Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento “ Técnicas Fotoacústicas Aplicadas ao Estudo da Cinética de Polimerização de Resinas Odontológicas ” Elaine Cristina dos Reis Coloiano Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica. São José dos Campos, SP 2002 Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Técnicas Fotoacústicas Aplicadas ao Estudo da Cinética de Polimerização de Resinas Odontológicas ” Elaine Cristina dos Reis Coloiano Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica. . Orientador: Prof. Dr. Airton Abrahão Martin. Co-orientador: Prof. Dr. Marcos Dias da Silva. São José dos Campos, SP 2002 “Técnicas Fotoacústicas Aplicadas ao Estudo da Cinética de Polimerização de Resinas Odontológicas ” Elaine Cristina dos Reis Coloiano Banca Examinadora Prof. Dr.Daniel Acosta Avalos (UNIVAP)_________________________________ Prof. Dr. Airton Abrahão Martin (UNIVAP)________________________________ Prof. Dr. Marcos Dias da Silva (INPE)____________________________________ Profa. Dra. Maria do Carmo de Andrade Nono (INPE)________________________ Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco Diretor do IP&D São José dos Campos, 19 de Dezembro de 2002. Dedico este trabalho à minha mãe que esteve presente em todos momentos de minha vida e, sem ela jamais estaria dando mais este passo; Ao meu futuro esposo, pelo amor, apoio, incentivo e compreensão nas horas em que não pude estar presente e A todos aqueles que amo e que de alguma forma contribuíram para que eu chegasse até aqui. Agradecimentos A DEUS, por mais uma das muitas conquistas que já me permitiu alcançar. A minha família, sempre presente em todas as horas. Ao meu orientador, Prof. Dr. Airton Abrahão Martin, pelo incentivo e exemplo de persistência nas horas mais difíceis. Ao meu co-orientador, Prof. Dr. Marcos Dias da Silva, pelos ensinamentos, atenção, empenho, paciência e amizade, durante a realização deste trabalho. Ao Reitor da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), Prof. Dr. Baptista Gargione Filho, e ao Diretor do IP&D, Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco, pela bolsa a mim concedida para a realização do Curso de Mestrado em Engenharia Biomédica. Ao Diretor da Faculdade de Ciências da Saúde, Prof. Dr. Renato Amaro Zângaro, pela confiança em mim depositada, desde o início do Curso de Mestrado, e no trabalho na Faculdade de Odontologia. Ao Engenheiro Químico Carlos Kuranaga e demais colegas do LAS (-INPE), pelo auxílio na realização deste trabalho. À Dra. Mirabel C. Rezende, à Dra. Michelle L. Costa, ao Dr.Edson C. Botelho, do Departamento de Física/Instituto Tecnológico de Aeronáutica/Centro Técnico Aeroespacial (CTA), pelo auxílio na realização das medidas no Reômetro e no DSC (Calorimetria Exploratória Diferencial). Ao Prof. Dr.Roberto Nicodemo pelo apoio e compreensão nos momentos em que tive que me ausentar das aulas na Faculdade de Odontologia. Ao Prof. Dr. Paulo Roxo Barja, pelo auxílio na realização das medidas e pelas correções da Dissertação. Aos funcionários do IP&D e da Biblioteca, por toda ajuda e atenção durante o desenvolvimento desta Dissertação. Aos meus amigos e todos colegas do IP&D que sempre estiveram ao meu lado durante a realização deste trabalho me dando força para não desistir e continuar. "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor." I COR. 13:13 Resumo Neste trabalho apresentamos um estudo da Técnica Fotoacústica como uma técnica alternativa para o monitoramento do processo da cura de materiais odontológicos, ressaltando as resinas acrílicas quimicamente ativadas (RAAQ) JET, da marca CLÁSSICO (Art. Odontológicos Clássico Ltda, São Paulo, SP). Para tanto foram confeccionados corpos de prova e divididos em dois grupos: um para avaliar a polimerização da RAAQ em diferentes temperaturas e outro para avaliar a polimerização da RAAQ em variadas concentrações de monômero/polímero. Foi medido o sinal fotoacústico em função do tempo, durante a polimerização, para as diferentes temperaturas e para as diferentes proporções de monômero/polímero. Os resultados foram interpretados considerando a função logística e a energia de ativação do processo foi estimada. Foi avaliada também a aplicabilidade da técnica para medidas em resinas fotopolimerizáveis. Os resultados demostraram a viabilidade do emprego da técnica fotoacústica para o monitoramento da cinética de polimerização de resinas odontológicas, permitindo interpretações qualitativas e quantitativas. Palavras-chave: Resina acrílica ativada quimicamente, fotoacústica, polimerização, materiais odontológicos Abstract In this work is presented the use of Photoacoustic as an alternative technique to monitor the curing process of odontological materials, emphasizing the resins chemically activated (RCA). For this study the samples were divided into two groups: one to evaluate the polymerization of the RCA for different temperature and the other to evaluate the polymerization of the RCA for different concentrations of monomer/polymer. It was measured the photoacoustic signal as a function of the time, during the polymerization, for the different temperatures and for the different monomer/polymer contents. The results were interpreted considering the logistic function and the activation energy was estimated. It was also evaluated the applicability of the technique for photoactivated resins. The obtained results show the viability of applying the Photoacoustic Techniques to monitor the polymerization kinetic of odontological resins, allowing for a qualitative and quantitative interpretation. Key-words: Resins chemically activated odontological materials. (RCA), photoacoustic, polymerization, Sumário 1. Introdução..............................................................................................................2 1.1.Características químicas e físicas das resinas acrílicas.........................................5 1.1.1. Composição das resinas acrílicas...............................................................5 1.1.2. Propriedades físicas das resinas acrílicas ativadas quimicamente.............7 1.1.3. Proporção monômero:polímero................................................................9 1.1.4. Interação monômero:polímero...................................................................9 1.1.5. Tempo de trabalho...................................................................................10 1.2. Mecanismo de polimerização das resinas acrílicas.......................................11 1.2.1. Polimerização por condensação...............................................................11 1.2.2. Polimerização por adição.........................................................................12 1.2.3. Forma molecular......................................................................................17 1.2.4. Polimerização por Ligações Cruzadas…….............................................18 1.2.5. Plastificantes............................................................................................18 1.3. Fotoacústica..................................................................................................19 1.3.1. Histórico...................................................................................................19 1.3.2. Aplicações da Técnica Fotoacústica........................................................20 1.3.3. Geração do Sinal Fotoacústico e Considerações Teóricas.......................22 1.3.4. Cinética de Polimerização.......................................................................25 2. Objetivo..............................................................................................................29 3. Materiais e Métodos.............................................................................................31 3.1. Confecção dos corpos-de-prova....................................................................31 3.2. Técnica Fotoacústica.....................................................................................32 3.2.1. Montagem Experimental...............................................................................33 3.2.2. Programas de Informática.............................................................................37 3.3. Manipulação da Resina Acrílica Ativada Quimicamente.............................38 3.3.1. Variação da Temperatura.........................................................................38 3.3.2. Variação da Proporção Monômero:Polímero..........................................38 3.4. Monitoramento do Sinal Fotoacústico durante a polimerização das amostras........................................................................................................39 4. Resultados...........................................................................................................41 4.1. Variação da Temperatura..............................................................................42 4.2. Variação da Proporção Monômero:Polímero...............................................46 4.3. Resinas Fotopolimerizáveis..........................................................................48 5. Discussão............................................................................................................51 6. Conclusões e Perspectivas Futuras......................................................................55 7. Bibliografia..........................................................................................................57 Lista de Figuras Figura 1 : Molécula de Metilmetacrilato................................................................................6 Figura 2 : Polimerização por condensação ..........................................................................12 Figura 3 : Ativação na polimerização por adição.................................................................12 Figura 4 : Ativação na polimerização por adição.................................................................13 Figura 5 : Ativação na polimerização por adição.................................................................13 Figura 6: Fases de iniciação na polimerização por adição do metacrilato de metila.....................................................................................................................................15 Figura 7: Fases de propagação na polimerização por adição do metacrilato de metila.....................................................................................................................................15 Figura 8: Fase de terminação na polimerização por adição do metacrilato de metila.....................................................................................................................................16 Figura 9: Célula Fotoacústica Convencional (configurações de iluminação frontal e traseira)..................................................................................................................................19 Figura 10: Detalhe da Câmara Fotoacústica Utilizada e Condição de Iluminação (frontal). 22 Figura 11: Partição do calor gerado devido a absorção de radiação, Φ o , entre a amostra, Φ am, e o ar, Φ ar.)..................................................................................................................23 Figura 12: Função Logística e sua Derivada.......................................................................27 Figura 13: Porta-amostras da Câmara Fotoacústica...........................................................31 Figura 14 : Sistema fotoacústico para monitoramento da cura de resinas...........................33 Figura 15: Lock-in...............................................................................................................34 Figura 16: Célula Fotoacústica-A........................................................................................34 Figura 17: Célula Fotoacústica-B........................................................................................35 Figura 18: Equipamento Fotoacústico.................................................................................36 Figura 19: Microcomputador para aquisição dos dados......................................................37 Figura 20: Curva indicando as fases de polimerização da RAAQ: arenosa, fibrilar, plástica, borrachóide e densa.............................................................................................................41 Figura 21: Evolução temporal do sinal fotoacústico para temperaturas de 22ºC, 29ºC e 37ºC.......................................................................................................................................42 Figura 22: Evolução temporal do sinal fotoacústico para uma medida típica realizada a 29ºC. A curva contínua representa o ajuste da curva logística no intervalo de 3 a 6 minutos..................................................................................................................................43 Figura 23: Evolução temporal da derivada do sinal fotoacústico para uma medida típica realizada a 29ºC. A curva contínua representa a derivada da curva logística ajustada ao sinal fotoacústico da figura 22, no intervalo de 3 a 6 minutos............................................44 Figura 24: Gráfico de Arrhenius para as médias dos tempos τ referentes às medidas nas temperaturas de 24ºC, 30ºC e 37ºC.......................................................................................45 Figura 25: Curvas da evolução temporal do sinal fotoacústico para diferentes proporções de monômero / polímero na resina acrílica...........................................................................46 Figura 26: Evolução temporal do Sinal Fotoacústico durante o processo de polimerização de uma resina foto-ativada (Z100 da 3M). A seta indica o instante que o fotopolimerizador foi ligado...............................................................................................................................48 Tabelas Tabela 1 : Amostras utilizadas na variação da temperatura................................................38 Tabela 2 : Amostras utilizadas na variação da proporção de monômero............................38 Tabela 3 : Tempos médios para cada temperatura...............................................................45 Lista de abreviaturas e símbolos % - Percentual mm - Milímetros O C - Graus Celsius Hz - Hertz ( unidade de frequência ) min. - Minutos g. - Gramas T - Temperatura DSC - Differential Scanning Calorimetry (Calorimetria Exploratória Diferencial) RAAQ - Resina Acrílica Ativada Quimicamente I* - Iniciador Tg - Temperatura de Transição Vítrea O2 - Oxigênio PMMA - Polimetilmetacrilato MMT - Montmorillonite (Montimorilonita) µm - Micrometro UV - Ultra-Violeta 1 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 2 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Dos antigos amálgamas e ligas metálicas aos novos materiais poliméricos, os procedimentos de restauração e prótese na odontologia, bem como a qualidade dos resultados finais, evoluíram enormemente. O desconforto dos processos eletroquímicos causados pelos metais na boca do paciente foram eliminados com o emprego de resinas poliméricas e, adicionalmente, o resultado estético e os custos dos procedimentos melhoraram substancialmente. Em geral, os compostos das resinas usados na odontologia são baseados nos metacrilatos; particularmente o metacrilato de metila. Embora este seja um campo muito dinâmico, e novos tipos de resina estão sendo desenvolvidos em bases regulares, o conhecimento dos cirurgiões-dentistas deve incluir conceitos básicos da química das resinas para que novos avanços neste campo possam ser criticamente avaliados (ANUSAVICE,1998). Os fabricantes dessas resinas realizam uma série de procedimentos de caracterização, testes e controle de qualidade do produto. Quando o profissional de odontologia recebe o produto, juntamente com o manual de instruções para aplicações e procedimentos de utilização, acredita ter, e possivelmente tem, o melhor resultado final para o seu cliente. No entanto, os testes realizados pelos fabricantes e as características físicas e químicas fundamentais desse produto, via de regra, não são divulgados aos profissionais. Nos manuais de instrução, as proporções de mistura monômero/polímero são, geralmente, indicadas em termos de volume e, na prática do dia-a-dia do consultório, a mistura na maioria das vezes é feita através de uma avaliação visual. A relação apropriada monômero/polímero é de grande importância para a estrutura final da resina. Em geral, quanto mais polímero for usado, menor será o tempo de reação. Além do mais, a contração da resina será menor. O tempo de trabalho depende também da temperatura, ou seja, quanto menor a temperatura, maior será o tempo de trabalho (PHILLIPS,1993). Da mesma maneira, nas resinas fotopolimerizáveis, a energia aplicada é quantificada em termos de tempo de aplicação da radiação, não havendo um controle 3 rigoroso sobre a intensidade da radiação aplicada (que depende do posicionamento do aparelho fotopolimerizador) e da profundidade alcançada. Salienta-se aqui que o profissional de odontologia recebe orientações a esse respeito no seu curso acadêmico, e portanto, espera-se que tanto o fabricante quanto o odontólogo levem esses fatores em consideração. As propriedades físicas e químicas das resinas são influenciadas pela proporção de monômero/polímero nas resinas ativadas quimicamente ou pela densidade de energia no caso das resinas fotoativadas. Um parâmetro importante para determinar se uma dada resina foi corretamente polimerizada é o grau de conversão. Um alto grau de conversão significa menor quantidade de radicais livres e portanto, melhores propriedades físicas e menor dano à camada pulpar do dente. Dentre as principais técnicas convencionais para estudar a cinética de polimerização em resina podemos citar a Calorimetria Exploratória Diferencial (DSCDifferential Scanning Calorimetry) pela qual podemos observar perfis de cura de sistemas reagentes, temperatura de transição vítrea e a determinação das melhores condições de preparação de compósitos (COSTA, M.L.; REZENDE, M.C.; PARDINI, L.C.,1999). Uma outra técnica é a reologia, que consiste na ciência que estuda o escoamento da matéria, pois apesar de um líquido em repouso não suportar tensões de cisalhamento, a maioria deles, quando colocada em movimento, resiste às forças que tentam movê-los. Esta resistência é chamada de viscosidade e deve ser visualizada como resultado de forças fricção interna, ou seja, no interior do líquido. Por isto, diferentes materiais apresentam viscosidades diversas (PHILLIPS,1993). Estes métodos são trabalhosos e muitas vezes demandam um tempo notável para serem realizados. A busca de uma nova técnica que estude a cinética de polimerização de maneira mais rápida e menos trabalhosa é de extrema importância. Sendo assim, este trabalho propõe a utilização da técnica fotoacústica para o monitoramento da polimerização em resinas odontológicas. Neste projeto foi estudado o comportamento durante a polimerização de resinas acrílicas quimicamente ativadas, aplicadas em odontologia, utilizando técnicas fotoacústicas para o monitoramento da evolução da polimerização com o tempo. Na fotoacústica, o calor gerado na reação exotérmica de polimerização e os efeitos da luz indutora da fotopolimerização, não interferem na medida, pois o sinal fotoacústico é 4 medido por detecção síncrona. A técnica fotoacústica é baseada na medida da mudança das propriedades térmicas da amostra durante o processo de polimerização. A técnica fotoacústica possui algumas peculiaridades que podem representar vantagens para o monitoramento da polimerização, em relação às técnicas convencionais, por permitir o acompanhamento do processo completo de polimerização e pelo fato de poder ser empregada tanto para resinas quimicamente ativadas quanto para as fotopolimerizáveis. Embora já tenham sido feitos alguns trabalhos utilizando fotoacústica no monitoramento de adesivos (TORRES-FILHO, PERONDI, MIRANDA, 1988), ( BALDERAS-LOPEZ et al, 1999), (MELO, 2000), não existe estudo sistemático sobre o assunto na área odontológica, envolvendo resinas acrílicas. Sendo assim, este estudo será uma contribuição relevante para a formação do odontólogo, ampliando seus conhecimentos na área de materiais. A aplicação da técnica fotoacústica no monitoramento da polimerização constitui uma novidade na área. 5 1.1 . Características químicas e físicas das resinas acrílicas 1.1.1. Composição das resinas acrílicas A resina sintética mais utilizada em odontologia é uma resina acrílica, o poli (metilmetacrilato-PMMA) (PHILLIPS,1993). As resinas sintéticas são frequentemente chamadas de polímeros. Um polímero é uma substância que, embora tenha estabilidade dimensional no uso normal, apresenta comportamento plástico em algum estágio da fabricação. As resinas são usualmente polímeros denominados termoplásticos quando amolecem novamente se reaquecidas, e termopolimerizáveis quando se tornam resistentes à deformações após a aplicação de calor (ANUSAVICE,1998). As resinas acrílicas são derivadas do etileno e contém um grupamento vinílico na sua fórmula estrutural. Existem pelo menos duas séries de resinas acrílicas que são de interesse em odontologia. Uma delas é derivada do ácido acrílico, e a outra deriva-se do ácido metacrílico. Estes dois compostos polimerizam-se por um processo chamado de adição, no qual não existe nenhuma mudança na composição da resina durante a polimerização (SUN,1994)). A composição de uma substância polimérica é costumeiramente descrita em termos de suas unidades estruturais, como pode ser inferido da etimologia do termo polímero, ou seja, muitas partes. A polimerização ocorre através de uma série de reações químicas, nas quais uma macromolécula ou um polímero é formado a partir da união de um grande número de moléculas unitárias, chamadas de monômeros. Um grande número de moléculas individuais com baixo peso molecular (meros), de uma ou mais espécies, reagem entre si para formar uma única molécula maior e com alto peso molecular (PHILLIPS,1993). Desde a metade dos anos 40, a maioria das placas-base para dentaduras tem sido confeccionada empregando-se o poli( metilmetacrilato). Tais resinas são polímeros resilientes formados pela junção de múltiplas moléculas de metilmetacrilato (fig.1) (CHAING,1984). 6 H \ C / H H | H—C—H | = C | C=O | O | H—C—H | H Figura 1 : Molécula de metilmetacritato. Os polímeros metacrilatos vêm alcançando boa popularidade na odontologia por serem econômicos e processados facilmente usando técnicas relativamente simples. Eles representam um grupo principal de polímeros que tem propriedades essenciais e características necessárias para o uso na cavidade oral. Eles devem ser insípidos, inodoros, não-tóxicos e não irritantes aos tecidos bucais; devem possuir adequada resistência à compressão e forças mastigatórias, forças de impacto e desgaste excessivo que pode ocorrer na cavidade oral; exibir translucidez suficiente para que possa se igualar à aparência dos tecidos orais que irá substituir, (ANUSAVICE,1998). Este sistema é comercializado sob a forma de pó e líquido. O pó é o metacrilato de metila, pré-polimerizado, na forma de partículas esféricas muito pequenas, contendo pigmentos corantes, com o iniciador adicionado (peróxido de benzoíla). O líquido é o monômero de metacrilato de metila, com a adição de um inibidor (hidroquinona). Quando se mistura o pó e o líquido, é produzida uma massa plástica, que pode ser moldada à forma desejável. A polimerização é acompanhada por aquecimento. Nas resinas ditas de polimerização a frio (quimicamente ativadas) é incorporado ao monômero um ativador do iniciador, geralmente uma amina terciária (dimetil-paratoluidina). Quando o pó e líquido são misturados, o ativador reage com o iniciador, o qual, por sua vez, rompe as ligações insaturadas do monômero, causando assim a polimerização (O`BRIEN e RIGE, 1981). 7 1.1.2. Propriedades físicas das resinas acrílicas ativadas quimicamente Quando o monômero de metilmetacrilato é polimerizado para formar o poli(metilmetacrilato), a densidade da massa altera-se, resultando em uma contração volumétrica de 21%, este fenômeno é chamado de contração de polimerização. Em resinas pré-polimerizadas essa contração é reduzida significativamente. Dentaduras totais construídas com resinas ativadas quimicamente geralmente apresentam melhor adaptação do que aquelas construídas com resinas termoativadas. Este fenômeno pode ser atribuído a uma menor contração térmica e maior grau de cura demonstrada pelas resinas ativadas quimicamente e pré-polimerizadas. A contração de processamento tem sido medida como 0,26% para uma resina ativada quimicamente, comparada com 0,53%, para uma resina termoativada. Outra alteração que pode ocorrer é a presença de porosidades superficiais e volumétricas, que podem comprometer as propriedades físicas, estéticas e higiênicas de uma placa-base processada. Estas regiões porosas, que podem atingir porções espessas de placa-base, resultam da vaporização do monômero não-reagido e de polímeros de baixo peso molecular, quando: a) a temperatura de uma resina atinge ou ultrapassa o ponto de ebulição desses compostos; b) quando da mistura não homogêneas dos componentes pó/líquido (onde algumas regiões da massa de resina conterão mais monômero que outras); c) pela incorporação de bolhas de ar durante a mistura da resina, dentre outros fatores (MONSENEGO et al, 1989). A incorporação de moléculas de água seja do ambiente ou do recipiente onde está sendo preparada para dentro da massa polimerizada produz dois importantes efeitos: a ligeira expansão da massa polimerizada e a interferência no entrelaçamento da cadeia polimérica, alterando as características físicas do polímero resultante. Testes laboratoriais indicam que a expansão linear causada por absorção de água é aproximadamente igual à contração térmica encontrada como resultado do processo de polimerização. Por esse motivo, de certa forma esses processos se compensam (TAKAMATA et al, 1989). As placas-base, embora solúveis em uma variedade de solventes e uma pequena quantidade de monômero possa ser liberada, são virtualmente insolúveis nos fluídos encontrados na cavidade oral (ANUSAVICE,1998). 8 Sempre que alterações dimensionais são inibidas, o material afetado apresenta tensões internas. Se as tensões são relaxadas, pode ocorrer uma distorção resultante caracterizado como empenamento. Este comportamento apresenta uma importante ramificação na confecção de placas-base, porque as tensões são induzidas durante o processamento. O relaxamento destas tensões pode produzir pequenas fendas na superfície, que podem afetar adversamente as propriedades físicas e estéticas de uma dentadura. Essas trincas ou fissuras consistem na separação mecânica das cadeias de polímeros, na aplicação de tensões externas tradicionais durante o uso, mas podem também ser produzidas como resultado da ação de solventes (CHAING,1984). A resistência mecânica e química de uma dentadura em si é dependente de vários fatores que incluem composição da resina, técnica de processamento e condições presentes no meio bucal. Talvez o determinante mais importante da resistência total da resina seja o grau de polimerização exibido pelo material. À medida que o grau de polimerização aumenta, a resistência da resina também aumenta. Em comparação com resinas termoativadas, os sistemas ativados quimicamente geralmente exigem menores graus de polimerização. Como resultado, as resinas ativadas quimicamente exibem aumento na quantidade de monômeros residuais e redução nos valores de resistência mecânica e dureza superficial. Apesar dessas características, as resinas termoativadas e ativadas quimicamente possuem módulos de elasticidade similares (PHILLIPS,1993). As resinas utilizadas para dentadura exibem um comportamento viscoelástico, ou seja, esses materiais agem como um sólido borrachóide e quando são submetidos a uma força constante (sustentada), o material exibe uma deflexão ou deformação inicial reversível. Se essa carga não for removida, uma deformação permanente poderá ocorrer com o tempo e é denominada creep. Em temperaturas constantes a velocidade de deformação pode ser elevada pelo aumento na temperatura, carga aplicada, monômero resídua a presença de plastificadores. Embora as velocidades de deformação para as resinas termoativadas e quimicamente ativadas sejam similares em situações de baixas tensões, a velocidade de flexão para as quimicamente ativadas aumenta mais rapidamente à medida que a força aumenta (TULACHA e MOSER, 1989). 9 1.1.3. Proporção monômero:polímero Uma proporção apropriada polímero/monômero é de fundamental importância na confecção de uma dentadura bem adaptada e com as propriedades físicas adequadas. Clinicamente, a polimerização de resinas para próteses dentárias produz contrações volumétricas resultantes das variações dimensionais que ocorrem durante a síntese do polímero. Cada molécula de metilmetacrilato possui um campo elétrico que repele a molécula mais próxima. Conseqüentemente, a distância entre duas moléculas é significantemente maior do que o comprimento de uma ligação carbônica (carbonocarbono). Quando as moléculas são unidas quimicamente, uma nova ligação carbonocarbono é formada. Isto produz uma redução no espaço da rede ocupado pela nova cadeia polimérica. A polimerização do metilmetacrilato para formar o poli (metilmetacrilato) resulta em uma redução volumétrica de 21% do material, o que poderia criar uma dificuldade significante na confecção de próteses em resina. No intuito de minimizar a alteração dimensional, os fabricantes de resina pré-polimerizam uma fração de material para dentadura o que resulta em uma contração prévia do material. O material pré-polimerizado pode ser misturado a um monômero compatível, e a massa resultante é, então polimerizada. A proporção aceitável de polímero/monômero é de 3:1 em volume, resultando na limitação da contração volumétrica (ANUSAVICE,1998). 1.1.4. Interação monômero/polímero Quando o monômero e o polímero são misturados em uma proporção adequada, uma mistura adequada para ser manipulada . Em descanso, a mistura resultante apresenta 5 estágios distintos: arenoso, fibrilar, plástico, borrachóide e denso. Durante o estágio arenoso, pouca ou nenhuma reação ocorre no nível molecular. As partículas de polímero (chamadas de pérolas) mantém-se inalteradas e a consistência da mistura pode ser descrita como “ áspera “ ou “ granulada”. Posteriormente, a mistura apresenta um estágio fibrilar. Durante este estágio, o monômero reage com a superfície das pérolas poliméricas. Algumas cadeias de polímero são dispersas no monômero no 10 estado líquido. Essas cadeias poliméricas se desenrolam aumentando, portanto, a viscosidade da mistura. Este estágio é caracterizado pela formação de “fibrilas” ou “grudentas” quando o material é tocado ou separado. Subseqüentemente a massa entra em um estágio plástico; sob o ponto de vista molecular ocorre um aumento do número de cadeias poliméricas em solução. Assim, um composto de monômeros e polímeros dissolvidos é formado. Uma grande quantidade de polímero não-dissolvido também permanece. Clinicamente, a massa comporta-se como uma massa trabalhável, não aderindo à superfície do recipiente ou à espátula. As características físicas e químicas exibidas durante as últimas fases desse estágio são ideais para a manipulação do material. Após o estágio plástico, a mistura entra em um estágio borrachóide. O monômero é dissipado por evaporação e pela penetração nas pérolas poliméricas. Em repouso por um longo período, a mistura torna-se rígida. Isto pode ser atribuído à evaporação do monômero livre, sendo este estágio denominado denso (PHILLIPS, 1983). 1.1.5. Tempo de trabalho O tempo de trabalho pode ser definido como o tempo em que o material utilizado para a confecção da base de dentadura permanece no estágio plástico. Esse período é crítico para o processo de modelagem. É recomendado que o estado de plasticidade permaneça por pelo menos 5 minutos. O tempo de trabalho é afetado pela temperatura ambiente. Por isso, o tempo de trabalho de resinas ativadas quimicamente pode ser estendido via refrigeração mas a presença de umidade pode degradar as propriedades físicas e estéticas da resina polimerizada. A contaminação por umidade pode ser evitada pela armazenagem (ANUSAVICE,1998). da resina em um recipiente hermeticamente selado 11 1.2. Mecanismo de Polimerização das Resinas Acrílicas A reação química que se dá pela união de unidades simples (unidades monoméricas) para formar as cadeias poliméricas características de um polímero, denomina-se polimerização (O`BRIEN e RIGE, 1981). As unidades estruturais geralmente se unem umas às outras por ligações covalentes, para formar a molécula do polímero. As propriedades físicas dos polímeros são grandemente influenciadas por alterações da temperatura, pelo meio, composição química, peso molecular e estrutura das ligações químicas. Em geral, quanto mais alta é a temperatura, mais moles e fracos serão os polímeros resultantes (PHILLIPS,1993). A polimerização pode ocorrer por uma série de reações localizadas gerando subprodutos, ou por reações de adição simples. Se a polimerização ocorrer pelo primeiro mecanismo, o processo será conhecido como crescimento por reação em cascata ou polimerização por condensação. Se a polimerização for obtida através de uma reação de adição, acontecerá a polimerização por adição, onde as macromoléculas são formadas a partir de unidades pequenas, ou meros, sem alteração na composição, pois o monômero e o polímero possuem as mesmas fórmulas empíricas (ANUSAVICE, 1998). Abaixo, descrevemos os dois mecanismos de polimerização: por condensação e adição. 1.2.1. Polimerização por condensação Este tipo de reação progride pelo mesmo mecanismo de uma reação química entre duas ou mais moléculas simples. As substâncias originais reagem e formam subprodutos, como água, ácidos alogênicos e amônia. A estrutura dos monômeros é tal, que o processo pode se repetir, formando macromoléculas. Entretanto, os meros de polímero contêm menos átomos que o monômero original. O esquema deste tipo de reação está mostrado na figura 2. 12 DIOL ÁCIDO DIBÁSICO HO - R - OH + HO -C- Q - C - OH || || O O REAÇÃO DE CONDENSAÇÃO HO-R-O-C-Q-C-OH || || O O + H2 0 Figura 2: Polimerização por condensação entre dióis e ácidos dibásicos. R e Q simbolizam as estruturas básicas das duas moléculas. Como visto na reação, um subproduto da condensação (neste caso, a água). 1.2.2. Polimerização por adição A reação de polimerização por adição geralmente ocorre na forma de um processo em cadeia. Tal polimerização requer um ativador, o qual produz um iniciador (I*) que será o centro ativo. Esta espécie de iniciador reativo une-se à molécula do monômero, tornando-a ativa. Como exemplo, uma molécula de etileno torna-se ativada através do iniciador I*, fazendo com que a dupla ligação se abra, tornando ativada a molécula ao monômero de etileno, pois resulta em um elétron livre para ser compartilhado com outro monômero. (Figura 3). H H | | I* + C = C | | H R H H | | I—C—C• | | H R Figura 3: Ativação na polimerização por adição do polietileno 13 Este etileno ativado agirá sucessivamente sobre outras moléculas de etileno e, desta maneira, a reação continua através de uma propagação, a partir deste centro ativo. Assim, essa cadeia pode formar uma macromolécula em função do tempo (Figura 4). H H H H | | | | I—C—C •+C= C | | | | H R H R H H H H | | | | I—C—C—C—C • | | | | H R H R Figura 4: Propagação da reação a partir do etileno ativado. A polimerização continua até a formação da molécula completa do polímero final (Figura 5): H H H H H H H H H H | | | | | | | | | | I—C—C—C—C—C—C—C—C—C—C- H | | | | | | | | | | H R H R H R H R H R Figura 5: Formação da molécula polímero final. A polimerização pode ser visualizada como uma série de reações em cadeia, como as que ocorrem durante uma explosão. O crescimento da cadeia do polímero termina quando o centro de ativação é bloqueado por um número distinto de reações de terminação. O processo acontece quase sempre de forma instantânea. As reações são exotérmicas e envolvem considerável quantidade de calor. Estruturas moleculares altamente ramificadas podem formar-se através de propagação, a partir de uma unidade de ramificação (PHILLIPS,1993). O processo de polimerização por adição ocorre em quatro estágios: indução, propagação, terminação e transferência de cadeia. Para iniciá-los, radicais livres devem estar presentes. Estes podem ser gerados pela ativação de moléculas de monômeros com luz ultravioleta, luz visível, calor ou energia transferida de outro componente que atua como radical livre (ANUSAVICE,1998). 14 O período de indução ou iniciação é o tempo durante o qual as moléculas do iniciador tornam-se energizadas ou ativadas e passam a transferir sua energia para as moléculas do monômero (Figura 6). Este período é fortemente influenciado pela pureza do monômero. Assim, qualquer impureza presente capaz de reagir com os grupos ativados pode aumentar a duração deste período. Quanto maior for a temperatura, mais curto será o período de indução ( PHILLIPS,1993). A energia de iniciação para a ativação das unidades moleculares do monômero de metilmetacrilato é de 16.000 a 29.000 calorias por mol, na fase líquida. O processo de polimerização utilizado nas resinas odontológicas é, geralmente, desencadeado por um destes três sistemas de indução: ativação por calor, ativação química, e ativação por luz ( PHILLIPS,1993). Um tipo de sistema de indução é a ativação química na temperatura ambiente da cavidade oral. Tal sistema constitui-se de pelo menos dois reagentes que, quando misturados, sofrem uma reação química gerando radicais livres. Durante o armazenamento, esses componentes devem ser mantidos separados uns dos outros; por esta razão, os sistemas de indução química normalmente são constituídos de duas ou mais partes. Um exemplo desse sistema é a amina terciária, o ativador, e o peróxido de benzoíla, o iniciador, que são misturados para iniciar a polimerização das resinas odontológicas autopolimerizáveis. Quando estes dois componentes (ativador e iniciador) são misturados, a amina provoca a divisão da molécula de benzoíla em dois radicais livres (ANUSAVICE,1998). Na reação de propagação (Figura 7), como somente são necessárias 5.000 a 8.000 calorias por mol, uma vez que o crescimento tenha se iniciado, o processo continua com uma velocidade considerável. Teoricamente, a reação em cadeia deve continuar com o aumento do calor produzido até que todos os monômero tenham se transformado em polímero. Entretanto, a reação de polimerização nunca se completa, passando para o estágio seguinte, chamado de terminação (Figura 8) onde a reação em cadeia pode terminar tanto por ligação direta como pela transferência de um átomo de hidrogênio de uma cadeia de crescimento para outra. Em outras palavras, ambas as moléculas tornam-se desativadas pela troca de energia. Apesar da terminação de uma cadeia poder resultar de uma transferência de cadeia, este processo difere das reações de terminações descritas, pois aqui o estado ativado é transferido de um radical ativado 15 para uma molécula inativa, criando, como conseqüência, um novo núcleo para futuro crescimento. Desta forma, uma molécula inativa do monômero pode ser ativada por uma macromolécula em crescimento, de tal maneira que haverá a terminação nesta última. Gera-se assim, um novo núcleo para iniciar o crescimento de uma nova cadeia. Da mesma maneira, uma cadeia na qual já tenha havido o término pode ser reativada e continuar a crescer (PHILLIPS,1993). INICIAÇÃO calor C6 H5 COO—OOCC6 H5 2 (C6 H5 C00• ) + CO2 Aminas PERÓXIDO DE BENZOÍLA RADICAIS LIVRES + DIÓXIDO DE CARBONO CH3 CH3 | | R • + CH2 = C R - CH2 - C• | | COOCH3 COOCH3 RADICAL + MONÔMERO RADICAL LIVRE (MONÔMERO ATIVADO) LIVRE Figura 6: Fase de iniciação na polimerização por adição do metacrilato de metila. PROPAGAÇÃO CH3 CH3 CH3 CH3 | | | | R—CH2 - C • + CH2 = C R - CH2 - C - CH2 - C • | | | | COOCH3 COOCH3 COOCH3 COOCH3 POLÍMERO COM + MONÔMERO CADEIA EM CRESCIMENTO RADICAL LIVRE Figura 7: Fase de propagação na polimerização por adição do metacrilato de metila. 16 (TÉRMINO) CH3 CH3 CH3 | | | R- CH2 - C - CH - C • + R • R - CH2 - C - R | | | C=O C=O C=O | | | O O O | | | CH3 CH3 CH3 POLÍMERO COM + RADICAL RADICAL LIVRE CADEIA POLIMÉRICA LIVRE Figura 8: Fase de terminação na polimerização por adição do metacrilato de metila As reações de polimerização não homogêneas, de modo a promover a exaustão total do monômero, ou a formação de cadeias poliméricas de mesmo peso molecular. Impurezas no monômero que possa reagir com os radicais livres irão inibir ou retardar as reações de polimerização podendo reagir tanto com o iniciador ativado, quanto com qualquer um dos núcleos (monômeros) ativados ou, ainda, com a cadeia ativada em crescimento, impedindo a propagação. A presença de tais inibidores influencia, o tempo do estágio de iniciação, bem como o grau de polimerização. Por este motivo, a adição de pequenas quantidades de hidroquinona ao monômero inibirá a polimerização, se não houver o contato ou a presença do iniciador. Ao ser adicionado o iniciador, a taxa de polimerização será abrandada pelo inibidor. A presença do oxigênio freqüentemente também causa o retardamento e não homogenização da polimerização, uma vez que ele reage com os radicais livres. Tem sido mostrado que a velocidade da reação e o grau de polimerização são menores se esta ocorrer ao ar. Se, por outro lado, a polimerização for realizada em tubos selados, valores mais altos dessas duas características serão obtidos. A influência do oxigênio na polimerização é governada por muitos fatores, tais como a sua concentração, a temperatura e a intensidade de luz (ANUSAVICE,1998). 17 Nas reações de polimerização por adição, (seção 1.2.2.), a macromolécula é formada pela polimerização de um mesmo tipo de unidade estrutural inicial (monômero). Para melhorar as propriedades físicas, às vezes é vantajoso usar dois ou mais monômeros quimicamente diferentes como iniciadores da reação. O polímero assim formado irá conter as unidades de todos os monômeros inicialmente presentes. Tal polímero é chamado de copolímero, e o processo para sua formação é conhecido como copolimerização. Em um copolímero, o número e a posição relativa dos diferentes tipos de unidades (monômero) pode variar entre as macromoléculas individualmente o que conferirá propriedades diferentes (PHILLIPS,1993). SALAHUDDIN e SHEHATA (2001) investigaram a contração durante a polimerização da resina acrílica de polimetilmetacrilato (PMMA) adicionando um composto inorgânico ( montimorilinita-MMT) na proporção de 1% pelo peso a um tipo comercial de PMMA para formar o PMMA-MMT composto. Os resultados obtidos indicaram a ocorrência um declínio significante das alterações físicas e retrações lineares entre as amostras de PMMA-MMT composto, comparado com as amostras de PMMA. 1.2.3. Forma Molecular Em suas formas mais simples, os dois tipos de polimerização por adição e por condensação devem produzir macromoléculas lineares. No caso dos polímeros por adição, derivações das reações podem surgir através da transferência da cadeia com o monômero ou moléculas de polímero, previamente formadas. Estas unidades estruturais do polímero podem ser conectadas de modo a formar um polímero de derivação nãolinear ou com ligações cruzadas. Nestes polímeros com ligações cruzadas, algumas unidades estruturais devem ter pelo menos dois sítios ativos para que as reações possam ocorrer (ANUSAVICE,1998). 18 1.2.4. Polimerização por Ligações Cruzadas A ligação cruzada é utilizada para fornecer um número suficiente de pontes entre as macromoléculas lineares resultando em uma rede tridimensional, que altera a resistência mecânica e química, a solubilidade e a absorção e adsorção de água da resina. O efeito da ligação cruzada nas propriedades físicas da resina varia com a composição química e a concentração dos formadores de ligações cruzadas e dos reagentes de polímeros. Em certos casos, as ligações cruzadas em um polímero com baixo peso molecular podem aumentar a temperatura de transição vítrea (Tg ) 1 , fazendo com que ela se equipare à de um polímero com alto peso molecular. Outros estudos têm mostrado que as ligações cruzadas apresentam pequena influência sobre a resistência à tração, a resistência à flexão e a dureza superficial (ANUSAVICE,1998). 1.2.5. Plastificantes Os plastificantes são freqüentemente adicionados à resina para reduzir sua temperatura de amolecimento ou de fusão. Assim, é possível transformar uma resina normalmente dura e resistente à temperatura ambiente em um estado em que se torne flexível e mole pela adição de um plastificante. O plastificante atua neutralizando parcialmente ligações secundárias ou forças intermoleculares que normalmente impedem que as moléculas de resina deslizem umas sobre as outras quando o material é submetido à tensões externas. Estas tensões podem ser consideradas análogas àquelas do solvente, pois ele também penetra entre as macromoléculas e aumenta o espaço intermolecular. Este tipo de plastificante é chamado plastificante externo sendo um composto insolúvel e com alta temperatura de ebulição. A plastificação de uma resina também pode ser obtida pela copolimerização com um comonômero adequado. Neste caso, o agente plastificante é uma parte do polímero e, assim, age como um plastificante interno. Os plastificantes usualmente reduzem a resistência mecânica, a dureza superficial e o ponto de amolecimento das resinas (ANUSAVICE,1998). 1 Tg : Consiste na formação de um sólido vítreo a partir de um monômero, ou seja, é o processo no qual a reação química é resfriada durante o ciclo de cura, sendo que a resina não atinge o estado de cura total (COSTA, M.L.; REZENDE, M.C.; PARDINI, L.C.,1999) 19 1.3. Fotoacústica 1.3.1. Histórico O Efeito Fotoacústico, pioneiramente descoberto por Alexander Graham Bell em 1880, foi elaborado experimentalmente e teoricamente, como técnica de diagnóstico para materiais sólidos, por Rosencwaig e Gersho na década de 70. Este efeito consiste na geração de ondas de pressão em uma câmara fechada (Câmara Fotoacústica), devido à absorção de luz modulada por uma amostra. O modelo convencional de uma câmara fotoacústica está representado na Figura 9. microfone Iluminação frontal Janela microfone M Iluminação trazeira amostra M amostra Figura 9: Célula Fotoacústica Convencional (configurações de iluminação frontal e traseira) A luz incidente, proveniente de uma fonte pulsada, ou modulada por um modulador de feixe luminoso, é absorvida pela amostra gerando pulsos de calor que causam uma flutuação periódica de temperatura na camada de gás adjacente a amostra (geralmente ar a pressão ambiente) com a mesma freqüência de modulação que a do feixe de luz incidente. A flutuação de temperatura causa a expansão e compressão dessa camada de ar, dando origem a ondas de pressão dentro da câmara, que são detectadas pelo microfone. O sinal do microfone depende de como a luz é absorvida pela amostra (Coeficiente de Absorção) e das condições de geração e transmissão de calor do sistema Ar - Amostra - Suporte. O modelamento matemático do sinal é gerado pela solução da 20 equação de difusão térmica para o sistema, tendo como condições de contorno a continuidade do fluxo de calor e a igualdade de temperatura nas interfaces. Dessa maneira o sinal gerado e sua fase são funções dos parâmetros térmicos da amostra, tais como, difusividade térmica, calor específico e condutividade térmica, bem como da freqüência de modulação da luz. A execução da técnica de diagnóstico consiste em medir o sinal e a fase em função da freqüência; e os parâmetros térmicos são determinados pelo ajuste do modelo teórico. É interessante ressaltar que a dependência do sinal fotoacústico (amplitude e fase) com relação aos parâmetros térmicos da amostra, permite a determinação desses parâmetros, no seu aspecto macroscópico, bem como a distinção dos processos de relaxação não radioativos, no seu aspecto microscópico, uma vez que o sinal fotoacústico é gerado por processos de absorção e relaxação envolvidos com a geração de calor. Por outro lado, a dependência do sinal fotoacústico em relação ao coeficiente de absorção óptica da amostra, permite medidas espectroscópicas. Ademais, em complementaridade à espectroscopia óptica convencional, quanto maior a absorção de radiação pela amostra, maior é o sinal fotoacústico, quando os processos de relaxação envolvidos geram calor, propiciando maior resolução. Ainda, como os processos de absorção de luz, geração e transmissão de calor são dependentes das condições de superfícies e interfaces, em determinadas situações a técnica fotoacústica é um instrumento eficiente na caracterização das mesmas. Dependendo do local onde a radiação é absorvida (superfície ou corpo do material) e do local e natureza dos processos de geração e difusão de calor, o que, em determinadas situações, pode ser modelado em função do comprimento de onda e da freqüência de modulação da radiação, é possível determinar tempos de relaxação e eficiências dos processos envolvidos e, assim, inferir conclusões sobre a natureza dos mesmos. 1.3.2. Aplicações da Técnica Fotoacústica A configuração mostrada na Figura 9 não é única, várias alterações são realizadas para diagnosticar gases, líquidos e sólidos, bem como para favorecer a obtenção (resolução) de um determinado parâmetro térmico. Dessa maneira a 21 fotoacústica tem se mostrado como uma poderosa técnica de diagnóstico em várias aplicações como espectroscopia, determinação de parâmetros térmicos, monitoramento de misturas gasosas, processos de relaxação em gases, aplicações biológicas e outras. Face ao exposto acima, as técnicas fotoacústicas têm se mostrado um instrumento eficiente na caracterização de materiais e monitoramento de parâmetros ambientais. Voltando para aplicações biológicas, é instrutivo citar ainda trabalhos de detecção de oxigênio (O 2 ) evoluído durante a fotossíntese em plantas “in vivo” e “in situ” (PEREIRA A.C. et al. 1994). Nestes trabalhos, uma câmara fotoacústica aberta foi acoplada sobre uma folha da planta em estudo. A folha foi iluminada, com radiação visível modulada, para a excitação da fotossíntese. Dessa maneira, a indução periódica da fotossíntese provoca a evolução de pulsos de O2 para o interior da câmara fotoacústica, que são detectados pelo microfone, constituindo uma nova técnica de monitoramento de oxigênio gasoso à temperatura ambiente. Cabe ressaltar que, neste caso, a geração do sinal fotoacústico não provém da absorção de radiação e geração de calor, mas sim do incremento periódico da pressão na câmara fotoacústica devido a evolução de O2 durante a fotossíntese. BALDERAS-LÓPES. J.A. et al. (1996) estudaram medidas de efusividade térmica e permeabilidade ao vapor de água em materiais porosos constituindo outra variação de aplicação da técnica fotoacústica. Nessas medidas, uma amostra do material poroso é fixada na câmara fotoacústica, com o lado externo voltado para um ambiente onde a umidade é controlada; dependendo da configuração experimental pode-se medir a variação da pressão interna da câmara fotoacústica em função da umidade, ou a variação da efusividade térmica da amostra em função da umidade. Medidas em função do tempo, do transiente entre uma umidade relativa e outra, permitem obter o tempo de difusão de vapor de água na amostra e a sua permeabilidade. BALDERAS-LÓPES et al.em 1999 realizaram um trabalho no qual descreveram uma nova metodologia de fotoacústica para medir propriedades térmicas de materiais. Esta metodologia é baseada na identificação da primeira descontinuidade no atraso de fase da fotoacústica usando o modelo de Rosencwaig. A caracterização térmica é determinada para uma variedade de resinas dentais medindo a difusividade térmica destas. 22 Renzo et al. em 2001 utilizaram a técnica fotoacústica com propósito de investigar a desmineralização e deproteinização; modificações químicas ocorridas na presença de ácidos, utilizados para modificar a estrutura e composição de superfícies de dentina humana, melhorando, assim sua união com resinas. 1.3.3. Geração do Sinal Fotoacústico e Considerações Teóricas A configuração experimental empregada neste trabalho foi aquela de iluminação frontal, na qual o sinal fotoacústico medido é o gerado do mesmo lado da face iluminada da amostra. A figura 10 mostra o detalhe da câmara fotoacústica utilizada neste trabalho. Câmara Fotoacústica Amostra Folha de Alumínio Microfone Janela de Vidro Luz Incidente Figura 10: Detalhe da Câmara Fotoacústica Utilizada e Condição de Iluminação (frontal) A folha de Alumínio (espessura = 60µm), conforme mostrada na figura 6, é pintada com uma fina camada de tinta preta (~1µm) do lado interno à câmara fotoacústica. Ela serve tanto como suporte da amostra, em processo de polimerização, quanto para absorver a luz incidente, proveniente de uma fonte modulada em uma determinada freqüência, e que atravessa a janela de vidro. Convém denotar que a luz não incide diretamente sobre a amostra, não influenciando, portanto no processo de polimerização. Nos casos para os quais a amostra em estudo é fotopolimerizável, a luz 23 do fotopolimerizador, contínua, é feita incidir pelo lado de cima, diretamente sobre a amostra, não influenciando na geração do sinal fotoacústico. Convém ressaltar também que a folha de alumínio e a camada de tinta preta são ambas termicamente finas, não influenciando na forma do sinal fotoacústico gerado. A câmara fotoacústica é hermeticamente fechada na atmosfera ambiente, de forma que contém ar em seu interior, na mesma pressão do ambiente do laboratório. A luz é absorvida pela camada de tinta preta e ali se transforma em calor. O calor gerado se difunde, então, tanto para a amostra, atravessando rapidamente a folha de alumínio, quanto para o ar no interior da câmara fotoacústica, na proporção das efusividades térmicas de cada meio, amostra e ar. A efusividade térmica, e = (kρ ρc)1/2 , onde k é a condutividade térmica, ρ a densidade e c o calor específico do meio, é uma grandeza que representa a facilidade do calor se difundir para aquele meio. A figura 11 esquematiza essa situação, onde o calor gerado na superfície pela absorção de luz se difunde para os meios adjacentes proporcionalmente às suas efusividades térmicas, ou seja, o fluxo de radiação Φ o (energia luminosa que se transforma em calor na superfície) é igual a soma do fluxo de calor para o lado da amostra Φ am com o fluxo de calor para o lado do ar Φ ar. Φo e ar Φ ar = Φ o eam + e ar ar amostra Φ am + Φ ar = Φo eam Φ am = Φ o e am + ear Figura 11: Partição do calor gerado devido a absorção de radiação, Φ o , entre a amostra, Φ am, e o ar, Φar. Como a luz é pulsada, a geração de calor também é pulsada, na mesma freqüência de modulação da luz. Esses pulsos de calor para o lado do ar causam uma flutuação periódica de temperatura na camada de ar adjacente a amostra, da ordem do comprimento de difusão térmica do calor no ar, com a mesma freqüência de modulação que a do feixe de luz incidente. A flutuação de temperatura causa a expansão e compressão dessa camada de ar, dando origem a ondas de pressão dentro da câmara, 24 que são detectadas pelo microfone. O sinal fotoacústico depende do fluxo de calor para o ar no interior da câmara, dessa forma, como as propriedades térmicas da amostra mudam durante a polimerização, e conseqüentemente a sua efusividade térmica, essa partição de calor é alterada e, assim, o sinal fotoacústico também é alterado, indicando os estágios do processo de polimerização. O modelamento matemático do sinal é gerado pela solução da equação de difusão térmica para o sistema, tendo como condições de contorno a continuidade do fluxo de calor e a igualdade de temperatura nas interfaces. Dessa maneira o sinal gerado é função dos parâmetros térmicos da amostra, tais como, calor específico e condutividade térmica, bem como da freqüência de modulação da luz. De acordo com ROSENCWAIG & GERSO (1976), para o nosso caso o sinal fotoacústico é descrito pela expressão: α µ µ S = So ar am = So ar k am πf α am × k am α ar = So πf ρ am c am × k am (1) Na qual : So = constante de amplitude que depende essencialmente da temperatura ambiente, da pressão ambiente, da intensidade de luz incidente, da geometria da câmara fotoacústica e da sensibilidade do microfone, parâmetros estes que permanecem constantes durante as medidas. µ = comprimento de difusão térmica do meio : amostra (µ µ am ) ou ar (µ µ ar). Cabe ressaltar que µ é um parâmetro que depende do material, dessa forma, se a espessura da amostra é muito menor que µ , então ela é considerada termicamente fina, ou seja, a temperatura é praticamente a mesma em toda a extensão da amostra. Por outro lado, se a espessura da amostra é muito maior que µ , ela é considerada termicamente grossa, ou seja, após a incidência de um pulso de luz, que se transforma em calor, em sua superfície anterior, a temperatura decai ao longo da extensão da amostra até sua superfície posterior. Portanto, µ = α πf (2) 25 onde α é a difusividade térmica da amostra e f é a freqüência de modulação da luz, de forma que µ depende da freqüência de modulação da luz. α = difusividade térmica da amostra ou do ar, α= k (3) ρc onde k é a condutividade térmica, ρ é a densidade e c é o calor específico da amostra ou do ar. Convém denotar que α é um parâmetro que dá a medida da extensão de propagação do calor no meio, ou também pode ser interpretado como uma medida do tempo de difusão do calor no meio τ d , que é o tempo que o calor demora para atravessar a amostra τ d = πL 2 α (4) onde L é a espessura da amostra. Dessa forma, podemos inferir da expressão de S, que o sinal fotoacústico, para o nosso caso, depende dos parâmetros térmicos da amostra, que se modificam durante a polimerização, e é inversamente proporcional à freqüência de modulação. 1.3.4. Cinética de Polimerização A evolução do processo de polimerização em função do tempo pode depender de vários fatores, como da composição química e do tipo de polímero, do processo empregado para a polimerização e da temperatura. Nas várias fases da polimerização, as características físicas e químicas do material apresentam alterações; dentre as características físicas podemos apontar as propriedades reológicas e térmicas. Medidas dessas propriedades permitem acompanhar a evolução da polimerização. Têm sido empregadas medidas de viscosidade (reocinética), medidas de temperatura ou energia calorífica envolvida (calorimetria exploratória diferencial – DSC) e, mais recentemente, 26 medidas das propriedades térmicas através de técnicas fotoacústicas, ainda em fase de estudos. Nas resinas autocatalíticas, como é o nosso caso, a taxa de reação costuma seguir o seguinte comportamento : ( ) dF 1 = × F m × (C − F )n τ dt (5) onde, numa reação química simples, F pode representar a fração de ligações químicas completadas, C o número máximo de ligações químicas que podem ser completadas e τ é o tempo característico da reação. Considerando m e n igual a 1, temos : ( ) dF 1 = × F × (C − F ) τ dt (6) Essa expressão, conhecida como equação de Volterra-Lotka, diz que a taxa de reação é proporcional à fração de ligações já completadas multiplicada pela fração que falta para completar. A solução dessa equação leva à seguinte expressão para F : F =C exp[(t − t o ) τ] 1 + exp[(t − t o ) τ] (7) F descreve uma função tipo crescimento – saturação, conforme representada na figura 12, denominada função logística. 27 O tempo característico da reação τ varia com a temperatura e freqüentemente é descrito pela lei de Arrhenius : τ = τo eE RT (8) onde E é a energia de ativação do processo, R é a constante dos gases e T é a 1,0 0,05 0,8 0,04 0,6 0,03 dF/dt F temperatura 0,4 0,2 0,02 0,01 0,0 0,00 0 10 20 30 40 50 t 60 0 10 20 30 40 50 60 t Figura 12: Função Logística e sua Derivada. Em mercadologia, na colocação de um novo produto no mercado, F é interpretada como a fração do mercado ocupada, de forma que a taxa de vendas se inicia pequena devido ao fato de o produto não ser conhecido, atinge um valor máximo e depois cai quando o mercado atinge uma saturação. No caso da cura de resinas, F está associada ao grau de polimerização. 28 CAPÍTULO 2 OBJETIVO 29 CAPÍTULO 2 OBJETIVO O objetivo deste trabalho é avaliar a Fotoacústica como uma técnica alternativa para o estudo da cinética da polimerização de resinas acrílicas utilizadas em odontologia. 30 CAPÍTULO 3 MATERIAIS E MÉTODOS 31 CAPÍTULO 3 MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho, avaliamos pela Técnica Fotoacústica o comportamento de polimerização de uma Resina Acrílica Ativada Quimicamente. A preparação das amostras e a análise das mesmas pela Técnica Fotoacústica foi realizada no Instituto Nacional de Pesquisas Especiais, no Laboratório de Materiais e Sensores, e no Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da UNIVAP, no Laboratório de Fotoacústica Aplicada a Sistemas Biológicos. 3.1. Confecção dos corpos de prova A amostra de resina acrílica foi depositada sobre um suporte na forma de “prato”, com cerca de 8 mm de diâmetro, cujo fundo é constituído por uma folha de alumínio, com 60 µm de espessura, e a borda por uma arruela de PVC; o volume da amostra é de cerca de 0,1cm3 conforme mostra a Figura 13. O fundo desse “prato” é acoplado à entrada da câmara fotoacústica. O suporte da amostra também permite a inserção de um termopar para o monitoramento da temperatura durante o processo. Amostra PVC ( φ externo = 16 mm, φ interno = 8 mm) Al (60µ µ m) Figura 13: Porta amostras da Câmara fotoacústica. O suporte foi totalmente preenchido com a resina acrílica (JET ARTIGOS ODONTOLÓGICOS CLÁSSICO LTDA, BRASIL), inserido com o auxílio de uma espátula no 24 (Duflex®). 32 As características da resina acrílica e ativada quimicamente, utilizada neste trabalho, já foram previamente descritas na introdução desta dissertação. Para a obtenção de cada amostra, foi utilizada uma balança de alta precisão OHAUS Analitical Plus (Mod.número AP250D) onde foram pesadas as quantidades de monômero e de polímero especificadas para cada experimento. O monômero e o polímero foram pesados em um pote de vidro (tipo dapen) e misturados mecanicamente com uma espátula no 24 (Duflex®) por 20 segundos. Em seguida a mistura foi inserida no porta amostra do equipamento, para a monitorização do sinal fotoacústico. As amostras foram divididas em 2 grupos, sendo um voltado para a proporção de monômero e polímero indicada pelo fabricante (0,500g de polímero para 0,200g de monômero) e tendo como variante o fator temperatura (24, 30 e 37OC). O outro grupo tendo como constantes a temperatura (28OC) e a massa do polímero (0,500g), variando então a massa de monômero (0,160g; 0,178g; 0,200g (indicada pelo fabricante); 0,228g; 0,260g). Para o fator temperatura foram confeccionadas 3 amostras para cada variante e para o fator variação de proporção de monômero foram confeccionadas 4 amostras para cada variante, totalizando então 29 amostras. 3. 2. Técnica Fotoacústica A viabilidade da utilização de técnicas fotoacústicas para monitoramento do processo de polimerização, bem como para a determinação de parâmetros térmicos de resinas, tem sido demonstrada (TORRES-FILHO, PERONDI, MIRANDA, 1988), ( BALDERAS-LOPEZ et al, 1999), (MELO, 2000). Como o sinal fotoacústico depende das propriedades térmicas da amostra analisada, as quais mudam durante o processo de cura de uma resina; o monitoramento “in loco” da amplitude e da fase do sinal fotoacústico, durante a reação de polimerização, permite inferir conclusões sobre a cinética da reação. Medidas fotoacústicas convencionais da difusividade e da efusividade térmica do produto final fornecem parâmetros térmicos da amostra em estudo. 33 3.2.1. Montagem experimental O sistema experimental básico está representado na Figura 10 e consiste de uma câmara fotoacústica, uma lâmpada de 250W para excitação do sinal fotoacústico, um “chopper” para a modulação do laser, um “lock-in” (Figura 15) para a detecção do sinal fotoacústico e um microcomputador para aquisição de dados. O “lock-in é um voltímetro síncrono que detecta sinais com a mesma freqüência de modulação do “chopper”. Lâmpada Figura 14 : Sistema fotoacústico para monitoramento da cura de resinas. (No caso de resinas fotoativadas, utiliza-se uma fonte de luz UV para a fotopolimerização). A célula fotoacústica (Figuras 16 e 17) tem o formato cilíndrico, com 8 mm de diâmetro e 2 mm de altura, e é selada por uma janela de vidro BK7 na parte inferior e pelo suporte da amostra na parte superior. Um duto de 1 mm de diâmetro acopla a célula a um microfone de eletreto. A amostra é preparada e depositada sobre o suporte esquematizado na figura 13. 34 Figura 15: Lock-in A radiação da lâmpada halógena de 250W, modulada pelo “chopper”, atravessa a janela de vidro e incide no suporte da amostra do lado interior à câmara fotoacústica (Figura16). Parte do calor gerado na folha de alumínio se difunde para a amostra; a outra parte se dissipa no ar interior à câmara gerando o sinal fotoacústico. Essa partição de calor depende das propriedades térmicas do material da amostra, que mudam com a evolução da cura, alterando o sinal fotoacústico. A radiação UV, de incidência contínua (não modulada) sobre a amostra, quando utilizada, somente ativa a polimerização da resina, não influenciando diretamente no sinal fotoacústico. Assim, esse tipo de experimento permite determinar o tipo de cinética da cura e o tempo de polimerização. Figura 16. Célula Fotoacústica-A 35 Figura 17: Célula Fotoacústica-B Com essa mesma configuração experimental, variando a freqüência de modulação do laser, é possível medir a efusividade térmica ( e = [kρ ρ c]1/2 )do material, onde k é a condutividade térmica, ρ é a densidade e c é o calor específico do material. Invertendo-se a posição do suporte da amostra e iluminando a folha de alumínio pelo lado de fora da câmara, pode-se medir a difusividade térmica ( α = k / ρ c ) do material. A montagem experimental do equipamento Fotoacústico se encontra na figura 18. O fotopolimerizador é utilizado somente para resinas fotoativadas. 36 FOTOPOLIMERIZADOR CHOPPER CÉLULA FOTOACUSTICA CONTROLADOR DE TEMPERARURA Figura 18: Equipamento Fotoacústico LÂMPADA 37 3.2.2. Programas de informática As curvas das medidas realizadas eram armazenadas no microcomputador (Figura 19), num arquivo formato ASCII e posteriormente tratadas no Programa Microcal Origin 6.0, do qual obtivemos os gráficos finais. Figura 19: Microcomputador para aquisição dos dados. Funções logísticas, conforme descritas na secção 1.3.4. foram ajustadas à seguimentos de curvas experimentais, utilizando-se as próprias rotinas de ajuste do Microcal Origem 6.0. 38 3.3. Manipulação da Resina Acrílica Ativada Quimicamente 3. 3.1. Variação da temperatura A variação da temperatura estabelecida para este trabalho para cada grupo de amostras se apresenta na Tabela 1, abaixo: Tabela 1: Amostras utilizadas na variação de Temperatura. T0 C AMOSTRA 1 AMOSTRA 2 AMOSTRA 3 240 C A241 A242 A243 300 C A301 A302 A303 370 C A371 A372 A373 Para o monitoramento e controle da tempertatura, um termopar tipo J foi acoplado a Câmara Fotoacústica, e um controlador de temperatura ECI NOVUS 8000 foi utilizado. 3.3.2. Variação da proporção monômero:polímero A variação da proporção de monômero está estabelecida na tabela 2, abaixo: Tabela 2: Amostras utilizadas na variação da proporção de monômero. Peso do Monômero(g) AMOSTRA 1 AMOSTRA 2 AMOSTRA 3 AMOSTRA 4 0,160 P61 P62 P63 P64 0,178 P71 P72 P73 P74 0,200 P81 P82 P83 P84 0,228 P91 P92 P93 P94 0,260 P101 P102 P103 P104 Foram constantes a temperatura, que permaneceu em 28OC, e a massa de polímero em 0,500g . A quantidade de monômero variou de acordo com a tabela 2. 39 3.4. Monitoramento do Sinal Fotoacústico durante a polimerização das amostras Os passos seguidos desde o preparo da câmara fotoacústica até a polimerização de cada amostra encontram-se descritos a seguir: • Inicialmente é realizada a limpeza da câmara fotoacústica com algodão e álcool. • Abriu-se, a válvula da câmara fotoacústica para a saída de ar. Foi passada graxa de silicone no anel da câmara fotoacústica para evitar vazamentos de ar, tendo o cuidado de se remover os excessos desta com algodão para não interferir no Sinal Fotoacústico. • O suporte da amostra é então acoplado à câmara fotoacústica, conforme mostrado nas Figuras 9 e 10, com o cuidado de que a câmara fique completamente vedada. • O sistema de medidas é ligado e o nível do sinal fotoacústico é medido, na freqüência de 17 Hz, para verificar o funcionamento correto do sistema. • O microcomputador é programado para realizar o tipo de medida desejado, escolhendo-se os parâmetros: número de pontos a serem adquiridos, intervalo de aquisição e nível de escala do sinal fotoacústico. Nas medidas em função da temperatura, a temperatura desejada é ajustada no controlador. • Os componentes da resina (monômero e polímero) são pesados separadamente de acordo com a medida programada. • O sistema de medidas é acionado, iniciando-se a aquisição dos pontos, antes da preparação da amostra. • Os componentes (monômero e polímero) são misturados um pote dapen e a resina é espatulada durante 20 segundos. Após esse procedimento, a resina é então depositada sobre o porta-amostra (tempo ≅ 10s.), na câmara fotoacústica, enquanto o sinal fotoacústico é monitorado. • O sinal fotoacústico é monitorado até o final da medida e os pontos adquiridos são formatados em arquivo ASCI para posterior tratamento. 40 CAPÍTULO 4 RESULTADOS 41 CAPÍTULO 4 RESULTADOS Neste capítulo apresentaremos os resultados experimentais obtidos para cada grupo de amostras, denominados fator de variação da temperatura e fator de variação de proporção de monômero da resina acrílica ativada quimicamente. A Figura 20 apresenta a evolução temporal do sinal fotoacústico para uma medida típica de uma resina quimicamente ativada, realizada a 22o C, com as proporções de monômero e polímero indicadas pelo fabricante (0,200g. monômero : 0,500g. polímero), mostrando os cinco estágios da reação, ou seja, arenosa, fibrilar, plástica, 1.20 Densa 1.05 Borrachóide 1.10 Plástica Fibrilar 1.15 Arenosa Sinal Fotoacústico (m.W.) borrachóide e densa. 1.00 0.95 0 5 10 15 20 25 30 35 Tempo (min.) Figura 20: Curva típica da evolução temporal do sinal fotoacústico, indicando as fases de polimerização da RAAQ. 42 4.1. Variação da Temperatura Na Figura 21, apresentamos as curvas correspondentes às medidas realizadas nas temperaturas de 22o , 29o e 37o C, com as proporções de monômero e polímero indicadas pelo fabricante (0,200g. monômero : 0,500g. polímero). 1,5 Sinal Fotoacústico (u.a.) 1,4 O T = 22 C O T = 29 C 1,3 O T = 37 C 1,2 1,1 1,0 0 5 10 15 20 25 Tempo (min) Figura 21: Evolução temporal do sinal fotoacústico para diferentes temperaturas. A medida realizada na temperatura de 22o C demonstra um comportamento de polimerização mais lento em todas as suas fases. O estágio inicial, correspondente às fases arenosa e fibrilar, foi o mais demorado (cerca de 15 min.) e, posteriormente, a fase plástica, correspondente a transição para o estágio borrachóide, demorou cerca de 3 minutos . Na curva das amostras que polimerizaram-se na temperatura de 29o C, podemos observar um comportamento de cura mais rápido, principalmente na sua primeira subida, compreendendo as fases arenosa e fibrilar, em comparação com a amostra polimerizada na temperatura de 22o C. A subida da curva indicativa da transição da fase 43 plástica para borrachóide ocorreu por volta dos 6 minutos após o início do processo de polimerização, portanto muito mais rápido que a amostra anterior, além do fato de permanecer no estágio plástico por um período de tempo relativamente curto. A curva do último grupo de amostras, submetido à polimerização numa temperatura de 37o C, apresentou a transição das fases arenosa e fibrilar para a plástica em torno de 3 minutos, o mais rápido, se comparado com a média das curvas dos grupos de amostras anteriores, passando então para o estágio borrachóide. Estes resultados vêm confirmar o que a literatura descreve, ou seja, em temperaturas mais elevadas o processo de polimerização ocorre de forma mais rápida, se comparado a uma polimerização ocorrendo em temperaturas mais baixas. A Figura 22 apresenta a curva correspondente à medida realizada na temperatura de 29º C juntamente com a função logística ajustada no intervalo entre os tempos de 3min. e 6 min., correspondente à fase plástica. Sinal Fotoacústico (mV) 1,5 1,4 1,3 tpac 16a P1 = 0.36884 P2 = 6.52062 P3 = 3.83114 P4 = 1.10095 1,2 1,1 ± 0.0008 ± 0.08189 ± 0.00221 ± 0.00069 1,0 0 5 10 15 20 25 tempo (min.) Figura 22: Evolução temporal do sinal fotoacústico para uma medida típica realizada em 29ºC. A curva contínua representa o ajuste da curva logística no intervalo de 3 a 6 minutos. 44 Os parâmetros de ajuste encontrados, conforme descritos na seção 1.3.3 estão indicados no quadro da figura. O parâmetro P4 (off-set) corresponde ao valor do sinal fotoacústico para o início da fase plástica. O parâmetro P1 corresponde à excursão total do sinal fotoacústico durante a fase plástica, ou seja, é igual à diferença entre os valores do patamar final (fases borrachóide/densa) e o valor do patamar inicial (P4). O parâmetro mais importante é o P2, que corresponde ao inverso do tempo característico da polimerização. Para esta medida, P2 = 6,52 min-1, o que corresponde a τ = 9.2 s. A Figura 23 apresenta a derivada da curva apresentada na Figura 22 (polimerização a 29ºC) e a derivada da função logística ajustada. 0,6 0,5 experimental teórica dS/dt (mV/min.) 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 -0,1 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 tempo (min.) Figura 23: Evolução temporal da derivada do sinal fotoacústico para uma medida típica realizada em 29ºC. A curva contínua representa a derivada da curva logística ajustada ao sinal fotoacústico da figura 22, no intervalo de 3 a 6 minutos. O parâmetro P3 corresponde ao ponto de inflexão da função logística, e consequentemente, ao máximo de sua derivada. Pode-se demonstrar que os pontos da derivada correspondentes a 78,6% de seu valor máximo ocorrem para os tempos de P3 ± τ . 45 Dessa forma foram computados os tempos médios para as medidas realizadas a 24º C, 30º C e 37º C, conforme mostra a tabela 3: Tabela 3: Tempos médios para cada temperatura. T (ºC) 24º C 30º C 37º C τ (s) 17,0 8,0 4,7 A Figura 24 apresenta um gráfico de ln( τ ) em função de (1/RT), o que nos permite estimar a energia de ativação da reação, de acordo com a lei de Arrhenius. A constante universal dos gases R = 8,31 J/mol.K. A reta corresponde ao melhor ajuste linear, cujo coeficiente angular corresponde a energia de ativação de polimerização. 3,0 2,8 2,6 ln[τ(s)] 2,4 2,2 2,0 Ea = 78 + − 8 k J / m o l 1,8 1,6 1,4 -4 3,85x10 -4 3,90x10 -4 3,95x10 -4 4,00x10 -4 4,05x10 -4 4,10x10 1/RT (mol/J) Figura 24: Gráfico de Arrhenius para as médias dos tempos τ referentes às medidas nas temperaturas de 24ºC, 30ºC e 37ºC. O coeficiente angular da melhor reta ajustada nos fornece o valor de Ea = 78 ± 8 kJ/mol., contra 68 kJ/mol encontrado por CHAODI et al (2001). Atribuímos essa discrepância, em torno de 15 %, às diferenças dos sistemas poliméricos e a ordem de polimerização considerada. 46 4.2. Variação da Proporção Monômero:Polímero. A Figura 25 apresenta a evolução temporal do sinal fotoacústico para uma medida típica sobre resina quimicamente ativada, realizada com variações da proporção de monômero tendo como base aquela indicada pelo fabricante (0,200g.). 1,05 Sinal Fotoacústico (u.a.) 1,00 0,95 0,90 P6 P7 P8 P9 P10 0,85 0,80 0,75 0,70 0,65 0 2 4 6 8 10 12 14 Tempo (min) Figura 25: Curvas da evolução temporal do sinal fotoacústico para diferentes proporções de monômero / polímero na resina acrílica. As variações na proporção de monômero foram realizadas aumentando a quantidade de monômero em 14% ( 0,228 g. correspondente a curva P9) e 30% ( 0,260 g. correspondente a curva P10), e diminuindo a quantidade de monômero em 11% (0,178 g. correspondente a curva P7) e 20% ( 0,160 g. correspondente a curva P6). 47 Tendo como padrão a curva P8, com as indicações de monômero e polímero indicados pelo fabricante, observamos que as curvas contendo a taxa de monômero maior apresentou um comportamento de polimerização diferente daquelas com uma menor taxa de monômero. Nas curvas com menos monômero (P6 = 20% a menos e P7= 11% a menos) podemos observar que houve uma demora nas fases iniciais de polimerização da resina (arenosa e fibrilar), pois não houve uma quantidade suficiente de monômero para umedecer totalmente cada uma das pérolas de polímero, enquanto na fase plástica, após haver ocorrido as ligações entre os componentes, a reação evoluiu de forma mais rápida, pois havia menos monômero para interagir com uma quantidade padrão de polímero. Podemos observar um comportamento oposto ao anterior, nas curvas com uma taxa de monômero acima daquela recomendada pelo fabricante (P9=14% a mais e P10= 30% a mais), onde a difusão do monômero entre as moléculas de polímero ocorrem com maior facilidade, acelerando, portanto as fases iniciais (arenosa e fibrilar), e, em contrapartida por haver mais monômero presente na reação; por outro lado, a reação correspondente à fase plástica ocorre mais lentamente. Podemos observar que a curva correspondente à proporção indicada pelo fabricante apresenta um comportamento intermediário em ambas as fases. 48 4.3. Resinas Fotopolimerizáveis A figura 26 apresenta a evolução temporal do sinal fotoacústico durante a polimerização da resina fotopolimerizável Z 100 da 3M. 1,4 Sinal Fotoacústico (mV) 1,3 1,2 1,1 1,0 0,9 0,8 0,7 0 100 200 300 400 500 600 Tempo (s) Figura 26: Evolução temporal do Sinal Fotoacústico durante o processo de polimerização de uma resina foto-ativada (Z100 da 3M). A seta indica o instante que o fotopolimerizador foi ligado. O procedimento de medida é similar ao das resinas quimicamente ativadas, com a resina Z100 sendo colocada diretamente sobre o suporte de amostras, acoplado à câmara fotoacústica. O sinal fotoacústico é monitorado durante 1 minuto, com a amostra já no suporte e com a lâmpada do fotopolimerizador desligada. Após esse primeiro minuto, a lâmpada do fotopolimerizador é então ligada. O sinal fotoacústico sobe quase que instantaneamente, indicando o início da polimerização, a qual ocorre muito rapidamente. 49 É interessante notar, que a luz modulada, que gera o sinal fotoacústico, é absorvida na folha de alumínio, pelo lado inferior, não atingindo a amostra e, portanto, não interferindo na fotopolimerização. Por sua vez, a luz de fotopolimerização não interfere na geração do sinal fotoacústico, por ser uma luz contínua. 50 CAPÍTULO 5 DISCUSSÃO 51 CAPÍTULO 5 DISCUSSÃO Inicialmente queremos denotar que a interpretação dos resultados obtidos não é definitiva, uma vez que este é um estudo preliminar sobre a aplicação da técnica fotoacústica para o estudo da cinética de resinas odontológicas. Ao longo do trabalho, percebemos que a célula fotoacústica utilizada, bem como o suporte de amostras, necessitam de algumas modificações para melhorar o sistema, como por expemplo, controle de temperatura mais preciso da célula, uma vez que, como foi constatado, os tempos envolvidos no processo de polimerização têm uma forte dependência com a temperatura. A base do suporte de amostras, constituído de uma folha de alumínio de 60 µm de espessura, deve ser mais rígida para evitar a sua flambagem devido a contração da resina durante a polimerização. A resina adere fortemente à folha de alumínio e, durante a sua contração, pode causar a envergadura da folha, o que influencia no sinal fotoacústico. Esses fatos contribuem para o aumento do ruído e comprometem a reprodutibilidade das medidas. Apesar disso, foi possível inferir uma série de indicativos que mostram a viabilidade da técnica e certamente contribuirão para o aprimoramento do sistema, os quais passamos a comentar. Primeiramente queremos abordar a forma das curvas obtidas para as resinas ativadas quimicamente. O sinal fotoacústico aumenta durante o processo de polimerização. Isso indica que o fluxo de calor para o lado do ar, onde é gerado o sinal fotoacústico, está aumentando, em detrimento do fluxo de calor que vai para a amostra, que está diminuindo. Significando, então, que a efusividade térmica da resina, e = (Kρ ρ c)1/2 , diminui com a polimerização, ou seja, o material se torna mais isolante térmico, possivelmente devido a diminuição do calor específico, o que geralmente ocorre para materiais que passam de um estado menos organizado para um estado mais organizado durante uma transição de fase. Outro aspecto observado sobre a forma da curva, foi que ela é caracterizada por uma subida relativamente lenta durante o estágio de inicialização da polimerização, correspondendo às fases arenosa e fibrilar, seguida de uma subida mais rápida durante a fase plástica, atingindo finalmente a saturação na fase borrachóide. Isso mostra que a 52 técnica fotoacústica pode propiciar uma maneira de investigação mais detalhada da fase inicial de polimerização. Essa subida inicial está associada ao fato de o sinal fotoacústico ser sensível a transformações de fase na amostra, independente do calor gerado pela própria reação. A Técnica de Calorimetria Exploratória Diferencial é sensível ao calor gerado na reação de polimerização propriamente dita; as técnicas que utilizam propriedades reométricas medem as mudanças na viscosidade da amostra; já a técnica fotoacústica mede as mudanças nas propriedades térmicas da amostra, independente da geração de calor ou modificações nas propriedades mecânicas, salvo quando estão associadas. Cabe ressaltar, no entanto, que não procedemos a uma análise quantitativa dessa subida inicial, pois alguns fatores que podem influenciar o sinal fotoacústico devem ser melhor avaliados, tais como, evaporação do monômero e escoamento da amostra no suporte durante essa fase inicial. Passamos a analisar agora a variação do comportamento do sinal fotoacústico com a temperatura de polimerização. Observamos, como já é conhecido, que o processo é mais rápido quanto maior for a temperatura de polimerização, e que é possível inferir os tempos característicos associados ao processo, que estão relacionados com a lei de Arrhenius. Na interpretação dos dados utilizamos um curva tipo crescimento saturação atribuindo as ordens n e m igual a 1(um), o que difere um pouco da literatura(n = 1,1 e m = 1,05). Optamos pela curva logística, para facilitar uma interpretação analítica com base em princípios fundamentais da física e da química. A diferença de 15% entre a energia de ativação por nós estimada e a determinada na literatura, pode ser atribuída a essa diferença nas ordens e ao sistema polimérico estudado. O nosso intuito foi demonstrar a correlação existente entre as curvas obtidas pela técnica fotoacústica e as obtidas por outras técnicas. Quanto às medidas em função da proporção monômero/polímero, em relação ao resultado obtido com a proporção indicada pelo fabricante, observamos que as curvas contendo uma quantidade de monômero maior apresentaram um comportamento de polimerização diferente daquelas com uma menor quantidade de monômero. Nas curvas com menos monômero observamos que houve uma demora nas fases iniciais de polimerização da resina (arenosa e fibrilar), pois não houve uma quantidade suficiente de monômero para umedecer totalmente cada uma das pérolas de polímero, enquanto na fase plástica, a reação evoluiu de forma mais rápida, pois havia menos 53 monômero para interagir com uma quantidade padrão de polímero. Nas curvas com uma taxa de monômero acima daquela recomendada pelo fabricante, onde a difusão do monômero entre as moléculas de polímero ocorre com maior facilidade, as fases iniciais (arenosa e fibrilar) são aceleradas; em contrapartida, a reação correspondente à fase plástica ocorre mais lentamente por haver mais monômero presente na reação. Finalmente, quanto às resinas foto-ativadas, embora não fizemos um estudo sistemático, pudemos constatar a aplicabilidade da técnica fotoacústica para o estudo da fotopolimerização. Cabe ressaltar que a luz modulada incidente sobre a folha de alumínio do suporte de amostras, para gerar o sinal fotoacústico, não atinge a amostra; conseqüentemente não interfere na polimerização. Por sua vez, a luz do fotopolimerizador, incidente sobre a amostra para ativar a polimerização, por ser uma luz contínua, não interfere na geração do sinal fotoacústico. Ademais, por ser um sistema aberto, permite o emprego de fontes de luz diversas para o estudo da polimerização foto-ativada. Este trabalho, embora constitui um estudo preliminar, vem também demonstrar detalhes do processo de polimerização, muitas vezes obscuros na prática do dia a dia em clínicas odontológicas. A amplitude do sinal fotoacústico está associada ao grau de polimerização, o que pode indicar a qualidade do produto final. No entanto é necessário um estudo mais detalhado, pois contribuem para a amplitude do sinal vários fatores como pressão e temperatura ambiente, intensidade de iluminação e características da célula fotoacústica, os quais devem ser isolados do fator grau de polimerização das amostras. 54 CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS 55 CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS Os resultados obtidos neste estudo permitiu-nos inferir as seguintes conclusões: § A técnica fotoacústica é viável para o estudo da cinética de polimerização de resinas odontológicas quimicamente ativadas e constitui uma novidade na área. § A técnica fotoacústica é viável para o estudo da cinética de polimerização de resinas odontológicas fotopolimerizáveis; permite o emprego de vários tipos de fonte de luz; o processo de medida não interfere na fotopolimerização e vice-versa; também constitui uma novidade na área. § Os resultados obtidos permitem interpretação qualitativa, distinguindo as fases envolvidas, e quantitativa do processo. § A técnica permite o acompanhamento da evolução do processo de polimerização do início até o final; os resultados apresentam detalhes da fase inicial do processo. § Constatou-se a dependência do processo de polimerização em relação a temperatura e a proporção monômero/polímero, nas resinas quimicamente ativadas, e a sensibilidade da técnica a esses parâmetros. § Constatou-se que é válido um investimento no projeto e construção de um sistema dedicado, com controle de temperatura mais preciso, suporte de amostra mais rígido e outras modificações para facilitar as medidas, alterações essas cuja necessidade foi levantada durante o trabalho. Essa é a proposta que fazemos para a continuidade deste programa, que se mostrou viável e interessante. § Será de suma importância também um estudo sistemático da relação entre a amplitude do sinal fotoacústico e o grau de polimerização. 56 CAPÍTULO 7 BIBLIOGRAFIA CAPÍTULO 7 57 BIBLIOGRAFIA ANUSAVICE, K. J. Phillips Materiais Dentários. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.25-128,136,150-155,1998. BALDERAS-LÓPEZ, J. A.et al. Thermal characterization of some dental resins using the photoacoustic phase lag discontinuities. Superficies y Vacio, v.8,p. 42-45, 1999. BELL, A G. On the production and reproduction of sound by light. Am. J. Sci., v.20, n. 118, p. 305-324, 1880. BOTELHO, E. C; SCHERBAKOFF, N; REZENDE, M. C. Estabelecimentos Reológicos na Obtenção de Compósitos Carbono/ Fenólica. Polímeros: Ciência e Tecnologia, Jan/Mar, p. 59-65, 1999. CHAING B. K. P. Polimers in the service of prosthetic dentistry. J Dent, v12, p.203, 1984. CHAODI LI et al. 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