Terça-feira, 04 de março de 2014 Gazeta do Povo Editorial / As greves e a legislação Uma legislação moderna deve prever canais de negociação e meios legítimos de reivindicação pelos trabalhadores, de forma que a greve somente ocorra em casos extremos A sensível melhora das condições no ambiente de trabalho, do respeito ao bem-estar dos empregados, das políticas de segurança e dos salários, nos últimos 100 anos, se deve em larga medida à organização dos trabalhadores, à liberdade sindical e ao direito de greve. Nas sociedades livres, o direito de organização e de mobilização é um dos pilares do conjunto das liberdades e dos direitos individuais. Entretanto, o excessivo número de greves que se repetem todos os anos tanto nas empresas de produtos individuais como nas empresas de bens públicos e em serviços do governo é consequência, entre outros fatores, da legislação precária e insuficiente. A legislação trabalhista brasileira, incluindo as normas legais sobre greve, está velha, superada e incompatível com os tempos modernos. Somente isso já seria motivo suficiente para reformá-la e atualizá-la. Mas antes de começar a discussão é necessário estabelecer algumas premissas. A primeira é a de que dá para fazer uma legislação moderna sem suprimir as chamadas conquistas sociais dos trabalhadores. Qualquer reforma somente terá chance de prosperar se ficar acordado que não serão retirados benefícios trabalhistas, como décimo terceiro salário, férias remuneradas, licença-maternidade e outros. A segunda premissa é a necessidade de tratar as atividades econômicas em grupos distintos, organizados segundo sua função no sistema econômico. Empresas que produzem bens pessoais – a exemplo de uma fábrica de camisas – e operam em regime de concorrência devem ter um tipo específico de legislação de greve, pois, quando seus empregados paralisam as atividades, o único prejudicado é o patrão. Quanto ao consumidor, ele tanto pode adiar a compra do produto como pode comprá-lo de outro fabricante. Empresas que produzem bens monopolistas – a exemplo de uma companhia de água ou energia – devem ter outro tipo de legislação de greve, porque, quando seus empregados paralisam as atividades, eles têm um poder de morte sobre a população, já que sem água e sem luz as pessoas não sobrevivem. Em certa medida, isso também ocorre com as empresas de transporte coletivo, o policiamento e outros serviços públicos ofertados em regime de monopólio. A terceira premissa diz respeito às consequências da greve sobre um empregado privado regido pela CLT e sobre um funcionário público com estabilidade no emprego. Sobre o empregado privado paira o fantasma da demissão, e uma greve radical pode levar o negócio à falência com perda do emprego para todos. Funcionário público jamais é demitido por causa de greve. Logo, não é razoável que a lei seja a mesma para o empregado privado e para o funcionário público. Uma legislação moderna deve prever canais de negociação e meios legítimos de reivindicação pelos trabalhadores, de forma que a greve somente ocorra em casos extremos e após esgotados todos os meios anteriores. Nos casos de serviços públicos e de produtos monopolizados (serviços postais, energia, água, policiamento, transporte coletivo), a negociação e a solução dos conflitos salariais e trabalhistas não devem ficar restritos às duas partes envolvidas – patrões e empregados. É necessário o envolvimento de outras instâncias – por exemplo, a Justiça do Trabalho – desde o início do processo a fim de que a paralisação se torne quase desnecessária e, se ocorrer, deve prever a continuação do atendimento à população. A legislação ruim atual é, em grande medida, responsável pelo grevismo e pelo excessivo número de paralisações que vêm infernizando a vida da população. No caso do serviço público, é inexplicável que o Congresso Nacional não tenha regulamentado o direito de greve até hoje, apesar de a Constituição de 1988 mandar fazê-lo. Em algumas greves de funcionários do governo, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi provocado a se pronunciar, levando muitos políticos a gritarem contra o suposto ativismo legislativo do STF, o qual simplesmente ocupa um vácuo deixado pela omissão do parlamento. Lamentavelmente, as greves rotineiras e cotidianas e o sofrimento que elas têm imposto à população não têm sido suficientes para sensibilizar os políticos e as autoridades no sentido de começarem a reforma trabalhista. Coluna do leitor / Vantagens extrassalariais É triste ver o presidente da Amapar, Frederico Mendes Jr., dizer que a magistratura perdeu 50% do poder de compra e o corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Francisco Falcão falar que os baixos salários afastam os candidatos a vagas de juízes (Gazeta, 2/3). Se um magistrado com renda mensal de R$ 25 mil perdeu o poder de compra, o que dizer da maioria da população que ganha muito menos? Não sou contra benefícios, mas às vezes o que é legal acaba se tornando imoral pela realidade brasileira. Paulo Cesar Griboggi Mensalão 1 O jornalista Alberto Dines (Gazeta, 1/3) escreve em sua coluna sobre o comentário de Joaquim Barbosa, dizendo que “foi excessivo o calibre do petardo utilizado para expressar o seu desapontamento”. Mas o desapontamento não é só de Joaquim Barbosa, mas meu, de meus familiares, amigos e de qualquer brasileiro decente. Francisco Pereira de Barros Neto, Ponta Grossa – PR Mensalão 2 Fez-se um mínimo de justiça em um julgamento cercado de atitudes anticonstitucionais comandado por um juiz de visível desequilíbrio emocional. O que se espera de um juiz é equilíbrio, discrição e não comprometimento para exercer a justiça. Neste caso, os possíveis réus já estavam condenados antes do início do julgamento. Dalmo Dallari e Ives Gandra Martins, dois juristas de renome e opostos em campos ideológicos têm a mesma opinião: julgar, não linchar. Randal Guelfi Mensalão 3 Nos almanaques do Tio Patinhas aprendi que os irmãos Metralha representam uma quadrilha. Quando vejo uma quadrilha formado pelo Coronel Cintra, pelo dono do banco, e talvez pelo próprio Tio Patinhas, fico meio na dúvida. É de fazer inveja ao Mancha Negra e ao Bafo de Onça. Isso desafiaria até a imaginação do próprio Walt Disney.Herbert Richert, engenheiro mecânico Habitação / Ocupações irregulares crescem em Londrina Número de áreas invadidas passou de 7 para 11 nos últimos dois meses. Famílias dizem que não podem arcar com aluguel Antoniele Luciano, da sucursal Sentada em um banco de madeira em meio à terra batida, a pensionista Aparecida Paulino, 65 anos, conta que se mudou para um barraco, em um terreno invadido na Zona Norte de Londrina, para buscar a casa própria para os oito filhos. Na tentativa de fugir do aluguel, ela e a família construíram puxadinhos improvisados com tábuas, lonas e telhas de fibrocimento. Os casebres fazem parte do assentamento Bom Jesus, criado em janeiro no Jardim São Jorge. Somente neste ano, o município, segundo a Companhia de Habitação (Cohab), registrou quatro ocupações irregulares nesses moldes. O movimento fez com que o número de áreas, entre públicas e privadas, em situação de invasão aumentasse para 11 em Londrina. Mais de 500 famílias estão envolvidas no problema. O terreno no Jardim São Jorge havia sido ocupado irregularmente em 2000. Naquela época, parte da família de Aparecida também passou a viver na área. Com a remoção dos moradores em 2012, alguns dos familiares da pensionista conseguiram uma casa no Jardim Novo Horizonte II, através de projetos de habitação popular. Ela espera que isso ocorra novamente. “Está muito difícil para eles pagarem aluguel. Se a pessoa ganha um salário mínimo, como vai pagar R$ 400, R$ 500 e ainda comprar comida, um calçado para as crianças?”, questiona. O boca-a-boca sobre a ocupação logo fez com que o número de famílias invasoras crescesse. São mais de 300 barracos e a cada dia chegam novos moradores. “Tínhamos um terreno, mas como estamos há um ano sem pagar, nos avisaram que seríamos despejados”, diz a vendedora ambulante Rosa Aparecida dos Santos, 43 anos, recém-chegada. Desempregada, a vizinha de ocupação Ivani Brás dos Santos, 43 anos, deixou a casa dos filhos para tentar a sorte no São Jorge. Ela improvisa fogão, tanque e banheiro no casebre erguido. “Sei que aluguel eu nunca vou conseguir pagar”, lamenta. Sem privilégios De acordo com o presidente da Cohab em Londrina, José Roberto Hoffmann, mesmo com a pressão popular, não há como atender as reivindicações sem considerar os critérios que norteiam os programas habitacionais. “Invadir uma área não dá privilégio. O cadastro também não é fila”, reforça Hoffmann, ao lembrar que quem já está inscrito em processos de seleção habitacionais pode ser prejudicado caso tenha problemas na Justiça por conta das invasões. O município, calcula ele, tem hoje um déficit habitacional de 15 mil unidades para famílias com renda mensal de até R$ 1,6 mil. Ainda segundo Hoffmann, embora existam planos para expandir a habitação na cidade, é preciso seguir regras locais e nacionais, como dar prioridade a famílias em áreas de risco, chefiadas por mulheres ou com filhos. Um levantamento feito pela Cohab com invasores de outra área, a do Córrego “Sem Dúvida” mostrou que, de 132 famílias, 78 já eram cadastradas na companhia – 47% são inquilinos e 6%, proprietários de imóvel em outras regiões do município. Para quase metade das famílias, a renda mensal é inferior a R$ 700. Imóveis / Revés da especulação, aluguel é principal dificuldade das famílias O valor do aluguel, maior reclamação entre as famílias assentadas em Londrina, é, para a doutora em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Solange Fernandes, o centro das discussões envolvendo as ocupações irregulares. Ela analisa que depois que programas como o Minha Casa, Minha Vida tiveram início o preço do metro quadrado foi inflacionado. Isso fez com que não só o preço do imóvel subisse para compra, mas também para a locação. Além disso, completa, a política pública habitacional no país nem sempre alcança seu público-alvo. “É uma bola de neve. Alguns critérios dos programas excluem a grande parcela da população que precisa de uma casa. Se a pessoa tem o nome no SPC, não tem o financiamento”, observa Solange. Pesquisadora na área de habitação de interesse social, a professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Madianita Nunes da Silva também avalia que o preço dos terrenos aumentou e começou a inviabilizar empreendimentos para a faixa 1 do Minha Casa. Ela ressalta que pesquisas mostram que desde a década de 1990 o número de domicílios em situação de informalidade crescem no país. A ocupação de novas áreas e o adensamento de antigas, pontua ela, deveria levar o poder público a reorganizar as políticas voltadas para o setor. Para Madianita, construiu-se no Brasil a ideologia da casa própria, como se as pessoas precisassem ser “proprietárias” para ter acesso à moradia. Em outros países, como a França, há adoção do modelo de locação social, em que imóveis pertencentes ao governo são locados a preços diferenciados. 15 mil unidades é o déficit habitacional estimado hoje pela Cohab de Londrina para o município para famílias com renda mensal de até R$ 1,6 mil. O órgão alerta que invadir não é o caminho mais curto para os programas, que têm regras a seguir, como dar prioridade para famílias em área de risco. Meta / Plano prevê 7,5 mil novas unidades para a cidade Cerca de 7,5 mil unidades habitacionais destinadas a famílias com renda de até R$ 1,6 mil devem ser construídas em Londrina nos próximos três anos, diz o presidente da Companhia de Habitação de Londrina (Cohab), José Roberto Hoffmann. A expectativa é alcançar a meta com apoio de financiamento do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. “Queremos contratar o financiamento até agosto e entregar as unidades até o fim do governo”, comenta. Paralelamente, observa Hoffmann, deve ser feito também um trabalho para viabilizar novos empreendimentos para outra faixa de renda no município – de 3 a 6 salários mínimos. Hoffmann calcula que as 7,5 mil unidades demandem um investimento de cerca de R$ 500 milhões. Hoje, Londrina tem 1,8 mil unidades em processo de construção. Entrevista / Ensino infantil / Içami Tiba, psiquiatra e escritor “A escola, como está, é prejudicial à aprendizagem” Jônatas Dias Lima A educação pública no Brasil tem de melhorar muito para o ensino obrigatório desde os 4 anos valer a pena. Esse é um dos alertas feitos pelo psiquiatra e educador Içami Tiba, autor de dezenas de livros sobre a educação dos filhos e o combate às drogas, que também defende ser impossível resolver o problema da violência sem falar de valores. O especialista esteve em Curitiba no mês passado, a convite da escola Santo Anjo, e falou com a Gazeta do Povo sobre o tema principal de suas palestras na capital: a educação infantil. A partir de 2016, será obrigatória a matrícula a partir dos 4 anos de idade. Há quem defenda os benefícios da aprendizagem e quem considere a medida abusiva. Qual a sua opinião? Se a educação no Brasil fosse mesmo um projeto sério, seria ótimo. Mas, infelizmente, sem mudanças drásticas na pedagogia usada por aqui, acho que será apenas mais uma extensão de tempo na escola. Minha opinião é de que a escola, como está, é altamente prejudicial à aprendizagem porque toma tempo demais da vida de nossas crianças e adolescentes para ensinar muito pouco. Gastar 11 anos da vida em bancos escolares para sair de lá como analfabeto funcional? É um absurdo, e é a realidade de muitos dos que saem de uma escola pública. Há jovens que saem do ensino médio sem saber interpretar um relatório. No entanto, eu não concordo com quem pensa que seja cedo demais para uma criança começar a aprender. Acho retrógrada a ideia de que existe uma idade ideal para começar a estudar. Eu sabia ler e escrever antes de entrar na escola. Quando alguns pais dizem que é preciso poupar os filhos mais novos, eles querem é se poupar. A fase dos zero aos 3 anos é aquela em que a criança mais aprende e é um período muito desperdiçado. Portanto, não sou contra a escola desde cedo, mas sou contra a educação que este governo oferece. E sobre estímulos pedagógicos desde cedo? Aprender desde cedo não causa dano algum. Eu acho realmente uma pena que muitos acreditem nisso porque, o que acaba acontecendo, os pais limitam a capacidade dos filhos, reduzindo o saber das crianças somente àqueles conhecimentos que os próprios pais tiveram quando eram pequenos. Além disso, não faz sentido achar que é possível preservar a criança para que não receba muita informação. Antigamente, a família e a escola eram centros de referência, mas hoje se aprende de muitas maneiras diferentes, em muitos ambientes. É como se aprendêssemos no ar. Se os pais ou a escola não ensinarem, a criança vai aprender com a tevê, a internet e os colegas. E aprender qualquer coisa, sem orientação, sem guia, é muito pior. Por que o senhor acha que o poder público tem tanta dificuldade para suprir a necessidade de vagas na educação infantil? Porque aqui não se faz planejamento. Os problemas da educação são sempre resolvidos no sufoco, de improviso. As gerações passadas tinham muito mais crianças do que as atuais, portanto, o problema poderia ter sido previsto e resolvido anos atrás. Nos Estados Unidos, por exemplo, há algumas décadas, as classes possuíam 30 alunos por turma. Hoje, eles têm 10 alunos por turma. Você percebe, então, que o problema ficou menor. Aqui, por conta do descaso do governo, nós deixamos o problema crescer. O Brasil tem mais adolescentes do que crianças, mas não dá conta de oferecer escola de qualidade nem a esse número menor de crianças. O senhor fala muito sobre valores. Acha que a formação em valores recebida desde a educação infantil influencia no caráter de uma pessoa adulta? Sim, influencia muito. Cito como exemplo os rolezinhos. Seria um movimento bastante normal se não fosse por alguns jovens violentos ali no meio. Sempre penso se o pai daquele jovem sabe que é seu filho quem começa a violência. A falta de valores está na causa de tudo aquilo e a questão dos valores aprende-se, principalmente, em casa. Jovens que não tiveram nenhuma educação em valores vivem e aprendem o que aparece no momento, deixam-se levar por aquilo que é vigente. Quem tem valores sólidos dentro de si é capaz de olhar para uma situação sem ser envolvido por ela, e pode analisá-la e criticá-la. Qual o papel dos pais nesse processo? Eu tenho notado muitos pais tolerando coisas demais, coisas que nem entendem, mas acabam sendo intolerantes com o essencial. A impaciência dos pais gera a impaciência nos filhos e a impaciência é a primeira semente para a pressa. Se a pessoa começa a ter pressa demais, fica irritada e depois fica agressiva. Se ficou agressiva, falta pouco para ficar violenta. Vejo muita gente tentando resolver a violência sem falar em valores. Não vai funcionar. É preciso mexer na semente e a semente é ensinar valores às nossas crianças. E quanto à disciplina? Muitos pais se preocupam em acertar nessa questão, mas ficam inseguros sobre quando e como disciplinar crianças tão pequenas. A primeira coisa a saber é que não há uma idade ideal para começar a se trabalhar disciplina. Ela começa desde que o recém-nascido pede para mamar. Se a mãe quer ajudar o filho a desenvolver a disciplina, não pode dar o peito sempre que a criança chora e a criança não pode ficar acordada a madrugada toda só porque quer. Pais que querem filhos disciplinados precisam proporcionar um ritmo básico para eles. Quem não tem ritmo desobedece porque a normalidade para ele é justamente a falta de ordem. Que benefícios isso traz às crianças? A criança que desenvolve um ritmo básico dentro de si tem a vida melhor em muitos aspectos. Basta comparar, por exemplo, aquelas que dormem bem e sozinhas com aquelas que não têm horário para dormir e só dormem depois de muito balançar no colo ou usando outros artifícios. Aquelas que têm um ritmo bem definido até pedem para dormir na hora pré-determinada pelos pais. É esse ritmo que proporciona melhoras no comportamento, no rendimento escolar e no relacionamento com os outros. Fiscalização / TC deixa inércia e passa a tomar posição em casos de repercussão Especialistas alertam que a atuação pode estar ultrapassando os limites constitucionais de trabalho do órgão Chico Marés Visto no passado como um cabide de emprego para políticos, os Tribunais de Contas (TCs), em âmbito federal e estadual, têm se mostrado mais ativos em suas ações de controle nos últimos meses. Em casos como o da redução da tarifa técnica dos ônibus de Curitiba e da suspensão de licitações milionárias da prefeitura e do Detran (veja quadro abaixo), o órgão tem deixado de ser um carimbador das contas de órgãos públicos e passou a determinar ações mais efetivas aos governantes. Entretanto, isso pode representar um passo além do que seria sua competência constitucional. Passo que, dependendo do caso, envolve questões de avaliação pessoal e, claro, política. Esses órgãos têm como principal função ser um auxiliar do Poder Legislativo, do qual são parte integrante, na fiscalização das contas públicas. Pela lógica, o TC seria responsável pelo controle da execução do orçamento, elaborado pelo Poder Executivo e votado pelos parlamentos. Entretanto, em muitos casos, essa lógica tem sido invertida. Para o professor de Direito Constitucional da UFPR Egon Bockmann, a Constituição não estabelece a previsão de um controle de contas prévio. “Talvez as previsões constitucionais positivadas em 1988 sejam anacrônicas, dados os desafios do século 21”, afirma. O ideal, para ele, é que essas definições estivessem mais claras, o que poderia ser feito através de emenda. Entretanto, esse é um processo político demorado. Na ausência disso, o TC toma para si essa função e espaço de poder. Para Bockmann, esse processo foi possibilitado por vários fatores. Por um lado, houve uma estabilização da economia brasileira a partir dos anos 90, o que permitiu, entre outras coisas, que os gastos públicos se tornassem mais previsíveis e legíveis. Além disso, houve uma constante melhora no quadro técnico desses tribunais. “O Tribunal de Contas da União investiu muito seriamente na carreira de seus servidores. Hoje, o concurso para auditor de contas da União é um dos mais disputados do Brasil”, afirma. Além disso, as necessidades também mudaram. Bockmann destaca a realização de contratos de longo prazo, que aumentaram a partir dos anos 2000. “O TC fica no meio de duas decisões. Vou deixar para analisar um contrato de 30 anos para depois que ele for executado ou analiso antes?”, questiona. Já o cientista político da UFPR Fabrício Tomio avalia que os tribunais passaram por um processo de institucionalização desde a Constituição de 1988. A partir desse momento, as carreiras internas do tribunal se tornaram mais sólidas, o que permitiu uma maior atuação desses órgãos. Além disso, nos últimos anos, as decisões desses tribunais ganharam mais visibilidade. Contradição Ainda assim, os TCs ainda vivem sob a contradição de ter um forte corpo técnico, mas uma direção eleita por critérios quase exclusivamente políticos. No TC do Paraná, por exemplo, dos sete conselheiros, quatro são exdeputados e dois são ex-secretários estaduais – considerando nesta conta Fabio Camargo, afastado liminarmente do cargo no ano passado. Casos urgentes exigem papel de ‘bombeiro’ do TC A determinação do Tribunal de Contas do Paraná (TC) para reduzir a tarifa do transporte coletivo de Curitiba foi um exemplo de ato de fiscalização anterior à ação do gestor público. Na letra fria da Constituição, o TC deveria acionar o Poder Legislativo para que este acionasse o Executivo em caso de irregularidades. Porém, entendimentos sobre esse rito têm mudado ao longo dos anos. Segundo o professor de Direito Administrativo Rodrigo Kanayama, da UFPR, essa não é uma questão pacificada no meio jurídico. A Constituição determina que, ao encontrar irregularidades nas contas, o Tribunal de Contas da União (TCU) – e, por simetria, os TCs estaduais – tem de acionar o Legislativo para que tome medidas cabíveis. Caso isso não ocorra em 90 dias, o TCU passa a ter poder de agir. Mas, segundo Kanayama, há julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF) que permitem que os tribunais ajam cautelarmente. “Acho que o Tribunal de Contas deve ter o poder de atuar. Ele não pode ficar somente sob a vontade do Legislativo, ou perde sua função”, afirma. Egon Bockmann, professor de Direito Constitucional da UFPR, acredita que essas decisões podem ocorrer em casos urgentes. Ele compara a situação com a de um bombeiro: se há uma “casa pegando fogo”, ou seja, uma irregularidade flagrante que tem de ser sanada o mais rápido possível, o TC pode assumir as vezes do Poder Judiciário e “apagar o fogo”. O problema, nesse caso, é definir o que é ou não urgente. A questão do transporte em Curitiba seria um bom exemplo de caso que fica em uma zona cinzenta. Se a suspensão era ou não algo urgente, que dispensasse a participação da Câmara, foi uma avaliação dos conselheiros do TC. Como não há uma norma, a avaliação dessa urgência ficou a critério do TC . Outros casos Em outro caso envolvendo o TC que ganhou destaque no mês passado, sobre o repasse do governo do estado para obras da Arena, a participação do órgão foi mais discreta. Não houve uma determinação, apenas uma recomendação de que os repasses não fossem feitos. Por meio de sua assessoria de imprensa, o TC comunicou que os dois casos exigiam respostas diferentes. No caso dos repasses, não havia uma irregularidade flagrante, apenas um “óbice ao bom andamento dos trabalhos de fiscalização” do órgão, assim como um “prejuízo ao direito de informação da população”. Já no caso do transporte, houve “ofensas à lei e à Constituição Federal”. 6 dos sete atuais conselheiros do TC paranaense são ex-políticos. Quatro foram deputados e dois exerceram a função de secretário estadual. 90 dias é o prazo determinado pela Constituição para que qualquer Tribunal de Contas possa agir, caso tenha acionado o Legislativo e este não tenha tomado as providências necessárias. Ponto fora da curva / Decisões recentes do TC envolveram o governo estadual e a prefeitura de Curitiba, os maiores órgãos públicos do estado. Transporte coletivo O TC considerou ilegais seis itens utilizados para o cálculo da tarifa técnica do transporte público de Curitiba – valor que serve como uma medida para os repasses da Urbs às empresas de ônibus. A partir disso, determinou, em caráter liminar, que a Urbs desconsiderasse esses itens no reajuste da tarifa técnica seguinte. Nos valores da época da decisão, isso significaria uma redução de R$ 0,43 no valor da tarifa. A decisão do TC foi suspensa pelo Tribunal de Justiça. Publicidade da prefeitura O TC suspendeu duas vezes a licitação das agências de publicidade que atenderão à prefeitura de Curitiba. A primeira vez foi no ano passado, quando o tribunal considerou irregulares quatro itens do edital. Uma nova licitação foi feita e apresentada em fevereiro, mas, novamente, o TC suspendeu o processo. O corregedor-geral do TC, Ivan Bonilha, considerou que, apesar de a prefeitura ter corrigido alguns dos equívocos apontados, feriu a Lei de Licitações ao, por exemplo, não deixar clara a possibilidade de participação de micro e pequenas empresas. O contrato é de R$ 20 milhões anuais. DETRAN Uma licitação de R$ 36 milhões do Detran para contratar serviços de monitoramento de exames práticos foi suspensa pelo TC em dezembro do ano passado. O órgão considerou irregular uma alteração feita no edital de licitação depois de sua publicação. Inicialmente, o edital exigia que apenas empresas que possuíssem atestado de capacidade técnica poderiam participar da concorrência. Depois, essa exigência foi retirada do texto. O tribunal não aceitou os argumentos usados pelo Detran para justificar a mudança. Celso Nascimento / Muitas dúvidas. E o povo, ó! 2013 acaba amanhã, Quarta-Feira de Cinzas. Passados os meses anteriores ao carnaval, a hora é de pensar em política, nas eleições de outubro. Mas sem exageros, porque antes ainda teremos Copa do Mundo para desviar a atenção dos políticos e da opinião pública. Restam uns poucos intervalos em que se poderá discutir assuntos (quiçá mais importantes) tais como se o estádio e as demais obras da Copa ficarão prontas ou não; se o padrão Fifa foi seguido à risca; se a passagem do ônibus vai subir; ou onde passaremos o feriadão da Semana Santa. De qualquer forma há, neste 2014 que se inicia, um calendário implacável que deve ser cumprido: até o fim de junho, deverá ser definido o quadro de candidatos à Presidência, aos governos estaduais, à Câmara e Senado e às Assembleias Legislativas. Convenções partidárias se farão naquele mês – mas seguramente antes delas conchavos de bastidores estarão alinhavados em torno de nomes e de alianças. No Paraná, duas decisões já parecem definitivamente tomadas: Beto Richa (PSDB) se candidata à reeleição e disputa contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT). Mas todo o resto está ainda em aberto. Há dúvidas para todo lado: • O PMDB fará aliança com Beto ou com Gleisi? Ou terá candidato próprio? • Neste último caso, o partido aceitará lançar o senador Roberto Requião, ou seguirá um caminho mais “light”, colocando na disputa o ex-governador Orlando Pessuti? • Até que ponto o PMDB nacional fará valer sua vontade no Paraná caso seu presidente de honra, Michel Temer, se mantenha na vice de Dilma Rousseff? • Enquanto no PSDB já se considera certo que seu candidato será o exdesafeto senador Alvaro Dias, pelo lado do PT ainda não se sabe quem colocar na disputa. O partido anseia por uma aliança com o PDT e com a ainda duvidosa candidatura do ex-senador e atual vice-presidente do Banco do Brasil, Osmar Dias. • A dúvida é: o pedetista Osmar vai se encorajar a concorrer diretamente contra o irmão Alvaro em busca da única vaga em disputa? Osmar cumprirá a promessa que fez a Gleisi de se definir até o próximo dia 20? • O PSD levará até o fim o projeto de ter candidato próprio? Que, nesse caso, seria o empreiteiro e banqueiro Joel Malucelli? Ou, no fim das contas, seria mais um aliado de Beto Richa ou teria o deputado Eduardo Sciarra concorrendo a senador na chapa de Gleisi, caso Osmar refugue? • Para que lado vão partidos menores, como o Pros, o PP e o PHS – todos sob domínio do secretário Ricardo Barros? Farão aliança com Richa ou arriscarão lançar o ex-prefeito de Maringá Silvio Barros para o governo? São muitas dúvidas – todas a serem resolvidas só pelos políticos. O povo, nesta altura, não passa de um detalhe. E assim continuará sendo logo depois da eleição. Olho vivo / Autofagia Engana-se quem pensar que a autofagia paranaense é coisa recente. Em 1930, Getúlio Vargas hospedou-se no Grande Hotel Moderno, em Curitiba, antes de seguir para o Rio como líder da revolução que derrubou Washington Luiz – último presidente da República Velha – e já discutia quem poderia ser o novo governador do Paraná. Diante das divergências, Vargas não teve dificuldades para concluir: “No Paraná, não existem partidos. Existe briga de clãs, profundamente autofágicas”. A frase está no livro A Formação Política de Getúlio Vargas, de Lira Neto. Beleléu 1 Elevada à nobre condição de alternativa importante para o transporte urbano, a bicicleta vê dificuldades de se manter equilibrada se o governo estadual mantiver sua disposição de impor-lhe um novo regime tributário. Em Curitiba, as bicicletarias enquadram-se no “Simples”, o que lhes permite pagar impostos menores e concorrer em preço com as grandes redes. Mas o governo quer fazer recair também sobre elas a tal “substituição tributária”, modelo pelo qual os fabricantes entregam o produto já com a carga cheia de ICMS – isto é, as empresas “simples” deixam de auferir, na sua ponta, o benefício de pagar ICMS reduzido. O preço final do produto vai subir para o consumidor e a competição com as grandes redes vai para o beleléu. Beleléu 2 Por causa dessa situação, as bicicletarias entregarão nesta semana ao governador Beto Richa uma carta em que pedem que o setor não entre na lista dos que serão submetidos à substituição tributária. Com argumentos semelhantes, mas preocupado com todos os setores, o G7 – grupo que reúne as grandes federações industriais – também já levou seu protesto à secretária da Fazenda, Jozélia Nogueira. Folga / Entre junho e outubro, senadores vão trabalhar apenas cinco semanas Em ano de Copa do Mundo no Brasil e eleições, o Senado vai trabalhar apenas cinco semanas entre os meses de junho e outubro. O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), definiu com líderes partidários um calendário de votações a ser cumprido até as eleições de outubro que prevê a redução em 72% do ritmo das atividades legislativas nesses cinco meses. Sem o calendário especial, os senadores teriam que trabalhar 18 semanas nos cinco meses. Nas semanas marcadas, há votações. Nas demais, apenas sessões dedicadas para os discursos dos congressistas, em que não há corte nos salários de quem estiver ausente. Os únicos meses em que haverá trabalho ininterrupto do Congresso em 2014 serão março, abril, maio e novembro. Renan justifica o calendário especial com o argumento de que há “eventos internacionais” e eleições em 2014, por isso os senadores precisam ser previamente convocados para trabalhar. “Aprovamos um calendário para o ano legislativo todo para compatibilizar o ano eleitoral e eventos internacionais com o funcionamento do Congresso”, afirmou. Câmara dos deputados / Votação do Marco Civil da Internet ainda esbarra em pontos polêmicos Divergências incluem a neutralidade da rede e a obrigação de que grandes empresas mantenham centros de dados no Brasil Katna Baran Prestes a entrar novamente na pauta de votação da Câmara dos Deputados, a proposta do Marco Civil da Internet está longe de ser um consenso entre os parlamentares. Há duas semanas, os partidos negociaram o adiamento das discussões diante da falta de acordo entre os deputados, principalmente os da base governista, apesar de a aprovação do projeto ser de interesse do Palácio do Planalto. O deputado federal paranaense João Arruda (PMDB), que presidiu a comissão especial da Câmara que coordenou as discussões sobre o Marco Civil, acredita que deve haver acordo entre os parlamentares para conduzir a votação da proposta na semana que vem, mas considera que ainda há equívocos na proposta. “[A discussão] virou uma questão muito mais política do que em relação ao projeto técnico”, diz. Para o parlamentar, houve má condução do governo sobre a matéria, principalmente depois das denúncias, no ano passado, de espionagem eletrônica americana no Brasil. “O trabalho estava bem encaminhado pela comissão até novembro. Mas, com o problema da espionagem, o governo resolveu colocar algumas questões no projeto que prejudicaram as discussões”, afirma. Entre os pontos que Arruda considera apenas “enfeites”, está a possibilidade de o Executivo obrigar as empresas de internet que gerenciam grande volume de informações – como Facebook e Google – a terem centros de dados no Brasil. “A alternativa do governo seria investir em um data center público. Obrigar que as empresas instalem centros de dados aqui não vai mudar em nada e até vai afastálas”, avalia. O especialista em Direito e Tecnologia da Informação Alexandre Atheniense concorda com o deputado sobre a exigência do data center. Para ele, porém, o ponto mais controverso do projeto é a falta de obrigação dos provedores de conteúdo a preservarem os registros eletrônicos. Conforme o último texto substitutivo da proposta, a privacidade da rede vai incluir dados pessoais e conversas privadas, além dos registros de conexão. “Os registros eletrônicos são essenciais para fazer a identificação de autoria e garantir a punição dos infratores que usam a internet para fazer a publicação de conteúdos ilícitos”, aponta o especialista. Para ele, a privacidade dos usuários em qualquer meio já é garantida na Constituição brasileira. Outro ponto polêmico é a previsão de neutralidade total da rede – segundo a qual o acesso a todos os sites precisa ser feito na mesma velocidade –, que envolve o interesse das empresas de telecomunicação. “É uma discussão entre provedores e operadores de celular, um querendo cobrar pelo pacote de dados e outros querendo cobrar pelo modelo sem cobrança diferenciada”, explica Atheniense. Notas Políticas / Regalias 1 O governo do Distrito Federal tem de enviar até a próxima sexta-feira esclarecimentos para a Vara de Execuções Penais sobre supostas “regalias” que os condenados do mensalão estariam recebendo na Penitenciária da Papuda, onde cumprem pena desde novembro. Com base nas informações repassadas pelo governo, o juiz da Vara, Bruno André Silva Ribeiro, decidirá se transfere os condenados para presídios federais. Regalias 2 As supostas regalias recebidas pelo ex-ministro José Dirceu e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares iriam desde autorização para receber visitas fora do horário até o direito a uma feijoada. Na terça-feira, o Ministério Público do Distrito Federal pediu rigor nas investigações e recomendou, caso os privilégios sejam comprovados, que os condenados sejam transferidos para presídios federais. Mensalão / Governo brasileiro formaliza pedido de extradição de Pizzolato Documento foi entregue ontem ao Ministério das Relações Exteriores da Itália, que encaminhará o caso à pasta da Justiça Folhapress A embaixada do Brasil em Roma entregou ontem ao governo italiano o pedido formal de extradição do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. O dossiê foi entregue ao Ministério das Relações Exteriores da Itália, de onde deve seguir para o Ministério da Justiça – que tem a missão de encaminhar o caso à Justiça e, ao final do processo, tem a última palavra sobre a extradição. A entrega foi confirmada pela embaixada em Roma no final da tarde de ontem. Procurado pela reportagem, o Ministério da Justiça italiano informou que deve se pronunciar sobre o caso nos próximos dias. Pizzolato foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão no julgamento do mensalão, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato (desvio de recursos públicos). Ele fugiu para a Itália em setembro do ano passado – dois meses antes de ter a prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-diretor do BB entrou na Europa com um passaporte em nome de Celso Pizzolato, seu irmão morto em um acidente automobilístico em 1978. Ele foi indiciado pela polícia italiana pelos crimes de substituição de pessoa, falso testemunho a um oficial público e falsidade ideológica. Ele foi preso em Maranello (norte da Itália) no dia 5 de fevereiro, em uma operação coordenada pela Interpol italiana. E está detido em Módena. Houve duas tentativas de seus advogados para que ele aguarde o processo de extradição em liberdade, mas a Justiça italiana rejeitou os pedidos. A extradição é incerta porque Pizzolato também tem cidadania italiana. O tratado entre os dois países faculta, mas não obriga a entrega de cidadãos nacionais. Próximos passos Com o passo dado pelo governo brasileiro ontem, o trâmite a partir de agora é o seguinte: o Ministério da Justiça da Itália deverá encaminhar o pedido à Corte de Apelação de Bolonha para o início da ação judicial que vai decidir se Pizzolato será ou não entregue ao Brasil. Tanto a Procuradoria quanto a defesa de Pizzolato podem recorrer à Corte de Cassação (instância máxima do Judiciário italiano) se houver discordância da decisão do tribunal de Bolonha – o que pode prolongar o caso por pelo menos seis meses. Depois que a discussão se esgotar na esfera judiciária, a última palavra sobre a extradição caberá ao Ministério da Justiça da Itália, que pode decidir mantê-lo no país mesmo se os juízes decidirem por enviar o fugitivo de volta ao Brasil. Outro lado A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Pizzolato na Itália ontem. Em uma audiência na Corte de Apelação de Bolonha no mês passado, o ex-diretor do BB disse que não quer ser extraditado para o Brasil porque se diz vítima de um processo “político”. Prisão / Jefferson sente dores estomacais e recebe atendimento médico Folhapress O delator do mensalão e ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) passou mal na última sexta-feira no instituto penal onde cumpre pena em Niterói, no Rio. De acordo com a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, Jefferson sentiu dores estomacais e foi atendido por uma enfermeira da secretaria, e seu médico particular foi acionado. Como o exame de sangue não apresentou alteração no estado de saúde, ele não foi transferido para um hospital e encontrase no centro de detenção. O ex-deputado está preso há uma semana e foi diagnosticado com um tumor no pâncreas em 2012. Os advogados dele já entraram com um novo pedido de prisão domiciliar no Supremo Tribunal Federal (STF). Folha de Londrina Opinião do leitor / Decisões políticas ou jurídicas? E mais uma vez vemos nossos tribunais superiores emitirem decisões políticas ao invés de técnicas e jurídicas. Desta vez, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que todas as ações sobre a revisão do FGTS fossem suspensas até decisão final da Corte. Quando houve aquele "boom" de ações para reaver as cobranças de PIS/Cofins nas faturas de telefonia fixa e energia elétrica tudo caminhava bem, sendo devolvido os valores indevidamente cobrados pelas concessionárias, até o STJ se intrometer e suspender as ações, e ao final, dizer que "não havia mais o direito". Hoje dizem quase a mesma coisa: "Não podemos mais entregar o direito que o trabalhador tem, de receber a correção do seu saldo de FGTS, porque se fizermos isso a Caixa vai falir". Por favor, me poupe! O mais engraçado disso tudo é que depois os magistrados ainda têm a ousadia de falar em "garantir a segurança jurídica"? A garantia da segurança jurídica está no direito que eu tenho de receber de volta o que é meu, da mesma forma que você tem o direito de receber de volta o que lhe pertence. Adalberto Fraga Veríssimo Junior (bacharel em Direito) – Londrina Para reduzir gastos, governo quer criar banco de horas Em 2012, Estado pagou R$ 1,77 mi por mês em horas extras Mariana Franco Ramos Reportagem Local Curitiba - Como parte de um pacote de contenção de despesas, o governo do Paraná pretende instituir nos próximos meses o sistema de banco de horas nos órgãos da administração direta e indireta. O projeto de lei 54/2014, encaminhado na semana passada à Assembleia Legislativa (AL) do Estado, permite a compensação para aqueles funcionários que excederem a jornada diária de trabalho. A matéria está sob análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, devendo ser votada na segunda semana de março. Caso aprovada, deve representar uma economia anual de até R$ 21 milhões aos cofres públicos. De acordo com o texto, as horas excedentes à jornada normal seriam computadas como hora crédito, desde que devidamente autorizadas e justificadas pela chefia imediata, em formulário próprio a ser encaminhado ao setor de Recursos Humanos (RH) da entidade responsável. A exceção seriam aqueles funcionários regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), pelo regime de Contrato Especial (CRES) e os ocupantes de cargos de provimento em comissão. O banco prevê um total de 480 horas para compensação por ano, isto é, 40 horas mensais. Caso o servidor seja exonerado ou demitido sem usufruir das folgas, contudo, as horas trabalhadas seriam pagas nos termos da legislação vigente. Na justificativa, o governador Beto Richa (PSDB) alega que o projeto tem como objetivo reduzir os gastos com pessoal, para adequação ao limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 46,55%. Conforme a prestação de contas do terceiro quadrimestre de 2013, a gestão tucana fechou o ano passado tendo comprometido 47,23% da sua receita corrente líquida para pagar o funcionalismo. A dívida com fornecedores, que segundo a Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa) deve ser saldada até o fim de 2014, já supera R$ 1,1 bilhão. De acordo com o Palácio Iguaçu, os 3.492 servidores do Executivo estadual, sem contar as universidades, realizaram em 2012 uma média mensal de 71.9935 horas extras, com custo de R$ 1,77 milhão. Beto argumenta que, além de garantir economia, a adoção do sistema seria benéfica aos servidores, que poderiam programar, em comum acordo com as chefias, "o melhor momento para usufruir as folgas". TC cobra verba de convênio de ex-prefeito de Sertaneja Luís Fernando Wiltemburg Reportagem Local O Tribunal de Contas (TC) do Paraná cobra do ex-prefeito de Sertaneja (Região Metropolitana de Londrina) Neuton de Oliveira (PMDB) e da administração municipal a devolução de R$ 95.970 à Secretaria Estadual de Saúde. O valor é relativo ao convênio firmado em 2010 para investimentos na Política Nacional para Hospitais de Pequeno Porte, cuja comprovação de execução foi considerada irregular. A decisão é da 2ª Câmara do TC e ainda cabe recurso. De acordo com o acórdão, há problemas na prestação de contas porque faltaram os aditivos, plano de trabalho, recolhimentos de saldo e termo de cumprimento de objetivos. A documentação é necessária para, de acordo com o TC, esclarecer e atestar os resultados do investimento do repasse. A Diretoria de Análise de Transferências (DAT) ainda identificou atraso de 86 dias na apresentação da prestação de contas. Na defesa, as partes envolvidas alegaram que o termo de compromisso não trazia o plano de trabalho. Além disso, a manutenção do Hospital de Pequeno Porte, objeto do convênio, não tem prazo final, o que leva a concluir que vigora até o encerramento das atividades da instituição. Entretanto, ainda segundo o acórdão, a primeira cláusula do convênio traz que os procedimentos hospitalares e ambulatoriais que seriam custeados constam no plano de trabalho, que é parte integrante daquele documento. Com isso, a Unidade Técnica do TC opinou pelo não provimento das alegações. Os valores a serem devolvidos deverão ser corrigidos desde a data do repasse. O TC ainda aplicou multa ao ex-prefeito pelo atraso na prestação de contas no valor de R$ 145,10. Procurado na tarde de ontem, Neuton disse ter sido pego de surpresa, porque as contas referentes ao exercício de 2010 já foram aprovadas. Entretanto, afirmou que entrará em contato com o contador do município para esclarecer o problema. Ele disse ainda que deve recorrer. A reportagem não conseguiu localizar a atual prefeita, Magda Bruniere Rett (PMDB), para comentar a decisão. Polícia frustra tentativa de fuga em Marechal Diego Prazeres Reportagem Local Marechal Cândido Rondon - A Polícia Civil de Marechal Cândido Rondon (Oeste) conseguiu frustrar mais uma tentativa de fuga em massa da cadeia pública da cidade, que convive com problemas de infraestrutura e superlotação. De acordo com o chefe regional de cadeias públicas da 8ª e 9ª regiões, no Oeste, Ari Batista da Silva, carcereiros ouviram barulhos no interior de uma das cinco celas do presídio e descobriram um buraco de aproximadamente 50 centímetros de diâmetro coberto com panos e cinzas de cigarros. Eles solicitaram o reforço de policiais do Batalhão de Fronteira e do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná (Depen) para revistar os detentos e restabelecer o controle da unidade prisional. A cadeia tem capacidade para 32 presos, mas abriga atualmente quase o quíntuplo disso: 150 homens. Ari da Silva estima que de 20 a 30 presos participariam da fuga. "É que esse é o número de presos condenados, os demais são provisórios", afirmou. Para piorar o quadro, nenhuma das cinco celas do presídio tem grades. "Todos os presos ficam juntos", disse o oficial, para quem o excedente na superlotação já não está sendo administrável. Superlotação 'força' transferências no CIT Paulo Monteiro Equipe NossoDia Londrina - Dos 19 presos que ocupavam as três celas do Centro de Triagem da Polícia Militar (CIT), localizado no centro de Londrina, dez foram transferidos para a Casa de Custódia de Londrina (CCL) durante a tarde de ontem. De acordo com o delegado de plantão, Cássio Wzorek, a ordem veio do juiz da Vara de Execuções Penais (VEP), Katsujo Nakadomari. "Essa foi uma medida emergencial. O crescimento no número de presos aqui já era previsto com os dois distritos policiais interditados (4° e 5°) e também com a chegada do Carnaval", apontou. A transferência, na opinião do delegado, irá diminuir a tensão no CIT por pouco dias. "Acredito que na quarta-feira volte a ficar superlotado de novo", salientou Wzorek. O Centro de Triagem possui capacidade para apenas nove pessoas. Além disso, o espaço é insalubre e os presos não têm acesso a banheiros, água e energia elétrica. "Esse lugar é para o preso ficar apenas enquanto é feito o flagrante. Na sequência, deveria ser encaminhado para a CCL", explicou o delegado. MST ocupa fazenda em Florestópolis Guilherme Batista Equipe Bonde Florestópolis - Cerca de 500 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam no sábado a Fazenda Porta do Céu, em Florestópolis (Região Metropolitana de Londrina). A área de 2 mil hectares pertence à família Atalla, empresa paranaense do agronegócio. O acampamento do movimento ganhou o nome de Zilda Arns. A assessora de imprensa do MST no Paraná, Giani Paula de Souza, garantiu que a fazenda foi declarada improdutiva pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 2008. "É a nossa quarta ocupação de terras da família Atalla no Estado", acrescentou a assessora, citando que as outras ficam em Porecatu e Centenário do Sul. Segundo ela, não foi registrado nenhum tipo de confusão ou confronto durante a ocupação. O Grupo Atalla é um grande produtor do ramo sucroalcooleiro. A ocupação de Florestópolis também faz parte do chamado "Carnaval Vermelho". A reportagem fez contato com a Usina Central do Paraná, do Grupo Atalla, mas não recebeu retorno até o fechamento da edição. Polícia aperta o cerco contra pichadores Dois jovens foram detidos e responderão a inquérito; outros grupos são investigados Celso Felizardo Reportagem Loca Londrina – O embate travado entre pichadores, que veem no spray uma forma de expressão, e as forças de segurança, responsáveis por coibir o que a lei define como vandalismo e crime ambiental, segue ferrenho em Londrina. Campanhas de conscientização não surtiram efeito e as pichações não param de pulular pela cidade. As marcas se tornam mais visíveis por volta das 18 horas, quando os comerciantes sobem os toldos e baixam as portas de aço. Sem muitos resultados efetivos durante os últimos meses, a polícia apertou o cerco e dois rapazes foram detidos na semana passada. De acordo com o delegado da Polícia Civil Edgard Soriani, os dois suspeitos pertencem a uma banda de hip-hop e teriam feito cerca de 30 pichações em prédios particulares e até em escolas. Os policiais foram a quatro casas em Londrina e Rolândia (Região Metropolitana de Londrina) e apreenderam latas de spray e um computador. Um dos pichadores assumiu participação e disse que o spray é "um protesto, uma válvula de escape". Um inquérito foi instaurado na 10ª Subdivisão Policial. Outros grupos de pichadores são investigados. A reclamação entre os lojistas é grande, mas poucos se identificam, pois sabem que a represália é rápida. Um segurança de um centro comercial na área central contou que, há 20 dias, flagrou dois jovens pichando o banheiro do estabelecimento. Eles foram contidos e encaminhados para a delegacia. "Temos que estar o tempo todo muito atentos. A ousadia deles está cada vez maior", disse. Em uma loja de calçados, a gerente disse que não pretende pintar a parede pichada tão cedo. "Sei que não é o ideal, nossos clientes merecem um ambiente agradável, mas a parede limpa é chamariz para os pichadores. Vamos aguardar mais um pouco." À medida que o conformismo vai tomando conta dos lojistas, a esperança da população em ver a cidade mais bonita diminui. "É muito triste ver as paredes todas rabiscadas. Acho que eles deviam se dedicar a fazer arte de verdade", condenou a aposentada Alice Maria de Carvalho, de 66 anos. O secretário municipal de Defesa Social, Rubens Guimarães, atribuiu as pichações recentes a dois motivos: provocação às campanhas de conscientização e os protestos contra o aumento da tarifa do ônibus. Segundo ele, os resultados são mais consistentes quando os infratores são flagrados pelas câmeras da Guarda Municipal. "Em lugares descoberto pelas câmeras precisamos da colaboração dos moradores. Eles são os olhos da sociedade e devem denunciar, ainda que de forma anônima", aconselhou. Serviço – Denúncias sobre pichações podem ser feitas pelo fone 153 (Guarda Municipal) ou 190 (Polícia Militar) Folha de S.Paulo Lei de Acesso à Informação não funciona em 11 Estados Prestes a fazer dois anos, norma aguarda regulamentação de sete governos AP e MA disponibilizam botões falsos em seus sites, SE exige título de eleitor e RR pergunta se usuário age 'de boa-fé' Diógenes Campanha Patrícia Britto, de São Paulo Quase dois anos após entrar em vigor, a Lei de Acesso à Informação ainda é uma realidade distante em ao menos 11 Estados do país. Segundo a CGU (Controladoria-Geral da União), até o mês passado sete Estados ainda não a tinham regulamentado: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte e Roraima. Em dois deles (Amapá e Maranhão), é impossível fazer qualquer tipo de pedido. E mesmo onde já há regras definindo como deve ser a prestação de informações, a falta de um setor específico e de sites para receber os requerimentos dificultam a aplicação da legislação. Há ainda casos inusitados de obstáculo à transparência, como a exigência do número do título de eleitor do solicitante e de uma declaração de que está "agindo de boa-fé". Para testar a aplicação da lei, a Folha fez pedidos de informação a todas unidades da federação. Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Rio Grande do Norte não possuem site específico no qual deveria ser possível requerer informações por meio de um formulário que gere protocolo e permita o acompanhamento. Em Pernambuco e no Amazonas, os formulários existem, mas precisam ser enviados por e-mail e não permitem acompanhamento. Problema semelhante ocorre no Rio Grande do Norte e no Pará, onde os pedidos precisam ser enviados por meio do "Fale Conosco" dos portais do governo. Em Sergipe, o governo exige até o número do título de eleitor. O requisito contraria a Lei de Acesso, que prevê que "qualquer interessado", incluindo menores, estrangeiros e não eleitores, pode requerer informações. Em Roraima é preciso declarar "estar agindo de boa- fé". Mesmo assim, o site apresentou problemas técnicos por vários dias seguidos. Falhas também foram encontradas em Pernambuco, onde o ícone "Acesso à Informação" direcionava a uma página de acesso restrito ao administrador do sistema. No Rio Grande do Sul, a reportagem encontrou dificuldades ao tentar recorrer de um pedido não atendido. Na primeira tentativa, a página estava indisponível. Após contato com o governo, o site voltou a funcionar, mas outra falha surgiu: o sistema considerou, indevidamente, que o prazo para recurso (de dez dias) havia se esgotado. Já no Maranhão e no Amapá, onde a lei não foi regulamentada, os sites exibem falsos botões com ícone "Acesso à Informação". No primeiro caso, o link direciona o usuário para o site da CGU. No segundo, a página inicial do site é apenas recarregada. Outro lado / Gestões admitem falhas e prometem fazer melhorias De São Paulo A maior parte dos Estados com obstáculos para fazer pedidos por meio da Lei de Acesso à Informação reconheceu as falhas e afirmou que melhorias estão em curso. Os governos do Maranhão e do Amazonas afirmam que elaboram um projeto de lei para regulamentar a norma. O controlador-geral do Rio Grande do Norte, José Anselmo Carvalho, disse considerar que, por ora, a lei federal é suficiente para garantir o acesso às informações. O Acre disse que aguarda a classificação de documentos para, em seguida, normatizar a aplicação da lei. O governo de Rondônia informou que a criação do serviço de acesso à informação, inclusive de um site para receber os pedidos, está "em andamento". Pernambuco afirmou que houve "erro pontual" no link que direcionava para a página de administrador do sistema. Após o contato da reportagem, a falha foi corrigida. Quanto aos pedidos serem enviados por e-mail, disse estar "adaptando o sistema informatizado" para receber requerimentos no site. Sobre falhas na etapa de recursos, o Rio Grande do Sul disse que uma atualização fez o site ficar temporariamente indisponível e provocou o erro na contagem do prazo. Pará e Amapá não se manifestaram sobre a não regulamentação. Em Roraima, a controladora-geral, Maria Perpétua Magalhães, marcou horário para entrevista, mas não atendeu mais as ligações. O governo de Sergipe também não respondeu. PF pede ao Supremo que investigue ministro Polícia vê ligação de Manoel Dias com esquema para empregar militantes do PDT em ONG De Brasília A Polícia Federal em Santa Catarina pediu a abertura de investigação no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o ministro do Trabalho, Manoel Dias (PDT). A PF diz ter encontrado indícios da participação de Dias num esquema para empregar militantes de seu partido como funcionários fantasmas de uma entidade que firmou convênios com a pasta. Como o ministro tem foro privilegiado, só pode ser investigado por inquérito no Supremo. Por isso, a PF fez essa sugestão em relatório encaminhado à Justiça Federal de Santa Catarina, como mostrou ontem o jornal "O Estado de S. Paulo". Conforme a denúncia, filiados do PDT constavam da folha de pagamento da ONG ADRVale (Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Rio Tijucas e Itajaí Mirim) sem nunca terem trabalhado para a entidade, que teria recebido R$ 11 milhões de convênios com o ministério. A PF em Santa Catarina confirmou à Folha que encontrou indícios da participação de Dias no caso. O líder do PPS, deputado federal Rubens Bueno (PPS-PR), divulgou nota ontem afirmando que vai ingressar com representação na Comissão de Ética da Presidência da exigindo o imediato afastamento do ministro. A Comissão de Ética já havia aberto um processo contra Manoel Dias na semana passada para apurar denúncia de que sindicatos pagariam propina para acelerar a concessão de registros. A empresária Ana Cristina Aquino afirmou à revista "IstoÉ" que entregou R$ 200 mil ao ex-ministro Carlos Lupi, também do PDT, para acelerar o registro de um sindicato e disse que o esquema continua na atual gestão. Outro lado Procurada, a assessoria do Ministério do Trabalho confirmou ter conhecimento do inquérito em Santa Catarina, disse que a consultoria jurídica do órgão prestou esclarecimentos e que não comentaria o pedido da PF de investigação pelo STF. Brasil entrega à Itália pedido para extradição de Pizzolato Condenado pelo mensalão, ex-diretor do BB continua preso em Módena Palavra final caberá ao Ministério da Justiça italiano; como petista tem dupla cidadania, devolução é facultativa Graciliano Rocha, colaboração para a Folha, em Paris A embaixada do Brasil em Roma entregou ontem ao governo italiano o pedido formal de extradição do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. O dossiê foi entregue ao Ministério das Relações Exteriores da Itália, de onde deve seguir para o da Justiça, que tem a missão de enviar o caso ao Judiciário e, no fim do processo, tem a última palavra. A entrega foi confirmada pela embaixada em Roma. Procurado pela Folha, o Ministério da Justiça italiano informou que deve se pronunciar nos próximos dias. Condenado a 12 anos e 7 meses de prisão no julgamento do mensalão, Pizzolato fugiu para a Itália em setembro --dois meses antes de ter a prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal. Ele foi preso em Maranello (norte da Itália) no dia 5 de fevereiro em operação coordenada pela Interpol italiana. O ex-diretor do BB entrou na Europa com passaporte em nome de Celso Pizzolato, seu irmão morto em 1978. A extradição é incerta porque Pizzolato tem também cidadania italiana. O tratado entre os dois países faculta, mas não obriga a entrega. Depois que a discussão se esgotar no Judiciário, a última palavra caberá ao Ministério da Justiça italiano, que pode decidir mantê-lo no país mesmo se os juízes decidirem por devolvê-lo ao Brasil. A Folha não conseguiu contato com os advogados de Pizzolato ontem. Em uma audiência no mês passado, ele afirmou que não quer ser extraditado porque se diz vítima de processo "político".