. Ergonomia: conceitos e aplicações. 2 ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2000. RIBEIRO, J.F.F.; MEGUELETI, S. Organização de um sistema de produção em células de fabricação. Revista Gestão e Produção, v.9, n.1, p.62-67, 2002. ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. Tradução: Reynaldo Marcondes. 9 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. SALERNO, M.C. Da rotinização à flexibilização: ensaio sobre o pensamento crítico brasileiro de organização do trabalho. Revista Gestão e Produção, v.11. n.1, p.21-32, 2004. SANTANA, A.M.C. A produtividade em unidades de alimentação e nutrição: aplicabilidade de um sistema de medidas e melhoria da produtividades 103 integrando a ergonomia. 2002. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção). Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. SANTOS, N. Organização ergonômica do trabalho. 1º Simpósio Brasileiro sobre Ergonomia e Segurança do Trabalho Florestal e Agrícola. Belo Horizonte, 2000. SANTOS, N. & DUTRA, A. R. A & RIGHI, C.A.R. & FIALHO, F.AP. & PROENÇA, R.P.da C. Antropotecnologia: a ergonomia dos sistemas de produção. Curitiba: Gênesis, 1997. SKINNER, W.; ROBISON, J. Manufacturing strategy: the story of this evolution. Journal of Operations Management, March 2007, pages 328-335. SOUZA, N. Organização Saudável: Pressupostos Ergonômicos. 2005. Tese. (Doutorado em Engenharia de Produção). Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. SPRAGUE, L. G. Evolution of the field of operations management. Journal of Operations Management. Volume 25, Issue 2, Marçh 2007, p.219-238. RASMUSSEN, J. Information processing and human machine interaction: an approach to cognitive engeering. New York: Elsevier Science Publishing, 1986. VIDAL, M.C.R. Ergonomia na empresa: útil, prática e aplicada. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Virtual Científica, 2002. WISNER, A. A inteligência no trabalho: textos selecionados de ergonomia. São Paulo: Fundacentro. WERNECK, M.C.C. Ferramentas da qualidade. Belo Horizonte, Fundação Cristiano Ottoni, 1995. WITT, H.C. Aprendizagem organizacional a partir do ensino da metodologia de análise e solução de problemas. Dissertação. 2002 (Mestrado profissional em Engenharia). Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Apêndice A – Relatório de diagnóstico ergonômico 104 APÊNDICE A – Relatório de diagnóstico ergonômico RELATÓRIO DE DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO Etapa 1 ‐ Identificação da perda: 1.1 Componente(s) organizacional(ais) onde se evidencia a perda: Ambulatorial e eficiência global. 1.2 Levantamento de dados da perda: (ano base 2006) • Total queixas musculoesquléticas: 83; • Número de funcionário acometidos: 71; • Número de dias perdidos: 320; • Média de dias perdidos por funcionário: 4,5; • Nùmero de CAT’s por DORT: 3; • Número de ações judiciais por DORT: 27 Total custos diretos: R$ 867.956,00 Custos indiretos: • Ambiente laboral negativo devido a presença de sofrimento osteomuscular do trabalhador na realização do seu trabalho; • Estabilidade do funcionário por 1 ano quando afastamentos superiores a 15 dias; • Custo social: imagem da empresa no mercado; • Custo com redistribuição de tarefas do funcionário acometido; • Passivo trabalhista (funcionários acometidos); • Despesa de reembolso pela empresa com medicamentos a estes trabalhadores acometidos; • Redução da qualidade de vida do funcionário acometido; • Remanejamento de tarefa do funcionário acometido. 1.3 Natureza da demanda diagnóstica: Produção – chão‐de‐fábrica Resultado indesejável: Número de funcionários acometidos por queixas musculoesquléticas com impacto na eficiência global da organização. Etapa 2 ‐ Caracterização e identificação do local onde ocorre o resultado indesejável Dor em membros superiores no auxiliar de produção do setor de envase de leite fermentado da área de Refrigerados. Etapa 3 – Determinação do nível de risco ergonômico do resultado indesejável NRE 3 – componente físico do trabalho; NRE 2 ‐ componente organizacional do trabalho; PPGEP – Gestão Industrial (2009) dimensionamento do lay out, percepção de fadiga, transporte manual de cargas e fatores biomecânicos de risco para DORT podem determinar ao longo do tempo uma lesão ou doença relacionada ao trabalho uma vez que estes riscos estão expostos continuadamente o trabalhador. A exposição durante toda a jornada de trabalho do trabalhador ao método de trabalho e exigências da tarefa inadequadas a sua capacidade física pode levar a redução do seu desempenho com sobrecarga osteomuscular e fadiga em membros superiores e coluna, produtos mal acondicionados nas caixas e Apêndice A – Relatório de diagnóstico ergonômico 105 pallets. A longo prazo a queixa determina uma lesão ou doença relacionado ao trabalho. Esta ponderação também se deve ao fato de aptidões físicas diferentes entre os trabalhadores garantindo desta forma a modelagem particular para a execução da tarefa. NRE 2‐ componente da carga de trabalho O distanciamento entre o trabalho prescrito e o real nesta situação de trabalho estudada permite a adoção de modo operatório próprio baseado na percepção de conforto e desempenho do próprio trabalhador. Etapa 4 – Causa fundamental do resultado indesejado: Posição forçada de membros superiores na execução da tarefa; Repetitividade. Etapa 5 – Objetivos Eliminação da criticidade e severidade do NRE 3 para atingir NRE1. • Bancada de trabalho com regulagem de altura para atender as diferentes alturas dos trabalhadores e permitir objetos e materiais dentro da área de alcance, bom posicionamento de membros superiores eliminando condições como posturas estáticas e necessidade de força com as mãos; NRE 1 • Disponibilização de rodízios entre postos de trabalhos; • Reorganização do ciclo de trabalho por meio de alocação de tempos de pausas para descanso entre um ciclo e outro de trabalho, minimização do tempo de exposição durante o ciclo de posturas em amplitude de movimento máximo pela alternância postural (em pé, semi‐sentado e caminhando); • Disponibilização da prescrição do trabalho ergonomicamente adequado aos níveis táticos; • Treinamentos quanto a correta execução dos movimentos e posturas do modo operatório. Etapa 6 – Validação da causa fundamental e dimensionamento da melhoria pelos critérios ergonômicos 6.1 Validação da causa fundamental: CRITÉRIOS ERGONÔMICOS DESCRIÇÃO DA CAUSA FUNDAMENTAL DO PROBLEMA CONFORTO (saúde e bem estar) A postura inadequada de membros superiores associada a outros fatores como a repetitividade são fatores que propiciam o recrudescimento das doenças relacionadas ao trabalho bem como a formação de um contingente de trabalhadores com capacidade física parcial para a execução de suas tarefas. Esta causa também relaciona‐se na gênese do estresse e de doenças psicossomáticas quando a empresa adota um conjunto de ações que impossibilita a vivência de mecanismos de regulação durante o trabalho. EFICIÊNCIA (produtividade, qualidade e confiabilidade) A manutenção da postura inadequada de membros superiores ao longo da jornada de trabalho desencadeia processos de fadiga física e estresse que culminam na redução do desempenho do trabalhador. Esta queda de performance no trabalho pode gerar produtos com defeitos, má conservação de máquinas e equipamentos. SOCIOTÉCNICOS PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice A – Relatório de diagnóstico ergonômico 106 ADEQUAÇÃO SEGURANÇA Embora haja na situação de trabalho, condições ergonomicamente inadequadas como postura forçada de membros superiores e repetitividade estes fatores não intervém de modo significativo na segurança do trabalhador e das instalações na execução das suas atividades. USABILIDADE Devido as condições de postura forçada de membros superiores e repetitividade, a interação com as condições de trabalho no tocante a usabilidade do mobiliário de trabalho torna‐se prejudicada. CUSTO EFETIVIDADE O custo da transformação positiva reflete em indicadores como eficiência produtiva, redução de custos administrativos decorrentes das lesões ocupacionais dos trabalhadores e também em resultados intangíveis como boa relação entre empresa e trabalhadores e pública. CUSTO BENEFÍCIO Refletem a magnitude econômica de indicadores ergonômicos que demonstram a transformação positiva da situação de trabalho. ECONÔMICOS 6.2 Dimensionamento da ação ergonômica CRITÉRIOS ERGONÔMICOS CONFORTO (saúde e bem estar) SOCIOTÉCNICOS DESCRIÇÃO DA MEHORIA ERGONÔMICA Eliminação da postura forçada de membros superiores. EFICIÊNCIA (produtividade, qualidade e confiabilidade) SEGURANÇA ADEQUAÇÃO Eliminação da repetividade. USABILIDADE ‐ ‐ Eliminação da postura forçada de membros superiores CUSTO EFETIVIDADE ECONÔMICOS CUSTO BENEFÍCIO Etapa 7 – Caracterização do projeto de melhoria ergonômica Intervenção ergonômica no nível básico. Intervenção: necessidade de mudanças pontuais no mobiliário de tarefa e no conteúdo do trabalho; Nível básico: resultado no curto prazo com soluções pela equipe interna (tarefa). PPGEP – Gestão Industrial (2009) Apêndice A – Relatório de diagnóstico ergonômico 107 Etapa 8 – Definição de indicadores ergonômicos e determinação do modo de monitoramento: 8.1 Indicadores ergonômicos: • Número de melhorias implantadas e dentro do prazo estabelecido; • Redução do número de queixa musculoesquelética relacionado as condições de trabalho; • Eliminação das não-conformidades ergonômicas da situação de trabalho; • Redução do custo administrativo do trabalhador com queixa musculoesquelética da situação de trabalho (horas perdidas por afastamento do trabalho, custo do tratamento médico, fisioterapêutico e medicamentoso); • Melhora do desempenho produtivo (perda de material, má conservação de máquinas ou equipamentos, atendimento as metas de produção); • Melhora da percepção de fadiga durante o trabalho; • Melhora da imagem da empresa pelo funcionário; 8.2 Modo de monitoramento: Preventivo Etapa 9 – Melhoria contínua • Oportunizada melhoria na situação de trabalho para os fatores humanos e do processo de trabalho; • Atuação em outra situação de trabalho. PPGEP – Gestão Industrial (2009) Anexo A – Entrevista semi estruturada – nível gerencial e tático 108 ANEXO A – ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA - NÍVEL GERENCIAL E TÁTICO Elaborado pela autora PPGEP – Gestão Industrial (2009) 109 Anexo B – Técnica de definição de prioridades GxUxT ANEXO B – TÉCNICA DE DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES GxUxT G (gravidade), U (urgência) e T (tendência) são parâmetros tomados para se estabelecer prioridades na eliminação de problemas, especialmente se forem vários e relacionados entre si. A técnica tem o objetivo de orientar decisões mais complexas. Para a determinação da prioridade na solução dos problemas detectados, se faz três perguntas: 1) Qual a gravidade do desvio; Que efeitos surgirão a longo prazo, caso o problema não seja resolvido; Qual o impacto do problema sobre coisas, pessoas e resultados. 2) Qual a urgência de eliminar o problema; 3) Qual a tendência do desvio e seu potencial de crescimento Listados os problemas, fazer uma avaliação da gravidade, urgência e tendência de um deles. Ao terminar a avaliação de cada problema, fazer a multiplicação das notas dadas. Aspecto PPGEP – Gestão Industrial (2009) Grav Urg Tend GxUxT 110 Anexo C – Checklists de C outo ANEXO C – CHECKLISTS DE COUTO PPGEP – Gestão Industrial (2009) 111 Anexo C – Checklists de C outo PPGEP – Gestão Industrial (2009) 112 Anexo C – Checklists de C outo PPGEP – Gestão Industrial (2009) 113 Anexo C – Checklists de C outo PPGEP – Gestão Industrial (2009) 114 Anexo C – Checklists de C outo PPGEP – Gestão Industrial (2009) Anexo D – O critério semi-quantitativo de Moore e Garg - 1995 ANEXO D – O critério semi-quantitativo de Moore e Garg - 1995 PPGEP – Gestão Industrial (2009)