PR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
PPGEP
MARIA HELENA BESSA BARROS
O DIAGNÓSTICO DA ORGANIZAÇÃO DOS
PROCESSOS DE TRABALHO UTILIZANDO OS
CRITÉRIOS ERGONÔMICOS – SOCIOTÉCNICOS,
ADEQUAÇÃO E ECONÔMICOS
FERRAMENTA PARA A TOMADA DE DECISÃO GERENCIAL
PONTA GROSSA
JUNHO - 2009
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
MARIA HELENA BESSA BARROS
O DIAGNÓSTICO DA ORGANIZAÇÃO DOS
PROCESSOS DE TRABALHO UTILIZANDO OS
CRITÉRIOS ERGONÔMICOS – SOCIOTÉCNICOS,
ADEQUAÇÃO E ECONÔMICOS
FERRAMENTA PARA A TOMADA DE DECISÃO GERENCIAL
Dissertação apresentada como requisito parcial
à obtenção do título de Mestre em Engenharia
de Produção, do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção, Área de
Concentração: Gestão Industrial, Gerência de
Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus Ponta
Grossa, da UTFPR.
Orientador: Prof. Luis Maurício Resende, Dr
PONTA GROSSA
JUNHO - 2009
Ficha catalográfica elaborada pela Divisão de Biblioteca
da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa
n.31/09
B277 Barros, Maria Helena Bessa
O diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios ergonômicos
– sociotécnicos, adequação e econômicos: ferramenta para a tomada de decisão gerencial /
Maria Helena Bessa Barros. -- Ponta Grossa: [s.n.], 2009.
115 f. : il. ; 30 cm.
Orientador: Prof. Luis Maurício Resende, Dr
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção. Ponta Grossa, 2009.
1. Trabalho - Organização. 2. Ergonomia. 3. Eficiência produtiva. I. Resende, Luis
Maurício. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. III.
Título.
CDD 658.5
AGRADECIMENTOS
É com imensa alegria com que esse trabalho foi realizado.
Assim agradeço a oportunidade a mim conferida para trilhar um caminho que somente
poucos souberam percorrê-lo.
Ao meu querido orientador, agradeço profundamente pela realização desta etapa de
vida que me permitiu alçar além do crescimento profissional, ou o aguçamento crítico de
idéias, mas a ação de combinar as ferramentas da mente com as ferramentas da alma para
a construção da coletividade humana.
Agradeço também esta instituição, colegas, professores e funcionários pelos
momentos de amizade, trabalho, companheirismo e aprendizagem de que todos somos
eternos discípulos da vida.
“Todo conceito que o homem não
modifica com sua evolução se torna um
preconceito, e os preconceitos acorrentam
as almas à rocha da inércia mental e
espiritual.”
(RAUMSOL)
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
RESUMO
BARROS, M.H.B. O diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios
ergonômicos – sociotécnicos, adequação e econômicos. Ferramenta para a tomada de decisão
gerencial. 2009. 115 fls. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção),
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2009.
O presente estudo pretende a proposição de um método diagnóstico da organização dos processos
de trabalho utilizando os critérios ergonômicos sociotécnicos (conforto e eficiência), adequação
(usabilidade e segurança) e econômicos (custo-benefício e custo-efetividade) para a tomada de
decisão gerencial. A ferramenta proposta objetiva articular em seu escopo a abordagem humanista
cujo foco está nas capacidades e competências dos fatores humanos e a abordagem econômica que
prima pela eficiência produtiva. Tal determinação se verifica pela constatação que embora tenha
havido a evolução e o desenvolvimento das práticas organizacionais, os sistemas de produção
vividos pela indústria contemporânea compreendem na sua configuração tanto os enunciados da
racionalização do trabalho quanto as técnicas e métodos atuais de gerenciamento da produção, que
incorporam tecnologia, conhecimento e inovação. A utilização destes critérios ergonômicos se justifica
em razão da consideração sobre o modo como os processos de trabalho estão organização de forma
a garantir a sustentabilidade da organização no longo prazo. Para a construção metodológica desta
pesquisa foi realizado um levantamento – survey. O universo pesquisado é caracterizado pela
organização dos processos de produção de uma unidade agroindustrial do segmento de lácteos
situada na região dos Campos Gerais. O modelo proposto é constituído por nove etapas conceituais
estruturados em um modelo organizado e sistematizado para verificar a correlação existente entre os
dados das unidades de análise consideradas na realidade do contexto organizacional pesquisado.
Estas unidades de análise estudadas referem-se aos componentes da organização geral e do
processo de trabalho e aos critérios ergonômicos. A aplicação deste estudo permitiu ampliar a visão
clássica da análise ergonômica do trabalho e dos métodos de análise dos problemas em vislumbrar
os fatores nocivos ao trabalho e ao trabalhador a fim de garantir a melhoria contínua dos processos.
A validação metodológica desta ferramenta se configura como um incremento aos modelos
administrativos que regem o setor produtivo ao incorporar e integrar ao seu escopo dois enfoques
distintos, cuja vivência pela organização ocorre de modo separado: a saúde e a eficiência dos
processos. O diagnóstico da integração dos fatores humanos e produtivos na esfera da organização
dos processos de trabalho permitiu entender a complexidade da realidade de trabalho a ser
investigada. E a partir destas constatações infere-se que a Ergonomia se articula e se contextualiza
com o sistema produtivo, contribuindo para o desenvolvimento organizacional como um todo.
Palavras-chave: organização do trabalho, critérios ergonômicos, diagnóstico da organização
do trabalho, ergonomia e eficiência produtiva.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
ABSTRACT
BARROS, M.H.B. The diagnostic method of organization of work processes using sociotechnical
ergonomics criteria (comfort and efficiency), suitability (usability and security) and economic (costbenefit and cost-effectiveness) for management decision making. 2009. 115 fls. Dissertação
(Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção), Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. Ponta Grossa, 2009.
This study aims at proposing a diagnostic method of organization of work processes using
sociotechnical ergonomics criteria (comfort and efficiency), suitability (usability and security) and
economic (cost-benefit and cost-effectiveness) for management decision making. The proposed tool
aims at articulating in its scope the humanistic approach whose focus is on the Human Factors skills
and competence, and economical approach that seeks production efficiency. Such proposal results
from the finding that although there has been evolution and development of organizational practices,
production systems employed by the contemporary industry include in their configuration both the
rationalization of work and the techniques and current methods of production management, which
incorporate technology, knowledge and innovation. The use of ergonomic criteria is justified on the
consideration of how work processes are organized to ensure the sustainability of the organization in
the long run. The methodology of this research was a survey. The research universe is characterized
by the organization of production processes of a unit of agribusiness in the dairy segment located in
the region of Campos Gerais. The proposed model consists of nine steps in a structured conceptual
model organized and systematized in order way to verify the correlation between the data of the
analysis considered the reality of the organizational context studied. The units of analysis studied refer
to the components of the overall organization and work process and ergonomic criteria. The
application of this study allowed us to extend the classical view of the ergonomic analysis and
methods of analysis when detecting problems, discern the harmful factors to the work and workers to
ensure continuous improvement of processes. The methodological validation of this tool is configured
as an increase in the administrative models governing the productive sector by incorporating and
integrating two distinct approaches to its scope, which are experienced separately by the organization:
the health and efficiency of processes. The diagnosis human and productive factors integration
regarding the organization of work processes enabled us to understand the complexity of the reality of
the work being investigated. From these findings it is inferred that Ergonomics is articulated and
contextualized with the production system, contributing to the organizational development as a whole.
Keywords: work organization, ergonomic criteria, diagnosis of work organization, ergonomics and
production efficiency.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Modelo sociotécnico que fundamentou a macroergonomia ............
41
Figura 2 – Modelo proposto de diagnóstico da organização do trabalho .........
52
Figura 3 – Queixas osteomusculares x área ..................................................... 73
Figura 4 – Queixas osteomusculares da área de Refrigerados x linha de 73
produção ...........................................................................................................
Figura 5 - Queixas osteomusculares partes do corpo x turno ..........................
74
Figura 6 – Porcentagem de não-conformidades por checklists ........................
76
Figura 7 – Diagrama de causa e efeito de Ishikawa .........................................
84
Figura 8 – Diagrama das relações ....................................................................
86
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Componentes da organização do trabalho .....................................
54
Tabela 2 – Tabela de criticidade sob o enfoque multicritério ............................ 60
Tabela 3 – Validação dos problemas ergonômicos por critérios ergonômicos . 63
Tabela 4 - Validação das melhorias ergonômicas por critérios ergonômicos ... 64
Tabela 5 – Modo de monitoramento das ações propostas ...............................
67
Tabela 6 – Sumarização dos componentes da organização do trabalho .........
69
Tabela 7 - Tabela de criticidade sob o enfoque multicritério – validação 81
metodológica .....................................................................................................
Tabela 8 - Validação dos problemas ergonômicos por critérios ergonômicos - 88
validação metodológica .....................................................................................
Tabela 9 - Validação das melhorias ergonômicas por critérios ergonômicos - 90
validação metodológica .....................................................................................
Tabela 10 - Modo de monitoramento das ações propostas - validação 92
metodológica .....................................................................................................
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Classificação de risco ergonômico ................................................. 61
Quadro 2 – Resultado da avaliação ergonômica por checklists de Couto ........ 76
Quadro 3 – Descrição dos itens de verificação dos checklists de Couto .......... 78
Quadro 4 – Avaliação ergonômica pelo critério semi-quantitativo de Moore e 78
Garg (1995) .......................................................................................................
Quadro 5 – Descrição do plano de ação para implantação das melhorias 91
ergonômicas definidas ......................................................................................
Quadro 6 – Relatório de diagnóstico ergonômico .............................................
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
93
vii
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS.......................................................................................... 3
RESUMO ..........................................................................................................
5
ABSTRACT .......................................................................................................
6
LISTA DE FIGURAS .........................................................................................
7
LISTA DE TABELAS .........................................................................................
8
LISTA DE QUADROS .......................................................................................
9
1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................
12
1.1 Objetivos .....................................................................................................
16
1.2 Justificativa .................................................................................................. 16
1.3 Limitações do estudo ..................................................................................
18
1.4 Estrutura do trabalho ................................................................................... 19
2. REFERENCIAL TEÓRICO ...........................................................................
20
2.1 O contexto da produção industrial ..............................................................
20
2.1.1 Perspectiva histórica das teorias administrativas ....................................
20
2.1.2 O impacto das teorias administrativas no homem e o desenvolvimento 29
das doenças relacionadas ao trabalho .............................................................
2.2 Ergonomia ...................................................................................................
37
2.2.1 Ergonomia e sistemas automatizados .....................................................
43
2.2.2 Critérios para ação ergonômica ...............................................................
3. MÉTODO CIENTÍFICO .................................................................................
45
48
3.1 Caracterização da pesquisa ........................................................................ 48
3.2 Survey .........................................................................................................
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
49
viii
3.3 Os sujeitos pesquisados .............................................................................
50
3.4 Construção das etapas do método proposto ..............................................
51
4. VALIDAÇÃO METODOLÓGICA ...................................................................
68
4.1 Análise dos resultados ...........................................................................
95
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................
97
5.1 Recomendações para trabalhos futuros .....................................................
99
6. REFERÊNCIAS ............................................................................................
100
APÊNDICE A...................................................................................................... 104
ANEXO A...........................................................................................................
108
ANEXO B...........................................................................................................
109
ANEXO C...........................................................................................................
110
ANEXO D...........................................................................................................
115
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
1.
INTRODUÇÃO
As alternativas para o desempenho e inovação tecnológica bem como o
incremento dos modelos administrativos que regem o setor produtivo podem ser
encontradas no saber científico. A incorporação científica à realidade industrial pode
delinear novos caminhos como aqueles que permitem o desenvolvimento conceitual e
da prática dos intervenientes - econômicos, sociais e produtivos que cerceiam a
realidade organizacional.
No campo da produção científica acerca do trabalho e da organização do
processo de trabalho, o Brasil figura como um dos países do hemisfério sul com maior
produção científica nesta área, segundo Salerno (2004).
Porém, como relata o autor, muitos destes trabalhos à luz acadêmica têm
caráter descritivo ou utilizam conceitos da literatura internacional para discutir um
caso. E ainda poucos são os estudos que criaram conceitos e que se tornaram
referência por estudar a organização e o trabalho em uma perspectiva implícita ou
explícita de transformação social.
Os modelos administrativos de organização do trabalho experimentados
desde o início do século XX até os dias atuais expressam, ante a visão de seus
críticos ou seguidores, a contínua evolução dos enunciados e princípios que
modelaram cada escola, sempre com o fim de satisfazer as necessidades econômicas
e humanas imperadas a cada época.
A perspectiva histórica da divisão do trabalho sobrepuja duas abordagens – a
humanista e a econômica, a princípio contraditórias em razão da determinação de
focos distintos por elas. A primeira é centrada nas capacidades e competências dos
fatores humanos enquanto que a abordagem econômica é centrada na eficiência
produtiva, sendo que ambas são complementares para a garantia da competitividade
empresarial, de acordo com Kovács (2006).
Para a autora, esta análise histórica evidencia a abordagem humanista –
predominante nas indústrias dos países da Europa central – desenvolvida em
decorrência das lacunas deixadas pelos modelos mecanicistas que primavam pelo ser
humano como parte mecânica do processo de trabalho sem considerar as suas
capacidades e habilidades e tampouco a sua interação psicossocial com o trabalho.
Quando a aplicação da abordagem humanista não vislumbrou os resultados de
produtividade esperados, os modelos administrativos passaram a ter foco em aspectos
Capítulo 1 Introdução 13 econômicos, técnicos e de gestão para a eficiência do processo produtivo. Esta última
abordagem é predominante e oriunda de indústrias americanas e japonesas.
Entretanto, deve-se ater que tais transformações de paradigmas se
desenvolveram em cenários econômicos configurados por crises econômicas, sociais
e políticas impelindo as empresas à revisão das formas como conduzem e gerenciam
os seus fatores organizacionais.
As novas práticas do processo de organização do trabalho, adotadas pelas
organizações em todo o mundo frente aos períodos de turbulência e ocorridos em
escala mundial como a revolução industrial, a grande depressão dos anos 30, crise do
petróleo,
concorrência
de
mercados
asiáticos
emergentes,
desenvolvimento
tecnológico, passaram a determinar novas técnicas e métodos de se organizar a
produção.
Convém salientar que embora tenha havido a evolução e o desenvolvimento
das práticas organizacionais, os sistemas de produção vividos pela indústria
contemporânea compreendem em seu escopo tanto os enunciados dos modelos do
início do século XX quanto as técnicas e métodos atuais de gerenciamento da
produção, que incorporam tecnologia, conhecimento e inovação. Esta congruência,
identificada por Kovács (2006) infere para a necessidade da discussão sobre a
racionalização ou equacionamento dos diversos atores (econômico, social, político e
humano) no contexto da divisão do trabalho.
E desta combinação entre os preceitos que modelaram a divisão do trabalho
que a relação homem x trabalho pode ser vista na literatura acadêmica à luz de duas
vertentes: os impactos do trabalho no trabalhador, no tocante à sua saúde e
segurança, e o fator humano, como parte do mecanismo de produção sem se
aprofundar nas suas capacidades e limites.
De um lado, existem as teorias administrativas que evoluíram buscando a
produtividade e para isso organizaram a produção sob diversos enfoques. De outro
lado, há uma linha puxada pela Ergonomia, que trata do homem no seu ambiente
laboral com relação à saúde, segurança, conforto, e ainda compreende medidas
qualitativas de desempenho eficiente.
Abrahão e Pinho (2002) consideram que o conceito de Ergonomia contempla
um conjunto de várias disciplinas (engenharia, psicologia, fisiologia, administração,
etc), sendo que esta formação multidisciplinar para o conceito ergonômico não deva
implicar somente em uma mera reprodução ou aplicação dos conhecimentos destas
disciplinas,
mas
sim
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
numa
relação
determinada
pela
transformação
dos
Capítulo 1 Introdução 14 conhecimentos destas áreas e nas quais a prática destas disciplinas se revela
lacunária.
Desta forma, a evolução do conceito ergonômico também permitiu o
aperfeiçoamento dos princípios que o compõem. Na visão de Vidal (2002), esse
avanço no tempo delimitou um questionamento sobre os princípios contraditórios que
configuram a Ergonomia. Tais princípios são definidos como conforto e eficiência. No
entanto, este autor explica que existem princípios interdependentes além daqueles
entendidos como contraditórios, como saúde e segurança, ou ainda, aqueles
relacionados a adequação e usabilidade de produtos.
E é a partir destas constatações acerca dos princípios ergonômicos que Vidal
(2002) propõe como finalidades de aplicação da Ergonomia a saúde e produtividade e,
por conseguinte gerou critérios que norteiam a ação ergonômica: sociotécnicos
(conforto e eficiência), de adequação (usabilidade e segurança) e econômicos (custobenefício e custo-efetividade).
Portanto, a evolução conceitual da Ergonomia sob o ponto de vista da
definição dos seus critérios ocorreu a fim de atender de forma satisfatória as
exigências organizacionais atuais. Isto porque, estas exigências organizacionais atuais
evidenciam a necessidade de considerar as características (potencialidades e
limitações) dos fatores humanos para a eficiência do processo produtivo.
A reflexão a partir destes critérios - sociotécnicos, de adequação e
econômicos passa a fomentar uma mudança de paradigma em relação ao modo de
análise da organização dos processos de trabalho. Porém, esta só será válida quando
as empresas puderem observar os benefícios obtidos por meio desta análise que se
fundamenta nos câmbios entre a organização do processo de trabalho e os fatores
humanos com vistas a sua sustentabilidade no longo prazo.
Assim, a sobrevivência da organização no mercado capitalista é dependente
de como os fatores humanos no trabalho, considerados como a força motriz para
qualquer organização, é conduzida e apreendida pela alta gerência. Tal visão,
configurada pelos modelos atuais de gestão dos processos de trabalho, também se
consubstancia em razão da legislação existente para a proteção da saúde e
segurança dos trabalhadores, regulamentação sindical, assim como as normas e
certificações internacionais que privilegiam a saúde e segurança no trabalho.
A realidade da aplicação prática dos conceitos ergonômicos também deve
estar assentada nos conhecimentos científicos deste campo do saber. Entretanto, são
consideradas as abordagens realizadas pela pesquisa científica em Ergonomia que
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 1 Introdução 15 possam promover um ambiente de trabalho em condições de equilíbrio com as
questões produtivas, sociais e econômicas.
Portanto, em uma análise qualitativa acerca do modo como a pesquisa
ergonômica brasileira vem se desenvolvendo no âmbito da engenharia de produção
através das publicações científicas dos últimos seis anos do Enegep – Encontro
Nacional de Engenharia de Produção, Barros e Resende (2008) apontam que a
principal área de trabalho da Ergonomia no Brasil é a Segurança do Trabalho tendo
como objetos de estudo as condições ambientais, os acidentes de trabalho, os fatores
de risco no ambiente de trabalho, as condições de segurança e os modelos de
normatização em segurança.
O estudo também evidencia a organização do trabalho como objeto constante
da delimitação das diversas situações problema, sob o ponto de vista do impacto à
saúde do trabalhador, modelado por métodos de análise ergonômica do trabalho.
O estado da arte ergonômica, segundo a análise realizada pelos autores, se
limita quase que as abordagens que visam a correção das inadequações
ergonômicas, seja no ambiente industrial, seja no ambiente governamental. A
aplicação ergonômica mostra-se tímida no campo da prevenção, situação confrontada
pelo exíguo número de propostas de modelos, instrumentos ou metodologias que
visem o gerenciamento dos fatores humanos do trabalho à luz da administração da
produção. As metodologias encontradas limitam-se ao gerenciamento das condições
de saúde e segurança pelas ferramentas gerenciais em uso e difundidas pelos
sistemas de certificação da qualidade.
Verifica-se ainda neste estudo, que a Ergonomia vem cumprindo a sua
finalidade científica e social ao propor soluções para os conflitos entre a inteligência
natural e artificial. Porém, deve-se considerar qual o impacto do benefício social
ergonômico
na
conjuntura
econômica
das
organizações.
A
resposta
deste
questionamento pode contextualizar a Ergonomia no escopo da administração
estratégica das organizações de modo a contribuir efetivamente no desenvolvimento
sustentável destas. (BARROS e RESENDE, 2008).
As pesquisas acadêmicas realizadas apontam para a polarização dos
assuntos a serem trabalhados nesta pesquisa: ou retratam as condições de trabalho
sob a ótica da Ergonomia ou verificam os processos de trabalho e a sua organização
pelo prisma social ou econômico. Evidencia-se então uma lacuna no campo do saber
da Ergonomia e da Engenharia de Produção quando se busca esta interface.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 1 Introdução 16 Muito embora existam diversas nuanças e interfaces entre a organização e
os fatores humanos do trabalho, a tônica deste estudo está em como equacionar a
abordagem humanista para garantir a satisfação social da força de trabalho sob o
ponto de vista dos critérios de adequação do trabalho as características
psicofisiológicas dos trabalhadores e a abordagem econômica (eficiência produtiva) no
tocante à competitividade das organizações.
Assim, este estudo se estrutura na relação entre dois conceitos: organização
dos processos de trabalho e Ergonomia e propõe promover uma visão dialética sobre
a interação das capacidades humanas no contexto produtivo à luz da Ergonomia, por
entender que a base da atuação desta deva estar articulada e contextualizada com o
sistema produtivo, ou seja, perante os níveis estratégico, gerencial e operacional.
Uma vez que a realidade serve como instrumento balizador na tomada de
decisão, torna-se primordial compreendê-la a partir de uma perspectiva da interação
entre os fatores humanos e o seu ambiente de trabalho a fim de demonstrar que as
situações problemas vivenciados pela organização acabam por impactar na saúde,
segurança dos trabalhadores bem como no desempenho dos processos produtivos.
1.1 Objetivos
A pesquisa tem como objetivo geral propor um modelo/ferramenta para o
diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios
ergonômicos propostos por Vidal (2002): sociotécnicos (conforto e eficiência), de
adequação (usabilidade e segurança) e econômicos (custo-benefício e custoefetividade) para a tomada de decisão gerencial.
Deste objetivo geral foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
- construir as etapas do método de diagnóstico ergonômico da organização
dos processos de trabalho utilizando os critérios sociotécnicos, adequação e
econômicos;
- analisar os resultados obtidos pelo diagnóstico da organização dos
processos de trabalho de uma indústria;
- validar o método como ferramenta de tomada de decisão gerencial.
1.2 Justificativa
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 1 Introdução 17 É proposto um método de diagnóstico da organização dos processos de
trabalho utilizando critérios ergonômicos pelos seguintes motivos:
•
Verificar que a organização do trabalho contempla as três dimensões do
processo produtivo técnica, ambiental e organizacional;
•
Compreender em seu escopo os métodos e os conteúdos do trabalho
estruturados de modo a atender as exigências tecnológicas e organizacionais
pela repartição de tarefas no tempo (horário e cadência de produção), no
espaço (ambiente físico), sistemas de comunicação e cooperação entre as
atividades, padrões de desempenho produtivo, mecanismos de recrutamento,
seleção e treinamento de pessoas para o trabalho além do perfil de
competências e capacidades da força de trabalho.
Os critérios ergonômicos – sociotécnicos, adequabilidade e econômicos
adotados como balizadores dos problemas encontrados pelo diagnóstico configuram a
convergência que deve existir entre os fatores humanos modelos atuais de gestão
organizacional.
Portanto, consiste este diagnóstico em entender como as pessoas articulam
suas atividades com o propósito de produzir resultados que quando combinados
resultam nos produtos de uma organização e evidenciar os desajustes decorrentes da
articulação inadequada entre desempenho produtivo (qualidade, produtividade e
confiabilidade) e competências dos trabalhadores.
O diferencial deste método diagnóstico apóia-se na hipótese que qualquer
problema enfrentado por uma organização, independente de sua natureza e do nível
hierárquico em que se consubstancia acaba por refletir sobre a variável mão-de-obra
da organização o que por sua vez se expressa por perdas em saúde, segurança e
desempenho dos processos produtivos.
Perceber se há várias metodologias de análise e soluções de problemas
experimentados para melhoria dos processos em termos de melhoria da qualidade,
custo e produtividade. E ao que se refere ao fator humano do trabalho, evidencia-se o
método de análise ergonômica do trabalho projetado pela Ergonomia o qual objetiva
analisar e propor soluções de problemas acerca da saúde, segurança, conforto e
desempenho eficiente do trabalhador.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 1 Introdução 18 No entanto, ambos os métodos tanto voltados para a análise e soluções de
problemas quanto para a adequação do trabalho ao trabalhador não se articulam de
modo a especificar a relação existente entre os objetos de estudo de cada ferramenta.
Tal afirmação parte da constatação de que para a análise ergonômica em
razão do seu caráter antropocêntrico considera somente em um segundo plano a
melhoria do processo; e para as ferramentas de gestão da produção o seu foco de
atuação está primeiramente na melhoria do processo. Isto se evidencia pela
perspectiva histórica de formação das teorias administrativas que moldaram o conceito
de produtividade para a indústria.
Assim a estratégia da atuação diagnóstica proposta fundamenta-se tanto na
argumentação de Vidal (2002) sobre a ação ergonômica cuja questão principal se
fundamenta na definição do problema da situação de trabalho que compromete a
interação entre pessoas, tecnologia e organização e na determinação de uma forma
de intervenção; quanto nas premissas das metodologias de análise e solução de
problemas como MASP 14 Passos e PDCA utilizadas pela organização para
solucionar problemas de modo a garantir a contínua renovação da empresa ao
reconhecer que cada problema da organização é uma oportunidade de melhoria para
pessoas, processo, produtos e sistemas.
Portanto, a análise deve estar baseada na sistematização de formas de
inventário e instrumentos ergonômicos e de qualidade como o ciclo PDCA e Masp 14
passos que permita hierarquizar situações, distinguindo os casos simples dos casos
complexos (análise detalhada) e propondo medidas para intervenção e monitoramento
de acordo com a política estratégica da empresa.
1.3 Limitações do estudo
O presente estudo limita-se a realizar o diagnóstico de uma organização de
processos de trabalho em uma indústria por meio da utilização de critérios
ergonômicos a fim de determinar a situação(s)-problema(s) prioritária(s) para a ação
ergonômica pelo nível gerencial.
Desta forma, o método proposto neste estudo não pretende analisar e
detalhar a estrutura e a descrição teórica tanto da análise ergonômica do trabalho
quanto dos métodos de identificação, análise e solução de problemas que juntamente
com o escopo que por sua vez assentam as etapas conceituais do método proposto.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 1 Introdução 19 Outro fator excludente neste estudo é a organização geral da organização. O
modelo proposto vislumbra e delimita a organização do trabalho posto que a
organização geral tenta especificar a organização industrial em um contexto amplo –
social, econômico, geográfico e cultural, conforme VIDAL (2002). Isto é, o estudo em
questão se volta para o contexto interno da organização, nas suas estruturas
funcionais e interdependentes em que se estabelece o método de trabalho.
1.4
Estrutura do trabalho
- Capítulo 1: introduz o tema da organização dos processos de trabalho à luz
da Ergonomia e apresenta as discussões empíricas e científicas que fundamentam a
justificativa da realização da pesquisa proposta;
- Capítulo 2: descreve o referencial teórico, o qual promove a revisão da
literatura científica acerca dos conceitos que assentam o contexto da produção
industrial e a Ergonomia. O início da fundamentação teórica concernente ao contexto
da produção industrial ocorre a partir da análise da evolução histórica das teorias
administrativas ampliando para o entendimento do impacto destas teorias em relação
à saúde da força de trabalho no ambiente laboral que culmina na compreensão atual
das causas das doenças relacionadas ao trabalho. Quanto à Ergonomia, sua
fundamentação parte da sua descrição histórica seguida da apresentação das suas
definições, sua prática contemporânea, suas formas de atuação e os critérios
ergonômicos que norteiam a ação ergonômica do trabalho.
- Capítulo 3: descreve a metodologia utilizada para a modelagem e descrição
das etapas conceituais do método diagnóstico proposto;
- Capítulo 4: descreve a descrição da aplicação do método diagnóstico
proposto em uma organização de trabalho de uma indústria do setor agroindustrial,
bem como a discussão dos dados encontrados que possibilitem a validação
metodológica;
- Capítulo 5: descreve as considerações finais acerca dos resultados
encontrados pela pesquisa proposta, a descrição dos objetivos atingidos assim como
os intervenientes que dificultaram as soluções procuradas. Este capítulo é finalizado
com as recomendações para novas pesquisas a serem abordadas neste campo do
saber.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
20 Capítulo 2 Referencial Teórico
CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 - O Contexto da Produção Industrial
2.1.1 Perspectiva histórica das teorias administrativas
Uma
organização
possui
uma
perspectiva
tanto
sociológica
quanto
administrativa. E é a partir da congruência entre estes dois fundamentos científicos
que as teorias administrativas que regem uma organização se desenvolveram ao
longo dos tempos.
A transformação destas teorias também modelou a forma como o trabalho é
concebido e determinado em um ambiente industrial de modo a atender o objetivo
central de uma organização que é a obtenção de resultados (COUTO, 2007).
O entendimento de Cury (1995) acerca do trabalho parte da visão que este é
concebido para proporcionar eficiência, a qual vem sendo almejada desde os séculos
XV e XVI pela sociedade humana. E ainda destaca que o capitalismo se firmou com o
conceito de eficiência como sendo o objetivo básico da administração. E para que se
alcance este objetivo, segundo ao autor, deve haver uma ação humana racional em
um contexto social.
E é a partir desta premissa que Cury (1995) descreve a evolução das teorias
administrativas que se utilizaram da melhor engenharia humana para a racionalização
do trabalho com vistas à produção. Pode-se identificar a coexistência de diferentes
formas de organização do trabalho até os dias de hoje.
Nesse sentido, Kovács (2006) entende que há uma falta de consenso acerca
da natureza e da direção da transformação do modo de produzir bens e serviços.
Acredita-se, segundo a autora, que o período atual das formas de organização do
trabalho é resultado de uma transição de paradigmas. Isto é, o velho paradigma
caracterizado pela produção em massa e serviços estandardizados em quadros
organizacionais rígidos está sendo substituído pelo paradigma da nova era pós
taylorista/fordista que se fundamenta em um novo sistema produtivo caracterizado
pela diversidade, flexibilidade, inovação e cooperação.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
21 Capítulo 2 Referencial Teórico
Esta renovação do modelo de produção, para a autora, é decorrente da
necessidade atual das empresas em atender exigências impostas pela forte
competição de mercados globais.
De concepções manuais, individualizadas e mentalmente empobrecidas como
à época da Revolução Industrial, segundo relatos de Drucker (1998), verifica-se a
transformação do trabalho atual em natureza predominantemente intelectual inserido
em um contexto social de pequenos grupos.
No entanto, a evolução dos modelos de organização do processo de trabalho,
de acordo com Cury (1995), teve seu desenvolvimento a partir do início do século XX
por meio do delineamento de uma abordagem voltada para a produtividade pelo
prisma das máquinas. Este período ficou conhecido como escola tradicionalista ou
mecanicista ou da administração científica, cujo foco centrava-se nas análises das
empresas,
nos
estudos
das
estruturas
para
a
hierarquização
e
da
departamentalização. Os expoentes desta época foram Fayol, Taylor, Luther Gulick,
James Mooney, Lyndal Urwick.
Porém, relata Sprague (2007), que meio século antes de Taylor, as idéias de
padronização e especialização, assistência e treinamento da força de trabalho na qual
se consubstancia a Administração Científica eram colocadas em prática nos Estados
Unidos por Fred Harvey.
Enquanto na Grã-Bretanha, segundo a autora, o motor a vapor revolucionava
a agricultura e o transporte, nos Estados Unidos prevaleceu o desenvolvimento da
estrutura e da gestão da manufatura.
Frederick Taylor e Carl Barth passaram mais de 20 anos estudando as
máquinas. A motivação para este estudo estava em descobrir a melhor forma de cada
trabalho e pretendia descobrir quais os fatores que estavam e não estavam sob o
controle do trabalhador (SPRAGUE, 2007).
Santos (2000) descreve que, para Taylor, a organização do trabalho é
sinônimo de racionalização. A sua concepção determina que a forma como o trabalho
seja executado deve privilegiar a exclusão de tempos desnecessários à realização de
uma tarefa e que esta forma de trabalho deve ser supervisionada pela gerência, isto é,
um controle externo aos trabalhadores. As idéias de Taylor nortearam a forma como
as indústrias no mundo inteiro determinassem os seus meios de produção e que
posteriormente permitiram novos estudos acerca da produtividade.
Ainda segundo Santos (2000), Ford um dos seguidores de Taylor, propôs
maior intensidade do processo de trabalho pela integração das esteiras para o
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
22 Capítulo 2 Referencial Teórico
deslocamento da matéria-prima e sua transformação além da fixação dos
trabalhadores em seus postos de trabalho. Desta forma, existe uma cadência do
trabalho e esta é regulada mecanicamente e externamente ao trabalhador. Entende-se
o fordismo como a segmentação dos gestos do taylorismo.
Esta fixação do trabalhador em seu posto de trabalho determinou uma
economia de tempo significativa na execução do mesmo aliada a super especialização
da mão-de-obra ao realizar uma tarefa específica, de acordo com Botelho (2000). Para
este autor, a principal característica do fordismo é a racionalidade ao trabalho
(SPRAGUE, 2007).
O sistema taylorista-fordista percebe as organizações como máquinas e
administrá-las significa fixar metas e estabelecer formas de atingi-las; organizar tudo
de forma racional, clara e eficiente, detalhar todas as tarefas e principalmente,
controlar (CURY,1995; SANTOS, 2000).
As inovações geradas pelo fordismo no processo de trabalho refletiram na
organização e mobilização dos trabalhadores, que, pelo acúmulo de operários na
indústria acirraram as contestações e conflitos entre capital e classe trabalhadora. Na
descrição de Botelho (2000), é neste momento que ocorre a sindicalização dos
operários.
Ainda segundo a análise deste autor, foi a partir desta organização dos
trabalhadores que houve o aumento na segurança do emprego, nos níveis do salário
direto e um padrão de consumo maior pela força de trabalho. A idéia de Ford de
produzir em massa e consumo de massa propiciou um ciclo virtuoso de crescimento
econômico.
Botelho (2000), a respeito deste período marcante do desenvolvimento
econômico em todos os países que adotaram as práticas do fordismo, afirma:
“A alta produtividade alcançada pela indústria, o que
possibilitou em parte a satisfação das demandas das classes
trabalhadoras no que diz respeito ao consumo de massa, foi também
resultado da maior padronização de produtos e barateamento dos
custos unitários de produção, através das economias de escala, que
privilegiam as grandes unidades produtivas (Botelho, 2000, p.21)
Enfim, quase na mesma época do desenvolvimento da organização taylorista
do trabalho, estabelecia-se na França, por Henry Fayol, uma doutrina de estruturação
administrativa da empresa (rigidez militar da via hierárquica), sempre com o objetivo
de obter o máximo rendimento. Contudo, os trabalhadores conservavam um papel
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
23 Capítulo 2 Referencial Teórico
passivo e devem obedecer ordens, cujas razões eles mal compreendem, de acordo
com Santos (2000).
Ampliando o aspecto do trabalho a partir de sua estruturação no chão de
fábrica e a utilização de determinadas partes do corpo como extensão do processo de
produtivo despontados pelo pensamento administrativo anterior, evidencia-se a
necessidade de melhor utilizar a força de trabalho. É assim que ao final dos anos 30
as relações humanas no trabalho passaram a ser analisadas à luz da produtividade.
Esta análise definida como revolução ideológica, teve em Mayo, segundo Cury (1995)
seu maior expoente.
De acordo com Couto (2000), os estudos de Mayo culminaram na chamada
escola behaviorista e demonstraram que o homem não reage ao trabalho como uma
máquina, mas que necessita de motivação para realizá-lo. Foi durante este período
que houve um acentuado desenvolvimento das ciências sociais, como demonstra Cury
(1995).
Para Santos (2000), outras formas de amenizar o trabalho humano nas
organizações e redirecionar o contexto e o posicionamento do homem no trabalho
foram surgindo ao longo do tempo; tome-se, por exemplo, o enriquecimento de cargos
e necessidade de motivar o trabalhador propostos por Maslow.
Santana (2002) argumenta que a teoria de Maslow da Hierarquia das
Necessidades se opõe ao taylorismo pela perspectiva da motivação pelo trabalho e
evidenciando que o modelo mecanicista não é capaz de manter uma alta
produtividade por muito tempo, em vista de negligenciar fatores importantes na
motivação do ser humano para o trabalho.
À medida que mais pontos de vistas diferentes e até então desconsiderados
agregavam a nova visão da administração, maior e mais complexo se tornava o
contexto da produção. A cada nova escola administrativa novos fatores surgiram como
balizadores para a produção.
Ainda nos anos 50, Kovács (2006) destaca a proposição de um modelo
alternativo ao sistema taylorista/fordista vigente até então. Este modelo realizou
intervenções no sistema produtivo sob a égide de uma perspectiva humanista
proposta por estudiosos (antropólogos, sociólogos e psicólogos) do Tavistock Institut
of Human Relations de Londres denominada de abordagem sociotécnica.
Couto (2000) relata que na década de 60 a abordagem predominante em todo
o mundo era a sistêmica. Esta abordagem procurava mostrar o papel de cada um na
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
24 Capítulo 2 Referencial Teórico
empresa e permitiu o desenvolvimento de práticas organizacionais potencialmente
agregadoras, como o planejamento integrado.
É nessa época que houve o pleno desenvolvimento econômico e industrial de
países como os Estados Unidos e da Europa Ocidental. E isso é resultado da forma
como as indústrias destes países vivenciaram a sua realidade organizacional
congregando todos os fatores já evidenciados pelas teorias anteriores – mecanicistas
e comportamentais (COUTO, 2000).
Neste ponto da história da organização do trabalho, vale destacar o cenário
brasileiro frente este período assim como a indústria nacional vivenciou estas práticas
organizacionais do processo de trabalho.
A esse período, a realidade brasileira assistia a um grande esforço para sua
industrialização que por sua vez foi calcada por ações como aumento do seu parque
fabril, incorporação de refinarias, siderúrgicas, metalúrgicas, indústrias de química de
base, de bens de consumo duráveis, eletrodomésticos e montadoras de automóveis.
Este cenário simbolizava, conforme Salerno (2004) afirma, a transformação da
sociedade e de seus modos de produção.
A visão brasileira sobre os seus processos de trabalho divergia da visão dos
países industrializados. Isto se revela, quando Salerno (2004) descreve que nos anos
70 o debate brasileiro deu-se em torno da sua economia, uma vez que a indústria
nacional buscava a sua inserção no processo global capitalista. Em meio a este
contexto, ainda figurava o emprego, o desenvolvimento econômico, a estrutura sindical
e o sindicalismo como temas principais das discussões.
A discussão sobre os processos de trabalho na indústria brasileira passou a
ocorrer após a obra pioneira sobre os processos de trabalho no Brasil sob a crítica da
divisão do trabalho de Fleury em 1978, como explica Salerno (2004). Esta obra
acabou por forjar um novo campo na academia brasileira – trabalho e novas formas de
organização do trabalho além de torna-se referência para as ciências como
engenharia, sociologia, administração e psicologia do trabalho ao criar conceitos como
da rotinização e o modelo de contingência para a organização do trabalho na empresa
industrial.
A tônica desta tese de doutorado de Fleury esteve em colocar em primeiro
plano no Brasil o debate em curso nos Estados Unidos e nos países centrais da
Europa e até então ausente no cenário nacional sobre o trabalho e sua organização.
(SALERNO, 2004)
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
25 Capítulo 2 Referencial Teórico
As teorias seguintes ao movimento estruturalista tiveram sua tônica voltada
para a motivação e nos modelos das ciências do comportamento (CURY,1995).
Santana (2002) relata que as teorias motivacionais foram iniciadas por
pesquisadores do comportamento e buscaram aprimorar métodos de desenvolvimento
de produtividade a partir da compreensão da relação entre o fator psicológico sobre a
performance do trabalho.
Dentre as ciências do comportamento, destacam-se as seguintes teorias
administrativas como a dinâmica de grupo de Lewin, teorias Herzberg e Maslow,
McGregor, Blake e Mouton, Likert, desenvolvimento organizacional e abordagem
contingencial, segundo Cury (1995).
McGregor na década de 50 embasou as teorias X e Y pela perspectiva da
relação entre o comportamento humano e a hierarquia. Na teoria X, tem-se segundo
Cury (1995) que o gerente parte do pressuposto que a maioria das pessoas prefere
ser dirigida a assumir responsabilidades e procura segurança acima de tudo.
Foi nos anos 70 que surgiu um movimento de humanização do trabalho e
democratização da empresa. De acordo com o relato de Kovács (2006), nos países
nórdicos e na Alemanha e posterior aceitação nos Estados Unidos, foi desenvolvida
uma visão que se caracterizava pelo empenho na promoção das competências e da
participação dos trabalhadores na organização. Tal abordagem ficou conhecida como
“Qualidade de Vida no Trabalho”.
Cury (1995) entende que o conceito de organização não existe sem a
presença de sua força de trabalho procurando realizar determinado bem ou serviço e
que, para atingir um alto nível de efetividade, deve administrar seus objetivos, pessoas
e hierarquias. Este entendimento do autor fundamenta-se na caracterização do
universo organizacional – objetivo, pessoas e hierarquia o que por sua vez
determinam o grid gerencial de Blake e Mouton. A premissa deste grid está na
articulação entre si dos componentes do universo organizacional, isto é, os objetivos
da organização são atingidos mediante o esforço das pessoas quando orientadas por
supervisores.
Couto (2007) descreve que foi a partir da concorrência com mercados
asiáticos que foram injetados nos mercados produtos de alta qualidade e custo baixo,
e ainda, crises do petróleo, aumento dos custos governamental com as necessidades
da população, a exaustão da organização do trabalho taylorista e fordista no chão-defábrica, provocaram uma convulsão nos modelos administrativos e nas empresas, e
acabaram por delinear uma nova abordagem administrativa, a contingencial.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
26 Capítulo 2 Referencial Teórico
Couto (2000) salienta que a partir deste momento que se torna imperioso
produzir mais a um custo cada vez menor e com qualidade significativa. Entretanto, o
foco organizacional deve redimensionar sua produção, uma vez que sua capacidade
de sobrevivência depende quase que exclusivamente do manejo dos seus fatores
internos e externos. Reengenharia, Downsizing, Benchmarking, TQC são exemplos de
tipos de abordagem contingencial, segundo o autor.
Santos (2000) entende que a teoria contingencial das organizações,
vislumbrada nos anos 60, considera que existe, de fato, em cada situação particular,
um conjunto específico de vários fatores, que conduz à escolha de uma determinada
forma de organização do trabalho. Dentre estes fatores pode-se citar:
- os procedimentos técnicos de produção;
- as características da população disponível (compreendendo também os
supervisores e os gerentes);
- os grupos sociais existentes, as relações que existem entre eles e suas
estratégias.
Segundo o autor, as diferentes possibilidades de relação entre estes fatores
em matéria de organização do trabalho permitem uma discussão mais precisa na
empresa sobre as vantagens e os inconvenientes de cada solução proposta.
Couto (2007) argumenta que a abordagem contingencial joga por terra
qualquer noção sobre um modelo administrativo único e suficiente para todas as
realidades. Portanto, o melhor modelo administrativo depende da contingência.
É deste modelo organizacional as expressões “orientadas para a produção” e
“orientadas para as pessoas”. Como colocado por Cury (1995), o conceito de
produção não se limita só aos objetivos, ele compreende tudo aquilo que as
organizações conseguem mediante o esforço das pessoas, em termos de resultado.
Após o período de desenvolvimento e aplicação das teorias comportamentais
nas organizações, um novo cenário passa a ser analisado. Capra (2002) aponta para
um novo tipo de capitalismo gestado a partir das três últimas décadas pela revolução
da tecnologia da informação e que modificou a forma como a economia vinha sendo
conduzida desde a Revolução Industrial e ainda sobre aquela que emergiu após a
Segunda Guerra Mundial.
A nova economia descrita por Capra (2002) é denominada de “globalização” e
fundamenta-se sob os seguintes aspectos: o cerne de suas atividades econômicas é
global, as principais fontes de produtividade e competitividade são inovação, geração
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
27 Capítulo 2 Referencial Teórico
de conhecimento e processamento da informação amplamente estruturadas ao redor
de uma rede de fluxos de financiamentos.
No entanto, segundo o autor, o impacto desta forma de economia demonstrase através de desigualdade e exclusão social, colapso na democracia, deterioração
rápida e abrangente do ambiente natural e ascensão da pobreza e alienação
necessitando fundamentalmente ser replanejado.
No tocante a economia brasileira nos anos 90, houve segundo Mesquita et al
(2006) mudanças estruturais que acabaram por desencadear uma adaptação das
empresas ao mercado competitivo global. Tais mudanças resultaram nas chamadas
reestruturações produtivas que se expressaram pelo fechamento de fábricas,
enxugamento
de
plantas,
redução
de
estruturas
hierárquicas,
terceirização,
modernização tecnológica, redefinição de processos produtivos e outros.
É posto por estes autores que as reestruturações produtivas que
permaneceram nos anos seguintes determinaram novos métodos de organização e
novas formas de gestão. Isto porque novos valores nas relações de trabalho vinham
se moldando a medida que as reestruturações se engendravam nas empresas. Estes
novos valores se referem ao pouco envolvimento dos trabalhadores nas mudanças
ocorridas devido a alta rotatividade de pessoal, o autoritarismo de gerências
intermediárias, conflitos e redução da motivação dos trabalhadores.
Salerno (2004) corrobora a idéia que o contexto de intensificação da
competição global permeou o desenvolvimento da racionalização flexível. O autor
descreve em relação este nova forma de organização do processo de trabalho que o
seu desenvolvimento acabou por ofuscar a perspectiva humanista pela visão
antropocêntrica em voga pela massificação das idéias pelos poderosos mecanismos
de divulgação.
Assim a ressurgência da racionalização enraizadas nas experiências
japonesas e americanas a partir da década de 90, foram expressas nas técnicas e
métodos como: just-in-time, outsoursing, downsizing e reengenharia dos processos,
qualidade total, empowerment como alternativas para os múltiplos problemas
encontrados pelas indústrias (SALERNO, 2004).
O autor entende a racionalização flexível e a sua ampla utilização como um
meio de retorno financeiro aos acionistas a curto prazo.
Kovács (2006) descreve a racionalização flexível - nova forma de organizar o
trabalho em razão da constatação que não existe um único modelo para uma nova
organização do trabalho. Pois, é necessário implicar estruturas mais inovadoras e
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
28 Capítulo 2 Referencial Teórico
flexíveis além da participação dos trabalhadores. São utilizadas tanto a abordagem
humanista de tradição européia como a abordagem centrada na eficiência de
inspiração japonesa e americana.
No entanto, a abordagem centrada na eficiência acaba por aumentar a
responsabilidade dos trabalhadores por um conjunto de tarefas que tem como objetivo
a flexibilidade e a redução de tarefas. Os resultados econômicos desta eficiência são
denominados de melhores práticas e cuja difusão permite a melhoria da
competitividade das empresas e para a força de trabalho estes resultados são
expressos por intensificação do trabalho, insegurança e estresse. (KOVÁCS, 2006)
Nestes modelos americanos e japoneses, de acordo com Cury (1995), a
motivação das pessoas possui um papel fundamental e orienta as organizações para
um alto desempenho e efetividade, com clima saudável ao se utilizar de planejamento
detalhado,
estreita
supervisão,
liderança
diretiva,
estruturas
organizacionais
detalhistas e controles acentuados. Isto é, não se aplica um modelo preconcebido
antes de verificar qual é o melhor esquema para cada situação específica em uma
ambiência organizacional.
Pesquisas sobre novos modelos e quais fatores devem ser considerados no
ambiente organizacional vem sendo desenvolvidas assim como a convergência entre
estes modelos são encontradas na literatura científica.
As pesquisas de Perrow asseveram que uma organização deve ser
privilegiada sob diversos pontos de vista ou posições. Os estudos de Lawrence &
Lorsch propuseram, segundo relatos de Cury (1995), que as empresas projetam suas
estruturas e práticas administrativas de diversas maneiras, assim como a relação
contingente que isto tem com o desempenho de parte delas, de diferentes tarefas em
diversos ambientes.
Nessa ótica, tanto as pessoas e as organizações tem de se adaptar as
mudanças produzidas pela tecnologia da informação e comunicação que são
consideradas, de acordo com Kovács (2006), as grandes forças que modelam as
relações sociais, econômicas e políticas.
Ainda é certo refletir que não existe um único modelo organizacional que
funcione adequadamente atendendo a todas as variações tecnológicas, ambientais,
estratégicas e humanas.
O cerne da questão da discussão do trabalho na atualidade está na
diferenciação do trabalho e nas condições deste resultando em tipos e graus
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
29 Capítulo 2 Referencial Teórico
diferentes de autonomia do trabalho e não na generalização ou na falta de autonomia
deste (Kóvacs, 2006).
Esta discussão amplia-se quando Santos (2000) aponta para os determinantes
do trabalho em que questiona quando a organização do trabalho é determinada pelos
procedimentos técnicos (determinismo tecnológico), ou, ao contrário, a organização do
trabalho é totalmente definida pelas relações sociais existentes dentro desta
organização (determinismo sociológico).
Robbins (2002) defende que a incerteza é o principal determinante da
estrutura de uma organização. As empresas enfrentam as incertezas provenientes das
constantes mudanças no ambiente, na tecnologia, nas inovações, nas demandas de
mercado, atuações dos concorrentes, disponibilidade de mão-de-obra, etc.
Na esteira das mudanças organizacionais que recentemente incorporaram
tecnologia, conhecimento e informação ao trabalho, verifica-se outro aspecto que por
sua vez, também configura as mudanças de comportamentos e métodos operacionais
das organizações. Damanpour e Wischnevsky (2006) definem este aspecto como
inovação e tem sua importância demonstrada por constituir um conceito central para o
crescimento econômico e fonte da sustentação da vantagem competitiva das
empresas. Para os autores, a inovação dentro de uma organização deve acontecer
para este ser mais eficiente e assim ter condições de competir em mercados globais.
Embora existam diferentes definições sobre inovação à luz de várias disciplinas
que a estudam, a inovação organizacional é caracterizada como o desenvolvimento e
o uso de novas idéias ou comportamentos na organização. As novas idéias
relacionam-se a novos produtos, serviços ou métodos de produção – inovação técnica;
ou novos mercados ou ainda sistemas administrativos ou estruturas organizacionais
(inovação organizacional ou administrativa). No entanto, estas idéias, produtos ou
serviços devem ser novos para a população da organização, para Damanpour e
Wischnevsky (2006).
Desta forma, pode-se apreender que as transformações ocorridas nos modos
de organização do trabalho e como esta se orienta para o cumprimento dos objetivos
gerenciais acabaram por gerar inovação no ambiente organizacional. Pois as novas
práticas de comportamentos e novas oportunidades de crescimento organizacional
passam necessariamente pelo conceito de inovação.
2.1.2 O impacto das teorias administrativas no homem: o desenvolvimento das
doenças relacionadas ao trabalho
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
30 Capítulo 2 Referencial Teórico
O homem dentro do complexo sistema produtivo é um constante objeto de
estudo, uma vez que as transformações do contexto de trabalho, ainda que imersas
em cenários economicamente competitivos, possa comprometer a perfeita adaptação
do ser humano no ambiente laboral. As conseqüências de todas essas transformações
acabam por afetar seja de forma positiva ou negativa a variável humana no processo
produtivo.
Os primeiros registros sobre a saúde dos trabalhadores relacionados com as
condições de trabalho foram encontrados na fase artesanal da produção, fase que
antecede a industrial. Este relato foi iniciado segundo Couto (2000), com Hipócrates,
pai da Medicina, ao descrever um dos primeiros relatos de distúrbio crônico das mãos
causado por movimentos repetitivos no trabalho.
Bernadino Ramazzini na obra As Doenças dos Trabalhadores publicado em
1700, apud Couto (2000) descreve a doença dos escribas e notários. Também se
encontram descrições das “doenças dos mineiros” que se caracterizava pela violência
à estrutura natural da máquina vital com posições forçadas e inadequadas do corpo
que paulatinamente acabava por produzir grave enfermidade.
Porém, é a partir da produção industrial que o trabalho configurou contornos
mais complexos. Esta complexidade se expressa na forma como o trabalho foi sendo
estruturado ao longo do século XX sob o ponto de vista dos materiais, métodos, mãode-obra e fatores organizacionais que delinearam os modelos administrativos vigentes
nas organizações à cada época.
O processo saúde-doença no ambiente laboral é evidenciado em todos os
modelos administrativos vivenciados pelas organizações desde a época da Revolução
Industrial até os dias atuais.
A revolução Industrial promovida na Inglaterra que perdurou de 1801 a 1900,
resultou na substituição da força humana pela força mecanizada dando início ao
sistema fabril. Couto (2000) relata que as primeiras tentativas de adaptação do
trabalho ao homem vieram em razão das epidemias de distúrbios dos membros
superiores causados por sobrecargas funcionais.
Posteriormente à Revolução Industrial, teve início a fase da Administração
Científica. Os princípios e enunciados desenvolvidos por Taylor determinaram o
surgimento de uma nova forma racional de estruturar a produção nas indústrias
despontadas pelo movimento da Revolução Industrial, a organização do trabalho.
Um dos pressupostos da Administração Científica ou Racional é o
estabelecimento de uma única forma correta de se realizar determinada tarefa,
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
31 Capítulo 2 Referencial Teórico
independente do corpo posicionar-se de forma confortável ou que permitisse facilidade
na execução destas, associada aos tempos necessários para se realizar a tarefa e
ainda sob uma supervisão externa ao trabalhador. (DEJOURS, 1992; SANTOS, 2000;
SPRAGUE 2007)
No entanto, encontra-se descrito na literatura conforme explica Couto (2000),
um linha crítica aos princípios tayloristas que entende esta forma de organização
centrada na eficiência do trabalhador, acaba por desencadear a evidente separação
entre o corpo e a mente com possibilidade de tensão, insatisfação e ainda o trabalho
em postura forçada. Caracteriza-se assim, o meio propício para o desenvolvimento de
lesões por sobrecarga funcional, para Couto (2000). Ainda segundo este autor, existe
outro aspecto desenvolvido pelo taylorismo: o estabelecimento de cálculos para a
determinação de tempos de recuperação de fadiga. E a aplicação deste princípio
tenderia a reduzir a possibilidade de ocorrência de lesões na organização científica do
trabalho.
Os princípios tayloristas da organização do trabalho apontam que o controle
rigoroso, divisão e a pressão temporal para toda a produção podem causar queixas de
sobrecargas, dores, tensões e lesões, conforme explicam Abraão & Torres (2004).
Na visão de Dejours (1992) estes princípios pretendem uma organização do
trabalho tão rígida que exclui o saber e a capacidade criativa do trabalhador.
Para Souza (2005), a penosidade do trabalho a esta época ocorreu além dos
aspectos manuais dos modos de produção, mas também em relação a duração
extensa da jornada de trabalho, da ausência das condições sanitárias e dos cuidados
no manuseio de substâncias perigosas à saúde do trabalhador.
Embora se verifiquem diversos fatores que comprometessem a integridade da
força de trabalho, os estudos de Taylor, segundo Drucker (1998), constituíram um fator
básico para o enorme aumento da riqueza dos países nos últimos 75 anos.
Na década de 40 e 50, após Taylor houve o desenvolvimento da Engenharia
de Tempos e Métodos por Frank e Lílian Gilbreth. O cerne desta engenharia é alocar o
tempo necessário para o trabalhador realizar a sua tarefa. Couto (2000) descreve além
deste tempo adequado para o cumprimento da tarefa, tabelas de cálculo de pausas.
Para a determinação destas pausas torna-se necessário conhecer os graus de
dificuldade do trabalho, para enfim alocar o devido tempo compensatório de realização
da tarefa.
O modelo seguinte a Engenharia de Tempos e Métodos, o Fordismo,
determinou fatores da organização do trabalho com alto potencial de sobrecarga para
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
32 Capítulo 2 Referencial Teórico
o trabalhador. Couto (2000) cita os três princípios básicos da organização do trabalho
de Ford: esteira de produção que eliminava a movimentação ativa do trabalhador,
ritmo de trabalho ditado pela esteira, que por sua vez, determinava tempo para a
realização da tarefa e a super-especialização do trabalhador naquela tarefa.
Seis décadas foi o tempo que o fordismo prevaleceu nas indústrias de
produção em massa. Isto se deve pela tendência de crise do capitalismo,
particularmente em sua manifestação na Grande Depressão dos anos 30 (BOTELHO,
2000).
Mattoso (apud Couto, 2000) entende que nos dias de hoje há a “desordem do
trabalho” caracterizado por terceirização, células de produção, linhas enriquecidas,
grupos semi-autônomos convivendo com a continuidade dos sistemas Fordista e
Taylorista. A polivalência do trabalhador especializado é destaque nas células de
máquinas a fim de aumentar a produtividade do trabalhador. Nas produções que
envolvem montagem, manufatura e trabalho manual não ocorreu qualquer alívio da
carga de trabalho com relação ao sistema Fordista, uma vez que esse tipo de
organização do trabalho aumentaria a sua densidade, contribuindo para a sobrecarga.
Atualmente com a introdução da tecnologia da microinformática, uma série de
processos pôde ser redefinida ocasionando alívio da sobrecarga para alguns tipos de
trabalho, e um enorme aumento de sobrecarga para outros. (Couto,2000)
Nesse sentido, Abrahão e Torres (2004) questionam se os novos modelos de
gestão e organização da produção vigentes são compatíveis com as novas
configurações do mundo do trabalho. Isto porque os princípios da Organização
Científica do Trabalho de Taylor têm seus resquícios nos modelos administrativos que
despontaram após esta escola e que se apresentam nos modelos atuais.
As lesões por sobrecarga funcional dos membros superiores também
acompanham a evolução dos processos de trabalho. As epidemias destas lesões
coincidem com a existência de mudanças destes processos de trabalho, na forma pela
qual os processos são organizados e pelas alterações nas relações de trabalho.
Ribeiro (2002) argumenta sobre as mudanças ocorridas no modo de trabalho,
como por exemplo, a diminuição do esforço muscular bruto. Embora existam trabalhos
com exigência de baixa quantidade de força muscular, repetição rápida dos
movimentos e trabalho sedentário, estes são em grande parte, responsáveis pela
intensidade e aceleração da produção e aumento da produtividade. Isto demonstra
que as novas exigências da produção e os agravos do trabalho dizem respeito ao
conteúdo do trabalho e menos ao uso excessivo de força física.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
33 Capítulo 2 Referencial Teórico
É mister frisar que o trabalho no decorrer da sua evolução imprimiu impactos
significativos na saúde e na vida dos trabalhadores. Isto se deve, para Martinez (2002)
pela correlação entre as relações de trabalho expressos pela organização e atuação
de organizações para a luta dos interesses dos trabalhadores, fatores econômicos
desencadeados por crises financeiras em escala mundial e pelas mudanças
tecnológicas e nos modos de produção.
Perante um cenário de transformações constantes, o ambiente de trabalho
acabou por constituir um meio propicio ao desajustamento do processo de saúde dos
trabalhadores.
Martinez (2002) ainda relata que a atenção dada ao processo saúde/doença
no trabalho foi intensificada a partir da Revolução Industrial. A esta época, era
imperioso que o trabalhador se recuperasse quando acometido por alguma
enfermidade a fim de que retornasse ao seu trabalho.
As ações pertinentes a saúde do trabalhador desenvolvidas a partir dos anos
60 são demonstradas como sendo o “... resultado de interações dinâmicas e
complexas determinadas pelos domínios sociais, mentais, históricos e políticos onde o
trabalho tem caráter central.” (MARTINEZ, 2002, p. 46)
No tocante as doenças do trabalho, este estudo destaca as osteomusculares
e o conhecimento atual da ciência a respeito dos seus fatores causadores. Na revisão
da literatura sobre estas doenças foi verificado um número exíguos de trabalhos que
tentam explicar as suas causas. Portanto, optou-se pelo entendimento apresentado
pelos trabalhos de Couto, um dos maiores expoentes sobre os distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho1.
Couto (2000) relata que a década de 80 foi marcada pelo crescimento
exponencial em todo o mundo das lesões por esforços repetitivos – LER, de natureza
osteomuscular e ocupacional. A gênese destas doenças está na existência de quatro
fatores denominados de biomecânicos (força necessária para executar uma tarefa,
posturas incorretas dos membros superiores, repetitividade, vibração e compressão
mecânica das estruturas dos membros superiores) e mais o tempo insuficiente para a
recuperação da integridade dos tecidos.
1
Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho – DORT. Designação dada as lesões por esforço repetitivo pela Previdência Social do Brasil em 1998 por meio da publicação de uma instrução interna de serviço, seguindo uma tendência mundial de designação desses transtornos como W.R.M.D – work‐
related musculoskeletal disorders. PPGEP – Gestão Industrial (2009)
34 Capítulo 2 Referencial Teórico
O autor com base nas pesquisas desenvolvidas pelo NIOSH (Instituto Norte
Americano de Saúde e Segurança no Trabalho) descreve:
“[...] à medida que se aumenta a intensidade de um dos
fatores, a partir de determinado ponto crítico, passará a ocorrer um
crescimento gradativo na incidência das lesões; se houver um
segundo fator, diante de um valor menor do primeiro, já poderão
aparecer as lesões; se houve um terceiro fator, mais fácil será a
ocorrência. E assim por diante.” (COUTO, 2000, p. 79)
Desta forma, este modelo explica porque algumas profissões possuem alta
prevalência e incidência precoce ou tardia de LER/DORT.
A outra explicação para as causas destas lesões é determinada pela
existência de fatores contributivos de natureza pessoal, social e organizacional. Dentre
os fatores pessoais, destacam-se segundo Couto (2000) a partir dos estudos de
Bammer em 1993, alguns que nitidamente relacionam-se à existência dessas lesões
como a força física e aptidão. Quanto a influência dos fatores psicológicos há
características da personalidade (tensa com alto senso de responsabilidade e
insegurança) e quanto a influência dos fatores sociais não se evidenciam nenhuma
relação na origem destas doenças.
A partir desta consideração pode-se inferir que o desenvolvimento de
doenças relacionadas ao trabalho depende da conjugação de diversos fatores como a
organização do trabalho e psicológicos além dos biomecânicos para determinar a
causalidade com o trabalho. Portanto, verifica-se que o paradigma biomecânico é
insuficiente para explicar as causas destas lesões.
Destacam-se ainda os fatores psicossociais e da organização do trabalho.
Aqueles relacionados a organização do trabalho podem ser caracterizados pela falta
de variabilidade das tarefas e pela ausência de pausas e velocidade do trabalho.
(COUTO, 2000).
Os estudos de Martinez (2002) a respeito dos fatores psicossociais ou
também denominados como fonte de estresse (ou estressores) revelam um conceito
amplo destes fatores. A definição apontada pela autora fundamenta-se na definição
apresentada pelo OIT – Internacional Labour Office (Organização Internacional do
Trabalho) que considera como fatores psicossociais aqueles referentes a interação
entre e no meio de trabalho, conteúdo do trabalho, condições organizacionais,
habilidades do trabalhador, necessidades, cultura, necessidades extra trabalho
pessoais que podem afetar a saúde, o desempenho e a satisfação no trabalho seja por
meio das percepções ou da experiência. Assim, no estudo destes fatores, a forma
como o trabalho é organizado pode sobremaneira impactar na saúde do trabalhador.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
35 Capítulo 2 Referencial Teórico
Várias das exigências físicas do trabalho tem sido objeto de mensuração de
acordo com Ribeiro (2002). Dentre estas exigências estão a sobrecarga dinâmica e
estática, o número e o ritmo dos movimentos, o tempo de trabalho, etc. No entanto, os
fatores de natureza neuropsíquica produzidos a partir de exigências nos campos
cognitivo, afetivo e do comportamento carecem de instrumentos de mensuração
objetiva e têm sido pesquisadas através de questionários,
Na tentativa de encontrar o entendimento das causas dos distúrbios
osteomusculares relacionadas ao trabalho quatro linhas alternativas ao modelo
biomecânico são descritas por Couto (2000).
A primeira linha, de acordo com o autor, é derivada da Ergonomia francesa e
sua ênfase está no modo como o trabalho é organizado. Isto inclui o número de horas
extras, dobras de turno, possibilidade de aumento da velocidade das esteiras de
produção e distribuição inadequada da carga de trabalho. Portanto, a ação preventiva
é centrada na reestruturação da organização do trabalho.
Este autor explica os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho por
meio da abordagem política da doença. Pelo ponto de vista dos ideologicamente
engajados na luta contra o capital, as LER/DORT seriam o resultado do sofrimento e
exploração impostos à classe trabalhadora pelo capitalismo originado com a
Administração Científica do trabalho. Portanto, a redução do sofrimento do trabalho se
dará pelo controle social da produção e da organização do trabalho.
A psicologia organizacional explica as LER/DORT como sendo o resultado da
falência dos mecanismos psicológicos individuais e coletivos de resistência dos
trabalhadores diante das práticas administrativas e gerenciais opressivas nas
organizações. A promoção da qualidade de vida no trabalho, identidade com a tarefa e
eliminação de relações de trabalho rígidas constituem ações preventivas nesta linha.
(COUTO, 2000)
A explicação e o entendimento atual sobre as causas das LER/DORT advém
de uma pesquisa – tese de doutorado realizada por Couto (2007). Este estudo
pretendeu elucidar quanto a existência de realidades divergentes de alto e baixo índice
de ocorrências de distúrbios de membros superiores em trabalhos semelhantes e
ainda destacar os fatores de natureza organizacional e psicossociais envolvidos. Os
resultados encontrados neste estudo são apresentados a seguir.
Desta forma, Couto (2007) a partir da constatação de uma mesma realidade
biomecânica inadequada em empresas cujas incidências de LER/DORT são
antagônicas, isto é, uma empresa apresenta alto índice de LER/DORT enquanto a
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
36 Capítulo 2 Referencial Teórico
outra realidade organizacional apresenta baixo índice entende que o modelo
biomecânico explica os distúrbios, mas não a diferença na incidência (epidemia).
Para o autor, quando o conjunto de medidas definido pela gerência não
possibilita condições adequadas de realização da prescrição de trabalho a
organização do trabalho fica comprometida em razão da sobrecarga no aspecto físico
e da carga de trabalho na realização da tarefa gerando como conseqüência
comprometimento na obtenção dos resultados da empresa, predisposição a
transtornos psicossomáticos, distúrbios e lesões de membros superiores e estresse.
Sendo este último fator de importância considerável devido a sua constância no nível
operacional em decorrência da pressão que o próprio trabalho imprime ou pela
pressão excessiva sobre os trabalhadores
Quando ocorre a quebra dos mecanismos de regulação, isto é, da existência
de uma série de fatores que possibilita a retomada do equilíbrio da integridade
física/cognitiva/mental ou tensional que se exemplifica pelo uso de estruturas sociais
do trabalho (pausas, amortecimento da pressão pelas chefias), da personalidade do
próprio trabalhador (indivíduo calmo, mais bem preparado) e também na esfera das
relações de trabalho (intervenção ou acompanhamento por sindicatos); o trabalhador
tende a adoecer, como descreve Couto (2007) por estar diante de uma carga
exagerada de trabalho ou de um nível de tensão e estresse muito altos.
Quanto à realidade social para os DORT, Couto (2007) verifica que esta
realidade tem papel determinante no alastramento epidêmico dos distúrbios devido a
incapacidade da empresa em tratar e realocar as pessoas com quadro de dor nos
membros superiores.
O trabalhador novo na função assim como a ocorrência de algum evento que
subitamente mude a realidade da área de trabalho e ocasione frustração aos
trabalhadores constituem uma descoberta importante na determinação do modelo
causal de LER/DORT. Esta verificação se entende em razão do trabalhador novo em
uma determinada função não apresentar uma condição musculoesquelética adequada
para a execução motora e domínio da tarefa ou atividade; vivência de insegurança e
medo quando este indivíduo de depara com um ambiente de trabalho tenso e também
porque este trabalhador novo tem menor possibilidade de exercer seus mecanismos
de regulação (COUTO, 2007).
Por fim, o autor destaca que quanto maior for a presença dos fatores
elencados acima, maior a probabilidade da ocorrência de epidemias de LER/DORT
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
37 Capítulo 2 Referencial Teórico
2.2 Ergonomia
Enquanto ciência, a Ergonomia é relativamente nova, muito embora o homem
tenha desde civilizações antigas procurado adaptar as ferramentas e utensílios de uso
cotidiano. Entretanto, a sua origem e evolução foram marcadas pelas transformações
sócio-econômicas e sobretudo tecnológicas que vêm ocorrendo no mundo do trabalho.
(IIDA, 2005).
Para este autor, o batismo da ergonomia ocorreu no dia 12 de julho de 1949,
quando um grupo de cientistas e pesquisadores interessados em discutir e formalizar
a aplicação deste novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência se reuniu na
Inglaterra e propôs o neologismo ergonomia, formado pelos termos gregos ergo, cujo
significado é trabalho e nomos que significa regras e leis naturais.
Segundo Moraes e Mont’Alvão (2000) em 1857 durante o ápice do movimento
de industrialização europeu o termo ergonomia já havia sido utilizado pelo polonês
Woitej Yastembowsky ao publicar um artigo intitulado “Ensaios de ergonomia ou
ciência do trabalho, baseado nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”.
A origem do termo ergonomia é utilizada nos países europeus, incluindo a
Grã-Bretanha. Já nos estados Unidos e Canadá, as expressões que mais se
aproximam são Human Factors, cuja tradução é fatores humanos. (MORAES E
MONT’ALVÃO, 2000).
Em relação às formas de atuação ergonômica, preconiza-se em sua
conceituação que toda análise e modo de intervenção deve sobremaneira privilegiar o
trabalhador, referenciando as suas capacidades e respeitando as suas limitações
psicofisiológicas de modo a tornar o sistema compatível com as características
humanas. Assim a Ergonomia pretende a mudança na situação de trabalho para
promover tal adaptação.
Enquanto disciplina, a Ergonomia busca consolidar os conhecimentos obtidos
com a sua práxis.Tal proposição justifica a atuação ergonômica que nasceu, segundo
Wisner (1994), para dar respostas às situações de trabalho insatisfatórias com o
objetivo de gerar melhorias no ambiente de trabalho conforme as capacidades e
limitações humanas. Desta forma, a aplicação deste conhecimento de interface entre o
humano, tecnológico e ambiental deve ser construída pela ótica de métodos de
investigação que permitam corroborar ou aceitar uma verdade prévia ou pressuposto
não testado ainda.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
38 Capítulo 2 Referencial Teórico
Estas situações de trabalho insatisfatórias correspondem, na percepção de
Vidal (2002), às demandas acerca da atividade de trabalho. Estas demandas, no
entanto, possuem um espectro amplo, o que dá origem a uma multiplicidade de
abordagens para resolver os problemas de interface entre o humano e o tecnológico.
Ou seja, a demanda proveniente de uma situação de trabalho corresponde ao
problema que esta enfrenta em determinado momento que compromete o aspecto
humano do trabalho (condições ambientais que oferecem riscos à saúde do indivíduo),
a segurança das instalações até qualidade inadequada de produtos.
Santos et. al. (1997) relatam que a Ergonomia desenvolveu métodos de
análise, permitindo colocar em evidência as estratégias utilizadas pelo trabalhador
para atingir os resultados em qualidade e quantidade, estabelecidos pela empresa. A
partir da análise de situações existentes, a Ergonomia propõe recomendações visando
implantar modificações nos meios de trabalho, de forma a permitir uma melhor
adaptação às atividades dos trabalhadores (Ergonomia de correção e Ergonomia de
arranjo físico).
Ainda segundo estes autores, a amplitude das transformações tecnológicas e
organizacionais a que a indústrias e os serviços estão sujeitos atualmente faz com a
Ergonomia, cada vez mais fixe sua atenção sobre projetos tecnológicos e
organizacionais.
É a partir da interação entre os fatores humanos e o tecnológico que a
Ergonomia tem a sua ação, sendo que esta se fundamenta em bases científicas para
a adaptação dos meios e métodos de produção ao homem tanto em situações que
privilegiam um posto de trabalho com único operador, quanto às instalações
complexas com vários trabalhadores. (MORAES E MONT’ALVÃO, 2000)
Haja vista a fundamentação ergonômica em bases científicas, Vidal (2002)
coloca a partir da descrição de Daniellou (1991) duas dimensões desta disciplina:
científica e prática. A primeira traz fundamentos às aplicações que realiza e a segunda
torna uma aplicação viável no mundo da produção e também por tratar de problemas
onde outras abordagens deixaram de atuar. Assim, torna a Ergonomia sujeita a dois
tipos de avaliações: sob critérios científicos e também sócio econômicos.
Para Vidal (2002) a atividade de trabalho caracteriza-se como foco da
Ergonomia. O que por sua vez é entendida como o resultado da organização da
produção que procura estabelecer as formas de trabalhar a partir de seus critérios
econômicos, gerenciais e operacionais e que ainda pretende condições de execução
desta atividade. Entretanto, este delineamento se confronta com limites colocados
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
39 Capítulo 2 Referencial Teórico
pelas regras legais das várias normalizações da capacidade de organização dos
trabalhadores em sindicatos e órgãos de classe.
A partir destas considerações, forma-se uma definição de Ergonomia
enquanto prática, para este autor:
“Ergonomia é a ocupação de pessoas qualificadas em grupos de
pesquisa e formação que atuam em equipes de projeto e consultoria para
responder às demandas acerca das atividades de trabalho e do uso e
manuseio de produtos na sociedade mediante metodologias de análise de
projetos de base científica devidamente inseridos num universo normativo e
contratual”. (Vidal, 2002; p. 03)
Na discussão sobre a atividade de trabalho, pode-se atribui a ela a função de
fio condutor para analisar as situações de trabalho em sua totalidade e dimensões, de
acordo com Abrahão (2000). A autora ainda descreve que para a realização desta
análise, a Ergonomia utiliza uma metodologia própria de intervenção denominada de
análise ergonômica do trabalho que tem por objetivo entender o fazer do trabalhador
inserido em um contexto real, apreender o trabalho efetivamente realizado, ou seja,
como o homem se comporta para executar o que lhe é imposto pela organização do
trabalho.
Abrahão (2000) fundamenta-se nas idéias de Wisner (1996) acerca da
importância da análise ergonômica do trabalho, ao argumentar que reside no fato das
ações estarem sempre inscritas em um contexto, tornando-se impossível compreendêla fora dele.
Em seu estudo teórico sobre a importância da variabilidade do trabalho,
Abrahão (2000), demonstra que as situações de trabalho variam em razão das
diferenças individuais do sujeito quando confrontados com os objetivos da produção e
os meios de trabalho (social e tecnológico). Este confronto configura, segundo a
autora, na singularidade das situações de trabalho e imprime ao trabalhador o uso de
suas competências – repertório de procedimentos ou métodos alternativos que permite
ao indivíduo adaptar-se de forma mais fina às diferentes situações que se apresentam.
É mister frisar que a Ergonomia possui uma visão ampla ou holística da
situação de trabalho. Para Vidal (2002) são necessários considerações de ordem
física, cognitiva, social, organizacional, ambiental e de outros aspectos relevantes que
devam ser considerados. Nesse sentido, foi estabelecida uma divisão didática deste
campo do saber de modo a definir sua área de atuação em: ergonomia física, cognitiva
e organizacional.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
40 Capítulo 2 Referencial Teórico
O delineamento da prática ergonômica tem referência ainda no contexto
histórico, o qual demonstra a década de 70 como o ponto para a passagem definitiva
da análise situada para o campo da ação com uma crescente integração da
Ergonomia na prática industrial, conforme explica Vidal (2002).
A esta época houve além do movimento da gestão da qualidade, a introdução
de um novo conceito, intervenção ergonômica no ambiente organizacional. Este termo
é hoje uma expressão corrente em países com maior avanço da Ergonomia como o
Japão, Estados Unidos, França, Canadá, Alemanha, Suécia e Brasil. Acompanhando
as transformações dos paradigmas econômicos nos anos 80, a intervenção
ergonômica teve sua ampliação para o formato atual, a ação ergonômica. (MORAES E
MONT’ALVÃO, 2000)
Estas autoras descrevem a intervenção ergonomizadora em cinco etapas:
1 – Apreciação ergonômica: caracterizada por uma fase exploratória que
compreende o mapeamento dos problemas ergonômicos da empresa;
2 – Diagnose ergonômica: permite o aprofundamento dos problemas
priorizados a partir do diagnóstico ergonômico;
3 – Projetação ergonômica: é a adaptação das estações de trabalho,
equipamentos, ferramentas às características físicas, psíquicas e cognitivas do
trabalhador;
4 – Avaliação, validação e/ou testes ergonômicos: são as simulações e
avaliações através de modelos de teste e da percepção do trabalhador sobre as
soluções a serem implantadas;
5 – Detalhamento ergonômico e otimização: revisão projetual segundo as
restrições de custo, prioridades tecnológicas e capacidade de instalação das soluções
técnicas disponíveis.
Para Vidal (2002), a atuação ergonômica obtém melhor perspectiva quando
inserida na estratégia organizacional. Esta modalidade de atuação, que passou a
vigorar a partir dos anos 90 é denominada de Macroergonomia. No entanto, a segunda
vertente, propõe uma Ergonomia voltada para o nível das contingências sociais e
culturais em que uma empresa está afeita e no seu ambiente imediato - denominada
de Antropotecnologia.
Macroergonomia é entendida, de acordo com Kleiner (2006), como o projeto de
sistemas de trabalho cujo foco está na interação da organização do trabalho com o
sistema. Ainda segundo a autora acoplado com a necessidade atender ao sistema
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
41 Capítulo 2 Referencial Teórico
maior está a necessidade de rendimento de resultados significativos. Neste contexto,
parece que os ergonomistas necessitam dos custos justificados em suas intervenções.
A macroergonomia é uma maneira de ajudar esta intervenção ao procurar aproximar
as abordagens organizacionais clássicas (aspectos de supervisão trabalho, hierarquia,
sistemas de recompensa e controle) e humanas (equipes e a sua motivação).
A chamada macroergonomia surgiu quando nos anos 70, a partir de estudos
dos Fatores Humanos ao predizer as tendências que norteariam a ergonomia nos
próximos 20 anos. Estas tendências incluíam: aumento tecnológico, aumento das
diversidades demográficas, mudanças de valores, concorrência mundial e falha da
microergonomia em conseguir resultados relevantes e significativos. (KLEINER, 2006).
É a partir deste cenário onde as empresas primam pelo equilíbrio
sociotécnico entre as pessoas, tecnologias e organização, que a Macroergonomia tem
a sua ação. Tal equilíbrio é derivado das variáveis relevantes da escola sociotécnica
que por sua vez considera que o comportamento das pessoas frente ao trabalho
depende da forma de organização do trabalho e do conteúdo das tarefas e serem
executadas, pois o desempenho destas e os sentimentos a elas relacionados:
responsabilidade, realização, reconhecimento são fundamentais para que o indivíduo
tenha satisfação no trabalho. (MESQUITA et al, 2006; KLEINER, 2006).
A figura 1 a seguir ilustra os diversos componentes do contexto do trabalho e
que fundamentaram o modelo sociotécnico. Assim, pode-se entender que a atividade
de trabalho é influenciada pelos componentes da organização do trabalho, das
pessoas, procedimentos e instrumentos operacionais o que por sua vez determina as
interfaces físicas, cognitivas e organizacionais do trabalho.
Figura 1 – Modelo sociotécnico que fundamentou a macroergonomia (Vidal, 2002, p.94)
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
42 Capítulo 2 Referencial Teórico
Portanto, a Ergonomia contribui de forma decisiva e efetiva para que este
entendimento almejado pelas empresas se faça assentado em bases de realismo e do
ponto de vista da atividade das pessoas nas organizações, segundo Vidal (2002).
Mesquita et al (2006) relatam que a proposta sociotécnica, escola na qual a
macroergonomia se desenvolveu, foi absorvida pelas empresas a partir dos anos 90
em razão desta proposta atuar como instrumento de eficiência produtiva devido as
necessidades de flexibilidade frente as demandas flutuantes de produção e não como
instrumento de melhoria das condições de trabalho.
Pode-se apreender desta constatação que a macroergonomia desenvolveuse como uma ferramenta para suprir a falha que a teoria sociotécnica deixou se
enfatizar – a melhoria das condições de trabalho; porém estas melhorias inserem-se
na visão gerencial da organização industrial.
A outra vertente, a Antropotecnologia é segundo Vidal (2002), entendida
como o resultado da combinação de aspectos ergonômicos e macroergonômicos
envolvidos numa transferência de tecnologia. Este termo foi cunhado por pesquisador
francês Wisner.
Santos et. al. (1997) consideram a Antropotecnologia a partir das proposições
de Wisner os problemas decorrentes da transferência de tecnologia, dentre eles as
inadequações relacionadas aos aspectos humanos do trabalho. Tais implicações são
oriundas de processos de transferência mal conduzidos expressos por produção em
qualidade e quantidade inferior ao que foi previsto, desgaste do material transferido e
até atrofia do sistema técnico. Nos aspectos humanos, há riscos igualmente elevados
tanto pelos acidentes de trabalho quanto pelas doenças profissionais, além de outros
fatores como problemas ambientais, enfermidades urbanas e sociais como o
aparecimento de doenças.
Esta abordagem está voltada para os problemas de organização do trabalho
e de formação dos trabalhadores, os chamados aspectos não-materiais da tecnologia
do que do próprio dispositivo técnico a ser transferido. (SANTOS et. al. 1997)
De todo o exposto, nota-se que Ergonomia se utiliza de uma série de
possibilidades de divisão, classificação e tipologias. De acordo com Vidal (2002),
essas distintas formas de olhar, a realidade dos sistemas de produção e as situações
de uso e manuseio, caracterizam os seguintes conceitos:
- A atividade de trabalho como objeto, ou entendida como os fatos da
atividade humana em uma situação de trabalho ou em um contexto de uso e manuseio
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
43 Capítulo 2 Referencial Teórico
de produtos, que a Ergonomia tem como interferir e tratar à luz do conhecimento
próprio e de suas disciplinas de base;
- A teoria da atividade, que busca fundamentar num plano conceitual único a
ação localizada ou a atividade em si mesma e a inserção desta atividade num contexto
mais amplo (sua macroestrutura);
- A noção de sistemas e suas decorrências para a Ergonomia tais como
sistema homem-máquina e interfaces. Esquematização metodológica para a análise
de sistemas;
- Os conceitos do campo da complexidade que definem os enfoques da
Ergonomia e as várias disciplinas de síntese contemporâneas.
Assim a Ergonomia demonstra ser uma ciência cuja importância social ,
sobretudo pela potencialidade verificável nos campos da intervenção, do design, da
macroergonomia e da antropotecnologia.
2.2.1 Ergonomia e sistemas automatizados
As transformações na organização do trabalho e nas formas de gestão
decorrentes deste processo de reestruturação produtiva, e principalmente na
remodelagem das tarefas que antes seguiam a escola taylorista de organização do
trabalho acabam por trazer mudanças profundas nos hábitos, nas atitudes e
principalmente na natureza do trabalho. A informatização dos postos de trabalho
gerados pela evolução tecnológica transfere a carga de trabalho que antes estava
concentrada nos músculos para os órgãos dos sentidos e da atenção. (GRANDJEAN,
1998; MOARES & MONT’ALVÃO, 2000).
Neste novo contexto, da automatização dos sistemas produtivos, cabe ao
homem o papel mais ativo nas situações de trabalho, pois estas novas condições de
controle e regulação do processo necessitam do operador uma vigilância contínua
associada a resolução de problemas e tomadas de decisão. Conforme explica Moares
& Mont’alvão (2000) este tipo de tarefa pode não implicar em qualquer esforço físico
acentuado do operador, mas ocasiona altos níveis de tensão para o homem.
A apreensão das causas do erro humano requer o entendimento do contexto
de trabalho, a qual a atividade está calcada e onde a organização do trabalho possui
papel determinante. Ela, a organização do trabalho, influencia o planejamento, a
execução e a avaliação, permeando todas as etapas do processo produtivo. É também
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
44 Capítulo 2 Referencial Teórico
seu objetivo, segundo Abrahão e Torres (2004), prescrever as normas e os
parâmetros que determinam toda a estruturação da produção como por exemplo,
quem vai fazer, o que vai ser feito, como, quando e com que equipamentos /
instrumentos, em que tempo, em que quantidade e qualidade, etc.
Na literatura científica atual referente aos aspectos humanos do trabalho,
nota-se o aspecto cognitivo humano como cerne na concepção ou reestruturação de
artefatos tecnológicos, na construção de sistemas para tomada de decisão, na
melhoria das condições de trabalho e nas análises de acidentes de trabalho.
(MORAES & MONT`ALVÃO, 2000).
Assim, paulatinamente a inovação tecnológica considera o homem não
somente como o fim, mas como o meio para atingir seu objetivo de maximizar a
produtividade e minimizar os custos do trabalho de modo a facilitar a atividade humana
no trabalho. (ABRAHÃO E TORRES, 2004).
Para Bouyer e Sznelwar (2005) a eficiência produtiva dos sistemas
automatizados é determinada pelos recursos dos dispositivos técnicos empregados e
principalmente pela cognição humana. Esta é tida como complexa devido a sua função
em suprir as deficiências do sistema assegurando a sua eficiência assim como a
consideração de outros aspectos como a organização do trabalho.
Por outro lado, ao se desconsiderar os fatores humanos nos sistemas de
trabalho, têm-se as falhas do sistema e a ineficiência do seu desempenho. É
imprescindível a adaptação das máquinas às características físicas, cognitivas e
psíquicas do homem, devido ao número de informações a selecionar, as variáveis a
interpretar e as várias possibilidades de solução dentro do sistema.
As capacidades e limitações humanas que influenciam na performance da
execução da tarefa caracterizam os modelos cognitivos têm como base as idéias de
Rasmussen (1986). Carvalho et al (2002) descrevem que estas idéias partem do
princípio do processamento da informação pelos seres humanos a partir de
componentes como memória de curta e longa duração, do comportamento motor e
dos processos cognitivos como atenção, tomada de decisão, etc.
Abrahão (2000) considera que a Ergonomia aplicada aos sistemas
informatizados busca estudar como ocorre a interação entre os diferentes
componentes do sistema a fim de elaborar parâmetros a serem inseridos na
concepção de aplicativos que orientem os usuários e que contribuam para a execução
da tarefa.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
45 Capítulo 2 Referencial Teórico
2.2.2 Critérios para a ação ergonômica
A acepção do termo critério contempla segundo o dicionário de língua
portuguesa Larousse, uma norma ou aquilo que serve para julgar ou distinguir o erro
da verdade.
Portanto, pode-se inferir que o termo critério sob o qualitativo de ergonômico
serve para determinar se uma atividade, tarefa, situação de trabalho, ambiente,
organização do trabalho ou os demais fatores organizacionais e que constituem o foco
da ação ergonômica atendem as especificações de conforto, eficiência, usabilidade,
segurança, custo-benefício e custo-efetividade.
Os critérios adotados nesta pesquisa são descritos por Vidal (2002)e tem a
função de nortear a ação ergonômica. Estes são definidos como sociotécnicos que
inclui o princípio do conforto e da eficiência; de adequação cuja composição considera
a usabilidade e a segurança; e o critério econômico abrange os princípios de custobenefício e custo-efetividade.
Os critérios sociotécnicos, clássicos em Ergonomia, propõe a finalidade da
saúde e da produtividade sem confrontações uma vez que estas devem reger
primariamente as ações ergonômicas, para Vidal (2002).
Para Vidal (2002) há três princípios que fundamentam o critério sociotécnico:
- conforto: subentende o princípio de saúde e bem estar (conforto, adequação
da carga de trabalho, higiene e qualidade de vida no trabalho).
- eficiência ou princípio do bom desempenho social;
- segurança: princípio da produção segura e por decorrência o debate da
confiabilidade sociotécnica.
Os critérios sociotécnicos são caracterizados como uma função progressiva na
medida em que uma situação de desconforto gera um estágio de ineficiência o que por
sua vez um processo inseguro. Assim, como colocado por Vidal (2002), a prevenção
primária na saúde ocupacional e a eficiência produtiva são determinadas pelas
condições de conforto na realização das operações do sistema produtivo.
Ainda em relação aos princípios de saúde e bem estar, o autor explica que
estes princípios possuem características abstratas o que dificulta a sua aplicação na
realidade prática. As alternativas para a inserção destes princípios são alcançadas
perante a legislação via instrumentos legais como a NR 17 e a convergência com
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
46 Capítulo 2 Referencial Teórico
outros aspectos da organização da produção perante uma demanda determinada por
outros elementos importantes. No entanto, o princípio do bem desempenho social ou
eficiência se revela sob a égide dos ganhos de produtividade, melhoria da qualidade e
aumento da confiabilidade.
O critério de adequação revela o objetivo de adaptar o trabalho ao trabalhador
e se desdobra no princípio da segurança no plano da produção e no princípio da
usabilidade no plano do produto e como base o custo da inadequação para quem é
vítima dela. Vidal (2002) defende a idéia que o processo de trabalho deve produzir
produtos e saúde e que a integração entre bem estar ativo (saúde e segurança no
trabalho) e desempenho produtivo (confiabilidade, qualidade e produtividade) devem
formular projetos de organização do trabalho.
Este autor entende a usabilidade com o objetivo de proporcionar ao usuário
uma melhor interação como o produto ao adaptá-lo ao usuário. Tal princípio ganha
importância à medida que ocorre a expansão de mercados.
Para Vidal (2002) os critérios econômicos da Ergonomia devem configurar
como um investimento para a vida das empresas e com ganhos para o trabalhador. Os
princípios destes critérios são as relações custo-benefício e custo-efetividade. Para o
autor muitas intervenções ergonômicas se pagam dentro de um prazo de dois anos,
muito embora seus efeitos apresentem uma larga sobrevida na organização. É por
isso que a intervenção ergonômica deve ser alocada aos investimentos da
organização. É notória a sua interferência na economia ao minimizar custos de lesões
ou doenças dos trabalhadores, produtividade perdida, habilidades precárias, etc e
ainda proteger legalmente o trabalho.
O princípio do custo-benefício, de acordo com Vidal (2002) aponta para estimar
a magnitude de indicadores ergonômicos, os quais provêem eficiência, reduzem o
esforço e o desempenho e que indicam boas decisões econômicas os quais devem
preferencialmente apresenta resultados positivos quando alocados aos projetos de
investimentos e de despesas anuais. Este é um custo que deriva das conseqüências
de estar errado no projeto das condições de trabalho refletindo valores expressivos no
tocante danos, perda de produtividade e qualidade.
Vidal
(2002)
dá
sentido
no
investimento
em
Ergonomia
quando
o
questionamento acerca da promoção de boas relações com os empregados e de boas
relações públicas, justificativa destas ações ergonômicas pelos competidores,
cumprimento de requerimentos legais e interesse moral dos administradores em não
causar danos aos seus empregados são positivos.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
47 Capítulo 2 Referencial Teórico
Desta forma, o cerne do critério ergonômico está na habilidade de medir
resultados aparentemente inatingíveis e esclarecer exemplos de quantificação dos
benefícios.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 3 - Metodologia
48
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA
Neste capítulo serão detalhados os procedimentos metodológicos que foram
utilizados no estudo. Serão apresentados a caracterização da pesquisa, o método de
pesquisa adotado e o sujeito da pesquisa.
3.1 Caracterização da pesquisa
A construção metodológica para atingir os objetivos desta pesquisa será
realizada sob os preceitos da pesquisa qualitativa, segundo a forma de abordagem do
problema de pesquisa. Quanto à natureza, a pesquisa é definida como aplicada, pois
objetiva gerar conhecimentos para a aplicação prática de problemas específicos. O
método científico utilizado é o dedutivo.
Justifica-se a abordagem qualitativa adotada, segundo as proposições de
Alves-Mazzotti & Gewandsznajder (2004), que considera esta pesquisa como uma
estruturação prévia na sua forma devido a existência de características como:
realidade múltipla e socialmente construída em uma dada situação. O conhecimento é
emergente destas múltiplas realidades e pelos participantes sendo que o universo de
pesquisa possui uma natureza entendida como não repetível e holística, isto é, exige a
visão de sua totalidade. E quanto a formulação do problema, este deve ser referente a
uma ou mais variáveis e podem estar relacionadas tanto a conduta do indivíduo
quanto a eventos sociais.
A abordagem qualitativa da pesquisa determinou a sua classificação quanto
aos
seus
objetivos.
Portanto,
a
pesquisa
realizada
é
tida
com
caráter
predominantemente explicativo.
Gil (1991) considera que pesquisa explicativa tem o propósito de identificar os
fatores determinantes ou contributivos para a ocorrência dos fenômenos estudados. É
uma forma de aprofundamento do conhecimento da realidade ao explicar o porquê e a
razão das coisas.
O procedimento técnico adotado neste estudo é o levantamento – survey.
Quanto a sua definição, o survey segundo Babbie (1999) é um tipo específico de
pesquisa social empírica. A determinação deste método se fundamenta na relação das
suas características com os objetivos da pesquisa como a necessidade de explicar as
razões de um evento, as correlações observadas a partir de um grande número de
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
49
Capítulo 3 - Metodologia
variáveis assim como examinar a importância relativa de cada uma e proporcionar a
especificidade científica. Este último, explicado pela forma de medição de cada
variável a partir das respostas específicas a itens específicos dos questionários
codificados e quantificados de forma específica.
Em relação à finalidade da pesquisa na perspectiva deste método, esta é
descrita como exploratória, uma vez que visa a aplicação de um modelo de
diagnóstico ergonômico organizado e sistematizado para verificar a organização do
processo de trabalho de uma indústria e como esta se relaciona no contexto
ergonômico e produtivo.
Aliada ao objetivo exploratório da pesquisa pretende-se em um segundo
momento, fazer asserções explicativas a respeito das causas do fenômeno produzido
no universo pesquisado.
Lakatos & Marconi (2001) entendem que no método dedutivo a informação ou
o conteúdo fatual da conclusão já estava pelo menos implicitamente nas premissas da
pesquisa. Assim, este método tem o propósito de explicar o conteúdo das premissas.
3.2 Survey
No método de pesquisa survey, o termo que define o que será estudado é
denominado de unidade de análise. As unidades de análise, de acordo como Babbie
(1999) são derivadas do conceito estudado.
Para esta pesquisa optou-se por caracterizar três unidades de análise:
• Componentes da organização geral: especificidade, eficiência global,
ambulatorial, conseqüências, centralidades, tecnologia física e gestão, oportunidade,
simbolismo, gargalo, recursos humanos, segurança do trabalhador;
• Componentes da organização do processo de trabalho: métodos e
conteúdo do trabalho estruturado de modo a atender as exigências tecnológicas e
organizacionais por meio de aspectos como a repartição de tarefas no tempo
(horários, cadências de produção), e no espaço (ambiente físico), sistemas de
comunicação e cooperação entre as atividades, ações e operações, rotinas e
procedimentos de produção, padrões de desempenho produtivo, mecanismos de
recrutamento e seleção de pessoas para o trabalho;
50
Capítulo 3 - Metodologia
• Critérios ergonômicos: sociotécnicos (conforto, saúde e bem estar,
eficiência), adequação (segurança no plano da produção e usabilidade do produto) e
econômicos (relações de custo-benefício e custo-efetividade)
Os componentes da situação de trabalho são organizados em unidades
individuais de análise. Esta separação permite a identificação e coleta de dados
relevantes para a análise daquela unidade.
3.3 Os sujeitos pesquisados
Dentro do procedimento metodológico - survey adotado para a construção
deste estudo tem-se que o universo a ser estudado é caracterizado pela organização
dos processos de produção de uma unidade agroindustrial do segmento de lácteos
situada na região dos Campos Gerais que é parte de uma das maiores companhias
brasileiras do ramo alimentício.
Os dados da indústria analisada referem-se ao ano de 2006 e são provenientes
de sua matriz.
A empresa analisada possuía seu foco no momento da pesquisa na atividade
de leite e derivados. Neste período a indústria láctea a mesma apresentou um
faturamento anual de R$ 639.974.000,00 contando com 1.767 empregados com
vínculo empregatício dentre eles 900 lotados na sua matriz no Paraná e os demais
lotados em regionais localizados em outros estados.
Em relação ao gênero, verificou-se a essa época 1.362 homens e 388
mulheres. Na categoria tempo de casa, haviam 252 funcionários entre 10 a 20 anos;
no período entre 2 a 10 anos constavam 919 funcionários, e tempo de empresa inferior
a 2 anos, 579 funcionários. Quanto à faixa etária, o maior contingente de empregados
encontrava-se na faixa dos 20 a 35 anos de idade, acima de 36 anos havia 412
funcionários, entre 46 a 55 anos constatou-se 73 funcionários e acima de 55 anos 8
funcionários.
Esta empresa é caracterizada pelo modelo taylorista de produção (esteira de
produção, fixação do trabalhador em um posto de trabalho, super especialização do
trabalhador, fixação de metas) no nível operacional. No nível tático os processos de
trabalho estão organizados por máquinas e equipamentos cabendo ao operador a
execução de trabalho predominantemente cognitivo em razão do controle e
acompanhamento das funções dos dispositivos tecnológicos. Para o nível gerencial
cabe a elaboração e o planejamento da produção e da sua capacidade por meio de
atividades técnicas e administrativas.
51
Capítulo 3 - Metodologia
Permeado aos níveis produtivos, verifica-se a presença de um modelo de
gestão que preconiza a confiabilidade dos produtos fabricados, as relações de respeito
entre as pessoas e demais funcionários, motivação no ambiente de trabalho e
participação direta da execução e solução rápida e eficiente de problemas, além da
valorização de equipes e gerenciamento voltado para eficiência e lucratividade.
A determinação da empresa para a realização deste estudo foi verificada pelos
seguintes critérios:
•
Acessibilidade da pesquisadora na coleta de dados no ambiente de
•
A empresa não apresenta metodologias ou trabalhos no campo
trabalho;
ergonômico à época da pesquisa;
•
A empresa é referência no seu setor de atuação servindo de modelo e
referências as demais empresas do setor.
Portanto, para que o objetivo desta pesquisa científica em validar um método
de diagnóstico dos processos de trabalho utilizando critérios ergonômicos para a
tomada de decisão gerencial possa ser atingido, foi selecionado o contexto do
universo e não determinados elementos deste universo, isto é, uma amostra, conforme
preconiza o método científico survey descrito por Babbie (1999). Assim, garante-se
que as medições realizadas a partir destes elementos possam relacionar, descrever e
explicar que fatores da situação de trabalho quando manejados à luz da Ergonomia
podem atender os objetivos da gestão da produção.
3.4 Construção das etapas do método proposto
Os estágios do método proposto compreendem um ciclo de aperfeiçoamento
contínuo para o diagnóstico da organização dos processos de trabalho sendo que este
esteja integrado ao sistema global de gerência da empresa com o objetivo de alinhar
as competências e capacidades da força de trabalho ao desempenho produtivo
organizacional.
Convém salientar, que este alinhamento entre a força de trabalho e aspectos
econômicos de uma organização não sobrepuja uma abordagem em relação à outra;
ao contrário, evidencia os pontos fortes de cada uma para uma interface equilibrada
da organização.
52
Capítulo 3 - Metodologia
A modelagem diagnóstica proposta trata de 9 etapas conceituais e são
apresentadas conforme a figura 2:
Figura 2 – Modelo proposto de diagnóstico da organização do trabalho
Tais etapas conceituais descrevem a operação e a performance de
instrumentos de identificação e avaliação que compõem o diagnóstico da organização
dos processos de trabalho utilizando os critérios ergonômicos.
O método sugerido incorpora ao seu escopo os componentes da organização
do trabalho configurados pelos critérios ergonômicos que norteiam a ação ergonômica.
Desta forma, a sua estrutura é moldada baseando-se nas especificações de uma
análise ergonômica do trabalho proposta por Vidal (2002) e nas etapas das
metodologias de análise e solução de problemas As etapas conceituais descritas
neste estudo formam um ciclo orientado para a melhoria contínua. Portanto, não
pretende uma orientação para avaliação e análise do tipo ascendente (bottom – up) ou
descendente (up-down) verificadas em metodologias de análise ergonômica do
trabalho, mas sim uma avaliação das interfaces entre os componentes da organização
dos processos de trabalho.
Etapa 1 – Instrução e determinação da demanda diagnóstica
53
Capítulo 3 - Metodologia
A fase de instrução e definição da demanda tem por função orientar a
construção diagnóstica. Esta fase constitui o contato inicial do pesquisador ou
avaliador com a organização geral de uma empresa. O objetivo primeiro deste método
consiste na identificação da existência de demandas ergonômicas múltiplas ou
problemas nas áreas que compõem o contexto da organização avaliada.
Vidal (2002) justifica este primeiro passo de delimitação da demanda como
sendo a necessidade de moldurar a forma de investigação, cujo propósito consiste em
identificar a finalidade do estudo, assim como ordenar as diversas formas pelas quais
uma demanda emerge.
A instrução da demanda evidencia para Vidal (2002), o cenário onde o tipo de
perda será trabalhado demonstrando a razão da sua definição para a atuação da
análise ergonômica e ainda orienta as escolhas e o direcionamento desta análise.
Desta forma, este recorte permite delinear a primeira imagem e o esquema
explicativo e hipotético que configura o diagnóstico da organização dos processos de
trabalho. Isto se faz pela identificação de resultados indesejáveis que comprometem a
competitividade da organização geral e dos processos de trabalho ou verificação de
problemas existentes, mesmo sem saber a sua real magnitude ou dimensão.
Para o primeiro passo desta etapa são identificados os problemas ou os maus
resultados relacionados tanto aos fatores humanos (capacitação técnica, saúde e
segurança) quanto à gestão da produção (tecnologia, processos de trabalho,
transferência de tecnologia, ampliação ou redução de produção, implantação de
projetos pilotos de produção ou gestão) vivenciados pela organização como um todo.
Para a identificação destes componentes, os gerentes do nível estratégico
(quem planeja a produção) e do nível tático (quem executa o planejamento da
produção) são questionados através de uma entrevista semi estruturada (conforme
anexo A). Witt (2002) argumenta que nas técnicas de identificação e solução de
problemas para o processo produtivo a priorização para a escolha do problema a ser
tratado ou identificando é uma responsabilidade dos níveis hierárquicos superiores de
uma organização.
Desta forma a instrução da demanda diagnóstica é definida pelo resultado
destas entrevistas. Como neste momento somente são levantados os problemas,
podem incorrer divergências na identificação de problemas apontados pelos níveis
entrevistados. Isto é, cada um pode apresentar uma visão ou apontar um problema
diferente que segundo o ponto de vista deste nível hierárquico compromete o
desempenho eficiente da organização como um todo.
54
Capítulo 3 - Metodologia
Para o entendimento geral e amplo da estrutura organizacional esta é
decomposta em 12 componentes conforme a tabela 1. Desta forma, são identificados
em qual componente há uma situação problemática. Esta é a ferramenta que permite
identificar quais os componentes da organização geral que determinarão a instrução
da demanda diagnóstica.
Tabela 1 – Componentes da organização do trabalho (Adaptado de Vidal – 2002, p.156)
COMPONENTE DA
CARACTERIZAÇÃO
ORGANIZAÇÃO GERAL
ESPECIFICIDADE
EFICIÊNCIA GLOBAL
Escolha da situação devido a pontualidade do problema em
uma determinada área.
Escolha da situação em que se deseja o funcionamento de
todas as potencialidades do negócio.
Escolha
AMBULTORIAL
IDENTIFICAÇÃO
da
situação
devido
o
número
de
queixas
osteomusculares dos trabalhadores serem mais numerosas
ou contundentes.
Escolha de locais onde as conseqüências de problemas são
CONSEQUÊNCIAS
mais graves.
Escolha de um dispositivo cujo funcionamento é central na
CENTRALIDADE
seqüência de fluxo de produção.
Escolha de situações onde ocorrerá uma mudança a médio
TECNOLOGIA FÍSICA / GESTÃO
GARGALO
ou em longo prazo.
Escolha de uma situação crítica em produtividade
Escolha de uma situação emblemática para a organização
SIMBOLISMO
onde se pretende realizar a melhoria das condições e que
implique na imagem da empresa no mercado
OPORTUNIDADE
Onde
um
resultado
positivo
permita
realizar
outras
intervenções de melhoria nas condições do trabalho
Escolha da situação devido o número de perdas em
absenteísmo, rotatividade, alto custo administrativo com
reintegração de funcionário afastado do trabalho por DORT
RECURSOS HUMANOS
(nexo ou sua suspeita) e acidente de trabalho
Análise das características da população - efetivo trabalho
(competências
e
capacidades)
quando
ampliação
ou
redução do quadro funcionários.
SEGURANÇA DO
Escolha da situação devido o número do acidentes e
TRABALHADOR
incidentes do trabalho
ASPECTOS PONTUAIS DA
ORGANIZAÇÃO DO
TRABALHO
Conteúdo das tarefas, normas de produção, exigências de
tempo, determinação do conteúdo de tempo, ritmo de
trabalho, carga de trabalho, modo operatório, trabalho
prescrito e real.
55
Capítulo 3 - Metodologia
Uma vez identificado o componente, propõem-se o levantamento de dados ou
indicadores referentes ao componente organizacional evidenciado a fim de que se
esboce o dimensionamento da perda identificada. Considera-se a possibilidade de
análises dos demais componentes de modo a compreender melhor o contexto da
perda do fator organizacional. Pode ocorrer também a identificação de mais de um
componente da organização geral. Neste caso, deve-se determinar qual componente
apresenta prioridade na investigação ergonômica e para esta situação é utilizada a
ferramenta da qualidade GxUxT (Anexo B). Para tanto, os componentes identificados
como críticos são ponderados em relação aos dados quantitativos levantados e
também realizar uma análise qualitativa por meio desta ferramenta.
A ferramenta GxUxT objetiva orientar a tomada de decisão, estabelecer
prioridades na solução de problemas detectados e identificar processos críticos sob o
enfoque de três critérios ou parâmetros: gravidade, urgência e tendência. (CAMPOS,
2004; MEIRELES, 2001).
O passo seguinte nesta fase é estabelecer, conforme a proposição de Vidal
(2002), a demanda diagnóstica segundo a sua natureza. O autor identifica a origem
desta demanda em dois aspectos: demandas de produção e de injunção, as quais
compreendem outras especificações menores.
1) Demandas de produção: quando oriundas do interior da organização, que por
sua vez, dividem-se em três esferas segundo o meio em que emerge:
a) Demandas estratégicas: formuladas perante as mudanças de
natureza cultural e comportamental da organização e onde há a necessidade
de transformação ou intervenção nas potencialidades do negócio.
b) Demandas gerenciais: quando o problema organizacional é originário
ou evidenciado na própria área gerencial sem articular-se ou expandir para os
níveis hierárquicos superiores.
c) Demandas de chão - de - fábrica: quando a demanda relaciona-se a
sua impactação ou repercussão direta sobre a variável mão-de-obra ou sobre
os aspectos da organização do trabalho.
2) Demandas de injunção: externas a empresa e formada pela demanda do tipo
sindical, de organismos públicos, econômicas, judiciais, estratégias de
mercado (aquisição e fusão entre empresas) bem como a certificação por
normativas em qualidade, saúde e segurança.
56
Capítulo 3 - Metodologia
Esta etapa culmina na determinação diagnóstica, isto é, na escolha da
situação característica a qual é constituída pela organização dos fatos levantados a
partir do resultado indesejável.
Etapa 2 – Definição das situações a serem estudadas
A conclusão acerca da situação característica aponta para a necessidade de
especificação da situação de trabalho e o local da estrutura organizacional em que se
encontra o problema encontrado. Portanto, esta etapa caracteriza-se pela identificação
inicial do problema a partir de um resultado indesejável, levantado na etapa anterior.
O problema deve ser decomposto em dados mais específicos que ocorrem
pela estratificação dos seus indicadores, a fim de determinar de forma pontual em que
situação de trabalho se insere ou reside tal perda. Este processo de divisão do
problema em camadas menores é o passo inicial para se buscar a origem do
problema, pois também permite priorizar a perda e assim conseguir ótimos resultados
com ação assertiva. Esta técnica de divisão do problema em problemas menores pela
priorização dos dados quantitativos é denominado de Método de Análise de Pareto.
Considera-se nesta fase a análise de croqui ou fluxograma de produção para
entender e especificar o comportamento desta perda em determinada situação de
trabalho e entender a organização do trabalho como um processo que se utiliza de
recursos humanos, tecnológicos e administrativos para transformação de materiais em
produtos.
Etapa 3 – Pré-diagnóstico ou modelagem das evidências encontradas
É no pré-diagnóstico que se realiza o levantamento das situações de trabalho
relacionadas à situação característica. Isto é, são hierarquizados os componentes da
situação de trabalho onde se procura definir o item do componente da situação de
trabalho que mereça ser analisado e assim validar a instrução da demanda.
Este primeiro passo na estratificação da situação de trabalho descreve
claramente e precisamente o problema. Esta descrição dos dados da situação
analisada deve ser precisa, imparcial, focalizar o processo, sem especular sobre a
causa do problema; especificar as não conformidades e até a dimensão financeira. As
57
Capítulo 3 - Metodologia
não conformidades podem ser descritas por qualquer desvio das normas de trabalho,
práticas, procedimentos, regulamentos, desempenho do sistema de gestão que por
sua vez, possa levar direta ou indiretamente impedir o funcionamento adequado de um
componente ou a combinação destes em uma situação de trabalho.
É nesta etapa que o problema organizacional apontado será analisado pelos
critérios ergonômicos. A inserção da avaliação ergonômica nesta fase se justifica pelo
entendimento que em toda situação de trabalho há a presença ou a influência do fator
humano. Desta forma, os indivíduos ao realizarem a sua atividade de trabalho podem
contribuir para o desempenho ou ineficiência desta situação, bem como sofrer os
impactos dos desajustes da situação de trabalho.
O levantamento dos componentes da situação de trabalho se inicia com a
observação direta do modo operatório por meio da filmagem da tarefa a fim de
identificar o ciclo completo de trabalho (seqüência de ações técnicas). A segmentação
das ações técnicas realizadas pelo trabalhador desta situação de trabalho é que
determina quais as ferramentas ergonômicas serão pertinentes para a identificação
dos componentes físico e cognitivo desta situação.
O levantamento dos componentes físicos e cognitivos da situação de trabalho
é verificado pela aplicação de ferramentas ergonômicas (como por exemplo,
Checklists de Couto, Mapa de Corlett, RULA, OWAS). No entanto, a definição da
ferramenta a ser utilizada depende da natureza predominante no trabalho da situação
em questão o que por sua vez, não exclui a avaliação dos outros campos. Assim,
deve-se verificar o trabalho físico, cognitivo e psíquico.
As ferramentas de análise ergonômica do trabalho são selecionadas e
adaptadas de acordo com as características específicas acerca da natureza deste
trabalho que está sendo avaliado.
Além dos componentes físicos e cognitivos, devem se verificados os demais
componentes da situação de trabalho, conforme a descrição de Vidal (2002):
• Conteúdo das tarefas: modo como o indivíduo percebe seu trabalho:
monótono ou estimulante;
• Normas de produção: formas de proceder que o trabalhador deve seguir
para realizar a tarefa (horário de trabalho, qualidade desejada e os regulamentos
internos de cada empresa);
• Exigência de tempo: o quanto deve ser produzido em um determinado
tempo imposto o que abrange a velocidade, cadência, ritmo e duração da jornada;
58
Capítulo 3 - Metodologia
• Determinação do conteúdo de tempo: é o que faz o trabalhador em
determinado tempo. Mensura-se o tempo necessário para verificar erros ou tomar
decisões; ou seja, considera-se os contornos da variabilidade que podem invalidar o
tempo necessário para o trabalhador realizar a sua atividade;
• Ritmo de trabalho: é o ajuste de cadências ou entendido como que a
totalidade do trabalhador (conhecimentos, experiência, estado de saúde) regula-se
perante a cadência (velocidade dos movimentos que se repetem em uma unidade de
tempo), os objetivos e os meios oferecidos para a execução da tarefa em
determinadas condições;
• Carga de trabalho: resultado das exigências sobre o desempenho
indivíduo no decorrer de sua atividade de trabalho. Assim, a carga de trabalho existe
quando o dimensionamento da atividade não atende a capacidade individual do
trabalhador;
• Distanciamento entre o trabalho prescrito e real: quando ocorre esta
situação verifica-se a inadequação da carga de trabalho, física, cognitiva e
organizacional do trabalho. Assim, a maneira como o trabalho deve ser executada
(configurado pelas formas de utilização de máquinas e instrumentos, tempo de
operação, modo e normas operatórias) não condiz com a maneira efetiva que o
trabalhador executa sua atividade. Este é o principal componente a ser considerado no
diagnóstico;
• Modo operatório: é a maneira como as atividades ou operações são
executadas para se atingir o resultado final desejado, e consiste em uma parte
observável (gestos executados e sua ordem no tempo e no espaço) e outra não
observável, que é a parte cognitiva (o que é preciso saber para executar um
determinado movimento) e a tomada de decisão implícita no trabalho (numa
determinada circunstância qual a estratégia e a tática adotada pelo operador). Resume
este componente pelo resultado da regulação pelo trabalhador entre o que é solicitado
– tarefa, com o que fazê-lo (meios de trabalho) e como fazê-lo;
• Perfil do trabalhador na função: competências necessárias como
qualificação técnica, treinamentos, experiência e vivência profissional;
• Variabilidade das tarefas: o conceito de variabilidade parte da
constatação que em um processo de produção há desempenhos distintos em seus
vários momentos de mensuração. Isto de deve à natureza do processo técnico e de
trabalho que por sua vez impede a adoção de padrões globais de mensuração numa
59
Capítulo 3 - Metodologia
atividade aparentemente similar. O resultado é a ação de manter sob controle e não
controlar as variabilidades significativas na realidade do processo de produção.
Esta etapa é finalizada pela modelagem das evidências encontradas. Nesta
modelagem são articuladas e sumarizadas as informações quantitativas e qualitativas
emergidas pelo levantamento realizado que formalizam um modelo teórico, cuja
função é determinar a importância de cada item com base em fatos e dados das
estruturas envolvidas no problema organizacional suscitado.
Esta determinação da importância de cada item da situação do trabalho é
feita pela utilização de uma tabela de criticidade com enfoque multicritério, que tem por
objetivo ponderar entre os fatores da situação de trabalho de maior significância para o
problema delimitado. Isto é, são delimitados parâmetros para se estabelecer os fatores
mais significativos de um problema devido a variedade e o relacionamento existente
entre estes fatores.
Para este estudo, é proposta a tabela a seguir que permite estruturar os
fatores significativos e ponderados pelos critérios de segurança, criticidade e
severidade. A definição de tais critérios se explica em razão da necessidade de
garantir a disponibilidade das funções dos componentes da situação de trabalho de
modo a garantir as exigências do processo de produção a qual esta situação está
inserida.
Assim,
a
função
de
algum
componente
da
situação
de
trabalho
desempenhada de maneira insatisfatória pode comprometer a segurança dos
indivíduos que realizam o trabalho e das instalações ou ambiente onde o componente
está implicado, ou apresentar uma tendência de crescimento em potencial que leve a
falha deste componente ou ainda apresentar um efeito negativo que se estabelece a
curto, médio ou longo prazo.
A estrutura da tabela de criticidade sob o enfoque multicritério é demonstrada
na tabela 2 a seguir:
60
Capítulo 3 - Metodologia
Tabela 2 – Tabela de criticidade sob o enfoque multicritério (Adaptada pela autora)
Segurança
Criticidade
Severidade
Organizacional
Físico
Cognitivo
CONSEQUÊNCIA
Tecnológico
Ambiental
Carga de
trabalho
A tabela 2 constituiu uma ferramenta que auxilia na tomada de decisão sobre
os fatores preponderantes da formação do problema. Para isto são descritos na coluna
da tabela os fatores da situação de trabalho considerados significantes para serem
confrontados com os parâmetros de acordo com a relevância – segurança, criticidade
e severidade que estão descritos na primeira linha da tabela. Para o preenchimento,
devem-se ponderar cada fator significativo da situação de trabalho com cada
parâmetro e então descrever a conseqüência ou o efeito negativo em cada célula.
Entretanto,
torna-se
necessário
definir
os
limites
de
variação
das
conseqüências elencadas entre o fator ou componente da situação de trabalho e o
parâmetro. Esta variação pode ser especificada em uma relação de valor e peso
qualitativa/quantitativa (3 - alto, 2 - médio e 1- baixo). Assim, quanto mais grave ou de
maior impacto esta conseqüência, maior a pontuação e qualificação que esta
receberá. A interpretação conclusiva desta tabela baseia-se na somatória dos pontos
alocados a cada fator o que determinará o nível de risco ergonômico. Este nível de
risco recebe o qualitativo de ergonômico devido a utilização de ferramentas
ergonômicas na configuração e entendimento da natureza da atividade de trabalho.
O quadro 1 exemplifica os níveis de risco ergonômicos propostos neste
estudo:
61
Capítulo 3 - Metodologia
Quadro 1 – Classificação de Risco Ergonômico (Adaptado pela autora da técnica Análise Preliminar de
Risco de Segurança Industrial)
NRE
1
-
TOLERÁVEL
/
Baixa Prioridade - Risco Tolerável: Pode se considerar uma
solução ergonômica mais econômica ou aperfeiçoamentos que não imponham
ACEITÁVEL
custos extraordinários e uma monitoração contínua para assegurar que os
(01 a 03 pontos)
NRE
2
-
MODERADO
INVESTIGAR E LOGO MUDAR
mecanismos de regulação sejam mantidos.
/
Média Prioridade - Risco Moderado: Necessidade de redução de
risco. Recursos consideráveis podem ser necessários para a redução de risco.
As ações ergonômicas devem ser planejadas e implantadas dentro de um
(04 a 06 pontos)
período de tempo coerente e definido com clareza.
Alta Prioridade - Risco Intolerável: Necessidade de redução
NRE 3 - INTOLERÁVEL / AÇÃO imediata de risco. Haverá restrições ao trabalho até que o nível de risco seja
IMEDIATA
reduzido à condição de "moderado". Se isso não for possível através de
(07 a 09 pontos)
quaisquer operações, nem mesmo se considerando a disponibilidade ilimitada
de recursos, o trabalho necessariamente permanecerá suspenso.
Por fim, esta etapa, que partiu do levantamento dos componentes da situação
de trabalho para determinar aquele de maior significância para a modelação da
situação problemática pela hierarquização, orientou o dimensionamento do risco
ergonômicos referente às conseqüências da disfunção do componente da situação de
trabalho.
Etapa 4 – Identificação das causas fundamentais da situação problemática
Uma vez determinada a dimensão da problemática da organização do
trabalho, passa-se para etapa de identificação e análise das causas do resultado
indesejável.
Witt (2002) coloca que a análise da causa se dá a partir do efeito observado
(característica específica que representa o problema considerado que neste caso,
mostrado etapa de delimitação e identificação da demanda)
A causa principal ou fundamental como aquela, ou um conjunto delas, que
impactam em maior grau no efeito levantado. Para isso, deve-se separar o efeito ou
problema levantado das possíveis causas que levam a este efeito. A pergunta que
norteia esta análise é “Por que ocorre o problema?”. As relações entre as causas e
efeito apontadas por este questionamento são organizadas no diagrama de Ishikawa
ou espinha de peixe, pois permite o melhor entendimento e comunicação destas
relações de causa e efeito. (WITT, 2002; CAMPOS, 2004).
62
Capítulo 3 - Metodologia
No entanto, Witt (2002) ressalta que embora sejam identificadas as causas
principais deve-se verificar aquelas que impactam sobremaneira no efeito indesejável.
Esta delimitação pode ser realizada baseando-se em dados e nas experiências dos
envolvidos para determinar uma hipótese que tente destacar a causa principal ou
fundamental. A seguir, para o teste que confirma ou exclui esta hipótese pode ser
aplicada a ferramenta Diagrama das Relações. Isto porque, nem sempre as causas se
apresentam de forma linear e sucessiva, podendo haver relações cruzadas entre os
fatores de causas, como afima Werkema (1995).
Determinado o problema, a sua especificação torna-se relevante, uma vez
que é neste momento que se distingue o produto da ação diagnóstica e que irá se
materializar no projeto de objetos ou produto – ferramentas, utensílios, vestiário,
mobiliário – ou no projeto de situações de trabalho – normas, ambientes,
procedimentos e demais situações organizacionais.
Etapa 5 – Determinação de objetivos
Esta fase se caracteriza pela definição dos resultados possíveis a serem
alcançados a partir da identificação da causa fundamental do problema abordado
anteriormente. Nesta etapa, começa a ser vislumbrado os benefícios que podem ser
atingidos pela eliminação das causas que comprometem a situação de trabalho e, por
conseguinte a sua organização.
A construção dos resultados possíveis ocorre pela descrição da situação de
trabalho ergonomicamente adequada. Esta descrição assenta na projeção da situação
de trabalho quando as não-conformidades ergonômicas da causa fundamental são
eliminadas.
É necessário o conhecimento claro e pleno sobre o assunto em questão como
colocado por Witt (2002) de forma a definir tanto o tempo quanto o possível resultado
a ser alcançado.
A visualização desta etapa pode ser expressa pela demonstração da
diferença situação real do efeito indesejável versus a situação ideal quando eliminadas
as causas do efeito.
Etapa 6 – Validação diagnóstica pelos critérios ergonômicos
63
Capítulo 3 - Metodologia
A validação da causa fundamental do problema pelos critérios ergonômicos
sociotécnicos, adequação e econômicos permite contextualizar esta perda na estrutura
organizacional, de modo a promover a tomada de decisão gerencial. É a decisão
gerencial que irá fomentar a proposição de melhorias assertivas e eficazes na
eliminação deste resultado indesejável, o qual apresenta características complexas e
intrincadas com a realidade da organização geral e dos processos de trabalho.
Para esta validação, devem ser descritas conforme a tabela a seguir as
conseqüências da causa fundamental do resultado indesejado em relação a cada
critério ergonômico, conforme exemplificado na tabela 3:
Tabela 3 – Validação dos problemas organizacionais por critérios ergonômicos (Proposta pela autora)
CRITÉRIOS ERGONÔMICOS
DESCRIÇÃO DA CAUSA FUNDAMENTAL DO PROBLEMA
CONFORTO (saúde e
bem estar)
EFICIÊNCIA
SOCIOTÉCNICOS
(produtividade,
qualidade e
CONSEQUÊNCIA
confiabilidade)
SEGURANÇA
ADEQUAÇÃO
USABILIDADE
CUSTO EFETIVIDADE
ECONÔMICOS
CUSTO BENEFÍCIO
Do mesmo modo que ocorre a validação da causa fundamental do problema
sob os critérios ergonômicos, também é realizada a validação das melhorias
ergonômicas pelos critérios ergonômicos.
Para isto, deve haver o preenchimento da tabela 4, de modo a especificar o
impacto da melhoria a ser realizada em relação a cada critério ergonômico. A melhoria
que contemplar a maior quantidade de critérios é elencada para a realização imediata
ou prioritária.
64
Capítulo 3 - Metodologia
Tabela 4 – Validação das melhorias ergonômicas por critérios ergonômicos (Proposta pela autora)
CRITÉRIOS ERGONÔMICOS
DESCRIÇÃO DA MELHORIA ERGONÔMICA
CONFORTO (saúde
e bem estar)
EFICIÊNCIA
SOCIOTÉCNICOS
(produtividade,
qualidade e
confiabilidade)
DESCRIÇÃO
DO
IMPACTO
DA MELHORIA
SEGURANÇA
ADEQUAÇÃO
USABILIDADE
CUSTO
ECONÔMICOS
EFETIVIDADE
CUSTO BENEFÍCIO
Para a finalização desta etapa é necessário que a melhoria esteja alinhada,
segundo Witt (2002), com o planejamento estratégico e que realmente resulte em
melhoria para a organização como um todo.
Etapa 7 – Propondo melhorias
Inicia-se na descrição dos não cumprimentos dos componentes da situação de
trabalho encontrados e que devem ser considerados na elaboração do projeto de
melhoria. O projeto, por sua vez, deve especificar a forma de encaminhar a solução –
intervenção ou concepção. (VIDAL, 2002)
O direcionamento da resolução do problema organizacional que contempla
em seu o escopo os requisitos que o projeto deverá atender serão especificados neste
momento, ou seja, planejar a solução do problema. Devido o seu caráter
multifacetado, a elaboração até a condução da solução pode ser feito por grupo tarefa,
sendo este composto por um conjunto de trabalhadores advindos de diversos setores
como operação de máquinas, manutenção, supervisão e gerência.
Este direcionamento permite a clareza quanto ao escopo do projeto
ergonômico, minimizando as chances de incorrer em erros de concepção e
delimitação do escopo e permite a indicação temporal dos resultados.
65
Capítulo 3 - Metodologia
Torna-se fundamental a caracterização do projeto para que não haja perda do
foco de atuação diagnóstica. A complexidade do projeto se orienta para três níveis de
acordo com Vidal (2002):
• Nível Básico: tratamento de problemas facilmente identificáveis, mediante
métodos simples e requerendo encaminhamentos até triviais. Seus resultados ocorrem
no curto prazo e a própria equipe interna da empresa é capaz de solucioná-la;
• Nível Mediano: tratamento de problemas maiores, utilizando métodos
conhecidos e técnicas bem estabelecidas. Por exemplo: verificação por check-list e
pelo atendimento a orientações normativas e se definem por projetos rotineiros. Seus
resultados ocorrem em prazos escalonados e podem necessitar de uma equipe
externa de suporte.
•
Nível Profundo: tratamento de problemas cuja existência é denotada
somente em nível dos seus sintomas e efeitos negativos sem que as causas ou a
articulação destas com as conseqüências estejam claras e definidas, impedindo o
tratamento anterior. São projetos não rotineiros necessitando de métodos de
modelagem e prospecção. Seus resultados dependem do desenvolvimento de
soluções não triviais e requer a responsabilidade de consultoria e especialistas
externos.
Nesta etapa também é imprescindível alocar os recursos e o tempo
necessário para resolução do problema. Assim, definir se o problema pode ser
solucionado por uma pessoa ou equipe interna e externa, setores envolvidos, pessoas
afetadas é a chave para o sucesso da solução.
O estabelecimento de uma medida de término determina se a ação será
eficaz ou não, indica-se nesta etapa o critério temporal para quando o prazo do
problema deva estar solucionado. Desta forma, determina-se o esforço necessário
para a solução do problema.
Para tanto, deve-se seguir uma metodologia para a construção desses
planos de ação. A mais indicada, segundo CAMPOS (1996), é a metodologia
conhecida como 5W1H. A mesma consiste em elaborar o plano de ação baseado em
seis perguntas que irão definir a estrutura do plano. Essas perguntas compostas no
idioma inglês se apresentam, segundo a definição de MELO (2001), da seguinte
maneira:
66
Capítulo 3 - Metodologia
WHAT (O QUE) – define o que será executado, contendo a explicação da
ação a ser tomada (utilizam-se geralmente verbos no infinitivo, de maneira suscinta, a
fim de demandar uma ação);
WHEN (QUANDO) – define quando será executada a ação (prazo de início e
término da ação). Data limite para a ação ser executada.
WHO (QUEM) – define o responsável pela ação (nesse caso, aconselha-se
que haja apenas um responsável por ação, a fim de manter a credibilidade da
execução da ação);
WHERE (ONDE) – define onde será executada a ação (pode ser desde um
local físico especificado, como um setor da organização);
WHY (POR QUE) – define a justificativa para a ação em questão (esse
campo apresenta a finalidade imediata da ação a ser tomada);
HOW (COMO) – define o detalhamento de como será executada a ação (este
campo é um complemento para o primeiro campo – WHAT – detalhando a ação
estipulada neste último).
Analisando esses seis tópicos, pode-se proceder a estruturação do plano de
ação. De uma maneira clara e detalhada, sendo que o mesmo deverá ser divulgado
para todos os envolvidos nas ações tomadas.
Ou seja, o plano de ação é uma ferramenta integrante a outras
ferramentas de controle, auxiliando no controle total dos processos em um
sistema de gestão da qualidade. O plano de ação envolve avaliações
periódicas e, eventualmente, pode sofrer revisões a fim de se adequar a novos
cenários, não previstos anteriormente pela organização.
Etapa 8 – Medição do desempenho
A medição do desempenho é uma maneira importante de prover informações
sobre a eficácia da intervenção ergonômica. Para tanto, serão consideradas medidas
quantitativas e qualitativas referentes aos critérios ergonômicos utilizados e estas
deverão estar em consonância com os indicadores gerais da organização.
Definidos os indicadores ergonômicos passa-se a fase de monitoramento da
ação corretiva.
67
Capítulo 3 - Metodologia
O enquadramento para cada nível é determinado pela criticidade do problema
e os recursos disponíveis para a mantenabilidade da ação tomada. É com base neste
enquadramento que se determina o modo de monitoramento a ser realizado, conforme
descreve a tabela 5.
Tabela 5 – Modo de monitoramento das ações propostas (Proposta pela autora)
MODO DE MONITORAMENTO
DESCRIÇÃO DO MONITORAMENTO
Quando há a necessidade de retomar periodicamente as
ações tomadas devido o contexto da produção como a
REATIVO OU CORRETIVO
sazonalidade de mão-de-obra ou produção. As medidas
e ferramentas adotadas nesta etapa se caracterizam
como intrusivas, isto é, pode haver ainda a intervenção
no ambiente de trabalho.
Quando há a necessidade de manter a ação tomada em
PREVENTIVO
níveis aceitáveis para garantir a funcionalidade ou a
promoção da transformação positiva da situação de
trabalho. As medidas e ferramentas adotadas
é o levantamento contínuo da situação de trabalho
modificada para manter os requisitos adotados na etapa
do projeto ergonômico. Este monitoramento pode ser
PREDITIVO
realizado sob a forma de checklists em auditorias
periódicas.
Etapa 9 – Melhoria Contínua
O levantamento periódico da situação visa a melhoria contínua, pois
proporciona uma oportunidade para consolidar as mudanças ergonômicas realizadas
dentro do contexto da produção. Isto é, se os indicadores ergonômicos determinados
orientam-se para as estratégias da organização geral.
Para a conclusão desta etapa sugere-se a elaboração de um relatório
ergonômico que contemple a sumarização das etapas anteriores a fim de fomentar o
critério de tomada de decisão gerencial em que pese situações como produtivas,
econômicas e técnicas.
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
68
CAPÍTULO 4 – VALIDAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este capítulo compreende a descrição da aplicação do método diagnóstico
proposto em uma organização de trabalho de uma indústria do setor agroindustrial no
segmento de laticínios, bem como a discussão dos dados encontrados desta aplicação
que permita a sua validação.
Conforme explicitado no capítulo anterior, o método diagnóstico em estudo é
composto por nove etapas conceituais estruturados em um modelo organizado e
sistematizado para verificar a correlação existente entre os dados das unidades de
análise consideradas na realidade do contexto organizacional pesquisado. Estas
unidades de análise estudadas referem-se aos componentes da organização geral e
do processo de trabalho e aos critérios ergonômicos, e são caracterizadas como tal
devido o procedimento metodológico adotado – survey.
Desta forma, com vistas a validação do método em discussão os dados
coletados nas suas etapas serão agregados a fim de explicar e descrever a situação
problema que demandou a investigação científica.
Etapa 1 – Instrução e determinação da demanda diagnóstica
O objetivo principal desta etapa é a identificação de resultados indesejados nas
áreas que compõem o contexto da organização avaliada. Para que este objetivo seja
cumprido é necessário que se estabeleça o cenário onde o problema ocorre de modo
a configurar a investigação.
Assim, partiu-se da constatação, na empresa estudada, que as perdas ou
resultados indesejados registrados referem-se aos fatores humanos. A entrevista semi
estruturada com o gerente de produção industrial (nível estratégico) e dois
supervisores de produção (nível tático) da empresa revelou que a seguinte situação:
•
Para o nível estratégico, há o entendimento que as queixas
musculoesqueléticas relatadas pelos trabalhadores bem como o
afastamento destes durante a realização das tarefas para consulta em
ambulatório médico da empresa, e os demais afastamentos do trabalho
em
decorrência
destas
queixas,
acabam
desempenho de todo o processo de trabalho.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
por
comprometer
o
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
69
Tem-se deste modo, que os componentes da organização do trabalho –
eficiência global e ambulatorial são caracterizados como instrução da demanda
diagnóstica, conforme demonstra a tabela 6. Isto se justifica em razão que as queixas
musculoesqueléticas reveladas na entrevista semi estruturada serem provenientes de
diversos setores do processo produtivo da empresa analisada. Segundo a visão dos
níveis estratégico e tático, estas queixas dificultam a organização da produção devido
os afastamentos e as limitações álgicas dos funcionários.
Tabela 6 – Sumarização dos componentes da organização do trabalho
COMPONENTE DA
CARACTERIZAÇÃO
ORGANIZAÇÃO GERAL
IDENTIFICAÇÃO
Escolha da situação em que se deseja o funcionamento de
EFICIÊNCIA GLOBAL
todas as potencialidades do negócio.
Escolha
da
situação
devido
o
número
de
queixas
osteomusculares dos trabalhadores serem mais numerosas
AMBULTORIAL
x
x
ou contundentes.
A partir da definição da instrução da demanda, isto é, identificação da demanda
ergonômica é realizado o levantamento dos dados referentes a estes componentes
organizacionais.
O setor de ambulatório médico da empresa estudada registra todas as
consultas médicas realizadas. E a partir do registro de todas estas consultas, foram
analisadas e quantificadas aquelas que com referência a dor ou acometimento
musculoesquelético.
Portanto, dentre todo o universo de queixas álgicas registradas no ambulatório
médico da empresa durante todo o ano de 2006, foi considerado para esta pesquisa
somente aquelas relacionadas ao sistema musculoesquelético. Isto porque este tipo
de queixa é precursor dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho e em
razão da predominância do esforço muscular para a execução das tarefas da área de
produção.
Uma
vez
determinada
a
existência
de
dor
ou
acometimento
musculoesquelético na população da empresa analisada, deve-se verificar como este
resultado se configura em relação ao número de funcionários acometidos e o número
de queixas musculoesqueléticas registradas em ambulatório médico no período em
estudo, bem como o seu impacto econômico para a organização. Para a realização
desta etapa, foi realizada uma coleta de dados no setor de recursos humanos, onde foi
verificado que:
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
•
Número total de queixas osteomusculares: 83. Deste total, verifica-se a
existência de 21 queixas recidivas, isto é, 17 funcionários apresentaram
mais de uma queixa osteomuscular;
•
Número de funcionários acometidos: 71;
•
Número de dias perdidos (incluindo os dias decorrentes do afastamento
pelo INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social): 320;
•
Média de número de dias perdidos por número de funcionários: 4,5;
•
Número de CAT’s (Comunicado de Acidente de Trabalho) relacionados
a LER/DORT: 3;
•
Número de ações judiciais (acumulativo) relacionados a LER/DORT: 27.
Em um segundo momento foram descritos os custos diretos e indiretos destas
83 queixas ambulatoriais. Os custos diretos decorrentes destas queixas são:
•
Despesas com tratamento médico / fisioterapia = R$ 45.156,00 (R$
636,30 valor médio por funcionário gasto com Plano de Saúde);
•
Valor representativo de dias perdidos (média salário) = R$ 6.400,00;
•
Valor representativo do custo para substituir o funcionário ausente = R$
6.400,00;
•
Valor médio da pretensão das reclamatórias trabalhistas = R$ 30.000,00
- (27 – número de reclamatórias trabalhistas sofrida pela empresa x 30)
= R$ 810.000,00.
A somatória dos custos diretos das queixas musculoesqueléticas até o ano de
2006 pela empresa em estudo foi estimado em R$ 867.956,00.
Os custos indiretos das queixas de dor e desconforto musculoesquelético são
expressos da seguinte forma:
•
Ambiente laboral negativo devido a presença de sofrimento osteomuscular
do trabalhador na realização do seu trabalho;
•
Estabilidade do funcionário por 1 ano quando afastamentos superiores a
15 dias;
•
Custo social: imagem da empresa no mercado;
•
Custo com redistribuição de tarefas do funcionário acometido;
•
Passivo trabalhista (funcionários acometidos);
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
70
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
•
Despesa de reembolso pela empresa com medicamentos a estes
trabalhadores acometidos;
•
Redução da qualidade de vida do funcionário acometido;
•
Remanejamento de tarefa do funcionário acometido.
A caracterização dos resultados indesejados pode variar conforme o modo de
registro e tabulação dos dados de cada empresa. Deve-se considerar, isto é, medir
aquilo que a empresa utiliza como indicadores de resultado.
Os dados levantados neste momento representam a existência do
comprometimento da saúde da mão-de-obra, caracterizando uma demanda de
natureza da produção e mais especificamente uma demanda de chão-de-fábrica
devido a sua impactação ou repercussão direta sobre a variável mão-de-obra ou sobre
os aspectos da organização do trabalho. Esta repercussão sobre o bem estar do
trabalhador também apresenta impacto direto sobre a eficiência global da organização
por gerar perdas financeiras pela ausência de dias trabalhados e em reclamatórias
trabalhistas.
A análise preliminar destes custos diretos e indiretos revela um alto custo
decorrente da não adaptação das condições de trabalho ao trabalhador na empresa
estudada. Isto se evidencia pelo absenteísmo, dificuldade de obtenção de resultados
operacionais narrados pelo nível estratégico e operacional em razão das queixas
musculoesqueléticas dos trabalhadores de chão-de-fábrica, pela dificuldade do
remanejamento dos lesionados e a reabilitação dos casos antigos, além da tensão nas
relações de trabalho geradas pelos processos indenizatórios pelo dano da
caracterização como doença osteomuscular relacionada ao trabalho.
Esta etapa culmina na determinação diagnóstica, isto é, na escolha da
situação característica a qual é constituída pela organização dos fatos levantados a
partir do resultado indesejável. Para a conclusão desta etapa inicial há a definição de
uma situação característica a qual implica na orientação subseqüente da análise
ergonômica.
Desta forma, pode-se inferir que a determinação diagnóstica nesta pesquisa é
definida como o componente ambulatorial da organização geral por apresentar
resultados indesejáveis como o número de funcionários acometidos por queixas
musculoesqueléticas e o impacto direto e indireto destas queixas na eficiência global
da organização.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
71
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
A identificação do resultado indesejado na variável da mão-de-obra bem
como a sua delimitação financeira expressa a caracterização da situação
característica ou o cenário onde a investigação ergonômica terá início.
Etapa 2 – Definição das situações a serem estudadas
É nesta etapa que se define onde o problema ou o resultado indesejável é mais
evidente ou apresenta maior impacto pela sua prevalência ou pela sua conseqüência.
Esta identificação é dada pelo Método de Análise de Pareto, cuja função segundo
Meireles (2001), é priorizar ou determinar um problema a partir da divisão ou
estratificação em partes menores assim como organizar os dados referente aos
problemas em categorias.
Conforme identificado na etapa anterior, o resultado indesejado é caracterizado
pelas queixas musculoesqueléticas. Portanto, sendo este resultado relacionado ao
fator humano, deve-se identificar de forma precisa quem sofre esta queixa e qual parte
do corpo está acometida no ambiente produtivo. Isto é, este resultado se configura
pela definição de qual cargo e parte do corpo está em processo de adoecimento, em
que linha de produção e área de trabalho este cargo se encontra.
Portanto, perante este objetivo de identificação acerca de quem sofre este
resultado e que parte do corpo está sob estresse; é proposta a decomposição dos
dados referente às queixas musculoesqueléticas a partir do local (área e linha de
produção) onde apresenta maior referência, para que a determinação de quem sofre
esta queixa (cargo) e qual parte do corpo é mais acometida seja identificada.
O primeiro nível de estratificação dos dados referentes ao resultado identificado
é demonstrado na figura 3 a seguir. Tem-se que, do total de queixas (83), 31 queixas
ou 37% são provenientes do setor Refrigerados.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
72
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
73
Que ix a s Os te om us c ula re s x Áre a
37%
Ref rigerados
Merc earia
Logís tic a
18%
17%
A dm V endas
11%
Engenharia
7%
4%
6%
GP
Outras
1
Figura 3 – Queixas osteomusculares x área da indústria
Em um segundo nível de decomposição destas queixas, a partir da área de
Refrigerados, identifica-se em qual linha de produção esta queixa é prevalente. A
figura 4 revela que das 31 queixas provenientes da área Refrigerados, 6 queixas ou
19% delas ocorrem no setor envase de leite fermentado A e 6 no setor envase de semi
fluidos.
Como critério de desempate entre as linhas de produção, foi determinado a
intensidade da dor e desconforto relatado pelo trabalhador. Neste estudo foi
considerado o setor de envase de leite fermentado A.
Figura 4 – Queixas osteomusculares da área de Refrigerados x linha de produção
Uma vez identificado a área e o setor onde ocorre a queixa, determina-se
qual a função ou cargo em que ela é percebida. Tal especificação se faz necessário
devido a caracterização do modo operatório. Isto é, quais movimentos e posturas são
realizados pelo trabalhador de determinada função e que pode estar relacionada a
esta queixa osteomuscular. No entanto, esta análise do modo operatório, cujo objetivo
é verificar a relação das condições de trabalho na gênese desta queixa será descrita
na etapa 3.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
74
Verifica-se que todas as queixas desta linha de produção são provenientes do
cargo de auxiliar de produção.
A partir da identificação da queixa por cargo, determina-se qual parte do
corpo esta queixa é predominante. Do total de queixas (6) relatadas pelos auxiliares
de produção, todas ou 100% tem localização em membros superiores.
Na figura 5 a seguir, é feita a identificação do turno onde estas queixas são
prevalentes. A estratificação deste dado, demonstrou que o turno da manhã apresenta
5 ou 83% de queixas do total de 6 queixas do auxiliar de produção.
Queixas Osteomusculares Parte do Corpo x
Turno
83%
Turno 1 - Manhã
Turno 3 -Noite
17%
1
Figura 5 – Queixas osteomusculares parte do corpo x turno.
A estratificação deste resultado nos níveis em que ela ocorre como área, setor
ou linha de produção, cargo, parte do corpo e turno permite especificar o local onde
ocorre o problema, quem está sujeito e qual parte do corpo está em processo de
adoecimento. Esta identificação é necessária, pois constitui o primeiro passo na
verificação da relação existe entre as condições de trabalho e a queixa apresentada
pelo trabalhador. Portanto, tem-se que este mau resultado ou problema é definido
como dor em membros superiores no auxiliar de produção do setor de envase de leite
fermentado A da área de Refrigerados.
Etapa 3 – Pré-diagnóstico ou modelagem das evidências encontradas
É a partir da localização do problema que este passa a ser analisado sob o
enfoque ergonômico. Nesta etapa são descritos os dados e componentes da situação
de trabalho de modo a validar por meio da avaliação ergonômica a queixa
musculoesquelética evidenciada na etapa anterior.
O levantamento ergonômico previsto nesta etapa não aponta para as causas
do problema ergonômico. Este levantamento demonstra que a situação de trabalho
identificada na etapa anterior possui condições ergonômicas geradoras de queixas
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
musculoesqueléticas e que impactam de forma negativa na saúde deste trabalhador,
no seu desempenho e conseqüentemente na eficiência do processo produtivo.
O levantamento dos componentes da situação de trabalho teve seu início com
a observação direta do modo operatório por meio da filmagem da tarefa a fim de
identificar o ciclo completo de trabalho (seqüência de ações técnicas) do auxiliar de
produção do setor de envase de leite fermentado. A segmentação das ações técnicas
realizadas pelo trabalhador desta situação de trabalho permitiu determinar quais as
ferramentas ergonômicas pertinentes para a identificação dos componentes físico e
cognitivo desta situação.
As ações técnicas identificadas pela filmagem da tarefa são:
•
Alcançar caixa de papelão da esteira e colocá-la sobre a bancada de
trabalho;
•
Pegar conjuntos do produto de leite fermentado com ambas as mãos e
colocar na caixa de papelão até completar o seu volume;
•
Alcançar outra caixa de papelão e posicioná-la sobre a caixa de papelão
anterior;
•
Pegar conjuntos do produto de leite fermentado com ambas as mãos e
colocar na caixa de papelão até completar o seu volume;
•
Alcançar outra caixa de papelão e posicioná-la sobre a caixa de papelão
anterior;
•
Pegar conjuntos do produto de leite fermentado com ambas as mãos e
colocar na caixa de papelão até completar o seu volume;
•
Alcançar outra caixa de papelão e posicioná-la sobre a caixa de papelão
anterior;
•
Pegar conjuntos do produto de leite fermentado com ambas as mãos e
colocar na caixa de papelão até completar o seu volume;
•
Mover as caixas de papelão até o pallet posicionado ao lado do
trabalhador;
•
Refutar materiais danificados;
•
Preencher planilhas de controle da produção.
As ações técnicas necessárias para a execução da tarefa da situação de
trabalho do auxiliar de produção do envase de leite fermentado evidenciam uma tarefa
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
75
76
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
manual com predominância de uso contínuo de membros superiores em postura fixa
no posto de trabalho, tendo seu ritmo ditado pela esteira com pouca demanda
cognitiva na execução da mesma.
Perante as características evidenciadas pela identificação das ações técnicas
desta situação de trabalho, foi determinado o levantamento dos componentes de
trabalho por meio das ferramentas ergonômicas Checklists de Couto (Anexo C) para a
identificação das não – conformidades ergonômicas e análise do ritmo de trabalho
pela ferramenta Critério semi – quantitativo de Moore e Garg (1995) (Anexo D).
Os Checklists de Couto utilizados nesta pesquisa foram os seguintes:
•
Avaliação simplificada do risco de lombalgia;
•
Avaliação simplificada do fator biomecânico no risco de DORT;
•
Avaliação simplificada da condição ergonômica do posto de trabalho;
•
Avaliação simplificada da condição biomecânica do posto de trabalho.
A escolha destas ferramentas ergonômicas baseou-se no objetivo destas em
identificar de uma forma ampla e ágil os componentes da situação de trabalho que
podem indicar uma sobrecarga física do trabalho.
Foram inspecionados pelos checklists 63 itens de verificação da situação de
trabalho. Deste total 63% ou 39 itens foram caracterizados como não - conformidade
ergonômica e 37% ou 24 itens em conformidade ergonômica.
O quadro 2 especifica o resultado de cada checklist aplicado na situação de
trabalho do auxiliar de produção do envase de leite fermentado:
Quadro 2 – Resultado da avaliação ergonômica por Checklists de Couto
CHECKLIST
RESULTADO
1- Geral Para Avaliação Simplificada do Risco de
Lombalgia
ALTO RISCO DE LOMBALGIA
2- Geral Para Avaliação Simplificada do Fator
Biomecânico no Risco de DORT
FATOR BIOMECÂNICO MUITO
SIGNIFICATIVO
3- Geral Para Avaliação Simplificada da Condição
Ergonômica do Posto de Trabalho
CONDIÇÃO ERGONÔMICA RUIM
4- Geral Para Avaliação Simplificada da Condição
Biomecânica do Posto de Trabalho
CONDIÇÃO BIOMECÂNICA RUIM
A estratificação por tipo de não – conformidade ergonômica pelos checklists
de Couto nesta situação de trabalho demonstra que o risco de lombalgia é uma
condição com maior potencial de lesão de acordo com a quantidade de não –
conformidades, como ilustrado na figura 5 a seguir:
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
77
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
Não - Conformidades CHECKLISTS
Risco Lombalgia
69%
Risco DORT
65%
Condição Ergonômica
60%
Condição Biomecânica
57%
Figura 6 – Porcentagem de não – conformidades por checklist
No entanto, as não – conformidades em relação a sobrecarga de membros
superiores demonstra uma avaliação qualitativa significativa ao determinar como
resultado a presença de fator biomecânico ou causal significativo para a ocorrência de
DORT.
Embora na etapa anterior tenha sido identificada a queixa de dor
osteomuscular ou musculoesquelética em membros superiores pelos trabalhadores do
setor, a avaliação ergonômica inicial evidencia uma condição de trabalho com um
número maior de não-conformidades ergonômicas para a coluna vertebral do que para
os membros superiores.
Esta situação se justifica em razão das características anatômicas e
fisiológicas caracterizarem os membros superiores como estruturas frágeis e, portanto,
mais predispostas a lesões quando expostas a uma condição de risco ergonômico
significativo.
O quadro 3 a seguir descreve os itens verificados em cada checklist de
Couto como também especifica as não – conformidades encontradas em cada
ferramenta.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
78
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
Quadro 3 – Descrição dos itens de verificação dos Checklists de Couto
CHECKLIST PARA AVALIAÇÃO ERGONÔMICA GERAL DO PROCESSO
Itens de verificação ergonômica em não conformidade
ERGONÔMICA BIOMECÂNICA
1. Braços e cotovelos não trabalham na vertical ou próximo
X
2. Esforço estático
3. Posição forçada de membros superiores
X
X
4. As mãos tem que fazer muita força
X
5. Há repetitividade frequente de um tipo específico de movimento
X
6. Fazer esforço muscular forte com a coluna ou outra parte do corpo
X
7. Ausência de flexibilidade postural
X
X
8. Ausência entre um ciclo e outro
X
X
9. Bancada de trabalho não está em altura correta
X
10. Bancada de trabalho sem regulagem de altura
X
11. O trabalho exige elevação dos braços acima do nível dos ombros
X
12. Os membros superiores têm que sustentar peso
X
13. Objetos e materiais fora da área de alcance
X
14. Atingir o chão com as mãos independente da carga
15. Pegar cargas maiores que 10 kg em frequência maior que 1 minuto
16. Manuseio de cargas que estejam longe do corpo
17. Manuseio de cargas com o tronco em posição assimétrica
18. Carregar cargas mais pesadas que 20 kg mesmo que ocasionalmente
19. Carregar cargas mais pesadas que 10 kg mesmo que ocasionalmente
20. Braços e posição longe do corpo em posição suspensa
21. Tronco em posição estática sem apoio
22. Contato da mão ou punho com quina viva
23. Pinça palmar utilizada para fazer força com frequência
24. Esforço manual mais que 10% do ciclo
25. Não há rodízios nas tarefas
26. Tempo exíguo para realizar a tarefa
27. Mesma tarefa realizada por um mesmo trabalhador durante mais que 4 horas
por dia
LOMBALGIA
X
DORT
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Para a análise do ritmo de trabalho, uma vez que o trabalho da situação em
análise é determinado por uma esteira de produção, foi utilizada a ferramenta
ergonômica o critério semi – quantitativo de Moore e Garg (1995) que tem por objetivo
verificar o ciclo de trabalho em relação a força (duração e esforço máximo), número de
horas trabalhadas em uma tarefa, ritmo de trabalho e posturas inadequadas.
O quadro 4 relata os itens avaliados por esta ferramenta bem como a
conclusão da avaliação ergonômica.
Quadro 4 – Avaliação ergonômica pelo critério semi-quantitativo de Moore e Garg – 1995.
O CRITÉRIO SEMI QUANTITATIVO DE MOORE E GARG - 1995
Índice de sobrecarga biomecânica: FIE x FDE x FFE x FPMPOC x FRT x FDT
FATOR
CLASSIFICAÇÃO
FIE - Fator de Intensidade do Esforço
Pesado: Esforço Nítido - sem
mudança de expressão facial
FDE - Fator de Duração do Esforço
50 a 79% do ciclo de trabalho
FFE - Fator de Frequência do Esforço
Menor ou igual a 3 por minuto
FPMOC - Fator de Postura Mão, Ombro,
Punho e Coluna
FRT - Fator de Ritmo de Trabalho
Desvio nítido
Razoável - 91 a 100%
FDT - Fator de Duração do Trabalho
ALTO RISCO DE LESÃO
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
4 a 8 horas
79
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
Quanto aos demais componentes da situação de trabalho foram identificadas
as seguintes condições:
• Conteúdo da tarefa: percepção de um trabalho monótono devido a
pouca variabilidade de exigências físicas e cognitivas na execução da
mesma;
• Normas de produção: atendimento a um padrão de qualidade para
armazenamento e transporte dos produtos;
• Exigência
de
tempo:
ritmo
de
trabalho
ditado
pela
máquina
concomitante a realização de posturas inadequadas de membros
superiores;
• Determinação do conteúdo de tempo, ritmo e carga de trabalho: na
presença de alta demanda de produção o trabalhador possui tempo
insuficiente para realizar a tarefa. O ritmo de trabalho passa a ser
intenso não contemplando paradas para descanso da parte do corpo
exigida;
• Distanciamento entre trabalho prescrito e real: em verificação da norma
de trabalho da situação avaliada foi constatado a descrição das ações
técnicas e responsabilidades da função sem determinação do tempo
adequado para a execução do mesmo bem como a descrição da
maneira correta de se executar as ações técnicas da tarefa;
• Modo operatório: a parte observável da operação desta situação de
trabalho demonstra a realização de gestos manuais de caráter
repetitivo e em postura inadequada de membros superiores e coluna
concomitante à ausência de flexibilidade postural. Quanto à parte não
observável do trabalho, foi evidenciada pelo questionamento aos
trabalhadores quanto as tomadas de decisão necessárias para a
execução do mesmo e as habilidades necessárias para executar
determinados
movimentos.
Constatou-se
que
os
operados
desenvolvem métodos próprios de adaptação da bancada e método de
trabalho segundo a sua percepção de conforto e a disposição física e
os recursos necessários para a execução do mesmo. A parte cognitiva
do trabalho refere-se ao preenchimento de planilhas do volume
embalado pela máquina.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
• Perfil do trabalhador: para a função de auxiliar de produção da empresa
em estudo foram solicitadas competências como escolaridade (1º grau
completo) e experiência prévia na função. Não foi constatado nenhum
treinamento específico para a realização da tarefa;
• Variabilidade da tarefa: os componentes de trabalho como ritmo,
postura e modo operatório face aos objetivos de produção imprimem
ao trabalhador um auto-ajustamento ao trabalho mediante as suas
diferenças pessoais.
As condições acima descritas em conjunto com os fatores físicos
evidenciados pela aplicação dos checklists de Couto modelam a atividade de trabalho
da situação identificada. Esta modelação é importante porque expressa a forma de se
trabalhar a partir dos critérios econômicos, gerenciais e operacionais em uma
determinada situação de trabalho. Tem-se, portanto, que as ações realizadas na
execução do trabalho do auxiliar de produção do setor de envase de leite fermentado
A estão inscritas em um contexto, tornando-se impossível compreender o seu trabalho
fora dele.
Deste modo, a variabilidade da tarefa assume papel significativo na
delimitação da atividade de trabalho por entender que a situação de trabalho se
modifica na presença do fator humano. Pois, é a partir das diferenças individuais do
sujeito quando confrontados com os meios, social e tecnológico, do trabalho e com os
objetivos de produção determinam a adaptação do indivíduo às diferentes situações
que se apresentam.
Neste estudo, a variabilidade da tarefa demonstra que o repertório de
procedimentos ou métodos alternativos dos trabalhadores do setor são insuficientes
para uma adaptação mais fina às diferentes situações que se apresentam na
execução do trabalho; contribuindo desta forma para a ocorrência da queixa
osteomuscular.
Após a determinação de todas as evidências ergonômicas, faz-se necessário
priorizar e hierarquizar cada item da situação de trabalho levantado, de modo a
estabelecer os fatores mais significativos para a queixa osteomuscular identificada.
Este processo é definido como modelagem das evidências encontradas, e para tanto
se utiliza uma tabela multicritério ponderados pelos critérios de segurança, criticidade
e severidade. A definição de tais critérios se explica em razão da necessidade de
garantir a disponibilidade das funções dos componentes da situação de trabalho de
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
80
81
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
modo a garantir a integridade do trabalhador e atender as exigências do processo de
produção a qual esta situação está inserida.
Para o preenchimento da tabela de criticidade sob o enfoque multicritério foi
ponderado o impacto da queixa musculoesquelética sob os parâmetros segurança,
criticidade e severidade. Para tanto, conforme demonstra a tabela 7, foi utilizado um
limite de variação qualitativo e quantitativo para cada conseqüência em relação à
segurança do trabalhador e das instalações na execução da sua tarefa, a criticidade
desta queixa em levar a falha de execução da tarefa bem como a evolução do(s)
efeito(s) no longo prazo e o impacto deste sobre pessoas, processo e resultados; e
severidade que se refere a urgência em se eliminar o efeito e o tempo disponível para
resolvê-lo.
Tabela 7 – Tabela de criticidade sob o enfoque multicritério – validação metodológica
Segurança
Organizacional
BAIXO
(1).
Criticidade
Embora
Severidade
o
MÈDIA (2). A exposição
MÈDIA
método de trabalho, as
durante toda a jornada de
Necessidade
exigências
trabalho do trabalhador ao
intervenção
estejam
método
e
cedo possível a fim de
ergonomicamente
exigências
tarefa
garantir a integridade
da
tarefa
inadequadas,
constituem
não
risco
segurança
trabalhador
a
do
e
das
instalações.
de
trabalho
da
inadequadas
a
capacidade
sua
física
pode
(2).
de
o
mais
musculoesquelética
dos
trabalhadores
levar a redução do seu
desta
situação
desempenho
trabalho.
com
de
sobrecarga osteomuscular
e
fadiga
em
membros
e
coluna,
superiores
produtos
mal
acondicionados nas caixas
e pallets. A longo prazo a
queixa
determina
lesão
ou
uma
doença
relacionado ao trabalho.
Esta ponderação também
se
deve
ao
fato
de
aptidões físicas diferentes
entre
os
trabalhadores
garantindo desta forma a
modelagem particular para
a execução da tarefa.
Físico
BAIXO (1).
O
dimensionamento do lay
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
ALTO
(3).
O
dimensionamento do lay
ALTA
Necessidade
(3).
de
82
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
out, percepção de fadiga,
out, percepção de fadiga,
intervenção
transporte
transporte
de
devido a fadiga em
fatores
membros superiores e
risco
a presença de fatores
podem
biomecânicos de risco
cargas
manual
e
de
fatores
manual
cargas
e
biomecânicos de risco
biomecânicos
para
para
DORT
constituem
não
fatores
de
de
DORT
determinar ao longo do
risco para acidente de
tempo
trabalho
ou
doença
da
trabalho
uma
estes
riscos
típico
comprometimento
segurança
das
instalações.
uma
lesão
ou
relacionada
ao
vez
imediata
para DORT.
que
estão
expostos continuadamente
ao trabalhador.
Cognitivo
BAIXO
(1).
BAIXO (1). Presença de
BAIXO (1) Presença
fatores
fatores como memória e
de
como memória e tomada
tomada
na
memória e tomada de
de decisão na execução
execução do trabalho não
decisão na execução
do
interferindo
do
Presença
de
trabalho
interferindo
não
de
modo
de
decisão
de
modo
fatores
como
trabalho
não
negativo do desempenho
interferindo de modo
negativo na segurança
das
negativo
dos trabalhadores e das
processos.
pessoas
e
dos
do
desempenho
instalações.
pessoas
das
e
dos
processos.
Tecnológico
BAIXO
BAIXO (1). A execução da
BAIXO (1). A execução
execução da tarefa não
tarefa
da tarefa não exige
exige
capacitação
capacitação
treinamento
treinamento
técnica
e
(1).
A
específico
para
manuseio
do
equipamento.
de
como
decisão
memória
e
quando
utilizados
para
de
exige
técnica
e
específico
manuseio
equipamento.
dos
Componentes
tomada
não
e
específico
para
Utilização
manuseio
do
tomada
de
equipamento.
Utilização
dos
decisão na execução do
componentes
trabalho.
memória e tomada de
modo
equivocado
treinamento
do
componentes
memória
capacitação técnica e
decisão na execução
não
do trabalho.
acarretam em acidente
de trabalho.
Ambiental
BAIXO
Condições
de
(1).
ruído,
BAIXO (1). Condições de
BAIXO (1). Condições
ruído
de ruído iluminamento
iluminamento
e
iluminamento e térmica
térmica sem significância
e
dentro dos limites de
para desenvolvimento de
significância
tolerância além do uso
DORT.
desenvolvimento
de
equipamentos
proteção individual.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
de
térmica
DORT.
sem
para
de
83
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
Carga de
BAIXO
trabalho
distanciamento entre o
distanciamento
tra
trabalho prescrito e o real
o trabalho prescrito e
nesta situação de trabalho
o real nesta situação
estudada permite a adoção
de trabalho estudada
de
permite a adoção de
(1).
O
MÈDIO
(2).
modo
próprio
entre
O
MÈDIO
o
distanciamento
operatório
baseado
na
(2).
modo
O
entre
operatório
percepção de conforto e
próprio
desempenho
percepção de conforto
trabalhador.
do
próprio
e
baseado
desempenho
na
do
próprio trabalhador.
Este tabela constituiu uma ferramenta que auxilia na tomada de decisão
sobre os fatores preponderantes da formação do problema. Após a ponderação
quantitativa e qualitativa dos componentes ergonômicos inadequados é realizado a
somatória dos pontos determinados para os parâmetros de segurança, criticidade e
severidade de cada componente. Desta forma, o componente físico atingiu a maior
pontuação dentre todos os componentes da tabela, isto é, 6 pontos. A seguir, esta
pontuação determina a condição para o enquadramento do risco ergonômico,
conforme demonstrado no quadro 1 (p.61). A análise da situação de trabalho em
estudo evidenciou que o componente físico da situação de trabalho apresenta como
resultado da somatória dos parâmetros utilizados 6 pontos, caracterizando desta
forma, nível de risco ergonômico 3.
Portanto, o risco ergonômico identificado na situação de trabalho do auxiliar
de produção da linha de envase de leite fermentado caracteriza-se como NRE ou nível
de risco ergonômico 3 ou intolerável. Esta classificação contempla que deve haver
uma ação imediata na redução do risco ergonômico até uma condição de nível
moderado ou aceitável.
Uma vez reduzida a condição de risco, deve-se partir para a redução dos
demais níveis dos componentes da situação de trabalho a fim de estabelecer uma
condição ergonômica aceitável para todos os componentes da situação de trabalho.
Portanto, esta etapa de pré-diagnóstico ou modelagem das evidências
encontradas culmina na determinação do risco ergonômico da situação de trabalho
problema.
Etapa 4 – Identificação das causas fundamentais da situação problemática
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
84
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
A partir deste dimensionamento de todas as características ergonomicamente
inadequadas, bem como a significância destas na situação de trabalho problemática
pode-se determinar a causa fundamental que configura o resultado indesejável.
A identificação da causa fundamental tem seu início a partir do efeito
observado, isto é, a dor em membros superiores no auxiliar de produção da linha de
envase de leite fermentado da área de Refrigerados.
De acordo com o levantamento realizado na etapa anterior foi constatado que
este efeito é decorrente dos componentes organizacional, físico e da carga de trabalho
da situação analisada.
De modo a nortear a análise da causa fundamental do problema, deve-se
realizar a pergunta “Por que o problema ocorre”. Neste caso, tem-se o questionamento
a respeito porque ocorre a dor em membros superiores no auxiliar de produção da
linha de produção de envase de leite fermentado. As respostas a esta indagação são
estruturadas e organizadas no Diagrama de Ishikawa ilustrado na figura 7 a fim de
permitir um melhor entendimento das relações entre as causas e o efeito observado.
Organizacional
Físico
Dor
em
membros
superiores do auxiliar de
produção de envase de
leite fermentado.
Carga de Trabalho
Figura 7 – Diagrama de causa e efeito de Ishikawa – adaptação pela autora
Desta forma, em relação a cada componente da situação de trabalho tem-se
as seguintes causas:
• Físico:
o Mesma tarefa realizada por um mesmo trabalhador mais que 4
horas/dia;
o Esforço estático de coluna e ombros;
o Posição forçada de membros superiores;
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
o Mãos tendo que fazer muita força para execução da tarefa;
o Membros superiores tendo que sustentar e transportar peso;
o Atingir o chão com as mãos independente da carga;
o Bancada de trabalho com altura inadequada;
o Bancada de trabalho sem regulagem de altura;
o Objetos e materiais fora a área de alcance;
o Esforço com as mãos estando com o tronco inclinado;
o Ausência de flexibilidade postural;
o Esforço com as mãos estando com o tronco assimétrico;
o Contato da mão ou punho com quina viva.
• Organização do trabalho:
o Tempo exíguo para realizar a tarefa;
o Variabilidade da tarefa: características pessoais do trabalhador
do setor insuficientes para adaptação ao trabalho;
o Ausência de pausa entre um ciclo e outro;
o Ausência de rodízios;
o Repetitividade.
•
Carga de trabalho:
A verificação da existência das normas de trabalho da função analisada nesta
pesquisa (auxiliar de produção do setor de envase de leite fermentado) a fim de
determinar os fatores que determinam a carga de trabalho evidenciou a seguinte
situação:
• Ausência de trabalho prescrito que especifique a postura e os
movimentos adequados na execução das ações técnicas bem como o
tempo adequado para a execução destas ações e os períodos de
descanso.
Neste momento, pode ser aplicada a ferramenta Diagrama das Relações a
fim de promover a inter-relação existente entre os componentes do trabalho e
determinar aquele que é preponderante na formação do resultado indesejável, isto é,
especificar aquilo que é causa do efeito.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
85
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
A figura 8 demonstra o mapeamento das relações de causa e efeito entre os
componentes da situação de trabalho na determinação do problema ou resultado
indesejado por meio de análise e reflexão das conexões lógicas entre os fatores
constituintes destes componentes.
Figura 8 – Diagrama das Relações
A interpretação deste diagrama revela que as variáveis ou fatores dos
componentes de trabalho com maior número de flechas de saídas e partidas são
entendidos como as causas básicas do problema a serem eliminadas. Os fatores com
maior número de flechas de chegada ou entrada são definidos como os principais
sintomas do problema em estudo.
A caracterização de entradas e saídas dos fatores dos componentes do
trabalho é evidenciada por um par de números sobre cada fator onde o primeiro
número indica a quantidade de flechas que saem e o segundo número indica a
quantidade de flechas que chegam.
Tem-se de acordo com este mapeamento de relações de causa e efeito que o
fator posição forçada de membro superior é a causa fundamental de dor em membros
superiores no auxiliar de produção do envase de leite fermentado. Também deve ser
considerado o fator repetitividade na delimitação deste efeito indesejável.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
86
87
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
Portanto, para a ação diagnóstica deverá contemplar um projeto do mobiliário
de trabalho a fim de eliminar a causa fundamental do problema que é a postura
inadequada dos membros superiores.
Etapa 5 – Determinação de objetivos
A especificação da causa fundamental do problema possibilita vislumbrar os
resultados possíveis com a eliminação desta causa. É neste momento que se delimita
uma situação de trabalho ergonomicamente adequada. Isto porque, a ação
ergonômica deve garantir a transformação positiva da realidade de trabalho.
A eliminação da causa raiz ou fundamental expressa pela postura forçada de
membros superiores possibilita a seguinte condição ergonomicamente adequada:
• Bancada de trabalho com regulagem de altura para atender as
diferentes alturas dos trabalhadores e permitir objetos e materiais
dentro da área de alcance, bom posicionamento de membros
superiores
eliminando
condições
como
posturas
estáticas
e
necessidade de força com as mãos.
Convém salientar a necessidade de oportunizar demais melhorias que
contemplem a eliminação das demais causas do problema. Neste caso, devem ser
previstas medidas para a eliminação da repetitividade que por sua vez se expressa na
seguinte medida:
• Disponibilização de rodízios entre postos de trabalhos;
• Reorganização do ciclo de trabalho por meio de alocação de tempos de
pausas para descanso entre um ciclo e outro de trabalho, minimização
do tempo de exposição durante o ciclo de posturas em amplitude de
movimento máximo pela alternância postural (em pé, semi-sentado e
caminhando);
• Disponibilização da prescrição do trabalho ergonomicamente adequado
aos níveis táticos;
• Treinamentos quanto a correta execução dos movimentos e posturas do
modo operatório.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
A adequação ergonômica permite a redução do nível de risco ergonômico –
NRE 3 do componente físico da situação de trabalho para uma condição aceitável ou
nível de risco ergonômico – NRE 1.
Esta redução é possível devido a eliminação da criticidade e severidade do
componente organizacional físico. A eliminação do parâmetro criticidade determina
que não exista condições que no longo prazo possam comprometer a integridade
física do trabalhador da situação de trabalho em estudo ou mesmo impactar no
desempenho do processo deste trabalhador ou do trabalho.
Quanto ao parâmetro severidade, este é eliminado ao se tomar medidas
corretivas imediatas à identificação da situação de trabalho problema bem como a sua
causa fundamental.
Etapa 6 – Validação diagnóstica pelos critérios ergonômicos
Nesta etapa procura-se a validação da causa fundamental do problema pelos
critérios ergonômicos - sociotécnicos, adequação e econômicos com o objetivo de
contextualizar o resultado indesejável em um nível macro para a tomada de decisão
gerencial quando na proposição de melhorias assertivas e eficazes.
Esta validação é demonstrada na tabela 8:
Tabela 8 – Validação dos problemas organizacionais por critérios ergonômicos – validação metodológica
CRITÉRIOS ERGONÔMICOS
DESCRIÇÃO DA CAUSA FUNDAMENTAL DO PROBLEMA
A postura inadequada de membros superiores associada a
outros fatores como a repetitividade são fatores que
propiciam o recrudescimento das doenças relacionadas ao
trabalho bem como a formação de um contingente de
CONFORTO (saúde
trabalhadores com capacidade física parcial para a
e bem estar)
execução de suas tarefas. Esta causa também relaciona-se
na gênese do estresse e de doenças psicossomáticas
SOCIOTÉCNICOS
quando a empresa adota um conjunto de ações que
impossibilita a vivência de mecanismos de regulação
durante o trabalho.
EFICIÊNCIA
A manutenção da postura inadequada de membros
(produtividade,
superiores ao longo da jornada de trabalho desencadeia
qualidade e
processos de fadiga física e estresse que culminam na
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
88
89
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
confiabilidade)
redução do desempenho do trabalhador. Esta queda de
performance
no
trabalho
pode
gerar
produtos com
defeitos, má conservação de máquinas e equipamentos.
Embora
haja
na
situação
de
trabalho,
condições
ergonomicamente inadequadas como postura forçada de
membros superiores e repetitividade estes fatores não
SEGURANÇA
intervém
de
modo
significativo
na
segurança
do
trabalhador e das instalações na execução das suas
atividades.
Devido as condições de postura forçada de membros
superiores e repetitividade, a interação com as condições
ADEQUAÇÃO
USABILIDADE
de trabalho no tocante a usabilidade do mobiliário de
trabalho torna-se prejudicada.
O custo da transformação positiva reflete em indicadores
como
CUSTO
EFETIVIDADE
eficiência
produtiva,
redução
de
custos
administrativos decorrentes das lesões ocupacionais dos
trabalhadores e também em resultados intangíveis como
ECONÔMICOS
boa relação entre empresa e trabalhadores e pública.
Refletem
CUSTO BENEFÍCIO
a
magnitude
econômica
de
indicadores
ergonômicos que demonstram a transformação positiva da
situação de trabalho.
Uma vez visualizada a causa fundamental do resultado indesejado segundo
uma perspectiva organizacional ampla, isto é, que este resultado tem impacto negativo
tanto na saúde do trabalhador quanto no desempenho produtivo e econômico da
organização; deve-se também dimensionar a melhoria a ser realizada sob os critérios
ergonômicos.
A seguir, as melhorias objetivadas na etapa 5 também são balizadas pelos
critérios ergonômicos conforme descreve a tabela 9 abaixo:
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
90
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
Tabela 9 – Validação das melhorias ergonômicas por critérios ergonômicos – validação metodológica
CRITÉRIOS ERGONÔMICOS
SOCIOTÉCNICOS
DESCRIÇÃO DA MEHORIA ERGONÔMICA
CONFORTO (saúde e bem
Eliminação
estar)
postura forçada de
EFICIÊNCIA
membros
(produtividade, qualidade
superiores.
da
Eliminação
da
repetividade.
e confiabilidade)
SEGURANÇA
ADEQUAÇÃO
USABILIDADE
CUSTO EFETIVIDADE
-
-
Eliminação da postura forçada de membros
superiores
ECONÔMICOS
CUSTO BENEFÍCIO
Desta forma ratifica-se que a eliminação da postura forçada de membros
superiores pela adequação da bancada de trabalho. A eliminação do fator
repetitividade contempla a melhoria direta na percepção de conforto do trabalhador
quanto no desempenho do processo de trabalho além de proporcionar retorno
financeiro do investimento de implantação. Tem-se, portanto, um dimensionamento da
ação ergonômica no escopo da política estratégica da empresa ao expressar a
magnitude econômica e operacional e os impactos desta para o ambiente
organizacional.
Etapa 7 – Propondo melhorias
É nesta etapa que se elabora o projeto de melhoria ergonômica pela
especificação da forma de solução. Isto é, no caso da situação de trabalho analisada
define-se o projeto como sendo de intervenção em um nível básico e ainda
determinado por um grupo tarefa devido o caráter complexo e multifacetado do
trabalho.
O projeto é considerado como intervenção devido a necessidade principal de
mudanças pontuais no mobiliário e no conteúdo da tarefa para a adequação
ergonômica. O nível básico se justifica por requerer tratamento de problemas
facilmente identificáveis, mediante métodos simples. Seus resultados ocorrem no curto
prazo e a própria equipe interna da empresa é capaz de solucioná-la. Também são
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
91
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
descritos os recursos e o tempo necessário para a resolução do problema de forma a
impelir a conclusão do problema, conforme a descrição do quadro 5:
Quadro 5 – Descrição do plano de ação para implantação das melhorias ergonômicas definidas
Etapa 8 – Medição do desempenho
A medição do desempenho da situação de trabalho analisada é determinada
pela definição de indicadores ergonômicos. De acordo com a situação estudada e a
partir da causa fundamental do problema foram determinados os seguintes
indicadores:
• Número de melhorias implantadas e dentro do prazo estabelecido;
• Redução do número de queixa musculoesquelética relacionado as
condições de trabalho;
• Eliminação das não-conformidades ergonômicas da situação de
trabalho;
• Redução
do
custo
administrativo
do
trabalhador
com
queixa
musculoesquelética da situação de trabalho (horas perdidas por
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
92
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
afastamento do trabalho, custo do tratamento médico, fisioterapêutico
e medicamentoso);
• Melhora do desempenho produtivo (perda de material, má conservação
de máquinas ou equipamentos, atendimento as metas de produção);
• Melhora da percepção de fadiga durante o trabalho;
• Melhora da imagem da empresa pelo funcionário;
Definidos os indicadores ergonômicos passa-se a fase de monitoramento da
ação corretiva.
Portanto, para o problema identificado neste estudo considera-se o
monitoramento preventivo devido a criticidade do problema e os recursos para a
mantenabilidade da ação tomada. Sugere-se o monitoramento da intervenção
ergonômica semestralmente a fim de evidenciar a eficácia das melhorias adotadas
pelo cumprimento dos indicadores ergonômicos, como descrito na tabela 10.
Tabela 10 – Modo de monitoramento das ações propostas – validação metodológica
MODO DE MONITORAMENTO
DESCRIÇÃO DO MONITORAMENTO
Quando há a necessidade de manter a ação tomada em
níveis aceitáveis para garantir a funcionalidade ou a
PREVENTIVO
promoção da transformação positiva da situação de
trabalho.
Realiza-se
este
monitoramento
periodicamente.
Etapa 9 – Melhoria Contínua
Para que se consolide a transformação positiva da situação de trabalho em
consonância com as estratégias da organização geral, recomenda-se e elaboração de
um relatório sintetizando todas as etapas do método a fim de visualizar todas as
etapas de identificação e solução do problema bem como os objetivos propostos com
a ação ergonômica, conforme quadro 6 a seguir.
A descrição encontra-se no apêndice A (em anexo).
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
93
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
Quadro 6 – Relatório de diagnóstico ergonômico
RELATÓRIO DE DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO
Etapa 1 - Identificação da perda:
1.1 Componente(s) organizacional(ais) onde se evidencia a perda:
1.2 Levantamento de dados da perda: (ano base dos custos diretos e indiretos)
1.3 Natureza da demanda diagnóstica:
Resultado indesejável:
Etapa 2 - Caracterização e identificação do local onde ocorre o resultado indesejável
Etapa 3 – Determinação do nível de risco ergonômico do resultado indesejável
Etapa 4 – Causa fundamental do resultado indesejado:
Etapa 5 – Objetivos
Etapa 6 – Validação da causa fundamental e dimensionamento da melhoria pelos critérios
ergonômicos
6.1 Validação da causa fundamental:
CRITÉRIOS ERGONÔMICOS
CONFORTO
(saúde e bem
estar)
SOCIOTÉCNICOS
EFICIÊNCIA
(produtividade,
qualidade e
confiabilidade)
SEGURANÇA
ADEQUAÇÃO
USABILIDADE
CUSTO
EFETIVIDADE
ECONÔMICOS
CUSTO
BENEFÍCIO
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
DESCRIÇÃO DA CAUSA FUNDAMENTAL DO
PROBLEMA
94
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
6.2 Dimensionamento da ação ergonômica
CRITÉRIOS ERGONÔMICOS
DESCRIÇÃO DA MEHORIA ERGONÔMICA
CONFORTO (saúde e
bem estar)
EFICIÊNCIA
SOCIOTÉCNICOS
(produtividade,
qualidade e
confiabilidade)
SEGURANÇA
ADEQUAÇÃO
USABILIDADE
CUSTO EFETIVIDADE
ECONÔMICOS
CUSTO BENEFÍCIO
Etapa 7 – Caracterização do projeto de melhoria ergonômica
Etapa 8 – Definição de indicadores ergonômicos e determinação do modo de monitoramento:
Etapa 9 – Melhoria contínua
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
4.1 Análise dos resultados
Este estudo pretendeu a proposição de um modelo/ferramenta para o
diagnóstico da organização dos processos de trabalho utilizando os critérios
ergonômicos sociotécnicos (conforto e eficiência), adequação (usabilidade e
segurança) e econômicos (custo-benefício e custo-efetividade) para a tomada de
decisão gerencial.
A ação diagnóstica da organização do trabalho nesta pesquisa foi assentada
sobre os fatores que cerceiam a realidade organizacional: econômico, social e
produtivo. Tal determinação se verifica pela configuração atual da organização do
trabalho que contempla aspectos como diversidade, flexibilidade, inovação e
cooperação além da estruturação de modos operatórios oriundos de modelos
administrativos que preconizam a racionalidade do trabalho.
A aplicação da ferramenta proposta na organização do trabalho de uma
indústria evidenciou a importância da força de trabalho no contexto organizacional e
competitivo. Isto é demonstrado ao se identificar que as perdas econômicas
relacionadas com a inadequação do trabalho ao trabalhador são significativas e que
podem interferir na competitividade da empresa.
No entanto, este alto custo pode passar despercebido pela alta gerência
quando esta não analisa a organização dos processos de trabalho à luz de critérios
ergonômicos. Isto é, o impacto do trabalho sobre os fatores humanos são vistos de
forma isolada do contexto produtivo.
A pesquisa demonstrou a importância dos componentes da situação de
trabalho na gênese de resultados indesejados. A estratificação e a análise
pormenorizada destes por meio de ferramentas de análise ergonômica apontam que
determinados componentes ou a sua combinação podem constituir uma situação de
risco. Esta situação de risco identificada pelo método proposto dimensiona o impacto
que a alteração do componente pode impossibilitar o atendimento as exigências do
processo de produção.
Devido as características complexas da situação de trabalho pela interação
entre homem, tecnologia, ambiente e modelos de gestão, o modelo analisado
contempla a identificação da causa fundamental. Para esta identificação é necessário
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
95
Capítulo 4 Validação e Análise dos Resultados
analisar os fatores causadores a partir da análise da relação entre as diversas causas
e o efeito do problema.
Dimensionar a causa do problema pelos critérios ergonômicos como os
sociotécnicos, adequabilidade e econômicos permite vislumbrar a conseqüência do
problema no nível operacional, tático e estratégico de modo a facilitar a tomada de
decisão gerencial.
Esta tomada de decisão torna-se importante, pois, permite esboçar a
alocação de recursos bem como a previsão de investimentos necessários para a
transformação positiva da situação de trabalho. Isto porque, a melhoria preconizada
para adequação do trabalho também é balizada pelos critérios ergonômicos e permite
em um segundo momento determinar a complexidade do projeto de adequação.
A promoção das mudanças necessárias para garantir uma situação de
trabalho que permita o desempenho eficiente de todas as variáveis do processo,
necessita de uma medição do seu desempenho a fim de garantir que os resultados
alcançados estejam em consonância com os indicadores gerais da organização. A
ferramenta proposta contempla esta medição de acordo com a criticidade do
problema.
Desta forma, a melhoria dos processos é conseguida quando a ferramenta
em estudo contempla por meio de sua ação corretiva a oportunidade de melhorias
para pessoas, processo, produtos e sistemas orientadas para a sustentabilidade da
organização a longo prazo.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
96
Capítulo 5 Considerações finais
97
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aplicação do método proposto corrobora a hipótese de pesquisa que um
problema enfrentado pela organização, independente de sua natureza e do nível
hierárquico em que se consubstancia, acaba por refletir sobre os fatores humanos da
organização e que, por sua vez, reflete em perdas na saúde, segurança dos
trabalhadores e no desempenho dos processos produtivos.
Deste modo, este método diagnóstico permitiu ampliar a visão clássica da
análise ergonômica do trabalho e dos métodos de análise dos problemas em
vislumbrar os fatores nocivos ao trabalho e ao trabalhador a fim de garantir a melhoria
contínua dos processos.
O método diagnóstico proposto pode ser considerado como inovador por
desenvolver novas idéias e comportamentos na organização e permitir condições para
o crescimento econômico ser fonte de sustentação da vantagem competitiva da
organização.
A validação metodológica desta ferramenta se configura como um incremento
aos modelos administrativos que regem o setor produtivo ao incorporar e integrar ao
seu escopo dois enfoques distintos, cuja vivência pela organização ocorre de modo
separado: a saúde e a eficiência dos processos.
Constata-se desta forma, que em um método de diagnóstico do trabalho pode
equacionar a abordagem humanista da variável da mão-de-obra com a abordagem
econômica dos processos produtivos no seu método de trabalho.
Esta incorporação e integração dos fatores humanos e produtivos na esfera
da organização dos processos de trabalho permitiu entender a complexidade da
realidade de trabalho a ser investigada. Para este entendimento foi determinado um
método de diagnóstico estruturado sobre as premissas da metodologia de solução de
problemas e de análise ergonômica do trabalho a fim de contemplar os componentes
físico, psíquico e cognitivo do homem no ambiente de trabalho e o seu impacto nos
diferentes níveis organizacionais.
O método também considerou os aspectos não visíveis do trabalho em razão
destes determinarem a articulação do trabalhador com o contexto do trabalho em
razão destes participam da complexidade do trabalho.
Portanto a proposição desta ferramenta diagnóstica da organização dos
processos de trabalho promoveu resultados relevantes do ponto de vista teórico e
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 5 Considerações finais
98
social. Esta relevância se deve a possibilidade de proteção à saúde do trabalhador e a
garantia da sustentabilidade da organização no longo prazo de modo concomitante.
A partir destas constatações, entende-se que a Ergonomia se articula e se
contextualiza com o sistema produtivo, contribuindo para o desenvolvimento
organizacional como um todo.
Isto se justifica porque o diagnóstico ergonômico proposto permite gerenciar
as não conformidades ergonômicas identificadas ao priorizar a solução dos problemas
referentes as condições de trabalho que acabam por gerar perdas no processo
produtivo e principalmente na saúde e segurança do capital humano das
organizações.
A discussão acerca da economia gerada com a adequação ergonômica das
condições de trabalho evidencia com esta pesquisa que os benefícios econômicos
alçados são expressos indiretamente e a longo prazo na redução dos custos com a
assistência médica e no absenteísmo deste capital humano.
A estruturação das etapas conceituais do método em estudo e a definição dos
seus objetivos permitiram explicar e identificar os fatores determinantes para a
ocorrência do fenômeno estudado a partir da realidade múltipla e socialmente
construída. Isto é, as queixas osteomusculares existentes na organização do trabalho
de uma indústria do segmento lácteo.
Convém salientar a importância da capacidade de apreensão e abstração da
realidade pesquisada pelo pesquisador, uma vez que esta realidade possui
características de natureza não repetível e holística impelindo a visão de sua
totalidade tendo a suas variáveis relacionadas tanto a conduta do indivíduo inserido
neste contexto quanto a eventos sociais.
Pelo exposto acerca da construção do método proposto a partir dos
constructos científicos, pode-se inferir quanto a validação metodológica deste
modelo/ferramenta por demonstrar a sua aplicabilidade na vivência organizacional e
na sua capacidade de explicar a realidade pesquisada.
5.1 Recomendações para trabalhos futuros
Em face do estudo apresentado, recomenda-se a aplicação do método
proposto em outras situações de trabalho com evidências de comprometimento do
fator humano ou do desempenho insuficiente do processo produtivo de forma a
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Capítulo 5 Considerações finais
99
corroborar e ampliar a interação da Ergonomia com a competitividade organizacional.
Sugere-se também a aplicação comparativa deste método com o método de análise
ergonômica descrito por Vidal (2002) e com as métodos de análise utilizados pela
Ergonomia física.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
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Apêndice A – Relatório de diagnóstico ergonômico 104 APÊNDICE A – Relatório de diagnóstico ergonômico
RELATÓRIO DE DIAGNÓSTICO ERGONÔMICO Etapa 1 ‐ Identificação da perda: 1.1 Componente(s) organizacional(ais) onde se evidencia a perda:
Ambulatorial e eficiência global. 1.2 Levantamento de dados da perda: (ano base 2006) •
Total queixas musculoesquléticas: 83; •
Número de funcionário acometidos: 71; •
Número de dias perdidos: 320; •
Média de dias perdidos por funcionário: 4,5; •
Nùmero de CAT’s por DORT: 3; •
Número de ações judiciais por DORT: 27 Total custos diretos: R$ 867.956,00 Custos indiretos: •
Ambiente laboral negativo devido a presença de sofrimento osteomuscular do trabalhador na realização do seu trabalho; •
Estabilidade do funcionário por 1 ano quando afastamentos superiores a 15 dias; •
Custo social: imagem da empresa no mercado; •
Custo com redistribuição de tarefas do funcionário acometido; •
Passivo trabalhista (funcionários acometidos); •
Despesa de reembolso pela empresa com medicamentos a estes trabalhadores acometidos; •
Redução da qualidade de vida do funcionário acometido; •
Remanejamento de tarefa do funcionário acometido. 1.3
Natureza da demanda diagnóstica: Produção – chão‐de‐fábrica Resultado indesejável: Número de funcionários acometidos por queixas musculoesquléticas com impacto na eficiência global da organização. Etapa 2 ‐ Caracterização e identificação do local onde ocorre o resultado indesejável Dor em membros superiores no auxiliar de produção do setor de envase de leite fermentado da área de Refrigerados. Etapa 3 – Determinação do nível de risco ergonômico do resultado indesejável NRE 3 – componente físico do trabalho; NRE 2 ‐ componente organizacional do trabalho; PPGEP – Gestão Industrial (2009)
dimensionamento do lay out, percepção de fadiga, transporte manual de cargas e fatores biomecânicos de risco para DORT podem determinar ao longo do tempo uma lesão ou doença relacionada ao trabalho uma vez que estes riscos estão expostos continuadamente o trabalhador. A exposição durante toda a jornada de trabalho do trabalhador ao método de trabalho e exigências da tarefa inadequadas a sua capacidade física pode levar a redução do seu desempenho com sobrecarga osteomuscular e fadiga em membros superiores e coluna, produtos mal acondicionados nas caixas e Apêndice A – Relatório de diagnóstico ergonômico 105 pallets. A longo prazo a queixa determina uma lesão ou doença relacionado ao trabalho. Esta ponderação também se deve ao fato de aptidões físicas diferentes entre os trabalhadores garantindo desta forma a modelagem particular para a execução da tarefa. NRE 2‐ componente da carga de trabalho O distanciamento entre o trabalho prescrito e o real nesta situação de trabalho estudada permite a adoção de modo operatório próprio baseado na percepção de conforto e desempenho do próprio trabalhador. Etapa 4 – Causa fundamental do resultado indesejado: Posição forçada de membros superiores na execução da tarefa; Repetitividade. Etapa 5 – Objetivos Eliminação da criticidade e severidade do NRE 3 para atingir NRE1. •
Bancada de trabalho com regulagem de altura para atender as diferentes alturas dos trabalhadores e permitir objetos e materiais dentro da área de alcance, bom posicionamento de membros superiores eliminando condições como posturas estáticas e necessidade de força com as mãos; NRE 1 •
Disponibilização de rodízios entre postos de trabalhos; • Reorganização do ciclo de trabalho por meio de alocação de tempos de pausas para descanso entre um ciclo e outro de trabalho, minimização do tempo de exposição durante o ciclo de posturas em amplitude de movimento máximo pela alternância postural (em pé, semi‐sentado e caminhando); • Disponibilização da prescrição do trabalho ergonomicamente adequado aos níveis táticos; •
Treinamentos quanto a correta execução dos movimentos e posturas do modo operatório. Etapa 6 – Validação da causa fundamental e dimensionamento da melhoria pelos critérios ergonômicos 6.1 Validação da causa fundamental: CRITÉRIOS ERGONÔMICOS DESCRIÇÃO DA CAUSA FUNDAMENTAL DO PROBLEMA CONFORTO (saúde e bem estar) A postura inadequada de membros superiores associada a outros fatores como a repetitividade são fatores que propiciam o recrudescimento das doenças relacionadas ao trabalho bem como a formação de um contingente de trabalhadores com capacidade física parcial para a execução de suas tarefas. Esta causa também relaciona‐se na gênese do estresse e de doenças psicossomáticas quando a empresa adota um conjunto de ações que impossibilita a vivência de mecanismos de regulação durante o trabalho. EFICIÊNCIA (produtividade, qualidade e confiabilidade) A manutenção da postura inadequada de membros superiores ao longo da jornada de trabalho desencadeia processos de fadiga física e estresse que culminam na redução do desempenho do trabalhador. Esta queda de performance no trabalho pode gerar produtos com defeitos, má conservação de máquinas e equipamentos. SOCIOTÉCNICOS PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Apêndice A – Relatório de diagnóstico ergonômico 106 ADEQUAÇÃO SEGURANÇA Embora haja na situação de trabalho, condições ergonomicamente inadequadas como postura forçada de membros superiores e repetitividade estes fatores não intervém de modo significativo na segurança do trabalhador e das instalações na execução das suas atividades. USABILIDADE Devido as condições de postura forçada de membros superiores e repetitividade, a interação com as condições de trabalho no tocante a usabilidade do mobiliário de trabalho torna‐se prejudicada. CUSTO EFETIVIDADE O custo da transformação positiva reflete em indicadores como eficiência produtiva, redução de custos administrativos decorrentes das lesões ocupacionais dos trabalhadores e também em resultados intangíveis como boa relação entre empresa e trabalhadores e pública. CUSTO BENEFÍCIO Refletem a magnitude econômica de indicadores ergonômicos que demonstram a transformação positiva da situação de trabalho. ECONÔMICOS 6.2 Dimensionamento da ação ergonômica CRITÉRIOS ERGONÔMICOS CONFORTO (saúde e bem estar) SOCIOTÉCNICOS DESCRIÇÃO DA MEHORIA ERGONÔMICA Eliminação da postura forçada de membros superiores. EFICIÊNCIA (produtividade, qualidade e confiabilidade) SEGURANÇA ADEQUAÇÃO Eliminação da repetividade. USABILIDADE ‐ ‐ Eliminação da postura forçada de membros superiores CUSTO EFETIVIDADE ECONÔMICOS CUSTO BENEFÍCIO Etapa 7 – Caracterização do projeto de melhoria ergonômica Intervenção ergonômica no nível básico. Intervenção: necessidade de mudanças pontuais no mobiliário de tarefa e no conteúdo do trabalho; Nível básico: resultado no curto prazo com soluções pela equipe interna (tarefa). PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Apêndice A – Relatório de diagnóstico ergonômico 107 Etapa 8 – Definição de indicadores ergonômicos e determinação do modo de monitoramento: 8.1 Indicadores ergonômicos:
•
Número de melhorias implantadas e dentro do prazo estabelecido;
•
Redução do número de queixa musculoesquelética relacionado as condições de trabalho;
•
Eliminação das não-conformidades ergonômicas da situação de trabalho;
• Redução do custo administrativo do trabalhador com queixa musculoesquelética da situação de
trabalho (horas perdidas por afastamento do trabalho, custo do tratamento médico, fisioterapêutico e
medicamentoso);
• Melhora do desempenho produtivo (perda de material, má conservação de máquinas ou
equipamentos, atendimento as metas de produção);
•
Melhora da percepção de fadiga durante o trabalho;
•
Melhora da imagem da empresa pelo funcionário;
8.2 Modo de monitoramento:
Preventivo
Etapa 9 – Melhoria contínua
•
Oportunizada melhoria na situação de trabalho para os fatores humanos e do processo de trabalho;
•
Atuação em outra situação de trabalho.
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Anexo A – Entrevista semi estruturada – nível gerencial e tático 108
ANEXO A – ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA - NÍVEL GERENCIAL E
TÁTICO
Elaborado pela autora
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
109
Anexo B – Técnica de definição de prioridades GxUxT
ANEXO B – TÉCNICA DE DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES GxUxT
G (gravidade), U (urgência) e T (tendência) são parâmetros tomados
para se estabelecer prioridades na eliminação de problemas, especialmente se
forem vários e relacionados entre si. A técnica tem o objetivo de orientar
decisões mais complexas.
Para a determinação da prioridade na solução dos problemas
detectados, se faz três perguntas:
1) Qual a gravidade do desvio; Que efeitos surgirão a longo prazo, caso o
problema não seja resolvido; Qual o impacto do problema sobre coisas,
pessoas e resultados.
2) Qual a urgência de eliminar o problema;
3) Qual a tendência do desvio e seu potencial de crescimento
Listados os problemas, fazer uma avaliação da gravidade, urgência e
tendência de um deles. Ao terminar a avaliação de cada problema, fazer a
multiplicação das notas dadas.
Aspecto
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Grav
Urg
Tend
GxUxT
110 Anexo C – Checklists de C outo ANEXO C – CHECKLISTS DE COUTO
PPGEP – Gestão Industrial (2009)
111 Anexo C – Checklists de C outo PPGEP – Gestão Industrial (2009)
112 Anexo C – Checklists de C outo PPGEP – Gestão Industrial (2009)
113 Anexo C – Checklists de C outo PPGEP – Gestão Industrial (2009)
114 Anexo C – Checklists de C outo PPGEP – Gestão Industrial (2009)
Anexo D – O critério semi-quantitativo de Moore e Garg - 1995
ANEXO D – O critério semi-quantitativo de Moore e Garg - 1995
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