XIV Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência da Informação e Gestão da
Informação - Região Sul - Florianópolis - 28 de abril a 01 de maio de 2012
REPOSITÓRIO INSTITUCIONAL DA FIOCRUZ COMO FERRAMENTA DE
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Luis Guilherme Macena¹
RESUMO
O uso de repositório institucional como ferramenta de comunicação científica
possibilita maior visibilidade à instituição através dos materiais científicos
produzidos pelos seus profissionais. O trabalho relata a experiência de
iniciação científica no mapeamento, organização e disseminação da produção
científica do Instituto Fernandes Figueira e da Dra. Aparecida Gomes Pinto
Garcia em repositório institucional. A metodologia utilizada foi o levantamento
em currículos Lattes, bases de dados nacionais e internacionais, visitas
técnicas a instituições e Serviço de Comutação Bibliográfica. Apresenta os
resultados parciais da pesquisa em andamento.
Palavras-chave: Repositório Institucional; Recuperação da Informação;
Comunicação Científica
1 INTRODUÇÃO
O avanço das tecnologias e o grande estoque de fontes para alocação
das informações possibilitaram a criação de ambientes virtuais para o
armazenamento das informações disponibilizadas em suporte digitais e
impressos.
No bojo da revolução da informação agregada à tecnologia, muitas
empresas, instituições, universidades, órgãos governamentais entre outros
criam seus próprios ambientes virtuais, como o local para agregar todas as
informações disponibilizadas em documentos relacionadas à sua comunidade,
para que seu público possa acessá-las sem qualquer restrição.
Nesse contexto a Biblioteca da Saúde da Mulher e da Criança
ICICT/FIOCRUZ elabora um repositório com documentos (artigos, capítulos de
1 Graduando do 8º período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. E-mail:
[email protected]
livros, anais de eventos, lâminas, slides, fichas) produzidos pelos profissionais
do Instituto Fernandes Figueira e pela Dra. Aparecida Gomes Pinto Garcia,
uma das pioneiras da Patologia Clínica no Brasil, com a missão de organizar,
preservar e disseminar as publicações e informações produzidas por ela,
devido à relevância de sua produção para a área da Ciência da Saúde,
especificamente para a área de Anatomia feto-placentária.
O objetivo deste trabalho é relatar a experiência e a metodologia
utilizada para o mapeamento, organização e disseminação da produção
científica desta pesquisadora, doutora por notório saber, e dos profissionais do
IFF.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Repositório Institucional
O conceito de acesso livre (open acess) vem sendo discutido a partir da
democratização do acesso à Internet. Esse tipo de acesso otimiza o
desenvolvimento do conhecimento no ambiente acadêmico, espaço de
produção do conhecimento e troca de informação por excelência. O acesso
livre é um movimento visando o acesso e não a publicação em si. A
importância do acesso livre está relacionada à questão da maximização,
aceleração das pesquisas (HARNAD, 2003).
A facilidade de adquirir o conhecimento através de artigos on-line e a
agilidade na atualização das informações contribui para o crescimento da
quantidade dos documentos em ambientes virtuais. Mas as editoras,
detentoras dos direitos autorais dos documentos, tornam o acesso restrito,
cobrando preços excessivos, apesar da maioria das pesquisas serem
financiada por instituições públicas. Leite e Costa afirmam que “a informação
científica é, fundamentalmente, um bem público global, que deve estar
livremente disponível para o benefício de todos” (2006, p. 212 apud ALBERTS
2002).
Numa alternativa de derrubar as barreiras ao acesso à informação,
surgem os Repositórios Institucionais – RI, como modelo alternativo para a
comunicação científica, a fim de quebrarem o monopólio de editores e
aumentar a ciência de pesquisadores sobre a produção intelectual das
universidades, instituições de pesquisas e governamentais (JOHNSON, 2002).
“O desenvolvimento de repositórios institucionais – RI – tem se dado
amplamente, no contexto de universidades, a despeito de outras
iniciativas em instituições governamentais, principalmente, mas em
escala significativamente menor, e mais recente” (LEITE; COSTA,
2006, p. 212).
A universidade por ser um ambiente de ensino e pesquisa por
excelência produz um vasto conhecimento que precisa ser disseminado. Porém
existem barreiras que dificultam a disseminação do conhecimento produzido
por alunos, professores e pesquisadores e neste caso seria o caso das revistas
científicas, que em sua maioria não disponibilizam em texto completo os
documentos.
Como uma alternativa sugere-se neste caso a criação de um repositório
institucional. Eloy Rodrigues, chefe do Serviço de Documentação da
Universidade do Minho, apresenta o avanço da Universidade do Minho depois
da implantação do repositório institucional.
a classificação da Universidade do Minho no ranking das
universidades portuguesas, antes da implantação do RepositoriUM
(RI da Universidade do Minho), considerando a sua produção
científica, estava além do quarto lugar. Hoje, após a implantação do
seu RI, ela ocupa o segundo lugar entre as universidades
portuguesas. Atribui-se ao RI o aumento da visibilidade da
universidade, assim como da sua competitividade com outras
universidades portuguesas. Portanto, a implantação do RepositoriUM
permitiu à Universidade do Minho maior competitividade com as suas
congêneres em Portugal. (LEITE, 2006, p. 8, grifo nosso).
2.2 Sobre a Instituição
A Fundação Oswaldo Cruz é uma instituição pública, vinculada ao
Ministério da Saúde, e a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em
saúde da América Latina. Tem como missão a promoção da saúde e o
desenvolvimento social, geração e difusão do conhecimento científico e
tecnológico e ser um agente da cidadania.
O Instituto Fernandes Figueira (IFF), unidade técnico-científica da
Fiocruz,
tem
como
missão
realizar
pesquisa,
ensino,
assistência,
desenvolvimento tecnológico e extensão com qualidade no âmbito da Saúde da
Mulher, da Criança e do Adolescente.
2.3 Dra. Aparecida Gomes Pinto
A Dra. Aparecida Gomes Pinto Garcia foi uma das precursoras da
patologia pediátrica na América Latina. Brasileira, nascida na cidade de
Itanhandu, sul de Minas Gerais, em 26 de junho de 1922, aos 16 anos
transferiu-se para o Rio de Janeiro com a intenção de iniciar os estudos
preparatórios para ingressar na Faculdade Nacional de Medicina, então ligada
à Universidade do Brasil.
Depois de formada assumiu a chefia do Serviço de Anatomia Patológica
do IFF, onde iria trabalhar durante 58 anos, mesmo com a aposentadoria,
continuaria a trabalhar no Instituto como pesquisadora-chefe do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e membro do
corpo docente dos cursos de mestrado e doutorado do IFF, embora não tivesse
essas titulações.
De acordo com a Dra. Aparecida Garcia, um serviço sem arquivo era o
mesmo que um homem sem memória, portanto, este trabalho de mapeamento
e organização resgata este relevante acervo com vistas à disseminação em
ferramenta aberta, seguindo movimento de acesso livre à informação técnicocientífico.
3 DESENVOLVIMENTO
3.1 Metodologia
O mapeamento, recuperação e organização das publicações dos
profissionais do Instituto Fernandes Figueira e da Dra. Aparecida Garcia foram
realizadas em 3 etapas.
Etapa 1: Mapeamento das publicações.
A reunião com a chefia do Departamento de Anatomia Patológica do IFF
foi o primeiro passo nesta etapa, e forneceu informações importantes acerca da
vida e obra da pesquisadora, que nortearam a realização do mapeamento,
além da recuperação de um currículo datilografado constando algumas
publicações.
A partir destas informações realizamos buscas em portais e bases de
dados nacionais e internacionais da área de Ciências da Saúde com o objetivo
de encontrar suas publicações periódicas, monográficas, além de resumos das
participações em mesas redondas e anais de congresso. As principais bases
foram: BVS, PubMED, Scielo, ISI Web Knowledge, SCOPUS, Ovid SP, LILACS
e Science Direct.
Algumas dificuldades foram encontradas neste mapeamento, como, por
exemplo, a compreensão do currículo, por ser muito antigo e não ter um padrão
nas descrições dos dados.
Outro obstáculo foi o fato de algumas publicações datarem das décadas
de 1940. Por serem antigas, muitas não estão referenciadas na Internet ou em
acervos de bibliotecas especializadas.
Um exemplo deste desafio foi o artigo “Orovacinação BCG precoce em
recém-nascido” da revista “O Hospital” do ano de 1945. Nesse caso, além da
dificuldade da recuperação pelo ano, a revista “O Hospital” saiu de circulação
em 1972.
A partir da consulta ao Catálogo Coletivo Nacional (CCN) do Instituto
Brasileiro de Informação de Ciência e Tecnologia (IBICT) foi feito o
mapeamento das bibliotecas que possuíam o número indicado na referência,
para o pedido formalizado ao Serviço de Comutação.
Quanto aos anais de congresso, mesas redondas, simpósios e
seminários foram utilizados alguns critérios para tentar recuperar essas
publicações: localizar o evento ocorrido, o organizador do evento, o ano e o
tema.
No caso das publicações dos profissionais do Instituto Fernandes
Figueira utilizou-se o currículo Lattes como fonte de informação para recuperar
as publicações.
Etapa 2: Pesquisa de campo das publicações da Dra. Aparecida Gomes
Pinto Garcia
Nesta etapa foram contactadas as principais Sociedades ligadas à área
de saúde, como a Sociedade Brasileira de Pediatria, Anestesiologia,
Cardiologia, Patologia, além da Academia Nacional de Medicina e a Biblioteca
do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (CCS/UFRJ).
Na maioria dessas instituições não havia o documento em texto
completo, principalmente os referentes às décadas de 1940 e 1950.
Outra questão foi a mudança de endereço de algumas instituições
ocasionando perda parcial de acervo. Vale ressaltar que a Biblioteca do
CCS/UFRJ não disponibiliza seus arquivos mais antigos para o público,
dificultando o acesso a esses documentos.
Entretanto, encontramos publicações na Biblioteca da Academia
Nacional de Medicina, que possui os anais dos principais congressos da área
de
Medicina
e
que
nos
disponibilizou
informações
essenciais
para
complementação do projeto.
Além da pesquisa de campo, realizamos entrevistas com alguns
especialistas na área de Patologia e contemporâneos da Dra. Aparecida
Gomes Pinto Garcia que ainda trabalham no IFF.
Outra fonte importante para o resgate deste acervo foi a própria
Biblioteca da Saúde da Mulher e da Criança (BibSMC), localizada no Instituto
Fernandes Figueira onde obtivemos quantidade significativa de documentos
que contribuíram para o êxito do projeto.
Etapa 3: Organização e disseminação das publicações
A BibSMC trabalha com o repositório Institucional ARCA, Repositório
Institucional (RI) da Fiocruz desenvolvido para preservar e disseminar a
produção intelectual da Fundação.
O ARCA tem por objetivo principal reunir e dar visibilidade à produção
técnico-científica da Instituição e representa parte significativa do esforço da
pesquisa pública em saúde no Brasil. Ele utiliza o sistema DSpace que foi
desenvolvido para possibilitar a criação de repositórios digitais com funções de
captura, distribuição e preservação da produção, utilizando código aberto.
Este sistema permite o acesso a diversos tipos de conteúdo digital,
incluindo texto, imagens, imagens em movimentos e conjuntos de dados.
Devido à relevância e notoriedade das publicações da Dra. Aparecida
Garcia, foi criada uma coleção específica das obras desta pesquisadora que,
segundo especialista da área já se mostra fonte importante de pesquisa na
área da Anatomia feto-placentária.
Figura - Site do Repositório Institucional da Fiocruz (http://www.arca.fiocruz.br)
3.2 Resultados Parciais
Os resultados dessa pesquisa foram considerados satisfatórios, diante
do alto número de publicações recuperadas através do levantamento
bibliográfico e do uso de sistemas de recuperação da informação conforme é
apresentado no gráfico.
Produção Científica dos
Profissionais do Instituto
Fernandes Figueira
323
242
77
11
Gráfico - Produção Científica dos Profissionais do Instituto Fernandes Figueira
Vale ressaltar a importância da preservação da memória institucional e mais
especificamente da produção científica desta pesquisadora para fins de divulgação e
desenvolvimento de novos conhecimentos a partir das publicações científicas no
repositório institucional, de acordo com a Iniciativa do Open Access:
A distribuição mundial da literatura publicada em revistas com peerreview e o acesso completamente livre e irrestrito a essa literatura por
todos os cientistas, acadêmicos, professores, estudantes e outras
mentes curiosas. A remoção das barreiras a esta literatura acelerará
a investigação, enriquecerá a educação, (...), e estabelecerá as
fundações para unir a humanidade num comum diálogo intelectual e
procura de conhecimento. (BUDAPEST, 2002)
4 CONCLUSÃO
A quantidade real de documentos produzidos e sua variedade tipológica
ainda precisam ser levantadas e qualificadas porque, após o falecimento da
Dra. Aparecida Garcia, o Departamento continuou funcionando e, por isso, o
seu acervo se confunde com o do próprio Departamento.
A partir de um levantamento inicial realizado, encontraram-se diversos
tipos de materiais: Requisições Médicas; Cassetes da análise do cadáver
externamente e internamente; Blocos Parafinados; Slides das Lâminas; Fichas
de Slides; Laudos de peças cirúrgicas e biópsias; Laudos de necropsia;
Prontuários; Fotografias.
Por serem materiais antigos e com a necessidade de um tratamento
especial, o processo adotado para a recuperação da informação contida
nesses materiais será, em etapa posterior, a higienização, no qual será
realizada por profissionais especialistas neste tipo de serviço. Em seguida será
realizada a organização e a digitalização desses materiais, para disponibilizálos em Repositório, maximizando sua disseminação e contribuindo para o
progresso da Ciência na área da Anatomia Feto-placentária.
Em virtude da utilização do repositório institucional os materiais
apresentados foram possíveis à disponibilização para fins de conhecimento
como também de uso para pesquisa e estudo futuros por todos os
interessados. Com isso, o campo da Ciência é beneficiado com essa
ferramenta para o desenvolvimento de novos conhecimentos sem falar que a
memória da instituição se encontra preservado.
REFERÊNCIAS:
BUDAPEST Open Access Initiative . 2002. Disponível em
<http://www.soros.org/openaccess/read.shtml>. Acesso em: 05 abr. 2011.
FUNDAÇÂO OSWALDO CRUZ. Repositório Institucional Fiocruz. Disponível
em: <http://www.arca.fiocruz.br/>. Acesso em 17 nov. 2011.
HARNAD, Steven. The research-impact cycle. Information Services & Use,
Amsterdan, v. 23, n. 2-3, p. 139-142, jan. 2003. Disponível em: <
http://iospress.metapress.com/content/jpjqt20yc8jjh35j/fulltext.pdf>. Acesso em:
26 fev. 2011.
JOHNSON, Richard K. Partnering with Faculty to Enhance Scholarly
Communication. D-Lib Magazine, v. 8, n. 11, nov. 2002. Disponível em:
<http://www.dlib.org/dlib/november02/johnson/11johnson.html>. Acesso em: 26
fev. 2011.
LEITE, Fernando César Lima. Como gerenciar e ampliar a visibilidade da
informação científica brasileira: repositórios institucionais de acesso aberto.
Brasília: IBICT, 2009. 124 p.
LEITE, Fernando César Lima; COSTA, Sely. Repositórios institucionais como
ferramentas de gestão do conhecimento científico no ambiente acadêmico.
Perspect. ciênc. inf., Belo Horizonte, v. 11, n. 2, p. 206 -219, mai./ago. 2006.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pci/v11n2/v11n2a05.pdf>. Acesso em:
23 fev. 2011.
MENEZEZ, Dora. Aparecida Garcia, uma pioneira da patologia pediátrica. Hist.
ciênc. saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 457-460, jul./oct. 1.
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Luis Guilherme Macena