A missão que desafiou a enfermeira Bete
Nº 10
O hospital-dia da Infectologia é uma das áreas mais bem sucedidas do Fêmina. Lá é combatida a
transmissão do vírus HIV de mãe para filho. Conheça um personagem dessa história de sucesso
Por Jorge Olavo de Carvalho Leite
Às 6 da manhã, os aromas tomavam conta da casa de madeira
em Chapecó: os nós de pinho alimentando o fogão à lenha, os pedaços
de polenta brustolada sobre a chapa quente, o pão feito em casa, a
shmier de banana, o queijo, a cuca de maçã, o leite quentinho tirado da
vaca minutos antes, a manteiga de nata batida à mão.
Era hora de acordar para os sete filhos de Darcila, professora
primária, e de Francisco Teles, agrimensor-topógrafo. Num quarto,
dormiam os guris Manoel, Gilberto e Edson. No outro, as meninas
Maria Eloísa, Teresinha, Eliane e Bete.
Na cozinha, os grandes sentavam num banco e os pequenos,
em cima de latas com banha de porco para ficarem na altura da mesa.
Depois do café, passavam no banheiro para escovar os dentes e lavar
rosto. Tudo com água fria. Banho só às quartas e aos sábados, quando
acendiam um aquecedor de metal tão escovado que parecia de aço
inox. O vapor saindo da água quente embaçava o espelho onde Bete
olhava os pequenos seios crescendo. Primeira a nascer na família
Teles, jurava não ter filhos quando crescer. Bastava o tempo ajudando
a criar os seis menores em vez de brincar com bonecas.
Bete gostava de brincar com os guris. Era a mais rápida para
subir em árvores e a melhor para fazer os estilingues com forquilhas de
cinamomo. Com Giovani, um sapateiro italiano, conseguia as tiras de
borracha e os corinhos, onde colocava as frutinhas de cinamomo com
as quais acertava tanto nos guris quanto nas pessoas que passavam
perto do terreno de dois mil metros quadrados, onde seu pai construira
o chalé de madeira de sua infância inesquecível.
Em 15 de março de 1962, o chefe da família foi ao consultório
de Darci de Camargo, médico dos Teles, que assistiu Darcila em sete
partos, pedindo para conseguir um emprego para Bete, sua filha com
14 anos. No dia seguinte, ela começou a trabalhar no consultório.
Estava descobrindo sua vocação. Mais ainda, a paixão que a
acompanha até hoje.
Hospital-dia
Formada na Unisinos, Bete trabalhou no Hospital Criança
Conceição. Mas foi no Fêmina, na primeira semana de março de 2003,
numa reunião presidida pela enfermeira chefe Sônia Schmitz, que Bete
aceitaria a missão que justificaria a decisão de ser enfermeira. Foi
trabalhar no chamado hospital-dia da Infectologia, onde eram
tratadas gestantes e crianças soropositivas e bebês expostos ao vírus
HIV.
A equipe de profissionais da saúde do Fêmina conseguiu
sucesso em evitar que 99,4% das aproximadamente 1500 gestantes
portadoras do HIV não transmitissem o vírus a seus filhos, a
chamada transmissão vertical. É um recorde nacional. Um dos
fatores do sucesso, segundo o médico Sérgio Galbinski, gerente
de Internação do Fêmina, é tanto a vocação quanto a dedicação de
toda a equipe. A enfermeira Bete é um dos exemplos desse setor
do Fêmina. Ela se emociona ao contar as histórias vividas
durante os dez anos no hospital-dia da Infectologia.
A de Laura é uma delas. Ela chegou no Fêmina às 17
horas de uma sexta-feira, em 2010. Cabelos castanhos, olhos
verdes aguados, falava quase murmurando. As palavras saiam
pelos lábios finos, apertados pelo ódio. Perguntava “que setor
do hospital é este? Por que me mandaram aqui?” A enfermeira
Bete Tele
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explicou que “seu parto poderia ser de risco” e que teria de
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ulgar os o
“olhar todos os exames e repeti-los”.
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Na segunda-feira, Laura retornou. Aos poucos, ficou sabendo do
HIV, as chances de sobreviver e a quase convicção que seu bebê não
seria contaminado.
Laura acusava o marido de tê-la infectado. Ela o humilhava
dentro do hospital, o chamava de bandido, pintou a porta do seu
apartamento com os dizeres “aqui mora um aidético”. Mas, quando ele
fez e refez o teste, apareceu a verdade: não era portador do HIV.
Sem julgamento
Laura ajoelhava-se e pedia perdão. Acreditava que havia se
infectado numa festa “rave”, daquelas que duram um fim de semana e o
álcool e as drogas correm soltos. Ele foi enfático: “se não te amasse
tanto, teria ido embora, pois era inocente”. A história poderá ter um final
feliz, já que a bebê não foi infectada e os exames de Laura mostram que
os vírus são indetectáveis. A família mudou-se para Itajaí, em Santa
Catarina, e o casal está em bons empregos. Como diz a enfermeira Bete,
“ao longo dos meus 62 anos, uma das coisas que aprendi é que não
devemos julgar os outros e , em vez de odiar, vamos amar”.
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O sucesso de
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à dedicação”
Expediente
Diretoria do Grupo Hospitalar Conceição
Carlos Eduardo Nery Paes (Diretor-Superintendente),Gilberto Barichello (Diretor Administrativo e Financeiro),
Neio Lúcio Fraga Pereira (Diretor Técnico).
Assessoria de Comunicação Social
Coordenador de Comunicação Social: Alexandre Costa (mtb - 7587)
Edição: Andréa Araujo
Redação e Reportagens: Jorge Olavo de Carvalho Leite
Designer Gráfico: Sulivam Gonçalves dos Santos
Equipe: Luisa Vieceli Albarello e Renata Rodrigues Lopes (Eventos), Lourdes Elisebete Tamiozzo (Administrativo),
Nathalie Sulzbach, Gustavo Parenza, Shaid Vieira, Maitê Martin, Karilson Furtado, Francieli Valdez, Lucas Behrends (Estagiários de Comunicação).
Ministério da
Saúde
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Retratos da vida Bete Teles - Grupo Hospitalar Conceição