A TECNOLOGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NO SEMI-ÁRIDO PIAUIENSE: ESTUDO DE CASO ALBEMERC MOURA DE MORAES* FEDERICO B. MORANTE TRIGOSO** Universidade Federal do ABC – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas Rua Santa Adélia, 166 –– Bairro Bangu – Santo André – São Paulo – SP – Brasil CEP 09210-170 TEL: 55 11 4435 8451 - FAX: +55 11 4996-3166 * Mestrando do Programa de Pós Graduação em Energia **Professor Adjunto do Programa de Pós Graduação em Energia Resumo O seguinte trabalho tem como objetivo apresentar alguns resultados de uma pesquisa de campo realizada no semi-árido piauiense que visou verificar o uso da tecnologia solar fotovoltaica. Para isso foram aplicados seis questionários de pesquisa em três municípios do Estado, que estão localizados no vale do rio Canindé, região do semi-árido. Verificou-se que devido à falta de manutenção desses sistemas, boa parte deles deixou de funcionar ainda nos primeiros anos de suas instalações. Apesar disso, quase todos os entrevistados manifestaram sinal de aprovação à energia elétrica proveniente desses sistemas para o uso comunitário, no entanto questionaram a falta de manutenção destes e mostraram-se interessados em possuir acesso em suas residências deste bem tão importante e útil, a eletricidade. Abstract The following work has as objective to present some results of a research of field carried through in the semi-arid piauiense region that it aimed at to verify the use of the photovoltaic solar technology. For this six questionnaires in three rural communities of three municipal territories of the State in the valley of the river Canindé had been applied. It was verified that due to lack of maintenance of these systems good part of them left to still function in the first years of its installation. Although this almost all the interviewed ones had revealed signal of approval to the electric energy proceeding from these systems for the communitarian use, however they had questioned the lack of maintenance of these and had revealed interested in possessing access in its residences of this so important good is useful, the electricity. 1. Introdução O Estado do Piauí está localizado na Região Nordeste do Brasil e faz fronteira com os Estados do Maranhão, Bahia, Ceará, Pernambuco e Tocantins. Apresenta uma população de 3.032.421 habitantes (IBGE, 2007) distribuída em uma área de 251.529,186 Km² em um total de 223 municípios. O Piauí é um dos Estados mais pobre da federação, apresenta o segundo menor Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil e o terceiro menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro1. Além disso, percentualmente é o Estado menos urbano do Brasil, cerca de 39% da sua população vive no meio rural (CEPRO, 2006). Quanto à questão energética, segundo dados do Ministério de Minas e Energia de 2000, o Estado apresenta cerca de 60% da população rural desprovida de fornecimento de energia elétrica, isso corresponde a quase 150.000 residências, ocupando, assim, juntamente com o Maranhão e os 1 O Piauí possui um PIB per capita de R$ 2.892 (2004) ficando à frente apenas do Estado do Maranhão com R$ 2.748 (2004), segundo dados do IBGE obtidos no Piauí em Números – 7 ed. Quanto ao IDH o Estado apresenta um índice de 0,656, que corresponde ao terceiro menor do Brasil, ficando à frente apenas dos Estados do Alagoas (0,649) e Maranhão (0,636), segundo dados do Atlas de Desenvolvimento Humano de 2000. Estados da região Norte os menores índices percentuais de eletrificação rural do Brasil (BRASIL, 2006). Figura 1 – Percentual de pessoas que vivem em domicílios com energia elétrica, 2000 (Municípios do Estado do Piauí) Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano – 2000 Podemos perceber esta realidade observando a figura 1, que ilustra o percentual de pessoas que vivem com energia elétrica no Estado em 2000. Dos 221 municípios do Estado apresentados no mapa, existentes nesse ano, apenas 88 (verde e azul) apresentam índices de eletrificação superior a 64,17%. A situação é ainda pior se observarmos os municípios assinalados em vermelho (46) e laranja (44) onde o atendimento elétrico é inferior a 52,56%. Embora, atualmente, essa situação tenha se modificado um pouco devido ao aumento populacional e à ação de programas de eletrificação rural como o Programa “Luz Para Todos” do Governo Federal, muitas famílias situadas em lugares remotos no sertão piauiense ainda padecem desse mal. Além disso, a falta de empregos e a estiagem prolongada fazem com que muitos piauienses, que vivem da subsistência do campo, migrem para os grandes centros urbanos ou para fazendas no sudeste do país para trabalhar na colheita de cana-de-açúcar, em muitos casos em condições de semi-escravidão. Uma alternativa viável para atender essa demanda energética de baixo consumo, nas regiões remotas do Estado, é a instalação de sistemas descentralizados de geração de energia elétrica, via tecnologia solar fotovoltaica. Posto que, o Piauí apresenta grande potencial energético solar, além disso a extensão da rede elétrica apresenta custos elevados e, segundo usuários entrevistados, em muitos casos, baixa qualidade. Desta forma, o uso adequado dessa tecnologia pode atender tanto a demanda energética residencial/comunitário rural de baixo consumo, bem como no processo de bombeamento de água. Assim, segundo MORANTE (2004, p.113) “a disponibilidade de uma fonte de geração de eletricidade pode ajudar na redução do êxodo rural, na melhoria da escolaridade, na redução da desigualdade social e assim por diante”. Nesse contexto, este trabalho apresenta alguns resultados de uma pesquisa de campo realizada entre janeiro e fevereiro de 2008. A metodologia baseou-se na coleta de dados utilizando um questionário apropriado, a observação in loco e o registro fotográfico. As comunidades visitadas estão localizadas no vale do rio Canindé numa região de semi-árido piauiense. 2. Potencial Energético Solar do Estado O Estado do Piauí juntamente com os outros estados do Nordeste apresenta um grande potencial energético solar. Segundo dados da EMBRAPA Meio-Norte, como mostra a figura 2, o Piauí possui uma radiação solar global diária (média anual) superior a 20 MJ/m². Além disso, em meses como agosto, a insolação diária chega a 10 horas (média mensal). O Estado possui uma insolação global média anual superior a 7 horas/dia (ASB, 2000). Figura 2 – Radiação solar global do Estado do Piauí Fonte: Atlas climatológico do Piauí Desta forma, como apresentado acima, o Estado do Piauí apresenta grande potencial para o uso da tecnologia solar fotovoltaica na eletrificação rural. No entanto, várias são as barreiras encontradas para a introdução dessa tecnologia. Uma delas é a não existência de grupos de pesquisa em energia solar no Estado, em conseqüência a isso faltam estudos acadêmicos específicos2 sobre o tema, tornando o Piauí um dos estados brasileiros com pouca representatividade no que tange o uso mais adequado da tecnologia solar fotovoltaica na eletrificação rural. O Estado do Piauí apresenta-se, hoje, no que diz respeito ao uso da tecnologia solar fotovoltaica, restrito basicamente a ação do Programa de Desenvolvimento dos Estados e Municípios (PRODEEM), muito embora existam no Estado outras ações referentes à instalação de sistemas por Organizações Não Governamentais (ONG's) e iniciativas privadas, só que em proporções bem menores. 3. O PRODEEM no Piauí O PRODEEM foi criado em 27 de dezembro de 1994 pelo Governo Federal através de Decreto presidencial e tem como principal objetivo atender a comunidades carentes isoladas não servidas por rede elétrica através de energias renováveis descentralizadas. Ao longo da sua existência, o programa foi baseado principalmente na tecnologia fotovoltaica, compreendendo três tipos de aplicações: sistemas fotovoltaicos de geração de energia elétrica, sistemas fotovoltaicos de bombeamento d’água e sistemas fotovoltaicos de iluminação pública (GALDINO & LIMA, 2002). 2 Os estudos até agora encontrados na pesquisa bibliográfica que se relacionam um pouco com o tema foram realizados pela EMBRAPA e algumas universidades no Estado, e são referentes a dados de quantificação da radiação solar encontrados no Atlas Climatológico do Piauí e em estudos hidroclimáticos realizados em municípios piauienses. A aquisição de equipamentos foi efetuada por licitações internacionais, compreendendo cinco fases (I, II, III, IV, V), além de uma especial denominada Bombeamento, necessária para atender uma demanda emergencial no Nordeste, em função de uma estiagem prolongada durante o ano de 1998 (NETO & CARVALHO, 2006). No Piauí, entretanto, o PRODEEM só começou a ser implantado em 1997, tendo como Agente Regional a Companhia Energética do Piauí – CEPISA, que foi responsável pelas fases I e II do programa. A CEPISA, ao longo da sua gerencia regional, instalou 78 sistemas entre energéticos, bombeamento e iluminação pública, como mostra a tabela 1. Tabela 1 – Quantidade de sistemas fotovoltaicos instalados no Piauí durante a ação do PRODEEM e seus respectivos executores. Fases do PRODEEM n° de sistemas instalados CEPISA* Fase I e II 122 SEMAR - PI Fase III, IV e BOMBEAMENTO 187 BP SOLAR Fase V 302 * Durante a Fase I do programa, a CEPISA instalou 04 sistemas de bombeamento, 10 energético e 06 de iluminação pública. Já na fase II foram instalados 23 de bombeamento e 35 energéticos. Fonte: Elaboração própria (com base em relatórios da SEMAR – PI obtidos em fevereiro de 2008) A partir de 1999, o Programa passou a ser gerenciado pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí – SEMAR-PI, que executou as fases III, IV e Bombeamento do Programa. Durante sua gestão, a SEMAR através de convênio com prefeituras e dioceses municipais chegou a instalar 187 sistemas, compreendidos entre energéticos e de bombeamento, como mostra a tabela 1. Na figura 3, podemos observar um sistema fotovoltaico de bombeamento de água instalado pela SEMAR na Localidade Palhetas, município de São João da Vajota – PI. Em visita realizada à localidade em janeiro de 2008, constatou-se que este sistema não está mais em funcionamento, sendo que atualmente o bombeamento é realizado por meio de um gerador diesel mantido pela prefeitura. Figura 3 – Sistema fotovoltaico de bombeamento de água. Localidade Palhetas (São João da Vajota – PI) [Foto: Albemerc Moraes, Jan. 2008] No ano de 2002, na fase V do programa, através de licitação pública, foram instalados pela empresa BP Solar 302 (trezentos e dois) sistemas energéticos em escolas no meio rural do Estado, compreendendo 21 municípios piauienses. No Estado do Piauí, a BP Solar sub-contratou a empresa Hot Sat para realizar as instalações dos sistemas fotovoltaicos energéticos. Além da CEPISA, SEMAR e da BP SOLAR, o PRODEEM no Piauí contou com ações do Centro Federal de Educação Tecnológica do Piauí – CEFET-PI, que através de convênio com o PRODEEM, instalou 4 sistemas energéticos, sendo um para fins educacionais na própria sede da instituição, e um de bombeamento. Ainda para fins educativos foram instalados um kit na Universidade Federal do Piauí (UFPI) e outro no Parque Zoobotânico, ambos em Teresina. Em 2003, o PRODEEM passa a integrar o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica – “Luz Para Todos” – do Governo Federal (BRASIL, 2006). Sendo que, atualmente, o PRODEEM no Estado do Piauí está em fase de revitalização sobre a responsabilidade da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF. 4. O Programa “Luz Para Todos” no Piauí O Programa Nacional de Universalização da Energia Elétrica – “Luz Para Todos” (LPT) foi criado no dia 11 de novembro de 2003 e instituído através do Decreto N° 4873 pelo Governo Federal (BRASIL, 2003). No estado do Piauí, segundo a Resolução No 223 da ANEEL, até o ano de 2014 deverá ser finalizado o atendimento em energia elétrica à parcela da população do meio rural que ainda não possui acesso a esse serviço público. Entretanto, até o ano de 2007 o programa LPT fez 28.418 ligações através de extensão da rede elétrica convencional, isso corresponde apenas a 19% da sua meta: atender a 149.600 residências no Estado, como mostra a tabela 2. Além disso, apesar de haver sido publicada a resolução normativa n° 83 da Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), de 20 de setembro de 2004, que estabelece os procedimentos e as condições de fornecimento por intermédio de Sistemas Individuais de Geração de Energia Elétrica com Fontes Intermitentes – SIGFI, e assim possibilitar o uso de Sistemas Fotovoltaicos como alternativa para a universalização dos serviços de energia elétrica no Brasil (MODELIN, 2007), a Companhia Energética do Piauí (CEPISA) não optou ainda por essa alternativa viável de eletrificação rural no Estado. Tabela 2: Resumo de Ligações X Metas Anuais do Programa “Luz Para Todos” no Piauí. Fonte: CEPISA/Luz Para Todos 5. Estudo de caso: A tecnologia Solar Fotovoltaica no semi-árido piauiense A pesquisa de campo foi realizada nos meses de janeiro e fevereiro de 2008, abrangendo os municípios de Oeiras, Isaías Coelho e Floresta do Piauí. Estes municípios estão localizados no vale do Rio Canindé3, a respectivamente 313, 407 e 398 Km da capital Teresina (CEPRO, 2006), numa região de vegetação de transição caatinga-cerrado e clima semi-árido, com chuvas mal distribuídas e de caráter torrencial (CODEVASF, 2006). A figura 4 apresenta a localização dos municípios no mapa do Estado. Em cada município visitou-se uma comunidade rural que possuía um ou mais sistemas fotovoltaicos instalados. Nestas comunidades, foram aplicados questionários de pesquisa com a finalidade de tornar o estudo mais consistente e plausível. No entanto, como se trata de um estudo de caso deve-se ressaltar que o universo estudado não possui representatividade estatística. O questionário de pesquisa aplicado é composto de questões abertas, abrangendo informações gerais sobre a comunidade, o sistema instalado e aspectos referentes à relação entre a comunidade e a energia elétrica gerada por esse sistema. Foram aplicados seis (6) questionários 3 Importante afluente do Rio Parnaíba (maior rio genuinamente nordestino). de pesquisa, sendo cinco (05) para sistemas energéticos e um (01) de bombeamento. Todas as comunidades visitadas possuem como principal atividade econômica a agropecuária de subsistência e a criação de pequenos animais. Figura 4 – Mapa com divisão municipal do Piauí Fonte: CEPRO, 2006 (modificado) 5.1 Povoado Boa Nova – Oeiras, PI O Povoado Boa Nova está localizado na zona rural da cidade de Oeiras, há 62 Km da sede do município. Segundo relatos dos moradores, o povoado é um dos primeiros núcleos de povoamento da zona rural do município. O povoado possui aproximadamente 17 famílias e conta com uma infra-estrutura razoável, possuindo: Uma Escola Municipal, um posto de saúde, um mercado público, um chafariz4 comunitário e um telefone público (orelhão). Sendo que, toda a energia elétrica dessa infra-estrutura comunitária (ressalvo o mercado público) é via tecnologia solar fotovoltaica. Assim, a comunidade conta com quatro (04) sistemas fotovoltaicos, sendo três (03) energéticos (escola, posto e orelhão) e um (01) de bombeamento (chafariz comunitário). O sistema de bombeamento5 no chafariz público foi instalado em 1998 pelo PRODEEM, no entanto não está em operação atualmente devido a avarias na bomba fotovoltaica. Antes o bombeamento era feito via gerador diesel, porém, durante a visita foi manifestado que nos últimos meses, devido ao problema na bomba, a retirada da água do poço é feita de forma manual através de roldana, corda e manilha6 – figura 5. Os sistemas energéticos no posto de saúde e na escola municipal também foram instalados em 1998 pelo PRODEEM, mas diferentemente do chafariz estão funcionado normalmente, posto que estes foram revitalizados em novembro de 2007. No entanto, ambos deixaram de funcionar em 2001 devido a problemas nas baterias (término da vida útil), assim, como não existia um programa de manutenção e gestão desses sistemas a comunidade passou seis (06) anos a espera do processo de revitalização para que as baterias fossem substituídas e o sistema voltasse a funcionar normalmente. Já o sistema energético para telecomunicações (telefone público) foi implantado em 2000, mas não se sabe ao certo quem foi responsável pela sua instalação (Prefeitura, Estado ou Diocese), sabe-se que a sua manutenção é feita por funcionários da 4 5 6 Local destinado ao bombeamento e distribuição da água na comunidade. Este sistema é composto de 32 módulos fotovoltaicos de 45,3 Wp cada um. Reservatório cilíndrico de PVC (ou metal) e madeira, destinado à coleta da água no fundo do poço. empresa de telecomunicação que atua no Estado. Na figura 6, pode-se observar a escola, o posto de saúde e o telefônico publico, bem como seus respectivos módulos fotovoltaicos. Figura 5. Crianças no Povoado Boa Nova retirando água de forma manual através de roldana, enquanto o sistema de bombeamento fotovoltaico está inoperante. [Foto: Albemerc Moraes, Fev. 2008] Figura 6. a) Escola municipal, telefone público e posto de saúde no Povoado Boa Nova (Oeiras - PI). b) Módulos fotovoltaicos instalados sobre os telhados do posto de saúde, da escola municipal e do casebre que abriga o sistema de telecomunicação do telefone público. [Foto: Albemerc Moraes, Fev. 2008] Tanto o sistema instalado na escola, quanto o instalado no posto de saúde possuem a mesma característica técnica7: quatro (04) módulos fotovoltaicos localizados sobre o telhado, um banco de bateria interno com quatro (04) baterias automotivas, um (01) inversor e um (01) controlador de cargas. Quanto à utilização da eletricidade, a demanda difere de um para o outro, porém, possuem uma característica comum – ligações clandestinas. A escola possui duas (02) salas de aula e uma (01) cantina, sendo que utiliza a eletricidade apenas para iluminação (possui 8 lâmpadas de 20 W de potência), além disso, acoplado ao sistema de forma clandestina existe em um bar (localizado a aproximadamente 35 metros da escola) um carregador de baterias automotivas. O posto de saúde também só aproveita a eletricidade para fins de iluminação (possui 5 lâmpadas de 20 W de potência), toda via a demanda clandestina externa é ainda maior: televisor e receptor (localizado no mercado público) e televisor, aparelho de DVD, sistema de som e iluminação (localizado em um bar próximo). Segundo moradores locais, apesar dos problemas que estes sistemas apresentaram desde sua instalação, eles aprovam a qualidade da energia elétrica oriunda da tecnologia solar fotovoltaica. 7 Não foi possível encontrar os dados técnicos específicos do sistema, posto que não apresentava etiqueta informativa técnica e além disso os módulos fotovoltaicos foram instalados sobre o telhado impossibilitando a consulta de seus dados técnicos. Entretanto, reclamam da interferência que os equipamentos ocasionam no sinal de rádio local, além disso, reivindicam uma política mais eficiente de gestão e manutenção destes sistemas, principalmente que seja tomada providência no sistema do chafariz público que está a vários meses sem funcionar e é de fundamental importância para a população local. 5.2 Localidade Lagoa da Forquilha – Isaías Coelho, PI A localidade Lagoa da Forquilha possui aproximadamente 25 famílias e está localizada a 12 Km da sede do município de Isaías Coelho, a qual pertence. Encontra-se a uma altitude de 315 metros e a 07.38.989'' de latitude sul e 041.39.139'' de longitude oeste. Na comunidade existe uma escola municipal (Unidade Escolar D. João VI) e uma igreja evangélica. Em 2002, foi instalado na escola municipal da localidade um sistema fotovoltaico pelo PRODEEM através da Bp Solar, todavia não houve participação da população local no seu processo de implantação. Este sistema é composto de seis (06) módulos fotovoltaicos de 120 Wp, um (01) banco de baterias com oito (08) baterias seladas (12 V – 150 Ah) mantido em uma estrutura metálica fechada localizada externamente a escola, um (01) controlador de carga (24 V – 35 A) e um (01) inversor (24 V / 220 V – 900 W). A energia oriunda deste sistema está permitindo atualmente o funcionamento na escola de nove (09) lâmpadas florescente (20 W de potência) e um ventilador de teto. No entanto, através de ligações clandestinas feitas pelos moradores, o sistema ainda fornece energia elétrica a uma residência e a igreja evangélica, distantes respectivamente a 30 e 20 m da escola. Sendo que, a igreja possui duas (02) lâmpadas florescente (20 W) e a residência 04 lâmpadas (20 W) e uma geladeira. Segundo a zeladora da escola, que foi entrevistada, o sistema está funcionando normalmente, posto que foi revitalizado em novembro de 2007. No entanto, em 2005 foram roubados dois (02) módulos fotovoltaicos e a energia elétrica oriunda deste sistema passou a não ser mais suficiente para atender a demanda. Apesar deste acontecimento, a entrevistada relata que aprova a instalação do sistema na escola e afirma que graças a isso agora a comunidade pode ter cultos e aulas à noite, mas que seria bem melhor se todos possuíssem esse bem precioso – a eletricidade – nas suas residências. A figura 7 mostra a Unidade Escolar D. João VI na Localidade Lagoa da Forquilha, na qual foi instalado o sistema solar fotovoltaico energético. Em primeiro plano está a estrutura para sustentação e os módulos fotovoltaico, logo em seguida está o banco de baterias (caixa branca metálica) e passando sobre os módulos está a fiação que fornece clandestinamente eletricidade da escola para a igreja e a residência próximas. Figura 7 – Sistema fotovoltaico energético.Localidade Lagoa da Forquilha (Isaías Coelho – PI) [Foto: Albemerc Moraes, Fev. 2008] 5.3 Localidade Malhada da areia – Floresta do Piauí, PI A aproximadamente 13 Km da sede do município de Floresta do Piauí está situada a localidade Malhada da Areia, que encontra-se a uma altitude de 221 metros, na latitude sul 07.28.49.1” e longitude oeste 041.51.26.3”. A comunidade possui aproximadamente 27 famílias e conta atualmente com uma sala de aula municipal (adaptada), onde funciona a educação infantil e um chafariz comunitário. Dentro do Programa de Desenvolvimento dos Estados e Municípios (PRODEEM) foi instalado pela Bp Solar no segundo semestre de 2002 na então Escola Municipal Mãe Doca, que a localidade possuía8, um sistema energético via tecnologia solar fotovoltaica. Este sistema apresentava as mesmas características técnicas do sistema mostrado anteriormente (06 módulos, 08 baterias seladas, 01 controlador de cargas e 01 inversor). No entanto, segundo moradores entrevistados, a comunidade pouco pôde usufruir desta opção energética de geração distribuída, pois em 2004 foram roubados os seis (06) módulos que compunham o sistema. Inicialmente furtaram três (03) módulos e 21 dias depois os outros três (03). Segundo relatos locais, logo depois do primeiro furto os moradores procuraram a policia local para registrar um Boletim de Ocorrência (BO), mas isso não impediu a ousadia dos bandidos, que durante uma forte chuva roubassem os módulos restantes. Um dos moradores locais entrevistados faz uma crítica ao Programa, segundo ele: se a comunidade tivesse sido chamada para decidir onde era mais proveitoso um sistema fotovoltaico comunitário, uma opção bastante sensata seria o bombeamento fotovoltaico no chafariz público, posto que o bombeamento atualmente é feito por gerador diesel, sendo que a prefeitura local não fornece de forma continua o combustível necessário. Além disso, na escola quase nunca tinha aula à noite e como só existiam lâmpadas no local, a eletricidade gerada pouco foi aproveitado na escola. 6. Considerações finais A tecnologia fotovoltaica é, sem dúvidas, uma alternativa bastante competitiva no processo de eletrificação rural de baixo consumo energético onde a extensão da rede possui preços proibitivos. Neste sentido, foi muito importante a atuação do Programa de Desenvolvimento de Estados e Municípios (PRODEEM) no Piauí, no entanto, muitos foram os problemas que colocaram em descrédito a tecnologia no Estado. Desta forma, várias lições devem ser aprendidas para que no âmbito do Programa “Luz para Todos” não venham a colocar em risco o seu êxito. De acordo com as informações coletadas nas três comunidades visitadas, dentre os vários problemas que o Programa no Piauí padeceu, podemos destacar a não existência de uma política adequada de gestão e manutenção dos sistemas. Além disso, em todas as localidades visitadas a comunidade não participou do processo de implantação do sistema energético. Desta forma, quando o sistema deixa de funcionar normalmente a tecnologia vai perdendo credibilidade. Quanto a pesquisa de campo, verificou-se que todos os sistemas visitados que foram instalados pela Bp Solar apresentava uma mesma ficha técnica (mesmo kit para todas as escolas), ou seja, o sistema poderia estar sub ou super dimensionado para aquela realidade. Assim, em muitos casos não era adequado a realidade da escola ou da comunidade, ficando obsoleto. Apesar de todos os problemas encontrados, vale ressaltar que a grande maioria dos entrevistados aprova a energia oriunda desta tecnologia, mas gostariam que a eletricidade também chegasse em suas residências e que a manutenção fosse mais constante. Sendo assim, vale ressaltar, também, que as três localidades visitados na pesquisa aguardam o começo das obras de extensão da rede pelo Programa “Luz para Todos”, sendo que este está atrasado devido a irregularidade em licitações públicas. Assim, torna-se importante saber qual será a logística de redistribuição dos atuais sistemas para outras comunidades que ainda não foram contempladas pelo Programa, de forma que superem essas barreiras e tornem a tecnologia mais popular e útil para os futuros beneficiados. Palavras-chaves: Eletrificação Rural; Tecnologia Solar Fotovoltaica; Semi-árido piauiense. 8 Esta escola funcionava em uma casa alugada para a prefeitura (possuía 1 sala de aula e uma cantina), no entanto após o rompimento do contrato com a prefeitura em 2007 a escola passou a funcionar na sala principal da residência de um morador. Agradecimentos Agradecemos a CEPISA (Companhia Energética do Piauí) e SEMAR-PI (Secretária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí), pelo suporte de informações para a realização deste trabalho. 7. Referências ASB (2000). Atlas Solarimétrico do Brasil: banco de dados terrestres. Chigueru Tiba (coordenador do projeto), UFPE, Grupo FAE, CHESP, MME, ELETROBRÁS, CRESESB. BRASIL. Decreto Nº 4.873, de 11 de novembro de 2003. Institui o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica - "Luz Para Todos" e dá outras providências. Presidência da República, Diário oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, nov. 2003. ______. Ministério de Minas e Energia. Anexo à portaria n° 287, de 17 de novembro de 2006. Programa Nacional de Universalização do Acesso ao Uso da Energia Elétrica: manual de operacionalidade. 2006. Disponível em: http://www.seir.pa.gov.br/downloads/MANUAL_LPT.pdf Acessado: janeiro de 2008. CEPRO. Piauí em Números. Centro de Pesquisa Econômicas e Sociais do Estado do Piauí – CEPRO – PI. 7 ed. Teresina, 2006. CODEVASF. Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado da Bacia do Parnaíba, PLANAP: síntese executiva (Território Vale do Rio Canindé). Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF. Brasília – DF: TDA Desenhos & Artes Ltda, 2006. EMBRAPA MEIO-NORTE. Atlas climatológico do Piauí. Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária, Teresina, 2006, versão digital em CD. GALDINO, M.A.; LIMA, J.H.G. PRODEEM – O Programa Nacional de Eletrificação Rural Baseado em Energia Solar Fotovoltaica. In: Anais do IX CONGRESSO BRASILEIRO DE ENERGIA-CBE e IV SEMINÁRIO LATINO-AMERICANO DE ENERGIA, Volume IV, 2002, Rio de Janeiro. IBGE. Contagem de população 2007. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE http://www.ibge.gov.br (Acessado em 31/03/2008) NETO, M. R. B; CARVALHO, P. C. M. Energia solar fotovoltaica no semi-árido: Estudo de caso sobre a atuação do PRODEEM em Petrolina-PE. In: Anais do 6° Congresso internacional sobre Geração Distribuída e Energia no Meio Rural – AGRENER – Campinas, junho de 2006.