TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009 • Nº 21 • ANO V
ISSN - 1809-0915
UM OLHAR GLOBAL NO PASSADO
Cientistas de vários países discutem os rumos da Arqueologia
no berço do homem americano
De Parnaíba a Parnaguá:
o Piauí é um grande
sítio arqueológico
Páginas 4, 5, 6, 7, 10 e 11
Projeto sobre a
religiosidade piauiense
recebe prêmio do MinC
Páginas 12 e 13
Fundo de Desenvolvimento
Técnico-científico financiará
pesquisas no Piauí
Página 16

2
EDITORIAL
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
Arqueologia e progresso
Chegamos à 21ª edição do
nosso Informativo Sapiência. Dessa
vez, com orgulho por abrir espaço
para Arqueologia. A importância
dessa área do conhecimento nunca
conquistou tanto reconhecimento
internacional para o Estado do Piauí,
como recentemente, com a escolha
do Brasil e do Estado do Piauí para
a realização do maior acontecimento
científico, no mundo, o Global
Rock Art – Congresso Internacional
de Arqueologia e Arte Rupestre.
Realizado aqui, não por acaso, mas,
obviamente, onde cada vez mais temse comprovado ser o berço do homem
americano: o Parque Nacional Serra
da Capivara, localizado no entorno
de quatro municípios, no Sudeste
do Piauí.
Pesquisadores de mais de
40 países vieram conhecer este
que é considerado um dos tesouros
arqueológicos mais importantes
do planeta, pela sua diversidade de
vestígios e pela peculiaridade do
modo de vida do homem que chegou
por lá há pelo menos 50 mil anos,
conforme as descobertas da Dra.
Niede Guidon. Aliás, o Sapiência já fez
uma justa menção a ela, na 5ª edição
do Informativo. Guidon revolucionou
a teoria até então estabelecida do
povoamento das Américas, justamente
quando começou seus estudos no
ano de 1973, no Parque, que hoje é
considerado o maior museu aberto do
mundo para estudos na área, tendo
uma concentração de mais de 1.300
sítios arqueológicos, muitos ainda a
serem investigados. E certamente a
contribuição da pesquisadora já vem
deixando frutos importantes, ao se
constatar que pesquisadores, professores
e estudantes do Piauí, oriundos do curso
de graduação e de mestrado da UFPI,
recentemente criados, já estão utilizando
o local para aulas práticas e teóricas.
Nesta edição, estão sendo
apresentadas reportagens sobre trabalhos
de muitos cientistas no Global Rock
Art. Na entrevista, o destaque é a Dra.
Conceição Lage, piauiense especialista
em uma área única na América Latina,
a arqueoquímica, ou seja, a utilização
da química na pesquisa arqueológica
e também uma das pesquisadoras
que mais vêm contribuindo para o
desenvolvimento e preservação dos
vestígios do homem pré-histórico em
outras regiões do Piauí.
E quando falamos em
desenvolvimento, certamente a
arqueologia está inserida. Assim
como ocorre nos países mais
desenvolvidos, no Brasil e no Piauí
estamos começando a perceber que
os estudos e os achados podem ser
sinônimos de progresso, porque
muitas outras áreas estão diretamente
ligadas a ela, como o turismo, a
arquitetura, o artesanato, a moda,
as artes plásticas e cênicas, mas
principalmente o grande legado
dos nossos antepassados é quando
podemos perceber, olhando para nós
mesmos, que é possível tirarmos
lições a partir do modo de vida que
eles empregavam e que, sem saber,
resolveram deixar para nós, para
mostrar que só é possível viver numa
sociedade organizada e em harmonia,
quando guardamos nossas tradições,
costumes e respeitamos o meio
ambiente e o próximo.
Acácio Véras
A inovação do ensino de História nas séries iniciais
O
ensino da
disciplina
História há
muito tempo tem
sido ministrado de
maneira enfadonha e
descontextualizada.
Isso gera uma grande
desmotivação na
maioria do alunado,
evidenciando dessa
forma a necessidade
Isabel C. de Aguiar Orquiz* de mudarmos a prática
Luiza L.Borges da Silva**
docente, sobretudo no
que diz respeito à metodologia de ensino,
seleção de conteúdos, recursos didáticos e
a formação de professores. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) - História
(1997) apresenta orientações para que
os docentes de séries iniciais possam
desenvolver atividades que contribuam
com o processo ensino-aprendizagem
privilegiando a ampliação de competências
que possibilitem a formação da cidadania.
Assim, os PCNs preveem para o Ensino
Fundamental possibilitar ao aluno identificar
o próprio grupo de convívio, suas relações no
tempo e espaço; organizar alguns repertórios
histórico-culturais; conhecer e respeitar o
modo de vida de diferentes grupos sociais;
questionar sua realidade identificando seus
problemas e refletindo sobre os mesmos;
utilizar métodos de pesquisa e produção de
textos de conteúdos históricos; valorizar
o patrimônio sócio-cultural e respeitar a
diversidade.
Em relação aos conteúdos de História,
as orientações dão prioridade para que
se iniciem as atividades trabalhando com
o conteúdo “Eu”. Dando continuidade
abordando a importância de o aluno
conhecer sua identidade, a família inserida
na sociedade e na escola; analisando seus
direitos e deveres a partir de acontecimentos
pertinentes a sua rua e seu bairro. Logo, o
discente ampliara seus estudos considerando
seu município, estado e país dentro de uma
visão social, cultural, econômica e política.
De acordo com as diretrizes para se ter uma
postura didática adequada o professor deve
buscar valorizar os saberes que os alunos já
possuem; propor novos questionamentos;
organizar pesquisas e investigações.
Segundo Bittencourt (2004), o método
tradicional ainda se apresenta como um dos
vilões do ensino de História, pois docentes
e pesquisadores não conseguem defini-lo
concretamente. Para atenuar essa situação
Bittencourt (2004) sugere a “introdução do
método dialético no ensino de História e
demais disciplinas” devido o confronto de
teses opostas que o mesmo promove. “O
confronto das teses possibilita a elaboração
do critico”, o que é desejável para alunos e
professores.
No que diz respeito aos critérios de
avaliação, os PCNs orientam os educadores
a valorizar e reconhecer os conhecimentos
e saberes já elaborados pelos alunos. O
ato de avaliar nos remete a necessidade de
estarmos diagnosticando o que de fato o
corpo discente sabe e precisa aprender.
Considerando o exposto em relação ao
processo ensino-aprendizagem, verificamos
que a formação continuada dos professores
de séries iniciais precisa contemplar a
relação entre a teoria – prática, com a
finalidade de capacitar os mesmos para
uma nova abordagem do ensino de História.
Assim, segue algumas sugestões de como
inovar o ensino de História nas séries
iniciais, a partir dos recursos didáticos.
Como sugestões iniciais,
mencionamos a elaboração do “Memorial”
de cada aluno. Essa atividade deve ser
realizada individualmente, pois ela tem por
objetivo fazer com que o aluno conheça
suas origens; após ter sido analisado
pelo professor, deve-se socializar com a
turma como forma de conhecer e respeitar
a identidade de cada um. Com isso, o
discente passa a conhecer a origem de
sua família, em seguida vem a criação
da “Árvore Genealógica” que viabiliza
o acesso à história de seus antepassados
e o entendimento do porquê residem em
tal localidade. Passando pelo estudo da
família, entramos no estudo do bairro, onde
professor e alunos sairão para percorrer as
ruas do bairro em que moram, verificando
como ele surgiu, quem foram os moradores
mais antigos, os problemas, o comércio,
a religiosidade, a cultura, a organização
política e demais situações. Após, o
professor pode construir com a turma
uma maquete do bairro, textos coletivos
e individuais, painéis com fotografias,
cartazes com desenhos ou frases explicando
a realidade do mesmo. Realizar debates,
organizar seminários para participarem
do evento, peças teatrais, mostrando o
cotidiano do bairro, produção de jornal
do bairro, paródias, feira cultural, feira
artesanal, documentário, dicionário, análise
de filmes, documentários, atos públicos
como maneira de chamar a atenção das
autoridades em relação às problemáticas
diagnosticadas no decorrer dos trabalhos.
Todas essas ações podem e devem
ser realizadas com a participação direta
dos alunos, isso fará com que se sintam
responsáveis por seu aprendizado, além de
motivados e interessados. Salientamos que
essas atividades são de baixo custo e que
para evitar maiores despesas, o professor
poderá utilizar materiais de sucata.
Portanto, a inovação do ensino de
História nas séries iniciais tornar-se-à
realidade à medida que a comunidade
escolar une-se para mudar os procedimentos
de formação profissional e aplicação
dos conhecimentos acadêmicos, como
contrapartida na construção de cidadãos
críticos, éticos e politizados.
* Profª da Faculdade R.Sá e UFPI - Picos
[email protected]
** Profª da Faculdade Evangélica Cristo Rei
[email protected]
Nº 21 • Ano V • Setembro de 2009
ISSN - 1809-0915
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
3
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
Formação discente no hospital psiquiátrico
A
pesar de
todas as
conquistas do Movimento
da Reforma
Psiquiátrica
Brasileira no
redirecionamento
modelo
Lucíola G.G.C. Feitosa* d o
assistencial
psiquiátrico brasileiro, o modelo
hospitalocêntrico persiste como
modalidade hegemônica de atenção
e ensino. Teoricamente prevalece a
leitura negativa dessa organização que,
para Goffman (1996), é uma instituição
total; para Foucault (1978), é uma
instituição que tem por tarefa aniquilar
o não ser (da loucura) e para Basaglia
(1985), é uma instituição de violência.
Essa visão ganha aceitação até mesmo
de organismos internacionais, como a
Organização Panamericana de Saúde,
que a visualizam pelos seus aspectos
iatrogênicos e violadores de direitos
humanos. Historicamente, é impossível
negar essa fase cruel, repressora,
controladora e violadora dos hospitais
psiquiátricos.
Este estudo partiu da seguinte
indagação: como é possível implementar
A
logística é
u m a
área tradicional da
administração
Elaine A. da Silva*
José M. Moita Neto** e uma etapa
essencial
em muitas atividades industriais
e comerciais. Com o propósito
de atender às exigências do
consumidor, a logística se ocupa
com o percurso do produto desde
a origem até o ponto de consumo.
Algumas atividades dependem
cada vez mais de uma logística
eficiente, dentre as quais podemos
citar as empresas manufatureiras,
empresas de transporte, empresas
alimentícias, serviços postais,
serviços com entrega à domicílio,
indústrias de bebidas, entre outras.
A atividade logística compreende o
estabelecimento das relações entre
os fornecedores e os revendedores,
a entrega de bens aos consumidores
e o fluxo de produtos desde o ponto
a formação profissional baseada na
reforma psiquiátrica tendo por campo
de prática de estágio, de ensino e de
pesquisa o hospital psiquiátrico?
Os objetivos que tiveram como
base os pressupostos da reforma
psiquiátrica no Hospital Areolino de
Abreu (HAA) foram: compreender
como se dá a formação profissional dos
discentes de nível superior; inventariar
as preocupações centrais inseridas no
cotidiano de prática docente e descrever
as possíveis contribuições da prática
docente na concretização da reforma
psiquiátrica a partir das práticas no
HAA.
A metodologia adotada foi
qualitativa e as estratégias de campo
empregadas nesse estudo de caso foram:
a entrevista focada na experiência
didático-pedagógica complementada
pelas técnicas de observação direta e
observação participante. O HAA foi
escolhido para ser o local do nosso
estudo, pois é tido como hospital escola
referência da assistência e do ensino em
psiquiatria no Piauí. Constituíram-se
como sujeitos da pesquisa 06 docentes
de 04 categorias profissionais distintas,
no ano de 2006.
A análise das informações
apontou as contradições vivenciadas
pelos docentes no cotidiano da
formação profissional dirigida aos
discentes, o que a nosso ver ainda
não configurou uma ressignificação
da formação profissional no âmbito
do Hospital Psiquiátrico. Embora
hegemonicamente a formação em
saúde mental ainda se centre em tal
instituição, ela deve ser repensada no
contexto da reforma psiquiátrica, tendo
em vista que as diretrizes do Ministério
da Saúde apontam para a superação do
modelo hospitalocêntrico.
A condução da formação neste
lócus prioritário tem por eixo a patologia
e o momento de agudização dos sintomas
da enfermidade, haja vista que as ações
dos hospitais em termos de reabilitação
psicossocial são secundarizadas e
em certas circunstâncias inexistentes
predominando a clínica tradicional.
Vale mencionar que poucos docentes
trouxeram à cena a discussão da clínica
ampliada ou clínica da reforma.
Entendemos que a transformação
das ações somente se consolidará
se forem prementes e constantes
as dinâmicas de modificações nas
concepções de mundo, sociedade e
homem de todos os sujeitos envolvidos
no processo. Tais transformações
exigem do docente uma tomada de
posição clara sobre a condução da
formação profissional no hospital
escola psiquiátrico, pois esta não pode
prescindir da necessidade de se fazer
escolhas e assumir o ônus desta opção,
não transgredindo valores e princípios
teóricos, norteadores de um modelo de
atenção à saúde, que para ser viável
requer a ação de profissionais dispostos
a intervir na realidade social, por
desfrutarem de instrumentos que os
coloquem em condição privilegiada para
enfrentar os desafios que são propostos,
extraindo deles suas vantagens em favor
do homem e da humanidade, num plano
ético-pedagógico inequívoco.
Os depoimentos dos docentes
indicaram a necessidade de um repensar
da função do HAA como espaço de
formação profissional, o que ainda está
por ser feito. Acreditamos que para tal,
há que haver empenho de cada docente
em particular, da direção do HAA e dos
gestores dos currículos das IES.
*Prof a MSC da Faculdade Integral
Diferencial (FACID)
[email protected]
Logística Reversa
de aquisição da matéria-prima até o
ponto de consumo final. Também, o
fluxo de processos e matérias-primas
numa linha de montagem requer uma
atividade logística bem planejada.
Cresce hoje uma outra
logística, no sentido inverso, ou seja,
indo do consumidor ao fabricante
ou distribuidor. É a Logística
Reversa. Essa logística é motivada,
inicialmente, pela proposição de
um melhor destino aos bens de pósconsumo. A logística reversa é a
responsável pelo retorno de produtos
aos fabricantes para que eles possam
reaproveitar os componentes desse
produto ou, pelo menos, dar um
destino ambientalmente correto a
eles. Um exemplo bem conhecido
são as embalagens retornáveis nas
indústrias de bebidas (garrafas de
vidro).
A necessidade da logística
reversa tem se acentuado em todo
o mundo em função da quantidade
e variedade de produtos com ciclos
de vida cada vez mais curtos.
Geralmente, os bens de pósconsumo só tem tido dois destinos:
a reciclagem e os aterros. Os aterros
devem apresentar uma estrutura
adequada para receber materiais
como celulares, pilhas, baterias e
tantos outros produtos que impactam
o meio ambiente. Portanto, a logística
reversa é duplamente justificada: 1)
a maioria dos aterros brasileiros
não apresentam esta estrutura e 2)
os produtos de pós-consumo (lixo),
quando devidamente reaproveitados,
podem auferir ganhos econômicos,
ambientais e sociais.
Quando os bens pós-consumo
poluem o ambiente, tanto as
empresas que os fabricaram como
os consumidores que os utilizaram
têm responsabilidades ambientais
(princípio do poluidor-pagador).
Algumas empresas estão cada vez
mais preocupadas com a sua imagem
no mercado e procuram reduzir
os impactos de suas atividades na
natureza a fim de serem consideradas
ecologicamente corretas.
A Política Estadual de
Resíduos Sólidos de Minas Gerais
prevê obrigações e responsabilidades
para os fabricantes, revendedores,
comerciantes, distribuidores e para
os próprios consumidores. Em breve
a logística reversa será incorporada
à legislação ambiental brasileira e,
portanto, pautará também as atividades
da indústria e do comércio no Piauí.
A Logística Reversa é uma
necessidade em todas as sociedades
desenvolvidas. A academia deve
estar preparada para auxiliar o
setor produtivo a cumprir seu papel
sócio-ambiental através de pesquisas
que apontam a melhor forma de
reaproveitar ou destinar corretamente
os bens de pós-consumo. Conhecer
as possibilidades de logística reversa
em Teresina é um primeiro passo.
* Mestranda em Desenvolvimento e
Meio Ambiente da UFPI
[email protected]
**Prof. Dr. de Química da UFPI
[email protected]
REPORTAGEM
4
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
Global Rock Art projeta internacionalmen
O
FOTO: PAULO BARROS
Piauí e o Brasil nunca
mais serão esquecidos
em rodas internacionais
quando o assunto for arqueologia.
Pela primeira vez, o país foi
escolhido para ser sede de um
suntuoso evento internacional de
arqueologia e arte rupestre. O Ifrao
(The International Federation of
Rock Art Organizations), decidiu,
ainda em 2006, que o Parque
Nacional Serra da Capivara,
localizado na região Sul do
Piauí, seria a sede do Congresso
Internacional de Arqueologia e
Arte Rupestre – o Global Rock
Art. O evento aconteceu com todo
o sucesso esperado, de 29 de junho
a 3 de julho deste ano. Uma das
justificativas da direção do Ifrao
foi a de que a região do Parque
Nacional Serra da Capivara reúne a
maior concentração de arte rupestre
do mundo e por isso especialistas
do mundo inteiro teriam interesse
em conhecê-la. Diante desse fato,
o encontro reuniu cientistas de
40 países, além de professores
e estudantes de vários estados
brasileiros.
A história do Global Rock
Art começou em sua primeira
edição em 1992, na Austrália, e o
evento já foi realizado em vários
países, como Estados Unidos,
Índia, Namíbia, Bolívia, Portugal
e Itália. O último ocorreu em
Lisboa, em 2006. O Ifrao foi criado
em 1988, na Austrália, durante
a primeira grande conferência
acadêmica internacional dedicada
exclusivamente ao estudo da arte
rupestre pré-histórica. Reúne cerca
de sete mil pesquisadores ligados
a 43 organizações em arte rupestre
em todo o mundo. No Piauí, a
Fundação Museu do
Homem Americano
(Fumdham) é entidade
associada e, por ter
como anfitriã,
a diretora presidente da entidade,
arqueóloga Niéde Guidon, esta
presidiu o congresso.
A proposta do Global Rock
Art é tentar demonstrar que a
globalização não é um fenômeno
atual, ela começa no berço da
civilização africana quando o
homem busca ocupar outros
continentes. Vários trabalhos de
pesquisas foram apresentados e, no
final, a comunidade científica foi
quase unânime ao opinar que este
foi o melhor de todos os encontros
já realizados.
Da importância científica e
social do evento, ressalta a socióloga
Anne-Marie Pessis, doutora em
Ciências Sociais pela Universidade
de Nanterre (França, 1980) e diretora
científico-técnica da Fundação
Museu do Homem Americano de São
Raimundo Nonato:
“O Congresso
Internacional
d e
A r t e
Rupestre no
Piauí foi um
evento de
divulgação
científica que
permitiu difundir o valor científico
e cultural de pinturas e gravuras rupestres do Parque Nacional
Serra da Capivara. Mostrou à
comunidade internacional
como no Estado do Piauí existe
um excepcional acervo pictórico
pré-histórico que determinou sua
inclusão na Lista do Patrimônio
Mundial (UNESCO). Mostrou,
também, o nível de excelência com
o qual este patrimônio cultural
da pré-história é conservado e
protegido, sendo o Piauí, onde
melhor se honram os compromissos
assumidos pelo Brasil, no plano
da preservação do patrimônio
mundial”.
A socióloga ressalta que
a realização do evento deu uma
maior visibilidade ao Parque
Nacional Serra da Capivara no
cenário mundial. “A realização do
Congresso será, sim, um divisor de
águas, pois permitiu evidenciar a
capacidade do Estado do Piauí de
organizar de forma extraordinária
um congresso internacional num
município com uma infraestrutura fortemente deficiente. Além
disso, demonstrou sua
capacidade de mobilizar um
município, aglutinando a população
que foi muito solidária na
preparação e realização
do evento, dando
provas de um

5
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
Niéde Guidon, que presidiu o Global Rock Art, em discurso durante o encerramento do evento
Operacionalização
A Fundação Museu do Homem
Americano (FUMDHAM) foi criada
no ano de 1986, em São Raimundo
Nonato, Estado do Piauí. Tratase de uma entidade científica,
filantrópica, uma sociedade civil,
sem fins lucrativos, declarada de
utilidade pública estadual e federal e
cadastrada no Conselho Nacional de
Assistência Social. A FUMDHAM
foi criada por pesquisadores de uma
cooperação científica binacional
(França-Brasil). As pesquisas
tornaram-se interdisciplinares,
criando-se o Projeto Piauí, cujo
tema de pesquisa foi definido como
“A interação homem-meio, da préhistória aos dias atuais, no sudeste
do Piauí”. Durante os últimos trinta
anos, essa equipe científica estudou
a região, constituindo um importante
acervo de conhecimentos sobre
a área. Hoje, a FUMDHAM tem
como finalidade operacionalizar
o retorno dos resultados das
pesquisas à sociedade, tanto no plano
cultural, ecológico, como no plano
desenvolvimento sócio-econômico
da área de proteção ambiental que
circunda o Parque Nacional da Serra
da Capivara.
Depois da realização do Global
Rock Art, a diretora científico-técnica
da FUMDHAM, Anne-Marie Pessis
revela que a meta da Fundação é dar
continuidade ao trabalho realizado
para a concretização do evento.
“A capacidade de mobilização do
Estado do Piauí deve ser aproveitada
para dar seguimento a este grande
esforço e investimento realizado.
Além disso, a finalização do
aeroporto internacional viabilizará
uma visitação regular e progressiva,
assim como a realização de novos
eventos científicos e de congressos de outras áreas temáticas”, destacou
Anne Marie. Outro ponto ressaltado pela
socióloga é a recente criação do
Instituto Nacional de Arqueologia,
Paleontologia e Ambiente, pelo
CNPq/MCT, com sede na Fundação
Museu do Homem Americano que
abre um leque de possibilidades
de realização de projetos acadêmicos
e de pesquisa, assim como a realização
de atividades de desenvolvimento
turístico que beneficiarão à macro
região de São Raimundo Nonato
e consequentemente ao Estado do
Piauí como um todo. Anne-Marie Pessis
Diretora científico-técnica da
FUMDHAM
[email protected]
FOTOS: MÁRCIA CRISTINA
potencial de cidadania de sua
população”, completou AnneMarie Pessis.
A diretora presidente da
FUMDHAM, Niéde Guidon,
já vislumbra um futuro
para a arqueologia e para o
desenvolvimento da região. “Aqui
nós já tivemos três congressos
internacionais, mas nenhum tão
grande como esse. Houve um
investimento muito grande do
governo, que abriu essas portas e
agora temos que aproveitar, pois
tudo isso tem que voltar para o
Piauí, justamente a ideia foi essa. A
presença de pesquisadores aqui de
vários países reforça a importância
do Parque e levarão as notícias e
as descobertas daqui para o mundo
todo. Temos aqui um centro de
pesquisa de nível internacional,
o que possibilita a realização
periódica de congressos. A partir
de agora, as pesquisas em rede
serão ampliadas, temos um centro
e um museu virtual e vai começar
um trabalho de intercâmbio de
professores e alunos, que é excelente
para a formação de todos”, e
completou, “sentirei-me realizada
no momento em que tiver a certeza
de que eu posso morrer sabendo
que o museu, as pesquisas, esses
laboratórios, e tudo o que existe
aqui, vão continuar sendo mantidos
no mesmo nível internacional, e
que as pessoas aqui da região vão
poder continuar trabalhando e que
as coisas não têm um fim”, concluiu
Niéde Guidon no encerramento do
evento. Niéde Guidon começou
os trabalhos de escavação
na região ainda nos
anos 70.
FOTO: MÁRCIA CRISTINA
ente o Parque Nacional Serra da Capivara
1
2
3
Projétil utilizado para flexa fabricado há 8 mil anos e encontrado na Serra da Capivara (foto 1); detalhe
interno do Museu do Homem Americano, que guarda urna funerária com restos de um esqueleto (foto2 e 3);
REPORTAGEM
6
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
FOTO: MÁRCIA CRISTINA
Participação comunitária na preservação do
patrimônio arqueológico brasileiro
Marcos Paulo de Souza Miranda *
O
Art. 216 da Constituição
Federal Brasileira
estabelece que os bens
de natureza material e imaterial
constituem patrimônio cultural
brasileiro, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de
referência e identidade à ação, à
memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira,
no qual incluem: os conjuntos
urbanos e sítios de valor históricos,
paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e
científico. A Lei de Proteção ao
Patrimônio Arqueológico Brasileiro,
Nº 3.924 de 1961, estabeleceu um
regime jurídico próprio para os bens
de valor arqueológico; ela estabelece
que nenhum sítio pode ser destruído
ou explorado economicamente, sem
ser, primeiramente, pesquisado. A
Lei 6.513/77 (Art. 1º, I) considera os
sítios arqueológicos e pré-históricos
como bens de interesse turístico.
Já a Lei de Crimes Ambientais, Nº
9.605/98, prevê pena de reclusão
de um a três anos e multa para
quem destruir, mutilar, danificar ou
alterar o aspecto de sítios ou bens
arqueológicos (Artigos 62 e 63),
patrimônio. Na verdade, cada cidadão
não só pode, como deve adotar
inclusive as pessoas jurídicas podem
medidas, deve procurar os órgãos
responder criminalmente.
responsáveis no caso de ameaças e
Foi sobre essas questões
degradação. O Ministério público
que o Coordenador da Promotoria
pode ser provocado porque é um
Estadual de Defesa do Patrimônio
defensor dos direitos da sociedade. A
Cultural e Turístico de Minas Gerais,
conclusão é que o dever de proteção
órgão vinculado à Procuradoria
é um dever solidário, de todos”.
Geral de Justiça, Marcos Paulo de
Consta na própria Constituição
Souza Miranda, proferiu palestra
Federal
de 1988, em seu Art. 216
no Congresso Internacional de
§1º
que
o poder público, com
Arte Rupestre - o Global Rock Art,
a colaboração da comunidade,
no município de São Raimundo
promoverá e protegerá o patrimônio
Nonato, para uma plateia seleta
cultural brasileiro, por meio de
de pesquisadores de vários países,
inventários, registros, vigilância,
professores e estudantes de cursos
tombamento e
de arqueologia
desapropriação,
da UFPI e de
Devemos deixar
e de outras
outros estados
de lado a visão corriqueira
formas de
brasileiros. Ele
de que somente o poder
acautelamento
enfatizou que
e preservação.
público
deve
adotar
o patrimônio
Para o promotor
medidas para proteção de
arqueológico
Marcos Paulo,
é um direito
seu patrimônio. É um dever
é essencial esse
que pertence à
solidário, de todos.
dever para que
coletividade,
se possa deixar
inclusive, às
para gerações
futuras gerações e disse ainda que a
futuras
o
que
nos
foi
legado pelos
comunidade pode e deve preservar
ancestrais. “Na verdade, a identidade
esse patrimônio.
do povo está materializada em
“Este Congresso é
vestígios deixados por povos que
extremamente importante para o
foram responsáveis pela formação
patrimônio cultural e especialmente
dessa identidade cultural. Então,
arqueológico brasileiro. Foi uma
o cidadão deve ser o primeiro
felicidade para o Brasil receber esse
guardião de sua cultura e história.
evento aqui no Piauí e a participação
Se a sociedade não se apropriar
da comunidade é de fundamental
desse patrimônio, qualquer ação
importância. É um momento muito
pública, por mais exitosa que seja,
oportuno para se refletir sobre qual o
jamais conseguirá alcançar todos
papel da comunidade, como o cidadão
os resultados porque a participação
comum pode atuar em beneficio do
popular é imprescindível para defesa
nosso patrimônio cultural. Devemos
do seu patrimônio”, explicou.
deixar de lado a visão corriqueira de
Um bom exemplo de como
que somente o poder público deve
a comunidade pode contribuir
adotar medidas para proteção de seu
diretamente para a preservação de
suas riquezas culturais é a ONG,
a NPA, em Andrelândia, Minas
Gerais, que protege a Serra de Santo
Antônio, onde está localizado o Sítio
Arqueológico da Toca do Índio,
com um rico acervo de pinturas
rupestres de mais de 3.500 anos de
idade. O sítio estava abandonado
pelo poder público e sofria forte
depredação pelo homem tanto em
sua vegetação de mata atlântica
quanto dos vestígios do homem préhistórico. Com a atuação da NPA,
o local foi transformado em Parque
Arqueológico da Serra de Santo
Antônio, em área hoje protegida
pela Lei de Crimes Ambientais,
reconhecida em 2001 pelo Ibama
como Reserva Particular do
Patrimônio Natural, numa unidade
de conservação federal. O local
passou a receber sinalização, foi
estruturado para receber turistas,
passou a ter viveiro de árvores
nativas para reflorestamento e aulas
de educação ambiental e patrimonial
para a comunidade e turistas. Os
resultados são visíveis: o processo
de degradação do sítio foi freado,
a comunidade passou a conhecer
e ter maior consciência sobre o
seu patrimônio arqueológico,
houve aumento do fluxo turístico
no município e o poder público
passou a dar maior atenção ao seu
patrimônio.
* Coord. da Promotoria Estadual
de Defesa do Patrimônio Cultural
e Turístico - MG
[email protected]

7
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
A
arquiteta Claudiana Cruz dos
Anjos da Superintendência
do IPHAN no Piauí
apresentou trabalho “A experiência
da Superintendência Regional do
IPHAN no Piauí na conservação e
sociabilização de sítios de pintura
rupestre”, durante o Congresso
Internacional de Arte Rupestre – o
Global Rock Art, evento do qual o
IPHAN foi um dos patrocinadores.
Esta proposta de trabalho do
IPHAN, que é direcionado para a
fiscalização, proteção, identificação,
restauração, preservação e
revitalização dos monumentos,
sítios e bens móveis do país, inclui
no Piauí além do Parque Nacional
Serra da Capivara, também sítios
arqueológicos dos municípios de
Pedro II e Castelo do Piauí, ambos
no Norte do Estado. Todas as
ações são supervisionadas pela
superintendente do órgão no Piauí,
Diva Figueiredo.
Para Claudiana Cruz, a
gestão dos sítios de arte rupestre
tem exigido da Superintendência
Regional do IPHAN no Piauí, além
de conhecimentos específicos na
área de arqueologia, a observação de
sua interface com as pessoas ligadas
direta ou indiretamente a este
patrimônio; com os aglomerados
urbanos próximos a ele; com
as questões de identificação e
herança cultural e com o turismo e
a manutenção deste patrimônio.
“Diante do potencial
arqueológico do Piauí, atualmente
com aproximadamente 1.400 sítios
identificados, entre pintura rupestre
e gravuras, apenas a identificação
deste acervo mostrou-se insuficiente
para sua preservação. A conservação,
proteção e sociabilização são um
caminho para a apropriação deste
patrimônio pela comunidade e para
sua preservação”, esclareceu.
Em três anos, a
Superintendência Regional do
IPHAN no Piauí realizou o
cercamento de 58 sítios, sinalização
FOTO: ROBERTA ROCHA
IPHAN atua na conservação e sociabilização
de sítios de pinturas rupestres no Piauí
Arquiteta Claudiana Cruz* e a Superintendente do Iphan, Diva Figueiredo**
em 66, instalação de estrutura de
visitação em 10, conservação de
painéis de pintura rupestre em 67 e
elaboração de projeto de instalação
de estrutura de visitação em mais 10
sítios com pinturas rupestres. Estes
sítios foram escolhidos em função
das ameaças a que estão sujeitos,
da visitação turística desordenada
existente, da sua localização e
acessibilidade e da propriedade da
área onde está localizado.
“Esse trabalho de conservação
e de sociabilização que o IPHAN
já realiza há pelo menos oito anos
começou na região do Parque
Nacional da Serra da Capivara.
Mas especificamente no município
de Coronel José Dias havia uma
mina de calcário, o que estava
culminando com a destruição de
pinturas rupestres no lugar. O
IPHAN teve uma participação
direta para por fim a este dano ao
patrimônio histórico e cultural do
lugar; para isso, tivemos o apoio
da Polícia Federal, do Ministério
do Trabalho, pois não adiantava
expulsar aquelas pessoas, que
estavam apenas trabalhando pela
sua subsistência. Tínhamos que
encontrar a melhor saída para o
parque e também para os moradores
do lugar. Em 2004, o problema
lá foi resolvido”, explicou Diva
Figueiredo.
No município de Pedro
II, o trabalho de conservação e
conscientização dos moradores
está no início, segundo a
Superintendência do IPHAN. Lá,
os sitos arqueológicos próximos à
zona urbana já receberam passarelas
e sinalização, para evitar o acesso
direto e o contato desenfreado com
a arte rupestre deixada pelo homem
no passado.
No entanto, o IPHAN tem um
trabalho muito mais amplo em busca
da conservação de sítios e parques,
que vai além das comunidades que
vivem próximas a esses lugares. “O
pesquisador tem que ter um projeto
de pesquisa cadastrado e autorizado
pelo IPHAN para poder atuar
nesses locais onde há vestígios de
inscrições rupestres. O trabalho de
pesquisa tem que ter uma equipe do
IPHAN, os resultados precisam ser
apresentados e cadastrados. Então,
existe uma série de normas que
precisam ser respeitadas até mesmo
por aqueles que estudam o assunto”,
destacou Diva Figueiredo.
A arquiteta Claudiana Cruz
afirmou que é essencial e traz
resultados eficazes se houver
também um trabalho de educação
com os moradores que vivem perto
ou até dentro de áreas de proteção.
“Esse trabalho que o IPHAN faz tem
a parceria com as prefeituras dos
municípios. Pessoas são contratadas
para aplicarem cursos para essas
comunidades. Em Pedro II, por
exemplo, o Instituto tem parceria
com a Fundação Grande Pedro
II, que realiza uma séria de ações
sobre educação patrimonial com
jovens da região e até com visitantes
e os resultados são positivos”,
explicou.
No litoral piauiense, na cidade
de Parnaíba, o IPHAN recebeu ofício
recente para analisar a possibilidade
de dar concessão ou não a dois
empreendimentos comerciais que
estão para surgirem. “O IPHAN
vai começar a avaliar para dar seu
parecer, porque são empresas que
pretendem ser instaladas próximas
ao Sítio do Seu Bode, um local de
preservação patrimonial, registrado
pelo IPHAN. O que se quer é
minimizar os impactos causados pela
ação do homem e se considerarmos
que os danos podem ocorrer, o
parecer é negativo”, informou Diva
Figueiredo.
A criação do IPHAN em nível
nacional obedece a um princípio
normativo, atualmente contemplado
pelo artigo 216 da Constituição
Federal, que define patrimônio
cultural a partir de suas formas de
expressão; de seus modos de criar,
fazer e viver; das criações científicas,
artísticas e tecnológicas; das obras,
objetos, documentos, edificações
e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais; e
dos conjuntos urbanos e sítios de
valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico.
* Arquiteta do IPHAN-PI
[email protected]
**Superintendente do IPHAN-PI
[email protected](86)3221-1404
ENTREVISTA: Drª. C
8
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
Conceição Lage, uma referênc
FOTO: ROBERTA ROCHA
Maria Conceição Soares Meneses Lage possui graduação em
Química pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Oswaldo
Cruz (1980), São Paulo; mestrado em Arqueoquímica (1987)
e doutorado em Arqueologia Antropologia Etnologia (1990)
ambos pela Université de Paris I Panthéon Sorbonne, França.
É bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nível
1C), pesquisadora e conselheira científica da Fundação
Museu do Homem Americano – FUMDHAM, professora/
pesquisadora da Universidade Federal do Piauí, desde 1984.
Lage tem experiência na área de Arqueologia, com ênfase
em Conservação de Arte Rupestre, atuando principalmente
nos temas: arte rupestre, arqueometria, conservação,
arqueoquímica e análise química. A doutora presidiu a
comissão que criou na UFPI a graduação em Arqueologia e
Conservação de Arte Rupestre, sendo a primeira coordenadora.
É membro permanente dos Programas de Pós-Graduação
da UFPI em Química e em Antropologia e Arqueologia.
Dentre alguns dos projetos de pesquisa que coordena,
alguns com participação do IPHAN, estão
Conservação e sondagem no Sítio Arqueológico
Pedra do Castelo, no município de Castelo do
Piauí; Diagnóstico de conservação, escavação e
estrutura de visitação para sítios arqueológicos
localizados no município de Pedro II. É autora
do livro Conservação de Sítios de Arte Rupestre
(1986) e possui diversos capítulos de livros
publicados. Como membro, já participou de quatro
bancas de doutorado, além de outras bancas de
mestrado, graduação, sendo também orientadora
de aluno de doutorado e de vários da iniciação
científica.
SAPIÊNCIA - A arqueologia
no Piauí tem cada vez mais obtido
conceito de credibilidade quanto
às suas riquezas desvendadas e
ainda guardadas pelo tempo, à
espera de novas investigações.
Qual a sua visão com relação ao
crescimento dos estudos nesta área
do conhecimento?
Drª. Conceição Lage - O
trabalho arqueológico desenvolvido
no Piauí é referência para o
mundo, pois segue rígidos critérios
científicos. São raros os centros
de pesquisa arqueológica que
possuem equipamentos e pessoal
tão qualificado como o que temos
aqui e o material coletado é sempre
analisado nos melhores laboratórios,
como, por exemplo, as datações são
sempre realizadas em laboratórios
do estrangeiro de maior fiabilidade.
É gratificante trabalhar em um
centro tão bem instalado, com
as melhores condições técnicas
para desenvolver a investigação, e
ainda mais aliar tudo isso a sítios
maravilhosos, portadores de rico
material que comprova a estadia
do homem pré-histórico na região
em períodos muito recuados para
a arqueologia americana, como
50.000 anos atrás. Mas como esses
homens chegaram lá? De onde e
como vieram? A expectativa é a de
crescimento cada vez maior para
a área da arqueologia, precisamos
tentar responder a essas questões e,
bem sabemos, seguindo os mesmos
rígidos critérios que a pesquisa exige
e que bem aprendemos na Serra da
Capivara. Portanto, o Piauí ainda terá
espaço para a pesquisa arqueológica
por muito tempo.
SAPIÊNCIA - O Global Rock
Art, encontro científico internacional
que reuniu pesquisadores de mais
de 40 países foi considerado um
sucesso. Importantes cientistas
elogiaram as riquezas rupestres
presentes no Parque Nacional Serra
da Capivara sob a orientação da
arqueóloga Niéde Guidon. A Sra.
acredita que a arqueologia no
Piauí pode ser dividida em dois
momentos: antes e a partir do
evento?
Drª. Conceição Lage - Na
realidade o Global Rock Art veio
para comprovar a importância
e o reconhecimento mundial
da arqueologia do Piauí e mais
especificamente da região do Parque
Nacional Serra da Capivara, no
entanto, o que se pode dizer mesmo
é que a arqueologia no Piauí e no
Brasil pode ser dividida entre antes
e após Niède Guidon. Foi ela quem
colocou o Piauí no contexto científico
arqueológico mundial. Inclusive,
em 1986, a Serra da Capivara foi
capa da “Nature”, maior revista
de divulgação científica mundial,
em razão da antiguidade dos seus
sítios arqueológicos, obtidos através
de datação C-14 efetuadas no
Laboratoire de Gif-sur-Yvette, na
França e publicado na referida revista
em artigo assinado por Niède e
Georgette Delibrias. Nesse mesmo
ano, outro fato me chamou muita
atenção, foi quando cheguei em
Paris para iniciar meu doutoramento.
Logo no primeiro dia de aula,
em plena Sorbonne, o professor
Dr. Eric Taladoire convidou os
alunos a se apresentarem e fez o
seguinte comentário: “esse ano
temos uma aluna ilustre, que vem
do Brasil, mas adivinhem de onde?
Do Piauí”, ele respondeu e todos
me olharam admirados. Confesso
que senti um orgulho enorme e
foi, de fato, a primeira vez que
ser do Piauí significava sinal de
status; então, naquele momento
entendi a importância da nossa
arqueologia para a ciência mundial
e a abrangência do trabalho de Niède
Guidon.
SAPIÊNCIA - O Parque
Nacional Serra da Capivara será,
mais do que nunca, um precioso
laboratório para aulas práticas e
também para pesquisas de campo
do mundo inteiro, como já acontece
por lá, mas principalmente agora
com o surgimento do curso de
Arqueologia da UFPI?
Drª. Conceição Lage - O
PARNA Serra da Capivara e a
FUMDHAM são laboratórios
imprescindíveis para qualquer
estudante de arqueologia. O trabalho
desenvolvido ali há mais de 30
anos é exemplo de como se deve
fazer pesquisa. Os laboratórios ali
presentes são de ponta e contam
ainda com a colaboração de inúmeros
pesquisadores reconhecidos
internacionalmente, que ali passam
sistematicamente para desenvolver
trabalhos. Não dá para enumerar
todos, mas há uma equipe em
permanência que conta com
pesquisadores franceses, italianos,
portugueses, norte-americanos e
brasileiros. Tudo isso aliado a
sítios riquíssimos em vestígios de
diferentes tipos e épocas, portanto
somos privilegiados em poder
contar com tudo isso para bem
formar nossos alunos, que, aliás, já
entenderam muito bem isso, pois
desde que o curso de graduação
em Arqueologia da UFPI iniciou,
em 2008, já no primeiro semestre
daquele ano, que nossos alunos
têm ido sistematicamente estagiar
lá no parque, sob a orientação da
professora doutora Gisele Daltrini
Felice e com o apoio da doutora Niède
Guidon, que financia alojamento e
alimentação no campo.
SAPIÊNCIA - O legado que
os nossos ancestrais deixaram por
aqui tem servido para muitas ações
positivas, entre elas a preservação,
sustentabilidade e educação
ambiental das comunidades que
ª. Conceição Lage
9
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
ncia na pesquisa arqueológica
pobreza, principalmente com o
vivem próximas de sítios
trabalhos nessa área. Somado a isso,
mundo voltado para as riquezas
arqueológicos, como é uma realidade
eu ainda tive o privilégio de me
arqueológicas que possuem. O
em municípios como São Raimundo
especializar em uma área nova para a
turismo será uma das janelas para
Nonato e Coronel José Dias, graças
arqueologia, que é a arqueoquímica,
o desenvolvimento daquela região.
aos projetos desenvolvidos pela ou seja, a utilização da química na
Qual a sua visão sobre isso?
FUMDHAM. Para a Sra., o que
pesquisa arqueológica, e já fizemos
Drª. Conceição Lage - A
mais a Arqueologia pode trazer de
diferentes trabalhos nessa área como
pesquisa arqueológica já mostrou
transformador para as sociedades
a identificação dos constituintes
que a região Sudeste do Piauí passa
futuras?
químicos de pigmentos pré-históricos
por transformações importantes.
Drª. Conceição Lage - A de sítios de diferentes regiões (Serra
No passado foi bem mais úmida do
pesquisa arqueológica é muito
da Capivara, Sete Cidades, Castelo
que é hoje, com rios e cachoeiras
interessante, pois obrigatoriamente
do Piauí, Pedro II, Caxingó), a
caudalosas, mas que há cerca de
envolve uma equipe interdisciplinar.
determinação do teor de fósforo
6.000 anos atrás iniciou o processo
A princípio, é necessária a presença
em sedimentos arqueológicos a
de aridez em que se encontra hoje e
de diferentes especialistas para
fim de detectar a possível presença
a inclui no Polígono das Secas, com
entender a paisagem do local, as
humana na camada, a reconstituição
solos ácidos, arenosos e, portanto,
transformações sofridas naturalmente
da dieta alimentar de indivíduos a
impróprios para a agricultura. É
ou por meio do homem, os tipos de
partir da análise química de ossadas
vestígios, natureza e origem
da matéria-prima utilizada e
também a possível forma de
preparação e a função dos
objetos encontrados. A presença
de uma equipe de pesquisadores
em uma comunidade é sempre
um acontecimento, sobretudo
nos casos em que elas se
encontram bem afastadas das
sedes municipais, sempre
que voltamos, à noitinha,
recebemos visitas para prosear
e isso é muito bom, tanto
para nós visitantes, quanto
para eles, sempre há troca de
informações. Isso é reforçado
porque quando estamos no
campo identificando um sítio
levamos alguém da comunidade
para nos guiar e quase sempre
eles se interessam muito pelo
trabalho e arriscam palpites para
responder nossas indagações. É Conceição Lage com os pesquisadores Robert Bednarick(Austrália)e Mathias Streker(Bolívia), no Global Rock Art
muito enriquecedora essa troca
por isso que a Dra. Niède Guidon
de experiência. Fora isso, a abertura
humanas, e por fim a identificação
insiste tanto em dizer que a área
dos sítios para o turismo ocasiona
dos depósitos de alteração presentes
não serve para assentamentos,
novas oportunidades de trabalho e
em sítios de arte rupestre, que são
pois requer grandes manejos para
melhoria de vida para a população
imprescindíveis para a realização dos
correção de acidez do solo, irrigação
do entorno, além do aumento na
trabalhos de conservação dos sítios
e dessalinização da água. Em
arrecadação de impostos municipais
arqueológicos. E foi justamente
contrapartida, a região detém um
e estaduais.
aqui na Serra da Capivara, que em
riquíssimo patrimônio arqueológico e
1991 iniciamos os trabalhos de
paleontológico, tanto em antiguidade
SAPIÊNCIA - A Sra. é
conservação de sítios de arte rupestre,
quanto em diversidade, com mais
considerada referência não só no
quando ainda não havia esse tipo de
de 1.300 sítios mapeados. Isso
Brasil, mas também na América
trabalho em nenhum outro local das
evidenciado durante os 30 anos
do Sul, pois se especializou em
Américas, portanto é normal que os
de pesquisa de ponta realizada na
uma área pouco comum da
trabalhos que desenvolvemos aqui,
área. Portanto é o local ideal para
arqueologia...
sobretudo no Parque Nacional Serra
o desenvolvimento de diferentes
Drª. Conceição Lage - Como
da Capivara tenham repercussão em
formas de turismo, como o científico,
a arqueologia americana ainda está
outros países.
o cultural, o educativo, o ambiental,
em fase de síntese e temos aqui na
e até como forma alternativa de
Serra da Capivara os vestígios mais
SAPIÊNCIA - Dizem os
tratamento contra depressão ou
antigos das Américas, é normal
otimistas que a região Sul do Piauí,
combate a dependências. Fora tudo
que toda pesquisa aqui realizada
especialmente nos municípios
isso, a descoberta e divulgação da
tenha repercussão internacional,
que estão próximos ao Parque
arte rupestre da Serra da Capivara
e isso aumenta ainda mais a
Nacional Serra da Capivara, sairá
influenciaram diferentes áreas do
responsabilidade de quem desenvolve
da zona de esquecimento e
conhecimento, como a arquitetura, o
artesanato, a moda, o turismo, as artes
plásticas e cênicas. Hoje, encontramos
representações rupestres estampadas
em escritórios, prédios habitacionais,
clínicas médicas, fina linha de
moda masculina francesa, cerâmica
utilitária, quadros e até na música
piauiense.
SAPIÊNCIA - O curso de
graduação em Arqueologia da UFPI
já começou obtendo respaldo na
comunidade acadêmica.
Futuramente, o Piauí será um
celeiro de grandes cientistas nessa
área. Existe campo de trabalho
para absorver este contigente? Os
cursos de pós-graduação serão
implantados nesta área como
uma necessidade natural?
Drª. Conceição Lage Quando insistíamos com a criação
da graduação em Arqueologia da
UFPI era justamente porque
sabíamos da grande riqueza
arqueológica que temos e da falta
de profissionais nessa área. E
ainda pelo fato de termos aqui no
Estado uma importante equipe
multidisciplinar de trabalho
arqueológico, que recebe
sistematicamente profissionais
do mundo inteiro, portanto
tínhamos tudo para ter aqui o
melhor curso de arqueologia e há
três anos tivemos total apoio da
UFPI para criar o referido curso e
há menos de dois anos foi criado
também na UFPI o mestrado em
Antropologia e Arqueologia.
Temos então o compromisso de
bem formar os futuros pesquisadores
da arqueologia do Piauí e campo de
trabalho é o que não falta, sobretudo
nos projetos de arqueologia de
contrato que hoje imperam no país,
uma vez que toda grande obra só
pode ser realizada com a elaboração
de EIA-RIMAs (Estudo de Impacto
Ambiental - Relatório de Impacto
ambiental ), que obrigatoriamente
contam com estudos arqueológicos.
Além disso, há necessidade que
órgãos como o IPHAN, o IBAMA,
o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade, a
FUNDAC, a Secretaria Estadual
de Meio Ambiente e as prefeituras
de municípios detentores de sítios
arqueológicos tenham arqueólogos
em seu quadro de pessoal para
estudá-los, protegê-los e transformálos em via de desenvolvimento
local.
REPORTAGEM
10
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
“Homem e natureza
nas representações
rupestres do Estado
da Bahia” ganhou o
prêmio “Clarival do
Prado Valladares”,
concedido pela
empresa Odebrecht.
“Essa premiação
permitiu que,
em 2007, eu e
minha equipe de
pesquisadores
efetuássemos um
levantamento
bastante abrangente
de sítios de
arte rupestre,
identificando-os,
caracterizando-os
e analisando-os;
Dr. Carlos Etchevarne* comanda equipe de estudos em Salvador
com esse material
Dedicado ao estudo da
prepararmos o livro que intitulei
Arqueologia Urbana, especialmente
‘Escrito na Pedra. Cor, forma e
no aspecto da cerâmica colonial,
movimento nos grafismos rupestres
encontrada na cidade de Salvador,
da Bahia’”, ressalta o pesquisador.
onde é professor do Departamento de
Na Bahia, as datações
Antropologia da Universidade Federal
conseguidas com rigor científico
da Bahia (UFBA), o arqueólogo
são muito recentes, com cerca de
Carlos Alberto Etchevarne foi um dos
três mil anos, aproximadamente.
palestrantes do Global Rock Art. Ele
Lá, o único local preparado para
apresentou trabalho na sessão Tradição
a visitação controlada é o Sítio
Nordeste, apontando exemplos de
Arqueológico da Serra das Paridas, no
sítios existentes no território baiano. O
município de Lençóis. Não há outros
professor expôs exemplos de pinturas
locais monitorados. A UFBA vem
rupestres e a regularidade com que elas
desenvolvendo um programa de
se apresentam sobre um tipo de suporte
pesquisa, conjuntamente com
rochoso, os arenitos silicificados,
ações de capacitação para a gestão,
que, por sua vez, conformam um
junto às comunidades próximas aos
modelamento especial da topografia.
sítios cadastrados.
Ele explicou, em sua apresentação, que
O professor disse que há
essas particularidades, por enquanto,
muito trabalho para se fazer, pois
são observadas apenas na Bahia, o que
já foram identificados muitos sítios,
pode dar a elas um caráter distintivo.
mas pouquíssimos são estudados.
Etchevarne é doutor (1995) em
Exemplos de sítios com vestígios dos
Geologia Quaternária e Paleontologia
antepassados estão o Sambaquis, no
Humana e Pré-Histórica pelo Instituto
litoral baiano, alguns localizados nas
de Paleontologia Humana do Museu
margens de rios; há ainda os
Sítios
de História Natural de Paris e possui
Dunares, na beira do curso médio
pós-doutorado em Arqueologia pela
do rio São Francisco, e os sítios de
Universidade de Coimbra (2005).
populações ceramistas, denominadas
Desde 2006, tem desenvolvido uma
Aratu, que se espalham por todo o
linha de pesquisa que focaliza o
Estado. Esses sítios são reconhecidos
patrimônio arqueológico de pinturas
fundamentalmente pelos recipientes
e gravuras rupestres do território
funerários (urnas), com forma de
baiano. O objetivo é mapear e
jambo invertido, padronizados para
investigar o universo gráfico rupestre,
todas as idades e em qualquer parte
alertando para a necessidade de
do estado baiano.
preservação e boa gestão. O Projeto
Em 2008, com apoio da
Petrobrás Cultural, a equipe de
Etchevarne desenvolveu o “Programa
de identificação, preservação e
gestão de sítios arqueológicos de arte
rupestre na Chapada Diamantina”,
voltado para o trabalho em seis
municípios, com o objetivo de incluir
as comunidades próximas aos sítios
no processo de pesquisa e gestão
dos mesmos. “A idéia é capacitar
os moradores para que eles possam
perceber os sítios arqueológicos de
pinturas e gravuras como patrimônio
deles mesmos. Criamos a figura do
agente patrimonial que deverá zelar
pelo conjunto de sítios próximos
aonde vive e deverá conduzir crianças,
jovens e adultos ao respeito e bom
aproveitamento desses locais”.
Já em 2009, a equipe liderada
por Etchevarne iniciou outro
projeto financiado pela Fundação
de Apoio à Pesquisa do Estado
da Bahia (FAPESB), intitulado
“Contextos Arqueológicos e Marcos
Temporais nos Grafismos Rupestres
da Chapada Diamantina”, no qual
foram selecionamos alguns sítios do
Município de Morro do Chapéu para
serem escavados.
Com relação à reviravolta na
teoria da chegada dos primeiros
homens ao continente americano,
por meio dos achados arqueológicos
no Piauí, no Parque Nacional Serra
da Capivara, Etchevarne disse que
concorda com a revisão da data de
entrada do homem em América em
função das datações na Serra da
Capivara. “Os trabalhos da Dra. Guidon
são rigorosos metodologicamente
falando e não têm como serem
desconsiderados”, considera.
O pesquisador disse que
O Parque Nacional da Serra
da Capivara, declarado pela
UNESCO Patrimônio Cultural da
Humanidade, representa um pólo
de pesquisa em Arqueologia que
se tornou referência internacional,
por várias razões que ele enumera:
“Por apresentar uma concentração
enorme de sítios de arte rupestre,
devidamente registrados, com um
número grande deles já pesquisados;
por ter fornecido datações que
permitem alterar as teorias
tradicionais sobre antiguidade da
entrada do homem na América; por
ter um acervo de grafismos rupestres
que foram analisados permitindo
classificações por estilos, que
hoje podem ser utilizadas em
outras áreas do Brasil; porque a
força das pesquisas permitiu a
criação de uma grande área de
proteção criando-se o Parque; e
também porque as pesquisas foram
acompanhadas de programas de
desenvolvimento sócio-econômico
que transformaram os municípios
em torno do mesmo”, concluiu.
*Professor do Depto. de Antropologia
da UFBA
[email protected]
FOTO: DIVULGAÇÃO
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Estudos arqueológicos na Bahia
começam a ganhar força
Inscrições encontradas em rocha no Sítio Arqueológico da Serra das Paridas
REPORTAGEM
11
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
Pintura encontrada em rocha na cidade de Castelo do Piauí; ao lado, rocha de arenito da região
municípios de Piracuruca, Piripiri
e Brasileira. Também existe uma
grande concentração em Castelo
do Piauí, Parnaíba (extremo Norte),
Luís Correia, no Baixo Parnaíba
Piauiense, na região de Valença e
mais recentemente, em Parnaguá
no extremo Sul do estado, só para
citar alguns municípios. Ou seja,
o Piauí todo é um grande sítio
arqueológico.
A Profa. Dra. Claudete Maria
Miranda Dias, vinculada ao Programa
de Pós-graduação em História
do Brasil, da UFPI apresentou
dos Picos dos André equivale em
importância à Serra da Capivara,
porém este patrimônio precisa
ser mais explorado e melhor
preservado”.
Claudete Dias explica que
diante da riqueza e abundância
das pinturas rupestres no Piauí, a
História lança a investigação para
que se possa analisá-las como
fontes, já que elas representam
a memória destes povos préhistóricos que usavam estas
manifestações como forma de
se exprimirem graficamente.
FOTO: RUBENS LUNA
no Congresso Internacional de
Arqueologia e Arte Rupestre Global Rock Art, em São Raimundo
Nonato, o trabalho intitulado
“Pinturas rupestres como fator
identitário da sociedade piauiense”.
Este estudo sobre as pinturas, tendo
como fonte o expressivo acervo em
arte rupestre da região dos ‘Picos
dos André’, localizado no município
de Castelo do Piauí, ao Norte do
Estado. O local é classificado pela
pesquisadora como “um relicário
encravado entre rochas e matas de
caatinga, um tesouro, tal a riqueza,
beleza e a variedade das pinturas nos
paredões de arenito, envoltos por
mata verde, bem como pelo formato
dos picos: construções de pedra de
mais de 25 m de altura, formando
verdadeiros monumentos que
desafiam a natureza, a arquitetura
ou a engenharia”. E compara: “O
potencial arqueológico na região
FOTO: CLAUDETE DIAS
s pesquisas arqueológicas
no Parque Nacional da
Serra da Capivara, em São
Raimundo Nonato comprovam a
existência humana há mais de 60
mil anos na região o que torna essa
população senão a mais antiga das
Américas, uma das mais antigas,
contrariando a teoria norte-americana
do povoamento do continente.
São vestígios pré-históricos como
pinturas rupestres de 15 mil anos,
restos de carvão de fogueira de
50 mil anos, artefatos de pedra e
material lítico, fósseis humanos de
nove mil anos e restos de cerâmicas
de três mil anos. Estas mesmas
pesquisas mostram que os vestígios
de povoamento pré-histórico existem
em mais dois Parques Nacionais,
no Piauí: o da Serra das Confusões,
situado nos municípios de Caracol,
Guaribas, Santa Luz, Cristino
Castro e de Sete Cidades, nos
Claudete Dias* apresentando seu trabalho no Global Rock Art, sob o olhar da Dra. Conceição lage
“Como fontes históricas, estes
vestígios arqueológicos podem ser
analisados não apenas tecnicamente
– datação, significado, técnicas e
autoria - mas como um instrumento
cultural e artístico inserido na
contemporaneidade, servindo de
parâmetro para se identificar a
sociedade piauiense, que ainda não
compreendeu, ou agora é que está
se dando conta da dimensão dessa
riqueza, e como estas pinturas
fazem a diferença em meio à
padronização cultural”, reflete em
seu trabalho.
Nestes tempos de globalização,
cada cultura busca manter sua
identidade mesmo incorporando
milhares de manifestações que se
propagam pela mídia. No Piauí,
o rico acervo deixado pelos
povos antigos se transformou
em um canal de comunicação
com o mundo. Estas pinturas
são consideradas arte rupestre
e como tal fazem parte da
História da Arte do mundo “a
arte compõe a identidade de
qualquer sociedade. Nessa
linha de pensamento, tanto
a abundância das pinturas,
como a sua beleza e
riqueza podem servir
não apenas
como atração
turística e,
principalmente
para pesquisas,
como podem ser
ainda um fator
identitário da sociedade piauiense,
motivo de elevação da autoestima”,
considera Claudete Dias. Acrescenta
ainda “que a elevação da autoestima
é importante já que o Piauí é um
dos estados brasileiros mais pobres
e o piauiense conhece pouco de sua
história, cultura e arte”.
*Profa Dra do Programa de Pós-Graduação
em História do Brasil da UFPI
[email protected]
Picos dos Adré em
Castelo do Piauí
FOTO: CLAUDETE DIAS
A
Historiadora cria linha de pesquisa
História e Arqueologia
REPORTAGEM
12
FOTO: MARCIA CRISTINA
Projeto de pesquisadora do Curso de História da
Autoras do projeto premiado: Cássia Moura e a Dra. Áurea Pinheiro
brasileiras, foram selecionados 78
projetos: 15 na categoria Nacional/
Regional e 63 na categoria Estadual/
Local, sendo que o Piauí foi um dos
premiados na categoria Nacional/
Regional, e desta forma, poderá
desenvolver o projeto e ampliar as
pesquisas sobre a interação entre o
ensino de história e a valorização do
patrimônio cultural brasileiro.
Como parte do Projeto “História
e Patrimônio Cultural”, Áurea Pinheiro
e a fotógrafa Cássia Moura lançam o
livro Celebrações e o documentário
etnográfico Congos: ritmo e devoção.
O trabalho possibilitou o registro de
FOTOS: CÁSSIA MOURA
O projeto “História e
Patrimônio Cultural”, coordenado
por Áurea da Paz Pinheiro, doutora
em História Cultural e Professora
da Universidade Federal do Piauí –
UFPI, foi reconhecido pelo Ministério
da Cultura – MinC com o Prêmio de
Mídia Livre, o que permite a realização
de futuras pesquisas, bem como uma
maior interação entre ensino e a
valorização do Patrimônio Cultural
Brasileiro. O objetivo da premiação
é apoiar iniciativas de comunicação
livre existentes no país.
Dentre as mais de 400 iniciativas
inscritas, oriundas de todas as regiões
manifestações culturais do município
de Oeiras, primeira capital do Piauí.
A historiadora e a fotógrafa
realizaram pesquisas e registros
etnográficos das procissões de Bom
Jesus dos Passos e do Fogaréu e da
manifestação afro-brasileira – Congos.
De acordo com as pesquisadoras, essas
celebrações representam elementos
importantes da religiosidade popular
brasileira, nordestina e piauiense em
particular.
Durante a pesquisa, Áurea
e Cássia realizaram trabalho com
documentação histórica existente no
Arquivo Público do Estado do Piauí,
onde foram localizadas fontes do
século XVIII e XIX que registram
com riqueza de detalhes como essas
celebrações eram realizadas, como
ocorria o envolvimento da comunidade
e como se davam as relações entre o
poder eclesiástico, os leigos e os
católicos praticantes, envolvidos
diretamente na organização dos
rituais.
“Utilizamos a metodologia
da história oral e os recursos
audiovisuais, bem como diálogos
entre a história e a antropologia. O
resultado foi um livro bilíngue –
português e inglês, com a proposta
de uma linguagem simples e que
pode ser lido por doutores e leigos,
pelo público da academia, mas,
sobretudo, por alunos e professores
da escola básica”, destacou Áurea e
Procissão do Fogaréu, uma das maiores manifestações religiosas que acontece na cidade de Oeiras durante a Semana Santa,
na qual participam apenas os homens com tochas acesas e muitas manifestações culturais, como nas imagens ao lado
acrescentou “é preciso aproximar o
conhecimento que produzimos na
academia de um público mais amplo,
rompendo assim os muros que
separam o conhecimento científico
do conhecimento escolar, a academia
da sociedade”.
Como líderes do Grupo de
Pesquisa, Áurea e Cássia conseguiram
realizar o trabalho com o apoio
financeiro e técnico do Ministério da
Cultura/Programa Monumenta/Iphan/
UNESCO e Banco Interamericano
de Desenvolvimento. Áurea
destaca a participação de jovens
pesquisadores do Curso de História
da UFPI na realização dos projetos:
Ariane Lima, Everton Diego, Iule
Carvalho e Marluce Morais. No mês
de julho/2009, sob a orientação das
pesquisadoras e apoio da UFPI, os
alunos apresentaram em Fortaleza, no
XXV Simpósio Nacional de História,
o trabalho História e Patrimônio:
santos, devotos e ritos na tradição
brasileira.
Para setembro deste ano, as
pesquisadoras organizam a primeira
edição da Mostra Etnográfica do Piauí
[ETNODOC], que tem por finalidade
proporcionar aos profissionais e
estudantes de Ciências Humanas e
Sociais, áreas afins e à comunidade
em geral, um espaço para a discussão
dos saberes e práticas no campo da
produção audiovisual ligados ao
patrimônio de natureza imaterial. A
importância do evento não diz respeito
apenas ao envolvimento e participação
REPORTAGEM
13
da UFPI recebe prêmio do Ministério da Cultura
de profissionais e pesquisadores,
mas também da sociedade como
um todo, já que as reflexões
sobre Memória, História, Arte e
Patrimônio Cultural possibilitam
ao indivíduo o desenvolvimento de
uma consciência histórico-cultural,
elemento fundamental na formação
da cidadania.
O ETNODOC é uma iniciativa
do Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional - IPHAN,
por intermédio do Departamento
de Patrimônio Imaterial e do
Centro Nacional de Folclore e
Cultura Popular,
em parceria com
a Associação
Cultural de
FOTO: MARCIA CRISTINA
Dança do Congo, louvação à Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito, em Oeiras
Amigos do Museu de Folclore
Edison Carneiro. O projeto visa
à documentação e à difusão do
patrimônio imaterial, compreendido,
conforme definição da Convenção
para a Salvaguarda do Patrimônio
Cultural Imaterial, como “as
práticas, representações, expressões,
conhecimentos e técnicas - junto
com os instrumentos, objetos,
artefatos e lugares que lhes são
associados - que as comunidades,
os grupos e, em alguns casos,
os indivíduos reconhecem como
parte integrante de seu patrimônio
cultural”.
O documentário
“Passos de Oeiras”, um dos
contemplados pelo ETNODOC,
será exibido na Mostra. O filme
tem 26 minutos e apresenta a
Procissão de Bom Jesus dos
Passos, na cidade de Oeiras – Piauí.
A Mostra conta com o apoio da
FAPEPI, UESPI, UFPI e Associação
Nacional de História – Seção Piauí.
Áurea Pinheiro
Coordenadora do Curso de Graduação
em História da UFPI.
[email protected]
TESES
14
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
Entre vaqueiros e fidalgos: Sociedade, política e
educação no Piauí (1820-1850)
Myxomycetes e agaricomycetes no Parque Nacional Serra
da Capivara (São Raimundo Nonato, PI Nordeste do Brasil)
Avaliação ergonômica da interface humanocomputador de ambientes virtuais de aprendizagem
Marcelo de Sousa Neto
Professor da Universidade Estadual do Piauí
Defesa: Universidade Federal do Pernambuco, 2009
[email protected]
Márcia Percília Moura Parente
Professora Adjunta da Universidade Estadual do Piauí
Defesa: Universidade Federal de Pernambuco/2009
[email protected]
Gildásio Guedes Fernandes
Professor do Depto. de Informática e Estatística da UFPI
Defesa: Universidade Federal do Ceará, 2008.
[email protected]
A
A
O
composição da microbiota e as relações entre
as diferentes ordens e famílias de mixomicetos
e basidiomicetos com o ambiente são ainda
incipientes para o Bioma Caatinga, que ocupa a maior
parte da Região Nordeste do Brasil. Considerando que são
poucos os relatos da ocorrência desses microrganismos
para o Piauí e visando ampliar o conhecimento taxonômico
e ecológico sobre os mesmos nos Neotrópicos e em
diferentes microhabitats na Caatinga, efetuou-se
um levantamento das espécies de Myxomycetes e
Agaricomycetes no Parque Nacional Serra da CapivaraPNSC (São Raimundo Nonato, PI). Em 17 excursões
(2006-2008), inventariaram-se e as espécies, verificouse a existência de relações entre elas e a vegetação
e determinaram-se a distribuição e abundância dos
mixomicetos em diferentes grupos ecológicos. Cinco
artigos foram produzidos: o primeiro deles registra a
ocorrência de Physarum rigidum no Piauí e, baseado
em estudo de herbário e revisão de literatura, mostra sua
distribuição no país; o segundo e o terceiro contêm listas
comentadas de 24 espécies de Myxomycetes e 43 de
Agaricomycetes, que constituem os primeiros registros
de representantes das duas classes no PNSC; o quarto
trata do grupo dos mixomicetos coprófilos, com o registro
frequente de uma única espécie, Arcyria cinerea, em
fezes de mocó (Kerodon rupestris, Rodentia); o último
artigo trata dos aspectos ecológicos da ocorrência das 24
espécies de mixomicetos em cinco diferentes fisionomias
de Caatinga encontradas no PNSC, as quais predominaram
na Caatinga arbustiva arbórea baixa densa.
objetivo deste trabalho foi de desenvolver
um modelo conceitual para avaliar a
interface humano-computador (IHC),
especificamente, a usabilidade e a funcionalidade
de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA)
para educação à distância (EaD). Em relação à
usabilidade, vários atributos foram estudados na
interface computacional. Para a construção do
modelo, recorremos à ampla revisão bibliográfica e
à análise geral da interface de diferentes ambientes
computacionais. O modelo inicial contém dois
módulos. O primeiro, com 09 critérios e 45
atributos, destinado a profissionais da área de
educação. O segundo módulo com 12 critérios
e 60 atributos, aplicado a profissionais da área
de computação com prática em atividades em
EaD com conhecimento sobre os princípios de
usabilidade de interfaces computacionais. No
momento de sua validação, aplicamos em três AVA:
Moodle, Solar e e-ProInfo, utilizando como lista de
verificação a modalidade cheklist. Dentre os muitos
resultados obtidos, chama a atenção a significativa
vantagem para o Moodle, quando da avaliação dos
três ambientes junto aos profissionais educadores, e
do Solar, no caso dos profissionais de computação
com militância na área de EaD, com nítida rejeição
dos dois segmentos estudados ante o e-ProInfo. Por
fim, os dados obtidos e discutidos permitem inferir
que o modelo aplicado poderia ser refinado, o que
foi feito. O modelo refinado proposto, baseado na
análise dos dados da pesquisa e nas observações
subjetivas dos agentes pesquisados contém dois
módulos cada um com 10 critérios e 50 atributos.
Virulência de amostras de Dengue virus isoladas
de pacientes em modelo murino.
Desenvolvimento de um fotômetro portátil usando led como
fotodetector e de procedimentos analíticos automáticos
empregando multicomutação em fluxo.
Fadiga térmica de revestimentos de aço inoxidável martensítico 423l, 423co e 414n: evolução da microestrutura
e das propriedades mecânica
Gustavo Portela Ferreira
Pesquisador DCR/CNPq/FAPEPI
Defesa: Universidade Federal de Minas Gerais, 2008
[email protected]
Milton Batista da Silva
Pesquisador DCR/CNPq/FAPEPI
Defesa:Universidade Federal de São Carlos, 2008
[email protected]
Ayrton de Sá Brandim
Prof. do Inst. Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí
Defesa: Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR, 2002
[email protected] e [email protected]
presente pesquisa encontra como objeto de suas
análises a sociedade, a política e a educação no
Piauí da primeira metade do século XIX, em um
momento de profundas transformações na sociedade
piauiense. Na construção da narrativa, tomou-se a
trajetória de vida de Padre Marcos de Araújo Costa
como fio condutor das análises, por meio da qual os
discursos construídos e esquecidos a seu respeito ajudam
a construir e amalgamar as imagens propostas, permitindo
recompor nuances da organização e da relação entre
família e Estado na sociedade piauiense. Neste estudo,
entretanto, o indivíduo e a sociedade são pensados
em interação, permitindo perceber uma sociedade em
constante movimento, no qual se privilegiou a análise de
três pontos de sustentação/organização desta, quais sejam,
aspectos de sua vida política, religiosa e educacional,
espaços de sociabilidades estes com os quais Padre
Marcos relacionou-se de forma intensa, procurando pôr
em destaque na narrativa tecida, práticas que forjaram o
cotidiano social do período. Para tanto, rompeu-se com
uma memória construída a respeito de Padre Marcos de
apenas “benemérito educador”, permitindo o diálogo
com os múltiplos espaços em que atuou, sobretudo como
religioso e como político, espaços estes somente possíveis
por ter pertencido a uma rede de poder fundada a partir de
relações familiares. Por meio desses espaços e relações,
puderam-se revisitar algumas das dimensões sociais
piauienses do século XIX, suas tensões e contradições,
pondo em perspectiva a estreita relação entre família e
poder político, contribuindo, deste modo, para o debate
historiográfico sobre o Império brasileiro.
O
Dengue virus (DENV) é um membro do gênero
Flavivirus, família Flaviviridade que compreende vírus
envelopados RNA senso positivo. A dengue é a mais
prevalente doença viral transmitida por mosquitos de humanos.
É causada por um ou mais dos quatro sorotipos virais (DENV-1 a
DENV-4). O DENV causa um espectro de doenças em humanos,
a infecção ocorre desde uma manifestação assintomática a uma
febre súbita (FD), até uma febre hemorrágica (FHD), ou ainda,
o envolvimento mais freqüente do SNC. Em resultados iniciais,
obteve-se DENV purificado, foi visualizado por AFM (“Atomic
Force Microscopy”) o RNA viral extruído em conformações
linear e circular e determinado o diâmetro médio (55nm) da
partícula. Vários modelos murinos têm sido descritos para
infecção com o DENV, contudo nenhum recria um quadro
de doença similar à ocorrida em humanos. Para avaliar a
virulência de amostras isoladas de pacientes com FD e FHD,
inoculamos com dose de 4 x10² p.f.u. pelas vias i.p., i.v., i.d.,
s.c., e i.c., camundongos C57B/6 selvagens, 2 a 8 semanas,
com DENV-1 e DENV-3. Foram observados sinais clínicos,
mortalidade, alterações sanguíneas (leucopenia) e título viral em
camundongos inoculados, via i.c., com os DENV-3 25(MG) e
375(MG) genótipos I comparado aos controles, ao passo que, os
animais com os DENV-1 e o DENV-3 64(PI) genótipo III não
apresentaram sinais clínicos e mortalidade. Neste trabalho, foram
inoculados, via i.c., com DENV-3 375(MG) I camundongos
deficientes para IFN-, TNFr p55 e iNOS genes relacionados
à resposta imune inata e foi detectado no cérebro e/ou soro o
título viral, alterações sanguíneas (leucopenia), histopatológicas
(meingoencefalite) e níveis aumentados de citocinas que
caracterizam um processo inflamatório. Para estabelecer um
modelo comparativo entre os DENV-3 64(PI) III e DENV-3
375(MG) I, os animais inoculados com este último genótipo
do vírus apresentaram um quadro clínico que demonstra um
comprometimento difuso e agudo do SNC mostrando diferenças,
nos parâmetros já descritos, em comparação com animais
DENV-3 64(PI) III, inclusive com alterações no genoma viral.
E
ste trabalho compreende o desenvolvimento de um
fotômetro portátil empregando um LED (Light Emitting
Diode) como fonte de radiação eletromagnética e outro
LED como fotodetector. A viabilidade desta proposta foi
demonstrada em um procedimento de titulação fotométrica
automática implementado, baseado no processo de procura
binária. A melhoria da sensibilidade dos métodos analíticos
clássicos para melhorar o limite de detecção é uma demanda
atual da química analítica, visando a alcançar os limites
máximos estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA). Em detecção fotométrica um dos
meios para isso é aumentando o caminho óptico da cela de
fluxo. Em sistemas de análise em fluxo, a geometria das celas
de fluxo comercial não permite o alongamento do caminho
óptico. Nesse trabalho, empregou-se um LED com feixe de
emissão de alta intensidade e ângulo de espalhamento estreito,
o que permite emprego de uma cela de fluxo de 200 mm. A
cela de fluxo foi desenhada com uma geometria apropriada
permitindo o acoplamento direto da fonte de radiação (LED)
e do fotodetector. O ortofosfato está entre as espécies químicas
cuja concentração máxima permitida em águas doce é da
ordem de g L-1, a viabilidade de uso de uma cela de fluxo de
caminho óptico longo foi testada na determinação de ortofosfato
em águas. O procedimento foi desenvolvido empregando o
processo de multicomutação, o método fotométrico baseado
na reação com molibdato de amônio e redução com cloreto
estanhoso. Tendo em vista que diferentes fotodetectores têm
sido empregados em protótipos de fotômetros e visando a
avaliar o desempenho destes, desenvolveu-se um conjunto
de experimentos, submetendo os fotodetectores às mesmas
condições de trabalho. A determinação fotométrica de
ortofosfato em águas foi selecionada como modelo para testar
as respostas dos fotodetectores usados.
E
ste trabalho avaliou a resistência à fadiga térmica de
três revestimentos de aços inoxidáveis martensíticos
pertencentes à série 400 com base na evolução
microestrutural e nas propriedades mecânicas dureza e
resistência à tração. A evolução microestrutural foi investigada
por meio de análises por microscopia ótica (MO), eletrônica de
varredura (MEV) e em alguns casos eletrônica de transmissão
(MET), que propiciou uma identificação mais segura do tipo
de microestrutura. Os corpos-de-prova foram obtidos por
solda, utilizando o processo de soldagem por arco submerso
e pelo processo de soldagem arco aberto autoprotegido. Para
os ensaios de tração, dureza e fadiga térmica foram retiradas
transversalmente à direção de soldagem. Os resultados foram
interpretados com base nas propriedades mecânicas e com
a evolução microestrutural. Os revestimentos, após o ensaio
de fadiga térmica, apresentaram uma intensa degeneração
de sua matriz e um intenso refinamento das partículas, em
relação à condição “como soldada”. Quanto às propriedades
mecânicas a mais afetada foi à dureza, seguida pela resistência
mecânica, pois a degeneração dos revestimentos causou um
intenso amaciamento cíclico. Porém, a resistência à tração
foi alterada principalmente pela quantidade e profundidade
das trincas térmicas oriundas pela fadiga térmica. Mas, em
função da condição de refinamento das partículas, observouse que a diminuição da resistência mecânica não foi muito
significativa em nenhum dos materiais estudados. A fadiga
térmica provocou uma deterioração superficial decorrente
do produto de corrosão que serviu como fonte motriz para a
geração de trincas térmicas superficiais, e um amaciamento
cíclico causado pelas alterações no nível de tensões durante
os ensaios, resultando no aumento da tensão média, que
favoreceu o desenvolvimento das trincas térmicas geradas
pelas tensões térmicas.
REPORTAGEM
15
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
A
A divulgação científica cada vez mais
valorizada com o Sapiência
tingimos, com regularidade,
à 21ª edição do informativo
científico Sapiência, projeto
genuíno e inovador. Alcançar este
objetivo não foi uma tarefa fácil,
foi necessário muito empenho,
determinação e profissionalismo
de uma equipe comprometida com
o projeto e além disto, acreditar no
ideal de uma sociedade próspera por
meio de ideias frutíferas advindas
da ciência.
A equipe de produção e edição,
além dos editores e o Conselho
Editorial do Informativo Científico
Sapiência, que foi gerado como
proposta de popularização da ciência
no ano de 2003, vem mantendo a
qualidade e a linha editorial centrada
na ética e na qualidade de divulgação
das pesquisas e dos pesquisadores,
preferencialmente, do Estado do
Piauí.
O Sapiência nasceu, cresceu,
ganhou reconhecimento, adquiriu
credibilidade, ganhou prêmios
nacional (Prêmio José Reis de
Divulgação Cinetífica - Título
sua participação no Sapiência
Menção Honrosa) e estadual e agora
criamos modelos padronizados para
está no QUALIS, com conceito
cada item mencionado acima basta
B5 conferido pela Coordenação
acessar o endereço eletrônico www.
de Aperfeiçoamento de Pessoal de
fapepi.pi.gov.br e ir para o menu
Nível Superior – CAPES, órgão
SAPIÊNCIA.
vinculado ao Ministério da Educação.
Sobre estarmos no QUALIS,
E estamos sempre em busca de mais
é importante frisar que a CAPES é
qualidade e de
responsável por
reconhecimento.
acompanhar a
O Sapiência nasceu, cresceu,
Por tudo
qualidade na
ganhou
reconhecimento,
adquiriu
isso, é que o
pós-graduação
credibilidade, ganhou prêmios
Informativo
brasileira, por
Sapiência
meio de uma
nacional e estadual e agora está
precisa, cada
complexa
no QUALIS, com conceito B5
vez mais, da
avaliação de
conferido pela Coordenação de
participação
cada programa
Aperfeiçoamento de Pessoal de
de nossos
de mestrado
pesquisadores e
e doutorado
Nível Superior – CAPES
colaboradores,
existente no
que são o maior
B r as il. U ma
trunfo e o sentido do seu crescimento.
parte significativa desta avaliação é
Portanto, solicitamos que continuem
atribuída à publicação cientifica em
nos enviando, mais e mais, artigos,
periódicos científicos. As publicações
resumos de tese, dicas de livros
(informativos e revistas) são
técnicos e sugestões de pautas para
classificadas em três grandes grupos
nossas reportagens. Para facilitar
A, B e C. As mais conceituadas e
mais citadas revistas de uma área de
conhecimento ficam classificadas
com conceito A1. O fator de impacto
de uma publicação científica depende
não só da qualidade do que nela
existe, mas também da importância
que outros pesquisadores conferem a
ela por citar algum de seus artigos.
O Informativo Sapiência,
embora não sendo uma publicação
científica propriamente dita, pois
seu foco é a divulgação cientifica,
foi classificado em duas áreas
(Interdisciplinar e História) no
QUALIS CAPES, em ambos com o
conceito B5. Isto atesta a qualidade
da seção de artigos científicos
publicados em nosso jornal. Agora,
os pesquisadores piauienses têm mais
um motivo para encaminharem mais
matérias e artigos para divulgação e/
ou publicação no Sapiência.
Contatos:
[email protected]
[email protected]
(86) 3216-6090
LIVROS
Consolidação estrutural da Toca da Entrada do Pajaú
Parque Nacional Serra da Capivara – Diagnóstico e Proposta de Intervenção
Organizadoras: Diva Figueiredo e Silvia Puccioni
Distribuição gratuita
125 páginas
[email protected]
A proposta dessa publicação, promovida pela Superintendência no Piauí do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em parceria com a Fundação Museu do Homem Americano
(FUMDHAM), sediada no Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, é
apresentar um relato dos trabalhos que visavam à proteção e conservação do Sítio Toca da Entrada
do Pajaú, um sítio arqueológico reconhecido como patrimônio cultural da humanidade, localizado
dentro do Parque em questão.
Carnaúba, pedra e barro
na capitania de São José do Piauhy
Estado, Desenvolvimento e Políticas Públicas
Organizadores: Ana Beatriz Martins dos Santos Seraine, Raimundo Batista dos Santos
Júnior e Shiguenoli Miyamoto
R$ 40,00
504 páginas
A obra envolve a participação de professores doutores e doutorandos da UFPI e da
Unicamp e tem como intuito de contribuir para o crescimento e o desenvolvimento
da Pós-Graduação nas Ciências Sociais e especialmente nas Ciências Políticas da
UFPI. Os colaboradores deste volume estão preocupados com o impacto das reformas
orientadas para o mercado e desse impacto frente às instituições, uma vez que o
Estado parece cada vez mais necessário na regulação econômica e no combate às
desigualdades sociais e econômicas.
Sementes para os Agricultores(as) Familiares
Autor: Olavo Pereira da Silva F.
R$ 180,00
230 páginas (Volumes I, II e III)
[email protected]
Autor: Avelar Damasceno Amorim
R$ 15,00
120 páginas
[email protected]
Divididos em três belos e ricos volumes, a obra trata do patrimônio da memória dos
piauienses, realizada por meio de trabalho de pesquisas sobre as construções de casas,
cadeias, escolas e igrejas nos séculos XVIII e XX. O autor dos três volumes, arquiteto
Olavo Filho foi, inclusive, premiado pelo Iphan pelo importante trabalho de resgate
da memória do Estado transcrita nas construções. A análise foi feita em três aspectos:
estabelecimentos rurais, urbanismo e arquitetura urbana em vários municípios como
Oeiras, Amarante, Parnaíba e Campo Maior.
Este livro foi produzido pela Associação dos Engenheiros Agrônomos do Piauí – AEPI
e demais integrantes da Comissão de Sementes e Mudas do Piauí – CSM-PI, constituise numa teoria para estabelecer formas de produção e abastecimento de sementes
que venham assegurar a utilização desse insumo de fundamental importância para os
agricultores(as) familiares e para a classe empresarial.
Litíase Urinária
Aspectos clínicos e cirúrgicos
Antologia de escritoras piauienses
(Século XIX à Contemporaneidade)
Autores: Luis Carlos Feitosa Tajra, Ricardo Matias Lopes e Celina T. Castelo Branco
Couto Miranda
R$ 25,00
108 páginas
[email protected] ou [email protected]
Organização: Algemira de Macedo Mendes, Marleide Lins de Albuquerque e Olívia
Candeia Lima Rocha
R$30,00
327 páginas
[email protected]
O termo litíase urinária refere-se ao fato de haver a presença de “pedras” em algum
local do sistema urinário humano. Portanto, a leitura deste livro serve como um guia
tanto para os médicos como para pacientes no tratamento dessa patologia tão frequente
e com sobreposição em diversas outras áreas da medicina que não somente a Urologia.
A obra aborda a litíase urinária através de seus aspectos clínicos, diagnósticos e tipos
de tratamentos.
Este livro é resultado de pesquisas acerca da presença feminina na literatura piauiense,
compreendendo um estudo de 33 nomes, dentre poetas, contistas e romancistas.
Algumas já são conhecidas e admiradas pelo público leitor como Amélia Beviláqua
e Luiza Amélia de Queiroz, todavia a publicação apresenta outros nomes da literatura
a serem estudados. A obra possui uma cuidadosa seleção de textos que permite ao
leitor conhecer e avaliar as produções literárias dessas autoras.
REPORTAGEM
16
TERESINA - PI, SETEMBRO DE 2009
A
Criado FUNDES para incentivar a pesquisa
científica e tecnológica no Piauí
Lei nº 5.790, de 19 de agosto
de 2008, criou o Fundo de
Pesquisa e Desenvolvimento
Técnico-científico do Estado do
Piauí – FUNDES. Este, gerido por
um Conselho Diretor vinculado à
Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Piauí – FAPEPI. Será um
órgão gestor que terá a função de
Secretaria-Executiva, cabendo-lhe
praticar todos os atos de natureza
técnica, administrativa, financeira
e contábil necessários à gestão. O
presidente, conforme designa a lei
é o presidente da FAPEPI, que hoje,
é exercida pelo Prof. Dr. Acácio
Veras.
O FUNDES foi instituído
com o objetivo de fornecer
recursos para financiamento
de pesquisa, inovação e o
desenvolvimento científico e
tecnológico, visando a promover
o desenvolvimento econômico e
social do Estado do Piauí e suas
potencialidades. Os recursos do
Fundo serão destinados a apoio a
programas, pesquisas, projetos e
atividades de Ciência, Tecnologia,
Desenvolvimento e Inovação,
compreendendo a pesquisa básica
ou aplicada, a transferência de
tecnologia e o desenvolvimento
de novas tecnologias de produtos e
processos, de bens e serviços, bem
como a capacitação de recursos
humanos, intercâmbio científico
e tecnológico e a implementação,
manutenção e recuperação de
infraestrutura de pesquisa, além
do incentivo a popularização
e divulgação de conhecimento
científico e tecnológico.
Os membros titulares e
suplentes que compõem o Conselho
Diretor do FUNDES (veja quadro )
tomaram posse no dia 14 de agosto,
em reunião realizada no auditório
da FAPEPI. Além disto, esta reunião
teve como objetivo discutir o Estatuto
e o Regimento do Fundo.
A próxima reunião do
Conselho Diretor acontecerá no
próximo mês de setembro, quando os
membros deverão aprovar regimento
e estatuto, os quais estabelecem as
normas e diretrizes para o devido
funcionamento do FUNDES.
Para o pesquisador da
Embrapa, Eugênio Emérito Araújo, “a
normatização do Fundo possibilitará
uma alternativa de recursos para
financiar projetos novos, como
o apoio ao desenvolvimento
de pesquisas no agronegócio”,
explicou.
Entre as atribuições do
Conselho Diretor estão a de
encomendar estudos que subsidiarão
a definição de estratégias e políticas
de alocação de recursos do Fundo,
de definir as políticas, diretrizes
e normas para a utilização dos
recursos; aprovar os orçamentos,
analisar os balanços e prestações
de contas, entre outros. Os recursos
para o funcionamento do FUNDES
serão provenientes de dotações
consignadas na lei orçamentária
anual e ainda de recursos
provenientes de empreendimentos
industriais e agroindustriais
incentivados nos termos da Lei n
4.859, de 1996.
De acordo com o presidente da
FAPEPI, Acácio Véras, o FUNDES
será mais uma forma de garantir o
desenvolvimento científico do Estado.
“O FUNDES é mais um instrumento
do governo do Estado com o objetivo
de desenvolvimento da ciência e
tecnologia do Piauí e, certamente,
se utilizado adequadamente, trará
melhorias sócio-econômicas à
comunidade piauiense”, destacou
Acácio Véras.
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