I Colóquio de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco
Brasil e Portugal: nossa história ontem e hoje
UFRPE, Recife, Pernambuco, Brasil
De 3 a 5 de outubro de 2007
“QUANDO SER JUDEU ERA SER PORTUGUÊS”:
A DIÁSPORA DOS “DA NAÇÃO”, SEUS CAMINHOS E SUA MOBILIDADE.
Creso Nuno Moraes de Brito1
Orientadora: Profª. Drª Tânia Kauffman
Resumo:
O Presente trabalho tem como objetivo traçar um breve panorama acerca da história e da diáspora dos
judeus portugueses, assim como a formação de algumas de suas comunidades na Europa e nas Américas. Tal
grupo fora fundamental na formação, no desenvolvimento e na estruturação étnica, sócio-econômica e cultural
da civilização lusíada desde os seus primórdios. Partindo da afirmação de Gilberto Freyre, em Casa grande &
Senzala, onde assinalava que a intensa mobilidade e adaptabilidade dos portugueses seriam duas das suas mais
importantes características “psico-sociais”, ao qual vieram a contribuir para o seu sucesso na empreitada
colonialista nos trópicos; procurar-se-á inserir o elemento judeu-português como um dos proporcionadores deste
processo. Tal hipótese baseia-se na constatação de que os israelitas representavam uma parcela considerável da
população lusitana, assim como a sua ampla rede de relações familiares, comerciais e de comunicabilidade,
tornava-os excelentes colonializadores em potencial. Acrescenta-se a estes fatores, a necessidade de fuga e de
refúgio que se tornava imperativo aos “da nação portuguesa”, devido à “dissolução” oficial do judaísmo ibérico,
aliada a constituição e a posterior ampliação dos poderes inquisitoriais tanto em Portugal quanto em seus
territórios coloniais.
Palavras-chaves: Judeus-portugueses – Mobilidade e redes de comunicação - Comunidades judaico-portuguesas.
Abstract:
The objective this research is describe a concise panorama about the history and the diaspora of jewsportugueses, as the build some communities in Europe and Americas. The Jews were fundamentals to formation,
development and economic, social and cultural structuraction on Portuguese’s civilization since their begin.
Based in affirmation of sociologist Gilberto Freyre in your book, Casa Grande e Senzala, where asseverate the
mobility and the adaptability as important character for success of Portuguese’s colonization on Tropics. So, this
work intent to insert the Portuguese Jews in context of Western History and America’s colonization, through
their family’s and communication’s networks.
Keywords: Portuguese's- Jews – mobility and nets of communications – Portuguese’s- Jews communities.
A Península Ibérica sob o domínio islâmico tornou-se, durante a Idade Média, um dos
ou até mesmo, o mais importante centro cultural e intelectual do Ocidente. Isto foi possível
graças à relativa tolerância2 (embora não nos moldes conceituais que hoje atribuímos a esta
1
Graduando em História – UFPE.
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palavra) patrocinada pelo Califado Omíada entre os séculos XI ao XIII. Este possibilitou a
interação e o intercambiamento dos saberes entre as três culturas abraâmicas, a saber, o
Judaísmo, o Cristianismo e o Islã; assim como das mais diversas minorias habitantes da
Península, em graus diversos.
Todavia, tal conjuntura sócio-política veio a findar-se a partir do século XIII, com o
advento das dinastias berberes, a formação das taifas (pequenos reinos muçulmanos) e a
Reconquista Cristã. Embora em alguns reinos cristãos ibéricos, durante algum tempo, os
judeus puderam viver em relativa tranqüilidade e inclusive prosperarem. Neste sentido,
Castela e Portugal destacaram-se.
Os judeus já habitavam o território no qual viria a ser Portugal antes mesmo deste se
tornar um reino cristão independente em 1139, sob a bandeira de D. Afonso Henriques, O
Conquistador. Nesta época havia importantes judiarias em Santarém, Évora, Tomar, Castelo
de Vide, Sintra, Lisboa e nos arredores de Portus Calle (Porto). Em terras lusitanas, alguns
membros da grei israelita conseguiram ascender a altos postos administrativos e econômicos,
como foi o caso de Yahia ben Aish e o seu filho, Yossef ben Yahia, almoxarifes nos
governos de D. Afonso Henriques e D. Sancho I. Como também D. Isaac Abravanel, figura
célebre do judaísmo português, tesoureiro e conselheiro d’El- Rei Afonso V.
Estima-se que as vésperas da Conversão Forçada impetrada por D. Manuel I, o
Venturoso, cerca de 10% da população portuguesa era de origem judaica (MORASHÁ, abril
2007:44). Ora, Portugal recebera um enorme afluxo migratório de judeus-espanhóis desde o
início das perseguições naquele país em 1370, no qual se intensificara após o Édito de
Expulsão de 1492, assinado pelos reis católicos.
Ainda que o Venturoso tenha proibido, por um prazo de cerca de 20 anos, que os
cristãos-novos fossem molestados e inquiridos quanto à persistência de práticas judaizantes e
mesmo após todos os esforços financeiros despendidos pelos conversos visando retardar o
inevitável, é instaurado em 1536, através da bula Cum ad nil magis em nome do papa Paulo
III, o Tribunal do Stº Ofício em Portugal ao qual se manteve sob controle real direto até 1615.
Assim, inúmeros judeus-portugueses ou “os da nação portuguesa” procuram deixar
Portugal, espalhando-se pelos países islâmicos mediterrâneos ou para a Holanda calvinista
onde puderam retornar a sua fé anterior, ou ainda se dirigiram as várias possessões do império
2
Para o historiador Bernard Lewis, a idéia de tolerância como hoje a concebemos seria impossível em
sociedades pré-modernas, onde a religião possuía um caráter central no relacionamento dos indivíduos com a
realidade. E apesar dos códigos de conduta para com as minorias monoteístas fossem mais brandos no Islã; a
imagem desta religião tanto como símbolo de tolerância quanto de extremismo religioso são idealizações
recentes e basicamente ocidentais.
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marítimo ibérico (facilitado com a união das coroas sob Filipe II, a partir de 1580), na
condição de cristãos-novos. A presença dos conversos portugueses judaizantes3 eram tão forte
nestas localidades que o termo português passou a ser quase um sinônimo de judeu. Tanto nas
documentações da Inquisição quanto nas percepções das diversas populações dos lugares para
onde estes se dirigiram.
1. A necessidade de fuga e a mobilidade dos Conversos:
Além da instauração do tribunal do Santo Ofício em Portugal em 1536, a União
Ibérica em 1580, constituiu um fator decisivo para a fuga dos judeus de Portugal no século
XVI. O unificador das coroas espanhola e portuguesa, Filipe II, era um monarca
completamente imbuído do espírito barroco (claramente expresso com a construção do El
Escorial) e da Contra-Reforma. Neste sentido, visando manter a unidade de seu império, o
monarca procurou por em prática a todo o custo o ideal de “um povo, um rei, uma fé”.
Acentuando-se a perseguição aos cristão-novos, aos mouriscos e aos protestantes;
considerados os principais inimigos do ideal ibérico de expansão do Império da Cristandade.
Neste contexto, a fuga acenava aos marranos como uma significativa possibilidade de
salvação.
São inúmeros os fatores que possibilitam o deslocamento maciço de indivíduos e
grupos, entre eles estão o estado e o grau de integração dos mesmos na sociedade. De fato, no
caso dos cristãos-novos existia certa resistência à integração destes à sociedade lusitana cristã
metropolitana, exemplificado pelas perseguições religiosas e a restrições econômicoprofissionais (acentuados com os decretos de “limpieza de sangre”4) sofridas por eles. E
provavelmente foram estes fatores que se apresentavam como preponderantes para a decisão
de migrar para outros locais e para as regiões coloniais.
3
Judaizante era aquele converso que “persistia” em práticas consideradas judaicas pela documentação
inquisitorial, sejam por convicções próprias, tradições familiares ou por simples ignorância do que se tratavam.
Cristãos-velhos também poderiam ser apreendidos em práticas judaizantes devido ao forte intercambiamento
cultural e de comportamentos sociais existentes entre as populações de origem ibérica, principalmente nas
colônias.
4
Regulamentações que exigia, para participação em cargos públicos e a obtenção de tantos outros benefícios nos
Estados Ibéricos, um atestado constando a não “mesclagem sanguínea” do indivíduo com judeus, mouros,
ciganos e posteriormente negros ou ameríndios nas colônias. Conseqüentemente excluía-se a maioria dos iberosdescendentes da possibilidade de ascensão social através dos mecanismos burocráticos. Todavia muitos e dos
mais variados tipos foram os métodos utilizados para se burlar tais regulamentações.
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O sociólogo Gilberto Freyre, em seu livro "Casa Grande e Senzala", afirmara que uma
das características que possibilitaram o “sucesso” da colonização portuguesa nos trópicos,
teria sido justamente a capacidade destes de se deslocarem por amplos territórios e de se
adaptarem com certa desenvoltura aos mesmos. Algo no qual os judeus já tinham adquirido
bastante experiência devido a Diáspora.
Atualmente já é sabido pela historiografia brasileira, através de trabalhos pioneiros
como da Profºs. José Gonçalves Salvador e Anita Novinsky, e em Pernambuco, dos Profºs
José Antônio Gonsalves de Mello e Tânia Neuman Kaufman; que uma parcela considerável
dos nossos colonizadores portugueses eram de origem cristã-nova.
A necessidade da ocupação dos territórios conquistados (o que fazia do império
português prescindir de pessoas dispostas para a perigosa empreitada), aliada a conseqüente
dificuldade da movimentação de informações devido à distância com a metrópole e o fato de
permanecerem na jurisdição do império marítimo português, levara a muitos conversos
optarem pelas colônias.
Então não seria pertinente incluí-los no conceito freyriano de mobilidade e
adaptabilidade lusíada, já que as próprias conjunturas em que viviam faziam destas
características um imperativo para a suas sobrevivências?
A presença dos cristãos-novos, e especialmente, dos conversos portugueses retornados
ao judaísmo, também cognominados como os judeus portugueses de Amsterdã, ao qual se
fizeram presentes nas Américas desde o período colonial também não seria um claro exemplo
indicativo para incluí-los nesta assertiva?
Assim se faz pertinente analisar-se mais profundamente a história dos judeus e a
conjuntura em que se inseriam para que se possa construir uma discussão historiográfica.
Analogamente surge a necessidade de os enquadrar, bem como a realidade por eles
vivenciada, no amplo contexto da história ocidental, e não apenas como um grupo à parte,
minoritário e marginalizado da mesma.
2. “A Jerusalém do Ocidente”, Amsterdã e os judeus-portugueses:
O final do século XVI e especialmente o século XVII, caracterizou-se na Europa por
um período de intensas disputas e de profundas transformações político-territoriais,
fundamentadas por querelas e divergências religiosas. As grandes potências do continente
alinhavam-se segundo seus interesses comerciais específicos, mas também de acordo com a
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sua orientação religiosa cristã. A Espanha e Portugal, unidos em 1580 por Filipe II,
representavam a mais importante potência católica.
Os Países Baixos, neste período, era uma possessão espanhola e o seu monarca, Filipe
II, temendo a ascensão da burguesia protestante e o conseqüente prejuízo ao seu império,
passou a persegui-los severamente logo ao assumir o trono em 1556.
Tal atitude resultou na eclosão de uma revolta liberal burguesa naquela região em
1568, a denominada Guerra dos 80 Anos (1568-1648) que levou a formação da República
Unida da Holanda em 1579, a partir da aliança entre as províncias protestantes e burguesas do
Norte.
De acordo com os Estatutos da nova República, ninguém em território neerlandês
deveria ser importunado por motivos religiosos, desde que não perturbassem a ordem social,
fossem estes seus habitantes ou simplesmente visitantes. Assim, a Holanda torna-se um local
de abrigo para os cristãos-novos portugueses, assinalando-lhes a possibilidade de retornarem
ao Judaísmo e de reconstituírem a sua identidade como tais.
Varias famílias de conversos chegaram a Amsterdã, já em 1593, instalando-se em uma
ilha do rio Amstel, a Vlooienburg, posteriormente conhecida como o “bairro judeu”. Lá eles
começaram a se estruturar econômica (estando ligados principalmente ao comércio e os
maiores, aos negócios do açúcar) e religiosamente, apoiados pelo rabino Moshe Uriel Halevi.
Este logo se empenha em circuncidar os “portugueses”
5
(entre eles o grande líder Jacob
Tirado) para que viessem a (re)aprender as leis, tradições e práticas judaicas corretamente.
Para tanto, o rabino passa a organizar serviços religiosos nas residências particulares, usando
um Sefer Torah6 que trouxe consigo de Emden.
De 1598 em diante, fora permitido aos conversos a compra da cidadania, além de
poderem casar-se, comprar e herdar propriedades, e praticar seus cultos, com a restrição
apenas, de que não fosse realizado publicamente. Em 1606 é fundada, sob a liderança de
5
Após a conversão forçada, os judeus passam a ser denominados de várias formas nos documentos oficiais ou
na vivência cotidiana. Os termos mais comuns eram: "gente da nação", ou seja, gente da nação hebréia e todas as
suas derivações “os da nação hebréia”, “os da nação”, “os da raça”, “gente nova”; “os da nação portuguesa”, “os
portugueses” e “homens de negócio de Portugal” (nos países estrangeiros); “confessos”, “conversos”,
“judaizantes” ou “cripto-judeus” (quando persistiam nas práticas ancestrais “às escondidas”.) e de modo
depreciativo, "marranos” (porcos) ou “judeus batizados em pé”. Há inclusive um termo hebraico pelo qual eles
se referiam a si mesmos: b’nei anussim (filho dos forçados) ou simplesmente, anussim (forçados).
6
O livro da Torah (Pentateuco) utilizado para a leitura pública nas sinagogas. Consiste em um pergaminho,
escrito a mão por um escriba especializado, confeccionado a partir do couro de um mamífero casher (um bovino,
um caprino ou um ovino). Significando um animal apropriado para consumo e utilização pela lei religiosa
judaica, o qual, para o caso, consiste obrigatoriamente em um ruminante cujas patas são fendidas, morto segundo
os preceitos religiosos de abate.
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Jacob Tirado e do rabino Moshe Uri Halevi, a Kahal Beit Yacoov (Congregação Casa de
Jacó) e dois anos mais tarde a Neve Shalom, de caráter mais hispânico. Todavia somente após
1614, as autoridades flamengas consentem à construção de sinagogas, quando a comunidade
israelita obtém uma área em Ourderkek, nos arredores de Amsterdã, para a construção de seu
cemitério.
Em 1616, a República Holandesa incumbe ao jurista Hugo Grotius, alcunhado como
“pai da legislação internacional”, a definição do status legal dos hebreus em seu território.
Este reafirmara a presença daqueles como benéfica e até mesmo desejável para o
desenvolvimento social e econômico da nação, ressaltando a preeminência da liberdade
religiosa e objetando a utilização de qualquer símbolo que viesse a os denegrir.
Deste modo, as decisões relativas aos judeus ficavam a cargo dos governantes de cada
cidade especificamente. Contudo lhes fora negado o casamento com cristãos ou deles terem
filhos, bem como a conversão de cristãos ao Judaísmo ou o acesso dos israelitas a cargos
governativos. Esta última condição, na verdade, fora generalizada a todos os que não
pertenciam a Igreja Reformada.
Em 1618 há uma cisão na Kahal Beit Yacob, originando a Kahal Beit Israel
(Congregação Casa de Israel), constituindo, portanto, três comunidades em Amsterdã. Estas
terminam por se unir em 1639, constituindo a Talmud Torá (Centro de Estudos religiosos)
“Congregação Portuguesa Israelita de Amsterdã”. Sendo utilizado o prédio da Sinagoga Beit
Israel para a realização dos serviços comunitários, tendo ela recebido uma reforma, resultando
em sua ampliação e a construção de uma elegante fachada com majestosas colunas.
Isto se devia ao fato de não só os portugueses, mas todos os imigrantes sefarditas 7
adotarem a rotulação de “portugueses”, com fins de evitar a identificação com os inimigos
espanhóis. Mesmo atualmente, os avisos e a oração pela Casa Real são realizados na língua de
Camões.
Logo ao formarem-se as Congregações foram criadas instituições comunitárias de
auxílio e empréstimo aos necessitados; de sustento de órfãos, doentes e enterro aos mais
pobres; de igual forma a associação para dotar moças órfãs, existente até hoje; e também
educacionais, de cashrut8 e um fundo para resgatar judeus aprisionados.
7
Sefarditas e sefardim ou sefaraditas e sefaradim, faz referência aos judeus originários da Península Ibérica, de
alguns países mediterrâneos ou ainda do sul da França. Enquanto asquenazim e asquenazitas ou ashkenazim ou
ashkenazitas, significam os judeus originários da Alemanha ou Centro e Leste europeu.
8
Leis e regulamentos religiosos judaicos que definem o que é ritualmente “puro”, “apropriado” e utilizável pelos
judeus. Seja na esfera alimentícia, de vestimenta ou de relações íntimas e pessoais. Genérica e usualmente,
significa o que é considerado apropriado pelos judeus.
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O responsável pela congregação sefardita de Amsterdã, o rabino Isaac Aboab da
Fonseca, que após exercer a sua função como o primeiro das Américas e regressado de Recife
após a Restauração Pernambucana (1646-1654), teve a idéia de construir uma nova sinagoga
mais espaçosa e imponente que refletisse o bem-estar e a importância da comunidade nos
Países Baixos.
Desta forma é inaugurada em 1675, cuja comemoração durou oito dias, a Sinagoga
Portuguesa de Amsterdã ou simplesmente a Esnoga 9, como passou a ser chamada. Concebida
em estilo clássico e segundo alguns elementos do Templo de Jerusalém, de acordo com o
modelo corrente à época, publicado pelo rabino Jacó Judá Leon em 1642.
A Esnoga consiste em um edifício regular que ocupa quase um quarteirão inteiro e está
assentado em 3000 pilares de madeira que mergulham na água. O projeto e a execução da
obra ficaram a cargo do arquiteto Elias Bouman, enquanto a marcenaria fora destinada a Gillis
Van Der Veen.
Constitui-se um fato interessante serem o heichal e a tebá10 confeccionados em
jacarandá pernambucano, pois se caracterizou como uma doação de Moisés Curiel ou
Jerônimo Nunes da Costa, grande exportador de madeira brasileira.
Justamente no período de dominação batava ao Nordeste brasileiro é que se faz
expressiva a presença dos judeus portugueses nestas terras, onde no período áureo da
imigração, estes constituíam cerca de 50% da população “branca” em Recife. E são estes,
aliados aos colonizadores portugueses judaizantes que já habitavam a capitania de
Pernambuco e retornam a fé ancestral, dado a liberdade religiosa concedida pelo governo da
Cia. das Índias Ocidentais, que constroem a primeira comunidade e sinagoga oficial das
Américas, a Kahal Kadosh Zur Israel.
3. Kahal Kadosh Zur Israel, a comunidade pioneira nas Américas:
A tomada de Pernambuco pelos holandeses em 1630, ecoou para os judeus
portugueses de Amsterdã como uma boa nova. Pois para muitos deles apresentava-se como
9
Termo português para sinagoga ou qualquer reunião entre os conversos, normalmente com a intenção de
judaizarem, donde se diz: “fazer esnoga”, muito comum nos documentos inquisitoriais. Em neerlandês diz-se
Snogue.
10
Arca sagrada onde estão guardados os livros da Torah e serve para indicar a direção do Monte do Templo em
Jerusalém, para onde as preces devem ser dirigidas. Opõe-se perpendicular e horizontalmente a Tebá, nas
sinagogas portuguesas, estrado onde o oficio religioso é conduzido pelo chantre e no qual é lido a Torah.
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uma probabilidade de adquirirem melhores condições de vida (porque muitos se encontravam
em situação de extrema pobreza), acrescenta-se ainda o fato de que a Capitania Duartina era
na época bastante próspera devido ao negócio do açúcar.
Assim inúmeros judeus pedem autorização ao Conselho Político da Cia. das Índias
Ocidentais para se transferirem, alguns sozinhos e outros com a suas famílias ou aparentados.
Existia inclusive a intenção de um converso, Manuel Mendes de Castro, que atendia pelo
nome hebreu de Manuel Nehemias, de instaurar no Brasil Holandês uma colônia judaica de
200 pessoas, entre ricos e pobres (MELLO, 1989: 218-222).
O crescimento da população judaica em Pernambuco logo se tornou tão intenso que o
Conselho Político da Cia. das Índias decidiu vender ao rico mercador da “nação” e senhor de
engenho, Duarte Saraiva ou David Senior Coronel, um lote junto a Porta da Terra, ao norte
do istmo que ligava Recife a vila de Olinda, para lá que se pudesse ser construídas
habitacionais e casas comerciais. Dando início a formação naquela localidade ainda em 1636,
que rapidamente veio a ser acrescida por outras construções dos mais ricos comerciantes
judeus, da Jodenstraat (Rua dos Judeus), atualmente Rua do Bom Jesus, no bairro do Recife
Antigo.
Em terras do açúcar, os judeus estavam ligados principalmente ao comércio,
destacando-se o do açúcar e do tabaco, cobrança de impostos, empréstimo de dinheiro e
alguns até chegaram a possuir engenhos, bem como se dedicaram ao comércio de escravos.
Na rua dos judeus funcionava inclusive um Slavenmarket, mercado de escravos.
Na casa de Duarte Saraiva funcionara a primeira sinagoga das Américas mesmo antes
de 1636, quando veio de forma definitiva ser estabelecida a Kahal kadosh Zur Israel, ou seja,
Santa Comunidade Rochedo (talvez se referindo aos arrecifes) de Israel. Congregando tanto
judeus portugueses imigrantes dos Paises Baixos, quanto cristãos-novos retornados ao
judaísmo.
Nela serviu como rabino, professor e mohel (circuncisador), o chacham11 Isaac Aboab
da Fonseca, no qual compôs também os primeiros conjunto de poemas em hebraico das
Américas, o Zecher Assiti HaNiflaot EL (Ergui um Memorial aos Milagres Divinos) e o Mi
Chamocha (Quem é como Tu?), onde relata em cores fortes e vivo lirismo, as privações dos
judeus quando do cerco de Recife pelas tropas luso-brasileiras do movimento da Restauração
Pernambucana em 1646.
11
Entre os sefarditas, o rabino ou qualquer indivíduo que muito se destaque no conhecimento do hebraico, da
Torah e do Talmud, recebe o cognome de chacham, que quer dizer sábio ou erudito.
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Aboab substituiu o célebre erudito, rabino Menasseh ben Israel (Manoel Dias Soeiro),
responsável pelo retorno dos judeus a Inglaterra, expulsos daquele país desde por Eduardo III;
e que desistira de vir ao Recife em última hora.
Em 1637 com a construção da Cidade Maurícia pelo conde Mauricio de Nassau,
governante e benfeitor destas terras, instituíra-se uma outra congregação, a Kahal Kadosh
Maguen Abraham (Congregação Sagrada Escudo de Abraão) onde exercera o cargo de
chacham, Moyses de Aguilar, autor de diversos livros e profundo conhecedor da “teologia”
12
judaica, tio de um famoso mártir converso levado à fogueira em Lisboa em 1647, Isaque de
Castro Tartas.
Após funcionar durante certo tempo em casa de Duarte Saraiva, fora permitido por
Mauricio de Nassau, a construção de um prédio em pedra e cal entre 1640 e 1641, para que a
comunidade do Recife pudesse realizar suas reuniões sociais e religiosas. Deste modo surge a
Sinagoga Kahal Zur Israel (hoje restaurada e aberta à visitação pública no mesmo local onde
funcionara anteriormente), situada no sexto lote do terreno pertencente à Saraiva.
A sinagoga funcionava no primeiro andar de um prédio geminado e no térreo
funcionavam duas lojas, onde em uma se encontrava a área do bor e da mikvá13, que foram
descobertos com as prospecções arqueológicas e confirmada a existência da sinagoga por
tribunal rabínico- beit din- entre os anos de 2000 e 2001. Na outra loja, encontravam-se duas
salas de estudo para meninos e rapazes, a Talmud Torá e Ets Chaim, respectivamente. O
acesso ao piso superior se dava por uma única escada, que contrariamente ao bor e a mikvá
não foi encontrada nas prospecções arqueológicas.
Devido às queixas de membros tanto da Igreja Reformada quanto da Católica, fica
proibido aos judeus formarem outras comunidades, terminando por todas elas se
subordinarem a Zur Israel. Em 1648, a Maguen Abraham se funde a Zur Israel, tal fato ficou
registrado nos 40 artigos das regulamentações comunitárias (Haskamot), assinada pelos
membros adultos do sexo masculino de ambas.
12
O termo teologia encontra-se entre aspas, porque há uma discussão teórica acerca do judaísmo possuir ou não
uma teologia, já que tal religião não prioriza dogmas e não aceita a possibilidade de se discutir acerca da
natureza Divina. O estudo religioso mosaico debruçar-se-ia sobre a Revelação da Vontade (Ratson) do Deus de
Israel para seu povo e a humanidade através da Torah Escrita (Pentateuco e o Antigo testamento, Tanach) e Oral
(Talmud e a tradição sagrada, Morashá).
13
O bor é um poço onde flui água (pois é obrigatório que seja corrente de um rio ou fonte natural) para o banho
ritual de purificação (tevilah), utilizado pelas israelitas após o período menstrual e nalguns casos pelos homens
as vésperas do Iom Kipur, Dia do Perdão, ou do Shabat, o Sábado. Ainda é utilizado como ritual de iniciação
para candidatos a conversão de ambos os sexos, donde se acredita ter se originado o batismo cristão. O bor é
interligado por vasos comunicantes a mikvá (ou mikvê), a piscina onde o individuo emerge e realiza o ritual.
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Com o retorno de Nassau, apesar dos esforços dos judeus para que isto não se
efetivasse (chegaram a oferecer 3.000 florins a cada 1º de janeiro para cada ano que ficasse), e
com as revoltas resultantes do movimento da Restauração Pernambucana, a situação dos
judeus começa a se deteriorar. Finalmente em 1654, as tropas luso-brasileiras reconquistam a
região, os holandeses batem em retirada e os judeus são expulsos do Nordeste. Só puderam
ficar aqueles que permaneceram cripto-judeus ou tornaram-se bons católicos.
A maioria das famílias judaicas que partiram, retornaram a Holanda, outras se dirigem
ao Caribe e formam comunidades em Martinica, Jamaica, Barbados, e Curaçao, levando
consigo as técnicas da indústria do açúcar, mas também a cultura do fumo, que viria
posteriormente trazer sérios problemas a economia brasileira. Vinte e três deles após uma
série de contratempos e vicissitudes aportaram em Nova Amsterdã, atual Nova Iorque,
formando o núcleo da comunidade que se transformaria a mais importante das Américas e no
contexto mundial do judaísmo.
4. “Os Portões da Esperança”, a Comunidade Shearit Israel:
Com a rendição dos holandeses, o comandante das tropas luso-brasileiras, Francisco
Barreto de Meneses, ofereceu aos colonos derrotados duas opções: eles se submeteriam a
Portugal ou tinha um prazo de três meses para resolverem seus negócios e partirem do Brasil.
Escolheram a segunda opção.
Dezesseis navios deixam Pernambuco, levando os neerlandeses e os judeus
portugueses. Quinze conseguem chegar a seu destino, um se extravia, sendo capturado por
piratas espanhóis. Todavia, todos terminam por ser resgatados pela tripulação do navio
francês, Saint Catherine. Havia entre eles 23 judeus, contando-se homens mulheres e crianças,
que aportam em setembro de 1654, na ilha de Manhattam, possessão da WIC (Cia. das Índias
Ocidentais) à época.
Lá, porém, os judeus não encontram a tolerância que caracterizava as possessões
batavas, garantida pela Declaração de Utrecht. Ora, o governador de Nova Amsterdã (de 1647
a 1664), Peter Stuveysant, era um calvinista zeloso e considerava que a presença desses
judeus desvalidos e da sua “abominável religião” só traria prejuízo.
Procurou então de toda forma expulsá-los, escrevendo uma carta a WIC pedindo a
permissão para o fazer, a resposta, no entanto, fora negativa. Pois os judeus em Amsterdã já
tinham também encaminhado a Cia. uma petição de permanência àqueles judeus, alegando
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serem os israelitas há décadas leais à Holanda e inclusive sendo alguns deles membros
acionistas da dita empresa.
Mesmo assim, Stuveysant exclui os judeus do serviço da guarda colonial na Casa dos
Voluntários e os obriga a pagar um imposto (65 stivers mensais), porque outros serviam no
lugar deles. Diante desta situação, dois judeus, Asher Levy (talvez um dos refugiados
recifenses) e Jacob Barsimson (um asquenazita vindo da Holanda) escrevem um baixoassinado entregue ao Tribunal Colonial, objetando as medidas tomadas pelo governador. Após
dois anos de questão judicial, eles ganham a causa.
Mas o governador não desistiu em dificultar a vida dos israelitas, após conquistar o
território sueco ao longo do rio Delaware proíbe-os de comerciar naquele local. Novamente
Asher Levy reclama da distinção e obtêm a primeira concessão de comercialização em 1656,
somente a construção de uma sinagoga continuava proibida.
De fato, desde a chegada dos refugiados brasileiros, às portas dos iamim noraim14,
procurou-se estruturar uma comunidade, sendo possível fazê-la com a chegada, em 1655, de
cinco famílias e três solteiros israelitas, com melhores condições financeiras, provenientes dos
Países Baixos. É fundada no mesmo ano, a Kahal Shearit Jacob (Congregação Portões de
Jacó), posteriormente denominada Shearit Israel (Portões de Israel), única comunidade de
Nova Iorque até 1825.
Inicialmente as reuniões eram realizadas em casas alugadas, pois era proibida a
construção de uma sinagoga. Como a halachah15 não exige um templo especificamente, mas
apenas um quorum, de dez indivíduos do sexo masculinos maiores de 13 anos, para realização
das cerimônias religiosas; a Comunidade prioriza a obtenção de um campo santo, que é
concedida pelas autoridades, sendo o cemitério construído em 1683 no centro da cidade.
Isto se dera já sob o domínio inglês que se iniciara em 1664, tendo o nome da cidade
sido substituído de Nova Amsterdã para Nova Iorque (no qual os judeus tiveram permissão
de residência graças o acordo entre Menasseh ben Israel e Oliver Cronwell).
A primeira sinagoga só foi erguida em 1730. Consistia em um simples prédio de
tijolos, que devido ao crescimento comunitário mudou de lugar três vezes até se estabelecer
no local que se encontra até hoje, na Rua 70, esquina com a Avenida Central Park West.
14
Os “dias temíveis”, período de 10 dias que vai desde o Rosh Hashanah, Ano Novo, ao Iom Kipur, Dia do
Perdão, geralmente em meados de setembro. Acredita-se que nestes dias
15
Significando, caminho ou direção, corresponde a interpretação e a compilação das regras, práticas e ritos
religiosos judaicos cotidianos, baseado na Torah Escrita e Oral. Constitui-se também em uma jurisprudência,
sendo a base do comportamento e da concepção judaica ortodoxa.
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Mesmo após o número de sefarditas ter sido suplantado pelos asquenazitas, a sinagoga
manteve o rito hispano-português.
Como quase sempre ocorria, nas colônias do Norte, os judeus eram ativos no
comércio. Atuavam como intermediários entre os nativos e os europeus, eram peritos na
navegação costeira e no comércio ultramarino, atuavam como lojistas e artesãos, além de
vendedores de miudezas e outros utensílios cotidianos. Pouquíssimos eram agricultores ou
ricos, embora algumas famílias dos “da nação” possuíssem patrimônios expressivos. Tais os
Lopes, Franks, Hayman Levy, Gratz e os Lindo.
Por fim é imprescindível ressaltar uma questão para que se evite a disseminação de
uma “mitificação falaciosa”, resultante talvez de um ingênuo “pseudo-provincialismo”, da
ignorância ou de uma informação incorreta. Como pôde ser percebido, os judeus portugueses
de Recife não fundaram Nova Iorque como vem sendo erroneamente divulgado, inclusive
pelos veículos de informação. O que ocorreu, na verdade, foi que alguns deles foram os
fundadores de uma das mais importantes, ricas e influentes comunidades judaicas do mundo,
a Comunidade nova-iorquina Shearit Israel.
5. Conclusão:
As dispersões dos judeus por diferentes espaços geográficos produziram um povo que,
embora identificado pela fé e tradições religiosas (interiorizadas antes das diásporas e
preservadas nas terras onde se instalaram), contribuíram para o desenvolvimento, nos mais
diversos campos sociais, dos lugares para onde migraram.
A intolerância étnica e religiosa, os conflitos políticos, aliados aos interesses
econômicos e a possibilidade da reconstrução de suas vidas em segurança, sempre
impulsionaram os judeus a migrarem, muitas vezes com profundo pesar, dos locais que
estavam a muito estabelecidos. A Holanda e alguns países protestantes, o Mediterrâneo
islâmico e as Américas, em especial o Brasil e os Estados Unidos, constituíam, muitas
vezes, o destino destas migrações ao longo da construção do mundo moderno.
Assim os judeus europeus, destacando-se os de origem sefardita, auxiliaram em maior
ou menor grau para expansão do capitalismo, da interação e da integração entre povos e
culturas. Conseqüentemente contribuíram (direta ou indiretamente) para o projeto de
europeização do mundo, através de suas redes familiares e de comércio, se bem que as
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mesmas existissem primeiramente como um mecanismo de preservação grupal ou mesmo
individual.
Embora se possam fazer objeções a essa afirmativa, e a mesma careça também de
maior aprofundamento teórico, é indubitável que os israelitas foram ao menos
contribuintes deste processo. Porquanto, após séculos em território europeu, eles eram
também “europeus”. Apesar de sempre permanecerem fortemente vinculados a sua terra e
aos valores semíticos ancestrais.
O que não deixa de ser algo deveras intrigante e até mesmo irônico, pois ao mesmo
tempo em que os judeus foram desconsiderados como cidadãos europeus, enquanto eram
rejeitados e expulsos da maior parte daqueles territórios; eles, com a sua mobilidade e a
sua necessidade de (re)adaptação, vieram a contribuir com a disseminação do “ethos
europeu” tanto no mundo colonial quanto nos países islâmicos.
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