COMPETÊNCIA EM EDUCAÇÃO PÚBLICA PROFISSIONAL
Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
APOSTILA
ANÁLISE E PRODUÇÃO DE TEXTOS TÉCNICOS
REVISÃO GRAMATICAL
DISCIPLINAS
Linguagem, Trabalho e Tecnologia
Cursos Técnicos: Química, Mecatrônica, Eletrônica, Eletroeletrônica, Administração, Informática,
Informática para Internet, Contabilidade, Administração, Automação Industrial e Logística
Representação e Comunicação em Língua Portuguesa
Representação e Comunicação Organizacional
Curso Técnico: Secretariado
Autora: Professora Lucivânia A. S. Perico
SÃO BERNARDO DO CAMPO
AGOSTO - 2011
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SUMÁRIO
1. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO ..............................................................
1.1 VOCABULÁRIO E ADEQUAÇÃO LINGUÍSTICA ..................................
2. NOÇÕES DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA .............................................................
2.1 LÍNGUA CULTA X LÍNGUA COLOQUIAL .......................................
EXERCÍCIOS ......................................................................................................
3. CONTEXTO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOÇÃO DE TEXTO .....................
3.1 COMPREENDENDO O CONTEXTO .........................................................
QUESTIONÁRIO ................................................................................................
4. INTERTEXTUALIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE TEXTOS ..............................
EXERCÍCIOS ......................................................................................................
5. O TEXTO E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA ............................................
5.1 OS LIMITES DA RETÓRICA DE MERCADO ..........................................
QUESTIONÁRIO ................................................................................................
6. RESUMO ...................................................................................................................
ATIVIDADE .......................................................................................................
7. RESENHA .................................................................................................................
7.1 DIFERENCIANDO: RESUMO X RESENHA ............................................
REDAÇÃO ..........................................................................................................
8. FILME “TEMPOS MODERNOS” ............................................................................
9. REDAÇÃO TÉCNICA E COMERCIAL .................................................................
9.1 CURRÍCULO ................................................................................................
9.2 CARTA COMERCIAL .................................................................................
9.3 MENSAGEM ELETRÔNICA (E-MAIL) .....................................................
9.4 RELATÓRIO .................................................................................................
9.5 ATA ...............................................................................................................
9.6 REQUERIMENTO ........................................................................................
9.7 DECLARAÇÃO ............................................................................................
9.8 OFÍCIO ..........................................................................................................
9.9 MEMORANDO .............................................................................................
9.10 CIRCULAR .................................................................................................
9.11 PROTOCOLO .............................................................................................
9.12 RECIBO .......................................................................................................
9.13 ATESTADO ................................................................................................
9.14 AVISO .........................................................................................................
9.15 EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS MAIS UTILIZADAS ..........................
9.16 CARTA PESSOAL ......................................................................................
10. MORFOLOGIA – REVISÃO .................................................................................
EXERCÍCIOS ......................................................................................................
10.1 SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS ..........................................................
11. SINTAXE – REVISÃO ...........................................................................................
EXERCÍCIOS ......................................................................................................
12. REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL – REVISÃO ...............................................
13. CRASE – REVISÃO ...............................................................................................
EXERCÍCIOS – REGÊNCIA E CRASE ............................................................
14. CONCORDÂNCIA NOMINAL – REVISÃO ........................................................
EXERCÍCIOS ......................................................................................................
15. CONCORDÂNCIA VERBAL – REVISÃO ...........................................................
EXERCÍCIOS ......................................................................................................
16. ACENTUAÇÃO – REVISÃO ................................................................................
EXERCÍCIOS ......................................................................................................
17. COESÃO, COERÊNCIA E CLAREZA TEXTUAL ..............................................
17.1 PONTUAÇÃO – REVISÃO .......................................................................
EXERCÍCIOS ......................................................................................................
BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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1 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO
Nós, seres humanos, temos um nível de sofisticação que nos diferencia de outros seres vivos,
que é a capacidade de comunicação. A comunicação é a transmissão e a compreensão de informações
entre as pessoas. Comunicar equivale a tornar uma ideia comum entre o emissor e o receptor da
mensagem. É chamada de emissor a pessoa que emite a informação e o receptor é a pessoa que a
recebe.
Para que o processo de comunicação efetiva aconteça, são necessárias oito etapas. Tendo como
ponto de partida o emissor, consideram-se três etapas: elaborar uma ideia, codificar e transmitir a
mensagem. As cinco etapas seguintes, que envolvem o receptor, são: receber, decodificar, aceitar,
usar a informação recebida e dar uma resposta.
Durante esse processo podem ocorrer barreiras, que são ruídos ou interferências que podem
causar distorção na comunicação. Essas barreiras podem ser: físicas, semânticas ou de ordem pessoal.
As barreiras físicas são as que decorrem do ambiente físico, como barulho e distância. As barreiras
semânticas são aquelas que limitam a compreensão das palavras e ações, como o uso de uma
linguagem que não seja comum ao emissor e ao receptor. As barreiras de ordem pessoal decorrem da
falta de sintonia emocional entre as pessoas que se comunicam.
Vejamos o caso abaixo:
Numa cidadezinha pequena do interior... o forró “tava comendo solto”! A moça preparou-se
toda para ir ao baile, que era o único evento da cidade depois de muito tempo. Esperava encontrar o
seu “príncipe encantado” no tal baile. Lá chegando, um rapaz franzino, meio “desengonçado”, que
transpirava muito, aproximou-se dela e convidou-a para dançar.
Ela não achou o rapaz muito interessante, porém, para não arrumar confusão, pois na cidade
isso era considerado “indelicado, acabou aceitando. Mas o rapaz realmente suava tanto, mas tanto,
que ela, já não suportando mais, disse:
- Você sua, hein?
Diante disso, o rapaz sorriu, apertou-a com força e respondeu:
- Também vô sê seu, minha princesa!
Refletindo sobre o texto, que ruído interferiu na comunicação?
É importante considerarmos que há dois de tipos de comunicação: verbal e não-verbal.
A comunicação verbal falada realiza-se através da fala, como no caso de palestras. A
comunicação verbal escrita ocorre por meio da escrita, como ocorre nas mensagens trocadas por emails. A comunicação não-verbal ocorre por intermédio de ações como gestos, expressões faciais,
posturas e movimentos corporais.
Saber comunicar-se efetivamente, iniciar e encerrar uma conversação, fazer e responder
perguntas, gratificar e elogiar, dar e receber feedback são algumas das principais habilidades de
comunicação, e elas são muito valorizadas no mundo do trabalho. As habilidades de fazer e responder
perguntas envolvem entonação, volume de voz, expressão facial e gesticulação. As habilidades de
gratificar e elogiar referem-se a recompensar emocionalmente alguém para que o outro se sinta
valorizado, reconhecido e respeitado, como ocorre quando o elogio é percebido como verdadeiro e
adequado. As habilidades de dar e receber feedback fazem parte das principais habilidades de
comunicação. O feedback pode ser compreendido como crítica construtiva ou como crítica destrutiva.
Como crítica construtiva traz consequências positivas e, como crítica destrutiva faz o contrário,
causando dor, tristeza e sofrimento a quem o recebe.
Sabedores de que é possível promover o desenvolvimento pessoal e profissional através da
nossa forma de comunicação, torna-se fundamental planejá-la adequadamente, de forma ética e
responsável.
Somos seres sociais, devemos cuidar de nossas relações interpessoais em todos os momentos,
a fim de criar, manter e melhorar esses relacionamentos. Certamente, podemos entender a
comunicação como parte disso.
Conceitualmente, o feedback é “uma forma de comunicação pela qual o receptor da mensagem
original transmite ao emissor a maneira como ela foi recebida. Em consequência, a pessoa saberá o
efeito de seu comportamento sobre os outros”. Oferecer feedback pode ser um fator que alavanca a
modificação interna para o desenvolvimento pessoal, desde que o emissor (a pessoa que faz a crítica)
Autora: Lucivânia A. S. Perico
4
saiba realmente fazer a crítica e o receptor (a pessoa que a recebe) esteja aberto a recebê-la como algo
construtivo.
Para fazer a crítica construtiva recomenda-se que o emissor descubra a razão de fazê-la,
comunique-se diretamente com a pessoa, seja específico, descreva os fatos, assuma seu ponto de vista,
observe a contingência, faça referência aos efeitos, crie um clima favorável, vá diretamente ao assunto,
escute compreensivamente, foque o objetivo a ser alcançado, resuma ao final. Para receber a crítica de
forma construtiva, recomenda-se que o emissor: escute compreensivamente, aceite-a como crítica
construtiva, faça perguntas ao emissor, agradeça-lhe e, sempre que possível, solicite a crítica.
A ética também deve pautar o ato de fazer e receber críticas, sob pena de, com críticas mal
elaboradas e baseadas em objetivos escusos, gerar prejuízos não só para as relações interpessoais, mas
sofrimento físico e mental a quem as recebe. Assim, observamos que o domínio da comunicação
eficaz é fundamental para o sucesso pessoal e profissional, para tanto é importante nos comunicarmos
com clareza e de maneira apropriada ao ambiente.
1.1 VOCABULÁRIO E ADEQUAÇÃO LINGUÍSTICA
O texto a seguir circulou pela Internet como
uma piada. Utilize-o como base para responder
as questões dos exercícios 1 e 2 .
Correção ortográfica
“O gerente de vendas recebeu o seguinte fax
de um dos seus novos vendedores:
Seo Gomis,
O criente de belzonte pidiu mais cuatrucenta
pessa. Faz favor toma as providenssa.
Abrasso,
Nirso
Aproximadamente uma hora depois recebeu
outro fax:
Seo Gomis,
Os relatório di venda vai xega atrazado
proque to fexando umas venda. Temo que
manda treiz miu pessa. Amanhã to xegando.
Abrasso,
Nirso
No dia seguinte, outro fax:
Seo Gomis,
Num xeguei pucausa de que vendi maiz deis
miu em Beraba.To indo pra Brazilha.
No próximo fax:
Seo Gomis,
Brazilha fexo 20 miu. Vo pra Frolinopolis e
de lá pra Sum Paulo no vinhão das cete hora.
E assim foi o mês inteiro. O gerente, muito
preocupado com a imagem da empresa, levou
ao presidente as mensagens que recebeu do
vendedor. O presidente, um homem muito
preocupado com o desenvolvimento da empresa
e com a cultura dos funcionários, escutou
atentamente o gerente e disse:
- Deixa comigo que eu tomarei as
providências necessárias.
E tomou. Redigiu de próprio punho um aviso
que afixou no mural da empresa, juntamente
como os faxes do vendedor:
‘A partir de oje nois tudo vamo fazê feito o
Nirso. Si pricupá menos em iscrevê serto mod a
vendê maiz.’
Acinado, O Prezidenti’”
(Português Língua e Literatura – pág. 145 e 146)
1. Geralmente, as piadas manifestam uma
postura preconceituosa e nos permitem refletir
sobre como são avaliadas as pessoas a partir do
uso que fazem da língua, seja na sua forma oral
ou escrita.
a) Embora os “erros” ortográficos chamem
imediatamente a atenção de quem lê o texto, o
problema percebido pelo gerente nos textos do
“Nirso” pode ser entendido de outra maneira.
Explique.
b) Por que a piada reflete uma visão linguística
preconceituosa?
2. O comportamento do gerente deixa implícita
sua opinião sobre diferentes variantes da
Língua Portuguesa.
a) Que opinião é essa?
b) De que maneira a atitude tomada pelo
presidente da empresa demonstra que o uso de
uma variante não pode ser associado ao modo
de avaliar o falante que a utiliza?
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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Leia o texto e responda as questões que o
seguem:
Quem não se comunica...
Havia no Rio de Janeiro nos anos 1920 um
gramático famoso, professor do Pedro II,
inimigo dos galicismos, dos pronomes
malcolocados e da linguagem descuidada.
Falava empolado e exigia correção de
linguagem até em casa com a família. Uma vez,
esse gramático foi passar férias em um hotelfazenda de Teresópolis. Lá, um dia, decidiu dar
um passeio a cavalo pelos terrenos da fazenda.
Por segurança, ia acompanhado de um
cavalariço montado em um burrinho. Pelas
tantas, o cavalo do gramático disparou. O
cavalariço foi atrás em seu burrinho, gritando:
“Doutor, puxe a rédea! Doutor, puxe a rédea!”
Nada aconteceu, até que o cavalo saltou um
valado e jogou o gramático numa moita de
urtiga. Finalmente o cavalariço o alcançou,
levantou-o e ajudou-o a se livrar de uns
espinhos que se grudaram nele. “Doutor, por
que o senhor não puxou a rédea? Eu vinha
gritando atrás, doutor, puxe a rédea, doutor,
puxe a rédea!”
O gramático, já senhor de si, perguntou: “E o
que é puxar a rédea?”
“É fazer isso, ó”, e fez o gesto explicativo.
“Ah! Dissesses sofreia o corcel, eu teria
entendido.”
(VEIGA, J. J. O Almanach de Piumhy. RJ: Record, 1998.)
(Português Língua e Literatura – pág. 154)
Artigo: A carreira nas alturas
Revista Língua Portuguesa – Ano 5 – nº 63 –
Janeiro de 2011
QUESTIONÁRIO
1. Segundo o texto, por que há
necessidade do domínio da norma culta
da Língua Portuguesa? Justifique.
2. Quais as principais mudanças no
mercado de trabalho que “exigem” um
novo perfil profissional?
3. A Língua é um instrumento de
prestígio e marginalização. Explique.
3. No texto transcrito, foram utilizadas duas
variedades linguísticas. Quais são elas?
Justifique sua resposta com elementos do texto.
4. Na sua opinião, qual é o principal fator
que implica na falta de domínio da
norma culta da Língua Portuguesa?
4. Falar e escrever bem significa, além de
conhecer o padrão formal da Língua
Portuguesa, saber adequar o uso da linguagem
ao contexto discursivo. O texto transcrito
mostra uma situação em que a linguagem usada
é inadequada ao contexto. Em que consiste essa
inadequação?
5. De que maneira a leitura deste artigo
pode auxiliar na sua formação
profissional?
5. Você considera que a postura rígida do
gramático em relação à “correção da
linguagem” a ser utilizada pelos falantes é
adequada? Justifique sua resposta.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
6
2 NOÇÕES DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Todas as pessoas que falam em determinada língua conhecem as estruturas gerais, básicas, de
funcionamento dessa língua. Embora sejam mais ou menos constantes dentro do idioma, essas
estruturas básicas podem sofrer variações devido à influência de inúmeros fatores. Tais variações, que
às vezes são pouco perceptíveis e outras vezes bastante evidentes, recebem o nome genérico de
variedades ou variações linguísticas.
Entre as causas que mais claramente determinam o surgimento das variações linguísticas destacamse: o grupo social a que o falante pertence (variação sócio-cultural), o lugar em que ele nasceu ou vive
(variação geográfica) e a época (variação histórica).
• Variação Sócio-Cultural
Esse tipo de variação pode ser percebido com certa facilidade: por exemplo, alguém diz:
“Ta na cara que eles não teve peito de encará os ladrão.” (frase 1)
Que tipo de pessoa comumente fala dessa maneira? Vamos caracterizá-lo, por exemplo, pela sua
profissão: um advogado? Um trabalhador braçal da construção civil? Um médico? Um garimpeiro?
Um repórter de tv?
E quem usaria a frase abaixo?
“Obviamente faltou-lhes coragem para enfrentar os ladrões.” (frase 2)
Sem dúvida, associamos à frase 1 os falantes pertencentes a grupos sociais economicamente mais
pobres. Pessoas que, muitas vezes, não frequentaram nem a escola primária, ou, quando muito,
fizeram-no em condições não adequadas.
Por outro lado, a frase 2 é mais comum aos falantes que tiveram possibilidades sócio-econômicas
melhores e puderam, por isso, ter um contato mais duradouro com a escola, com a leitura, com pessoas
de um nível cultural mais elevado e, dessa forma, “aperfeiçoaram” o seu modo de utilização da língua.
Convém ficar claro, no entanto, que a diferenciação feita acima está bastante simplificada, uma vez
que há diversos outros fatores que interferem na maneira como o falante escolhe as palavras e constrói
as frases. Por exemplo, a situação de uso da língua: um advogado, num tribunal de júri, jamais usaria a
expressão “ta na cara”, mas isso não significa que ele não possa usá-la numa situação informal
(conversando com alguns amigos, por exemplo).
• Variação geográfica
A variação geográfica é, no Brasil, bastante grande e pode ser facilmente notada. Ela se caracteriza
pelo acento linguístico, que é o conjunto das qualidades fisiológicas do som (altura, timbre,
intensidade), por isso é uma variante cujas marcas se notam principalmente na pronúncia. Ao conjunto
das características da pronúncia de uma determinada região dá-se o nome de sotaque: sotaque mineiro,
sotaque nordestino, sotaque gaúcho etc.
A variação geográfica, além de ocorrer na pronúncia, pode também ser percebida no vocabulário,
em certas estruturas de frases e nos sentidos diferentes que algumas palavras podem assumir em
diferentes regiões do país.
Leia, como exemplo, o trecho abaixo, de Guimarães Rosa, no conto “São Marcos”, no qual recria a
fala de um típico sertanejo do centro-norte de Minas:
“- Mas você tem medo dele... [de um feiticeiro chamado Mangolô]
- Há-de-o!... Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Não faço, porque não paga a pena... De
primeiro, quando eu era moço, isso sim!... Já fui gente! Gente. Para ganhar aposta, já fui, de noite,
fora d’hora, em cemitério... (...) Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito, gosta de se
comparecer. Hoje, não: estou percurando é sossego...”
• Variação histórica
As línguas não são estáticas, fixas, imutáveis. Elas se alteram com o passar do tempo e com o uso.
Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o sentido delas. Essas alterações recebem o
nome de variação histórica.
O trecho abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, exemplifica a mudança da língua ao longo do
tempo:
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
7
Antigamente
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas.
Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo
rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.
E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os
mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam cautela de
não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo,
chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam
em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.”
2.1 LÍNGUA CULTA X LÍNGUA COLOQUIAL
Convencionalmente, costumamos como “correta” a língua utilizada pelo grupo de maior prestígio
social. Essa é a chamada língua culta, falada e escrita, em situações formais, pelas pessoas de maior
instrução. A língua culta é nivelada, padronizada, principalmente pela escola e obedece à gramática da
língua –padrão. A língua coloquial, por outro lado, é uma variante espontânea, do cotidiano, sem
muita preocupação com as normas. O falante, ao utilizá-la, comete deslizes gramaticais com
frequência considerável. Outra característica da língua coloquial é o uso constante de expressões
populares, frases feitas, gírias etc.
No quadro a seguir, estão resumidas as diferenças que mais facilmente podem ser observadas entre
língua culta e língua coloquial:
USO COLOQUIAL / POPULAR
Pronúncia mais descuidada de certas palavras e
expressões: nóis, num vô, num qué, cê ta bem?
Não utilização das marcas de concordância.
Ex.: Os menino vai bem.
Uso constante de a gente no lugar de nós.
Emprego de expressões do tipo: né, então, aí,
pois é.
Mistura de pessoas gramaticais.
Ex.: Você sabe que te enganam.
Uso “livre” da flexão dos verbos.
Ex.: Se ele fazer, se ele por...
Eu truxe o seu presente.
Uso de gírias.
USO CULTO
Maior cuidado com a pronúncia: nós, não vou,
não quer, você está bem?
Utilização dessas marcas.
Ex.: Os meninos vão bem.
Uso regular da forma nós.
Raro uso dessas expressões.
Uniformidade no uso das pessoas gramaticais.
Ex.: Você sabe que o enganam.
Tu sabes que te enganam.
Utilização da flexão verbal conforme as normas
gramaticais.
Ex.: Se ele fizer, se ele puser...
Eu trouxe o seu presente.
Não utilização de gírias.
EXERCÍCIOS
1.Leia o texto abaixo:
“Cedo ou tarde, uma dúvida cruel pinta na sua
cabeça: ‘Que profissão escolher?’ Ou ainda:
‘Em que faculdade entrar?’ E é justamente
nessas horas que aparece uma porção de gente
pra dar os palpites mais infelizes. (...)
É por isso que a Editora Abril está lançando o
Guia do Estudante. Porque o que ele mais tem
é exatamente o que você mais precisa saber:
tudo sobre todas as profissões universitárias e
técnicas, o mercado de trabalho, os cursos e o
nível de todas as faculdades brasileiras, onde e
como conseguir bolsas de estudos e muitas
dicas de profissionais bem-sucedidos. Uma
verdadeira luz pra você acertar na escolha da
profissão que mais faz sua cabeça.
O melhor de tudo é que a decisão será sua e de
mais ninguém. Com os pés no chão. Sentindo
firmeza.
Pode contar com o Guia do Estudante pra
encarar essa parada. Ele vai dar a maior força
pra você.”
(Veja, nº 976)
Autora: Lucivânia A. S. Perico
(Aprender e praticar gramática – pág. 47)
8
a) A que grupo social faz parte o
consumidor que o anúncio pretende atingir?
b) Transcreva alguns trechos do texto que
confirmem sua resposta à questão anterior.
c) Transcreva do texto um trecho onde se
utiliza uma linguagem mais formal.
2.Suponha que você seja um criador de
textos de campanhas publicitárias e que
tenha sido contratado por uma indústria de
calçados para produzir os textos de
propaganda de uma nova linha de sapatos.
Levando em conta as características
próprias da linguagem de cada grupo social,
escreva um pequeno texto dirigido a cada
um dos seguintes tipos de público
consumidor do produto:
a) jovens adolescentes urbanos
b) homens de elevado padrão sócioeconômico
c) crianças de 5 a 8 anos de idade
d) mulheres idosas
3.(Univ.Metodista-SP)
abaixo:
Leia
o
trecho
“Os nossos salário, cum relação ao que nóis
fazemo e o lucro que os outros tem, é
insignificante. Por que acontece isso? Eu
tenho que trabaiá trezentos e sessenta e
cinco dias por ano. O outro num trabaia
nem... nem cem dias, ganha muito mais.
Por que eu sô a máquina que dô descanso
pra ele.”
(Luiz Flávio, Os peões do Grande ABC)
Transponha a linguagem coloquial para o
padrão escrito da linguagem formal.
4.(Unicamp-SP) O jornal “Folha de São
Paulo” introduziu com o seguinte
comentário uma entrevista com o professor
Paulo Freire:
“’A gente cheguemos’ não será uma
construção errada na gestão do Partido
dos Trabalhadores em São Paulo.”
Os trechos da entrevista nos quais a
“Folha de São Paulo” se baseou para fazer
tal comentário foram os seguintes:
“A criança terá uma escola na qual a sua
linguagem seja respeitada (...) Uma escola
em que a criança aprenda a sintaxe
dominante, mas sem desprezo pela sua (...)
Esses oito milhões de meninos vêm da
periferia do Brasil (...) Precisamos respeitar a (sua)
sintaxe mostrando que sua linguagem é bonita e
gostosa, às vezes é mais bonita que a minha. E,
mostrando tudo isso, dizer a ele: ‘Mas para a tua
própria vida tu precisas dizer ‘agente chegou’ em
vez de ‘a gente chegamos’. Isso é diferente, ‘a
abordagem’ é diferente. É assim que queremos
trabalhar, com abertura, mas dizendo a verdade.”
Responda:
a) Qual a posição defendida pelo professor Paulo
Freire com relação à correção dos erros gramaticais
na escola?
b) O comentário do jornal faz justiça ao
pensamento do educador? Justifique sua resposta.
5.Provocou polêmica o fato de um livro
recomendado pelo Ministério da Educação endossar
um erro de português. Na página 15 de “Por uma
vida melhor”, o texto afirma: "Você pode estar se
perguntando: 'Mas eu posso falar os livro?'. Claro
que pode. Mas fique atento porque, dependendo da
situação, você corre o risco de ser vítima de
preconceito linguístico".
Muita gente viu aí um erro do livro e do próprio
Ministério da Educação. Há, porém, quem pense e
diga o contrário, como o próprio MEC e a autora da
obra, Heloísa Ramos. Do ponto de vista linguístico,
de fato, não há sentido em dizer que alguém fala
errado apenas porque não obedece à chamada
norma culta. Se alguém diz "nós pesca os peixe",
será compreendido por seu interlocutor. Para a
linguística, o resultado é o que importa.
Ao advertir seus leitores-estudantes do risco de
"preconceito linguístico", a autora está apontando
para o fato de que esse tipo de uso da língua,
desconsiderando a norma culta, é mais comum
entre pessoas com menos instrução e, portanto, em
geral, em posição inferior na escala social. A autora
e o MEC defendem o livro com o argumento de que
reconhecem as variedades da língua portuguesa e a
linguagem dos diversos grupos sociais. (...)
(Fábio Santos, Jornal Destak. Disponível em:
http://www.destakjornal.com.br/readContent.aspx?id=18,96935
consultado em 20/07/2011)
Com base nos nossos estudos sobre variação
linguística, produza um artigo de opinião,
assumindo um posicionamento sobre a polêmica
apontada no artigo acima.
Imagine que seu artigo será publicado no
editorial de um jornal de grande circulação.
Seu texto deve ter, no mínimo, 15 linhas.
Não esqueça do título!
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
9
3 CONTEXTO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOÇÃO DE TEXTO
Sem dúvida alguma, a palavra texto é familiar a qualquer pessoa ligada à prática escolar. Ela
aparece com alta frequência no linguajar cotidiano tanto no interior da escola quanto fora de seus limites. Não são estranhas a ninguém expressões como as que seguem: "redija um texto", "texto bem
elaborado", "o texto constitucional não está suficientemente claro", "os atores da peça são bons mas o
texto é ruim", "o redator produziu um bom texto", etc. Por causa exatamente dessa alta frequência de
uso, todo estudante tem algumas noções sobre o que significa texto. Dentre essas noções, algumas
ganham importância especial para redação, que se propõe ensinar a ler e a escrever textos.
Nesta lição introdutória, vamos fazer duas considerações fundamentais sobre a natureza do
texto:
Primeira consideração: o texto não é um aglomerado de frases.
A revista Veja de 1º de junho de 1988, em matéria publicada nas páginas 90 e 91, traz uma
reportagem sobre um caso de corrupção que envolvia, como suspeitos, membros ligados à
administração do governo do Estado de São Paulo e dois cidadãos portugueses dispostos a lançar um
novo tipo de jogo lotérico, designado pelo nome de "Raspadinha". Entre os suspeitos figurava o nome
de Otávio Ceccato, que, no momento, ocupava o cargo de secretário de Indústria e Comércio e que
negava sua participação na negociata.
O fragmento que vem a seguir, extraído da parte final da referida reportagem, relata a resposta
de Ceccato aos jornalistas nos seguintes termos:
Na sua posse como secretário de Indústria e Comércio, Ceccato, nervoso, foi infeliz ao
rebater as denúncias. "Como São Pedro, nego, nego, nego", disse a um grupo de repórteres,
referindo-se à conhecida passagem em que São Pedro negou conhecer Jesus Cristo três vezes na
mesma noite. Esqueceu-se de que São Pedro, naquele episódio, disse talvez a única mentira de sua
vida. (Ano 20. 22:91.)
Como se pode notar, a defesa do secretário foi infeliz e desastrosa, produzindo efeito contrário
ao que ele tinha em mente.
A citação, no caso, ao invés de inocentá-lo, acabou por comprometê-lo.
Sob o ponto de vista da análise do texto, qual teria sido a razão do equívoco lamentável
cometido pelo secretário? Sem dúvida, a resposta é esta: ao citar a passagem bíblica, o acusado
esqueceu-se de que ela faz parte de um texto e, em qualquer texto, o significado das frases não é
autônomo.
Desse modo, não se pode isolar frase alguma do texto e tentar conferir-lhe o significado que se
deseja. Como bem observou o repórter, no episódio bíblico citado pelo secretário, São Pedro, enquanto
Cristo estava preso, foi reconhecido como um de seus companheiros e, ao ser indagado pelo soldado,
negou três vezes seguidas conhecer aquele homem. Segundo a mesma Bíblia, posteriormente Pedro
arrependeu-se da mentira e chorou copiosamente.
Esse relato serve para demonstrar de maneira simples e clara que uma mesma frase pode ter
significados distintos dependendo do contexto dentro do qual está inserida. O grande equívoco do
secretário, para sua infelicidade, foi o de desprezar o texto de onde ele extraiu a frase, sem se dar conta
de que, no texto, o significado das partes depende das correlações que elas mantêm entre si.
Isso nos leva à conclusão de que, para entender qualquer passagem de um texto, é necessário
confrontá-la com as demais partes que o compõem sob pena de dar-lhe um significado oposto ao que
ela de fato tem.
Em outros termos, é necessário considerar que, para fazer uma boa leitura, deve-se sempre
levar em conta o contexto em que está inserida a passagem a ser lida.
Entende-se por contexto uma unidade linguística maior onde se encaixa uma unidade
linguística menor. Assim, a frase encaixa-se no contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa-se no
contexto do capítulo, o capítulo encaixa-se no contexto da obra toda.
Uma observação importante a fazer é que nem sempre o contexto vem explicitado
linguisticamente. O texto mais amplo dentro do qual se encaixa uma passagem menor pode vir
implícito: os elementos da situação em que se produz o texto podem dispensar maiores esclarecimentos e dar como pressuposto o contexto em que ele se situa.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
10
Para exemplificar o que acaba de ser dito, observe-se um minúsculo texto como este:
A nossa cozinheira está sem paladar.
Podem-se imaginar dois significados completamente diferentes para esse texto dependendo da
situação concreta em que é produzido.
Dito durante o jantar, após ter-se experimentado a primeira colher de sopa, esse texto pode
significar que a sopa está sem sal; dito para o médico no consultório, pode significar que a empregada
pode estar acometida de alguma doença.
Para finalizar esta primeira consideração, convém enfatizar que toda leitura, para não ser
equivocada, deve necessariamente levar em conta o contexto que envolve a passagem que está sendo
lida, lembrando que esse contexto pode vir manifestado explicitamente por palavras ou pode estar
implícito na situação concreta em que é produzido.
Segunda consideração: todo texto contém um pronunciamento dentro de um debate de escala
mais ampla.
Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o
produziu. De uma forma ou de outra, constrói-se um texto para, através dele, marcar uma posição ou
participar de um debate de escala mais ampla que está sendo travado na sociedade. Até mesmo uma
simples notícia jornalística, sob a aparência de neutralidade, tem sempre alguma intenção por trás.
Observe-se, a título de exemplo, a passagem que segue, extraída da revista Veja do dia 1º de
junho de 1988, página 54.
CRIME: TIRO CERTEIRO
Estado americano limita porte de armas.
No começo de 1981, um jovem de 25 anos chamado John Hinckley Jr. entrou numa loja de
armas de Dallas, no Texas, preencheu um formulário do governo com endereço falso e, poucos minutos depois, saiu com um Saturday Night Special - nome criado na década de 60 para chamar um
tipo de revólver pequeno, barato e de baixa qualidade. Foi com essa arma que Hinckley, no dia 30 de
março daquele ano, acertou uma bala no pulmão do presidente Ronald Reagan e outra na cabeça de
seu porta-voz, James Brady. Reagan recuperou-se totalmente, mas Brady desde então está preso a
uma cadeira de rodas. (...)
Seguramente, por trás da notícia, existe, como pressuposto, um pronunciamento contra o risco
de vender arma para qualquer pessoa, indiscriminadamente.
Para comprovar essa constatação, basta pensar que os fabricantes de revólveres, se pudessem,
não permitiriam a veiculação dessa notícia.
O exemplo escolhido deixa claro que qualquer texto, por mais objetivo e neutro que pareça,
manifesta sempre um posicionamento frente a uma questão qualquer posta em debate.
Ao final desta lição, devem ficar bem plantadas as seguintes conclusões:
a)
Uma boa leitura nunca pode basear-se em fragmentos isolados do texto, já que o
significado das partes sempre é determinado pelo contexto dentro do qual se
encaixam;
b)
Uma boa leitura nunca pode deixar de apreender o pronunciamento contido por trás
do texto, já que sempre se produz um texto para marcar posição frente a uma questão
qualquer.
(SAVIOLI, F.P. & FIORIN, J.L. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007 – pág. 11 a 14)
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
11
3.1 COMPREENDENDO O CONTEXTO
REFINE SEU VOCABULÁRIO CORPORATIVO
No último 28 de março, o jornalista William Bonner recebeu o prêmio “Melhores do Ano”, da
TV Globo, na categoria jornalismo. Ao ser perguntado sobre qual era o sabor daquele troféu,
especialmente após substituir um dos maiores ícones do jornalismo brasileiro − o apresentador Cid
Moreira −, Bonner respondeu enfaticamente: “Eu não substituí o Cid, eu o sucedi. Seria impossível
substituí-lo”.
Os verbos “substituir” e “suceder” podem, a princípio, parecer quase sinônimos. No entanto,
para Bonner, a opção por “suceder” foi muito mais feliz. “Suceder” soa mais natural que “substituir”,
enquanto “substituir” é muito mais apropriado para uma lâmpada do que para uma pessoa. Pequenas
sutilezas como essa fazem toda a diferença na comunicação.
Muita leitura e um dicionário sempre à mão na hora de escrever são as principais dicas para
quem deseja refinar o vocabulário. É importante ressaltar a diferença entre “refinar” e “rebuscar”. O
primeiro conceito está muito mais próximo de “lapidar”, trabalhar para escolher as palavras que
melhor exprimem a mensagem desejada. Já o segundo significa “florear, sofisticar sem necessidade”.
Não faz sentido em um jantar familiar dizer “Por obséquio, passe-me o sal”. Note que no
exemplo de William Bonner, ele não usa nenhum rebuscamento. No entanto, ele procura a palavra
exata para exprimir sua mensagem. O refinamento assemelha-se a um trabalho mais artesanal.
Em entrevista a Folha de São Paulo, Marina Silva também constrói com palavras a sua posição
na campanha eleitoral para presidente. “O Brasil precisa de um sucessor, e não de um continuador ou
de um opositor. O opositor tende a jogar tudo na lata do lixo, e o continuador acha que já está tudo
pronto.”
Escolher as palavras certas pode ser um diferencial positivo na carreira de um profissional. Por
isso, mãos à obra.
(Disponível em: http://www.scrittaonline.com.br/artigos/refine-seu-vocabulario-corporativo, consultado em 29/07/10)
QUESTIONÁRIO
1. Por que para o jornalista William Bonner seria impossível substituir Cid Moreira?
2. O profissional deve buscar um vocabulário refinado ou rebuscado? Explique.
3. Para a análise de um texto é necessário que se considere o contexto (relação entre o texto e a
situação em que ele ocorre). Em que contexto está inserida a fala de Marina Silva?
4. Considerando o contexto, para Marina Silva, quem é o “continuador” e quem é o “opositor”
(cite nomes)? Justifique sua resposta.
5. Trace um paralelo entre os discursos de William Bonner e Marina Silva justificando a razão de
optarem pelo verbo “suceder”.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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4 INTERTEXTUALIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE TEXTOS
Observe os trechos que seguem:
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores.
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(DIAS, Gonçalves. Canção do exílio)
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida”
“Nossa vida”, no teu seio, “mais amores”.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
(MENDES, Murilo. Canção do exílio)
(Hino Nacional Brasileiro)
Os três textos são semelhantes. Como o de Gonçalves Dias é anterior aos dois primeiros, o que
ocorre é que estes fazem alusão àquele. Os dois primeiros citam o texto de Gonçalves Dias.
Com muita frequência um texto retoma passagens de outro. Quando um texto de caráter científico
cita outros textos, isso é feito de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e em nota indica-se
o autor e o livro donde se extraiu a citação.
Num texto literário, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não
indica o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com
ele um mesmo conjunto de informações a respeito das obras que o compõem um determinado universo
cultural. Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos, históricos são necessários, muitas
vezes, para compreensão global de um texto. A essa citação de um texto por outro, a esse diálogo entre
textos dá-se o nome de intertextualidade.
Compreender um texto implica também acessar conhecimentos prévios, adquiridos em experiências
anteriores a que tenhamos sido expostos em nosso convívio social: leituras, filmes, aulas, palestras,
sermões, conversas. A intertextualidade acontece quando utilizamos esses conhecimentos para
elaborar um novo texto. Essa utilização pode ser em explícita ou implícita.
Voltemos aos três textos colocados no princípio desta lição. O poema de Gonçalves Dias possui
muitas virtualidades de sentido. Entre elas, a exaltação ufanista da natureza brasileira. Para ele, nossa
pátria é sempre mais e melhor do que os outros lugares. Os versos do Hino Nacional retomam o texto
de Gonçalves Dias para reafirmar esse sentido de exaltação da natureza brasileira. Já os versos de
Murilo Mendes citam Gonçalves Dias com intenção oposta, pois pretendem ridicularizar o
nacionalismo exaltado que pode ser lido no poema gonçalvino.
Um texto cita outro com, basicamente, duas finalidades distintas:
a) para reafirmar alguns dos sentidos do texto citado;
b) para inverter, contestar e deformar alguns dos sentidos do texto citado; para polemizar com ele.
Em relação ao texto de Gonçalves Dias, o Hino Nacional enquadra-se no primeiro caso, enquanto o
de Murilo Mendes encaixa-se no segundo. Quando um texto cita outro invertendo seu sentido, temos
uma paródia. Os versos do Hino Nacional parafraseiam versos de Gonçalves Dias; os de Murilo
Mendes parodiam-no.
Compare agora estas duas estrofes, de dois poemas:
Meus oito anos
Meus oito anos
Oh! Que saudade que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[...]
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida,
De minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais!
[...]
(Casimiro de Abreu)
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
(Oswald de Andrade)
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O texto de Casimiro de Abreu foi escrito no século XIX, o texto de Oswald de Andrade foi escrito
no século XX. As semelhanças entre os textos são evidentes, pois o assunto deles é o mesmo e há
versos inteiros que se repetem. Portanto, o texto de Oswald cita o texto de Casimiro, estabelecendo
com ele uma relação intertextual. Observe, porém, que o 2º texto tem uma visão diferente da
apresentada pelo 1º. No 1º texto, tudo na infância parece perfeito, rodeado por “amor”, “sonhos” e
“flores”; já no 2º texto, esses elementos são substituídos por um simples “quintal de terra”, um espaço
concreto e comum, se idealização. Além disso, com o verso “sem nenhum laranjais”, Oswald ironiza
Casimiro, como que dizendo: na minha infância também havia bananeiras, mas não havia os tais
“laranjais” que o Casimiro cita em seu poema.
Observe que Oswald, com seu poema, não apenas cita o poema de Casimiro, ele também critica
esse poema, pois considera irreal a visão que Casimiro tem da infância. Certamente, na visão de
Oswald, infância de verdade, no Brasil, se faz com crianças brincando no quintal de terra, embaixo das
bananeiras, e não com crianças sonhando embaixo de laranjais. Podemos dizer que o texto de Oswald
é uma paródia do texto de Casimiro.
A percepção das relações intertextuais, das referências de um texto a outro, depende do repertório
do leitor, do seu acervo de conhecimentos literários e de outras manifestações culturais. Daí a
importância da leitura, principalmente daquelas obras que constituem as grandes fontes da literatura
universal. Quanto mais se lê, mais se amplia a competência para apreender o diálogo que os textos
travam entre si por meio de referências, citações e alusões. Por isso, cada livro que se lê torna maior a
capacidade de apreender, de maneira mais completa, o sentido dos textos.
Vamos analisar o poema de Murilo Mendes:
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha
[a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de
[verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
(MENDES, Murilo. Poemas. In: --. Poesias
(1925-1955). Rio de Janeiro, J. Olympio, 1959. p.5)
Observe a seguir o poema de Gonçalves Dias:
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(DIAS, Gonçalves. Gonçalves Dias: poesia. Por Manuel
Bandeira. Rio de Janeiro, Agir, 1975. p. 11-2)
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Você leu duas canções do exílio diferentes. A de Gonçalves Dias enaltece a pátria, considera-a
superior à terra do exílio. Murilo critica, com mordacidade, o Brasil e julga-se exilado em sua própria
terra por não compartilhar dos valores nela vigentes. Cada texto é um pronunciamento sobre dada
realidade; cada texto revela a visão de mundo de quem o produz.
Mas não é só na literatura que isto acontece!
A intertextualidade é uma forma de diálogo entre textos, que pode se dar de forma mais implícita
ou mais explícita e em diversos gêneros textuais. O intertexto serve para ilustrar a importância do
conhecimento de mundo e como este interfere no nível de compreensão do texto. Ao relacionar um
texto com outro, o leitor entenderá que a intertextualidade é uma das estratégias utilizadas para a
construção dos mesmos.
Chico Tirando Palha de Milho,2000,acrílica sobre tela
164x125 cm
Caipira Picando Fumo, 1893, Almeida Júnior(1850-99), óleo
sobre tela,202x141cm.Pinacoteca de São Paulo, SP, Brasil
No caso específico do anúncio publicitário, por exemplo, o intertexto, quando usado, é uma forma
diferente de persuasão, com o objetivo de levar o leitor a consumir um produto e também difundir a
cultura.
A televisão, muitas vezes, divulga sua programação e estimula sua audiência através de seus
próprios produtos comunicacionais fazendo referências uns aos outros. Em alguns episódios de
desenhos animados, como os Simpsons, por exemplo, nota-se esta referência. Os desenhos animados
também são direcionados, e em alguns casos, principalmente, aos adultos. Prova disto está na
utilização de obras da arte (clássica, surrealista, etc.) como elementos que compõem seus argumentos.
A maioria das crianças não faz ideia da existência da "Capela Cistina". (É bem verdade que muitos
adultos também estão na mesma situação!). Mas tudo isso para dizer que a intertextualidade só faz
sentido e, só é percebida, quando o público e/ou audiência a que destinam-se, tem um conhecimento
prévio acerca do assunto.
Quanto à intertextualidade na publicidade, pode-se dizer que ela assume a função não só de
persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte
(pintura, escultura, literatura etc). Assim, quando há a utilização deste recurso, boa parte do efeito de
uma propaganda ou do título de uma reportagem é proveniente da referência feita a textos préexistentes. Esses textos ora são retomados de forma direta, ora de forma indireta, levando o
destinatário a reconhecer no enunciado o texto citado.
Veja a seguir outros intertextos:
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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Clichê: é o enunciado que se transformou em uma unidade linguística estereotipada por ser muito
proferido pelas pessoas. Num jornal sobre esportes foi criada uma charge com o enunciado: “Por trás
de todo grande time há um grande treinador”. Tal enunciado remete a outro pertencente ao patrimônio
social “Por trás de todo grande homem há uma grande mulher”. O enunciado do jornal, na época,
pretendia elogiar a conduta do treinador pelo fato do time Vasco ter ganhado o campeonato.
Outro exemplo destacado foi o da publicidade do SESI a respeito de um concurso de empresas
sobre a qualidade no trabalho. O slogan da publicidade era: “Se o trabalho dignifica o homem, o
trabalho em equipe o torna um vencedor”. Observa-se que a partir de um clichê “O trabalho dignifica
o homem”, utilizado numa estrutura com valor condicional “Se o trabalho...”, ressalta-se em seguida a
importância do trabalho em equipe “... o trabalho em equipe o torna um vencedor”.
Proverbial: é um enunciado popular que expressa de forma sucinta uma mensagem. O título de uma
reportagem sobre funcionários e ações trabalhistas: “Depois do suor, o desamparo” que remete ao
provérbio “Depois da tempestade vem a bonança”. Sendo que ao contrário desse (depois dos fatos
negativos vem o positivo), o título da reportagem sugere que depois de todo esforço “suor”, os
funcionários não obtiveram o que almejavam: o reconhecimento. Foram vítimas do desemprego, o
“desamparo”.
Palavrão: é o enunciado que apresenta uma palavra grosseira ou obscena. O jornalista Agamenon,
responsável por uma matéria do Segundo Caderno do jornal “O Dia”, cuja característica é o humor,
nomeou uma de suas matérias de “Cuba se Fidel”. No mesmo, observa-se a alusão ao palavrão “se
fo☺...” e um jogo entre este e o nome do presidente de Cuba, Fidel Castro, por causa da semelhança
fonética “Fidel e fo☺”.
Bíblico: quando o enunciado menciona uma passagem da Bíblia. O título de uma reportagem sobre
o turismo na Ilha Grande “A fé move turistas nas trilhas da Ilha Grande” se referindo à passagem
bíblica que diz: “A fé move montanha”.
Literário: quando o enunciado refere-se a verso(s), a passagem(ns) ou a título(s) de obra.
- Exemplo de título de obra: A publicidade da marca Ceramidas usa como slogan o seguinte
enunciado: “Dona Flor e seus dois produtos”, que, por sua vez, se reporta a uma das obras de Jorge
Amado intitulada “Dona Flor e seus dois maridos”. Observa-se assim que na publicidade Dona Flor é
representada pela marca Ceramidas e os dois produtos pelo xampu e pelo condicionador.
Uma matéria da revista “Isto É” intitulada: “E o vento levou” sobre produtos para cabelo é o título
de uma obra de Margaret Mitchell. Essa matéria mostra como os produtos mencionados deixam os
cabelos leves e soltos.
- Exemplo de verso: O título de uma reportagem: “Infinito, mas enquanto durou” se referindo ao verso
de Vinícius de Moraes “que seja infinito enquanto dure” que, por sua vez, faz alusão ao pensamento de
Sofocleto: “O amor é eterno enquanto dura”.
Musical: quando a letra de uma música se reporta a outra letra já existente. Num trecho do rap
“Sem saúde”, de Gabriel O Pensador, o compositor diz: “... me cansei de lero-lero / dá licença mas eu
vou sair do sério...” mencionando uma das músicas de Rita Lee.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Com base em tudo o que vimos a respeito de intertextualidade, podemos destacar a importância do
conhecimento de mundo e como esse fator interfere no nível de compreensão do texto. Pois, embora o
aluno-leitor não identifique o intertexto, vai entendê-lo. Mas ao relacionar um texto com outro,
compreenderá o texto lido na sua profundidade e por consequência será capaz de refletir sobre o
recurso adotado pelo autor para quando for compor textos. Dessa forma, na aula de Português, por
exemplo, o aluno compreenderá que a intertextualidade é um das estratégias utilizadas para a
construção de um texto. No caso específico da publicidade, quando utiliza a intertextualidade é uma
forma diferente de persuasão cuja intenção é de levar o leitor a consumir um produto e de também
difundir a cultura.
A intertextualidade deve fazer parte do planejamento de texto daquele que escreve, pois, afinal, é a
cultura do país e do mundo que estão em movimento. Cabe a ele, então, reconhecer intertextos e a
redigir utilizando também esse recurso.
EXERCÍCIOS
Leia este anúncio:
1.Que tipo de linguagem é utilizado na
construção do texto: a verbal, a visual ou ambas?
2.Leia apenas a frase situada na parte inferior do
anúncio. Qual é o seu sentido?
3.Observe a figura central do anuncio: a roupa,
os cabelos, o meio-sorriso da pessoa fotografada
e o cenário de fundo. Por esse conjunto de
elementos, notamos que não se trata de um
anúncio comum, pois há nele a voz de outro
texto bastante conhecido. Que texto é esse?
4.Ao lançar mão desta intertextualidade, o
anunciante pode correr alguns riscos, pois o
leitor pode não conhecer a obra de Leonardo da
Vinci.
a) Levando em conta que o produto anunciado é um amaciante de roupas (portanto algo refinado, que
nem todos utilizam) e que o anúncio foi publicado numa revista de público predominantemente
feminino e de classe média, é provável que a maior parte dos leitores perceba o recurso de
intertextualidade empregado ou não? Por quê?
b) Quanto aos leitores que não conhecem Da Vinci, eles poderiam, mesmo assim, ser atingidos pelo
apelo do anúncio, de modo que seu objetivo principal – promover o produto – fosse alcançado? Por
quê?
5.Imagine como seria um anúncio tradicional desse produto (“compre...”, “use...”, “experimente...”) e
compare ao anúncio lido. Levante hipóteses: que vantagens há, para o anunciante, em criar um
anúncio com esse tipo de inovação?
(Português: Linguagens–pág.111, 112 e 113)
6.Retome os poemas “Canção do exílio”. Observe que quando você redige um texto, você elabora seu
pronunciamento sobre uma determinada realidade. Por isso, num texto, você deve fazer uma reflexão
pessoal e não repetir “lugares-comuns”. Escreva agora sua canção do exílio mostrando como você vê
sua pátria. Seu texto deve ser em verso, mas não precisa ter rima. É importante que nele você arrole
imagens que indiquem a concepção que você tem de seu país. Sua produção deve ter um título e, no
mínimo, 20 linhas.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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5 O TEXTO E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA
Todos conhecem as aventuras do Super-homem. Ele não é um terráqueo, mas chegou à Terra, ainda
criança, numa nave espacial, vindo de Crípton, planeta que estava para ser destruído por uma grande
catástrofe. É dotado de poderes sobre-humanos; seus olhos de raio X permitem ver através de
quaisquer corpos, a uma distância infinita; sua força é ilimitada, possibilitando-lhe escorar pontes
prestes a desabar e levantar transatlânticos; a pressão de suas mãos submete o carbono a temperaturas
tão altas que o transforma em diamante; sua apurada audição permite-lhe escutar o que se fala em
qualquer ponto. Pode voar a uma velocidade igual à da luz e, quando ultrapassa essa velocidade,
atravessa a barreira do tempo e transfere-se para outras épocas; pode perfurar montanhas com o
próprio corpo; pode fundir metais com o olhar. Além disso, tem uma série de qualidades: beleza,
bondade, humildade. Sua vida é dedicada à causa do bem.
O Super-homem vive entre os homens sob a aparência do jornalista Clark Kent, que é um tipo
medroso, tímido, pouco inteligente, míope. Clark Kent é apaixonado por Lois Lane (quando os
quadrinhos vieram para o Brasil, o nome dela era Miriam Lane, depois passou a ser Lois), sua colega,
que, na verdade, ama loucamente o Super-homem.
Já vimos que todo texto é um pronunciamento sobre uma dada realidade. Ao fazer esse
pronunciamento, o produtor do texto trabalha com as ideias de seu tempo e da sociedade em que vive.
Com efeito, as concepções, as ideias, as crenças, os valores não são tirados do nada, mas surgem das
condições de existência. As concepções racistas, por exemplo, aparecem numa época em que certos
países, necessitando de mão de obra, iniciam a escravização de negros. A ideia de que certas raças são
inferiores a outras não é uma maldade dos brancos, mas uma justificativa apaziguadora da consciência
dos senhores de escravos. Essas concepções ganham um impulso maior quando os países europeus,
precisando de matérias-primas, iniciam o processo de colonização da África e da Ásia. A colonização
é, assim justificada por um belo ideal: expandir a civilização.
Todo texto assimila as ideias da sociedade e da época em que foi produzido. Neste momento, você
poderia estar dizendo que o texto do Super-homem prova exatamente o contrário, pois nada tem ele a
ver com a realidade histórica, na qual não existem super-homens. Quando se afirma que os textos se
relacionam com a história, não se quer dizer que eles narram fatos históricos de um país, mas que
revelam os ideais, as concepções, os anseios e os temores de um povo numa determinada época. Nesse
sentido, a narrativa do Super-homem mostra os anseios dos homens das camadas médias das
sociedades industrializadas do século XX, massacrados por um trabalho monótono e por uma vida sem
qualquer heroísmo. Esse homem, mediocrizado e inferiorizado, nutre a esperança de tornar-se um ser
todo-poderoso assim como Clark Kent, que se transforma em Super-homem. As condições de
impotência do homem diante das pressões sociais geram um ideal de onipotência refletido na narrativa
do Super-homem.
Além disso, as concepções de sociedade em que esse texto foi produzido estão presentes na ideia de
Bem.
Como nota Umberto Eco, famoso autor italiano, um indivíduo dotado dos poderes do Superhomem poderia acabar com a fome, a miséria e as injustiças do mundo. No entanto, ela não faz nada
disso. Ao contrário, o bem que pratica é a caridade, e o mal que combate é o atentado à propriedade
privada. Lutar contra o mal é assim combater ladrões. Dedica sua vida a isso.
Como se vê, as ideias produzidas num determinado tempo, numa dada época estão presentes no
texto. Cabe lembrar, no entanto, que uma sociedade não produz uma única forma de ver a realidade.
Como ela é dividida pelos interesses antagônicos dos diferentes grupos sociais, produz ideias
contrárias entre si. A mesma sociedade que gera as ideias racistas produz ideias antirracistas. Por isso,
controem-se nessa sociedade textos que fazem pronunciamentos antagônicos com relação aos mesmos
dados da realidade.
Há algumas ideias que predominam sobre suas contrárias numa dada época. Elas refletem os
interesses dos grupos sociais dominantes. Fazer uma reflexão pessoal é analisar essas ideias de
maneira crítica, verificando até que ponto elas têm apoio na realidade.
Para entender com mais eficácia o sentido de um texto, é preciso verificar as concepções correntes
na época e na sociedade em que foi produzido. Assim, não se corre o risco de considerar, por exemplo,
como pronunciamentos idênticos um texto sobre a democracia ateniense e um sobre a democracia nas
sociedades capitalistas modernas, que, na verdade, tratam de concepções distintas. As ideias de uma
época estão presentes nos significados dos textos. Observe a figura a seguir: quais mudanças
discursivas ocorreram ao longo da história?
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Cabe lembrar ainda que as ideias de uma época são veiculadas por textos, uma vez que não existem
ideias puras, ou seja, não transmitidas linguisticamente. Assim, analisar as ideias de um texto é estudar
o diálogo entre textos, em que um assimila e registra as ideias presentes nos outros.
Vamos fazer agora a análise de dois textos cujo discurso mudou ao longo da história.
A CARTEIRA PROFISSIONAL (1976)
Por menos que pareça e por mais trabalho que dê ao interessado, a carteira profissional é um
documento indispensável à proteção do trabalhador.
Elemento de qualificação civil e de habilitação profissional, a carteira representa também título
originário para a colocação, para a inscrição sindical e, ainda, um instrumento prático do contrato
individual de trabalho.
A carteira, pelos lançamentos que recebe, configura a história de uma vida. Quem a examina, logo
verá se o portador é um temperamento aquietado ou versátil; se ama a profissão escolhida ou ainda não
encontrou a própria vocação; se andou de fábrica em fábrica, como uma abelha, ou permaneceu no
mesmo estabelecimento, subindo a escala profissional. Pode ser um padrão de honra. Pode ser uma
advertência.
Alexandre Marcondes Filho
MENSAGEM DO SENHOR MINISTRO (1988)
Criada em 1932, a Carteira de Trabalho e Previdência Social resistiu ao passar dos anos,
assimilando com muita presteza as profundas modificações que se registraram, nestas décadas, na
composição, distribuição e qualificação da nossa força de trabalho.
Sem nenhum exagero, pode-se afirmar que este documento, por muitos ainda hoje conhecido como
“carteira profissional”, converteu-se num dos mais importantes instrumentos à disposição do
trabalhador, fazendo as vezes de cédula de identidade, título de crédito, atestado de antecedentes, de
boa conduta e de residência, para citar apenas algumas de suas múltiplas utilidades.
Em sua simplicidade, a CTPS reflete a carreira do trabalhador e sua evolução profissional. Cabelhe, pois, protegê-la atenta e cuidadosamente, porque enquanto pelos seus aspectos externos essa
Carteira revela traços importantes da personalidade e da formação do seu possuidor, os registros
internos, habitualmente insubstituíveis, se constituem nas melhores garantias da preservação e da
efetivação dos seus direitos trabalhistas e previdenciários.
Almir Pazzianotto Pinto
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
19
Instituída na década de 1930, a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) apresentava uma
dupla função, mantida até hoje: além de resguardar os direitos do trabalhador funcionava também
como um tipo de condensação das atividades profissionais deste, servindo de alerta aos empregadores:
“Quem a examina, logo verá se o portador é um temperamento aquietado ou versátil; se ama a
profissão escolhida ou ainda não encontrou a própria vocação; se andou de fábrica em fábrica, como
uma abelha, ou permaneceu no mesmo estabelecimento, subindo a escala profissional. Pode ser um
padrão de honra. Pode ser uma advertência.”
Atendendo às orientações da CTPS de 1976, um funcionário admitido na LIGHT – nome da
empresa estadual de energia elétrica na época – designado para o setor de pessoal da empresa, recebeu
a seguinte orientação do seu chefe: “Fique atento à carteira profissional do candidato e ao número de
anos que permaneceu em cada empresa; entreviste-o bem próximo, para ver se ele não cheira a
cachaça. Conte uma boa piada para fazê-lo rir e avaliar a sua saúde, a partir da qualidade dos seus
dentes”.
Era esta a postura da empresa diante do trabalhador.
O discurso escrito na CTPS foi reformulado e, em 1988, ela passou a ser “atestado de antecedentes,
de boa conduta e de residência, para citar apenas algumas de suas múltiplas utilidades”. Permanecia o
discurso anterior, agora aprimorado.
Atualmente, a CTPS possui nas páginas iniciais quatro itens do Art.XXIII, da Declaração Universal
dos Direitos do Homem, absolutamente utópicos para o momento atual: dizendo que “Todo homem
tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à
proteção contra o desemprego.” Mas será que isso é verdade?
Em seguida, há um trecho do Decreto-Lei nº229, de 28 de fevereiro de 1967, e na sequência um
texto dirigido ao trabalhador, que diz assim:
TRABALHADOR
Esta é a sua Carteira de Trabalho e Previdência Social, instituída pelo Decreto nº 22.035, de 29 de
outubro de 1932, e posteriormente reformulada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, que
aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho.
É o documento obrigatório para o exercício de qualquer emprego, seja de natureza urbana, rural, de
caráter temporário, permanente, ou mesmo em atividade profissional exercida por conta própria.
Nela são registrados os salários e todos os elementos básicos para o reconhecimento de seus
direitos perante a Justiça do Trabalho, bem como para a obtenção da aposentadoria e demais
benefícios da Previdência Social, tanto para você como para seus dependentes. Além de registrar todas
as relações de trabalho de seu portador, comprovando o vínculo que mantém com o empregador, a
CTPS garante-lhe também o direito ao Seguro-Desemprego.
Além de valer, também, como prova de identidade, conforme dispõe o artigo 40 da Consolidação
das Leis do Trabalho, o conjunto de anotações da CTPS e seu estado de conservação espelham a
conduta, a formação e o passado do trabalhador. Pelo conjunto das informações que encerra, serve, ao
mesmo tempo, como documento de crédito e atestado de antecedentes, tornando-se instrumento de
múltiplas utilidades ao seu portador.
Pela sua importância, é seu dever protegê-la e cuidá-la. É o registro de toda a sua vida profissional
e a garantia da preservação e validade de seus direitos como trabalhador e cidadão, contribuindo para
assegurar o seu futuro e de seus dependentes.
(sem assinatura)
Observamos a mudança no discurso escrito, porém a CTPS permanece sendo, intrinsicamente, um
“atestado” de conduta pessoal e profissional, uma vez que “o conjunto de anotações da CTPS e seu
estado de conservação espelham a conduta, a formação e o passado do trabalhador. Pelo conjunto das
informações que encerra, serve, ao mesmo tempo, como documento de crédito e atestado de
antecedentes (...)”, ou seja, as palavras mudaram, mas os conceitos não. Ao contrário do discurso
percebido na figura relacionada ao ensino (1969-2009).
O artigo a seguir, extraído da revista Língua Portuguesa, dá conta da análise de campanhas
publicitárias e sua relação com o contexto e a história.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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5.1 OS LIMITES DA RETÓRICA DE MERCADO
Polêmica mundial envolvendo campanha de agência brasileira mostra a dificuldade em controlar a
interpretação dos consumidores
O anúncio Aviões, da WWF, provocou reações indignadas nos EUA contra a agência DM9DDB: texto insensível
Uma das mais tarimbadas agências do país, com vinte anos de janela, a DM9DDB se meteu num vespeiro,
mês passado, com a repercussão mundial de uma campanha publicitária criada para a WWF, organização não
governamental dedicada à conservação da natureza. A peça, composta pelo impresso Aviões e pelo filme
Tsunami, lança uma centena de aviões contra o World Trade Center. No filme, a cena escurece para dar lugar a
letreiros com a premissa retórica que sustenta o anúncio: "O tsunami matou 100 vezes mais pessoas do que o 11
de setembro". Em seguida, o apelo à reflexão: "Nosso planeta é poderoso. Respeite e preserve".
Além do erro conceitual (tsunamis são fenômenos geológicos, não relacionados à destruição da natureza pelo
homem) e da premissa controversa (o paralelo entre ato terrorista e mudança ambiental), a campanha pôs em
xeque um dos pilares da retórica publicitária desde a era dos reclames: a interpretação (programada) das
mensagens que veicula.
Difícil localizar quem interpretou o anúncio da WWF, conforme o planejado pela DM9, como um alerta à
devastação. Nos EUA, ela foi recebida antes como afronta ao sofrimento norte-americano no aniversário de oito
anos do atentado. Foi condenada não só pela mídia especializada, como a revista nova-iorquina Advertising Age,
mas por programas da rede NBC e pelo tradicional New York Times.
Na primeira semana de setembro, o caso virou um jogo de empurra entre a agência e o braço local da ONG.
Em nota, a DM9DDB alegou que o anúncio foi "fruto somente da inexperiência" dos profissionais envolvidos
"de ambas as partes". Por sua vez, o braço brasileiro do WWF divulgou que a peça havia sido rejeitada. Depois,
em nota conjunta, ambos admitiram que o anúncio foi aprovado em dezembro de 2008, "equivocadamente".
Nenhum reparo prévio, no entanto, impediu que a peça fosse divulgada à imprensa por release da própria
DM9, publicada num jornal de São Paulo antes de ter sua veiculação suspensa, inscrita no festival de Cannes e
premiada com um diploma Merit pelo One Show, competição internacional da propaganda, o que deu lenha à
repercussão mundial do caso. O prêmio foi cancelado, a pedido da agência, mas o estrago já havia sido
potencializado por sites e blogs de todo o mundo.
Na era da internet, com blogs bisbilhoteiros e repercussão em escala, de site a site, a possibilidade de
interpretação indesejada de mensagens publicitárias tem crescido exponencialmente. No início de setembro, a
Unimed Porto Alegre viu um anúncio seu virar alvo de blogs de estudantes e publicitários. A campanha
"Cuidar", desenvolvida pela agência Escala desde o início do ano, partia do conceito de que, para uma
cooperativa de médicos, não mero plano de saúde, cuidar é tão importante quanto curar. Daí desenvolver a série
de anúncios em que letras de palavras, como "trabalho", "respeito" e "amor", fossem substituídas pelo corpo
humano. No caso de "cuidar", no entanto, a letra i deu lugar a uma modelo esguia e ereta, o suficiente para que
blogueiros a vissem como um muro a separar um verbo de um substantivo indesejado.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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A campanha da Unimed-RS, em que uma modelo substitui a letra i, dividindo a palavra "cuidar" em um verbo
e um substantivo indesejado
Fora de contexto
A infeliz coincidência, no entanto, de circulação restrita pois publicada num caderno especial do jornal Zero
Hora em 1º de setembro, para comemorar um prêmio recebido pela empresa, espalhou-se pela blogosfera, mas
não teve repercussão negativa junto aos 450 mil usuários da Unimed, garante Eduardo Axelrud, diretor de
criação da agência gaúcha.
- Tirada do contexto, a leitura inadvertida é de fato plausível. Mas para o consumidor, a palavra "cuidar" foi
parte de uma sequência de outras palavras que integraram uma campanha de longa duração, que traduz a ideia de
que "nossa vida é cuidar da sua", com a qual as pessoas têm familiaridade e entendimento já consolidado ao
longo dos anos. Por isso, não teria havido margem a duplo sentido, nem a interpretações escatológicas ou
pornográficas - afirma Axelrud.
A peça, lida isoladamente, descontextualizada, autorizaria a leitura indesejada. Mas, integrante de um
conjunto de ações de marketing e de propaganda, o tropeço se "contamina" pela lógica interna das outras peças
que integram a rede de mensagens de uma campanha. O que reduziria, diz Axelrud, a possibilidade de
interpretação dúbia.
- O anúncio não nos constrangeu. Muito pouca gente que o viu deu atenção ao fato porque ele está num
contexto maior de uma campanha que se prolongou no tempo - diz Gerson Luís Silva, gerente de marketing da
Unimed Porto Alegre.
Funerária
A leitura de duplo sentido, porém, pode ser um efeito proposital de certas campanhas. Maior empresa
funerária do Rio de Janeiro, com 10% do mercado carioca, a seguradora Sinaf criou uma tradição de humor
negro publicitário. Para promover a empresa, a Comunicação Carioca criou uma campanha em 2003 com
slogans de duplo sentido:
"Cremação: uma novidade quentinha da Sinaf."
"Nossos clientes nunca voltaram para reclamar."
"O seguro de vida que você vai dar graças a Deus. Pessoalmente."
"Como planejar a morte da sua sogra."
Apesar de produzir mensagens no limite entre a eficiência comunicativa e o mau gosto, o que poderia
afugentar os interessados nos serviços da empresa, o tom inusitado dos anúncios subvertia a dificuldade de as
pessoas lidarem com a morte. O sucesso da campanha aumentou a procura pelos serviços funerários e facilitou a
abordagem dos vendedores da empresa. Passado o impacto inicial, a atual agência da empresa, a Script, atenuou
o tom escancarado dos anúncios da seguradora, mas ainda mantém a ironia de antes:
"O melhor plano é viver. Mas vai que dá errado."
"Reforme sua casa de olhos fechados."
"Se beber, não dirija. Se dirigir, Sinaf."
"Um dia você não acorda e está rico."
"Sinaf, 25 anos. Incrível chegar onde chegamos perdendo um cliente atrás do outro."
Podemos qualificar as campanhas da funerária Sinaf como um humor negro, mas com resultados.
Café com leite
O mais comum, no entanto, é ver mensagens publicitárias que permitem dupla interpretação botarem a perder
todo um esforço comunicativo. A Parmalat lançou em 1998 uma campanha para promover sua marca de café
solúvel. A ideia era transferir para o café a bem-sucedida imagem da empresa de laticínios, num casamento que
reproduzisse a combinação clássica do café-com-leite. A campanha materializou a combinação numa metáfora
visual, em que brancos e negros formavam casais. A “azeitona da empada”, no entanto, foi a construção do texto,
com involuntária invocação racista: "Um café à altura do leite".
- Dizer que o café está à altura do leite é partir da premissa de discriminação ética, de apresentação alegórica
que reforça a crença na superioridade do leite, branco, sobre o café, que se toma por metáfora do negro - entende
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Clóvis de Barros, professor de ética da ECA-USP, da Escola Superior de Propaganda e Marketing, e
coordenador do Espaço Ética.
Dar orientação argumentativa a uma ideia é um desafio que extrapola o meio publicitário, explica o professor
Francisco Platão Savioli, da USP e do sistema Anglo de Ensino.
- Bom texto é o que atinge o resultado programado. Bom escritor não é o que escreve correto, mas o que sabe
escolher para o seu texto os recursos que obedecem à sua intenção. O controle da forma mais funcional para
atingir o efeito desejado é um dos ingredientes da construção textual, mas há outros a controlar, como o respeito
por crenças e valores do interlocutor, a adequação à competência interpretativa dos leitores etc. - escreveu ele à
Língua.
Exemplum
A busca do ouro na criação de certas peças publicitárias passa muitas vezes por inverter expectativas, ser
provocativo e imprevisível, com o que se define o sucesso ou o fracasso de uma comunicação. Controlar o efeito
de suas mensagens virou, por isso, o desafio retórico do mundo da propaganda.
Não por acaso, a publicidade bebe na fonte da retórica antiga. A peça criada pela DM9, por exemplo, usou o
manjado recurso persuasivo do exemplum, episódio ou caso exemplar apresentado para ilustrar um ponto forte
do debate. A recomposição da mecânica discursiva mostraria que a DM9 tinha a tarefa de criar a imagem da
devastação da natureza na mente do público-alvo da WWF. Nada parece mais eficiente para dar dimensão de
algo do que compará-lo a exemplo palpável e familiar.
Efeitos sociais
Pensemos num primeiro termo de comparação: o que foi devastador e está fresquinho no imaginário popular?
O tsunami, que matou mais de 280 mil pessoas desde 2006. Eureka! Mas o que poderia dar dimensão da
magnitude de tal cifra? Compará-lo a uma outra devastação que tenha tido ainda maior impacto na memória
coletiva, mas saldo de vítimas bem menor. Que tal o World Trade Center? A sacada parecia genial. Até alguém
notar que o rei estava nu.
- A publicidade nunca vale por ela mesma mas pelos efeitos que provoca na sociedade. Muito de
suas consequências são produzidas em cadeia para além dos resultados mais imediatos no consumo - diz o
professor Clóvis de Barros Filho.
O mundo da propaganda, diz Barros Filho, provoca efeitos sociais que envolvem três níveis de leitura
esperados num consumidor de mensagens comerciais. O primeiro grande efeito procurado é a conversão da
mensagem em práticas de consumo. A segunda leitura desejada é a representação simbólica do anunciante, a
referência a que a marca passou a ser associada após dada campanha. Mas os publicitários não raro ignoram uma
terceira dimensão da interpretação de anúncios, avalia o professor da USP: o da cultura ética.
Para o professor, uma mensagem publicitária não só pode alterar o ritmo de vendas e consolidar uma imagem
que agrada ao anunciante, como tende a participar de uma determinada maneira de interpretar o mundo e atribuir
valor às coisas, que permitem escolhas relativas não só ao consumo.
- É possível conceber uma mensagem que se converta em ganho de consumo e, num segundo momento, em
construção positiva da marca, mas se inscreva no mundo social de modo a contribuir para a defesa de valores
discriminatórios, xenófobos ou que apequenam a existência humana. Esse cuidado deve ser tomado - diz Barros
Filho.
Valores
Foi-se a época em que um anúncio demonstrava a capacidade do produto. Um refrigerante mata a sede, um
carro nos leva a um lugar, o sapólio limpa mais. Um dia, veio a sacada e o refri passou a espantar os males da
vida, uma cervejinha virou afrodisíaco e um singelo sanduíche, sinônimo de realizações. Até fumante virou
atleta nos tempos em que anúncios de cigarro eram parte da paisagem.
O mundo sob o prisma da publicidade é sem nódoas ou crises, pois o menor sinal negativo termina anulado
pela exibição triunfal do produto. Quando Coca-Cola dá vida a tudo e o primeiro sutiã resume a puberdade, um
sinal é dado e consumido. Mas sempre algo trai a dimensão retórica, o fato de a mensagem ser feita para nos
convencer a comprar um peixe. Casos como o dos cem aviões, do café à altura do leite ou do humor funerário
mostram que o ruído ocorre quando a publicidade tenta vender seu peixe a qualquer preço.
Internet estimula sátira a agências e anunciantes
Embora recebendo interpretações distintas por parte das pessoas que tiveram contato com seus anúncios,
tanto a WWF como a Unimed-RS atribuem a repercussão de suas recentes peças publicitárias ao que consideram
uma terra de ninguém: a internet. Veiculadas uma única vez cada um, em jornais locais, as peças "Aviões" e
"Cuidar" se multiplicaram em blogs e no twitter.
O presidente da DDB Brasil, Sérgio Valente, admitiu o impacto da difusão global de tropeços localizados ao
divulgar em setembro um constrangido pedido de desculpas pelos anúncios da campanha "Aviões".
- Essas peças publicitárias, ainda que veiculadas uma única vez em veículos locais, acabaram por gerar
consequências globais que mostram que o alcance de uma peça publicitária já não é mais apenas local.
Eduardo Axelrude, da agência Etapa, que detém a conta da Unimed-RS, também acusa o golpe on-line.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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- A repercussão de casos assim mostra a capacidade da internet de "viralizar", replicar comentários sob
pseudônimo, extrapolando a incidência do caso um a um - diz ele.
A internet virou um celeiro de sátiras a anúncios, para além dos comerciais de mentirinha criados pelo grupo
Desencannes, famoso por inventar paródias publicitárias, como a que simula Ronaldo Fenômeno num anúncio
do Santander: "Eu nunca fico no Banco do Brasil".
A divertida iniciativa do Desencannes restringe-se à homenagem paródica. Não é o que foi feito por piratas da
publicidade que criaram, por exemplo, um site de vídeos para a marca GM, como se a própria montadora
apontasse seus produtos como poluidores e recriminasse sua política de distribuição de bônus para executivos.
Em outra ação viral, o logotipo do banco Bradesco foi redesenhado para a inserção de aviões colidindo com as
torres gêmeas, no 11 de setembro.
O comercial das motos Dafra com o ator Wagner Moura foi redublado para desmentir todas as qualidades que
a peça publicitária original anunciava sobre a marca.
Ronaldo na paródia do site Desencannes e o logotipo do Bradesco premonitório do 11 de setembro: ação viral
(JUNIOR, Luiz Costa Pereira. Os limites da retórica de mercado. Língua Portuguesa.
São Paulo, Ano IV, nº 48, p. 46 – 50. Out. 2009)
QUESTIONÁRIO
1. Considerando a campanha publicitária “Aviões”, da WWF, o que provocou reações indignadas nos
EUA contra a agência DM9DDB? Por que o público reagiu assim?
2. Para Eduardo Axelrud, diretor de criação da agência gaúcha Escala, a campanha da Unimed-RS
“não teve repercussão negativa junto aos 450 mil usuários da Unimed”. Por que ele alega isso? Você
concorda com ele?
3. Analise o sucesso das campanhas publicitárias da seguradora Sinaf, maior empresa funerária do Rio
de Janeiro, promovido pela agência Comunicação Carioca. Você acredita que a empresa correu o risco
de ser prejudicada pela campanha publicitária? Justifique sua resposta.
4. Comente a fala do professor Francisco Platão Savioli a respeito da construção textual.
5. Estudamos um recurso chamado intertextualidade e a importância de se considerar o conhecimento
prévio do leitor (o seu repertório) sobre o assunto. Qual a intertextualidade estabelecida pelo trecho a
seguir: “A sacada parecia genial. Até alguém notar que o rei estava nu.”?
6. Percebe-se que a Internet tem um importante papel na divulgação das campanhas publicitárias.
Comente-o.
7. O grupo Desencannes ficou famoso por inventar paródias publicitárias, ou seja, comerciais de
mentirinha na Internet, a intenção era uma homenagem paródica. Porém, piratas da publicidade
criaram propagandas desagradáveis. Quais foram estas propagandas e que prejuízos você acredita que
possam trazer para as empresas citadas?
Para a próxima aula, trazer dicionário.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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6 RESUMO
Resumo é uma condensação fiel das ideias ou dos fatos contidos no texto. Resumir um texto
significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem perder de vista três elementos:
a) cada uma das partes essenciais do texto;
b) a progressão em que elas se sucedem;
c) a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes.
O resumo é, pois, uma redução do texto original, procurando captar suas ideias essenciais, na
progressão e no encadeamento em que aparecem no texto. Quem resume deve exprimir, em estilo
objetivo, os elementos essenciais do texto. Por isso não cabem, num resumo, comentários ou
julgamentos ao que está sendo condensado.
Muitas pessoas julgam que resumir é reproduzir frases ou partes de frases do texto original,
construindo uma espécie de "colagem". Essa "colagem" de fragmentos do texto original não é um
resumo. Resumir é apresentar, com as próprias palavras, os pontos relevantes de um texto. A
reprodução de frases do texto, em geral, atesta que ele não foi compreendido.
Para elaborar um bom resumo, é necessário compreender antes o conteúdo global do texto. Não é
possível ir resumindo à medida que se vai fazendo a primeira leitura. É evidente que o grau de
dificuldade para resumir um texto depende basicamente de dois fatores:
a) da complexidade do próprio texto (seu vocabulário, sua estruturação sintético-semântica, suas
relações lógicas, o tipo de assunto tratado etc.);
b) da competência do leitor (seu grau de amadurecimento intelectual, o repertório de informações que
possui, a familiaridade com os temas explorados).
Alguns procedimentos para diminuir as dificuldades de elaboração do resumo:
1. Ler uma vez o texto, ininterruptamente, do começo até o fim: sem a noção do conjunto, é mais
difícil entender o significado preciso de cada uma das partes. Essa primeira leitura deve ser feita com a
preocupação de responder à seguinte pergunta: do que trata o texto?
2. Uma segunda leitura é sempre necessária. Mas esta, com interrupções, com o lápis na mão, para
compreender melhor o significado de palavras difíceis (se preciso, recorra ao dicionário) e para captar
o sentido de frases mais complexas (longas, com inversões, com elementos ocultos), bem como as
conexões entre elas.
3. Num terceiro momento, tentar fazer uma segmentação do texto em blocos de ideias que tenham
alguma unidade de significação. Em um texto pequeno, normalmente pode-se adotar como critério de
segmentação a divisão em parágrafos. Quando se trata de um texto maior (o capítulo de um livro, por
exemplo) é conveniente adotar um critério de segmentação mais funcional, o que vai depender de cada
texto. Em seguida, com palavras abstratas e mais abrangentes, tenta-se resumir a ideia ou as ideias
centrais de cada fragmento.
4. Dar a redação final com suas palavras, procurando não só condensar os segmentos mas encadeá-los
na progressão em que se sucedem no texto e estabelecer as relações entre eles.
(SAVIOLI, F.P. & FIORIN, J.L. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007 – pág. 420 e 421)
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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Exemplo:
A Receita Federal brasileira vai iniciar um processo de integração com o fisco dos demais países do
Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) para combater as fraudes fiscais que estão ocorrendo nas
operações comerciais feitas entre empresas do bloco econômico.
Com a globalização, os chamados "preços de transferência" se transformaram no principal alvo das
administrações tributárias dos países filiados ao Centro Interamericano de Administradores Tributários
(CIAT). Por esse mecanismo, as empresas conseguem fraudar o fisco realizando operações de compra
e venda com preços que não correspondem ao valor real dos produtos ou serviços negociados. Em
todos os casos, é sempre necessário utilizar um paraíso fiscal - país que apresenta vantagens e isenções
tributárias.
No caso de uma exportação, a empresa vende seu produto por um preço muito baixo, o que
caracteriza uma operação não-lucrativa (portanto, sem incidência de Imposto de Renda). A venda é
intermediada por uma empresa localizada em um paraíso fiscal, que recoloca o preço em seu patamar
real e conclui a venda ao comprador. O lucro realizado por essa empresa retorna ao exportador sem
ônus fiscal.
Na importação, a operação é inversa. O produto é comprado a um preço elevado, reajustado em um
paraíso fiscal antes de chegar ao seu destino. O importador alega prejuízo na operação e escapa ao
fisco.
"A globalização, que agilizou e sofisticou os negócios entre as empresas, criou modernas doenças
fiscais. Temos que combatê-las", disse o Secretário da Receita Federal do Brasil, Everardo Maciel, à
Folha.
Apenas um trabalho conjunto entre os diversos países do Mercosul poderá extinguir ou, pelo
menos, neutralizar as fraudes fiscais internacionais.
(Folha de S. Paulo - 18.5.97, com adaptações)
Resumo
A globalização da economia, embora tenha agilizado e sofisticado os negócios entre as empresas,
também criou algumas "doenças", como fraudes fiscais que estão ocorrendo nas operações comerciais
entre empresas do Mercosul. Assim, o Brasil e os países do Mercosul devem trabalhar em conjunto a
fim de extinguir, ou ao menos neutralizar, essas fraudes fiscais internacionais.
ATIVIDADE
1º Retome o artigo “Os limites da retórica de mercado”, extraído da revista Língua Portuguesa.
2º Já fizemos anteriormente uma primeira leitura ininterrupta, agora é importante fazer uma segunda
leitura e destacar as palavras que você desconhece; logo após, procurar o seu significado no
dicionário;
3º Na terceira leitura, grife em cada parágrafo a ideia central (tópico frasal);
4º Por fim, escreva o resumo, com suas próprias palavras, utilizando o menor número de linhas
possível.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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7 RESENHA
Resenhar significa fazer uma relação das propriedades de um objeto, enumerar cuidadosamente
seus aspectos relevantes, descrever as circunstâncias que o envolvem. O objeto resenhado pode ser um
acontecimento qualquer da realidade (um jogo de futebol, uma comemoração solene, uma feira de
livros) ou textos e obras culturais (um romance, uma peça de teatro, um filme).
A resenha, como qualquer modalidade de discurso descritivo, nunca pode ser completa e exaustiva,
já que são infinitas as propriedades e circunstâncias que envolvem o objeto descrito. O resenhador
deve proceder seletivamente, filtrando apenas os aspectos pertinentes do objeto, isto é, apenas aquilo
que é funcional em vista de uma intenção previamente definida.
Imaginemos duas resenhas distintas sobre o mesmo objeto, o treinamento dos atletas para uma copa
mundial de futebol: uma resenha destina-se aos leitores de uma coluna esportiva de um jornal; outra,
ao departamento médico que integra a comissão de treinamento. O jornalista, na sua resenha, vai
relatar que um certo atleta marcou, durante o treino, um gol olímpico, fez duas coloridas jogadas de
calcanhar, encantou a plateia presente e deu vários autógrafos. Esses dados, na resenha destinada ao
departamento médico, são simplesmente desprezíveis.
Com efeito, a importância do que se vai relatar numa resenha depende da finalidade a que ela se
presta. Numa resenha de livros para o grande público leitor de jornal, não tem o menor sentido
descrever com pormenores os custos de cada etapa de produção do livro, o percentual de direito
autoral que caberá ao escritor e coisas do tipo.
A resenha pode ser puramente descritiva, isto é, sem nenhum julgamento ou apreciação do
resenhador, ou crítica, pontuada de apreciações, notas e correlações estabelecidas pelo juízo crítico de
quem a elaborou.
A resenha descritiva consta de:
a) uma parte descritiva em que se dão informações sobre o texto:
- nome do autor (ou dos autores);
- título completo e exato da obra (ou do artigo);
- nome da editora e, se for o caso, da coleção de que faz parte a obra;
- lugar e data da publicação;
- número de volumes e páginas.
Pode-se fazer, nesta parte, uma descrição sumária da estrutura da obra (divisão em capítulos,
assunto dos capítulos, índices, etc.). No caso de uma obra estrangeira, é útil informar também a língua
da versão original e o nome do tradutor (se tratar de tradução).
b) uma parte com o resumo do conteúdo da obra:
- indicação sucinta do assunto global da obra (assunto tratado) e do ponto de vista adotado
pelo autor (perspectiva teórica, gênero, método, tom, etc.);
- resumo que apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral.
Na resenha crítica, além dos elementos já mencionados, entram também comentários e
julgamentos do resenhador sobre as ideias do autor, o valor da obra, etc.
Para melhor compreensão da estrutura da resenha, observe a resenha abaixo:
MEMÓRIA - ricas lembranças de um precioso modo de vida
O Diário de uma garota (Record, Maria Julieta Drummond de Andrade) é um texto que comove de
tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e miúdo dos pequenos nadas que preencheram os
dias de uma adolescente em férias, no verão antigo de 41 para 42.
Acabados os exames, Maria Julieta começa seu diário, anotado em um caderno de capa dura que
ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí que o espaço é todo da menina, que se propõe a
registrar nele os principais acontecimentos destas férias para mais tarde recordar coisas já esquecidas.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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O resultado final dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a proclamada modéstia do texto
que, ao ser concebido, tinha como destinatária única a mãe da autora, a quem o caderno deveria ser
entregue quando acabado.
E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão? Foram muitos, pontilhados de
muita comilança e de muita leitura: cinema, doce-de-leite, novena, o Tico-Tico, doce-de-banana,
teatrinho, visita, picolés, missa, rosca, cinema de novo, sapatos novos de camurça branca, o Cruzeiro,
bem-casados, romances franceses, comunhão, recorte de gravuras, Fon-Fon, espiar casamentos,
bolinho de legumes, festas de aniversário, Missa do galo, carta para a família, dor-de-barriga, desenho
de aquarela, mingau, indigestão ... Tudo parecia pouco para encher os dias de uma garota carioca em
férias mineiras, das quais regressa sozinha, de avião.
Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo de vida que é hoje apenas
um dolorido retrato na parede. Retrato, entretanto, que, graças à arte de Julieta, escapa da moldura,
ganha movimentos, cheiros, risos e vida.
O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas: por exemplo, o tom autêntico de sua linguagem,
que, se, como prometeu sua autora, evita as pompas, guarda, não obstante, o sotaque antigo do tempo
em que os adolescentes que faziam diários dominavam os pronomes cujo / a / os / as, conheciam a
impessoalidade do verbo haver no sentido de existir e empregavam, sem pestanejar, o mais-queperfeito do indicativo quando de direito...
Outra e não menor riqueza do livro é o acerto de seu projeto gráfico, aos cuidados de Raquel Braga.
Aproveitando para ilustração recortes que Maria Julieta pregava em seu diário e reproduzindo na capa
do livro a capa marmorizada do caderno, com sua lombada e cantoneiras imitando couro, o resultado é
um trabalho em que forma e conteúdo se casam tão bem casados que este Diário de uma garota acaba
constituindo uma grande festa para seus leitores.
Marisa Lajolo - Jornal da Tarde, 18 jan. 1986.
O texto é uma resenha crítica, pois nele a resenhadora apresenta um breve resumo da obra, mas
também faz uma apreciação do seu valor (exemplo, 1º período do 1º parágrafo, 3º parágrafo). Ao
comentar a linguagem do livro (6º parágrafo), emite um juízo de valor sobre ela, estabelecendo um
paralelo entre os adolescentes da década de 40 e os de hoje do ponto de vista da capacidade de se
expressar por escrito. No último parágrafo comenta o projeto gráfico da obra e faz uma apreciação a
respeito dele.
No resumo da obra, a resenhadora faz uma indicação sucinta do conteúdo global da obra ("registro
amoroso e miúdo dos pequenos nadas que preencheram os dias de uma adolescente em férias, no verão
antigo de 41 para 42"), mostra o gênero utilizado pela autora (diário) e, depois, relata os pontos
essenciais do livro (um rol dos pequenos acontecimentos da vida da adolescente em férias).
A parte descritiva é reduzida ao mínimo indispensável. Apenas o título completo da obra, a editora e o
nome da autora são indicados.
Estamos diante de uma resenha muito bem-feita, pois se atém apenas aos elementos pertinentes
para a finalidade a que se destina: informar o público leitor sobre a existência e as qualificações do
livro.
(SAVIOLI, F.P. & FIORIN, J.L. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª ed. São Paulo: Ática, 2007 – pág. 426 a 429)
7.1 DIFERENCIANDO: RESUMO X RESENHA
Leia o texto abaixo:
Durante toda sua carreira como psicólogo, Maslow interessou-se profundamente pelo estudo do
crescimento e desenvolvimento pessoais e pelo estudo da psicologia como um instrumento de
promoção do bem-estar social e psicológico. Insistiu que uma teoria da personalidade precisa e viável
deveria incluir não somente as profundezas, mas também os pontos que cada indivíduo é capaz de
atingir. Maslow é um dos fundadores da teoria humanista.
Forneceu considerável incentivo teórico e prático para os fundamentos de uma alternativa para o
behaviorismo e a psicanálise, correntes estas que tendem a ignorar ou deixar de explicar a criatividade,
o amor, o altruísmo e os grandes feitos culturais, sociais e individuais da humanidade. Maslow estava
principalmente interessado em explorar novas saídas, novos campos.
Seu trabalho é mais uma coleção de pensamentos, opiniões e hipóteses do que um sistema teórico
plenamente desenvolvido. Sua abordagem em psicologia pode ser resumida pela frase de introdução
de seu livro mais influente, Introdução é psicologia do ser. (Fadiman, James et alii 1986:280).
Autora: Lucivânia A. S. Perico
28
"Está surgindo agora no horizonte uma nova concepção da doença humana e saúde humana,
psicologia que acho tão emocionante e tão cheia de maravilhosas possibilidades que cedi à tentação de
apresentá-la publicamente mesmo antes de ser verificada e confirmada e antes de poder ser
denominada conhecimento científico idôneo." (Maslow, 1968, 27)
Agora, observe que o resumo e a resenha são textos diferentes na sua estrutura:
RESUMO
Maslow sempre se interessou pelo estudo do crescimento e desenvolvimento pessoais e pelo uso da
psicologia como um instrumento de promoção do bem-estar social e psicológico. Forneceu incentivo
para os fundamentos de uma alternativa para o behaviorismo e a psicanálise, correntes estas que
deixam de explicar a criatividade, o amor, o altruísmo e os outros grandes feitos culturais da
humanidade. É um dos fundadores da teoria humanista.
RESENHA
Obra: Teorias da personalidade.
Autor: Fadiman, James et alii in Cap.9
Abraham Maslow e a Psicologia da Auto-Atualização, p. 260 SP Harbra, 1986, 7 e 8.
Trata-se de um capítulo que interessa a todos os estudantes que desejam conhecer desde os dados
biográficos do autor, como a sua metodologia fundada no humanismo e no crédito de que o ser
humano não é tão mau como se pensa.
Demonstra interesse pela antropologia social, interessando-se pelo trabalho dos antropólogos
sociais, tais como Malinowsky, Mead, Benedict e Linton.
Interessou-se pela gestalt e pela teoria e conceitos de auto-atualização.
Lidando com questões ligadas a valores, amor de deficiência e do ser, bem como a psicologia
transpessoal, afirma que " Sem o transcendente e o transpessoal, ficamos doentes, violentos e niilistas
ou então vazios de esperança e apáticos." (Maslow, 1968:12)
(BARROS, A. J. da Silveira & LEHFELD, N. A. de Souza. Fundamentos de metodologia científica. SP. MAKRON. 2000)
REDAÇÃO
Elabore uma resenha crítica do primeiro livro lido por nós neste semestre. Seu texto deve ter no
mínimo 25 linhas, escrito no padrão culto da língua.
Não esqueça do título.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
29
8 FILME “TEMPOS MODERNOS”
“Tempos Modernos” é o último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados
Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade
norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome.
A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin, que ao conseguir emprego
numa grande indústria, transforma-se em líder grevista conhecendo uma jovem, por quem se apaixona.
O filme focaliza a vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de
linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à "modernidade" e ao capitalismo
representado pelo modelo de industrialização, no qual o operário é engolido pelo poder do capital e
perseguido por suas idéias "subversivas".
Em sua segunda parte, o filme trata das desigualdades entre a vida dos pobres e das camadas mais
abastadas, sem representar contudo, diferenças nas perspectivas de vida de cada grupo. Mostra ainda
que a mesma sociedade capitalista, que explora o proletariado, alimenta todo o conforto e diversão
para a burguesia. Cenas como a que Carlitos e a menina órfã conversam no jardim de uma casa, ou
aquela em que Carlitos e sua namorada encontram-se numa loja de departamento, ilustram bem essas
questões.
Se inicialmente o lançamento do filme chegou a dar prejuízo, mais tarde tornou-se um clássico na
história do cinema. Chegou a ser proibido na Alemanha de Hilter e na Itália de Mussolini por ser
considerado "socialista". Juntamente com O Garoto e O Grande Ditador, Tempos Modernos está entre
os filmes mais conhecidos do ator e diretor Charles Chaplin, sendo considerado um marco na história
do cinema.
(Disponível em http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=181 , consultado em 11 ago 2011)
ATIVIDADE
Reúna-se com seu grupo para debater e responder às seguintes questões, baseando-se nas cenas do
filme “Tempos Modernos”:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Quais as três questões abordadas no filme?
Como o funcionário é tratado na fábrica?
Ele tem consciência sobre o que está produzindo?
Qual a posição do patrão (presidente da fábrica) em relação aos funcionários?
Quando Carlitos fica louco e acaba entrando nas engrenagens da fábrica, o que isso representa?
Quais são as características da tecnologia (máquinas, ferramentas) utilizadas?
Quem decide a maneira (e o tempo) como o trabalho é realizado?
Quais questões trabalhistas e sociais mostradas no filme estão presentes na nossa realidade atual?
Autora: Lucivânia A. S. Perico
30
9 REDAÇÃO TÉCNICA E COMERCIAL
O que é redação técnica?
Primeiramente, vejamos esses dois termos separadamente:
Redação é o ato de redigir, ou seja, de escrever, de exprimir pensamentos e ideias através da
escrita. Técnica é o conjunto de métodos para execução de um trabalho, a fim de se obter um
resultado. Logo, para que você escreva uma redação técnica é necessário que certos processos sejam
seguidos, como o tipo de linguagem, a estrutura do texto, o espaçamento, a forma de iniciar e finalizar
o texto, dentre outros.
Desta forma, a necessidade de certa habilidade e de se ter os conhecimentos prévios para se
fazer uma redação técnica é imprescindível!
A redação técnica engloba textos como: ata, circular, certificado, contrato, memorando,
parecer, procuração, recibo, relatório, currículo. Veremos cada um deles na aula de hoje.
Mas antes de chegarmos ao ponto, vamos refletir sobre o que é a correspondência.
Correspondência é um ato que se evidencia pelo traço de informações e se caracteriza pela
emissão e recepção de mensagens. É um meio de comunicação escrita entre pessoas. É o ato ou estado
de corresponder, adaptar, relatar. É uma comunicação efetiva por meio de papéis, cartas ou
documentos. Por ampliação de sentido, passou a designar todo o conjunto de instrumentos de
comunicação escrita: bilhetes, cartas, circulares, memorandos, ofícios, requerimentos etc.
A redação de textos administrativos inclui a necessidade de dinamizar o texto (por isso, o uso
de verbos próprios, substituindo expressões com verbo auxiliar, exemplo: “foi feito um levantamento”
pode ser substituído por “realizou-se um levantamento”), evitar palavras desnecessárias, ampliar o
vocabulário, optar pelo simples em lugar do complexo, utilizar frase curta, usar vocabulários
conhecidos pelo receptor, aproximar-se da coloquialidade sem desrespeitar a gramática, procurar a
inteligibilidade do texto.
São exigências modernas a objetividade e a rapidez na exposição do pensamento. Por isso,
mais do que nunca, é preciso buscar clareza de pensamento, expressão objetiva de ideias, vocabulário
exato. A linguagem utilizada nas relações comerciais exige o conhecimento de certas fórmulas e
praxes em que se deve exercitar o redator comercial.
Observem-se sempre as qualidades da redação como: exatidão, coerência de ideias, clareza e
concisão.
9.1 CURRÍCULO
Quando uma pessoa precisa comprar algum produto, ela vai ao mercado. Quando uma pessoa
precisa vender seu trabalho ou uma empresa precisa encontrar um profissional para atender às suas
necessidades, recorre ao mercado de trabalho. Isso quer dizer que, quando um candidato envia um
currículo para o mercado de trabalho, ele se expõe como se fosse um produto de uma vitrine.
O currículo é a forma abreviada e aportuguesada da expressão latina “curriculum vitae”, e
significa “carreira de vida”. É um documento em que uma pessoa revela sua formação, trajetória
profissional e aspectos da personalidade. Por isso, são necessários cuidados éticos na sua elaboração, a
fim de vender a imagem do profissional competente que você é. O objetivo do currículo é atrair a
atenção do selecionador para que você seja chamado para uma entrevista.
Um dos desafios do currículo é saber comunicar com poucas palavras o máximo de
informações. Portanto, é importante usar palavras que agreguem valor.
Geralmente o currículo é composto pelos seguintes itens: dados pessoais, objetivo,
qualificações ou resumo profissional, experiência ou histórico profissional, formação, formação
complementar e outras informações relevantes. Vamos explicar cada um desses componentes.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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Em dados pessoais, os itens mais importantes são: nome, endereço, números de telefone
convencional e/ou celular, endereço eletrônico, nacionalidade, estado civil e idade e/ou data de
nascimento.
É importante você mencionar o objetivo, isto é, o cargo ou a área em que quer trabalhar. Na
parte de qualificações ou resumo profissional é importante fazer um resumo das informações mais
importantes nas atividades exercidas e também nas almejadas; podem ser citados: experiência,
conhecimentos, formação e aspectos da personalidade.
No item destinado à experiência ou histórico profissional, deve-se citar o nome da empresa,
período de admissão e demissão, cargos assumidos, breve sumário das principais atribuições ou
resultados e conquistas em decorrência das atividades. Se você decidir pelo currículo cronológicofuncional, não se esqueça de que as datas devem estar dispostas em ordem decrescente.
Em relação à formação, mencionam-se os cursos técnicos e/ou universitários, incluindo nome
da instituição de ensino e ano de conclusão. Na parte de formação complementar, relacionam-se os
cursos de idioma, extensão ou especialização relevantes para a formação ou complementação
profissional e cultural.
Outras informações relevantes são aquelas que possam representar importante diferencial do
candidato e que não foram citadas em nenhum dos itens anteriores, como trabalho voluntário,
participação em associações, viagens internacionais que tenham contribuído na evolução da carreira
profissional.
Juntamente com o currículo, é interessante enviar a carta de intenção ou carta de
apresentação, que é um documento em que o candidato pode declarar sua intenção em relação ao
cargo pretendido e/ou complementar alguma informação importante que não teve espaço de ser
mencionada no currículo. Redigi-los adequadamente poderá ser um diferencial.
Quais itens o currículo deve conter?
1. Nome completo (sem abreviações);
2. Estado civil, nacionalidade e idade (data de nascimento), se tiver filhos, informar quantos;
3. Endereço completo (incluindo o CEP);
4. Telefones para contato e endereço de e-mail;
5. Objetivo (informar apenas um ou especificar em que área deseja atuar);
6. Qualificações (características comportamentais e conhecimentos que permitam a você ocupar
o cargo pretendido);
7. Formação (constando nome do curso, nome da instituição, previsão de término (mês/ano) ou
informar quando concluiu. Não informar o Ensino Fundamental.);
8. Experiência Profissional (da mais recente para a anterior): informar a razão social da empresa,
o cargo ocupado (conforme registro na CTPS), ano de ingresso e ano de saída (ou “atual”,
caso não tenha se desligado da empresa), se quiser, pode informar brevemente as atividades
desenvolvidas (Atenção: se não tiver experiência, não cite este item no currículo);
9. Cursos Extracurriculares (sempre do mais recente para o mais antigo, não esqueça de informar
o nome do curso, o nome da instituição, a carga horária (quantidade de horas (ou meses) total),
a previsão de término (mês/ano) ou informar quando concluiu o curso (mês/ano))
10. Outras informações (experiências vivenciadas por você, viagens, trabalho voluntário etc.)
Proposta 1 – CURRÍCULO
Após orientações sobre elaboração de currículo, redija o seu, encaminhando-o à vaga de seu
interesse.
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9.2 CARTA COMERCIAL
Entre os documentos abarcados pela correspondência, destaca-se a carta comercial.
Os elementos de uma carta comercial são: timbre, índice e número, local e data, referência,
vocativo, texto, cumprimento final, assinatura, anexo iniciais do redator e do digitador (secretária,
datilógrafo), cópia.
Veja o exemplo a seguir:
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TIMBRE
ÍNDICE E NÚMERO
LOCAL E DATA
REFERÊNCIA
VOCATIVO
TEXTO
CUMPRIMENTO FINAL
ASSINATURA
ANEXO
INICIAIS DO REDATOR E DATILÓGRAFO
CÓPIA
Atualmente, o que podemos notar, é que cada vez mais a carta vem sendo substituída pelo email. Portanto, podemos considerar que a mensagem eletrônica passou a ser adotada também como
uma redação oficial.
Proposta 2 – CARTA COMERCIAL
Suponha que você trabalha na empresa Eletron S.A., especializada em artigos eletrônicos. Foi
solicitado a você que redigisse uma carga à empresa À Jato Ltda.(responsável pelos serviços de
entrega prestados a sua empresa) agradecendo pelos serviços prestados.
Espera-se que você utilize linguagem formal e os elementos: local e data, nome da empresa (ou
pessoa) a quem a carta se destina, desenvolvimento do assunto, fecho e assinatura do remetente.
9.3 MENSAGEM ELETRÔNICA (e-mail)
A mensagem eletrônica é como outra qualquer mensagem escrita. Requer os mesmos cuidados
de clareza, simplicidade, coerência, coesão entre as ideias, precisão. Ao redigir um e-mail, o redator
ocupa-se em dar resposta aos seguintes elementos: o que (o objeto do texto, da comunicação), para
quem (quem receberá a mensagem), para que (objetivo da comunicação), quando ocorreu o fato, ou
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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a data em que deve ficar pronto um produto, por exemplo, como o leitor deve proceder, como foram
realizados os trabalhos, por exemplo, e por que se está comunicado, por que ocorreu determinado
fato, por exemplo.
Além desse cuidado com a precisão da informação, o redator deve considerar aspectos
relativos à persuasão: com gentileza poderá alcançar melhores resultados do que com rispidez. Assim,
nunca é demais um por favor, por gentileza, queira por gentileza, muito obrigado, obrigado por sua
atenção, desculpe-nos por... queira por gentileza desculpar...
A preocupação em escrever abreviadamente nos e-mails não se justifica, e deve ser evitada.
Muitas pessoas que escrevem e-mail acreditam que o efeito de sua mensagem está no número de
abreviaturas que utiliza (vc = você; rs = risos; bjs = beijos; msg = mensagem; p.s. = pós-escrito, pq =
porque; tb ou tbm = também). A tela está toda à frente do redator. Não deve, porém, escrever 30 linhas
se a mensagem suficiente comporta apenas 3 para que as ideias fiquem claras.
Ao final do texto, é recomendável colocar o nome e sobrenome, para que o interlocutor possa
identificar quem escreveu o e-mail.
Proposta 3 – E-MAIL
Imagine que você, sem perceber, comprou um produto defeituoso. Elabore um e-mail queixando-se
ao fabricante e requerendo a substituição do produto. É importante fornecer todas as informações
sobre o produto (local onde comprou, quando comprou, modelo do produto, defeito apresentado, etc.).
A linguagem deve ser formal. Lembre-se de empregar corretamente os pronomes de tratamento e bons
argumentos para conseguir convencer o seu interlocutor. Seu texto deve ter, no mínimo, 15 linhas.
9.4 RELATÓRIO
O relatório é um documento em que são registrados os resultados de uma experiência, de um
procedimento ou de uma ocorrência. Pode ser mais simples ou mais complexo, dependendo do que vai
ser registrado ou da sua intenção. A linguagem é clara, objetiva e concisa e, em geral, segue os
padrões da norma culta. O relatório pode ser usado em ambientes de estudo e também de trabalho.
Um relatório pode apresentar as seguintes partes:
- Título: objetivo e sintético
- Remetente / Destinatário
- Objetivo: introdução ao tema, ao objetivo do trabalho
- Referências (obras, sites, fontes consultadas)
- Texto principal: desenvolvimento do relatório
- Conclusões: resumo, resultados, constatações
- Assinatura
Veja o exemplo abaixo:
Reprodução Assexuada
De: Grupo 5
Para: Professora de Química
Objetivo: Registro de experiência para comprovação de reprodução assexuada
Referências: CANTO, Eduardo Leite de. Ciências Naturais – aprendendo com o cotidiano.
São Paulo: Moderna, 1999.
Experimento:
1º Em 24 de abril de 2011, selecionamos uma batata com várias gemas.
2º Cortamos pedaços dessa batata, com uma gema em cada um deles, e os enterramos
separadamente em terra fértil e regada.
3º Após algumas semanas, um pé de batata desenvolveu-se a partir de cada pedaço plantado.
Conclusão: Constatamos a reprodução assexuada caracterizada por divisões celulares a partir
de um único “indivíduo” e pela formação de descendentes geneticamente idênticos àquele que
os originou.
Grupo 5
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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Proposta 4 – RELATÓRIO
Examine a sua sala de aula e verifique se há consertos a serem realizados ou a necessidade de
alguma reforma. Elabore um relatório, com no mínimo 25 linhas, registrando os resultados da
inspeção. Justifique com explicações a requisição de conserto ou sugestão de reforma. Lembre-se de
seguir a norma culta e criar um título. Observe o modelo acima.
9.5 ATA
A Ata é um registro em que se relata pormenorizadamente o que se passou em uma reunião,
assembleia ou convenção. Uma de suas características é que a ata deve ser assinada pelos participantes
da reunião em alguns casos (conforme estatuto da empresa), pelo presidente ou secretário, sempre.
Logo após, a ata deve ser lavrada.
Proposta 5 – ATA DE REUNIÃO
Reúna-se com alguns colegas para redigir uma ata de reunião. Imaginem que vocês trabalham em
uma empresa que tem grande número de acidentes causados pelas péssimas condições de trabalho e
pela falta de uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) por parte dos funcionários. Redija
uma ata informando os problemas apresentados e as medidas adotadas para mudar a postura da
empresa, conscientizar os funcionários e solucionar a situação.
9.6 REQUERIMENTO
Antes de nos inteirarmos mais do assunto em questão, seria interessante analisarmos
literalmente a palavra requerimento: Requerimento deriva-se do verbo requerer, que, de acordo com
seu sentido significa solicitar, pedir, estar em busca de algo. E principalmente, que o pedido seja
deferido, ou seja, aprovado.
Podemos fazer um requerimento a um órgão público, a um colégio e a uma infinidade de
outros destinatários.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Ilmo. Sr. Diretor da ETEC Lauro Gomes
(Nome da pessoa que solicita o requerimento), aluna regularmente matriculada no
segundo semestre do ensino técnico, no curso Técnico em Secretariado, vem
respeitosamente solicitar a V. Sª a expedição dos documentos necessários à sua
transferência para outro estabelecimento de ensino.
Nestes termos, pede deferimento.
(Local e data)
(Assinatura)
Proposta 6 – REQUERIMENTO
Imagine que você ingressou em uma faculdade particular muito conceituada, porém não pode arcar
com o valor da mensalidade. Redija um requerimento ao Serviço Social solicitando uma bolsa de
estudos parcial ou integral. Não esqueça de fornecer seus dados.
9.7 DECLARAÇÃO
Declaração é prova escrita, documento, depoimento, explicação. Nela se manifesta opinião,
conceito, resolução ou observação.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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Proposta 7 – DECLARAÇÃO
Imagine que um colega de curso conseguiu um estágio técnico em uma empresa, e esta pediu uma
declaração da ETEC informando que este aluno está regularmente matriculado no curso. Como a
secretaria redigiria esta declaração?
9.8 OFÍCIO
É a forma de correspondência oficial trocada entre chefes ou dirigentes de hierarquia
equivalente ou enviada a alguém de hierarquia superior à daquele que assina. Tem como finalidade o
tratamento de assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e também com
particulares. Circula entre Agentes Públicos ou entre um Agente Público e um Particular. A linguagem
deve ser formal sem ser rebuscada, pois a finalidade é informar com o máximo de clareza e precisão,
utilizando-se o padrão culto da língua.
Quando o ofício tiver mais que uma página, como este, a continuação se dará na página
seguinte, com o fecho e a assinatura. O destinatário e o endereçamento ficam sempre na primeira
página.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Proposta 8 – OFÍCIO
Suponha que a organização onde você trabalha promoverá uma SIPAT (Semana Interna de
Prevenção de Acidentes no Trabalho), com palestras para conscientização dos funcionários visando à
prevenção de acidentes, porém o espaço disponível na empresa não comporta todos os funcionários.
Redija um ofício à Prefeitura de São Bernardo do Campo solicitando um espaço para a realização
das palestras.
9.9 MEMORANDO
Na linguagem comercial, significa a nota ou comunicação ligeira entre departamentos de uma
mesma empresa, ou entre a matriz e suas filiais e vice-versa, ou entre as filiais. É conhecido também
como Comunicado Interno (CI). O memorando pode ainda indicar um livro de apontamentos, ou
notas, com a finalidade de registrar fatos ou lembretes.
Proposta 9 – MEMORANDO
O chefe do Departamento Pessoal de uma empresa precisa redigir um memorando que
comunique a decisão da diretoria de suspender as horas extras dos funcionários da linha de produção
(horistas).
Como este memorando deverá ser redigido? Escreva-o.
9.10 CIRCULAR
A circular caracteriza-se como uma comunicação (carta, manifesto ou ofício) que, reproduzida
em muitos exemplares, é dirigida a várias pessoas ou a um órgão. Serve para transmitir avisos, ordens
ou instruções. Em geral, contém assunto de interesse geral.
Tratando-se de carta-circular, o redator deve escrever de maneira que o receptor tenha a
impressão de que foi redigida especialmente para ele.
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Proposta 10 – CIRCULAR
Imagine que você é síndico de um condomínio e está recebendo muitas reclamações dos
condôminos a respeito dos moradores que têm animal de estimação e fazem barulho e suas
necessidades dentro do condomínio. Escreva uma circular informando as medidas tomadas por você
para solucionar o problema.
9.11 PROTOCOLO
Protocolo, na Antiguidade, significava a primeira folha que se colocava aos rolos de papiro,
com um resumo do conteúdo do texto manuscrito. Hoje, comercialmente, é assim denominado um
livro de registro da correspondência de uma empresa, ou um formulário em que se registra saída ou
entrada de objetos / documentos.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Proposta 11 – PROTOCOLO
Pense que você foi admitido numa empresa e o RH solicitou uma série de cópias de documentos
pessoais seus para a admissão. Redija um protocolo dos documentos entregues por você ao gerente de
RH da empresa.
9.12 RECIBO
Significa o documento em que se confessa ou se declara o recebimento de algo. Normalmente,
é um escrito particular. Alguns tipos de recibo: recibo de pagamento (indica quitação do pagamento de
uma dívida, em sua totalidade ou parcialmente); recibo por conta (sempre parcial); recibo por saldo
(indica uma quitação referente a todas as transações até sua data).
Proposta 12 – RECIBO
Se você fosse o gerente de RH da empresa da proposta anterior, como escreveria o recibo das
cópias dos documentos?
9.13 ATESTADO
Atestado é a declaração, o documento firmado por uma autoridade em favor de alguém ou
algum fato de que se tenha conhecimento. É um documento oficial com que se certifica, afirma,
assegura, demonstra alguma coisa que interessa a outrem.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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Proposta 13 – ATESTADO
Imagine que você é encarregado em uma empresa e um dos seus funcionários será promovido e
ocupará um cargo em outra área. Redija um atestado informando que o funcionário está apto a exercer
a função.
9.14 AVISO
O aviso caracteriza-se como informação, comunicado de uma pessoa para outra(s). É
empregado no comércio, na indústria, no serviço público e na rede bancária. Serve para ordenar,
cientificar, prevenir, noticiar, convidar. Uma forma conhecida de aviso é aquele em que o empregado
ou empregador comunica a rescisão do contrato de trabalho e que se constitui no chamado aviso
prévio.
Como uma das principais funções do aviso é comunicar com eficácia, advindo daí economia
de tempo, favorecem a consecução desse objetivo o texto breve e a linguagem clara.
Proposta 14 – AVISO
A empresa onde você trabalha dará férias coletivas a todos os funcionários. Como esse aviso deverá
ser redigido? Escreva-o.
9.15 EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS MAIS UTILIZADAS
Expressão
A PRIORI
ASAP (As Soon As
Possible)
BRAINSTORM
BUSINESS
CASE
FEELING
FULL TIME
IN LOCO
KNOW HOW
MIX
SUPLLY CHAIN
TURN OVER
Significado
O que precede
O mais rápido possível
Tempestade de ideias
Negócio
Caso exemplar
Tato, faro
O tempo todo
No local
Tecnologia / conhecimento
técnico
Conjunto de itens
Rede de fornecedores
Rotatividade de mão de obra
Expressão
A POSTERIORI
BREAK-EVENPOINT
BREAK DOWN
BUY OFF
FEEDBACK
FOLLOW-UP
GAP
JOINT VENTURE
MARKET SHARE
Significado
O que vem depois
Ponto de equilíbrio do custo de um
determinado produto
Parada / quebra
Controle de entrada, controle interno,
controle de produtos
Retorno / resposta
Acompanhamento
Intervalo, defasagem
Associação de empresas
Participação de mercado
STAND BY
TARGET
TRADE
Dar apoio / esperar
Meta, limite, parâmetro
Comércio, negócio
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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Proposta 15 – EXPRESSÕES ESTRANGEIRAS UTILIZADAS
Imagine que você é gerente de uma empresa. Escreva aos seus clientes um e-mail falando a respeito
dos serviços (ou produtos) oferecidos pela empresa, enfocando as vantagens do cliente ao optar pelos
serviços (ou produtos) oferecidos por ela. Utilize no seu texto pelo menos cinco expressões
estrangeiras.
9.16 CARTA PESSOAL
A carta é um gênero textual que visa à comunicação escrita e pode ser de diversos tipos: carta
familiar, carta pessoal, de agradecimento, de reclamação, de amor etc. Em todas, o que se pretende é
estabelecer um diálogo entre o remetente e o destinatário. Compõem a carta os seguintes elementos:
local e data, vocativo, texto, desfecho, despedida, assinatura.
Proposta 16 – CARTA PESSOAL
Redija uma carta pessoal à sua professora, comentando o desempenho do semestre, sugerindo
melhorias, apontando aspectos positivos e negativos, o que poderia ser melhorado, o que favoreceu
seu aprendizado, o que dificultou o andamento das aulas, enfim: avalie este semestre.
Entregue-a à professora!
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
43
10 MORFOLOGIA - REVISÃO
Dependendo de estar sozinha ou constituindo frases, a palavra pode ser estudada quanto à sua
classe gramatical (morfologia) e quanto à sua função sintática.
Classe gramatical (ou classificação morfológica): quando se considera a palavra isoladamente, fora
da frase, fora de um contexto.
Exemplo:
crianças = classe gramatical – substantivo
não = classe gramatical – advérbio
Função sintática: quando se considera a palavra na frase, isto é, relacionada a outras palavras,
formando um todo significativo.
Exemplo:
Crianças não brincaram na rua hoje.
crianças = função sintática – sujeito
não = função sintática – adjunto adverbial de negação
Note que quando a palavra está sozinha, isolada, ela só tem classe gramatical, mas na frase ela
apresenta, ao mesmo tempo, classe gramatical e função sintática.
As possíveis classes gramaticais e funções sintáticas de uma palavra são:
CLASSES GRAMATICAIS
Substantivo
Verbo
Artigo
Advérbio
Adjetivo
Preposição
Pronome
Conjunção
Numeral
Interjeição
FUNÇÕES SINTÁTICAS
Sujeito
Adjunto adnominal
Objeto direto
Predicativo
Objeto indireto
Complemento nominal
Adjunto adverbial
Aposto
Agente da passiva
vocativo
Vamos ver, resumidamente, as dez classes gramaticais:
SUBSTANTIVO – é a palavra com que damos nomes aos seres em geral.
- Concretos (lua, Ceará, alma) e abstratos (vida, fome, medo)
- Comuns (rio, menino) e próprios (Campinas, Sônia)
- Coletivos (arquipélago – ilhas, legião – soldados, matilha – cães de caça)
- Primitivos (mal) e derivados (maldade)
- Simples (campo, guarda) e compostos (pontapé, guarda-noturno)
Ex.: Aquelas duas cidades pequenas serão inundadas. (substantivo concreto e comum)
O rebanho está sendo cuidado pelo pastor. (substantivo concreto e coletivo (bois, ovelhas etc.))
O substantivo varia em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e grau
(aumentativo e diminutivo).
ARTIGO – é a palavra que se coloca antes de substantivos para defini-los ou indefini-los.
- Definidos: o, a, os, as
- Indefinidos: um, uma, uns, umas
Ex.: Entre o viver e o morrer existe uma imensa porta.
ADJETIVO – é a palavra que tem por função expressar características, qualidades, estados etc. do
substantivo.
Ex.: Nesta cidade pequena há um barco antigo.
O adjetivo varia em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e grau (comparativo
e superlativo).
NUMERAL – é toda palavra que indica quantidade, posição numa série, múltiplo ou fração.
- Cardinal: um, dois, três, mil
- Ordinal: segundo, quarto, décimo
- Multiplicativo: dobro, triplo
- Fracionário: metade, dois quintos
Autora: Lucivânia A. S. Perico
44
PRONOME – é a palavra que serve para substituir um substantivo (nome) ou acompanhar o
substantivo, definindo-lhe os limites de significação.
Ex.: Meu irmão comprou um livro, mas não o leu.
meu = pronome que acompanha o substantivo irmão
o = pronome que substitui o substantivo livro
1ª
2ª
3ª
1ª
2ª
3ª
Caso Reto
eu
tu
ele(a)
nós
vós
eles(as)
Pessoais
Caso Oblíquo
me, mim, comigo
te, ti, contigo
se, si, consigo, o, a, lhe
nos, conosco
vos, convosco
se, si, consigo, os, as, lhes
Possessivos
meu(s), minha(s)
teu(s), tua(s)
seu(s), sua(s)
nosso(s), nossa(s)
vosso(s), vossa(s)
seu(s), sua(s)
- Tratamento: são determinadas palavras que equivalem a pronomes pessoais. Os pronomes
de tratamento mais usados são:
Pronome
Vossa Alteza
Vossa Eminência
Vossa Excelência
Vossa Majestade
Vossa Santidade
Vossa Senhoria
Abreviatura
V. A.
V. Ema.
V. Exa.
V. M.
V. S.
V. Sa.
- Demonstrativos:
Tratamento usado para:
Príncipes, duques
Cardeais
Altas autoridades civis e militares
Reis, imperadores
Papas
Pessoas graduadas em geral
este(s), esta(s) – indicam o que está perto de quem fala
esse(s), essa(s) – indicam o que está perto de quem ouve
aquele(s), aquela(s) – indicam o que está longe de quem fala e ouve
- Indefinidos: algum(a), nenhum(a), todo(a), outro(a), muito(a), pouco(a), certo(a), qualquer,
alguém, ninguém, algo.
- Relativos: que, qual, quem, onde, cujo
Os relativos referem-se a um substantivo anterior a eles, substituindo-o na oração seguinte, e
devem ser usados adequadamente.
Onde – refere-se apenas a lugares
Quando – refere-se a tempo
Quanto – refere-se a valores, números, quantidades
- Interrogativos: que, quem, qual, quanto
VERBO – é a palavra que, por si só, indica um fato (em geral, ação, estado ou fenômeno da natureza)
e situa-o no tempo.
Ex.: O animal ficará furioso nessa jaula.
Naquela região chove diariamente.
ADVÉRBIO – é a palavra que modifica o verbo, o adjetivo ou outro advérbio.
Advérbio de tempo (hoje, ontem, sempre, brevemente, agora), de lugar (aqui, longe, perto,
acima, abaixo, lá), de modo (rapidamente, lentamente, mal), de dúvida (talvez, possivelmente, acaso),
de intensidade (muito, pouco, tão, bastante, demais), de negação (não, jamais), de afirmação (sim,
certamente).
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
45
PREPOSIÇÃO – é a palavra que liga outras, estabelecendo entre elas certas relações de sentido e de
dependência:
- Essenciais – só funcionam como preposição: a, com, em, por, ante, contra, entre, sem, após, de,
para, sob, trás, desde, perante, sobre,
- Acidentais – palavras de outras classes gramaticais que, em certas frases, funcionam como
preposição: conforme, como, mediante, segundo, durante, visto etc.
Ex.: A praça foi enfeitada para a festa.
CONJUNÇÃO – é a palavra que tem por função básica ligar duas orações: e, mas, que etc.
Ex.: Faz sol, mas está frio.
Ninguém sabe que ele está doente.
INTERJEIÇÃO – é toda palavra ou expressão usada para exprimir, de forma intensa, viva e
instantânea, nossos estados emocionais: Ah! Oh! Viva! Ai! Oi! Olá! Alô! etc.
EXERCÍCIOS
(Aprender e praticar gramática–pág.83,84,93,105,132,179)
1.Considerando que há substantivos que têm
um sentido no singular e outro, diferente, no
plural, explique essa diferença em relação às
palavras destacadas na frase abaixo:
“Onde não se preza a honra se desprezam as
honras.” (Marquês de Maricá)
2.Analise a seguinte frase de propaganda:
“Para entrar na faculdade que você
escolheu, não faça um cursinho. Faça um
cursão. Matricule-se no (...)”
Fazendo uma interpretação comparativa do
emprego de “cursinho” e “cursão”, explique a
intenção do criador da frase ao usar essas duas
formas.
3.Leia o trecho abaixo, retirado do romance “O
retrato”, de Érico Veríssimo:
(...) Comecei a examinar a cara do homem pelo
espelho. Ele viu que eu estava olhando e
perguntou: “Sabe quem sou eu?” Respondi que
não. E o homem: “Me chamo Silvino Neves,
mas me tratam por Dente Seco”.
- E tu, que disseste? [perguntou Rodrigo]
- Ora, eu fiquei mais pra lá que mais pra cá,
e achei melhor dizer que já conhecia ele de
nome. Ensaboei a cara e indaguei assim com ar
de quem não quer nada: “Ainda que mal
pergunte, que é que o patrício anda fazendo por
estas bandas?” E tu sabes o que foi que ele
respondeu: “Vim fazer um servicinho por
coronel Trindade”. Comecei a passar a navalha
no assentador. “Que servicinho?” E ele, mais
que depressa: “Dar um susto nuns mocinhos
bonitos”. E meio que riu. Quando eu já estava
barbeando o bandido (...)
Explique qual foi a intenção de Dente Seco
ao usar os diminutivos “servicinho” e
“mocinhos”.
4.(E.E. Mauá-SP) A manhã era linda. (A
borboleta) veio por ali, modesta e negra,
espairecendo as suas borboletices, sob a vasta
cúpula de um céu azul, que é azul para todas
as asas. Passa pela minha cabeça, entra e dá
comigo. Suponho que nunca teria visto um
homem, não sabia, portanto, o que era o
homem; descreveu infinitas voltas...
(Machado de Assis)
Qual a diferença de sentido da palavra
“homem” na frase destacada acima?
5.(Esc.Fed. Eng. Itajubá-MG) Dê os adjetivos
correspondentes a cada substantivo abaixo:
Exemplo: céu – celeste
a) sorriso
b) alegria
c) mão
d) rito
e) vida
e) dedo
6.Considerando que certos adjetivos têm
sentidos diferentes se colocados antes ou
depois do substantivo, explique a diferença de
sentido entre as frases:
a) Ele é um falso advogado.
Ele é um advogado falso.
b) Aquele goleiro é um grande jogador.
Aquele goleiro é um jogador grande.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
46
7.Na frase: “Seu amigo, apesar de rico, só
almoça em restaurantes de segunda classe.”
A palavra destacada, embora tenha forma de
um numeral ordinal, perde, no contexto da
frase, o sentido ordinal. Procure explicar qual
foi a intenção do falante ao utilizar a referida
palavra.
8.Classifique os pronomes destacados nos
versos abaixo:
“Do Caeté a Vila Rica,
tudo ouro e cobre!
o que é nosso, vão levando...
E o povo aqui sempre pobre!”
(Cecília Meireles)
a) tudo
b) que
c) o
9.Reúna cada par de frase abaixo em um único
período, substituindo por um pronome relativo
o termo destacado na segunda oração.
a) Eu assisti ao filme. Você gosta do filme.
b) Eu irei à cidade. Você nasceu nessa cidade.
c) Você confia em muitas pessoas. Eu não
concordo com essas pessoas.
d) Este é o escritor. Os livros desse escritor
fazem muito sucesso.
e) Não mataram a cobra. Por essa cobra o
garoto foi picado.
10.(Unicamp) No texto abaixo, ocorre uma
forma que é inadequada em contextos mais
formais, especialmente na escrita.
“Lula e Meneguelli divergem sobre o pacto.
Concordam em negociar, mas Lula só aprova
um acordo se o governo retirar a medida
provisória dos salários, suspender os vetos à lei
da Previdência e repor perdas salariais.”
(Folha de São Paulo, 21/09/90)
Indique a forma inadequada e reescreva o
trecho em que ocorre, de modo à adequá-lo à
modalidade escrita.
11.Observe as frases abaixo:
I-Os visitantes devem ser conduzidos ao ônibus.
II-Os visitantes devem ser conduzidos no
ônibus.
a)Explique a diferença de sentidos entre as
frases.
b) Que termo empregado estabelece esta
diferença de sentido?
10.1 SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS
Completando nossos estudos morfológicos,
vale comentar a respeito da significação das
palavras. O falante que tem domínio da língua
deve ter um vocabulário amplo.
SINÔNIMOS: palavras que apresentam, entre
si, significados iguais ou aproximadamente
iguais.
Ex.: surgir = aparecer / língua = idioma
ANTÔNIMOS: palavras que apresentam, entre
si, significados opostos.
Ex.: começar x terminar / falso x verdadeiro
HOMÔNIMOS: palavras iguais na forma
(pronúncia ou grafia), mas diferentes no
significado. Os homônimos podem ser:
- Homônimos Homógrafos: iguais na grafia,
mas diferentes na pronúncia e no significado.
Ex.: governo (/ê/ substantivo) / (/é/ verbo)
O seu governo é justo. /ê/
Eu governo com justiça. /é/
No tempo da seca /ê/, o rio seca /é/.
- Homônimos Homófonos: iguais na pronúncia,
mas diferentes na grafia e no significado.
Ex.: cheque (de banco)-xeque (lance do xadrez)
concerto (de música)-conserto (de manutenção)
PARÔNIMOS: palavras semelhantes na forma
(pronuncia e grafia), mas diferentes no
significado.
Ex.: mandado (ordem judicial)
mandato (tempo de um político no cargo)
diferir (diferenciar) - deferir (aceitar)
emergir (vir à tona) - imergir (afundar)
sessão (reunião)
seção (departamento, setor, área, divisão)
cessão (ceder)
E para finalizar, uma historinha que dizem
ser verdadeira:
“Um certo comerciante (não importa a
nacionalidade) escreveu um cartaz e afixou na
porta da sua padaria:
‘AOS MEUS EMPREGADOS. A PARTIR
DE HOJE, QUERO AS NOSSAS PORTAS
SERRADAS ÀS 18h’.
Foi atendido. No dia seguinte, ao chegar à
loja, encontrou todas as portas pela metade.”
12.O que estava errado na mensagem?
13.Qual a importância de escrever corretamente
as palavras?
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
47
11 SINTAXE – REVISÃO
CONSTITUINTES BÁSICOS DA ORAÇÃO
Simples: é aquele que tem um único núcleo.
Ex.: As meninas sorriram.
Composto: é aquele que apresenta mais de um núcleo.
Ex.: O prazer e o sofrer são riscos do amor.
Indeterminado: ocorre quando não é possível identificar quem praticou a ação
(identifica-se por verbo na 3ª pessoa do plural ou verbo na 3ª pessoa do singular +se)
Ex.: Roubaram a bolsa daquela mulher.
Precisa-se de mão de obra especializada.
Oculto (sujeito elíptico ou desinencial): é determinado pela desinência verbal e não
aparece explícito na frase.
Ex.: Estamos sempre alertas para com os aumentos abusivos de preços. (sujeito: nós)
Inexistente (oração sem sujeito): é designado por verbos que não correspondem a
fenômeno da natureza, haver no sentido de existir, fazer indicando tempo ou clima.
Ex.: Choveu na Argentina e fez sol no Brasil.
Houve um grave acidente na avenida principal.
Faz meses que não a vejo.
PREDICADO Verbal: é aquele que tem como núcleo significativo um verbo.
Ex.: A noite esfriou.
Nominal: é aquele que tem como núcleo um nome, que constitui um predicativo do
sujeito. Funciona como elemento de ligação (verbo de ligação) entre sujeito e
predicado.
Ex.: Ele parece uma estátua.
Verbo-nominal: é aquele que apresenta dois núcleos significativos: um verbo e um
nome.
Ex.: Joaquim voltou machucado.
O juiz declarou o réu inocente.
TERMOS COMPLEMENTARES E AUXILIARES RELACIONADOS A UM NÚCLEO NOMINAL
Adjunto adnominal: é o termo que determina, especifica ou delimita o significado de um substantivo.
Ex.: A quente tarde despencava no horizonte.
Aposto: é o termo da oração que se relaciona a um nome para explicá-lo ou esclarecê-lo.
Ex.: Recife, terra do frevo, está quente.
Complemento nominal: é o termo que completa o sentido de um nome (substantivo, adjetivo ou
advérbio). O complemento nominal vem sempre regido por preposição.
Ex.: A água é necessária à vida.
TERMOS COMPLEMENTARES E AUXILIARES RELACIONADOS A UM NÚCLEO VERBAL
Objeto direto: é o complemento do verbo transitivo direto. Na voz ativa, é o ser sobre o qual recai a
ação verbal. Geralmente, o objeto direto não vem regido por preposição.
Ex.: Comprou um lindo chapéu.
Eu a conheci no baile.
Objeto indireto: é o complemento do verbo transitivo indireto. Vem sempre regido por preposição.
Ex.: Gosto de cinema.
Pediram-lhe explicações.
Agente da passiva: designa o ser que pratica a ação. O agente da passiva vem sempre regido por
preposição.
Ex.: A natureza foi desprezada pelo homem.
Adjunto Adverbial: é o termo que indica uma circunstância do verbo, ou intensifica o sentido de um
adjetivo, verbo ou outro advérbio.
Ex.: Domingo, brincaremos na cidade.
É um filme muito interessante!
VOCATIVO
Vocativo: É um termo independente que serve para chamar, invocar, interpelar um ouvinte real ou
hipotético.
Ex.: Quantos anos você tem, Janaína?
SUJEITO
Autora: Lucivânia A. S. Perico
48
EXERCÍCIOS
1. Observe atentamente as frases abaixo:
I – Cantavam harmoniosamente as crianças.
II – As crianças brincavam felizes.
a) Indique a função sintática exercida pelos termos
destacados nas duas frases.
b) Identifique o tipo de predicado presente em cada
uma delas.
4. Observe as orações abaixo:
I – Naquela época já não lhe restavam esperanças.
II – Tirou da bolsa um pãozinho e cortou-o
em dois.
III – Pouco nos importa que ele vá embora.
IV – Tenho certeza de que ela ainda te ama.
Os pronomes oblíquos destacados são:
2. Observe o verbo destacado nas duas frases:
I – Ando muito distraída ultimamente.
II – Nunca andei tanto para chegar a algum lugar.
a) O verbo destacado classifica-se da mesma forma
nas duas orações? Justifique sua resposta.
b) Considerando a classificação do verbo em
destaque nas duas orações, identifique o tipo de
predicado existente em cada uma delas.
a. ( ) Obj. Indireto / Obj. Direto / Obj. Direto / Obj.
Indireto
b. ( ) Obj. Direto / Obj. Direto / Obj. Indireto / Obj.
Direto
c. ( ) Obj. Indireto / Obj. Direto / Obj. Indireto /
Obj. Direto
d. ( ) Obj. Direto / Obj. Direto / Obj. Indireto / Obj.
Indireto
e. ( ) Nenhuma das respostas acima
3. Dê a função sintática dos termos destacados.
a) Os dois estavam lá dentro conversando
longamente.
b) Na hora de pagar a conta foi que dei por falta da
minha carteira.
c) Pela minha cabeça passavam, em retrocesso, os
acontecimentos do dia.
d) O famoso cantor via-se, agora, completamente
esquecido pelos fãs.
5. (Fac. Med. Pouso Alegre-MG) Assinale a
alternativa em que o verbo destacado não é de
ligação:
a) A criança estava com fome.
b) Pedro parece adoentado.
c) Ele tem andado confuso.
d) Ficou em casa o dia todo.
e) A jovem continua sonhadora.
O homem que se endereçou
(NICOLA, José de. Português: Ensino Médio – Volume 3. 1ª edição. São Paulo, Scipione, 2005.- pág.48 a 51)
Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua Treze, nº21.
Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde a
empregada colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa,
percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao
DCT, foi colocado numa prateleira. Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou,
devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas,
empoeiradas. Sentiu, então, com terror, que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si
mesmo.
(BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem do furo na mão & outras histórias)
Na mitologia, Narciso é o nome do belo personagem que morre por não conseguir afastar os olhos da própria imagem
refletida na água.
6.Considere a oração: “Apanhou o envelope”.
a) Aponte o sujeito e o predicado. Classifique-os.
b) Qual a função sintática de “o envelope”? Analise a função de cada palavra.
7.Considere a frase: “Narciso, rua Treze, nº21.”
Temos, acima, um exemplo de aposto de especificação (o aposto aparece ligado ao substantivo diretamente,
sem pontuação indicando pausa). Aponte-o.
8.Considere a seguinte frase: “Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso...”
a) Dê a função sintática de “Diante de uma casa”.
b) Aponte o sujeito. Classifique-o.
c) Classifique a forma verbal percebeu quanto a sua transitividade. No caso de pedir um complemento,
aponte-o.
9.Classifique o predicado da oração: “O funcionário parou indeciso”.
10.Analise todos os termos da oração: “Entregou a carta empoeirada”.
11.Analise todos os termos da oração: “A carta ficou empoeirada”.
12.Passe para a voz passiva: “O carteiro colocou a carta na prateleira”.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
49
12 REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL - REVISÃO
Regência Nominal é a denominação que se dá à relação particular que se estabelece entre
substantivos, adjetivos e determinados advérbios e seus respectivos complementos nominais. Essa
relação, em geral, vem marcada por uma preposição.
Leia a frase abaixo, observando o que há de inadequado nela.
Ele tem medo fantasmas.
É fácil notar que nela está faltando a preposição de. Essa preposição é regida, ou seja, exigida pela
palavra medo (ter medo de) e estabelece a relação entre medo e fantasmas.
A frase correta é: Ele tem medo de fantasmas.
Como a palavra medo é um nome, dizemos que aí está ocorrendo um caso de regência nominal.
Abaixo temos uma lista de nomes que costumam vir acompanhados de um complemento nominal e
que exigem o uso de determinadas preposições. Muitos dos nomes aqui apresentados têm exatamente
a mesma regência dos verbos dos quais são derivados. Nesses casos, quando você aprender a regência
do verbo, estará automaticamente aprendendo a regência do nome cognato. É o que ocorre, por
exemplo, com “obedecer” e “obediência”. Na lista a seguir, você encontrará, relacionada ao nome
“obediência”, a preposição a. A preposição é a mesma exigida pelo verbo “obedecer”.
adepto a
contente com, por, de
inofensivo a, para
simpatia a, por
alheio a
desprezo a, por
junto a, de, com
tendência a, para
ansioso para, por, de
digno de
livre de
união com, entre, a
apto a, para
favorável a
paralelo a
vazio de
aversão a, por
feliz de, por, em, com
próximo a, de
vizinho a, com, de
ciente de
imune a, de
referente a
composto por, de
indiferente a
relativo a
Mais alguns nomes e as preposições que comumente eles exigem:
• acessível, adequado, desfavorável, equivalente, insensível, obediente: a
• capaz, incapaz, digno, indigno, passível, contemporâneo: de
• amoroso, compatível, cruel, cuidadoso, descontente: com
• entendido, indeciso, lento, morador, hábil: em
• inútil, incapaz, bom: para
• responsável: por
Regência Verbal é a denominação que se dá à relação particular que se estabelece entre verbos e
seus respectivos complementos (objetos diretos e indiretos). Essa relação vem sempre marcada por
uma preposição, no caso dos objetos indiretos.
A regência verbal estuda a relação correta (no sentido prescritivo) que se estabelece entre o verbo
(termo regente) e seu complemento ou seu adjunto (termo regido).
Exemplo:
Todos criticam o projeto
VTD
OD
O verbo criticar exige (rege) objeto direto (OD).
Exemplo:
Todos desconfiam de você.
VTI
OI
Neste segundo exemplo, o verbo desconfiar exige (rege) objeto indireto (OI) iniciado pela
preposição de.
Para o estudo da regência verbal é conveniente lembrar:
1.Objeto direto: complemento verbal sem preposição.
2.Objeto indireto: complemento verbal com preposição.
3.Pronome oblíquos o(s), a(s): funcionam somente como objeto direto.
Ex.: Critiquei sua atitude. Critiquei-a.
4.Pronome oblíquo lhe(s): funciona sempre como objeto indireto.
Ex.: O filme agradou ao críticos. O filme agradou-lhes.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
50
Regência de alguns verbos
(Com algumas modificações, a presente tabela foi extraída do livro Língua Portuguesa: noções básicas para cursos
superiores, de Maria Margarida de Andrade e Antônio Henriques, São Paulo: Atlas Editora, 1991.)
1. Verbos com variação de regência e sem variação de significado
Verbos - exemplos
sentido
Casar
"Vai casar?" ( Machado de Assis)
Desposar / unir-se / ligar-se / harmonizar-se
regência
intransitivo
"...minha ideia é que os homens deviam
casar com senhoras viúvas." (Machado de
Assis)
idem
transitivo indireto
" Titia não quer casar antes dos vinte."
(Machado de Assis)
idem
transitivo indireto
"...o seu temperamento casava-se bem à
vertigem das cargas..." (Euclides da Cunha )
idem
transitivo direto e
indireto
Esquecer
" Mas a mãe nunca pudera esquecer a tribo ,
e chorava." (Cecília Meireles)
perder a lembrança / abandonar
/ deixar / elegar
"Seja franco, doutor, tenho ou não tenho
razão de me esquecer de que me lembro das
coisas?" (Leon Eliachar - humorista )
idem
transitivo
direto
transitivo direto e
indireto
Obs.: Vale o mesmo para os verbos recordar e lembrar. Estamos assinalando apenas os casos de regência mais
comuns.
Informar
"Informa-os do andamento dos
trabalhos..." (Euclides da Cunha)
Comunicar / avisar / noticiar
transitivo direto e
indireto
" Lamento informar-lhe, doutor , que agora
só consigo dormir no seu divã." (Leon
Eliachar - humorista )
idem
transitivo direto e
indireto
Obs.: Vale o mesmo para os verbos certificar e cientificar.
Perdoar
"Se perdoou ao filho foi por causa do
padre." ( Machado de Assis)
Absolver / desculpar / escusar
transitivo indireto
Deus perdoa os pecados.
idem
transitivo direto
"Você me perdoa a falta de palavra."
(Pedro Calmon)
idem
transitivo direto e
indireto
Responder
"Interrompo o diálogo na fazenda para
responder ao bilhete que acabo de receber
..." (Carlos Drummond de Andrade)
Corresponder / comunicar-se
transitivo indireto
"Não sabia respondê-los." (Euclides da
Cunha )
idem
transitivo direto
Obs.: Vale o mesmo para o verbo pagar.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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2. Verbos com variação de regência e significado.
Verbos - exemplos
sentido
regência
Aspirar
"A felicidade perfeita a que aspirei..." (Graciliano Ramos)
Desejar / querer
anelar / pretender
transitivo indireto
"Aspirou seu indescritível odor de Tempo e História ."
(Érico Veríssimo)
Respirar / inalar
cheirar / sorver
transitivo direto
“Na manhã sadia, o homem de barbas poentas, entronado na
carrocinha, aspirou forte.” (João Alphonsus)
soprar
intransitivo
Assistir
“Assistimos ao final do jantar (mineiros e precavidos, já
tínhamos jantado).” (C.D.A.)
Presenciar / ver
transitivo
indireto
“sendo enviado a Carlos V, que então assistia em
Bruxelas...” (M. Bernardes)
Morar / residir
intransitivo
“Somente minha mão assiste o filho enfermo.” (Josué
Montello)
socorrer / ajudar
atender / assessorar
transitivo direto
“Leonor assistiu-lhe na enfermidade...” (Camilo)
idem
transitivo indireto
“Ao dono da loja assiste razão de gabar-se...” (C.D.A.)
Competir / caber
Transitivo indireto
Atender
“As mucamas faziam prodígios, atendendo a um e a outro.”
(Coelho Neto)
servir
transitivo indireto
O juiz não atendeu o pedido.
Deferir / aceitar
transitivo direto
Custar
“Não custava nada levá-lo.” (Fernando Sabino)
Valer / importar
transitivo direto
Custa-me dizer que acendeu um cigarro.” (Machado de
Assis)
ser penoso / ser difícil
transitivo indireto
Declinar
“Eram dadas cinco da tarde, a calma declinava...” (Almeida
Garrett)
Baixar / desaparecer / pôr-se
intransitivo
“Eleito governador, ao volver da campanha, em 1834,
declinou da honra...” (Rui Barbosa)
recusar
transitivo indireto
“O Latim, declinando tanto, só podia acabar.” (Dirceu –
humorista)
flexionar
intransitivo
"E declinando o seu nome , apertou pela primeira vez a mão
do diretor ..." (Josué Montello)
Dizer / relatar / referir
transitivo direto
Deparar
"E foi quando surpreendidos deparamos com a mesa."
(Clarice Lispector)
Encontrar / ver / cruzar
transitivo indireto
Não deparou solução ao problema.
idem
transitivo direto e
indireto
Depararam-se várias oportunidades de fuga ao preso.
Oferecer / aparecer
transitivo indireto
Entender
Entendi o raciocínio.
Compreender / captar
transitivo direto
Entende de algebra.
estar a par / conhecer
transitivo indireto
Entende-se bem com a esposa.
comunicar-se / concordar /
harmonizar-se
transitivo direto e
indireto
Obs.: Não se diz: deparar- se com.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
52
Gostar
"De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe?"
(Fernando Sabino)
Apreciar / amar / ter afeto
Transitivo indireto
Repeli o vinho depois que o gostei.
Experimentar / provar
transitivo direto
Precisar
"Precisa-se de secretária. Pega-se bem. Perdão, paga-se
bem." (Leon Eliachar)
Necessitar / carecer
transitivo indireto
Convém precisar os fatos.
Esclarecer / especificar /
determinar
transitivo direto
comportar-se / agir
Proceder
"...procedeu, no ponto de vista em que se colocava, com uma
lógica cruel." (Machado de Assis)
Intransitivo
"procedeu-se a eleições gerais no país." (Afonso Celso )
Convocar / marcar /
estabelecer
transitivo indireto
A água procede da montanha.
origina-se / vir de
intransitivo
O argumento não procede.
Valer / ter base / ter
fundamento
intransitivo
Querer
"As crianças querem mimo." (Caldas Aulete)
desejar
aspirar a
transitivo direto
"Querendo com amor ao idioma ..." (Rui Barbosa)
Amar / ter afeto / gostar /
prezar
transitivo indireto
Visar
"...visamos ao mesmo norte ." (Machado de Assis)
Almejar / pretender / querer
transitivo indireto
O soldado visou o alvo.
Mirar / apontar
transitivo direto
O gerente visou o cheque.
Assinar / dar o visto
transitivo direto
3. Outros verbos
Verbos - exemplos
sentido
regência
Namorar
Todos os dias, à tarde, eu vou namorar Maria
Rita.
ter afeto /
gostar / amar
transitivo direto
Ela namora muito.
idem
intransitivo
Obs.: Namorar com alguém é forma incorreta, segundo a norma padrão.
Preferir
"Capitu preferiu tudo ao seminário."
(Machado de Assis)
ter predileção
/ escolher
transitivo direto e indireto
Obs.: Não se diz preferir mais alguma coisa do que outra. Preferir mais é redundância; o do que explica-se
pela analogia com o verbo gostar.
Simpatizar
"Sempre tive a impressão de que, por algum
motivo imperdoável, ela não simpatizava
comigo." (Rubem Braga)
ter afeto /
gostar / amar
transitivo indireto
Obs.: Na norma padrão seria incorreto dizer: simpatizar-se com.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
53
13 CRASE - REVISÃO
Crase é o fenômeno da contração de duas vogais semelhantes. Emprega-se o acento grave (`) para
marcar a crase de dois aa. A regra geral afirma que o acento grave indicativo de crase deve ser usado
sempre que o termo regente exigir a preposição a posposta e o termo regido admitir o artigo feminino
a(s) anteposto. A correta utilização do acento indicativo de crase é uma questão de análise do
enunciado. Trata-se de averiguar se ocorre a preposição "a" e o artigo feminino "a(s)", antes,
evidentemente, de uma palavra feminina. Ex.: Ele vai a + a igreja.
=
Ele vai à igreja.
Regra prática: Troca-se a palavra feminina por uma masculina correspondente. Se, antes da
masculina, aparecer ao(s), coloca-se o sinal de crase no a(s) antes da feminina.
Ex.: Ele vai à igreja. (Ele vai ao cinema.)
Casos em que não ocorre crase
A crase é proibida antes de palavras que não apresentam o artigo a(s).
a) Antes de masculinos.
Ex.: Ele foi a pé para casa.
b) Antes de verbos.
Ex.: A torcida começou a gritar.
c) Antes de pronomes pessoais (inclusive de tratamento).
Ex.: Nada disse a ela nem a você.
d) Antes dos pronomes esta(s), quem e cuja(s).
Ex.: Essa é a pessoa a quem pedi ajuda.
e) Com a no singular + palavra no plural.
Ex.: Ele se refere a acusações mentirosas.
f) Entre duas palavras repetidas.
Ex.: Ficamos cara a cara.
g) Antes de nomes de cidades sem especificativo. Ex.: Ele gosta de ir a Fortaleza.
Se o nome da cidade estiver caracterizado por um especificativo, ocorre crase.
Ex.: Ele gosta de ir à ensolarada Fortaleza.
Casos em que sempre ocorre crase
a) Locuções adverbiais femininas de:
- tempo Ex.: Ele chegou à noite e saiu às seis horas.
- lugar Ex.: Ninguém chegou à cidade.
- modo Ex.: Ele entrou às escondidas no armazém.
b) Locuções prepositivas (à + palavra feminina + de).
Ex.: Nós ficamos à espera de ajuda.
c) Locuções conjuntivas (à + palavra feminina + que).
Ex.: O tempo esfria, à medida que escurece.
Casos em que a crase é facultativa
a) Antes de pronomes possessivos femininos.
b) Antes de nomes de mulher.
c) Depois da preposição até.
Ex.: A vizinha pediu ajuda à / a minha mãe.
Ex.: O juiz fez uma advertência à / a Paula.
Ex.: Eu andei até à / a esquina.
Crase com pronomes demonstrativos e relativos
a) Preposição a + pronome demonstrativo a(s)
O pronome demonstrativo a(s) aparece seguido de que ou de.
Critério prático: Troca-se por um substantivo masculino o feminino que vem antes do a(s). Só ocorre crase
se, com o masculino, aparecer ao(s) antes de que ou de.
Ex.: Esta casa é igual à que você comprou.
Este carro é igual ao que você comprou.
b) Preposição a + aquele(s)
Critério prático: Troca-se aquele(s) por este(s). Só ocorre crase se aparecer a antes do este(s).
Ex.: Ele se refere àquele fato.
Ele se refere a este fato.
Esse critério prático vale também para os demonstrativos aquela(s) e aquilo.
c) Crase antes de qual / quais.
Critério prático: Troca-se por um substantivo masculino o feminino anterior ao qual/quais. Só ocorre crase
se, com o masculino, aparecer ao qual / aos quais.
Ex.: Estas são as crianças às quais me refiro.
Estes são os alunos aos quais me refiro.
Casos especiais de crase
a) Casa – Sem especificativo = sem crase Ex.: Chegamos cedo a casa.
Com especificativo = com crase Ex.: Chegamos cedo à casa de meu pai.
b) Terra – Com sentido oposto ao de água = sem crase
Ex.: Os jangadeiros voltaram a terra.
Com sentido de terra natal e planeta = com crase Ex.: Ele voltou à terra dos avós.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
54
EXERCÍCIOS
1.Leia as frases.
I-Quando a desconfiança se instala entre as
pessoas, logo vem a insinuação de que a
traição está no ar.
II-A certeza de que Deus nasceu neste país
garante ao povo brasileiro uma esperança que
não tem medida.
III-No dia tinha pressentimento de que algo
muito estranho estava por vir, mas não sabia
precisar o que era.
As frases transcritas trazem casos de
regência nominal ou verbal? Justifique.
2.Os trechos extraídos de redações de alunos do
ensino médio apresentam problemas na
construção sintática. Leia-os com atenção.
I-Aquele foi o dia onde eu descobri que estava
apaixonado por ele.
II-A mulher na qual Sandoval se referia foi uma
das que ele conversou.
III-A mulher cuja qual ele conversava...
a) Explique que tipo de problemas os
enunciados apresentam.
b) Reescreva-os de forma a adequá-los à norma
culta.
3.Corrija as frases inaceitáveis quanto ao uso
das preposições.
a) Isto não agradou os hóspedes.
b) Nós aspiramos um futuro melhor.
c) Podemos assistir o jogo no salão principal.
d) Devemos atender os clientes imediatamente.
e) Ela não atendeu os pedidos do hóspede.
f) Ele ainda não chegou no hotel.
g) Ele foi no banheiro e já volta.
h) Ela namora com aquele rapaz.
i) Ele não respeita aos seus superiores.
j) O motorista dormiu no volante.
k) Ela passou toda a manhã no sol.
l) Só temos TV em cores.
4.(ITA-SP) “O programa Mulheres está
mudando. Novo cenário, novos apresentadores,
muito charme, mais informação, moda,
comportamento e prestação de serviços. Assista
amanhã a revista eletrônica feminina que é a
referência do gênero na TV”.
O verbo “assistir” empregado em linguagem
coloquial, está em desacordo com a norma
gramatical.
Reescreva o último período de acordo com a
norma. Justifique a correção.
5.Na frase “Eles teceram vários elogios a
minha atuação”, há presença ou não de crase?
Justifique.
6.Na frase “Refiro-me a esta moça, e não a que
estava aqui antes”, há crase no termo
destacado? Justifique sua resposta.
7.Coloque devidamente o acento grave
indicativo da crase, quando for necessário:
a) Iremos a uma reunião na casa de uns amigos.
b) Ficar frente a frente com ele não foi
agradável.
c) Lorena foi a festa de seus pais contrariada.
d) Não compete a mim julgar qualquer pessoa.
e) Sentimo-nos completamente a vontade
durante toda a estadia na casa deles.
8.É possível que a crase ocorra para evitar
ambiguidade de um enunciado. É o que
acontece em: “À mãe presenteou a filha.” Qual
é a ambiguidade que está sendo eliminada pela
crase?
9.Leia o texto a seguir:
A dúvida
“À ou A realizar-se no dia 8 de dezembro...?
Para que seu convite de casamento não
apresente erros gramaticais e possa, por isso,
provocar risinhos de algum convidado mais
exigente, escreva:
‘A realizar-se no dia 8 de dezembro...’”
(DUARTE, Sérgio Nogueira – Língua viva)
Considerando que a crase é definida como a
contração da preposição a com o artigo
feminino a, qual é a explicação gramatical para
que não ocorra crase na expressão que suscitou
a dúvida?
10.(PUC-RJ) Na coluna Língua Viva (22/8/99),
o professor Sérgio Duarte chama a nossa
atenção para a possibilidade de variação
interpretativa de enunciados em função do
acento grave. Explique como isso ocorre nos
enunciados a seguir:
I-Veio à noite de mansinho e encontrou-o
dormindo.
II-Veio a noite de mansinho e encontrou-o
dormindo.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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14 CONCORDÂNCIA NOMINAL - REVISÃO
Leia a frase abaixo e observe que ela contém várias inadequações:
“O meninos pequeno ganhou outra brinquedos.”
Note que os “problemas” apresentados por essa frase referem-se aos desajustes entre as palavras
que a constituem. Pela prática sabemos que, na frase acima, é necessário:
1º ajustar as palavras o e pequeno à palavra meninos.
2º ajustar a palavra outra à palavra brinquedos.
3º ajustar o verbo ganhou ao sujeito meninos.
Nos casos 1 e 2, o ajuste deve ocorrer entre nomes. Esse processo de adaptação de uns nomes aos
outros é o que se chama de concordância nominal.
No caso 3, o ajuste deve ocorrer entre o verbo e o sujeito da oração. Esse processo de adaptação
chama-se concordância verbal.
Na frase em questão, fazendo a concordância nominal e a concordância verbal, temos:
“Os meninos pequenos ganharam outros brinquedos.”
Principais casos de concordância nominal
1. Adjetivo após vários substantivos
a) Se os substantivos são do
O adjetivo pode concordar com o
mesmo gênero
último substantivo ou ir para o plural
b) Se os substantivos são de
O adjetivo pode concordar com o
gêneros diferentes
último substantivo ou ir para o
masculino plural
Casa e igreja | antiga.
| antigas.
Prédio e casa | antiga.
| antigos.
2. Adjetivo antes de vários substantivos
O adjetivo só pode concordar com o primeiro substantivo.
Ex.: Velha casa e prédio. / Velho prédio e casa.
Mesmo
a) na função de pronome, concorda com a palavra a que Ex.: Elas mesmas irão lá.
se refere
b) na função do advérbio (=realmente) é invariável
Ex.: Elas irão mesmo lá.
a) quando adjetivo, concorda com a
Ex.: As cartas irão anexas aos contrato.
Anexo
palavra a que se refere
b) a locução “em anexo” é invariável
Ex.: As cartas irão em anexo ao
contrato.
Ex.: Eles fizeram bastantes
Bastante a) na função de pronome indefinido, concorda
com a palavra a que se refere (podendo,
críticas ao projeto. (= muitas)
portanto, ter plural)
b) na função de advérbio é invariável
Ex.: Todos estão bastante
irritados (= muito)
Portanto: bastantes = muitos(as)
/ bastante = muito(a)
a) na função de numeral (=metade), concorda com a
Ex.: O trem trouxe duas
Meio
palavra a que se refere
meias toneladas de pedra.
b) na função de advérbio (=um pouco), é invariável
Ex.: A criança ficou meio
cansada.
Ex.: O professor lhe
Obrigado a) no masculino: quando é homem quem está
agradecendo
disse: muito obrigado.
b) no feminino: quando é mulher quem está
Ex.: A professora lhe
agradecendo
disse: muito obrigada.
a) quando significa sozinho / sozinhas = plural
Ex.: As mulheres queriam ficar
Só
sós na sala. (sozinhas).
b) quando significa apenas / somente =
Ex.: As mulheres queriam ficar
invariável
só na sala. (apenas)
Autora: Lucivânia A. S. Perico
56
3. É bom, é proibido, é necessário + substantivo
a) Se o substantivo está acompanhado de artigo ou pronome = bom, necessário, proibido etc.
concordam com o substantivo.
Ex.: É permitida a entrada de crianças.
É necessária muita paciência.
b) Se os substantivo não está acompanhado de artigo ou pronome = bom, necessário, proibido etc.
ficam no masculino e no singular.
Ex.: É permitido entrada de crianças.
É necessário paciência.
4. Alerta / menos
a) Alerta é invariável, não tem plural.
Ex.: Os vigilantes estavam alerta.
Apesar de, a rigor, a palavra alerta ser invariável, atualmente ela vem sendo usada também no
plural.
Ex.: Todos estavam alertas.
b) Menos é invariável, não tem feminino.
Ex.: No jogo de ontem havia menos pessoas.
EXERCÍCIOS
(Aprender e praticar gramática – pág. 350 a 353)
1.Reescreva a palavra ou expressão destacada
pela palavra que está entre parênteses. Refaça a
concordância, se necessário.
a) O mensageiro trouxe-nos muitas informações
sobre a situação. (bastante)
b) Ela tem argumentos suficientes para nos
convencer. (bastante)
c) Os viajantes estavam muito cansados.
(bastante)
d) A plateia ficou um pouco revoltada.(meio)
e) Ela andou metade da quadra e parou.(meio)
f) Essa informação torna desnecessária nossa
palavra definitiva.(argumentos)
g) Essa região produz bebidas e frutas
deliciosas. (queijos)
h) Essa região produz bebidas e frutas
deliciosas. (queijos)
i) Essa região produz deliciosas bebidas e
frutas. (queijos)
j) Essa região produz deliciosas bebidas e
frutas. (queijos)
k) As bebidas e as frutas dessa região são
deliciosas. (queijos)
l) O juiz considerou culpadas a ré e sua amiga.
(amigo)
2.Explique os dois sentidos que podem ser
atribuídos à seguinte frase:
“A vendedora ficou só na sala.”
3.(Univ.Fed.Santa Catarina) Reescreva o
período abaixo, corrigindo-o, se necessário,
quanto à concordância. Depois, justifique sua
resposta.
“É proibido a entrada de pessoas estranhas
no recinto.”
4.(PUC-PR) Assinale a sequência que completa
corretamente estes períodos:
- Ela ...... disse que não iria.
- Vão ...... os livros.
- A moça estava ...... aborrecida.
- É ...... muita atenção para atravessar a rua.
- Nesta sala, estudam a terceira e quarta ...... do
primeiro grau.
a) mesmo – anexos – meia – necessário – série
b) mesma – anexos – meio – necessária – séries
c) mesmo – anexo – meio – necessário – séries
d) mesma – anexos – meio – necessário – séries
e) mesma – anexos – meia – necessário – séries
5.(Fatec-SP) Assinale a alternativa que
completa corretamente as lacunas da frase:
“É ... discussão entre homens e mulheres ... ao
mesmo ideal, pois já se disse ... vezes que da
discussão, ainda que ... acalorada, nasce a luz.”
a) bom – voltados – bastantes – meio
b) bom – voltadas – bastante – meia
c) boa – voltadas – bastantes – meio
d) boa – voltados – bastante – meia
e) bom – voltadas – bastantes – meia
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
57
15 CONCORDÂNCIA VERBAL – REVISÃO
A concordância verbal estuda as variações que o verbo da oração deve sofrer para se ajustar ao
sujeito. Para o estudo da concordância verbal, você deve levar em consideração: o sujeito da oração e a
regra de concordância para esse sujeito.
Principais regras de concordância verbal
1. Com sujeito simples
a) o verbo concorda com o núcleo do sujeito
b) a maior parte de, uma porção de + nome no
plural = verbo no singular ou no plural
c) mais de, menos de, perto de + numeral = o
verbo concorda com o numeral
d) quando o se é pronome apassivador, o verbo
concorda com o sujeito (que está na frase)
quando o se é índice de indeterminação do
sujeito, o verbo fica na 3ª pessoa do singular
e) nome próprio no plural = o verbo concorda
com o artigo
se não houver artigo, o verbo fica no singular
Ex.: Os pássaros destruíram a horta.
Ex.: A maior parte dos animais escapou /
escaparam.
Ex.: Mais de um animal escapou.
Mais de um animal escaparam.
Ex.: Alugaram-se alguns caminhões.
(Alguns caminhões foram alugados)
Ex.: Precisou-se de bons reforços.
Ex.: Os Andes ficam na América do Sul.
Ex.: Santos localiza-se no litoral paulista.
2. Com sujeito composto
a) antes do verbo = verbo no plural
b) depois do verbo = verbo no plural ou
concordando com o núcleo mais próximo
c) pessoas gramaticais diferentes:
Com a 1ª pessoa (eu/nós) = verbo na 1ª pessoa do
plural
Sem a 1ª pessoa = verbo na 2ª ou 3ª do plural
Ex.: O navio e a lancha voltaram.
Ex.: Voltaram / Voltou o navio e a lancha.
Ex.: Ela, tu e eu partiremos. (=nós)
Ex.: Ela e tu partirão / partireis.
3. Verbo ser
a) Quando o sujeito e o predicativo são de
números diferentes (um singular e outro plural), o
verbo ser pode ficar tanto no singular como no
plural, embora o plural seja mais usual
b) Quando o sujeito ou o predicativo referem-se a
pessoa, o verbo ser só pode concordar com essa
pessoa.
Ex.: A vida são / é projetos sem fim.
Ex.: O velhinho doente era as angústias da
família.
Nossa maior alegria são os amigos.
4. Verbos impessoais
a) Haver (no sentido de existir / acontecer) = é Ex.: Não haverá outros interessados?
impessoal, ou seja, fica no singular (tanto
Não poderá haver outros interessados?
sozinho quanto em locução verbal)
b) Fazer (indicando tempo transcorrido / a
transcorrer) = é impessoal, ou seja, fica no Ex.: Ontem fez dois meses que ele morreu.
singular (tanto sozinho quanto em locução
Amanhã vai fazer um ano que eu a conheci.
verbal)
Autora: Lucivânia A. S. Perico
58
EXERCÍCIOS
(Aprender e praticar gramática – pág. 366 a 375)
1.Reescreva na lacuna de cada frase a forma
verbal (ou formas verbais) que torna(m) correta
a concordância. O sujeito está destacado.
a) O velho relógio da igreja .... dez horas. (batia
/ batiam)
b) No velho relógio da igreja .... dez horas.
(batia / batiam)
c) Quando .... seis horas, partiremos. (for /
forem)
d) A confusão começou quando .... onze horas.
(deu / deram)
e) O céu e o vento .... outra tempestade.
(anunciava / anunciavam)
f) .... outra tempestade o vento e o céu.
(anunciava / anunciavam)
2.Substitua os verbos existir e acontecer pelo
verbo haver.
a) Atualmente não existem lugares tranquilos
nesta cidade.
b) Naquele país aconteceram vários golpes
militares.
c) Talvez ainda existam ingressos para o jogo
de hoje.
3. (Unicamp-SP) No dia 19 de novembro de
1989, a “Folha de São Paulo” publicou a
seguinte nota na seção Painel:
Pane Gramatical
“Os computadores do TSE emitiam o aviso,
ontem, no intervalo dos boletins: ‘Dentro de
instantes
será
divulgado
novos
(sic)
resultados’.”
Nesse mesmo dia e no mesmo jornal, lê-se o
seguinte:
“É exatamente essa grande maioria que
chamamos, abstratamente, de povo. São os
cidadãos humildes, que vivem de pequenos
serviços na periferia das grandes cidades (...)
São para esses cidadãos anônimos, que
ganharam personalidade dia 15 de novembro,
que o novo governo deverá estar voltado”.
(Leo W. Cochrane Jr., “O recado do povo”)
4. Complete fazendo a devida concordância do
verbo entre parênteses.
a) A multidão aglomerada na avenida ___ o
trânsito. (atrapalhava/atrapalhavam)
b) Livros, apostilas, revistas, nada ___; tudo foi
destruído. (escapou/escaparam)
c) O bando de meninos ___. (correu/correram)
d) Só ___ alguns meninos na sala.
(havia/haviam)
e) Aqui ___ invernos muito frios. (faz/fazem)
f) O relógio da matriz ___ doze horas.
(bateu/bateram)
g) No relógio da sala ___ onze horas.
(deu/deram)
h) Os Estados Unidos ___ com a anistia.
(concordou/concordaram)
i) Santos ___ uma cidade litorânea. (é/são)
j) ___ -se de mais gente na lavoura. (precisa /
precisam)
k) ___ -se quartos para rapazes.
(aluga/alugam)
l) ___ -se relógios. (conserta / consertam)
m) O pessoal ___ animado. (continua/
continuam)
n) Um bando de morcegos ___.
(voava/voavam)
o) Naquela época ___ muitas doenças
infecciosas. (havia/haviam)
p) Os melhores marceneiros ___ ótimos
trabalhos. (faz/fazem)
q) ___ dois meses que não o vejo. (faz/fazem)
r) Lá ___ muitas obras de arte.
(existe/existem)
s) Lá ___ muitas obras de arte. (havia/haviam)
t) ___ poucos alunos matriculados.
(havia/haviam)
u) ___ ainda alguns ingressos à venda.
(existe/existem)
5. (PUC-SP) Leia o seguinte trecho: “Os
infelizes tinham caminhado o dia inteiro,
estavam cansados e famintos. (...) Fazia horas
que procuravam uma sombra.” (Graciliano
Ramos)
No texto acima, explique o emprego do
verbo fazer na expressão fazia horas.
a) Que trecho do segundo texto poderia também
ser considerado um caso de pane gramatical?
b) Reescreva corretamente os dois trechos
problemáticos.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
59
16 ACENTUAÇÃO - REVISÃO
As regras de acentuação servem, na prática, para orientar o leitor quanto à pronúncia correta das
palavras escritas. Tanto a presença do acento (nas palavras que o exigem) quanto na sua ausência (nas
palavras que não o admitem) são fundamentais para indicar a pronúncia.
Regras gerais de acentuação
1. Monossílabas tônicas – acentuam-se as terminadas em:
a(s): pá, gás
e(s): lê, pés
o(s): dó, nós
Fique atento: monossílabas átonas são as monossílabas pronunciadas “fracamente”, isto é, com
pouca intensidade. Elas não são acentuadas. Ex.: Ela estava na festa de aniversário, mas não a vi.
As monossílabas tônicas são aquelas pronunciadas com mais intensidade. Ex.: Tu não tens dó de
Célia, mas ela não é má pessoa.
2. Oxítonas – acentuam-se as terminadas em:
a(s): orixá, renascerás
o(s): carijó, bongôs
e(s): Xanxerê, através
em/ens: porém, manténs
3. Paroxítonas – acentuam-se as terminadas em:
i(s), us: táxi, júris, Vênus, lótus
um/uns: fórum, álbuns
ps, ã(s): tríceps, dólmã (caso militar)
l, n: portável, hífen
r, x: néctar, bórax (nome de uma substância química)
ditongo (seguido ou não de s): convênio, túneis, tábuas, exigência
4. Proparoxítonas: todas são acentuadas: mágico, transgênico, último, pêssegos
Regras complementares de acentuação gráfica
1. Acentuação dos ditongos abertos éi, ói, éu:
• São acentuados em palavras monossílabas (exemplos réus, dói) e em oxítonas (exemplos coronéis,
constrói, Ilhéus)
• Não são acentuadas em palavras paroxítonas (exemplos paranoico, assembleia)
Fique atento: ditongo fechado é pronunciado com a boca mais fechada, nunca é acentuado
graficamente (ex.: cadeira, bois, perdeu), já o ditongo aberto é pronunciado com a boca mais aberta,
alguns são acentuados, outros não (ex.: caixa, papéis, herói, colmeia, asteroide).
2. i e u na segunda vogal do hiato:
• São acentuados desde que estejam sozinhos (ou +s) na sílaba e não sejam seguidos de nh (exemplos
distraída, ruído, graúdo, baús).
• Não são acentuados quando precedidos de ditongo (exemplo baiuca)
Fique atento: hiato é o encontro de dois sons vocálicos pronunciados em sílabas separadas (ex.:
escoar: es-co-ar / traído: tra-í-do / ruim: ru-im)
3. Verbos ter, vir, crer, dar, ler e ver:
Formas desses verbos que exigem atenção quanto ao acento gráfico:
Ter
Vir
Crer
Dar
Ler
Ele tem
Ele vem
Ele crê
Que ele dê
Ele lê
Eles têm
Eles vêm
Eles creem
Que eles deem Ele leem
Ver
Ele vê
Eles veem
4. Acento diferencial – esse acento é:
Obrigatório em dois casos:
- na palavra pôr (verbo) para diferenciá-la da preposição por
- na palavra pôde (passado do verbo poder) para diferenciá-la de pode (presente do verbo poder)
Facultativo em dois casos:
- na palavra fôrma/forma, significando “molde ou recipiente”
- na palavra dêmos/demos (1ª pessoa do plural do presente do subjuntivo do verbo dar)
Autora: Lucivânia A. S. Perico
60
EXERCÍCIOS
(Coleção Novas Palavras (Vol.1)-pág.307,313,318 e 319)
1. Leia este trecho de reportagem com dois
especialistas em recrutamento e seleção de
trainees (jovens recém-formados que iniciam a
formação profissional nas empresas):
“[...] A iniciativa, comprometimento e
paixão pelo que faz tambem conta muito na
seleção”, diz Sofia do Amaral. Alem desses
filtros ha a questão do dominio do Portugues,
com testes e, principalmente, redações. Alias, a
avaliação de conhecimento da lingua
portuguesa tem eliminado muitos candidatos
[...].
4.
Escreva
as
frases,
substituindo
adequadamente o espaço vazio pelas palavras
propostas em cada item.
a) Use pôr ou por
Resolveu tudo em ordem. Começou não acatar opiniões razões indiscutíveis. isso não vou em dúvida a competência dele.
b) Use pôde ou pode
Ontem você vencê-lo, mas creio que,
para a próxima partida, já não ter tanta
certeza disso.
(Sofia do Amaral. O Estado de S.Paulo, SP, 3/10/2004)
Você notou alguma coisa estranha na grafia
de algumas palavras desse texto? Identifique-as
e faça a correção.
2. Acentue apenas as palavras que exigem
acento gráfico:
a) boitata
b) latex
c) bonus
d) vez
e) ves
f) semen
g) item
h) nectar
i) incrivel
j) cortex
k) funil
l) tenis
m) a fabrica
n) ele fabrica
o) iris
p) eficacia
q) atomico
r) benção
s) ambiguo
t) desagua
3. Responda objetivamente às perguntas a
seguir:
a) Por que a palavra jacaré é acentuada, mas
jacarezinho não é?
b) Por que a palavra indústria é acentuada, mas
industrial não?
c) As palavras herói, heroico e heroicamente
apresentam ditongo aberto. Por que, então,
somente a primeira é acentuada graficamente?
d) Compare estes nomes próprios: Luiz, Luís,
Luíza, Luísa. Por que só o primeiro não é
acentuado?
e) Considere estas palavras já adequadamente
grafadas quanto à acentuação: intuito, gratuito,
fortuito. Como é possível concluir que, nas três,
a vogal tônica é o u, e não o i?
5. (IBGE) Assinale a opção cuja palavra não
deve ser acentuada:
a) Não ves que eu não tenho tempo?
b) É difícil lidar com pessoas sem carater.
c) Todo ensino deveria ser gratuito.
d) Saberias dizer o conteudo da carta?
e) Veranópolis é uma cidade que não para de
crescer.
6. (BB) "Alem do trem, voces tem onibus, taxis
e aviões".
a) 1 acento
b) 2 acentos
c) 3 acentos
d) 4 acentos
e) 5 acentos
7. (UF-PR) Assinale a alternativa em que todos
os vocábulos são acentuados por serem
oxítonos:
a) parabéns, vêm, hífen, saí, oásis
b) você, capilé, Paraná, lápis, régua
c) paletó, avô, pajé, café, jiló
d) amém, amável, filó, porém, além
e) caí, aí, ímã, ipê, abricó
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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17 COESÃO, COERÊNCIA E CLAREZA TEXTUAL
É necessário inicialmente termos a noção de texto. Quando falamos em texto, identificamos um uso
da linguagem (verbal ou não-verbal) que tem significado, unidade (um conjunto em que as partes se
ligam umas às outras) e intenção.
Nas diversas situações de comunicação, nosso texto deve apresentar condições de ser lido e
interpretado, para tanto, deve ser claro, coerente e coeso. Devemos ter em mente que não escrevemos
para nós, mas para outros (interlocutor preferencial), portanto, devemos ler e reler nosso texto,
eliminando erros de ortografia, ambiguidades etc.
O interlocutor de um texto é o leitor a quem ele se dirige preferencialmente ou, em outras palavras, é
o leitor em quem pensa o autor no momento da produção daquele texto.
A primeira informação importante a ser considerada no momento da leitura é que todo texto faz
referência a uma situação concreta. Essa situação é o contexto. Há diferentes tipos de contexto (social,
cultural, estético, político, histórico...) e sua identificação é fundamental para que se possa
compreender bem o texto.
Para a produção de um bom texto é preciso que o autor domine todos os recursos textuais
necessários para estabelecer as relações de sentido entre as ideias que pretende expor. Há dois níveis
que o autor precisa dominar: o primeiro deles é o aspecto formal, o segundo é o aspecto da
significação. O aspecto formal é alcançado pela escolha das palavras cuja função é articular entre si as
partes do texto. A ligação textual obtida através dos elementos linguísticos é chamada coesão textual.
O segundo nível, o da significação, é a reunião de ideias, informações e argumentos compatíveis entre
si, obtendo como resultado um texto claro, a que chamamos coerência textual.
Para manter a coesão, a coerência e a clareza textual é necessário também que o texto esteja bem
pontuado, por isso, vamos lembrar os conceitos de pontuação.
17.1 PONTUAÇÃO - REVISÃO
Leia as frases abaixo, observando sua pontuação:
Meu amigo saiu, não está aqui.
Meu amigo? Saiu, não está aqui.
Meu amigo? Saiu não, está aqui.
Meu amigo saiu? Não está aqui?
- Meu amigo saiu?
- Não, está aqui.
Os sinais de pontuação são recursos da língua escrita que visam substituir certos componentes
específicos da língua oral, tais como entonação, pausa, gestos e expressão
facial, permitindo que a linguagem escrita seja veiculada com maior clareza e eficácia.
Vírgula (,) — O emprego da vírgula, na linguagem escrita, não corresponde necessariamente a uma
pausa na linguagem oral, e vice-versa. A vírgula é um sinal que liga orações, separa termos
das orações e indica a ocorrência de certos fenômenos, tais como inversão, omissão ou intercalação de
termos em uma oração.
Emprega-se a vírgula para marcar:
- Inversão:
• de complementos verbais: A vida, eu compro com as mãos.
• de adjuntos adverbiais. À noite, faço um curso de inglês.
• de orações subordinadas adverbiais: Embora não pensassem assim, era a mesma coisa.
- Coordenação:
• entre termos da oração com o mesmo valor sintático: Deu-me de presente, livros, revistas de
arte e discos.
• entre orações assindéticas: Foi à porta, espiou, correu para dentro assustada.
• entre orações sindéticas, com exceção das aditivas: Talvez seja engano meu, mas acho-a agora
mais serena.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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A vírgula deve ser empregada antes da conjunção aditiva e apenas quando esta aparecer repetida
várias vezes e quando ligar orações com sujeitos diferente:
Queria ver, e abaixava os olhos, e tampava-os com as mãos.
O carro desviou-se, e ao cabo de um segundo o ônibus passou.
- Intercalação:
• de termos da oração: A aniversariante, meiga, atenciosa com todos, parecia realmente feliz.
• de conjunção: Ele é seu pai: respeite-lhe, pois, a vontade.
• de expressões explicativas, como: isto é, ou melhor, por
• exemplo, etc.: Entregar-lhe os documentos foi, sem dúvida, um erro.
• de orações subordinadas adverbiais: Antigamente, quando eu era menino, ouvia histórias deste
lugar.
- Supressão de termos:
Elipse: Nós moramos no campo, e vocês, na cidade. (elipse do verbo morar)
- Isolamento:
• de aposto ou de oração subordinada substantiva apositiva: O resto, as louças, os cristais e os
talheres, irão nas caixas menores.
• de vocativo: Você ouviu, Maria, que notícia esquisita?
• de nome de lugar anteposto à data: São Paulo, 20 de dezembro de 1994.
• de orações subordinadas adjetivas explicativas: Até ele, que é o melhor da turma, não quis
participar do torneio de xadrez.
Ponto-e-vírgula (;) — se dá normalmente:
• para isolar orações da mesma natureza: “Este é o dia de todos os santos; amanhã é o de todos
os mortos”. (Machado de Assis)
• para organizar enumerações relativamente longas, principalmente quando a vírgula já foi
utilizada: São estes os poetas líricos do Arcadismo brasileiro: Gonzaga, o Dirceu; Cláudio
Manuel da Costa, o cantor de Nise; e Silva Alvarenga.
• para separar orações quando houver zeugma na segunda: Vocês anseiam pela violência; nós,
pela paz.
• para separar os itens de decretos, leis, portarias, etc.
Ponto (.) — emprega-se no final de frases declarativas: Os livros foram danificados pelas traças.
Dois pontos (:) — Marcam uma pausa para anunciar uma citação, uma fala, uma enumeração, um
esclarecimento ou uma síntese.
Ex.: “Lembrei-me do nome e do tipo: era João Francisco Gregório, caboclo, robusto, desconfiado...”
(Graciliano Ramos)
Ponto de interrogação (?) — Usa-se no final de uma frase interrogativa direta e indica uma pergunta.
Ex.: E eu? O que é que eu devo fazer?
Ponto de exclamação (!) — Usa-se no final de qualquer frase que exprime sentimentos, emoções, dor,
ironia, surpresa e estados de espírito.
Ex.: Saia daqui já!
Reticências (…) — Podem marcar uma interrupção de pensamento, indicando que o sentido da oração
ficou incompleto, ou uma introdução de suspense, depois da qual o sentido será completado. No
primeiro caso, a sequência virá em maiúscula – uma vez que a oração foi fechada com um sentido
vago proposital e outra será iniciada à parte. No segundo caso, há continuidade do pensamento
anterior, como numa longa pausa dentro da mesma oração, o que acarreta o uso normal de minúscula
para continuar a oração.
Ex.: Ah, como era verde o meu jardim... Não se fazem mais daqueles.
Foi então que Manoel retornou... mas com um discurso bastante diferente!
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
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São também usadas para supressão de trecho sem importância no texto:
Ex.: “Com os descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI, os portugueses ampliam
enormemente o império de sua língua (...). (Celso Cunha)
Aspas (“ ”) — Usam-se para delimitar citações; para referir títulos de obras; para realçar uma palavra
ou expressão, para destacar palavras estrangeiras, neologismos, gírias, para indicar mudança de
interlocutor nos diálogos, etc.:
Ex.: Estudou “ballet” por insistência da mãe.
Parênteses ( ( ) ) — Marcam uma observação ou informação acessória intercalada no texto, são
empregados normalmente para separar palavras ou frases explicativas dentro do período e nas
indicações bibliográficas:
Ex.: “Depois do jantar (mal servido) Seu Dagoberto saiu do Grande Hotel e Pensão do Sol (Familiar)
palitando os dentes caninos”. (Antônio de Alcântara Machado)
Travessão (—) — Marca: o início e o fim das falas em um diálogo, para distinguir cada um dos
interlocutores; as orações intercaladas; as sínteses no final de um texto. Também usado para substituir
os parênteses.
Ex.: “– Para onde vais tu?..., perguntou-lhe em voz baixa.
– Não sei, filha, por aí!... (Aluisio Azevedo)
“– Não quero saber onde mora – atalhou Quincas Borba”. (M. de Assis)
“Grande futuro? Talvez naturalista, literato, arqueólogo, banqueiro político, ou até bispo – bispo
que fosse –, uma vez que fosse um cargo...” (Machado de Assis)
Parágrafo — Constitui cada uma das secções de frases de um escritor; começa por letra maiúscula,
um pouco além do ponto em que começam as outras linhas.
Colchetes ([ ]) — utilizados na linguagem científica.
Asterisco (*) — empregado para chamar a atenção do leitor para alguma nota (observação).
Barra (/) — aplicada nas abreviações das datas e em algumas abreviaturas.
Hífen (−) — usado para ligar elementos de palavras compostas e para unir pronomes átonos a verbos.
EXERCÍCIOS
Dinheiro encontrado no lixo
“Organizados numa cooperativa em Curitiba,
catadores de lixo livraram-se dos intermediários
e conseguem ganhar por mês, em média, R$
600,00 – o salário inicial de uma professora de
escola pública de São Paulo.
O negócio prosperou porque está em Curitiba,
cidade conhecida dentro e fora do país pelo
sucesso na reciclagem do lixo.”
Folha de S. Paulo, 22 set.2000
2. Leia o texto abaixo e respostas as questões
seguintes:
Novo Computador do Milhão
“O SBT decidiu lançar uma nova versão do
Computador do Milhão. Os novos micros vêm
equipados com processador Celeron de 1 GHz,
128 MB de memória RAM, disco rígido de 20
GB, monitor de 15”, teclado para Internet,
Windows XP, estabilizador e kit multimídia.”
Revista do CD-ROM, jan. 2002
1. Quando se lê esta notícia, nota-se que seu
título é ambíguo, ou seja, tem duplo sentido.
a) Quais são os dois sentidos do título?
b) Crie para a notícia um título que lhe seja
adequado e não apresente duplo sentido.
a) Considerando o texto, é possível identificar a
que tipo de leitor se dirige (ou seja, quem é seu
interlocutor preferencial)?
b) Quais são as informações (explícitas ou não)
que permitem identificar o interlocutor
preferencial desse texto?
Autora: Lucivânia A. S. Perico
64
3. O texto a seguir foi construído pela
enumeração de uma série de elementos
conhecidos. Pode-se, porém, pelo conhecimento
que se tem de tais elementos, identificar as
situações por eles referidas, atribuindo
coerência ao texto, apesar de não contarmos
com o auxílio dos mecanismos de coesão,
observe a importância da pontuação.
5. Observe o trecho abaixo:
Andorinha
Andorinha lá fora está dizendo:
- Passei o dia à toa, à toa!
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais
[triste!
Passei a vida à toa, à toa!...
BANDEIRA, Manuel.
Circuito Fechado
“Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete.
Água. Escova, creme dental, água, espuma,
creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água,
cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha.
Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa,
abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata,
paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta,
chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa
de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e
pires, prato, bule, talheres, guardanapos.
Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e
poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone,
agenda, copo com lápis, canetas, blocos de
notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de
saída, vaso com plantas, quadros, papéis,
cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena.
Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios,
cartas, notas, vales, cheques, memorandos,
bilhetes, telefone, papéis. [...]”
RAMOS, Ricardo. In: JOSEF, Bella (org.) Os
melhores contos de Ricardo Ramos. SP: Global, 1998)
Pela leitura do texto, você deve ter
conseguido regatar uma ideia mais geral
sobre seu sentido.
a) De que trata o texto?
b) Apesar de não terem sido utilizados os
tradicionais elementos coesivos, a pontuação do
texto nos auxilia bastante na construção de
pequenas unidades de sentido. Volte ao texto e
observe que o autor alterna o uso de vírgulas e
pontos. Como interpretar tal alternância?
c) Agora, volte novamente ao texto e,
separando cada uma das seqüências, identifique
a que acontecimento cada uma delas se referem.
4. Reescreva o período a seguir, pontuando-o
corretamente.
“É fato conhecido por muitos que Paulo Lins
escritor carioca viveu na Cidade de Deus onde
se desenvolve a trama de seu famoso livro.”
Comente três tipos diferentes de pontuação
no trecho: “- Passei o dia à toa, à toa!”.
6. Leia o texto e responda as questões.
“Uma vírgula esquecida ou mal usada afeta
o sentido da frase. A maldita pode mudar o
sentido ou deixar a frase sem sentido. Observe
a importância da vírgula no exemplo abaixo:
‘Os técnicos foram à reunião acompanhados
da secretária do diretor e de um coordenador.’
(...)
Se usarmos a vírgula, mudaremos o sentido
da frase (...)”
DUARTE, Sérgio Nogueira. Língua Viva.
a) Onde a vírgula deve ser colocada para que o
sentido da frase seja alterado?
b) Explique a alteração de sentido produzida
com a utilização da vírgula.
7. Leia a frase abaixo e explique o emprego das
aspas.
Em alguns acampamentos de férias no
interior de Minas Gerais, quem aprecia a vida
no campo pode curtir o frio, ouvindo “causos”
à beira da fogueira.
8. Leia o texto.
“Era um sujeito realmente distraído: na hora
de dormir, beijou o relógio, deu corda no gato e
enxotou a mulher pela janela.”
NUNES, Max. A pulga na camisola.
a) Explique o uso dos dois-pontos no texto
transcrito.
b) As duas vírgulas utilizadas no texto têm a
mesma função? Justifique sua resposta.
LTR/REP/RCP - Apostila de Redação Técnica
65
BIBLIOGRAFIA
ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português: língua e
literatura. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 2003.
AMARAL, Emília; FERREIRA, Mauro; LEITE, Ricardo; ANTÔNIO, Severino. Novas palavras,
nova edição. 1ª edição. São Paulo: FTD, 2010.
BARRETO, Ricardo Gonçalves. Coleção ser protagonista. 1ª edição. São Paulo: Edições SM, 2010.
BUSUTH, Mariângela Ferreira. Redação Técnica Empresarial. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2010.
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. São Paulo:
Atual, 2003.
FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar gramática: teoria, sínteses das unidades, atividades
práticas, exercícios de vestibulares. São Paulo: FTD, 1992.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17ª
edição. São Paulo: Ática, 2007.
GOLD, Miriam. Redação Empresarial – Escrevendo com Sucesso na Era da Globalização. 2ª
edição. São Paulo: Pearson, 2002.
MEDEIROS, João Bosco. Português Instrumental. 6ª edição. São Paulo: Atlas, 2007.
NOGUEIRA, Sérgio. Português sem complicação: regras, dicas e respostas comentadas. Coleção
Aula Extra. São Paulo: 2009.
SARMENTO, Leila Lauar. Oficina de Redação. 2ª edição. Belo Horizonte-MG: Moderna, 2002.
VÍDEO
Tempos Modernos (Modern Times, EUA 1936). Direção: Charles Chaplin. Elenco: Charles Chaplin,
Paulette Goddard, 87 min. preto e branco, Continental.
LEITURAS COMPLEMENTARES
HUNTER, James C.. O Monge e o executivo. Uma história sobre a essência da liderança. Tradução:
Maria da Conceição Fornos de Magalhães. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. Tradução: Lino Vallandro e Vidal Serrano. São Paulo:
Globo, 2009.
ORWELL, George. A revolução dos bichos. Tradução: Heitor Aquino Ferreira. São Paulo: Globo,
2003.
Autora: Lucivânia A. S. Perico
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