Livros Obrigatórios FUVEST 2015
Memórias de um sargento de milícias – Manuel Antônio de Almeida
AUTOR
Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) foi um médico, escritor e professor brasileiro. Filho do tenente Antônio
de Almeida e de Josefina Maria de Almeida. Seu pai morreu quando Manuel Antônio tinha dez anos de idade. Concluiu
a Faculdade de Medicina em 1855, mas nunca exerceu a profissão. Dificuldades financeiras o levaram ao jornalismo e
às letras. Foi redator do jornal Correio Mercantil, para o qual escrevia um suplemento, A Pacotilha. Neste suplemento
publicou sua única obra em prosa de fôlego, a novela Memórias de um Sargento de Milícias, de 1852 a 1853, em
capítulos.
Pertenceu à primeira sociedade carnavalesca do Rio de Janeiro, o Congresso das Sumidades Carnavalescas,
fundado em 1855. Foi professor do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Em 1858, foi nomeado diretor da
Tipografia Nacional. Lá, conheceu o jovem aprendiz de tipógrafo Machado de Assis.
Procurou iniciar a carreira na política. Quando ia fazer as primeiras consultas entre os eleitores, morreu no
naufrágio do navio Hermes, em 1861, na costa fluminense.
MOVIMENTO LITERÁRIO (ROMANTISMO)
A prosa romântica inicia-se com a publicação do primeiro romance brasileiro "O filho do Pescador", de Antônio
Gonçalves Teixeira e Sousa em 1843. O primeiro romance brasileiro em folhetim foi "A Moreninha", de Joaquim Manuel
de Macedo, publicado em 1844. O romance brasileiro caracteriza-se por ser uma "adaptação" do romance europeu,
conservando a estrutura folhetinesca européia, com início, meio e fim seguindo a ordem cronológica dos fatos.
O Romance brasileiro poderia ser dividido em duas fases: Antes de José de Alencar e Pós-José de Alencar, pois
antes desse importante autor as narrativas eram basicamente urbanas, ambientadas no Rio de Janeiro, e apresentavam
uma visão muito superficial dos hábitos e comportamentos da sociedade burguesa.
E com José de Alencar surgiram novos estilos de prosa romântica como os romances regionalistas, históricos e
indianistas e o romance passou a ser mais crítico e realista. Os romances brasileiros fizeram muito sucesso em sua época
já que uniam o útil ao agradável: a estrutura típica do romance europeu, ambientada nos cenários facilmente identificáveis
pelo leitor brasileiro (cafés, teatros, ruas de cidades como o Rio de Janeiro).
O sucesso também se deve ao fato de que os romances eram feitos para a classe burguesa, ressaltando o luxo e a
pompa da vida social burguesa e ocultando a hipocrisia dos costumes burgueses. Por isso pode-se dizer que, no geral, o
romance brasileiro era urbano, superficial, folhetinesco e burguês.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Memórias de um sargento de Milícias, de 1852, foi o único livro publicado por Manuel Antônio de Almeida. A
obra retrata as classes média e baixa cariocas, algo muito incomum para a época, na qual os romances retratavam os
ambientes aristocráticos. A experiência de ter tido uma infância pobre influenciou Manuel Antônio de Almeida no
desenvolvimento de sua obra. Além disso, percebe-se:
 Queda da idealização romântica dos personagens, mostrando a figura de um anti-herói como protagonista do enredo.
 Enfoque de época diferenciado do habitualmente apresentado pelos romances românticos. Fala-se do período da vinda
da família real para o Brasil, do tempo em que D. João VI refugiou-se no Rio de Janeiro no início do século 19.
 Linguagem é popularesca, coloquial, mais de acordo com pessoas de nível cultural inferior, pertencente a camadas
sociais simples.
 Contraste entre posturas moralizantes e atitudes que vão contra os preceitos morais.
 Traz traços carnavalizados, como o contraste entre as propostas de seriedade e ordem e os momentos de completa
desorganização.
 O caricatural, o que faz rir, a ironia, misturam-se em um conjunto que retrata o ridículo de diversas situações
retratadas.
 Não há o predomínio da linearidade na obra, pois acontecem digressões e a quebra do enredo interrompe comentários,
explicações.
 Várias tramas desenvolvem-se ao mesmo tempo, sendo Leonardo, o personagem central, responsável por atá-las
tornando-se o elo entre elas, o que permite que a obra seja denominada também de novela.
 Aparecem diversas explicações sobre a obra na própria obra, o que demonstra o uso da metalinguagem pelo autor.
 O foco narrativo é em terceira pessoa, com um narrador onisciente, que interfere no texto, faz observações e busca
contato com o leitor (tentativa de diálogo).
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A obra, como um todo, forma um grande painel do Rio de Janeiro na época enfocada. A crítica social pode ser
sentida no desenvolvimento da trama. No caso de Leonardo, personagem principal, é o primeiro anti-herói da literatura
brasileira (foi o precursor de Macunaíma, o qual só surgiria no Modernismo).
Segundo o crítico literário Antonio Candido:
“Diversamente de quase todos os romances brasileiros do século XIX, mesmo os que formam a pequena minoria
dos romances cômicos, as ‘Memórias de um sargento de milícias’ criam um universo que parece liberto do erro e do
pecado. Um universo sem culpabilidade e mesmo sem repressão, a não ser a repressão que pesa o tempo todo por meio
do Vidigal e cujo desfecho já vimos.
O sentimento do homem aparece nele como uma espécie de curiosidade superficial, que põe em movimento o
interesse dos personagens uns pelos outros e do autor pelos personagens, formando a trama de relações vividas e
descritas. A esta curiosidade corresponde uma visão muito tolerante, quase amena. As pessoas fazem coisas que
poderiam ser qualificadas como reprováveis, mas também fazem outras dignas de louvor, que as compensam. E como
todos têm defeitos, ninguém merece censura.”
ENREDO
Parte 1
Capítulo 1 - Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça embarcam para o Brasil. Entre pisadelas e beliscões os dois
jovens portugueses enamoram-se, envolvem-se e, meses mais tarde, nasce Leonardinho, o protagonista do romance. É,
estranhamente, um menino gordo e grande, apesar de ter nascido tão cedo. A parteira e o barbeiro são seus padrinhos de
batismo.
Capítulo 2 - Leonardo Pataca descobre-se traído por Maria e surra a mulher. O amante que estava com ela
desaparece. Leonardinho rasga uns documentos que o pai esquecera sobre a mesa. O pai dá-lhe um pontapé que o manda
longe. O menino vai viver com o padrinho. Maria da Hortaliça já não se encontra com o marido, pois fugira para Portugal
com o capitão de um navio.
Capítulo 3 - O padrinho protege Leonardo. A madrinha cobra energia do barbeiro. Acha que Leonardo precisa
ser castigado, já que é levado demais. O padrinho quer o afilhado padre, pois anda apreensivo com o futuro do pequeno.
Capítulo 4 - Apaixonado por uma cigana que não o quer, Leonardo Pataca acaba preso, por recorrer a bruxarias,
a fim de conquistá-la. Quem o prende é o Major Vidigal.
Capítulo 5 - O narrador fala de Vidigal, um homem temido e influente, apesar de parecer mole e lento. Ele é
cruel com os que não trabalham e não tem piedade dos criminosos. Todos os que participavam da cerimônia de feitiçaria
com Leonardo são chicoteados, para que dancem, até que não mais aguentem. Leonardo Pataca acaba na cadeia.
Capítulo 6 - A comadre consegue libertar Leonardo Pataca. Leonardinho dorme em um acampamento cigano
depois de seguir a procissão.
Capítulo 7 - Fala da comadre, de seus momentos de esperteza e dos de inocência, da profissão de parteira, de
suas benzedeiras, cochichos e rezas.
Capítulo 8 - A Comadre pedira a um tenente-coronel seu conhecido que conseguisse do rei algum benefício para
Leonardo Pataca.
Capítulo 9 - Conta-se a história do padrinho, que se apossou das economias de um capitão, às portas da morte,
ao invés de entregá-las à filha do falecido, conforme prometera. O dinheiro proporciona-lhe uma vida boa e confortável.
Capítulo 10 - Leonardo fora libertado, porque o tenente-coronel tinha um filho que seduzira Maria da Hortaliça
em Portugal, deflorando-a e abandonando-a, em tempos passados, e ajudar Pataca foi uma forma de pagar pelo mal
cometido pelo filho.
Capítulo 11 - Leonardinho não tem vocação para padre e é lerdo para aprender. O padrinho preocupa-se por ele.
A vizinha briga com o petiz, que a imita. O padrinho, que já discutira com ela, por causa da desavença com o pequeno,
diverte-se com a imitação feita.
Capítulo 12 - Na escola, Leonardinho é punido constantemente com a palmatória, pois só faz travessuras.
Termina abandonando os estudos, depois de muito fugir da escola.
Capítulo 13 - Leonardinho fica amigo de um garoto que é coroinha e diz ao padrinho que também gostaria de
servir na Igreja, como o outro. Em verdade, por ser malandro demais e não gostar dos estudos, o menino pretende
encontrar um meio de fazer mais peraltices. Como o barbeiro tem vontade que o pequeno siga a carreira sacerdotal,
imagina que será bom que ele comece a conviver no meio eclesiástico. Sabe que, apesar de tê-lo feito frequentar a escola
novamente, o afilhado não se empenha e vive fugindo das aulas. Os meninos, que se tornaram amigos em uma das fugas
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de Leonardinho, vingam-se da vizinha com a qual o padrinho brigara, jogando fumaça de incenso em seu rosto e também
lhe entornando um pouco de cera na mantilha que estava usando.
Capítulo 14 - A cigana com a qual Leonardo Pataca se havia envolvido é amante de um padre que exerce a
função de mestre de cerimônias da Igreja da Sé. Ele deverá proferir o sermão, por ocasião de uma festa que ocorrerá na
igreja em questão. Um capuchinho italiano toma-lhe o lugar no púlpito, quando o padre se atrasa para a cerimônia. Em
realidade, o grande responsável pelo problema é Leonardinho, que lhe informa o horário do acontecimento com uma
hora de diferença do que deveria ser. Acaba sendo mandado embora, pelo que fez.
Capítulo 15 - Chico-Juca é contratado para comparecer a uma reunião festiva que ocorrerá na casa da cigana da
qual Pataca gosta. É a forma que o pai de Leonardinho arranja para se vingar dela e do padre com o qual se envolvera.
Não satisfeito com o que já programara, Pataca complementa sua vingança, avisando o Major Vidigal do que está
ocorrendo. O padre vai parar na cadeia, para a satisfação de Leonardo.
Capítulo 16 - As coisas encaminham-se muito mal para o padre flagrado pelo Major. Arrependido e humilhado,
ele toma a decisão de deixar a amante cigana. Mesmo desagradando a comadre, que tanto o ajudara, Leonardo Pataca
retoma o relacionamento com a traidora e é recriminado por sua atitude. Chocada, a comadre o repreende.
Capítulo 17 - A gorda D. Maria simpatiza com Leonardinho. Ela aprecia demais as demandas ou ações judiciais.
Quando acontece a procissão recebe o Compadre em sua casa, além do afilhado. Também estão lá a Comadre e a vizinha,
que tem a saia pisada pelo pequeno peralta, enquanto todos falam a respeito das traquinagens que ele faz o tempo todo.
Leonardinho rasga a saia da mulher e continua a centralizar o assunto da conversa, já que trocam ideias sobre seu futuro.
Para a velha senhora dona da casa, em toda a sua bondade e amor pelos menos afortunados, o menino deve-se tornar um
"procurador de causas", pois seria o melhor para ele.
Capítulo 18 - Mais velho, Leonardo Pataca junta-se a Chiquinha, filha da Comadre, com quem acabará tendo
uma filha. Quanto a Leonardinho, torna-se, segundo o narrador, um "vadio-mestre", um "vadio-tipo". Vão por água
abaixo os planos feitos para ele pelo compadre, pois não se torna padre. Tão pouco segue os desejos da Comadre ou de
Dona Maria. Sem trabalho, sem preocupações, leva a vida aventureira que lhe é tremendamente agradável. Faz visitas a
D. Maria, acompanhando o padrinho. A velha senhora vencera mais uma de suas demandas, tornando-se tutora de uma
sobrinha órfã chamada Luisinha. A moça veio da roça e é uma pessoa desengonçada, alta e magricela. Sua herança havia
sido de mil cruzados. Leonardinho tem dificuldade em controlar o riso quando a conhece, em um longo vestido de chita
roxa, muito deselegante. E sempre se ri, quando se lembra dela. E sempre se lembra dela.
Capítulo 19 - Leonardinho e Luisinha aproximam-se gradativamente e o amor entre eles começa a brotar.
Capítulo 20 - Depois que acontece a Festa do Divino, o casal torna-se mais unido e íntimo, fortalecendo os
sentimentos que nutrem um pelo outro.
Capítulo 21 - Visitando D. Maria, padrinho e afilhado veem-se diante do Sr. José Manuel, um velhaco de
primeira, que adula a velha para conseguir chegar até Luisinha. Suas pretensões visam à herança que a moça deverá
receber com a morte de D. Maria, já que será a única beneficiária da tutora.
Capítulo 22 - A Comadre une-se ao Compadre, a fim de traçarem seus planos para desarmar a tramoia de José
Manuel e auxiliar o afilhado.
Capítulo 23 - Leonardinho já se apercebeu das intenções de José Manuel e sente vontade de cortar-lhe o pescoço
com uma navalha do Compadre. Seu padrinho, entretanto, aconselha-o e procura acalmar-lhe os ciúmes. O rapaz, muito
desajeitado, consegue se declarar a Luisinha, após idas e vindas bastante cômicas, tremores e dúvidas, risos nervosos e
um extremo desgaste.
Parte 2
Capítulo 1 - Leonardo Pataca, pai de Leonardinho, tem uma filha com Chiquinha e a Comadre responsabilizase em fazer o parto. A menina será tranquila e risonha, o avesso do irmão.
Capítulo 2 - A Comadre, como excelente fuxiqueira que é, leva ao conhecimento de D. Maria histórias que se
contam sobre uma determinada ocorrência policial bastante comentada naquele tempo. Diz que ficou sabendo que José
Manuel havia sido responsável pelo roubo de uma jovem e de uma bolsa com dinheiro. Facilitam-se os planos feitos por
ela, o Compadre e o afilhado, tendo em vista que José Manuel se desvaloriza demais perante Dona Maria, que é uma
mulher honesta e não suporta falta de caráter.
Capítulo 3 - José Manuel não desiste de Luisinha, apesar dos pesares. Deseja saber quem o intrigou com D.
Maria.
Capítulo 4 - O Mestre de Rezas é cego e tem fama de ser um bom arranjador de casamentos. Ajuda José Manuel
a se aproximar de Luisinha e procura descobrir quem falara mal do rapaz para D. Maria.
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Capítulo 5 - Com a morte do padrinho, Leonardinho torna-se seu único herdeiro. Leonardo Pataca sabe disso,
por intermédio da Comadre, e prontifica-se a tomar conta do filho, por puro interesse. O rapaz não consegue esquecer o
pontapé que o pai, um dia, lhe dera. Não o agrada viver com um homem que vira tão poucas vezes. Sem opção, porém,
acaba indo morar com o pai, Chiquinha e a irmãzinha.
Capítulo 6 - Apesar de ter herdado "um bom par de mil cruzados", Leonardinho acaba escurraçado da casa do
pai, que o persegue com um espadim em punho, em mais um dia de brigas entre o moço e Chiquinha, a mulher do pai.
Tudo acontece porque Leonardinho não vê Luisinha na casa de D. Maria, quando vai até lá; e, por esse motivo, irrita-se.
Capítulo 7 - Leonardinho conhece Vidinha, mulata que gosta de tocar viola e cantar suas modinhas, quando
reencontra um ex-sacristão seu amigo, que o chama para fazer companhia a ele e ao bando de amigos que o segue naquela
ocasião. Agrada-o ouvir Vidinha, com seus dentes brancos e os lábios umedecidos, cantar entre eles. Tomás da Sé levao para a casa na qual também vive Vidinha - e Leonardinho ali permanece, ligando-se à moça.
Capítulo 8 - As viúvas e seus filhos vivem na mesma casa. Leonardinho passa a conviver com a família. Vidinha
é uma das três moças que lá moram. Além delas, existem três rapazes. Os moços são funcionários da estrada de ferro. A
idade dos jovens todos está por volta dos vinte anos.
Capítulo 9 - José Manuel procura desfazer a má impressão que as intrigas haviam deixado em D. Maria a respeito
dele. A madrinha procura o afilhado, sem conseguir encontrá-lo em lugar algum. Quando vai até a casa de D. Maria, leva
uma reprimenda por tudo o que dissera a respeito de José Manuel, já que o pretendente de Luisinha conseguira livrar-se
das acusações, auxiliado pelo Mestre de Rezas. A Comadre pede desculpas a D. Maria, já que não tem meios de ajudar
Leonardinho naquele momento.
Capítulo 10 - Vidinha é o pomo da discórdia em sua casa, pois desperta o interesse do primo e também o de
Leonardinho. Acontece uma briga e o rapaz deseja partir. As viúvas e Vidinha estão a favor dele. É convencido a
permanecer com a família. A Comadre consegue achá-lo logo após a briga.
Capítulo 11 - A Comadre e as viúvas conversam. Leonardinho fica. Quando está em um piquenique, divertindose, acaba prisioneiro do Major Vidigal, por vadiagem.
Capítulo 12 - José Manuel ganha uma das demandas para D. Maria e, desta forma, consegue o "sim" da velha
senhora ao seu pedido de casamento. Luisinha está bastante acabrunhada com o desaparecimento de Leonardinho, que
não mais a procurara. Sem qualquer entusiasmo, aceita casar-se. O noivo vive a fazer os cálculos de quanto irá lucrar
com o enlace. Casam-se os noivos e é feita uma grande festa.
Capítulo 13 - O Major Vidigal acaba desmoralizado, pois Leonardinho serve-se de uma agitação que ocorria na
rua por onde passava aprisionado e foge. Volta para a casa da mulata Vidinha. Como jamais nenhum safado lhe escapara
e por não estar acostumado com falta de respeito, Vidigal irrita-se como nunca e procura-o incansavelmente, em
companhia dos granadeiros.
Capítulo 14 - Encontrar o fujão é uma questão de honra para o Major. Quer se vingar, pois não aceita ter sido
alvo de chacotas. A Comadre, por sua vez, implora a Vidigal pelo afilhado, sem saber que ele já não está mais na prisão.
Chega a chorar, ficando de joelhos, mas riem de sua atitude.
Capítulo 15 - Sabendo que o afilhado está em liberdade e desejando salvá-lo da ira do Major Vidigal, a Comadre
vai até a casa das viúvas, passa uma descompostura em Leonardinho e exige que ele comece a trabalhar. Consegue-lhe
um emprego na despensa ou ucharia real, local em que estão depositados mantimentos. Para Vidigal, essa é uma notícia
ruim, pois seu perseguido deixa de ser um vadio, não havendo mais motivo para prendê-lo. Leonardinho, porém, não
toma jeito. Rouba provisões da ucharia, levando-as para Vidinha. Envolve-se com a mulher de um dos empregados do
Paço Real - o toma-largura -, visitando-lhe a mulher, na ausência deste, pois a moça é bela e desperta-lhe o interesse. O
toma-largura acaba encontrando o maroto tomando um caldo com sua mulher e, desconfiado, persegue-o. Leonardinho
acaba na rua, sem emprego.
Capítulo 16 - Vidinha, que já andava abandonada pelo moço, acaba sabendo do que acontecera, pois as notícias
correm de boca em boca. Movida pelo ciúme e pela raiva, toma satisfações com a mulher do toma-largura e aproveita
para fazer desfeita para o pobre coitado. Leonardinho, que seguira a jovem até a ucharia, termina em poder de Vidigal.
Capítulo 17 - O toma-largura e a mulher não reagem ante os desacatos de Vidinha. O homem, ao contrário,
interessa-se por ela e procura saber onde mora, depois que ela se vai. Quer conquistá-la, ter uma aventura e vingar-se
daquele que o ultrajara.
Capítulo 18 - Ninguém consegue encontrar Leonardinho, que está devidamente oculto por Vidigal. Procuramno, mas é em vão. Nem na Casa da Guarda pode ser encontrado. A família de Vidinha chega à conclusão de que ele não
deseja que o encontrem. Tirada essa conclusão, todos passam a detestá-lo. A Comadre é outra que perde seu tempo
inutilmente, pois não consegue achar o afilhado. Somente quando o Major Vidigal surge em uma reunião festiva, em que
o toma-largura se excede após beber demais, em companhia dos familiares de Vidinha, é que o desaparecimento de
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Leonardinho se esclarece. Em realidade, Vidigal fizera-o granadeiro e seu auxiliar, a fim de aproveitar-lhe a sabedoria
em malandragem. Como o toma-largura ficasse rondando a casa de Vidinha, a família dela terminou por convidá-lo para
participar de uma "patuscada em Cajueiros", que foi exatamente onde o granadeiro Leonardo deu-lhe ordem de prisão.
Capítulo 19 - Leonardinho, granadeiro do Regimento Novo por ordem de Vidigal, sentara praça assim que saíra
da prisão. O Major vê que não se enganara com relação ao moço, pois este se mostra competente em suas funções. No
entanto, continua a fazer suas peraltices, o que não lhe permite cumprir completamente com as funções que lhe haviam
sido atribuídas.
Capítulo 20 - Em casa de Leonardo Pataca acontece uma comemoração. Teotônio - jogador, tocador e cantor está presente, entoando suas melodias. Entretanto, ele irrita o Major Vidigal, ao lhe imitar os trejeitos na presença de
todos, despertando-lhes o riso. Vidigal não se conforma com a brincadeira e dá ordens a Leonardinho, para que aprisione
o outro. O granadeiro segue até a casa do pai, para cumprir as ordens recebidas. É acolhido com simpatia e gosta de
Teotônio, o que o leva a revelar-lhe a missão que lhe haviam destinado. Ele e Teotônio, então, resolvem tapear o Major
Vidigal e, para tanto, traçam um plano adequado.
Capítulo 21 - Um amigo desmascara Leonardinho diante de Vidigal, ao cumprimentá-lo pela façanha que
tramara com Teotônio. O Major percebe-se enganado e mais uma vez prende o maroto. A madrinha consegue libertá-lo,
ao descobrir uma antiga namorada do Major, por meio de D. Maria. José Manuel revela seu verdadeiro caráter, quando
chega ao fim a lua de mel.
Capítulo 22 - Auxiliadas por Maria Regalada, a Comadre e a tia de Luisinha tentam libertar o moço. Regalada
e a Comadre procuram obter um relaxamento de prisão para ele. O Major não quer ceder, porém a ex-namorada segredalhe, ao ouvido, algo que o faz mudar de ideia, soltar o moço e ainda ajudá-lo no que é possível.
Capítulo 23 - Concluem-se os fatos iniciados no capítulo anterior.
Capítulo 24 - O sargento Leonardo e Luisinha reencontram-se durante o velório de José Manuel, que falecera
devido a um ataque do coração, causado por uma demanda que D. Maria havia movido contra ele. Ao rever a moça,
Leonardo admira-a e é correspondido nisto.
Capítulo 25 - O namoro de ambos é retomado, assim que termina o luto da jovem pelo falecido. Como o
granadeiro não pode se casar, por ser um sargento de linha, o casal recorre ao Major, pedindo sua intervenção. Vidigal
vive com Maria Regalada, que cumprira o que lhe prometera, para que libertasse Leonardinho anteriormente. É ela, mais
uma vez, quem interfere e convence o Major a passar Leonardo de granadeiro a Sargento de Milícias, a fim de que possa
se casar com Luisinha. De posse da herança que o padrinho lhe deixara e que o pai, Leonardo Pataca, acabara por
devolver-lhe, o moço desposa Luisinha finalmente. Fecha-se o romance, noticiando-se a morte de D. Maria e a de
Leonardo Pataca, além de vários acontecimentos tristes, que o narrador diz preferir poupar o leitor de conhecer.
PERSONAGENS
Leonardo ou Leonardinho - o anti-herói ou herói picaresco do romance, vadio, malandro, que adora fazer
estripulias e criar problemas. Mulherengo, quase perde seu amor, por ser inconsciente. É criado pelo padrinho, já que os
pais se separam e não têm paciência para lhe suportar as traquinagens. Chega a ser preso, torna-se granadeiro e Sargento
de Milícias. Casa-se e torna-se assentado.
Luisinha - moça com a qual Leonardo se casa. Em princípio é desengonçada e estranha, depois melhora. Casase com José Manuel, por influência da tia, arranjando um marido que só deseja seus bens. É órfã. Fica viúva e une-se a
Leonardo.
Vidinha - mulata jovem, bonita e animada, toca viola e canta modinhas. Cativa Leonardo, que vive em sua casa
por algum tempo.
O Compadre - barbeiro de profissão, cria Leonardo, protege-o e acaba deixando-lhe uma herança que surrupiou
do comandante de um navio.
A Comadre - defende e acompanha Leonardo em qualquer circunstância. Adora o afilhado.
D. Maria - doida por uma demanda judicial, ganha a guarda de Luisinha, quando ela perde os pais.
José Manuel - salafrário e calculista, casa-se com Luisinha por dinheiro e morre.
Major Vidigal - militar que persegue Leonardo, até conseguir integrá-lo às forças milicianas. Calcado em uma
figura real.
Leonardo Pataca - pai de Leonardo, acaba casado com Chiquinha, depois que abandona o filho com o compadre.
Maria da Hortaliça - mãe do personagem, portuguesa, trai o Pataca e foge com outro para Portugal.
Chiquinha - casa-se com Leonardo Pataca. É filha da Comadre.
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TRECHOS DA OBRA
Capítulo I da primeira parte. Nascimento de Leonardo.
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamavase nesse tempo-O canto dos meirinhos-; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos
os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que
a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam
um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era
entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocandose, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e
finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
(...)
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém
do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos
empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o
quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. O Leonardo,
fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo,
estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado
sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como
envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era
isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer
passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia
seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês
manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável
menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que
nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que
mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
Capítulo III da primeira parte - Despedida às Travessuras
O Leonardo abandonara de uma vez para sempre a casa fatal onde tinha sofrido tamanha infelicidade; nem
mesmo passara mais por aquelas alturas; de maneira que o compadre por muito tempo não lhe pôde pôr a vista em
cima.
O pequeno, enquanto se achou novato em casa do padrinho, portou-se com toda a sisudez e gravidade; apenas
porém foi tomando mais familiaridade, começou a pôr as manguinhas de fora. Apesar disto porém captou do padrinho
maior afeição, que se foi aumentando de dia em dia, e que em breve chegou ao extremo da amizade cega e apaixonada.
Até nas próprias travessuras do menino, as mais das vezes malignas, achava o bom do homem muita graça; não havia
para ele em todo o bairro rapazinho mais bonito, e não se fartava de contar à vizinhança tudo o que ele dizia e fazia;
às vezes eram verdadeiras ações de menino malcriado, que ele achava cheio de espírito e de viveza; outras vezes eram
ditos que denotavam já muita velhacaria para aquela idade, e que ele julgava os mais ingênuos do mundo.
Era isto natural em um homem de uma vida como a sua; tinha já 50 e tantos anos, nunca tinha tido afeições;
passara sempre só, isolado; era verdadeiro partidário do mais decidido celibato. Assim à primeira afeição que fora
levado a contrair sua alma expandiu-se toda inteira, e seu amor pelo pequeno subiu ao grau de rematada cegueira. Este,
aproveitando-se da imunidade em que se achava por tal motivo, fazia tudo quanto lhe vinha à cabeça.
Umas vezes sentado na loja divertia-se em fazer caretas aos fregueses quando estes se estavam barbeando. Uns
enfureciam-se, outros riam sem querer; do que resultava que saíam muitas vezes com a cara cortada, com grande prazer
do menino e descrédito do padrinho. Outras vezes escondia em algum canto a mais afiada navalha do padrinho, e o
freguês levava por muito tempo com a cara cheia de sabão mordendo-se de impaciência enquanto este a procurava; ele
ria-se furtiva e malignamente. Não parava em casa coisa alguma por muito tempo inteira; fazia andar tudo numa poeira;
pelos quintais atirava pedras aos telhados dos vizinhos; sentado à porta da rua, entendia com quem passava e com quem
estava pelas janelas, de maneira que ninguém por ali gostava dele. O padrinho porém não se dava disto, e continuava
a querer-lhe sempre muito bem. Gastava às vezes as noites em fazer castelos no ar a seu respeito; sonhava-lhe uma
grande fortuna e uma elevada posição, e tratava de estudar os meios que o levassem a esse fim. Eis aqui pouco mais ou
menos o fio dos seus raciocínios. Pelo ofício do pai... (pensava ele) ganha-se, é verdade, dinheiro quando se tem jeito,
porém sempre se há de dizer: — ora, é um meirinho!... Nada... por este lado não... Pelo meu ofício... verdade é que eu
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arranjei-me (há neste arranjei-me uma história que havemos de contar), porém não o quero fazer escravo dos quatro
vinténs dos fregueses... Seria talvez bom mandá-lo ao estudo... porém para que diabo serve o estudo? Verdade é que ele
parece ter boa memória, e eu podia mais para diante mandá-lo a Coimbra... Sim, é verdade... eu tenho aquelas patacas;
estou já velho, não tenho filhos nem outros parentes... mas também que diabo se fará ele em Coimbra? licenciado não:
é mau ofício; letrado? era bom... sim, letrado... mas não; não, tenho zanga a quem me lida com papéis e demandas...
Clérigo?... um senhor clérigo é muito bom... é uma coisa muito séria... ganha-se muito... pode vir um dia a ser cura.
Está dito, há de ser clérigo... ora, se há de ser: hei de ter ainda o gostinho de o ver dizer missa... de o ver pregar na Sé,
e então hei de mostrar a toda esta gentalha aqui da vizinhança que não gosta dele que eu tinha muita razão em lhe
querer bem. Ele está ainda muito pequeno, mas vou tratar de o ir desasnando aqui mesmo em casa, e quando tiver 12
ou 14 anos há de me entrar para a escola.
Capítulo XII da primeira parte - Entrada para a Escola
É mister agora passar em silêncio sobre alguns anos da vida do nosso memorando para não cansar o leitor
repetindo a história de mil travessuras de menino no gênero das que já se conhecem; foram diabruras de todo o tamanho
que exasperaram a vizinha, desgostaram a comadre, mas que não alteraram em coisa alguma a amizade do barbeiro
pelo afilhado: cada vez esta aumentava, se era possível, tornava-se mais cega. Com ele cresciam as esperanças do belo
futuro com que o compadre sonhava para o pequeno, e tanto mais que durante este tempo fizera este alguns progressos:
lia soletrado sofrivelmente, e por inaudito triunfo da paciência do compadre aprendera a ajudar missa. A primeira vez
que ele conseguiu praticar com decência e exatidão semelhante ato, o padrinho exultou; foi um dia de orgulho e de
prazer: era o primeiro passo no caminho para que ele o destinava.
— E dizem que não tem jeito para padre, pensou consigo; ora acertei o alvo, dei-lhe com a balda. Ele nasceu
mesmo para aquilo, há de ser um clérigo de truz. Vou tratar de metê-lo na escola, e depois... toca.
Com efeito foi cuidar nisso e falar ao mestre para receber o pequeno; morava este em uma casa da rua da Vala,
pequena e escura.
Foi o barbeiro recebido na sala, que era mobiliada por quatro ou cinco longos bancos de pinho sujos já pelo
uso, uma mesa pequena que pertencia ao mestre, e outra maior onde escreviam os discípulos, toda cheia de pequenos
buracos para os tinteiros; nas paredes e no teto havia penduradas uma porção enorme de gaiolas de todos os tamanhos
e feitios, dentro das quais pulavam e cantavam passarinhos de diversas qualidades: era a paixão predileta do pedagogo.
Era este um homem todo em proporções infinitesimais, baixinho, magrinho, de carinha estreita e chupada,
excessivamente calvo; usava de óculos, tinha pretensões de latinista, e dava bolos nos discípulos por dá cá aquela palha.
Por isso era um dos mais acreditados da cidade. O barbeiro entrou acompanhado pelo afilhado, que ficou um pouco
escabriado à vista do aspecto da escola, que nunca tinha imaginado. Era em um sábado; os bancos estavam cheios de
meninos, vestidos quase todos de jaqueta ou robissões de lila, calças de brim escuro e uma enorme pasta de couro ou
papelão pendurada por um cordel a tiracolo: chegaram os dois exatamente na hora da tabuada cantada. Era uma
espécie de ladainha de números que se usava então nos colégios, cantada todos os sábados em uma espécie de cantochão
monótono e insuportável, mas de que os meninos gostavam muito.
Capítulo IX da primeira parte- José Manuel Triunfa
A comadre correra toda a cidade, e em parte alguma encontrara o Leonardo; enquanto cansava-se assim a
procurá-lo, estava ele tranquilo e descansado mirando-se nos olhos de Vidinha, regalando-se a ouvir modinhas, como
sabem os leitores, sem se lembrar do que ia pelo mundo.
A pobre mulher, depois de muito cansada, foi ter à casa de D. Maria. Era já noite fechada. Quando ela entrava
saía o mestre-de-reza que acabava de dar a sua lição às crias de casa. A comadre há algum tempo que andava
desconfiada do mestre-de-reza; combinando o que por aí se dizia do seu crédito com certas coisas que tivera ocasião
de presenciar, estava quase a concluir que era ele emissário de José Manuel junto à corte de D. Maria. Não gostou
portanto do encontro, e doeu-lhe o cabelo vê-lo sair àquela hora, pois que de ordinário as lições não se demoravam até
tão tarde; e para metê-lo à bulha disse-lhe:
— A lição hoje foi comprida, devoto... as raparigas parece que gostam mais da cambetice do que da reza.
— Não, respondeu o velho com sua voz fanhosa, elas não vão mal, empacam em alguns lugares, mas sempre
vão indo; bem sabe também que sempre trago comigo o santo remédio.
E afagou o cabo da palmatória com que sempre andava armado.
— Ah! então esteve o devoto de conversa; gosta também de dar à língua...
— Não desgosto; mas também não digo senão aquilo que sei, isto é, aquilo que ouço; os outros gastam o seu
tempo a ver e a ouvir; eu, como não posso senão ouvir, emprego a falar o que os mais empregam a ver; falo, e falo
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muito; mas que quer se me sobra tempo para isso; e demais, bem sabe que não é trabalho que canse. Meus pais eram
Algarves, e eu não quero desmentir a minha paternidade.
— Então já sei que hoje desenterraram-se mortos e enterraram-se vivos; pois eu não posso fazer outro tanto,
porque vou aqui muito e muito zangada de minha vida. Se o devoto, como é homem que muito gira por toda esta cidade,
souber por aí notícias de meu afilhado Leonardo, queira vir dar-me parte, pois saiu-nos ele hoje de casa lá por causa
de umas histórias, e não sei por onde andará dando com os ossos.
— Ora, isto fica por minha conta; não há nada mais fácil do que dar com ele.
Final do capítulo XXV da segunda parte. Final feliz para o protagonista.
A dificuldade, porém, estava ainda em arranjar-se essa baixa e essa passagem: Luisinha encarregou-se de
vencer esse embaraço.
Um dia em que estava sua tia a rezar no seu rosário, justamente num daqueles intervalos de padre-nosso a avemaria de que acima falamos, Luisinha chegou a ela, e comunicou-lhe com confiança tudo que havia, fazendo preceder
sua narração da seguinte declaração, que cortava a questão pela raiz:
— Para lhe obedecer e fazer-lhe o gosto casei-me uma vez, e não fui feliz; quero ver agora se acerto melhor,
fazendo por mim mesma nova escolha.
Em breve, porém, conheceu que fora inútil sua precaução, porque D. Maria confessou que de há muito ruminava
aquele mesmo plano.
Combinaram-se pois as duas.
A bondade do major inspirava-lhes muita confiança, e lembraram-se por isso de recorrer a ele de novo.
Foram ter com Maria-Regalada, que mesmo na véspera lhes tinha mandado dar parte que se mudara da
Prainha, e oferecia-lhes sua nova morada.
A comadre, de tudo inteirada, fez parte da comissão.
Quando entraram em casa de Maria-Regalada, a primeira pessoa que lhes apareceu foi o major Vidigal, e, o
que é mais, o major Vidigal, em hábitos menores, de rodaque e tamancos.
— Ah! disse a comadre em tom malicioso, apenas apareceu a Maria-Regalada, pelo que vejo isto por aqui vai
bem...
— Não se lembra, respondeu Maria-Regalada, daquele segredo com que obtive o perdão do moço? Pois era
isto!...
A Maria-Regalada tinha por muito tempo resistido aos desejos ardentes que nutria o major de que ela viesse
definitivamente morar em sua companhia. Não atribuímos esta resistência senão a capricho, para não fazermos mau
juízo de ninguém; o caso é que o major punha naquilo o maior empenho; teria lá suas razões.
O segredo que a Maria-Regalada dissera ao ouvido do major no dia em que fora, acompanhada por D. Maria
e a comadre, pedir pelo Leonardo, foi a promessa de que, se fosse servida, cumpriria o gosto do major.
Está pois explicada a benevolência deste para com o Leonardo, que fora ao ponto de, não só disfarçar e obter
perdão de todas as suas faltas, como de alcançar-lhe aquele rápido acesso de posto.
Fica também explicada a presença do major em casa da Maria-Regalada.
Depois disto entraram todos em conferência. O major desta vez achou o pedido muito justo, em conseqüência
do fim que se tinha em vista. Com a sua influência tudo alcançou; e em uma semana entregou ao Leonardo dois papéis:um era a sua baixa de tropa de linha; outro, sua nomeação de sargento de milícias.
Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta de seu pai, na qual o chamava para fazer-lhe entrega do
que lhe deixara seu padrinho, que se achava religiosamente intacto.
Passado o tempo indispensável do luto, o Leonardo, em uniforme de sargento de milícias, recebeu-se na Sé com
Luisinha, assistindo à cerimônia a família em peso.
Daqui em diante aparece o reverso da medalha. Seguiu-se a morte de D. Maria, a do Leonardo-Pataca, e uma
enfiada de acontecimentos tristes que pouparemos aos leitores, fazendo aqui ponto-final.
EXERCÍCIOS
1. (Fuvest) Todo o barbeiro é tagarela, e principalmente quando tem pouco que fazer; começou portanto a puxar
conversa com o freguês. Foi a sua salvação e fortuna. O navio a que o marujo pertencia viajava para a Costa e ocupavase no comércio de negros; era um dos combóis que traziam fornecimento para o Valongo, e estava pronto a largar.
— Ó mestre! disse o marujo no meio da conversa, você também não é sangrador?
— Sim, eu também sangro...
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— Pois olhe, você estava bem bom, se quisesse ir conosco... para curar a gente a bordo; morre-se ali que é uma
praga.
— Homem, eu da cirurgia não entendo muito...
— Pois já não disse que sabe também sangrar?
— Sim...
— Então já sabe até demais.
No dia seguinte saiu o nosso homem pela barra fora: a fortuna tinha-lhe dado o meio, cumpria sabê-lo
aproveitar; de oficial de barbeiro dava um salto mortal a médico de navio negreiro; restava unicamente saber fazer
render a nova posição. Isso ficou por sua conta.
Por um feliz acaso logo nos primeiros dias de viagem adoeceram dois marinheiros; chamou-se o médico; ele
fez tudo o que sabia... sangrou os doentes, e em pouco tempo estavam bons, perfeitos. Com isto ganhou imensa
reputação, e começou a ser estimado.
Chegaram com feliz viagem ao seu destino; tomaram o seu carregamento de gente, e voltaram para o Rio.
Graças à lanceta do nosso homem, nem um só negro morreu, o que muito contribuiu para aumentar-lhe a sólida
reputação de entendedor do riscado.
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.)
Neste trecho, em que narra uma cena relacionada ao tráfico de escravos, o narrador não emite julgamento direto
sobre essa prática. Ao adotar tal procedimento, o narrador
A) revela-se cúmplice do mercado negreiro, pois fica subentendido que o considera justo e irrepreensível.
B) antecipa os métodos do Realismo-Naturalismo, o qual, em nome da objetividade, também abolirá os julgamentos de
ordem social, política e moral.
C) prefigura a poesia abolicionista de Castro Alves, que irá empregá-lo para melhor expor à execração pública o horror
da escravidão.
D) contribui para que se constitua a atmosfera de ausência de culpa que caracteriza a obra.
E) mostra-se consciente de que a responsabilidade pelo comércio de escravos cabia, principalmente, aos próprios
africanos, e não ao tráfico negreiro.
2- (Fuvest) Assim como faz o barbeiro, nesse trecho de Memórias de um sargento de milícias, também a personagem
José Dias, de Dom Casmurro, irá se passar por médico (homeopata), para obter meios de subsistência. Essa correlação
indica que
I. estamos diante de uma linha de continuidade temática entre o romance de Manuel Antônio de Almeida e o romance
machadiano da maturidade.
II. agregados transgrediam com bastante desenvoltura princípios morais básicos, razão pela qual eram proibidos de
conviver com a rígida família patriarcal do Império.
III. os protagonistas desses romances decalcam um mesmo modelo literário: o do pícaro, herói do romance picaresco
espanhol.
Está correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
3- (UFG) Leonardo Pataca, personagem de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, migra
voluntariamente de Portugal para o Brasil, fato comum na primeira metade do século XVIII. As consequências desse
movimento migratório, no início da estada dessa personagem no novo país, refletem-se na relação entre nação e
população, pois Pataca
A) torna-se meirinho por meio de apadrinhamento.
B) destaca-se no trabalho pela rabugice excessiva.
C) sofre com a opinião pública pelo caso com a cigana.
D) envolve a vizinhança na punição à traição de Maria.
E) tenta conservar os costumes portugueses no Brasil.
4 - (UFG) Memórias de um sargento de milícias é um romance cuja narrativa se refere ao início do “tempo do rei”, quer
dizer, o período joanino. No entanto, o romance foi escrito e publicado durante a fase final desse tempo, ou seja, durante
o 2º Reinado. Por isso, Memórias de um sargento de milícias contém elementos de uma sociedade
A) marcada pelos princípios republicanos.
B) organizada nas bases do mercantilismo.
C) focada nas relações de formação da burguesia.
D) formada pelos fundamentos do nacionalismo.
E) caracterizada pelos valores do bonselvagerismo.
5- (UFG) Leia o seguinte trecho do romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
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Cumpre-nos agora dizer alguma coisa a respeito de uma personagem que representará no correr desta história
um importante papel, e que o leitor apenas conhece, porque nela tocamos de passagem no primeiro capítulo: é a
comadre, a parteira que, como dissemos, servira de madrinha ao nosso memorando.
No romance, a comadre é uma personagem que foge aos moldes românticos femininos por sua perspicácia e pela
prática de arranjos. O “papel” a que o narrador se refere, para o desfecho da narrativa, foi o fato de a comadre ter
A) livrado Leonardo Pataca da cadeia, após o episódio da feitiçaria.
B) planejado uma vida de artista para o afilhado Leonardo na Conceição.
C) arranjado a união de sua sobrinha Chiquinha com Leonardo Pataca.
D) tramado contra o pretendente de Luisinha, José Manuel, diante de D. Maria.
E) conseguido o perdão do afilhado junto a Vidigal com o apoio da chantagem de Maria-Regalada.
6- (UFPR) Considerando as personagens de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida,
identifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou falsas (F):
( ) Além do costume das lágrimas intempestivas, tinha Vidinha um outro, o de começar sempre tudo que tinha a dizer
por um “pois então“ muito acentuado.
( ) Era a Comadre uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona, ingênua ou tola até um certo ponto, e finória
até outro; vivia do ofício de alcoviteira, que adotara por curiosidade; todos a conheciam por muito cética e por repudiar
as missas da cidade.
( ) D. Maria tinha bom coração, era benfazeja, devota e amiga dos pobres, porém em compensação dessas virtudes tinha
um dos piores vícios daquele tempo e daqueles costumes: era a mania das demandas.
( ) Além da qualidade de maldizente, José Manuel mentia com um descaro como raras vezes se encontra. Uma de suas
histórias mais comuns era a que ele intitulava “O naufrágio dos potes”.
( ) A justiça do Major Vidigal era infalível: não havia apelação das sentenças que dava, fazia o que queria e ninguém
lhe tomava contas.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.
a) F – F – V – V – V. b) V – F – F – V – V. c) V – V – F – F – F. d) V – F – V – V – F. e) F – V – V – F – F.
7 - (UFRGS) Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as seguintes afirmações, sobre Memórias de um Sargento
de Milícias, de Manuel Antônio de Almeira.
( ) Leonardo Pataca é o pai de um jovem indisciplinado, mas generoso, cujas aventuras e desacertos compõem a maior
parte do romance.
( ) A narrativa é marcada pelo humor com que são caracterizados os personagens que percorrem as ruas do Rio de
Janeiro.
( ) O romance expõe o tratamento que era dispensado aos escravos no século XIX e propõe o fim do tráfico escravista.
( ) Vidigal tem a tarefa de manter o respeito à ordem no romance, mas não apela pra violência física e faz uso do diálogo
e do convencimento.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
A) V – F – F – F.
B) F – V – V – F.
C) V – V – F – V.
D) F – F – V – V.
E) V – V – F – F.
8 - (UFT) Vidinha era uma rapariga que tinha tanto de bonita como de movediça e leve; um soprozinho, por brando que
fosse, a fazia voar, outro de igual natureza a fazia revoar, e voava e revoava na direção de quantos sopros por ela
passassem; isso quer dizer em linguagem chã e despida dos trejeitos da retórica, que ela era uma formidável
namoradeira, como hoje se diz, para não dizer lambeta, como se dizia naquele tempo. Portanto não foram de modo
algum mal recebidas as primeiras finezas do Leonardo, que dessa vez se tornou muito mais desembaraçado, quer porque
já o negócio com Luisinha o tivesse desasnado, quer porque agora fosse a paixão mais forte, embora essa última hipótese
vá de encontro à opinião dos ultrarromânticos, que põem todos os bofes pela boca pelo tal primeiro amor: no exemplo
que nos dá o Leonardo, aprendam o quanto ele tem de duradouro.
(...)
Um dia finalmente desandou em descompostura cerrada, em ameaças do tamanho da Torre de Babel, e foi causa
disto ter um dos primos pilhado o feliz Leonardo em flagrante gozo de uma primícia amorosa, um abraço que no quintal
trocava ele com Vidinha.
- Aí está, minha tia - dissera enfurecido o rapaz dirigindo-se à mãe de Vidinha -; aí está o lucro que se tira de
meter-se para dentro de casa pernas que não pertence à família...
Manuel Antônio de Almeida. Memórias de um
Sargento de Milícias.
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Considerando o fragmento de texto, assinale a alternativa INCORRETA:
A) De acordo com o exposto no fragmento, nota-se que o sentimento que Leonardo nutre por Vidinha distancia-se da
ideia de amor do período romântico.
B) O fragmento tematiza o amor do período romântico e exalta a beleza e a lealdade de Vidinha.
C) No fragmento, os fatos retratados descrevem cenas do entorno familiar de Vidinha e da convivência desta com
Leonardo.
D) Pelas informações presentes no fragmento, percebe-se que Vidinha se distancia do modelo de heroína romântica.
E) De acordo com o exposto no fragmento, Leonardo é um personagem que foge aos moldes do período romântico.
9 - (UFT) A Maria-Regalada tinha por muito tempo resistido aos desejos ardentes que nutria o major de que ela viesse
definitivamente morar em sua companhia. Não atribuímos esta resistência senão a capricho, para não fazermos mau
juízo de ninguém; o caso é que o major punha naquilo o maior empenho; teria lá suas razões.
O segredo que a Maria-Regalada dissera ao ouvido do major no dia em que fora, acompanhada por D. Maria
e a comadre, pedir pelo Leonardo, foi a promessa de que, se fosse servida, cumpriria o gosto do major.
Está pois explicada a benevolência deste para com o Leonardo, que fora ao ponto de, não só disfarçar e obter
perdão de todas as suas faltas como de alcançar-lhe aquele rápido acesso de posto. Manuel Antônio de Almeida.
Memórias de um Sargento de Milícias.
O fragmento acima revela como Leonardo conseguiu um posto nas milícias. Analise as assertivas a seguir:
I. A promoção foi conseguida porque Leonardo, de fato, demonstrou ter capacidade para exercer o cargo.
II. Na situação apresentada no fragmento, os interesses pessoais se sobressaíram aos interesses públicos.
III. De acordo com o fragmento, Memórias de um Sargento de Milícias retrata a corrupção da sociedade nordestina,
sendo uma obra representativa do Modernismo de 30.
IV. O fragmento apresenta a personagem feminina Maria-Regalada como precursora das musas parnasianas e
simbolistas.
Considerando-se as assertivas apresentadas, marque a alternativa CORRETA:
A) Todas as alternativas estão corretas. B) Apenas a alternativa I está correta. C) Apenas a alternativa II está correta.
D) Apenas a alternativa III está correta. E) Apenas a alternativa IV está correta.
10 - (UFT) Leia os fragmentos de texto e responda à questão a seguir:
Fragmento de texto 1
– Nunca pensei – interrompeu Chiquinha dirigindo-se ao Leonardo-Pataca, querendo afear mais o caso – ,
nunca pensei que na sua companhia se viesse a sofrer semelhante coisa...
– Não faça caso, menina, isto é um pedaço de mariola a quem hei de ensinar; por causa de ninguém dou-lhe eu
uma rodada, se não por tua causa...
– Por causa dela!... – atalhou o rapaz –; tinha que ver! Há de lhe dar bom pago; tão bom como a cigana...
– Mas nunca lhe hei de dar – acudiu Chiquinha enfurecida com este insulto –; nunca lhe hei de dar o que lhe
deu tua mãe...
Com isso Leonardo-Pataca desacoroçoou completamente; que dilúvio de amargas recordações não fizeram tão
poucas palavras cair sobre sua cabeça!
– Espera maltrapilho, espera que te ensino...
E entrando repentinamente no quarto da sala, saiu de lá armado com o espadim do uniforme, e investiu para o
filho. Convém dizer que o espadim ia embainhado.
Fragmento de texto 2
Se Leonardo não tivesse fugido, e arranjasse depois a soltura por qualquer meio, o Vidigal era até capaz, por
fim das contas, de ser seu amigo; mas tendo-o deixado mal, tinha-o por inimigo irreconciliável enquanto não lhe desse
desforra completa.
Já se vê que as fortunas do Leonardo redundavam-lhe sempre em mal; era realmente um mal naquele tempo ter
por inimigo o Major Vidigal, principalmente quando se tinha, como o Leornardo, uma vida tão regular e tão lícita (... )
Fragmento de texto 3
Um dia o toma-largura tinha saído em serviço; ninguém esperava por ele tão cedo: eram onze horas da manhã.
O Leonardo, por um daqueles milhares de escaminhos que existem na Ucharia, tinha ido ter à casa do toma-largura.
Ninguém porém pense que era para maus fins. Pelo contrário, era para o fim muito louvável de levar à pobre moça uma
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tigela de caldo que há pouco fora mandado a el-rei... obséquio de empregado da Ucharia. Não há aqui nada de
censurável. Seria entretanto muito digno de censura de quem recebia tal obséquio não o procurasse pagar com um
extremo de civilidade: a moça convidou pois ao Leonardo para ajudá-la a tomar o caldo. E que grosseiro seria ele se
não aceitasse tão belo oferecimento? Aceitou.
De repente sente-se abrir uma porta: a moça, que tinha na mão a tigela, estremece, e o caldo entorna-se.
O toma-largura, que acabava de chegar inesperadamente, fora a causa de tudo isso. O Leonardo correu
precipitadamente pelo caminho mais curto que encontrou; sem dúvida em busca de outro caldo, uma vez que o primeiro
se tinha entornado. O toma-largura corre-lhe também ao alcance, sem dúvida para pedir-lhe que trouxesse desta vez
quantidade que chegasse para um terceiro.
Dos fragmentos de texto de Memórias de um Sargento de Milícias, transcritos, pode-se inferir que:
I. De acordo com o fragmento 1, Chiquinha, a amante de Leonardo-Pataca, era geniosa e não perdia ocasião para
fustigar Leonardinho com constantes brigas.
II. De acordo com o fragmento 1, Chiquinha se queixa a Leonardo-Pataca do comportamento de Leonardo, e
este toma as dores de Chiquinha e volta-se contra o filho.
III. Nos episódios descritos nos fragmentos 2 e 3 percebe-se um forte teor de ironia e humor na exposição dos
fatos, característica marcante do romance de Manuel Antônio de Almeida.
IV. Pela leitura dos fragmentos 1, 2 e 3 depreende-se que não se pode falar em ironia e humor como característica
marcante do romance de Manuel Antônio de Almeida.
Assinale a alternativa CORRETA.
A) Apenas I, II e IV estão corretas.
B) Apenas I, II e III estão corretas.
C) Apenas II, III, IV estão corretas.
D) Nenhuma está correta.
E) Todas estão corretas.
11- (Fuvest) Os momentos históricos em que se desenvolvem os enredos de Viagens na minha terra, Memórias de um
sargento de milícias e Memórias póstumas de Brás Cubas (quanto a este último, em particular no que se refere à primeira
juventude do narrador) são, todos, determinados de modo decisivo por um antecedente histórico comum – menos ou
mais imediato, conforme o caso. Trata-se da
a) invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas.
b) turbulência social causada pelas revoltas regenciais.
c) volta de D. Pedro I a Portugal.
d) proclamação da independência do Brasil.
e) antecipação da maioridade de D. Pedro II.
12. (Fuvest) Examine as seguintes afirmações relativas a romances brasileiros do século XIX, nos quais a escravidão
aparece e, em seguida, considere os três livros citados:
I. Tão impregnado mostrava-se o Brasil de escravidão, que até o movimento abolicionista pode servir, a ela, de
fachada.
II. De modo flagrante, mas sem julgamentos morais ou ênfase especial, indica-se a prática rotineira do tráfico
transoceânico de escravos.
III. De modo tão pontual quanto incisivo, expõe-se o vínculo entre escravidão e prática de tortura física.
A. Memórias de um sargento de milícias;
B. Memórias póstumas de Brás Cubas;
C. O cortiço.
As afirmações I, II e III relacionam-se, de modo mais direto, respectivamente, com os romances
a) B, A, C.
b) C, A, B.
c) A, C, B.
d) B, C, A.
e) A, B, C.
13. (Ita) As personagens desta obra, que anunciam um movimento literário posterior, são quase caricaturas de tipos do
estrato socioeconômico médio da sociedade da época – o mestre de rezas, a cigana, o barbeiro, dentre outras. Elas agem
conforme as necessidades de sobrevivência, sem moralismos ou escrúpulos. As personagens, de certa forma, representam
aspectos da cultura brasileira, entre os quais se destaca o “jeitinho brasileiro”. Trata-se de:
a) O cortiço, de Aluísio Azevedo.
b) O Ateneu, de Raul Pompéia.
c) Macunaíma, de Mário de Andrade.
d) Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
e) Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade.
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14. (Ufsc) Este último passo acabou de desorientar completamente o Leonardo: ainda bem não tinham expirado as
últimas notas do canto, e já, passando-lhe rápido pela mente um turbilhão de ideias, admirava-se ele de como é que
havia podido inclinar-se por um só instante a Luisinha, menina sensaborona e esquisita, quando haviam no mundo
mulheres como Vidinha.
Decididamente estava apaixonado por esta última.
O leitor não se deve admirar disto, pois não temos cessado de repetir-lhe que o Leonardo herdara de seu pai
aquela grande cópia de fluido amoroso que era a sua principal característica. Com esta herança parece porém que
tinha ele tido também uma outra, e era 1a de lhe sobrevir sempre uma contrariedade em casos semelhantes. 2José
Manuel fora a primeira; vejamos agora qual era, ou antes quem era a segunda.
Se o leitor pensou no que há pouco dissemos, isto é, que naquela família haviam três primos e três primas, e se
agora acrescentarmos que moravam todos juntos, deve ter cismado alguma coisa a respeito. Três primos e três primas,
morando na mesma casa, todos moços... não há nada mais natural; um primo para cada prima, e está tudo arranjado.
Cumpre porém ainda observar que o amigo do Leonardo tomara conta de uma das primas, e que deste modo vinha a
haver três primos para duas primas, isto é, o excesso de um primo. À vista disto o negócio já se torna mais complicado.
Pois para encurtar razão, saiba-se que haviam dois primos pretendentes a uma só prima, e essa era Vidinha, a mais
bonita de todas; saiba-se mais que um era atendido e outro desprezado: logo, o amigo Leonardo terá desta vez de lutar
com duas contrariedades em vez de uma.
ALMEIDA, M. A. Memórias de um sargento de milícias. 24. ed. São Paulo:
Ática, 1995. p. 101-102.
Com base no texto, na leitura do romance Memórias de um sargento de milícias e no contexto do Romantismo
brasileiro, marque a(s) proposição(ões) CORRETA(S).
01) Da mesma forma que em outros romances românticos, temos em Memórias de um sargento de milícias a figura do
herói idealizado, apresentado como um homem puro, corajoso e de princípios morais elevados.
02) Uma importante característica romântica, o final feliz, não se verifica em Memórias de um sargento de milícias, uma
vez que Luisinha casa com José Manuel, e Leonardo acaba sozinho. Por outro lado, a história cumpre à risca o projeto
romântico no que diz respeito à crítica que faz à falsa moral da burguesia.
04) O texto sugere a inconstância dos amores de Leonardo apresentada ao longo do romance: o rapaz, que antes sofria
por amor a Luisinha, apaixona-se por Vidinha logo após conhecê-la. Pouco depois, tem um relacionamento com a amante
do Toma-largura. Por fim, casa-se com Luisinha.
08) Caso a oração reduzida de infinitivo “a de lhe sobrevir sempre uma contrariedade em casos semelhantes” (ref. 1)
fosse reescrita como uma oração desenvolvida, teríamos “a de que lhe sobrevinha sempre uma contrariedade em casos
semelhantes”.
16) No trecho “José Manuel fora a primeira” (ref. 2), temos um desvio na concordância nominal, porque o adjetivo
primeira deveria estar no masculino, de forma a concordar com José Manuel.
15. (Fuvest 2015) Considerando-se o intervalo entre o contexto em que transcorre o enredo da obra Memórias de um
sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e a época de sua publicação, é correto afirmar que a esse período
corresponde o processo de
a) reforma e crise do Império Português na América.
b) triunfo de uma consciência nativista e nacionalista na colônia.
c) Independência do Brasil e formação de seu Estado nacional.
d) consolidação do Estado nacional e de crise do regime monárquico brasileiro.
e) Proclamação da República e instauração da Primeira República.
16. (Ufrgs 2015) Assinale a alternativa correta a respeito de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antonio
de Almeida.
a) Leonardinho é filho de agricultores portugueses, imigrantes que vieram para o Brasil junto com D. Manuel.
b) O compadre e a comadre representam o trabalhador da indústria que nascia na organização econômica brasileira.
c) A união entre o jovem Leonardo e Luisinha estabelece-se como marca romântica no romance, pois recupera o ideal
do amor juvenil coroado pelo casamento.
d) Leonardo é o típico herói romântico: sonhador e devotado à amada.
e) O romance não apresenta definição de coordenadas temporais e espaciais, pois sua ação pode ocorrer tanto no Rio de
Janeiro quanto em Salvador.
13
17- (UFG) Na obra Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, Luisinha e Vidinha são
personagens que revelam algumas manifestações do comportamento e do caráter das mulheres da sociedade fluminense
e do Brasil do século XIX. Considerando essa afirmação,
a) aponte duas características comportamentais que distinguem Luisinha e Vidinha;
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b) indique que tipo de relacionamento Leonardo estabelece com cada uma dessas personagens.
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18- (Unicamp) Leia os seguintes trechos de Memórias de um sargento de milícias e Vidas secas, que descrevem o estado
de ânimo das personagens ao final de uma festa:
Acabado o fogo, tudo se pôs em andamento, levantaram-se as esteiras, espalhou-se o povo. D. Maria e sua gente
puseram-se também em marcha para casa, guardando a mesma disposição com que tinham vindo. Desta vez porém
Luisinha e Leonardo, não é dizer que vieram de braço, como este último tinha querido quando foram para o Campo,
foram mais adiante do que isso, vieram de mãos dadas muito familiar e ingenuamente. Este ingenuamente não sabemos
se se poderá com razão aplicar ao Leonardo. Conversaram por todo o caminho como se fossem dois conhecidos muito
antigos, dois irmãos de infância, e tão distraídos iam que passaram à porta da casa sem parar, e já estavam muito
adiante quando os sios de D. Maria os fizeram voltar. A despedida foi alegre para todos e tristíssima para os dois.
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.)
Baleia cochilava, de quando em quando balançava a cabeça e franzia o focinho. A cidade se enchera de suores
que a desconcertavam.
Sinha Vitória enxergava, através das barracas, a cama de seu Tomás da bolandeira, uma cama de verdade.
Fabiano roncava de papo para cima, as abas do chapéu cobrindo-lhe os olhos, o quengo sobre as botinas de
vaqueta.
Sonhava, agoniado, e Baleia percebia nele um cheiro que o tornava irreconhecível. Fabiano se agitava,
soprando. Muitos soldados amarelos tinham aparecido, pisavam-lhe os pés com enormes reiunas e ameaçavam-no com
facões terríveis.
(Graciliano Ramos, Vidas secas)
a) Explique as diferenças do estado de ânimo das personagens ao final dos dois episódios.
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b) A partir dessa diferença, explique o significado que as duas festas têm em cada um dos romances.
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19- (Fuvest) Leia o excerto de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e responda ao que
se pede.
Caldo Entornado
14
A comadre, tendo deixado o major entregue à sua vergonha, dirigira-se imediatamente para a casa onde se
achava Leonardo para felicitá-lo e contar-lhe o desespero em que a sua fuga tinha posto o Vidigal. (...) A comadre,
segundo seu costume, aproveitou o ensejo, e depois que se aborreceu de falar no major desenrolou um sermão ao
Leonardo, (...). O tema do sermão foi a necessidade de buscar o Leonardo uma ocupação, de abandonar a vida que
levava, gostosa sim, porém sujeita a emergências tais como a que acabava de dar-se. A sanção de todas as leis que a
pregadora impunha ao seu ouvinte eram as garras do Vidigal.
Você concorda com as afirmações que seguem? Justifique suas respostas.
a) Vê-se, no excerto, que a comadre procura incutir em Leonardo princípios morais destinados a corrigir o
comportamento do afilhado.
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b) No sermão que prega a Leonardo, a comadre manifesta a convicção de que o trabalho é fator decisivo na formação da
personalidade de um jovem.
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20- (Unicamp) Os trechos a seguir foram extraídos de Memórias de um sargento de milícias e Vidas Secas.
O som daquela voz que dissera “abra a porta” lançara entre eles, como dissemos, o espanto e o medo. E não
foi sem razão; era ela o anúncio de um grande aperto, de que por certo não poderiam escapar. Nesse tempo ainda não
estava organizada a polícia da cidade, ou antes estava-o de um modo em harmonia com as tendências e ideias da época.
O major Vidigal era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo o que dizia respeito a esse ramo de administração; era o
juiz que julgava e distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que dava caça aos criminosos; nas causas da sua
imensa alçada não haviam testemunhas, nem provas, nem razões, nem processo; ele resumia tudo em si; a sua justiça
era infalível; não havia apelação das sentenças que dava, fazia o que queria, ninguém lhe tomava contas. Exercia enfim
uma espécie de inquirição policial. Entretanto, façamos-lhe justiça, dados os descontos necessários às ideias do tempo,
em verdade não abusava ele muito de seu poder, e o empregava em certos casos muito bem empregado. (ALMEIDA,
Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias)
Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no ombro de Fabiano:
– Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro?
Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras de seu Tomás da bolandeira:
– Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme.
Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido.
Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava pouco e obedecia.
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas)
a) Que semelhanças e diferenças podem ser apontadas entre o Major Vidigal, de Memórias de um sargento de milícias,
e o soldado amarelo, de Vidas secas?
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b) Como essas semelhanças e diferenças se relacionam com as características de cada uma das obras?
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21- (Unicamp) Em uma passagem célebre de Memórias de um sargento de milícias, pode-se ler, a respeito da personagem
de Leonardo Pataca, que “o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo”.
a) De que maneira a passagem acima explicita o lugar peculiar ocupado pelo livro de Manuel Antônio de Almeida no
Romantismo brasileiro?
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b) Como essa peculiaridade do livro se manifesta, de maneira geral, na caracterização das personagens e na construção
do enredo?
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22. (Unicamp) O excerto a seguir é o trecho final de Memórias de um sargento de milícias.
O segredo que a Maria-Regalada dissera ao ouvido do major no dia em que fora, acompanhada por D. Maria
e a comadre, pedir pelo Leonardo, foi a promessa de que, se fosse servida, cumpriria o gosto do major.
Está pois explicada a benevolência deste para com o Leonardo, que fora ao ponto de não só disfarçar e obter
perdão de todas as suas faltas, como de alcançar-lhe aquele rápido acesso de posto.
Fica também explicada a presença do major em casa da Maria-Regalada.
Depois disto entraram todos em conferência. O major desta vez achou o pedido muito justo, em consequência
do fim que se tinha em vista. Com a sua influência tudo alcançou; e em uma semana entregou ao Leonardo dois papéis:
— um era a sua baixa de tropa de linha; outro, sua nomeação de Sargento de Milícias.
Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta de seu pai, na qual o chamava para fazer-lhe entrega do
que lhe deixara seu padrinho, que se achava religiosamente intacto.
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Passado o tempo indispensável do luto, o Leonardo, em uniforme de Sargento de Milícias, recebeu-se na Sé com
Luizinha, assistindo à cerimônia a família em peso.
(Manuel Antonio de Almeida, Memórias de Um Sargento de Milícias.
Cotia: Ateliê Ed., 2000)
a) Que diferença significativa pode ser estabelecida entre a condição inicial do herói do romance e sua condição final,
reproduzida no trecho acima?
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b) Essa condição foi alcançada por mérito de Leonardo? Justifique.
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23. (Fuvest 2015) A uma religiosidade de superfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias do que ao colorido
e à pompa exterior, quase carnal em seu apego ao concreto (...); transigente e, por isso mesmo, pronta a acordos,
ninguém pediria, certamente, que se elevasse a produzir qualquer moral social poderosa. Religiosidade que se perdia e
se confundia num mundo sem forma e que, por isso mesmo, não tinha forças para lhe impor sua ordem. Sérgio Buarque
de Holanda, Raízes do Brasil. Adaptado.
Tendo em vista estas reflexões de Sérgio Buarque de Holanda a respeito do sentido da religião na formação do
Brasil, responda ao que se pede.
a) Essas reflexões se aplicam à sociedade representada nas Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de
Almeida? Justifique resumidamente.
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b) Os juízos aqui expressos por Sérgio Buarque de Holanda encontram exemplificação em Memórias póstumas de Brás
Cubas, de Machado de Assis, especialmente na parte em que se narra o período de formação do menino Brás Cubas?
Justifique sucintamente.
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GABARITO
1- D
2- A
3-E
4- C
5-E
6-A
7-E
8-B
9-C
10-B
11- A Os momentos históricos em que se desenvolvem os enredos de “Viagens na minha terra”, “Memórias de um sargento de
milícias” e “Memórias póstumas de Brás Cubas” estão relacionados com a invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas. No
primeiro, exibem-se os conflitos de uma sociedade em crise que se dividia entre o absolutismo de teor nacionalista e o liberalismo,
associado por muitos ao país invasor e por isso considerado antinacionalista. Em “Memórias de um sargento de milícias”, relatamse os costumes do Rio Colonial na época de D. João VI, momento em que a corte real portuguesa se refugiou no Brasil para evitar a
rendição às tropas francesas. Em “Memórias póstumas de Brás Cubas”, o narrador relata que, durante a sua infância, eram frequentes
debates familiares sobre o referido tema.
12-B
[I] Refere-se à obra O cortiço, na qual a personagem João Romão aproveita-se da escravizada fugida Bertoleza, e, após
valer-se dela, a denuncia para seus antigos senhores. Ao fim do romance, João Romão recebe um diploma de sócio benemérito dos
abolicionistas.
[II] Condiz com o que encontramos em Memórias de um Sargento de Milícias, na passagem em que é descrito fradinho
como um sangrador em um navio negreiro. O tráfico de escravos é considerado uma atividade rotineira, sem apresentar julgamentos
sobre a escravidão no Brasil.
[III] Identificamos a obra Memórias póstumas de Brás Cubas, na qual encontramos uma passagem que registra a violência
que o protagonista aplica no escravo da família. Mais tarde, essa violência é reproduzida por Prudêncio em seu próprio escravo.
13-D De acordo com alguns críticos literários, Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, por
algumas de suas características e pelo fato de apresentar pouquíssimos traços da escola literária de seu tempo, o Romantismo, anuncia
aspectos do Realismo. Seus personagens não são idealizados e chegam a representar caricaturas ou tipos sociais e agem mais pela
necessidade de sobrevivência do que por valores morais.
14- 04 + 08 = 12.
[01] Leonardo subverte o conceito de herói idealizado do Romantismo, configurando um personagem avesso a preceitos
éticos e morais, sempre interessado em usufruir de situações que lhe trouxessem prazer e diversão fáceis;
[02] no final, Leonardo casa com Luisinha que havia ficado viúva de José Manuel, tudo termina satisfatoriamente, gerando
o “final feliz” típico do Romantismo;
17
[16] não existe desvio de concordância nominal em “primeira”, pois o termo está relacionado com “contrariedade”.
Assim, 04 + 08 = 12.
15- C Memórias de um Sargento de Milícias inicia-se com a célebre colocação: “Era no tempo do Rei”; dessa forma, ao apresentar
o período joanino, percebe-se que o autor faz referência ao processo de Independência do Brasil. Já a publicação da obra se deu entre
1852 e 1853, momento de apogeu do Império brasileiro, cuja preocupação era modernizar o país – inclusive com a proibição do
tráfico negreiro – contribuindo para a formação do Estado nacional.
16- C [A] Incorreta. A mãe de Leonardinho, Maria das Hortaliças, era uma camponesa em Portugal, e dirigiu-se ao Brasil com a
ajuda do tenente-coronel, conforme Cap. X, “Explicações”, pois o filho deste a desvirginara. Não há, portanto, certeza de que
Leonardo Pataca seja o pai do protagonista. Além disso, o casal que se formou no navio não estava em companhia de D. Manuel.
[B] Incorreta. O compadre era barbeiro e a comadre era uma beata parteira.
[C] Correta. Quando jovens, Leonardinho e Luisinha iniciaram um relacionamento durante a festa do Espírito Santo; o que não
deu frutos. Anos depois, quando Luisinha se tornou viúva, ambos reatam o relacionamento e se casam.
[D] Incorreta. Leonardinho ficou consagrado na literatura brasileira como um malandro: suas ações o afastam do típico herói
romântico, inclusive quando deixou de lado o relacionamento com Luisinha, envolvendo-se com Vidinha.
[E] Incorreta. A primeira frase da narrativa (“Era no tempo do Rei”) situa a história no Rio de Janeiro joanino.
17a) Luisinha é uma moça submissa e paciente. Já Vidinha é uma mulher sensual e livre. OU Luisinha é uma moça tímida e
delicada, enquanto Vidinha é uma mulher sedutora e vingativa.
b) Com Luisinha, Leonardo demonstra sentimento amoroso e afetuoso, com intenções de casamento. Com Vidinha,
Leonardo tem um relacionamento sem compromisso, apenas prazeroso e passageiro. OU Com Luisinha, Leonardo se casa. Já com
Vidinha, ele tem um caso.
18- No romance de Manuel Antônio de Almeida, o momento alegre que vivem as personagens está em consonância com a alegria
geral que representava o reencontro amoroso dos protagonistas. Na festa descrita em Vidas secas, as personagens não estão em
consonância, pois em nenhum momento se afastam dos problemas que as ocupam obsessivamente durante todo o romance. Há uma
dissociação total entre o evento social e o estado de ânimo das personagens. Nas Memórias, a descrição de uma festa popular do
século XIX está de acordo com o caráter de romance romântico de costumes da obra. Em Vidas secas, a ênfase não é no caráter
tradicional dessa festa, e sim no deslocamento das personagens, que continuam à margem, de acordo com o caráter de crítica social
do romance.
19- Ambas as afirmações estão incorretas, pois o excerto evidencia que a comadre procura convencer Leonardo a arrumar um trabalho
não por isso ser essencial à formação de um jovem, mas porque uma ocupação o livraria da perseguição do major Vidigal, que se
voltava contra os vagabundos e malandros da cidade. Uma prova de que a comadre não procura incutir princípios morais para a
correção do comportamento de Leonardo é que ela o felicita por sua fuga e reconhece que a vida que ele levava era "gostosa". A
necessidade de mudar de estilo de vida advém de uma questão prática (a vida ser "sujeita a emergências") e não moral.
20- O candidato deve explicitar que o major Vidigal e o soldado amarelo se assemelham por representarem a autoridade, que eles
exercem com arbitrariedade. Quanto às diferenças, o candidato pode apontar, em primeiro lugar, a posição hierárquica de cada um:
o major é o representante supremo da lei, enquanto o soldado amarelo é apenas um membro subalterno da polícia. Este, no entanto,
se caracteriza por uma arbitrariedade escancarada e pela brutalidade com que trata os desvalidos diante da lei, ao passo que o major
Vidigal exerce a autoridade com uma bonomia paternalista. O candidato também deve indicar que tais diferenças se devem às
características específicas das obras: Memórias de um sargento de milícias autoridade arbitrária e as personagens vítimas da opressão
por ela exercida. é um romance de costumes do romantismo, que, fazendo uso do humor e da caricatura, conduz a um desfecho
conciliador, em que as faltas das personagens são contempladas com benevolência maliciosa; Vidas secas, por sua vez, é
representante do romance social da década de 1930, que contém uma denúncia da opressão, excluindo a possibilidade de conciliação.
21a) A forma irônica como o narrador se refere a Leonardo Pataca (“o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como
se dizia naquele tempo”) estabelece uma ruptura com as características do estilo romântico predominante na época da publicação dos
folhetins, que seriam reunidos mais tarde em livro sob o título “Memórias de um sargento de milícias”. O excesso de emotividade
típico do Romantismo é ridicularizado quando o narrador usa o termo “babão” para caracterizar a pessoa que se declara fortemente
apaixonada por outra. Desta forma, a obra apresenta elementos excêntricos ao painel literário do Romantismo brasileiro.
b) Muitas personagens são alegorias, representações simbólicas do tipo de gente da época, classe média-baixa que tenta
driblar as dificuldades de sobrevivência do dia a dia com pequenas contravenções morais e éticas, ao contrário do que acontece no
Romantismo convencional em que o protagonista é de origem social elevada e tem comportamento moral e ético irrepreensíveis. A
supressão de etapas narrativas, oscilação de foco narrativo, a presença de metalinguagem, o diálogo com o leitor e o uso de linguagem
objetiva de cunho jornalístico permitem classificar esta obra como uma novela de tom humorístico, crônica de costumes do Rio
Colonial, na época de D. João VI.
18
22a) Memórias de Um Sargento de Milícias é um livro que conta as aventuras de um anti-herói, porque não contém as
características do herói convencional. Leonardo é filho de dois portugueses de origem simples, que vieram tentar a vida no Brasil.
Quando criança foi uma verdadeira peste, levando os pais ao esgotamento por irritação. A mãe acaba fugindo com um amante, e o
menino acaba sendo criado pelo barbeiro e também pela comadre, que acaba cumprindo o papel de mãe. Não havia autoridade que
não desafiasse, Aliás, o que torna a narrativa bastante divertida é a propensão do “herói” em quebrar as regras.
No trecho acima, a despeito de seu passado arruaceiro, para ironia do destino, Leonardo acaba sargento, portanto, uma
autoridade.
b) Não, Leonardo teve muita ajuda do padrinho e, principalmente da comadre, que conhecia demais a vida de quase todos
naquela província, o que fazia com que conseguisse favores incríveis em favor de seu protegido. No caso, conhecia os “segredos de
alcova” de Maria Regalada, que acabou intercedendo em favor de Leonardo, daí sua promoção na guarda. Através dessa pequena
alegoria, encontra-se uma crítica bastante ácida ao mostrar uma sociedade em que se vivia das aparências, dos favores, das trocas de
informações para se adquirir vantagens, a despeito do mérito e do talento individual.
23a) Essas reflexões se aplicam plenamente ao universo criado em Memórias de um Sargento de Milícias, em que
se encontra as beatas que iam mais para fofocar do que para rezar, o padre que foi pego com uma amante em plena luz
do dia. A autoridade que se submetia aos segredos de uma amante, o que acabou salvando a pele de Leonardo Pataca que
no final ainda acaba promovido. Tudo isso embalado em uma sociedade em que se privilegiavam os contatos e os
segredos para que a ordem fosse totalmente alterada, a partir de conveniências.
b) A religiosidade apresentada por Brás Cubas também é desprovida da verdade religiosa, aparecendo assim,
totalmente superficial. Quando criança era impulsivo e cruel frequentava a missa por causa da obrigação materna. Tinha
um tio padre que mal sabia dos sacramentos, apegado apenas à ritualística da religião, portanto, superficial.
SITES UTILIZADOS:
http://pre-vestibular.arteblog.com.br/50621/RESUMO-Memorias-de-um-Sargento-de-Milicias/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Ant%C3%B4nio_de_Almeida
http://www.stocklervestibulares.com.br/
http://pt.wikisource.org/wiki/Mem%C3%B3rias_de_um_Sargento_de_Mil%C3%ADcias
http://vestibular.uol.com.br/ultnot/livrosresumos/ult2755u14.jhtm
http://www.modernaplus.com.br/main.jsp?lumChannelId=4028818B2D70EA6B012D7117BE202AC1
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000022.pdf
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