LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev EVOLUÇÃO DA INFÂNCIA NO BRASIL: DO ANONIMATO AO CONSUMISMO Michelle Torres Lage1 Marco André Cernev Rosa2 RESUMO: O conceito de infância pode parecer algo simples. Porém quando se realiza uma investigação sobre o desenvolvimento deste conceito, percebe-se sua historicidade e complexidade. Este artigo analisa o papel social da infância no Brasil. Ele tem como ponto de partida o conceito de infância próprio ao Brasil colonial e estabelece um paralelo em relação à contemporaneidade. A análise demonstra como o conceito de infância sofreu modificações a partir de condicionantes sociais, políticos e econômicos, até o ponto em que a infância passou a ser entendida pela sociedade a partir do seu potencial de consumo direto e indireto, inclusive através da influência que as crianças podem exercer no consumo de seus pais, devido ao seu potencial de “incômodo”. Palavras- chave: Infância, mudança, economia, consumismo. EVOLUTION OF CHILDHOOD IN BRAZIL: FROM ANONYMITY TO CONSUMERISM ABSTRACT: The concept of Infancy can seem something simple. However, when an inquiry into development of this concept is done, its historicity and complexity are realized. This article analyzes the social development of infancy in Brazil. It has as starting point the concept of infancy to colonial Brazil and establishes a parallel in relation to Contemporary World. The analysis shows how the concept of infancy suffered some modifications from social, politicians and economic aspects, until the infancy to be understood by the society, from its direct and indirect consumption potential and also by 1 Graduanda em Pedagogia pela UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná – Campus de Paranavaí/FAFIPA. Bolsista PIBIC pela Fundação Araucária. E-mail: [email protected]. 2 Docente da UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná – Campus de Paranavaí/FAFIPA. E-mail: [email protected]. Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev the influence that the children can exert in the consumption of their parents, due to his potential of “bother”. KeyWords: Infancy, change, economic, consumption. INTRODUÇÃO Crianças nunca faltaram no Brasil. Quando as embarcações portuguesas atracaram em solo brasileiro juntaram-se as crianças portuguesas com as índias, já existentes no país, logo em seguida vieram as crianças africanas, trazidas para o Brasil com seus pais escravos e tempos depois os filhos de escravos com portugueses nasceriam em solo brasileiro. (ABREU, 2008). A vida dessas crianças não era nada fácil, pois, em geral, o que os portugueses visavam era apenas explorar a sua força de trabalho, sendo tratadas como adultos em miniatura. Analisar a história da criança brasileira é dar de cara com um passado que se intui, mas que se prefere ignorar, cheio de anônimas tragédias que atravessaram a vida de milhares de meninos e meninas. O abandono de bebês, a venda de crianças escravas que eram separadas de seus pais, a vida em instituições que no melhor dos casos significavam mera sobrevivência, as violências cotidianas que não excluem os abusos sexuais, as doenças, queimaduras e fraturas que sofriam no trabalho escravo (PRIORE, 1991, p.3) Após longo período de maus tratos, miséria, abandono, a infância em 1927 passou a receber amparo legal, com o código de menores, elaborado para retirar as crianças abandonadas das ruas, que aumentava alarmantemente cada vez mais, e da criminalidade em que se envolviam para sobreviver. Com o golpe militar de 1964 a infância abandonada passou a ser analisada como fator para o subdesenvolvimento. O governo deste período tinha a intenção de tornar o país uma das potências mundiais, para isso criou a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM). Porém não estavam tão preocupados com o real bem-estar desses menores e sim em conter esses jovens que colocavam em risco a segurança e o Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev desenvolvimento do país. Talvez haja uma modificação nesta motivação, a partir da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), quando foram elaboradas leis sobre seus deveres e principalmente direitos, seu cumprimento é cobrado ética e moralmente da sociedade. Utilizamos a expressão talvez, pois esta elaboração ainda está ligada a uma pressão internacional em que o legislador brasileiro procura se aproximar de orientações que o permitam corresponder a orientações internacionais. Inclusive uma das críticas a esta legislação específica o ECA, é justamente a questão cultural e o contexto em que estas orientações foram criadas, e a maneira como podem se distanciar do contexto brasileiro. Reforçando uma crítica frequente de que no Brasil as legislações são criadas com o sentido de levar a um comportamento, enquanto em outros países, a criação de legislações específicas ocorre no sentido de regulamentar algo que já faz parte da realidade e do comportamento da população. O mesmo pode ser observado quanto a questão da legislação que trata da inclusão social. Porém ainda vemos muitas ações da sociedade que ferem os direitos das crianças (ou o que deveria ser garantido na forma de um direito, mesmo que hoje ainda não seja entendido desta forma – principalmente por já estar regulamentado em outros países). Um exemplo é a mídia que está sendo usada pelos empresários, com a intenção (premeditada) de acumular capital, para manipular as crianças, visto que elas passam boa parte do seu dia em frente de uma TV. Assim o hábito consumista é praticamente imposto sobre elas. “Se a criança pela lei é considerada incapaz, como podemos permitir uma mensagem publicitária voltada a ela? Ainda mais uma peça publicitária que seja persuasiva” (RENNER, 2008). A “infância” no Brasil A história da infância no Brasil não se inicia em 1500 com seu descobrimento pelos portugueses, tão pouco por volta de 1530 quando se deu seu povoamento, essa história se inicia com o recrutamento de crianças que adentravam nas embarcações portuguesas rumo à terra de Santa Cruz. Recrutamento que era incentivado pela coroa Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev portuguesa, já que havia uma grande desvalorização da vida infantil. Estas não eram vistas como crianças e sim como animais, que deveriam usar sua mão de obra enquanto suas vidas durassem. Segundo Ramos (2011, s/p.) “A expectativa de vida das crianças portuguesas, entre os séculos XIV e XVIII rondava os ‘quatorze anos’, enquanto ‘cerca da metade dos nascidos vivos morria antes de completar sete anos’. O recrutamento destas crianças para as embarcações de acordo com Ramos (2011) se dava de três maneiras, a primeira era o rapto de crianças judias, que acontecia com o objetivo de conseguir a força de trabalho para as embarcações e também de controlar o crescimento da população judaica em Portugal. A segunda maneira consistia no alistamento de filhos de famílias miseráveis , que era feito pelos próprios pais, com o objetivo de terem uma pessoa a menos para sustentar. A terceira e última era o recrutamento dos órfãos desabrigados. “Neste meio selecionavam-se meninos entre nove e dezesseis anos e não raras vezes com menor idade para servir como grumetes nas embarcações lusitanas”. (RAMOS, 2011) Em alto mar, [...] apesar de os grumetes não passarem muito, de adolescentes, realizavam a bordo todas as tarefas que normalmente seriam desempenhadas por um homem. Recebiam de soldo, contudo, menos da metade do que um marujo, pertencendo à posição mais baixa dentro da hierarquia da marinha portuguesa. Sofriam ainda, inúmeros ‘maus tratos’, e apesar de pelas regras da Coroa portuguesa estarem subordinados ao chamado guardião (cargo imediatamente abaixo do contramestre, ocupado em geral por um ex-marinheiro), tinham de prestar contas aos marinheiros e até mesmo aos pagens – outro tipo de função exercida por crianças, que costumavam explorar seus pares mais pobres, a fim de aliviar sua própria carga de trabalho. (RAMOS, 2007, p.23 apud LEITE, 2011 p. 3). Segundo variadas referências sobre a época, para sobreviver a todos esses meses de navegação os grumetes precisavam viver suas vidas como adultos, enfrentando a fome, pois nas embarcações pouco lhes sobrava além de biscoitos bolorentos, águas podres e fétidas, baratas e ratos que encontravam nos navios. Eles enfrentavam “os trabalhos mais pesados e arriscados a bordo, bem como explorados por seus pares embarcados na qualidade de marujos, sofrendo frequentemente abusos sexuais, maus tratos e humilhações.” (RAMOS, 2011,s/p.). Uma tradição que se perpetuaria em terra e mesmo na marinha de guerra brasileira quando por ocasião da independência do Brasil. Essa condição foi denunciada por João Cândido. Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev Quando as embarcações portuguesas atracaram em solo brasileiro, os portugueses ficaram surpresos com aquela população selvagem que encontraram. Houve um choque entre as culturas europeia (na figura do português) e a dos indígenas (que não tinham a sua cultura respeitada como tal) e a questão do atendimento à infância constitui um dos pontos de grande diferença entre estas culturas. Saviani (2008) baseado nos estudos de Fernandes (1989) completa que o processo de formação social das gerações indígenas acontecia em grupos separados por idades e sexo. Até a idade de oito anos havia total dependência materna, passando de tal idade os meninos recebiam arcos e flechas para brincar informalmente com seus pares. Já as meninas continuavam com as mães habilitando-se na arte de fiar algodão e amassar o barro. (LEITE 2011 p. 6) Podemos perceber que a educação indígena se dava de uma maneira natural, espontânea, com os pequenos seguindo os passos de seus pais para aprender as necessidades do grupo, pois faziam parte dele e assim eram consideradas e valorizadas. Já na cultura europeia o conceito de infância e o cuidado com ela ainda estavam em construção, considerando novamente a questão das viagens em alto mar e principalmente como afirma Maison-Laffitte: […] essa sociedade via mal a criança, e pior ainda o adolescente. A duração da infância era reduzida a seu período mais frágil, enquanto o filhote do homem ainda não conseguiam abastar-se; a criança então, mal adquiria algum desembaraço físico, era logo misturada aos adultos, e partilhava de seus trabalhos e jogos. [...] A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo mais geral, a socialização da criança, não eram portanto nem asseguradas nem controladas pela família. A criança se afastava logo de seus pais, e pode-se dizer que durante séculos a educação foi garantida pela aprendizagem, graças à convivência da criança ou do jovem com os adultos. A criança aprendia as coisas que devia saber ajudando os adultos a fazê-las. A passagem da criança pela família e pela sociedade era muito breve e muito insignificante para que tivessem tempo ou razão de forçar a memória e tocar a sensibilidade. [...] Se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois uma outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato. (MAISON-LAFFITTE 1981, p.10 apud ARIÈS, 1981.) Ou seja, aquele povo que era denominado pelos portugueses como “selvagem” socializava seus filhos na cultura de uma maneira natural, já os portugueses não enxergavam que as crianças precisavam ter um tratamento diferenciado, especial, pois Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev o processo do reconhecimento da infância na sociedade deles ainda estava em construção. Esta diferença entre as culturas, o modo de vida e a maneira de reconhecer a infância entre estes povos era evidente. Logo depois da chegada dos portugueses, a vida indígena sofreu uma forte mudança, por volta de 1532 quando iniciou a colonização do Brasil, a mão de obra utilizada era a indígena, as crianças não eram poupadas. Abreu (2008) ressalta que mal completavam seis anos e já acompanhavam seus pais nas lavouras. Em 1549 iniciou-se a a educação das crianças indígenas, com a chegada dos jesuítas. Sua missão era voltada para “a colonização, a educação e a catequese” (SAVIANI, 2008, p. 26 apud LEITE, 2011, p. 9). A educação ofertada tinha um compromisso essencial do jesuíta com a Igreja, na defesa e propagação da fé, criara desde a sua chegada, aqui como por toda parte, essa situação, clara e definida, em que a sua espantosa atividade missionária, política e educadora, se apresentava subordinada inteiramente às exigências ecumênicas da Igreja e aos supremos interesses da religião. (AZEVEDO, 1971 p. 510 apud LEITE, 2011 p. 9) Percebemos assim que a intenção inicial dos jesuítas era propagar a fé católica entre os indígenas, começando com “os meninos índios e, por meio deles, agir sobre seus pais, em especial os caciques, convertendo toda tribo para a fé católica” (SAVIANI, 2008 p. 43 apud LEITE, 2011, p. 10). No entanto a intenção inicial de educar e converter o gentil à fé católica sofreu modificações quando os Ordenamentos de Estatutos foram substituídos pelo ratio studiorum a partir do qual o papel da educação ofertada pelos jesuítas passou a interferir em questões políticas. O objetivo deste artigo não é discutir a educação voltada para a infância desta época, porém, os dados encontrados mostram como a educação indígena (da sociedade indígena) era rica em valores morais, e como esta não foi respeitada pelos portugueses e jesuítas como tal. Desta maneira, justifica-se a importância de destacar estes fatos. As famílias que habitavam as terras brasileiras não constituíam uma preocupação para Portugal, que inspirando-se no modelo da Inglaterra, passava a se beneficiar dos lucros da colônia brasileira. Assim como a reforma política, a reforma Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev educacional no Brasil passava também a visar o lucro para os portugueses. O ministro Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) com o intuito de levar a educação a comando do estado, expulsou os jesuítas da colônia e criou as aulas régias (SECO; AMARAL, 2005) A organicidade da educação jesuítica foi consagrada quando Pombal os expulsou levando o ensino brasileiro ao caos, através de suas famosas ‘aulas régias’, a despeito da existência de escolas fundadas por outras ordens religiosas, como os Beneditinos, os franciscanos e os Carmelitas”. (NISKIER, 2001, p. 34 apud SECO; AMARAL, 2005) Com o desenvolvimento da colonização houve uma desvalorização da educação indígena, e também da sua mão de obra, logo substituída pela força de trabalho negra. De acordo com Souto (1967) no período de 1550 começaram a chegar os primeiros navios negreiros ao Brasil, com o intuito de substituir a mão de obra indígena. Nos séculos de escravidão, o interesse maior era pelos homens, por suportarem mais o trabalho pesado. Porém, em quantidades menores, vinham mulheres, crianças e idosos, que também eram explorados de maneira cruel. Sendo a mão de obra masculina mais valorizada pelos compradores, estes quando iam arrematar seus escravos não pensavam em suas mulheres e filhos, ocorrendo a separação de muitas das famílias que aqui adentravam, “quem comprava os escravos desconsiderava os laços familiares existentes entre os negros africanos e, se assim desejassem, separavam as crianças dos seus pais, mulheres dos seus maridos, enfim, rompiam de vez os vínculos familiares.” (GÓES; FLORENTINO, 2000, p. 180 apud LIMA, 2011). Se para um adulto manter-se vivo nesta época era uma tarefa difícil, imagine para uma criança, que além de todo o sofrimento e dificuldade que enfrentava, muitas vezes se via separada de sua família, e rejeitada pelos compradores de escravos por acreditarem que estas não dariam o lucro esperado. Assim percebemos que A mortalidade infantil era muito alta, dessa forma, a criança que conseguisse completar um ano de vida já era considerada vitoriosa. Dentre as principais doenças que afligiam as crianças nesse período podemos destacar: mal dos sete dias, tinha, sarna, impingem, sarampo e lombrigas (PRIORE, 2000, p. 91 apud MOTTA, 2009, p.3). Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev O interesse dos senhores, pela gravidez de suas escravas era pequeno, pois estas dariam muitos gastos, e o lucro que ele teria com ela diminuiria por algum tempo. O sustento, a moradia, a alimentação e a vestimenta de seus filhos quem proveria seria o senhor, com a taxa de mortalidade sendo tão alta, este investimento de cuidar da gravidez da escrava não era considerado tão rentável, já que poucas crianças chegariam à sua plenitude aptas para o trabalho. Mary Del Priore no artigo O cotidiano da criança livre no Brasil entre a Colônia e o Império divide a infância em 3 fases, cujas características variavam de acordo com a condição social e jurídica dos pais. A primeira fase iniciava-se no nascimento e terminava aos 3 ou 4 anos de idade, período que marcava o fim da amamentação. Entre os 5 e 7 anos as crianças entravam na segunda fase, quando passavam a acompanhar os pais na lide. A terceira fase iniciava na transição dos 7 para os 8 anos até aos 14 anos, etapa de aprendizado para os infantes, como a prática de pequenos trabalhos, ofícios ou estudo das letras nas escolas régias. (MOTTA, 2009), Priore salienta que próximo aos 5 anos de idade as crianças, tanto as do senhor quanto as dos escravos não tinha uma diferenciação tão evidente e costumavam até brincarem juntas. Porém, após esta idade cada uma seguia um caminho diferenciado. O filho do senhor era iniciado no estudos das letras, enquanto o filho dos cativos seguiam seus pais na lida, para que com o convívio diário já aprendessem a ser escravos. Diferente do inicio da escravidão, em 1850 quando, por pressão da Inglaterra, o tráfico negreiro foi extinto (ainda que progressivamente), passou-se a dar mais valor aos filhos dos cativos, pois seriam estes que dariam continuidade à escravidão, já que esta prática estava sendo extinta e os senhores encontravam dificuldades para comprar homens fortes para a lida. Assim “Antonil aconselhava que os proprietários tratassem bem seus escravos para que eles ficassem felizes e assim reproduzissem servos e servas.”(ANTONIL, 1982, p. 164 apud MOTT 1989, p. 92-93). Este discurso passou a ser utilizado após muitas negras terem iniciado a prática do infanticídio, provocando o aborto de seus filhos e em outras vezes abandonando os mesmos, nas ruas, deixandoos à sua própria sorte, para que estes não viessem a ser cativos e sofrerem como suas mães e seus antepassados sofreram por tantos séculos. Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev Mott, citando Castro Alves expõe uma emocionante poesia, chamada Mater Dolorosa, incluída no seu livro “Os escravos”, onde se refere ao aborto das escravas, como um ato de amor. Meu filho, dorme, dorme o sono eterno No berço esplêndido que se chama - o céu Pede às estrelas um olhar materno, Um seio quente como o seio meu. Ai! borboleta na gentil crisálida, Asas de ouro vais além abrir Ai! rosa branca no matiz tão pálida Longe, tão longe vai além florir. (...) Não me maldigas...Num amor sem termo Bebi a força de matar-te...a mim ... Viva eu cativa a soluçar num ermo... Filho, se livre... sou feliz assim... (...) Perdão meu filho...se matar-te é crime... Deus me perdoa... me perdoa já. A fera enchente quebraria o vime... Valem-te os anjos e te cuidem lá. (…) (ALVES, Castro, 1976, p. 53, apud MOTT, 1989, 93). Quando as mães cativas abandonavam seus filhos na área rural, muitas famílias, geralmente pobres, encontravam as crianças e as recolhiam da rua, adotando-as como filhos de criação, pois precisavam de sua mão de obra para a lida, já que não poderiam comprar um escravo e dependiam da força de trabalho familiar para sobreviver. Desta forma este abandono era controlado e disfarçado. Já na área urbana a rejeição e abandono desses recém nascidos em ruas, lixeiras e terrenos baldios, se dava por muitas dessas gestações não acontecerem dentro de um casamento. Esta se tornava uma maneira das mulheres se resguardarem, já que o comportamento moral feminino era julgado pela sociedade constantemente, “quando uma mulher branca e solteira ficava grávida, tanto ela quanto o filho podiam ser mortos pelos pais ou irmãos. Nessas circunstâncias, a gravidez e o parto clandestinos, seguidos do abandono da criança, era uma alternativa à dura condenação da moral patriarcal” (VENÂNCIO, 1997, p.199 apud TORRES, 2006, p. 106). O mundo colonial conviveu com o índice de 30% a 60% de bastardia entre os livres e de 50% a 100% entre os escravos. [...] Na capital baiana os acervos do século XIX indicam que de cada três mães brancas uma tinha tido filho fora das fronteiras do casamento. (VENÂNCIO, 2006 p. 199) Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev Diferente da área rural, nos centros urbanos não havia famílias em número suficiente para adotar os enjeitados que eram abandonados nas ruas e para os maiores o emprego era escasso, provocando assim um grande desequilíbrio nas cidades, gerando um problema para as políticas públicas. Não havendo o interesse por parte das famílias em adotar estas crianças, ocorreu a instalação da Roda dos Expostos que consistia em um cilindro de madeira que girava sobre um eixo vertical e era encaixada numa grossa parede [...] instalada para receber as crianças enjeitadas, a roda foi colocada no muro de trás da instituição, pois era preciso garantir ao depositante a descrição, assegurando-lhe o anonimato, guardar o segredo de sua identidade. (NASCIMENTO, 2008, p. 100) A roda dos expostos “procurava evitar os crimes morais. A instituição protegia as brancas solteiras dos escândalos, ao mesmo tempo que oferecia alternativa ao cruel infanticídio.” (VENÂNCIO, 2006, p. 198) Se inicialmente a roda dos expostos tinha a intenção de proteger as crianças abandonadas, e manter a honra das famílias, já que o adultério e filhos fora do casamento eram frequentes, por fim não foi assim que aconteceu, pois a quantidade de expostos crescia cada vez mais, boa parte destes eram brancos, sofriam o abandono, pois eram considerados “filhos do pecado”, eram a prova da imoralidade de sua mãe que para não manchar a sua honra abandonava-os. Crescia também a quantidade de negros abandonados pelas suas mães escravas, para não serem escravos como elas, e de filhos de famílias pobres que não teriam condições financeiras de criar essas crianças. Já nos hospitais, igrejas, conventos onde ficavam os expostos o índice de mortalidade infantil era absurdo, segundo os médicos da época o grande culpado por estas mortes, além das inúmeras doenças que as crianças adquiriam, eram as mães de leite ou de criação, que não cuidavam destas crianças com amor e carinho que mereciam. Geralmente estavam com pouca paciência, muitas vezes chegando a colocar aguardente no leite para a criança parar de chorar e dormir rapidamente e por longo período. Percebemos que “a roda terminou possibilitando a homens e mulheres um apoio seguro às suas transgressões sexuais, bem como se tornou um foco autóctone de mortalidade infantil.” (NASCIMENTO, 2008, p. 25). Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev Muitas dessas crianças abandonadas saiam da casa do recolhimento e iam morar na rua, outras apenas perambulavam pelas ruas. Por motivos de pobreza extrema elas passaram a cometer pequenos furtos para garantir a sua sobrevivência, ocasionando um grande aumento na criminalidade, observando isto a preocupação com o sujeito infantil passava a se instituir como um problema econômico e político. Do ponto de vista dos juristas, tornou-se premente uma nova atitude por parte da sociedade e do Estado brasileiro com relação à criança abandonada. Duas preocupações básicas e interligadas nortearam, a partir de então, seus debates em torno desse problema. A primeira dizia respeito à busca de soluções que garantissem assistência às crianças e aos adolescentes privados de amparo moral e material na sociedade. A outra preocupação, possivelmente a preponderante, referia-se aos níveis crescentes de criminalidade infantil e juvenil, que colocavam em risco a manutenção da ordem e a “boa saúde” da sociedade. (FRONTANA, 1999, p. 50) Segundo estes juristas as crianças abandonadas significavam uma ameaça para a sociedade que estava se modernizando, pois elas passavam grande parte, se não todo o seu dia, na rua, ficando livre para fazer o que bem entendessem e em contato com outras pessoas de maus costumes que lhes serviriam de exemplo. Pensando em acabar com essa marginalidade e delinquência precoce foi elaborado o Código de Menores de 1927, “sob a categoria 'menor' incluíam-se todas as crianças e adolescentes material ou moralmente abandonados. [...]” (FRONTANA, 1999, p. 53). O código de menores estabeleceu que jovens que não trabalhassem ou estudassem provavelmente entrariam na criminalidade. Se um jovem abandonado fosse encontrado na rua seria encaminhado para instituições disciplinares, de acordo com Frontana “às instituições disciplinares caberia a formação de crianças e adolescentes economicamente produtivos, moralizados e politicamente submissos.” (FRONTANA 1999 p. 53). Se esta política tinha a intenção real de ajudar o “menor” não foi isto que aconteceu, pois as instituições disciplinares eram vistas como verdadeiras escolas do crime. A questão do menor só passou a ser verdadeiramente dimensionada como um problema social de âmbito nacional após o golpe militar de 1964. O desenvolvimento do Brasil, como descrito por Frontana “sempre foi uma preocupação urgente, sem segurança não há possibilidade de acontecer o desenvolvimento em um país, porém só Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev a partir de 1964 que a pobreza e miséria passaram a ser entendidas como fatores do subdesenvolvimento.” (FRONTANA, 1999, p. 82) Em um discurso o marechal Castello Branco deixa claro suas intenções: Desenvolvimento e segurança [...] são ligados por uma relação de mutua causalidade. De um lado, a verdadeira segurança pressupõe um processo de desenvolvimento, quer econômico, quer social. Econômico porque o poder militar está também essencialmente condicionado à base industrial e tecnológica do país. Social porque mesmo um desenvolvimento econômico satisfatório se acompanhado de excessiva concentração de renda e crescente desnível social, gera tensões e lutas, que impedem a boa prática das instituições e acabam comprometendo o próprio desenvolvimento econômico e a segurança do regime. De outro lado, o desenvolvimento econômico e social pressupõe um mínimo de segurança e estabilidade das instituições. E não só das instituições políticas, que condicionam o nível e a eficiência dos investimentos do estado, mas também das instituições econômicas e jurídicas que, garantindo a estabilidade dos contratos e o direito da propriedade, condicionam, de seu lado, o nível e a eficácia dos investimentos privados.( O Estado de São Paulo, 14 de março de 1967 apud FRONTANA 1999 p. 82) Este discurso deixa evidente a ideologia do governo militar, e a intenção de transformar o Brasil em uma economia capitalista e que fosse uma potência mundial. Com essa nova política de desenvolvimento e segurança a “questão do menor” passou a ter um novo enfoque, que foi de acordo com o regime autoritário vigente. Em dezembro de 1964 foi criada a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) com os objetivos de reprimir, corrigir e integrar os supostos menores desviantes, pois estes significavam riscos para a ordem pública e eram estas situações de risco que se queria combater. Na visão de Frontana (1999) além de o estado ter interesse na “questão do menor” para manter a ordem e a segurança no país, para que este se desenvolvesse, também utilizava da política do “menor” como propaganda do regime. Esse tipo de propaganda longe de ser uma manifestação isolada, fazia parte de uma ampla estratégia de comunicação do regime militar - destinada a garantir sua manutenção no poder -, que buscava, entre seus objetivos, o reconhecimento da opinião pública quanto à eficiência da ação do Estado na área social. (FRONTANA, 1999, p.91) Percebemos que as políticas para a infância deste período eram voltadas para conter esses jovens e não para protegê-los, sempre visando o desenvolvimento econômico e a acumulação do capital. Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev Enquanto no Brasil predomina a política voltada para a contenção do jovem e não para a sua proteção, em outros países do mundo a consciência da particularidade infantil começa a ser notada, um exemplo disto é a declaração sobre os direitos das crianças, de 1924 enunciada em Genebra. Quando... Em 1989 a Organização das Nações Unidas aprovou uma Convenção sobre os Direitos das Crianças. Este documento estabeleceu um novo paradigma de proteção à infância e à adolescência, determinando que todas as crianças e adolescentes são sujeitos de direitos titulares da chamada proteção integral. Este documento foi ratificado pelo Brasil em 1990 [...] (INSTITUTO ALANA, 2011). No Brasil uma nova atitude diante da infância e adolescência foi tomada apenas em 13 de julho de 1990 com a criação da lei n° 8.069, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente. Com esta lei iniciou-se uma real ruptura com o método excludente antes aplicado à infância. “O Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) trouxe, com sua concepção, uma nova forma de tratar as políticas direcionadas à infância e à adolescência no Brasil.” (ARNS, 2010, p.3. in: BRASIL, 2010). Um exemplo é o conteúdo da seção “Das Disposições Preliminares”, que aborda a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes e não apenas os deveres, como ocorria antes: Art. 3° A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4° é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 2010, p. 7). A criança passa agora, no texto e na intenção da lei, a ser realmente inserida na sociedade (diferente da ação anterior de tirar do convívio), vista como individuo de deveres e principalmente de direitos, a infância passa a ter outro olhar e outro tratamento. Diferente do passado, quando a infância não era reconhecida como tal, e o papel desta na sociedade era semelhante ou igual a nada, nos dias atuais a infância e o Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev cuidado com ela é supervalorizado, ética e moralmente. Porém, os pais não têm o mesmo tempo disponível para seus filhos como no passado, quando apenas o pai trabalhava para sustentar a família e a mãe ficava em casa para cuidar e educar seus filhos. Desta maneira notamos que [...]a crescente fragilização dos laços conjugais, a explosão urbana com todos os problemas decorrentes de viver em grandes cidades, a globalização cultural, a crise do ensino face aos avanços cibernéticos, tudo isso tem modificado, de forma radical, as relações entre pais e filhos, entre crianças e adultos.(PRIORE, 2010). Hoje há pais extremamente ocupados, que para sanar a sua culpa por não terem tempo para os seus filhos estão substituindo a educação por bens materiais. Há também uma economia voltada para o consumo, que percebeu a importância e a influência que a criança exerce sobre o capital, tanto pelo aumento do comércio e da indústria de produtos infantis, quanto por notar que “as crianças brasileiras influenciam 80% das decisões de compra de uma família, seja de carros, roupas, alimentos, eletrodomésticos.” (TNS/InterScience, out. 2003, apud INSTITUTO ALANA, 2011). Ninguém nasce consumista, o ato de consumir é orientado por um valor (ideologia burguesa) que o capitalismo implanta nas pessoas. Depois de concluir que a criança influência diretamente os gastos de sua família, houve um incremento de propagandas televisivas voltadas para este público. A publicidade na TV é a principal ferramenta do mercado para a persuasão do público infantil, que cada vez mais cedo é chamado a participar do universo adulto quando é diretamente exposto às complexidades das relações de consumo sem que esteja efetivamente pronto para isso. (INSTITUTO ALANA, 2011) A criança ainda não difere o certo do errado, o racional do emotivo. Quando vê uma propaganda, que para divulgar o produto, envolve grupos de crianças felizes, se maquiando, consumindo, etc. elas entendem que só com aqueles produtos poderão fazer parte desta sociedade. Então, se antes o atrativo na criança era ela ser ágil, correr rápido, pular corda muito bem, hoje passa a ser ela possuir a sandália da moda, o celular com a tecnologia mais avançada, as roupas da ultima tendência. Desta forma, a Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev maior parte dos desejos das crianças não vão ser desejos delas e sim desejos que foram implantados nelas pelo capitalismo, pois “bastam apenas 30 segundos para uma marca influenciar uma criança” (Associação Dietética Norte Americana, Borzekiwiski Robison apud RENNER, 2008) Notamos que: Nada, no meio publicitário, é deliberado sem um estudo detalhado. Em 2006, os investimentos publicitários destinados à categoria de produtos infantis foram de R$ 209.700.000,00 (IBOPE Monitor, 2005x2006, categorias infantis). No entanto, a publicidade não se dirige às crianças apenas para vender produtos infantis. Elas são assediadas pelo mercado como eficientes promotoras de vendas de produtos direcionados também aos adultos. Em março de 2007, o IBOPE Mídia divulgou os dados de investimento publicitário no Brasil. Segundo o levantamento, esse mercado movimentou cerca de R$ 39 bilhões em 2006. A televisão permanece a principal mídia utilizada pela publicidade. (Instituto Alana) De acordo com o documentário: “Criança a alma do negócio” (2008), a mídia se tornou o principal fator que contribui para a formação da nossa personalidade, não é mais a família, os amigos, a escola, e nem a igreja, e “a criança brasileira é a que mais assiste TV no mundo, em média 4 horas, 51 minutos e 19 segundos (IBGE apud RENNER, 2008). O apelo ao consumo da televisão está fazendo com que as nossas crianças levem vidas de adultos, e tenham a sexualidade mais aguçada, porém continuam imaturos por muito mais tempo. As propagandas, principalmente de cervejas, apresentam mulheres muito bonitas, com roupas provocantes que mostram muitas partes do seu corpo e sempre estão servindo os homens, assim as meninas crescem com o ideal que ela tem que ser sensual e servir o homem, conquistá-lo. Já os meninos crescem com a ideia de que ele tem que ser seduzido pela mulher.(RENNER, 2008) Cada vez mais cedo as meninas buscam roupas que valorizem o seu corpo, pensam em ter um namorado, “o número de jovens que têm a primeira relação sexual aos 15 anos aumentou de 11% para 32%. (O GLOBO, apud RENNER, 2008) A mídia afeta também os hábitos alimentares das crianças, “80% da publicidade de alimentos dirigidas às crianças são de alimentos: calóricos, com alto teor de açúcar, gordura e pobre em nutrientes” (ANVISA 2006 apud RENNER, 2008)”, não vemos mais crianças envolvidas com hortas, comendo verduras, legumes, frutas, bebendo sucos naturais. A maior parte desses alimentos saudáveis foram substituídos por refrigerantes, Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev salgadinhos industrializados, bolachas, frituras, gerando, assim um aumento na obesidade infantil. Em outros países este assunto já tem amparo legal. Na Suécia é proibida a publicidade na TV dirigida à crianças menores de 12 anos antes das 21 horas. Na Inglaterra é proibida a publicidade de alimentos com alto teor de gordura, açúcar e sal dentro e durante a programação da TV. Na Bélgica é proibida a publicidade para crianças nas regiões flamencas. Nos Estados Unidos há um limite de 10 minutos e 30 segundos de publicidade por hora nos finais de semana e um limite de 12 minutos por hora nos dias de semana. Na Alemanha os programas infantis não podem ser interrompidos por publicidade. Na Dinamarca é proibida qualquer publicidade durante os programas infantis, e ainda, 5 minutos antes e depois destes programas. (RENNER, 2008) No Brasil, como de costume, este assunto de proteção à infância continua atrasado, sem um amparo legal para este problema. Existem projetos de leis, que demoram anos para serem aprovados como é o caso dos projetos: Projeto de Lei n. 4935/2009 que proíbe a venda casada de brinquedos associados à aquisição de alimentos e bebidas; Projeto de lei do Senado n. 150/2009 sobre publicidade de alimentos às crianças; Projeto de Lei n. 4315/2008 que propõe o aumento da pena prevista para publicidade abusiva ou enganosa direcionada às crianças; Projeto de Lei n. 4815/2009 que propõe a proibição da comercialização de lanches acompanhados de brinquedos; o projeto de Lei n. 1600/03 que propõe um Código de Ética para a programação televisiva. Torna-se evidente como este meio de comunicação influencia a vida das crianças e como se faz necessário leis para ampará-las, pois observamos que ao mesmo tempo em que a infância está sendo encurtada a longevidade humana aumenta, isto pode trazer muito prejuízo para o nosso futuro, assim estamos produzindo crianças, jovens e adultos menos reflexivos que se envolvem no consumismo desenfreado, sem ter consciência do mal que este ato traz para si mesmo, para o próximo e para o meio ambiente. Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev CONCLUSÃO Os dados apresentados sobre a evolução da infância no Brasil permitem perceber como a infância é um processo histórico que vem carregado das ideologias e intenções de quem está no poder. A infância brasileira passou por muitas mudanças, antes a criança vivia no anonimato e com poucas regalias, agora existem várias leis e projetos de leis que visam ampará-la. Mesmo assim, ainda vemos muitas dessas leis sendo descumpridas e os projetos de leis se arrastarem por anos antes de serem aprovados. O modelo econômico da nossa sociedade visando o lucro e a acumulação do capital, descobriu que o papel da criança dentro das famílias modificou-se e agora elas opinam, dão palpites, mandam e muitas vezes até manipulam seus familiares para conseguirem o que querem. Conscientes disto empresários utilizam a mídia para interagir com as crianças, e através das propagandas na TV implantam nelas o desejo pelo consumo. Deixar o capitalismo, os empresários e a mídia manipularem a nossa infância é o mesmo que virar as costas para o nosso futuro. Estamos formando uma geração inculta, que recebe informações prontas da mídia e acredita que aquelas informações e desejos vêm dela mesma e que sua satisfação vai trazer a felicidade. As nossas crianças devem brincar, aproveitar a sua infância e se desenvolver de uma maneira saudável. Não devemos aceitar a manipulação das crianças para fim algum. Muito menos para servir à busca do lucro (por parte dos empresários), já que a TV influência nos gostos e modos das crianças, tornando-as assim promotoras de vendas de produtos dentro de suas próprias casas. REFERÊNCIAS ABREU, Cathia. A história da infância. Instituto Ciência Hoje, Rio de Janeiro, out. 2008. Disponível em: <http://chc.cienciahoje.uol.com.br/noticias/historia/a-historia-da-infancia>. Acesso em 31 ago. 2011. Revista Eletrônica de Educação. Ano IV. No. 08, jan./jul. 2011. LAGE, Michelle Torres; ROSA, Marco André Cernev ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. BRASIL. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente Brasília, 2010, p.7. FRONTANA, Isabel C. R. da Cunha. Crianças e adolescentes nas ruas de São Paulo. São Paulo: Loyola,1999. p. 50-91. INSTITUTO Alana. Consumismo Infantil, um problema de todos. 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