ACTA OBSTETRICA E GINECOLOGICA PORTUGUESA Órgão oficial da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia Official journal of the Federation of Portuguese Societies of Obstetrics and Gynecology Director CARLOS FREIRE DE OLIVEIRA Editor-Chefe/Editor in Chief DIOGO AYRES-DE-CAMPOS Corpo Editorial/Editorial Board JOSÉ BARROS CARLOS CALHAZ-JORGE ANA ROSA COSTA FERNANDO MOTA JOSÉ MARIA MOUTINHO CARLA RAMALHO JOÃO BERNARDES NUNO CLODE ALEXANDRA MATIAS JOSÉ ALBERTO MOUTINHO FILOMENA NUNES ISABEL TORGAL Editor de Produção/Production Editor MARILDA SANTANA Editora/Publisher MOMENTO MÉDICO, LDA Administração/Administration PAULO LEITE Conselho Científico: Fernanda Águas, Ana Aroso, António Bacelar Antunes, Ana Campos, Conceição Cardoso, Ingeborg Chaves, João Dória, Luís Graça, Carlos Marques, José Martinez de Oliveira, Teresa Mascarenhas, Nuno Montenegro, Paulo Moura, Daniel Pereira da Silva, Carlos Plancha, João Luís Silva Carvalho, Mário Sousa, José Vicente Pinto A Acta Obstetrica e Ginecologica Portuguesa é uma revista editorialmente independente, propriedade da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia (FSPOG). A revista publica trabalhos científicos originais avaliados por revisores, em todas as àreas relacionadas com a Ginecologia e Obstetrícia. O objectivo principal da revista é a promoção e divulgação da investigação científica nestas àreas, sobretudo entre os médicos da Especialidade. Outro objectivo é a divulgação da investigação científica realizada em Portugal em meios internacionais de grande impacto. É uma revista bilingue que aceita artigos escritos em inglês ou em português, sendo sempre necessário a inclusão de um Título e um Sumário em inglês. As submissões de artigos devem ser feitas on-line no site: www.aogp.com.pt A revista é publicada trimestralmente, sendo enviada gratuitamente a todos os Especialistas e Internos Complementares de Ginecologia e Obstetrícia, inscritos na FSPOG. Os pedidos adicionais de subscrição devem ser dirigidos à Empresa Editora. A publicidade inserida na revista é da responsabilidade única da Empresa Editora. 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The journal publishes original, peer reviewed, scientific work in all areas related to Obstetrics and Gynecology. The main aim of the journal is the promotion and disemination of scientific research in these areas, predominantely between clinicians in the speciality. Another aim of the journal is the international dissemination at high impact levels of scientific research carried out in Portugal. It is a bilingual journal, accepting articles written either in English or in Portuguese, but in all cases needing the inclusion of a Title and an Abstract in English. Article submission should be made on-line at the site: www.aogp.com.pt The journal is published every three months and send free of charge to all Specialists and Residents in Obstetrics and Gynecology registered at the FSPOG. Addicional subscription orders should be directed to the Publisher. Advertisments included in the journal are the sole responsibility of the Publisher. 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ISSN 1646-5830 Depósito Legal nº 257465/07 Vol. 5 Nº 2 Abril/Junho 2011 SUMÁRIO/SUMMARY Editorial Reduzir a taxa de cesarianas: um objectivo de todos os obstetras Reducing cesarean sectin rates: an aim for all obstetricians Nuno Clode. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Artigos Originais/Original Articles Prótese suburetral na incontinência urinária de esforço recorrente Second tension-free tape sling for recurrent stress urinary incontinence Pedro Manso, Sílvia Sousa, Conceição Aparício, André Catarino, Liana Negrão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Avaliação dos conhecimentos e comportamentos em relação ao consumo de alcool durante a gravidez Evaluation of knowledge and behavior regarding alcohol consumption during pregnancy Cláudia Meneses Alves, Inês Soares, Liliana Fernandes, Marta Lopes, Susana Béjinha, Ana Glória Fonseca, José Luís Castanheira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Artigos de Revisão/Review Articles Papel dos receptores de progesterona no cancro da mama Role of progesterone receptors in breast cancer Sofia Raposo, Margarida Dias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Contracepção na perimenopausa Contraception in the perimenopause Filipa Passos, Ana Beatriz Godinho, Joaquim Neves, Carlos Calhaz-Jorge. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Gravidez após cirurgia bariátrica: uma revisão Pregnancy after bariatric surgery: a review Maria Fátima Silva, Joana Silva, Maria Elisa Paredes, Emília Cunha. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Casos Clínicos/Case Reports Morte fetal tardia após miomectomia electiva no 2º trimestre Late fetal death after mid-trimestre elective myomectomy Ana Maria Coelho, Luciana Patrício, Alexandre Valentim-Lourenço, Nuno Clode, Luis Graça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 Gravidez e carcinoma das células renais: caso clínico Pregnancy and renal cell carcinoma: a case report Sofia Figueiredo, Joana Alves, Edson Retroz, Isabel Santos Silva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Mola hidatiforme parcial associada a síndrome de HELLP às 15 semanas de gravidez: caso clínico Partial mole associated with the HELLP syndrome at 15 weeks of pregnancy: a case report Pedro Oliveira, Ana Amaral, Ana Andrade, Isabel Reis, José Manuel Furtado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):56-58 EDITORIAL Reduzir a taxa de cesarianas: um objectivo de todos os obstetras Os números mais recentes do país quanto à taxa de cesarianas, englobando nascimentos em hospitais públicos e privados, reportam-se a 2009, rondavam 36%. Ou seja, no final da primeira década do século XXI, em Portugal, por cada 3 recém-nascidos um nasceu por cesariana! Esta alta taxa de cesarianas, só ultrapassada pela da Itália, não tinha uma redução proporcional na taxa de mortalidade materna e na taxa de mortalidade perinatal pois que, embora excelentes, eram similares às de outros países da União Europeia com taxas de cesariana inferiores a 20%. Provavelmente por a região Norte de Portugal apresentar taxas de cesarianas muito elevadas1 (superiores a 40% em alguns hospitais públicos, apesar de se encontrarem bem apetrechados e com recursos humanos qualificados em Medicina Materno-Fetal), em 2010 a ARS Norte tomou a iniciativa de criar a Comissão para a Redução da Taxa de Cesarianas da ARS Norte cujo relatório2 foi apresentado em Outubro. Este texto, que não tem sido divulgado adequadamente por todo o país, além de identificar as principais razões para a realização de cesariana no último trimestre de 2009 na região Norte – incompatibilidade feto pélvica (23,6%), trabalho de parto estacionário (20,7%), estado fetal não tranquilizador (20%) apresentação pélvica (14%) -, propunha a implementação de medidas por forma a reduzir a taxa de cesarianas que iam desde campanhas de informação e sensibilização dirigidas aos profissionais da saúde e ao público em geral, informando sobre os riscos da cesariana e sobre as vantagens do parto vaginal, até à proposta de revisão dos preços do GDH associados ao parto vaginal (no sentido do seu incremento) e do financiamento dos hospitais públicos consoante à taxa de cesarianas apresentadas, passando pela implemetação de cursos regulares de treino em interpretação de traçados cardiotocográfios e de electrocardiografia fetal, de execução de versão fetal por manobras externas e de resolução de emergências obstétricas. Em Março, a ARS Norte, no sua página da internet, mostrou que, em seis meses, houve uma quebra significativa na taxa de cesarianas – cerca de 5% - e, no primeiro trimestre de 2011, nenhum hospital público na região sob a sua responsabilidade apresentava uma taxa superior a 40%1. Se os números que se dispunham de 2009 eram assustadores, a aplaudida quebra de 5% na taxa de cesarianas no ultimo trimestre de 2010 e o primeiro de 2011, em que não houvera tempo de se consolidarem as medidas estruturais propostas pelo relatório da Comissão, dá que pensar! Sugere que, muito provavelmente, algumas cesarianas realizadas não teriam uma indicação médica concreta e que é possível, através de implementação de orientações clínicas, reduzir de forma significativa a taxa de cesarianas. A discussão sobre a taxa de cesarianas é já de longa data. Sem dúvida que é um indicador dos cuidados obstétricos, mas não existe nenhum valor ideal. A estipulação de um valor abstracto é impossível pois cinge o obstetra a uma práctica cega, em que o que interessa é “a taxa” e não o parto seguro para a mãe e para o seu filho. A redução de taxa de cesarianas é uma tarefa complexa e difícil e que deve abordada por vários prismas usando múltiplas estratégias. Pelo mundo fora, esta taxa apresenta variações entre países e, no mesmo país, entre regiões; varia com os conceitos culturais, com a pressão legal que é posta sobre a prática obstétrica, com a possibilidade de decisão da via de parto pela grávida – embora apenas uma mi57 noria deseje um parto por cesariana3 -, com o grau de risco obstétrico com que cada centro hospitalar tem de lidar e, com o factor que provavelmente terá mais peso nesta variação: a diferenciação e capacidade técnica dos obstetras para lidar com as etapas finais da gestação e com o trabalho de parto. Isto implica ser-se capaz de suportar a natural ansiedade e receio da grávida quanto ao parto - o que pode diminuir o seu desejo de que lhe seja realizada uma cesariana-, conhecer os fundamentos e sugerir/realizar a versão fetal por manobras externas nos fetos de termo em apresentação pélvica, ter conhecimentos sobre a fisiologia fetal e capacidade de interpretar correctamente um traçado cardiotográfico, ter profundo conhecimento da evolução natural do parto, sendo paciente e sabendo esperar – não esquecer que obstetrícia deriva do latim obstare que significa ficar ao lado ou seja a ver!- e, por fim, ter conhecimento e experiência das atitudes a tomar nas raras, mas inesperadas, emergências que podem surgir no período expulsivo assim como ter treino na utilização de instrumentos adequados para o abreviar. Não tendo esta atitude, mantendo uma postura passiva e cómoda, além de se perder a oportunidade de transmitir e ensinar a futuras gerações de especialistas em Obstetrícia as técnicas dos partos instrumentais, da versão fetal e mais importante, o de saber pensar em tocologia, o futuro obstetra não será mais que um mero executante de partos por cesariana, uma técnica cirúrgica simples mas com riscos associados e já abordados num anterior editorial da ACTA4, e que de certeza que são sobejamente conhecidos por todos os que praticam a especialidade e pelos que orientam Serviços de Obstetrícia por esse Portugal fora. Diminuir a taxa de cesarianas não é o mesmo que diabolizá-la! Dentro das muitas intervenções em obstetrícia, a cesariana foi sem duvida uma das que mais contribuiu para a redução da mortalidade e morbilidade materna e perinatal. Quantos de nós não dissemos, um dia, “ainda bem que fiz esta cesariana” ou “arrependo-me de não ter realizado uma cesariana”? Mas muito mais difícil do que fazer uma cesariana é saber decidi-la. Da mesma forma que um cirurgião não parte para uma laparotomia apenas porque acha, sem qualquer outro suporte de diagnóstico, decidir uma cesariana, por razões espúrias, não baseadas em conceitos actuais de evidência e sem haver uma forte indicação médica, não é defensável. A redução da taxa de cesarianas não é apenas um problema nacional com o objectivo de diminuição de custos e de apresentação de belos números. Reduzir a taxa de cesarianas significa um compromisso com uma obstetrícia moderna e de trazer a especialidade à sua verdadeira dimensão médica, dando toda a segurança a cada mulher e ao seu filho no momento crucial da gravidez que é o parto. A redução da taxa de cesarianas é assim um objectivo de todos nós. 1. www.portal.arsnorte.min-saude.pt 2. Relatório da Comissão para a Redução da Taxa de Cesarianas da ARS Norte. www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/ 3. Mazzoni A, Althabe F, Liu NH et al. Women’s preference for cesarean section: a systematic review and meta-analysis of observational studies. BJOG 2011;118:391-9 4. Ayres-de-Campos, D. São necessárias medidas urgentes para baixar a taxa nacional de cesarianas. Acta Obstet Ginecol Port 2010;4:115-117 Nuno Clode Editor Associado da AOGP 58 Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):59-62 Artigo Original/Original Article Prótese suburetral na incontinência urinária de esforço recorrente Second tension-free tape sling for recurrent stress urinary incontinence Pedro Manso**, Sílvia Sousa*, Conceição Aparício**, André Catarino***, Liana Negrão*** Sector de Uroginecologia da Maternidade Bissaya-Barreto Centro Hospitalar de Coimbra, Portugal Abstract Overview and Aims: Tension-free tape procedures have become widespread for the treatment of stress urinary incontinence (SUI). These techniques are evolving from retropubic to transobturator procedures and, more recently, to anchoring the tape edges into the internal obturator muscle rather than passing it through the obturator foramen. Failure of the technique can occur and this often leads to the consideration of a new surgery. The aim of this study was to evaluate the success rate of a second tension-free tape procedure. Study Design: retrospective, longitudinal and descriptive study. Population and Methods: We reviewed the clinical files of all women submitted to surgery in our institution, between January 2001 and December 2009, for a second minimally invasive surgery due to recurrent SUI after previous tension-free tape sling procedure. Those with recurrent SUI after section of the first sling (due to exteriorization) were subsequently excluded from the analysis. Failure of surgery was assumed when SUI symptoms and urinary leakage during physical examination were present. Results: A total of 1392 tension-free tape procedures were performed at our department for SUI treatment during the study period. Success rates at first year of follow-up were 89.6% for the TVT-O procedure and 76.5% for the TOT technique. Forty-two women had a second minimally invasive surgery. Two were excluded from the analysis due to recurrent SUI after section of the first sling, leaving a study sample size of 40 patients. All were submitted to a transobturator procedure. The success rate in this group was 80% at one month after the surgical procedure and 70% at one year of follow-up (after first TVT-O:79%; after first TOT:40%). Conclusions: Repeat tension-free tape sling for recurrent SUI appears to be a viable option for patients failing the initial procedure. First sling synthetic layer was not an obstacle for a new surgery. Keywords: stress urinary incontinence; tape sling failure; new tension-free tape INTRODUÇÃO A incontinência urinária de esforço (IUE) afecta cerca de 50% das mulheres, resultando em subs* Interno de Ginecologia/Obstetrícia ** Assistente Hospitalar de Ginecologia/Obstetrícia *** Assistente Hospitalar Graduado de Ginecologia/Obstetrícia tanciais encargos médicos, sociais e económicos. Habitualmente ocorre durante períodos de aumento da pressão intra-abdominal, quando a pressão intravesical supera a pressão que o mecanismo de encerramento uretral pode suportar. A maioria dos estudos relata a idade, a gravidez, o parto e a obesidade como factores de risco associados a maiores taxas de IUE 59 Manso P, Sousa S, Aparício C, Catarino A, Negrão L ou a maior intensidade da incontinência. A presença de IUE transitória pós-parto parece ser preditiva de IUE futura. A idade avançada também mostra relação com a presença de IUE, independentemente da paridade. Já a obesidade apresenta uma relação directa com a exacerbação desta doença.1-4 Em 1996, Ulmsten et al descreveram um procedimento cirúrgico minimamente invasivo para o tratamento da IUE com aplicação por via retropúbica de uma prótese sintética suburetral. A eficácia e segurança entre esta abordagem e o procedimento cirúrgico de referência - a colpossuspensão de Burch - mostraram ser semelhantes. A técnica cirúrgica evoluiu da abordagem inicial retropúbica até à via transobturadora. Esta última, descrita em 2001 por Delorme et al, foi desenvolvida para minimizar o potencial de lesões da bexiga e do intestino associada com a prótese retropúbica, uma vez que a tira é introduzida através do foramen obturador, evitando os órgãos pélvicos no espaço retropúbico. Nesta abordagem, a prótese pode ser introduzida da pele para a vagina (“outside-in” - TOT) ou da vagina para a pele (“inside-out” - TVT-O). Recentemente, surgiu a técnica com ancoragem da prótese ao músculo obturador interno sem passar através do foramen obturador.1-4 Os trabalhos mais recentes mostram uma equivalência na taxa de sucesso terapêutica para a IUE entre as abordagens transobturadora e retropúbica.1-3,12 Embora raro, o insucesso da técnica cirúrgica ocorre e a aplicação de uma segunda prótese sintética suburetral pode ser uma opção.5-9 Richter et al não encontraram diferenças entre as vias retropúbica e obturadora no tratamento da IUE.12 No entanto, na abordagem da IUE recorrente, estes autores incluem a terapêutica cirúrgica, farmacológica e comportamental, não as individualizando, o que impede uma conclusão sobre a equivalência da eficácia das técnicas cirúrgicas. Estudos recentes sugerem que a via retropúbica pode ser mais eficaz do que a via transobturadora na IUE recorrente.6-11 O objectivo deste estudo foi determinar a taxa de sucesso da aplicação de uma segunda prótese sintética suburetral para o tratamento da IUE recorrente por falha da primeira prótese. 60 MÉTODOS Os autores realizaram um estudo retrospectivo, longitudinal e descritivo, desde Janeiro de 2001 até Dezembro de 2009, dos processos das mulheres submetidas a uma segunda cirurgia minimamente invasiva com aplicação de nova prótese sintética suburetral por IUE recorrente. Na abordagem transobturadora utilizaram-se no procedimento “inside-out” a prótese Gynecare® TVTTM-O (Ethicon, Johnson & Johnson Limited, Livingstone, Escócia) e no procedimento “outside-in” as próteses Obtape® (Mentor-Porgès, Le Plessis, Robinson, França) e TOT® (Dow Medics, Wonju, Coreia do Sul); não foi utilizada qualquer prótese por via retropúbica. As empresas responsáveis pela produção destas próteses não tiveram qualquer participação na elaboração do estudo, na colheita de dados, análise ou escrita do manuscrito. Foram excluídas do estudo as mulheres com recidiva da IUE por secção da prótese devido a exteriorização. Considerou-se cura a ausência de sintomas de IUE e de perda urinária ao exame objectivo. Avaliou-se a taxa de sucesso da segunda cirurgia para tratamento da IUE e variáveis clínicas e demográficas. RESULTADOS Foram realizadas no nosso departamento 1392 cirurgias minimamente invasivas para o tratamento da IUE. A taxa de sucesso cirúrgico ao primeiro ano para a via transobturadora foi de 89.6% para o procedimento “inside-out” (TVT-O) e de 76.5% para a técnica “outsidein” (TOT). Quarenta e duas mulheres foram submetidas a nova cirurgia com aplicação de segunda prótese suburetral por IUE recorrente. Duas foram excluídas deste estudo devido à recidiva da IUE ter surgido após secção da primeira prótese por exteriorização. Das 40 doentes, 23 apresentavam recidiva posterior a TOT - 17 Obtape® (Mentor‑Porgès, Le Plessis, Robinson, França), 2 Uretex® (Bard Urological, Covington, USA), 2 Intramesh Soft Lift® (CousinBiotech, Wervicq-Sud, França), 1 Aris® (Coloplast, Humlebæk, Dinamarca) e 1 Pelvilace® (Bard Urological, Covington, USA); 12 posterior a TVT‑O - Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):59-62 Gynecare® TVTTM-O (Ethicon, Johnson & Johnson Limited, Livingstone, Escócia); 5 posterior a TVT – Gynecare® TVTTM (Ethicon, Johnson & Johnson Limited, Livingstone, Escócia); e 2 posterior a Gynecare® TVT Secur TM (Ethicon, Johnson & Johnson Limited, Livingstone, Escócia). Todas apresentavam hipermobilidade uretral e teste de Ulmsten positivo e todas foram submetidas a estudos urodinâmicos, verificando-se em cinco casos a presença de insuficiência esfincteriana (Puretral< 20 cm H2O). Em 35% das doentes verificou-se incontinência urinária mista e 65% apresentavam IUE sem componente de urgência. A idade mediana foi de 62 anos (90% pós-menopáusicas), o IMC médio foi de 30,2Kg/m2 e a paridade mediana foi de dois (não se observaram nulíparas). O tempo médio entre a primeira e a segunda intervenção foi de 13 meses. No primeiro acto operatório, em 50% dos casos houve cirurgia do pavimento pélvico associada à correcção da IUE. Não foi efectuada, em qualquer dos casos, cirurgia abdominal ou ginecológica entre as duas intervenções, não tendo ocorrido algum outro evento ou intercorrência significativos. A via transobturadora foi a utilizada em todos os actos operatórios. A remoção da primeira prótese suburetral não foi realizada. Não houve procedimentos cirúrgicos associados em qualquer uma das cirurgias. O tempo operatório médio foi de 14 minutos. Não se registaram complicações intra ou pós-operatórias. A taxa de sucesso da aplicação de uma segunda prótese sintética suburetral para tratamento da IUE recorrente foi de 80% na avaliação um mês após o procedimento cirúrgico e 70% um ano após a cirurgia. Das cinco doentes com insuficiência esfincteriana, todas realizaram TVT-O, verificando-se perda urinária ao fim de 12 meses em duas doentes. Face à reduzida dimensão da amostra procedeu-se exclusivamente ao estudo descritivo sem componente analítico, salientando‑se apenas a taxa de sucesso no primeiro ano do TVT-O (79%) superior à do TOT (40%) – Quadro I. DISCUSSÃO Os autores utilizaram preferencialmente a via transobturadora pela sua menor morbilidade no que respeita à lesão dos órgãos pélvicos no espaço retropúbico. Preferiu-se a técnica “inside-out” (TVT-O) pela menor necessidade de dissecção dos tecidos. O TVT-O apresentou eficácia um ano após cirurgia de 79%, oferecendo uma taxa de sucesso superior à via transobturadora “outside-in” (40%). Não foi efectuado qualquer procedimento por via retropúbica. A taxa de cura da IUE ao primeiro ano no nosso serviço na abordagem da IUE é de 89.6% para o TVT-O e 76,5% para o TOT, pelo que esta disparidade na eficácia do tratamento da IUE recorrente pode estar relacionada com a reduzida dimensão da amostra no braço do TOT. Apesar da maioria dos estudos actuais referirem que a via retropúbica apresenta melhores resultados Quadro I “Follow-up” após cirurgia por IUE recorrente 1º mês (n=40) Cura 32 (80%) TVT-O (n=34) TOT (n=6) 29 (85%) 3 (50%) 1º ano (n=34)* TVT-O (n=29) TOT (n=5) 24 (70%) 23 (79%) 2 (40%) - TVT-O: Tension-free vaginal tape obturator - TOT: Transobturator tape * Excluídos 6 doentes com “follow-up” inferior a 1 ano após cirurgia. 61 Manso P, Sousa S, Aparício C, Catarino A, Negrão L na IUE recorrente, a aplicação de uma segunda prótese sintética suburetral por via transobturadora “inside-out” (TVT-O) pode ser uma opção viável para mulheres com falha do procedimento inicial. A manutenção da primeira prótese suburetral não constituiu obstáculo para a segunda cirurgia. A morbilidade da segunda cirurgia foi nula. São necessários estudos prospectivos com uma maior amostra e um maior tempo de avaliação pós‑operatório para chegar a conclusões definitivas. BIBLIOGRAFIA 1. Latthe PM. Review of transobturator and retropubic tape procedures for stress urinary incontinence. Curr Opin Obstet Gynecol 2008;20:331–336 2. Rapp DE, Kobashi KC. The evolution of midurethral slings. Nat Clin Pract Urol. 2008;5(4):194-201 3. Alinsod R. Recent advances in tape slings for female urinary stress incontinence. Rev Obstet Gynecol. 2009;2(1):46-50 4. Moore RD, Gamble K, Miklos GR. Tension-free vaginal tape sling for recurrent stress incontinence after transobturator tape failure. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2007;18(3):309-13 5. Van Baelen AA, Delaere KP. Repeat transobturator tape after failed 62 mid-urethral sling procedure: follow-up with questionnaire-based assessment. Urol Int. 2009;83(4):399-403 6. Xylinas E, Descazeaud A. Repeat midurethral sling for female stress urinary incontinence after failure of the initial sling. Prog Urol. 2009 Oct;19(9):590-4 7. Lee KS, Doo CK, Han DH, Jung BJ, Han JY, Choo MS. Outcomes following repeat mid urethral synthetic sling after failure of the initial sling procedure: rediscovery of the tension-free vaginal tape procedure. J Urol. 2007 Oct;178:1370-4 8. Liapis A, Bakas P, Creatsas G. Tension-free vaginal tape in the management of recurrent urodynamic stress incontinence after previous failed midurethral tape. Eur Urol. 2009;55(6):1450-5 9. Stav K, Dwyer PL, Rosamilia A et al. Repeat synthetic mid urethral sling procedure for women with recurrent stress urinary incontinence. J Urol. 2010;183(1):241-6 10. Ala-Nissilä S, Haarala M, Mäkinen J. Tension-free vaginal tape - a suitable procedure for patients with recurrent stress urinary incontinence. Acta Obstet Gynecol Scand. 2010;89(2):210-6 11. Ulmsten U, Henriksson L, Johnson P, Varhos G. An ambulatory surgical procedure under local anesthesia for treatment of female urinary incontinence. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct 1996;7:81-86. 12. Richter HE et al. Retropubic versus Transobturator Midurethral Slings for Stress Incontinence. N Engl J Med. 2010;1-11 Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):63-71 Artigo Original/Original Article Avaliação dos conhecimentos e comportamentos em relação ao consumo de alcool durante a gravidez Evaluation of knowledge and behavior regarding alcohol consumption during pregnancy Cláudia Meneses Alves*, Inês Soares*, Liliana Fernandes*, Marta Lopes*, Susana Béjinha*, Ana Glória Fonseca**, José Luís Castanheira*** Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa Centros de Saúde dos Distritos de Braga, Porto, Portalegre, Lisboa e Setúbal Abstract Overview and Aims: in the European Union and Portugal in particular, there is a high prevalence of alcohol consumption in women of childbearing age. Drinking alcohol can have severe consequences for the fetus. The minimum quantity of alcohol that is noxious in pregnancy is still unknown, thus the consumption of alcohol during pregnancy is a serious public health problem. This study was aimed at evaluating the perception and information that pregnant women have on alcohol consumption and its consequences to their unborn children. Design: cross-sectional observational study. Population: sample of convenience of pregnant women attending Primary Care Health Centres. Methods: an original questionnaire was elaborated and answered by 260 low-risk pregnant women attending their routine prenatal care. Results: women’s ages varied between 15 and 49 years and 23.1% were in the first trimestre of pregnancy. Almost 80% denied alcohol consumption during the current pregnancy. Among those that drank alcohol during pregnancy, 16.5% reported drinking alcohol twice a week and 2.3% reported daily consumption. A total of 74.6% considered alcohol consumption during pregnancy to be extremely harmful to the fetus, while 2.7% considered it was not harmful at all. Fetal development abnormalities, mental retardation, growth retardation and abortion were the four most frequently identified consequences. Only 1.5% considered that there were no consequences. Conclusions: the vast majority of low-risk pregnant women women in our region are aware that alcohol consumption is contraindicated during pregnancy and its consuption is associated with potentially serious consequences. Keywords: alcohol consumption; patient information; pregnancy; fetal malformation INTRODUÇÃO Portugal figura como um dos maiores consumidores mundiais de bebidas alcoólicas,1 surgindo como o 8º * Médica Interna do Ano Comum ** Assistente Convidada - Saúde Pública *** Professor coordenador do 6º ano - Saúde Pública maior consumidor mundial de álcool puro e ocupando o 4º lugar no que respeita ao consumo de vinho.2 O consumo de bebidas alcoólicas tem vindo a aumentar, passando de 50,4% em 1998/1999 para 53,8% em 2005/2006. (3) Esse aumento foi mais evidente nos jovens e no sexo feminino, que são dois grupos populacionais mais vulneráveis e de tradicional baixo consumo.1 63 Alves CM, Soares I, Fernandes L, Lopes M, Béjinha S, Fonseca AG, Castanheira JL A vulnerabilidade inerente ao sexo feminino devese, não apenas, à menor capacidade de metabolização hepática do álcool, mas particularmente ao risco que constitui a ingestão de bebidas alcoólicas durante a idade fértil, período em que pode ocorrer uma gravidez.1 Cerca de 30% das grávidas portuguesas ingerem bebidas alcoólicas antes do diagnóstico da gravidez.4 Assim a exposição do feto ao álcool torna-se mais provável no primeiro trimestre.5 Embora o álcool seja prejudicial durante toda a gravidez, é precisamente no primeiro trimestre, entre as 4 e 10 semanas de gestação, que é mais nocivo para o feto.6 O álcool atravessa livremente a membrana placentária, tornando a alcoolemia do feto idêntica à da mãe. (7) Tem efeitos tóxicos directos no processo de divisão celular, sendo o risco de malformações tanto mais elevado, quanto mais agudos e quanto maior a quantidade de álcool ingerido em cada episódio nos primeiros meses da gravidez.8,9 O álcool é fetotóxico, teratogénico e representa a primeira causa de défice intelectual de origem não genética, nos países ocidentais.9 As consequências relacionadas com a ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez podem ser graves, pois o álcool pode impedir o normal desenvolvimento do feto, quer retardando o seu crescimento, quer produzindo alterações físicas, cognitivas e comportamentais permanentes e irreversíveis, na criança que está para nascer.4,10 A mais grave dessas consequências é o Síndrome Fetal Alcoólico (SFA).8 A prevalência do SFA é muito variável na literatura.9 Segundo dados da OMS, em cada ano nascem cerca de 12000 crianças com SFA.7 A designação “Síndrome Fetal Alcoólico (SFA)” descreve uma tríade de dismorfia facial, atraso de crescimento e perturbações do sistema nervoso central, com história confirmada de consumo de álcool durante a gravidez.11,12,13 A National Organisation on Fetal Alcohol Syndrome (NOFAS), em 2004, concordou em usar o termo Fetal Alcohol Spectrum Disorder (FASD), na tentativa de obter um conceito mais abrangente.13,14 As manifestações que caracterizam o FASD podem apenas aparecer com a idade. O grau de severidade pode variar de indivíduo para indivíduo e algumas das manifestações sofrem alterações ao longo 64 da vida.13 Os défices e incapacidades são irreversíveis após o nascimento, podendo prolongar-se até à idade adulta, sobretudo no que respeita às doenças mentais e do comportamento.10 Contudo, esses défices podem ser completamente preveníveis, através da abstinência total de álcool durante a gravidez.7 Nos últimos anos, o debate centrou-se na segurança de um consumo moderado de álcool durante a gravidez. Embora os resultados encontrados não tenham sido conclusivos, alguns estudos sugerem uma associação entre o consumo ligeiro e problemas comportamentais na infância.15 Um estudo americano longitudinal de base populacional demonstrou que o consumo esporádico de mais de 4 bebidas alcoólicas por dia, durante a gravidez, pode aumentar o risco de problemas de saúde mental na criança, essencialmente hiperactividade e défice de atenção, mesmo na ausência de um consumo alcoólico regular.16 Porém, um estudo holandês não encontrou nenhuma associação entre o consumo leve a moderado de álcool na gravidez e alterações nas características do crescimento fetal, em diferentes períodos da gestação.17 Actualmente, ainda não foi estabelecido um limite seguro de consumo de álcool durante a gravidez, nem se sabe se existe um limiar mínimo de álcool necessário para o desenvolvimento de malformações no feto.4,5 As recomendações internacionais são no sentido de uma abstinência total durante toda a gravidez e em particular no 1º trimestre.5,6 Recomenda-se, igualmente, a abstinência alcoólica nos três meses anteriores à gravidez. Caso não se consiga a abstinência, para minimizar o risco para o feto, a mãe grávida não deve ingerir mais do que 1-2 unidades de álcool 1-2 vezes por semana, nunca atingindo a embriaguez.6 Em Portugal, embora ainda não exista legislação relativa ao consumo de álcool durante a gravidez, o Ministério da Saúde considera a ingestão de bebidas alcoólicas totalmente contra-indicada durante a gravidez e a amamentação.1,10 Nos últimos anos, tem-se constatado um aumento do consumo de álcool em mulheres em idade fértil, sendo pois essencial que haja uma correcta informação sobre as suas consequências.8 Determinados estudos concluíram que as mulheres grávidas apesar de estarem consciencializadas para a interferência do Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):63-71 álcool na gravidez admitem que um consumo moderado é aceitável.18,19 Em Portugal, um estudo de 2004, aplicado a grávidas da região Norte do país, demonstrou que 58,3% das mulheres consomem habitualmente álcool e destas 33% mantém o consumo durante a gravidez.20 O “Plano de Acção contra o Alcoolismo”, uma resolução do Conselho de Ministros de 2000, salienta a importância de desenvolver e apoiar programas de promoção e educação para a saúde na área da alcoologia, que incluam o desenvolvimento de campanhas de informação pública, com o intuito de chamar a atenção para as consequências nocivas na saúde do feto e do lactente, do consumo materno durante a gravidez e a amamentação.1 As mulheres grávidas querem assumir a responsabilidade pela sua própria saúde e fazer escolhas com base em pareceres informados.5 Assim, a todas as mulheres deve ser oferecida, por parte dos profissionais de saúde, uma avaliação e aconselhamento sobre o consumo de álcool na gravidez.6 Embora uma intervenção na fase pré-concepcional seja mais efectiva, intervir durante a gravidez tem potencial para diminuir os efeitos nocivos da exposição ao álcool. Caso esta intervenção seja bem sucedida, trará vantagens quer para o desenvolvimento da criança, quer para gravidezes futuras.21 Assim, avaliar conhecimentos das gestantes sobre o risco da ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez é importante para a melhoria da prestação de cuidados de saúde pré-natais. Considerando o anteriormente exposto, este estudo tem como objectivos: a) Conhecer a informação de mulheres grávidas relativamente às consequências para o descendente, da ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez; b) Caracterizar as suas atitudes face à ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez actual e em gravidezes anteriores; c) Identificar as principais fontes de informação e o aconselhamento que receberam. Como finalidade deste projecto, pretendemos contribuir para a delineação de estratégias, que possam conduzir à implementação de medidas adequadas para um melhor aconselhamento, das mulheres em idade fértil, sobre os riscos inerentes à ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez. METODOLOGIA Foi realizado um estudo descritivo transversal numa amostra de conveniência constituída por 260 mulheres grávidas, obtida em Centros de Saúde dos distritos de Braga, Porto, Portalegre, Santarém, Lisboa e Setúbal. A participação no estudo dependeu da autorização formal dos conselhos de administração dos referidos Centros de Saúde e do consentimento informado (verbal) de cada mulher. Como instrumento de recolha de dados foi construído um questionário de auto-preenchimento, anónimo e individual. O questionário continha três grupos de questões mistas: a) um grupo sobre identificação e caracterização da grávida com as variáveis idade, tempo de gestação, habilitações literárias, situação profissional e distrito de residência; b) um grupo sobre as atitudes da grávida face à ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez, com as variáveis ingestão antes e durante a gravidez, quantidade e tipo de bebidas ingeridas, existência de gravidezes anteriores e caracterização da postura adoptada em gravidezes anteriores; c) um grupo sobre informação relativa à ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez, com as variáveis opinião sobre nocividade do álcool, consequências da ingestão de bebidas alcoólicas, fonte de informação utilizada, conhecimento e eficácia de campanhas de sensibilização, opinião sobre informação das grávidas e fontes seleccionadas para obter mais informação. O pré-teste foi aplicado a 4 mulheres grávidas, nos dias 14 e 15 de Janeiro 2010 e não foi necessário fazer alterações ao questionário elaborado. O estudo decorreu nos dias 18 a 22 de Janeiro de 2010, não tendo sido excluído nenhum dos questionários aplicados à população do estudo por preenchimento incorrecto. Os dados deste estudo foram processados e analisados utilizando o software Epi Info® versão 3.5.1, Microsoft Office Excel 2007® e Microsoft Office Word 2007®. Foram calculadas as proporções das respostas obtidas e a comparação das proporções foi 65 Alves CM, Soares I, Fernandes L, Lopes M, Béjinha S, Fonseca AG, Castanheira JL efectuada pelo testes Qui-Quadrado ou recorrendo ao Teste Exacto de Fisher, quando adequado. O nível de significância considerado foi de 5% (a=0.05). RESULTADOS Caracterização da amostra A amostra era constituída por 260 grávidas com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos (Figura 1) provenientes dos distritos de Lisboa e Setúbal (21.15%), Portalegre e Santarém (19.23%), Braga (17.31%) e Porto (17.31%). Das inquiridas, 23,1% encontravam-se no 1º trimestre da gravidez, 31,9% no 2º e 45% no 3º, sendo 162 primigestas e 98 multigestas. A maioria foi seguida pelo médico de família desde o 1º trimestre (91,2%). Na amostra, 93% das grávidas tinham habilitações literárias iguais ou superiores ao 9º ano de escolaridade. Atitudes das grávidas face à ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez Na amostra, 117 (45%) grávidas negaram a ingestão de bebidas alcoólicas antes de engravidar, 101 (38.8%) afirmaram ingerir menos de 2 vezes por semana, 22 (8.5%) mais de 2 vezes por semana e 20 (7.7%) referiram ingerir diariamente bebidas alcoólicas. Figura 1 – Distribuição por faixa etária (N=260) 66 Relativamente à ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez, 207 (79.6%) grávidas negaram este hábito, 43 (16.5%) afirmaram ingerir menos de 2 vezes por semana, 4 (1.6%) ingeriam mais de 2 vezes por semana e 6 (2.3%) grávidas referiram ingestão diária. Na análise por distrito, verificou-se que, durante a gravidez na região de Braga, 28 das 110 grávidas inquiridas (25.45%), mantinham a ingestão de bebidas alcoólicas; na região de Lisboa/Setúbal 13 das 56 grávidas (23%) mantinham a ingestão; no distrito do Porto, 8 em 45 (17.7%); na região de Portalegre/Santarém 4 em 49 (8%). De entre as 53 grávidas que afirmaram ingerir bebidas alcoólicas na gravidez, 35 referiram uma ingestão inferior a 2 bebidas por semana, sendo o vinho/ cerveja a bebida preferencial. Analisando, neste grupo de 53 grávidas, as variáveis idade e ingestão semanal média de bebidas alcoólicas, verificou-se que das grávidas com idade até 30 anos, 22 ingeriam até 7 bebidas alcoólicas semanalmente e 4 mais de 7 bebidas; das grávidas com mais de 30 anos, 24 ingeriam em média até 7 bebidas e 3 mais de 7 bebidas. Aplicando o Teste Exacto de Fisher verificou-se que as duas variáveis analisadas são independentes (p=0,478). No mesmo grupo (n=53 grávidas que afirmaram ingerir bebidas alcoólicas na gravidez), a análise da Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):63-71 ingestão semanal média de bebidas alcoólicas em função do grau de escolaridade mostrou que das grávidas que afirmaram ingerir bebidas alcoólicas, com escolaridade até ao 9º ano, 20 (37,7%) ingeriam até 7 bebidas/semana e 3 (5,6%) mais de 7; no grupo com escolaridade superior ao 9º ano, 26 (49%) grávidas ingeriam até 7 bebidas/semana e 4 (7,5%) mais de 7 bebidas/semana. Pela aplicação do Teste Exacto de Fisher verificou-se que as variáveis grau de escolaridade e ingestão de bebidas alcoólicas são independentes (p=0,65). De entre as multigestas (n=98), 44.9% referiram ter reduzido ou suspendido a ingestão de bebidas alcoólicas em gravidezes anteriores, tendo esta mudança de atitude ocorrido, na maioria dos casos, durante a gravidez e por iniciativa própria. Analisando a ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez em função história de gravidez prévia, ve- rificou-se que o hábito de ingestão de bebidas alcoólicas estava mais presente nas multigestas: 32 das 98 multigestas (30%) e 21 das 162 primigestas (13%) ingeriam bebidas alcoólicas. Aplicando o Teste QuiQuadrado verificou-se que as variáveis história de gravidez anterior e hábito de ingerir bebidas alcoólicas são dependentes (p=0,0001). Informação das grávidas sobre as consequências da ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez Na amostra, 97.3% das grávidas consideraram a ingestão de bebidas alcoólicas prejudicial durante a gravidez (Tabela I). De entre as 6 grávidas que ingeriam bebidas alcoólicas diariamente, verificouse que 2 consideraram não ser prejudicial, 3 pouco prejudicial e apenas 1 considerou ser muito prejudicial. Tabela I – Opinião das grávidas face à ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez Frequências Frequências cumulativas Muito prejudicial 194 (74,6%) 194 (74,6%) Moderadamente prejudicial 45 (17,3%) 239 (91,9%) Pouco prejudicial 14 (5,4%) 253(97,3%) Não é prejudicial 7 (2,7%) 260(100%) Tabela II – Patologias que foram identificadas pelas grávidas como consequências da ingestão de bebidas alcoólicas. Aborto 40,8% Malformações fetais 73,1% Sindrome de Down 7,3% Atraso mental 48,1% Hiperactividade 13,5% Baixo peso à nascença 43.1% Aumento de peso à nascença 2,7% Diabetes 18,5% Atraso de crescimento 40,8% Não há consequências 1,5% Nota: Cada grávida podia seleccionar mais de uma patologia 67 Alves CM, Soares I, Fernandes L, Lopes M, Béjinha S, Fonseca AG, Castanheira JL Figura 2 – Fontes de informação identificadas pelas grávidas A maioria (81,2%) considerou o 1º trimestre como o período onde a ingestão pode ser mais prejudicial e ter maiores consequências. Na Tabela II estão ilustradas as patologias que as grávidas consideram estar relacionadas com a ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez. Quando inquiridas sobre a fase do desenvolvimento da criança em que a ingestão seria mais prejudicial, 116 grávidas (45%) afirmaram ser durante a gravidez e 94 consideraram as consequências como mantidas ao longo da vida. De acordo com a Figura 2, são várias as fontes de informação acerca da ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez identificadas pelas grávidas, sendo que o médico de família/profissionais de saúde e os familiares/ amigos foram as fontes mais frequentemente citadas. A maioria das grávidas (82%) negou saber da existência de campanhas de sensibilização que alertassem para os efeitos de ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez. As restantes afirmaram que as campanhas as motivaram para modificação dos seus hábitos de consumo de álcool. Analisando a ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez em função do conhecimento sobre campanhas de sensibilização verificou-se que: das 47 grávidas que tiveram acesso a campanhas, 9 afirmaram ingerir bebidas alcoólicas e 38 não ingerir; das 213 que desconheciam a existência de campanhas, 44 referiram ingerir e 169 não ingerir. Pela aplicação do teste Qui-Quadrado existe associação estatisticamente significativa (p=0,0054) entre as duas variáveis. Sendo que, as 9 grávidas que afirmaram ingerir bebidas alcoólicas, tendo sido expostas a campanhas, ingerem menos de 2 vezes por semana. As grávidas da amostra foram inquiridas sobre o grau de informação das mulheres relativamente aos efeitos da ingestão de bebidas alcoólicas (Tabela III). Quando questionadas sobre o interesse em receber mais informações dos efeitos da ingestão, a maioria manifestou interesse positivo (74,2%), sendo o médico de família/profissionais de saúde seleccionado como fonte preferencial (Figura 3). Tabela III – Opinião das Grávidas sobre o grau de informação das mulheres relativamente aos efeitos da ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez Frequências 68 Frequências cumulativas Muito informadas 41 (15,8%) 41 (15,8%) Moderadamente informadas 117 (45,0%) 158 (60,8%) Pouco informadas 96 (36,9%) 254 (97,7%) Nada informadas 6 (2,3%) 260(100%) Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):63-71 Figura 3 – Posição das grávidas face à sua vontade de receber mais informação sobre as consequências da ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez e fontes de informação preferenciais (N=260) DISCUSSÃO O estudo foi realizado com uma amostra de conveniência de 260 grávidas entre os 15 e os 49 anos de idade, primigestas e multigestas, seguidas na gestação no Centro de Saúde da sua área de residência, nos distritos de Braga, Porto, Portalegre, Santarém, Lisboa e Setúbal. Importa, no entanto, referir que um número considerável de grávidas faz o seguimento da gravidez em Hospitais e na Medicina Privada e os casos em que a gravidez não é objecto de vigilância médica, que segundo um estudo de 2003, corresponde a cerca de 4% das gravidezes.22 A grande maioria das inquiridas tinha percepção dos malefícios da ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez. Cerca de 55% das grávidas afirmaram ingerir bebidas alcoólicas antes da gravidez e 20,4% afirmam manter a ingestão durante a gravidez. Estes dados são condicentes com estudo de 2004 de Ricou et al, que mostrou que 58,3% das mulheres consomem normalmente álcool e destas 33,3% man- tém o consumo durante a gravidez.20 No entanto, este é um estudo que abrange apenas a região Norte do país, o que poderá explicar os valores ligeiramente superiores, pois segundo dados de 1999 do Instituto Nacional de Estatística, a prevalência de consumidores é mais alta na região norte do país.23 Constatou-se que, de uma maneira geral, as grávidas inquiridas diminuem a ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez. A idade e o grau de escolaridade não foram identificados como factores com influência na manutenção da ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez. No entanto, isso não significa que as grávidas reduzam na totalidade a sua ingestão, sendo esta a questão chave, uma vez que a quantidade mínima de álcool a partir da qual o consumo é embrio e fetotóxico mantém-se desconhecida.4,5 Ao relacionarmos a existência de gravidezes anteriores com a ingestão de bebidas alcoólicas, verificouse que as multigestas referiam uma maior ingestão do que as primigestas. Assim, as multigestas parecem ser mais permissivas, o que está de acordo com resulta69 Alves CM, Soares I, Fernandes L, Lopes M, Béjinha S, Fonseca AG, Castanheira JL dos de um estudo de 1996, em que as atitudes das grávidas relativamente ao consumo de álcool na gravidez actual eram influenciadas pela experiência em gravidezes anteriores.24 A maioria das grávidas inquiridas (74.6%) considerou que a ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez é muito prejudicial. No entanto, é de salientar que existem ainda 8.1% que afirmaram ser pouco ou nada prejudicial, sendo este um número elevado. Considerando as 6 grávidas que afirmaram ingerir bebidas alcoólicas diariamente, 5 afirmaram que o álcool é pouco ou nada prejudicial durante a gravidez. Apesar de a amostra ser muito reduzida relativamente à amostra total, poderá existir uma relação entre a informação das grávidas e os seus comportamentos, uma vez que as grávidas que afirmaram manter ingestão alcoólica diária na gravidez foram sobretudo aquelas que o consideraram como menos prejudicial. Das grávidas inquiridas 81,2% indicaram, correctamente, o 1º trimestre como o período em que a ingestão alcoólica pode ser mais prejudicial. Contudo, este valor não deve ser sobrevalorizado, uma vez que nem todas as grávidas apontaram o 1º trimestre isoladamente. Quanto à identificação das principais patologias decorrentes da ingestão de bebidas alcoólicas, a grande maioria das inquiridas seleccionou de forma correcta as patologias mais frequentes, embora raramente as tenham identificado na totalidade. Por outro lado, patologias sem qualquer ligação com a ingestão alcoólica (aumento de peso à nascença, diabetes e não há consequências) foram identificadas concomitantemente por algumas grávidas. Relativamente à questão sobre a fase de desenvolvimento em que se podem manifestar as consequências da ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez, a resposta mais assinalada foi “durante a gravidez”, sendo que apenas 36,2% afirmaram correctamente que seria “ao longo de toda a vida”, donde se constata que a maioria das grávidas não está sensibilizada para a longevidade do prejuízo inerente à ingestão alcoólica durante a gravidez. Pelo anteriormente exposto, constatamos que apesar de as grávidas estarem informadas relativamente ao prejuízo e consequências, para o descendente, da 70 ingestão de bebidas alcoólicas durante a gravidez, a informação que possuem é pouco precisa e clara. Resultados semelhantes foram obtidos num estudo, realizado em 2009 no Reino Unido, em que a maioria das grávidas considerou confusa e pouco credível a informação e aconselhamento que receberam.5 No que se refere à fonte de informação seleccionada preferencialmente pelas grávidas, o médico de família assume uma posição de destaque, o que realça o papel destes profissionais de saúde no sentido de consciencializar as grávidas para esta problemática. Relativamente à exposição das grávidas a campanhas de sensibilização que alertem para os efeitos da ingestão de bebidas alcoólicas na gravidez, embora a maioria das grávidas não recorde qualquer campanha, as 47 que afirmaram ter sido expostas consideram que essas campanhas as motivaram a modificar os seus hábitos, daí a relação estatisticamente significativa encontrada entre as variáveis. Este resultado parece reforçar a importância e impacto das campanhas de sensibilização como forma de consciencialização para a nocividade do consumo de álcool na gravidez. Esta ideia foi também apoiada por um estudo feito na Nova Zelândia em 2005, no qual as mulheres inquiridas tinham uma opinião positiva em relação às campanhas de sensibilização, nomeadamente no rótulo das garrafas de bebida alcoólicas, como uma boa e efectiva fonte de informação.25 Mesmo não conseguindo motivar na totalidade para a evicção do consumo de álcool na gravidez, as campanhas de sensibilização podem motivar as grávidas a reduzir a sua ingestão, podendo este facto representar uma significativa mudança de atitude. O anteriormente exposto está de acordo com um estudo de 1996, que concluiu que uma maior percepção de risco está associada a um menor consumo de álcool na gravidez.22 Por outro lado, não se conhecendo o limiar mínimo de álcool necessário para o desenvolvimento de malformações fetais, poderá haver apenas uma redução dos hábitos de ingestão e não a abstenção total. O estudo incidiu sobre atitudes, percepções e conhecimentos individuais, não tendo sido objectivo do estudo apurar a quantidade de álcool ingerido e o risco real a que cada grávida está exposta. Deste estudo sobressai a necessidade de investir em políticas e pla- Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):63-71 near e implementar estratégias para colmatar este que é um dos problemas de saúde pública no século XXI. Tendo em atenção à relevância atribuída aos médicos de família/profissionais de saúde na divulgação da informação e ao potencial impacto das campanhas de sensibilização será importante considerá-los como fontes e veículos de informação nas estratégias para a evicção do consumo de álcool durante a gravidez. BIBLIOGRAFIA 1 Ministério da Saúde. Plano de Acção contra o Alcoolismo - Resolução do Conselho de Ministros n.º 166/2000 de 29 de Novembro 2 World Drink Trends- Consumo Total de Álcool Puro por Regiões do Mundo - WDT 2005. Acedido a 5 de Janeiro de 2010 em http://www. cras.min-saude.pt/WDT-2005-1.pdf 3 Instituto Nacional de Estatística, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. 4º Inquérito Nacional de Saúde 2005/2006 – Informação à Comunicação Social 2007. 4 Pinheiro, L. Por que não deve beber álcool durante a gravidez – Serviço de Pediatria do Hospital de Braga 2006 5 Raymond, N. Beer, C. Glazebrook, C. Sayal, K. 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Oestrogen and progesterone receptors (ER and PR) are valuable predictive factors for hormonal therapy response, and PR have an additional prognostic value, as they identify tumors that present a better response to aromatase inhibitors. On the other hand, PR are usually negative in breast câncer metastases, as these usually present more aggressive phenotypes and more complex molecular changes. PR have been reported to constitute important factors in the process of carcinogenesis and tumor progression, blocking the inflammatory response pathway and, consequently, slowing tumor evolution and metastases formation. Keywords: breast cancer; hormone receptors; progesterone receptor; risk factors: predictive factors INTRODUÇÃO O conhecimento da morfologia e fisiologia da glân- dula mamária, bem como das suas funções endócrinas, é fundamental para o estudo fisiopatológico e para a abordagem das lesões benignas, pré-neoplásicas e neoplásicas da mesma. O cancro da mama representa cerca de 1/3 de todos os cancros no sexo feminino1; no ocidente atinge 1 mulher em cada 8 e, só na Europa há cerca de meio milhão de novos casos por ano2. Em Portugal com uma população feminina de 5 milhões, aparecem 4.500 novos casos de cancro * Interna da Especialidade Ginecologia/Obstetrícia ** Professora, Assistente Graduado 72 da mama por ano, ou seja 11 novos casos por dia3. A incidência de cancro da mama é dependente da idade e, tal como outros tumores, resulta de uma série de mutações nos genes responsáveis pelos factores de crescimento e pela reparação do ADN. A neoplasia maligna da mama representa um modelo clássico de neoplasia hormonodependente. Desde 1896 que se reconheceu que o cancro da mama era hormonodependente, quando Beatson relatou que a remoção dos ovários causava a regressão do cancro da mama disseminado4. Existem, actualmente, evidências de que as hormonas ováricas desempenham um papel importante na etiologia do cancro da mama. Estudos epidemiológicos demostraram, consecutivamente, que menarca precoce, menopausa tardia, Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):72-78 nuliparidade e idade tardia da primeira gestação de termo são factores de risco para o cancro da mama5,6. Apesar da causa e do momento em que o processo de carcinogénese tem início não serem conhecidos, estudos epidemiológicos, clínicos e experimentais identificaram um intervalo entre a menarca e a primeira gestação de termo como um período “janela” de risco para o desenvolvimento do cancro da mama7,8. Desta forma a contribuição dos estrogénios no desenvolvimento mamário normal e na carcinogénese está bem estabelecida; no entanto, o papel da progesterona permanece incompletamente estabelecido. Os RP estão implicados numa variedade de processos biológicos, incluindo desenvolvimento da glândula mamária, regulação da progressão do ciclo celular, processamento de proteínas, metabolismo e indução de outros eventos sinalizadores9. Os RP são mediadores dos efeitos da progesterona no desenvolvimento mamário e no cancro da mama10,11. Mais de metade dos tumores que expressam receptores de estrogénios (RE) também expressam RP10,12, sendo ambos considerados factores de bom prognóstico13. Apesar do valor preditivo dos RE em relação à resposta à terapêutica hormonal estar bem definido, o valor dos RP tem gerado algumas controvérisas14. Os RP dependem de um gene que responde aos estrogénios; assim, a positividade dos RP indica não só que os RE estão presentes, como também funcionais13 Por esta razão tem sido difícil separar o papel da progesterona do dos estrogénios e, deste modo a função dos RP no cancro da mama permanece menos esclarecida que a dos RE. No entanto, uma pequena porção de tumores (cerca de 5%) apresenta RE–/ RP+, respondendo mais favoravelmente à terapêutica hormonal do que os tumores RE–/RP–14; este facto evidência a importância dos RP no comportamento dos tumores da mama e, não apenas como indicadores da função dos RE. Este fenómeno pode ocorrer devido a um falso negativo no resultado dos RE, ou pode reflectir a existência de vias que podem activar os RP, independentemente dos RE. Arpino et al15 demonstraram que a perda dos RP está associada a níveis inferiores de RE, presença de maior número de gânglios positivos, aneuplodia, maior volume tumoral, maiores taxas de proliferação e expressão do re- ceptor do factor de crescimento epidérmico (EGFR) e do receptor do factor de crescimento epidérmico 2 (HER2)16. Estes factores associam-se com um fenótipo tumoral mais agressivo e maior índice de resistência à terapêutica hormonal. Neste estudo efectuou-se uma revisão bibliográfica e actualização acerca da importância dos receptores de progesterona (RP) e a sua relevância clínica. BIOLOGIA MOLECULAR E FISIOLOGIA DOS RP As funções fisiológicas da progesterona são mediadas pelos RP, que pertencem à superfamília de receptores nucleares de factores transcripcionais. Os mecanismos pelos quais os RP regulam as respostas hormonais são complexos e consistem fundamentalmente numa mudança conformacional desses receptores causando translocação nuclear, dimerização e interacção com elementos específicos do ADN da progesterona presentes nas regiões promotoras dos genes13. Os produtos proteicos dos genes-alvo dos RP estão envolvidos numa série de actividades celulares que compreendem transcrição, metabolismo lipídico e esteróide, crescimento celular e apoptose, processamento de proteínas e ácidos nucleicos indicando, assim, as inúmeras potenciais acções da progesterona17. De salientar que algumas destas proteínas estão envolvidas no desenvolvimento da glândula mamária e cancro da mama, nomeadamente factores transcripcionais13. Os RP são compostos por três isoformas distintas: RP-A, RP-B e RP-C. O RP-B difere do RP-A apenas por uma sequência adicional de 164 aminoácidos no terminal amina. O RP-C não apresenta o domínio de ligação ao ADN e evidencia a ausência de dois domínios de activação perto do terminal amina. As células com positividade para os RP habitualmente coexpressam RP-A e RP-B; estes receptores podem ter diferentes actividades transcripcionais com o mesmo promotor, embora também reconheçam outros promotores. Os RP-B são necessários para o desenvolvimento mamário normal, enquanto que os RP-A são essenciais para o desenvolvimento uterino e para a função reprodutiva18; os RP-C são desprovidos de actividade transcripcional18. No tecido mamário normal 73 Raposo S, Dias M os RP-A e os RP-B são expressos em quantidades semelhantes, mas no tecido mamário neoplásico a expressão de um dos dois pode predominar19,20. Estudos recentes sugerem que a expressão relativa de uma das isoformas pode ter significado prognóstico21, não nos cancros da mama, mas também noutro tipo de tumores, nomeadamente em cancros endometriais21. Por exemplo o predomínio de expressão dos RP-A é indicador de má resposta à terapêutica hormonal, enquanto que o predomínio dos RP-B indica má resposta à quimioterapia13,22. Nas células de tecido mamário tumoral, apesar de alguns genes serem regulados pela progesterona através de ambas as isoformas, a maioria dos genes são apenas regulados por uma das isoformas, predominantemente pela isoforma B23. PAPEL DOS RP NA REGULAÇÃO DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA Os mediadores inflamatórios encontram-se implicados no crescimento e progressão do cancro da mama. A aromatase encontra-se elevada em cerca de 70% dos cancros da mama e é expressa quer nas células tumorais, quer nas células do estroma e células endoteliais24. A acção da aromatase nas células tumorais e no tecido adiposo circundante pode resultar na produção de elevados níveis de estrogénios que estimulam o crescimento tumoral. Assim, tal como referido anteriormente, o status RE do tumor é um importante preditor de resposta à terapêutica hormonal24. A aromatase é regulada pela troca de um promotor fraco (promotor específico do tecido adiposo- I.4) por e dois promotores fortes (promotor do cancro da mama- I.3 e promotor ovárico- IIa)24,25. A troca do promotor I.4 pelos promotores I.3 e IIa no cancro da mama é mediada pela indução da ciclooxigenase 2 (COX-2), resultando num aumento da produção da prostaglandina E2 (PGE2) pelas células epiteliais do tumor e infiltração de macrófagos24,25. Por sua vez, foi observado que a PGE2 estimula a produção de aromatase. Verificou-se igualmente que existe um variado número de factores transcripcionais que aumentam a expressão do gene da aromatase e são estimulados nas células malignas do cancro da mama. A COX-2 encontra-se elevada no cancro da mama 74 e, para além de aumentar a produção de aromatase, também aumenta a produção do HER-224,26,27. Tem vindo a ser evidenciado que a activação da resposta inflamatória na mama, pode conduzir à activação da COX-2 e, consequentemente, da aromatase, bem como à indução de receptores de factores de crescimento, como o HER-2, que promovem a tumorigénese26,27,28. O factor nuclear transcripcional inflamatório (NF-κB) parece desempenhar um papel central no desenvolvimento mamário normal e na carcinogénese mamária29. Este factor é um regulador transcripcional da COX-2 e regula a biossíntese das enzimas prostanóides, que se encontram aumentadas no cancro da mama29,30. Assim como referido a elevada expressão da COX-2 está associada com aumento da aromatase e aumento do HER-2. A COX-2 e o HER-2 parecem interagir em feedback positivo: HER-2 aumenta a transcrição da COX-2 e níveis elevados de COX-2, através da PGE2, aumentam a produção do HER-231. Tal como anteriormente evidenciado a presença dos RP no cancro da mama tem sido considerado um factor preditivo independente no que respeita ao benefício da terapêutica adjuvante hormonal e aumento do intervalo livre de doença31. Actualmente pensa-se que os RP possam ter funções protectoras independentes que envolvem o antagonismo da resposta inflamatória. Os RP-C encontram-se elevados nas células do cancro da mama como resultado do aumento da activação do factor transcripcional NF-κB e ligação ao gene promotor dos RP24,31. Em conjunto, estas observações sugerem que os RP têm um papel fundamental no cancro da mama bloqueando a indução da COX-2. Este facto pode-se tornar primordial na compreensão dos fenómenos biológicos que presidem aos acontecimentos no tecido mamário nas mulheres pós-menopáusicas, onde os RP podem ter um papel protector na presença de níveis negligenciáveis de progesterona. Conclui-se que o cancro da mama está associado a uma resposta inflamatória, envolvendo aumento de invasão pelos macrófagos, resultando em activação e produção de citocinas, activação do NF-κB e aumento da expressão da COX-2. Os RP desempenham aqui um papel fundamental, uma vez que têm capacidade de interromper a formação e progressão tumoral, inibindo a acção do NF-κB e da COX-2. Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):72-78 Desta forma, a presença de níveis elevados de RP nas células epiteliais mamárias inibe a resposta inflamatória, a formação e a progressão tumoral, prevenindo a activação da aromatase e de factores oncogénicos. A PERDA DOS RP NA DOENÇA METASTÁTICA O perfil de expressão dos receptores hormonais na doença metastática é significativamente diferente daquele observado nos respectivos tumores primários. Os tumores secundários apresentam menos frequentemente RE+ e, em grupos de mulheres com idade inferior a 50 anos, a expressão dos RP é também significativamente inferior. Vários estudos coorte32,33 têm evidenciado deplecção dos RP na doença secundária, explicando desta forma o aumento da prevalência de tumores RE+/RP- em tumores secundários em pacientes pós-menopáusicas32. O facto de a expressão dos RP se encontrar dependente da estimulação estrogénica, pode levar a inferir que a perda dos RP se deve a uma aberração na função dos RE ou a um ambiente pobre em estrogénios, como no caso dos tumores pós-menopáusicos32. Outra explicação para a perda deste receptor consiste numa delecção no gene dos RP (cromossoma 11), área comum de ocorrência de perdas alélicas no cancro da mama; de notar que já foi descrita uma associação entre a perda dos RP e a perda de heterozigotia neste cromossoma em células com cancro da mama32,34. A falha de expressão dos RP pode, assim, reflectir um padrão específico de anomalia genética no cancro da mama e pode ser um marcador de “desarranjo” molecular, fortemente associado com a probabilidade de progressão da doença. Duas funções biológicas importantes da progesterona são limitar a acção dos estrogénios e a indução de enzimas que metabolizam os produtos estrogénicos em produtos com menor actividade biológica32,35. Além do exposto, alguns estudos demonstraram que a isoforma RP-A pode inibir directamente a acção dos RE. Associando estes dois factos, pode concluir-se que uma função importante da progesterona e, consequentemente, dos RP no cancro da mama consistiria na inibição dos estrogénios e dos seus efeitos de crescimento tumoral. Um tumor que perde os RP, perde a sua capacidade de limitar as acções estrogénicas e, consequentemente, terá maior tendência para metastizar. Assim, pensa-se que os tumores que perdem a expressão dos RP possam ser distintos do ponto de vista biológico e molecular e clinicamente mais agressivos. A perda dos RP pode estar associada a um fenótipo de tumores de pior prognóstico, podendo ter implicações na progressão da doença. Este facto explicaria, de certa forma, a associação que afinal parece existir entre expressão aumentada de RP, resposta satisfatória à terapêutica hormonal e maior sobrevivência global no cancro da mama. Deste modo, comparando os receptores hormonais na doença primária e na doença metastática, infere-se que os tumores mestastáticos apresentam mais frequentemente receptores hormonais negativos. No entanto, ainda não é claro se há uma relação causal entre progressão da doença e a perda dos RP, ou se o status RP- ab initio é o reflexo de aberrações moleculares no tumor que podem determinar uma evolução clínica particular e deletéria. OS RP E A RESPOSTA À TERAPÊUTICA HORMONAL Os RE e os RP são, igualmente, factores preditivos e factores de prognóstico. A expressão de um factor preditivo está associada com a resposta a uma determinada terapêutica específica. Os receptores hormonais do cancro da mama são factores preditivos bem estabelecidos no que diz respeito à terapêutica hormonal36. Um factor prognóstico indica a agressividade biológica inerente ao tumor, reflectindo a história natural da doença depois de tratamento local. Os tumores RE+ e RP+ têm uma probabilidade superior a 70% de responderem à terapêutica hormonal, enquanto que os tumores com receptores hormonais negativos têm uma probabilidade de apenas 10% de resposta. Contudo, alguns tumores apesar do status hormonal RE+/ RP+ não respondem à terapêutica hormonal; este facto é explicado por resistência à terapêutica ab initio (resistência intrínseca) ou após terapêutica hormonal prolongada (resistência adquirida)37. Os RP encontram-se mais frequentemente elevado em mulheres jovens e pré-menopáusicas, provavelmente como resultado de uma forte estimulação es75 Raposo S, Dias M trogénica. Níveis superiores de RP estão associados a melhor resposta à terapêutica, maior intervalo de tempo livre de doença e maior sobrevivência global38,39. Apesar dos RE e RP se encontrarem correlacionados, o status dos RP parece fornecer informações úteis independentes do status dos RE38. Quando comparados com os tumores RE+, uma percentagem superior de tumores RP+ (cerca de 40%) perdem a expressão destes receptores nas metástases, implicando pior prognóstico40. Os RE são usualmente considerados como factores preditivos de sobrevivência livre de doença, enquanto que os RP estão associados com a sobrevivência global, provavelmente, porque são melhores indicadores de resposta à terapêutica hormonal após recorrência tumoral. Os níveis de RE e RP estão inversamente relacionados com a taxa de proliferação celular41. Um terceiro factor de prognóstico que tem vindo a ser rotineiramente mensurado no cancro da mama é o receptor do factor de crescimento HER-2. A positividade para este receptor é considerada como indicadora de mau prognóstico. Vários estudos prospectivos sugeriram que os níveis elevados de factores de crescimento no cancro da mama, estariam associados a diminuição dos níveis de RP. Pacientes com níveis elevados de HER-2 apresentavam níveis estatisticamente menos significativos de RE/RP, quando comparados com tumores da mama com níveis baixos de HER-241. Dowsett et al42 mostraram que 25% dos tumores RE+/RP- apresentavam elevada expressão de HER-2, comparativamente com 10% dos tumores RE+/RP+. Colditz et al43 comprovaram que os tumores RE+/RP- são mais agressivos e expressam níveis mais elevados de HER-2 e do receptor do factor de crescimento epidérmico (EGFR)43. Apesar do referido, novos marcadores são necessários para prever a resposta à terapêutica hormonal, e no sentido de seleccionar as pacientes para a terapêutica com antiestrogénios ou com inibidores da aromatase. CONSIDERAÇÕES FINAIS A condição metabólica predominante de cada indivíduo pode influenciar significativamente a resposta da glândula mamária às influências hormonais. A resposta desta glândula a estas influências e às inte76 racções metabólicas resulta no desenvolvimento de alterações, que modificam permanentemente a arquitectura e as características biológicas da mesma. Tem sido afirmado que o risco de cancro da mama está associado à exposição prolongada às hormonas femininas6. Neste sentido, a história reprodutiva é determinante no estabelecimento dos factores de risco para o cancro da mama. A contribuição dos estrogénios para o desenvolvimento mamário normal e para a sua carcinogénese está bem determinada, no entanto, a importância da progesterona permanece actualmente objecto de largo estudo, discussão e controvérsia. A progesterona é uma hormona esteróide produzida pelo corpo lúteo, com um papel central na coordenação de todos os aspectos relativos à reprodução humana8. Desempenha uma função importante na morfogénese da glândula mamária durante a gravidez e, igualmente, na inibição da tumorigénese44. De acordo com os factos expostos, sabe-se actualmente que a progressão para cancro da mama está associada a uma resposta inflamatória, envolvendo aumento de invasão por parte dos macrófagos, resultando em produção aumentada de citocinas, activação do NF-κB e da COX-2. A progesterona, através do seu receptor desempenha, então um papel fundamental, bloqueando a formação e progressão tumoral, através da inibição da resposta inflamatória. Estas evidências permitem concluir que a progesterona, através do seu receptor, desempenha uma importante função protectora no desenvolvimento mamário tumoral. De salientar, também, que há uma tendência para a perda dos RP na doença metastática, significando que a ausência de RP parece constituir um marcador de desarranjo molecular. De facto a perda dos RP encontrouse associada a maior número de gânglios linfáticos positivos, maior volume tumoral, maiores taxas de proliferação e expressão de HER-2 e EGFR. Desta forma, a perda dos RP encontra-se associada a fenótipos tumorais mais agressivos e a maior probabilidade de progressão da doença. Actualmente, a decisão de tratar as doentes com cancro da mama através de terapêuticas hormonais, assenta unicamente na expressão de dois factores preditivos por parte do tumor: os RE e os RP. Contudo, a expressão destes receptores não é necessariamente Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):72-78 uma garantia de resposta ao tratamento e, por outro lado, mesmo que as pacientes obtenham resposta num primeiro tempo, estão sujeitas a adquirir resistência após tratamento prolongado. Considerando os estudos até à data realizados, tem-se verificado que a presença de ambos os receptores (RE e RP) é um importante marco preditivo no benefício das terapêuticas hormonais. As pacientes com tumores que expressam RP+ tendem a responder melhor às terapêuticas hormonais e apresentam maior sobrevivência global. Além disso a presença de positividade para os RP identifica um subgrupo de pacientes, cerca de 5% na população total com cancro da mama, que é responsivo à terapêutica hormonal, quando o RE é negativo. Apesar do exposto novos estudos serão necessários para melhor esclarecer o papel da progesterona e as terapêuticas hormonais mais adequadas a cada caso particular. Investigações futuras deverão abranger a pesquisa de marcadores moleculares e expressões genéticas que possam produzir informações úteis no sentido de adaptar de forma inteligente as terapêuticas hormonais a cada paciente e a cada tumor. BIBLIOGRAFIA 1. Russo IH, Russo J (1998). Role of hormones in mammary cancer initiation and progression. J Mam Gland Biol Neopl 3:49-51. 2. Hickey M, Peate M, Saunders CM et al (2009). Breast cancer in young women and its impact on reproductive function. Hum Reprod Update 15: 323-339. 3. Pinheiro PS, Tyczyńskib JE, Brayb F e tal (2003). Cancer incidence and mortality in Portugal. 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Several contraceptive options may be offered to perimenopausal women, including oral contraceptives, intrauterine devices, barrier methods and tubal ligation. The overall risk associated with hormonal contraceptives is now substancially reduced, compared with the older formulations, even in women with medical conditions. Low-estrogen-dose combined oral contraceptives may be prescribed to healthy non-smoking women up to 50 years of age. Recently, new contraceptive methods have been developed, with high efficacy rates and minor side-effects. Among these are monthly injectable systems, contraceptive vaginal rings and transdermal contraceptive systems. In spite of their promising results, these methods need to be further evaluated in perimenopausal women and more definitive data are required to confirm their advantages in this specific age group. Women should be provided with individual advice, so that they can make an informed choice after balancing benefits and risks. Keywords: contraception; perimenopause; risks; benefits INTRODUÇÃO A perimenopausa é o período que marca a transição entre os ciclos ovulatórios sistemáticos e a falência ovárica definitiva. O seu início é difícil de definir dado o carácter gradual da alteração dos ciclos mens- * Médico do Internato Complementar de Obstetrícia/Ginecologia ** Assistente Hospitalar Eventual do Departamento de Obstetrícia/ Ginecologia e Medicina de Reprodução da Unidade do Hospital de Santa Maria e Docente da Clínica Universitária de Obstetrícia/Ginecologia da Faculdade de Medicina de Lisboa *** Chefe de Serviço do Departamento de Obstetrícia/Ginecologia e Medicina de Reprodução da Unidade do Hospital de Santa Maria e Professor Associado de Obstetrícia/Ginecologia da Faculdade de Medicina de Lisboa truais, sugerindo-se que ocorre em média aos 46 anos e variando entre os 39 e os 51 anos1. A duração média deste período da vida da mulher é de 5 anos, com uma variação entre 2 a 8 anos na maioria das mulheres e termina um ano após a última menstruação1. A perda acelerada de folículos ováricos na perimenopausa, provoca uma diminuição da secreção de inibina e o consequente aumento da secreção de hormona folículo-estimulante (FSH) pela hipófise. A diminuição fisiológica da função ovárica na perimenopausa, traduz-se muitas vezes por irregularidades menstruais que podem surgir, em ordem decrescente de frequência, como oligomenorreia ou hipomenorreia, menorra79 Passos F, Godinho AB, Neves J, Calhaz-Jorge C gia, metrorragia ou hipermenorreia e ainda como amenorreia2. Estas alterações menstruais podem estar ou não associadas a sintomas vasomotores 3. As alterações da função ovárica nesta fase da vida relacionam-se com uma menor probabilidade de gravidez. No entanto, na perimenopausa a contracepção eficaz continua a ser fundamental e constitui um dos items mais importantes na medicina preventiva da mulher nesta faixa etária.4 O balanço entre riscos e benefícios dos diferentes métodos contraceptivos altera-se com a idade, e as escolhas contraceptivas a partir dos 40 anos são influenciadas por diversos factores: a frequência das relações sexuais, o normal declínio da fertilidade, a procura de vantagens não contraceptivas, a disfunção menstrual e a eventual medicação concomitante. Nenhum método contraceptivo possui contra-indicação absoluta no que se refere isoladamente ao factor idade da mulher1. Neste artigo revêem-se as diferentes alternativas de contracepção e a eficácia, riscos e benefícios respectivos, cujo conhecimento permite um melhor aconselhamento da mulher (e casal) neste período da sua vida. MÉTODOS CONTRACEPTIVOS I - Contracepção hormonal Contracepção oral combinada (COC) Os métodos de contracepção hormonal oral combinada, associam um progestagénio, que inibe a ovulação e um estrogénio (classicamente etinilestradiol), fundamental para regular a hemorragia de privação e assim fazer com que as perdas hemáticas tendam a ocorrer a intervalos regulares e programados. O seu efeito contraceptivo primário é a inibição da ovulação. O índice de Pearl foi estimado em 0,3 – 4,0/100 mulheres/ano5. A dose de etinilestradiol na COC tem vindo gradualmente a diminuir, utilizando-se actualmente doses de ou inferiores a 30mg, que são denominadas pílulas de baixa dosagem. A COC com uma dose baixa de estrogénios pode ser prescrita até aos 50-51 anos, em mulheres não fumadoras e sem factores de risco para doença cardiovascular3. Nestes casos é recomendada uma avaliação clínica para identificar novos factores de risco ou doenças (por exemplo, a medição 80 periódica da pressão arterial, a avaliação do índice de massa corporal e do perímetro de cintura-anca)3. As mulheres ex-fumadoras são consideradas não fumadoras após um período de abstinência de 12 meses consecutivos, porque o excesso de risco de enfarte do miocárdio associado ao tabagismo diminui significativamente um ano após a sua suspensão e desaparece 3 a 4 anos depois4. Na ponderação da contracepção, as mulheres medicadas com nicotina (pastilhas ou adesivos) devem ser consideradas fumadoras4. Após os 50-51 anos devem ser procuradas outras alternativas de contracepção, visto que os estrogénios sintéticos têm um efeito pró-trombótico, mesmo em mulheres saudáveis e a diminuição fisiológica da fertilidade pode não justificar a sua utilização3,4. Estimase uma incidência de 100 casos de tromboembolismo venoso (TEV) por 100 000 mulheres-ano a partir dos 39 anos medicadas com COC, comparativamente a 25 casos por 100 000 mulheres-ano, nas adolescentes6. No entanto, a mortalidade pelo TEV é inferior a 2%7. A COC não é recomendada em mulheres com mais de 35 anos, se existirem factores de risco para doença arterial ou venosa (ver Quadro I)3 e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), está contraindicada em qualquer idade na presença das seguintes circunstâncias8: • Gravidez ou nas primeiras 6 semanas pós-parto na mulher que amamenta; Hábitos tabágicos em mulheres com 35 ou mais anos; • Múltiplos factores de risco para doença arterial cardiovascular; • Hipertensão arterial não controlada (TAS> 160 ou TAD> 100 mmHg); • Tromboembolismo venoso ou embolia pulmonar (prévio ou actual); • Mutações trombogénicas conhecidas (por exemplo, Factor V de Leiden; mutação da protrombina; deficiências de antitrombina, proteína C e/ou proteína S); • Cirurgia major com imobilização prolongada; • Doença cerebrovascular ou coronária (actual ou passada); • Doença valvular cardíaca complicada por hipertensão pulmonar, fibrilhação auricular ou endocardite • Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):79-88 Quadro I – Factores de risco para doença arterial e venosa3. Factores de risco para doença arterial - Excesso de peso (IMC≥ 25) - Hábitos tabágicos - Hipertensão arterial - Dislipidémia - Diabetes mellitus - Enxaquecas* Factores de risco para doença venosa - História familiar de TEV num parente “jovem”de 1º grau - Excesso de peso (IMC≥ 25) - Imobilização prolongada *Nesta faixa etária não precisam de ser acompanhadas de aura 9 bacteriana subaguda; • Enxaquecas com aura; • Carcinoma da mama ou neoplasia estrogénio-dependente actual; • Diabetes mellitus associada a doença vascular; • Cirrose hepática descompensada ou hepatite aguda; • Tumores hepáticos benignos ou malignos; • Lupus eritematoso sistémico com anticorpos antifosfolípidos positivos (ou desconhecidos). Apesar dos estrogénios serem considerados os principais responsáveis pelo risco tromboembólico, alguns estudos observacionais sugeriram que tal risco era menor na COC contendo progestagénios de 2ª geração (levonorgestrel ou noretisterona), comparativamente aos de 3ª geração (gestodeno ou desogestrel)9,10,11. No entanto, após a correcção de factores de perturbação e a estratificação da duração da terapêutica, não houve diferenças significativas entre os progestagénios de 2ª e 3ª geração7. O aumento do risco de tromboembolismo venoso (TEV) com o uso de COC é aparente nos primeiros meses, mas diminui com a continuação da terapêutica7. Este efeito poderá estar relacionado com trombofilias anteriormente não diagnosticadas3. Contudo, o risco absoluto de tromboembolismo venoso idiopático nas utilizadoras de COC é reduzido (15-25/100 000 mulheres/ano) e inferior ao risco associada à gravidez (60/100 000 mulheres/ano)7. As mulheres com antecedentes de TEV associado à toma de estrogénios ou à gravidez, podem eventualmente ser consideradas como candidatas à COC, se estiverem medicadas com anticoagulantes e se não existirem outros factores de risco na origem do TEV (idade, obesidade, sedentarismo, puerpério, história familiar de trombofilia)12. Para além da eficácia contraceptiva, existem outras vantagens da COC tais como, o aumento da densidade mineral óssea (DMO) e consequente diminuição do risco de fractura do colo do fémur na pósmenopausa2,3,12,13,14, melhoria dos sintomas vasomotores, a regularização do ciclo menstrual, diminuição das menometrorragias e da intensidade da dismenorreia2,3,13,14, redução do risco de cancro do ovário, do endométrio e colo-rectal2,13,15,16. Estas vantagens são especialmente pertinentes nesta faixa etária e devem ser enfatizadas. Quanto ao metabolismo ósseo, os aumentos da DMO são evidentes na maioria dos estudos em que as mulheres tiveram utilização prévia de COC, sendo este efeito tanto maior quanto maior a duração da COC. Contudo, as formulações de baixa dosagem parecem ter um impacto menos consistente na protecção óssea, existindo estudos que mostram uma redução de fracturas na mulher pós-menopausa com antecedentes de uso de COC (maioritariamente de alta dosagem) e outros que indicam um aumento do risco de fractura nestas mulheres4. A partir dos 40 anos, pode haver um aumento do número ou da duração dos ciclos menstruais à custa 81 Passos F, Godinho AB, Neves J, Calhaz-Jorge C da maior frequência de ciclos anovulatórios e do encurtamento da fase lútea (de 13,3-15 dias passa para 11-12,9 dias)1. A COC permite a manutenção da regularidade dos ciclos evitando as hemorragias disfuncionais irregulares e abundantes e, neste estádio da vida das mulheres pode ainda aliviar os sintomas vasomotores4. Não há evidências de que as formulações com 20 mg sejam mais seguras do que as com 30-35 mg em relação ao risco de tromboembolismo venoso, pelo que, na presença de sintomas vasomotores, é mais adequada a dose superior pois possui maior eficácia no alívio dos mesmos13. A COC monofásica diminui significativamente (na ordem dos 50%) a incidência de carcinoma do ovário e o seu efeito protector é tanto maior quanto maior for a duração da terapêutica, mantendo-se até 30 anos após a última toma (com dosagens de etinilestradiol <40mg)1,13. Estudos de coorte e de caso-controlo mostram uma diminuição sem significado estatístico da incidência dos quistos funcionais e dos tumores benignos do ovário em utilizadoras de COC5. Relativamente ao carcinoma do endométrio, o risco também diminui de forma significativa, sendo esta protecção similiar à verificada em relação ao cancro do ovário e mantem-se até 20 anos após a última toma13. O risco anual de carcinoma da mama aumenta com a idade, independentemente do uso de tratamento hormonal contraceptivo ou não. Aos 35 anos o risco é de 1/500 e aumenta para 1/100 aos 45 anos1. Uma meta-análise de 54 estudos identificou um risco relativo de carcinoma da mama de 1,24 (IC95% 1,15-1,33) nas mulheres que fizeram COC, comparativamente àquelas que nunca fizeram COC. Este facto foi independente da dose, tipo e duração do uso de contraceptivos orais. Contudo, este pequeno aumento do risco diminui quando o tratamento é suspenso e anula-se ao fim de 10 anos7. Além disso, nestes estudos a maioria das mulheres com carcinoma da mama utilizaram contraceptivos de alta dosagem (doses de etinilestradiol iguais ou superiores a 50 mg)17. Dados mais recentes de dois estudos, um estudo de caso-controlo (Women’s CARE 18) e um estudo de cohort15, revelam não existir aumento do risco de cancro da mama. Existem estudos que demonstraram 82 uma diminuição da patologia benigna da mama em mulheres entre os 40 e os 59 anos. Tais estudos mostram uma redução na incidência de fibroadenomas e doença fibroquística18. O estudo NBSS incluiu 56537 mulheres, 2116 das quais com doença benigna da mama19. A redução do risco relativo do cancro da mama foi verificada em mulheres com formas proliferativas da doença benigna da mama, sobretudo nos casos de ausência de atipias. Nestes casos, a redução do risco do cancro da mama foi progressiva e acentuou-se com a duração da utilização da COC por mais de 7 anos - redução de risco de 0,64 (IC95% 0,47 – 0,87). Esta redução do risco não esteve relacionada com a dose da COC utilizada19. Os antecedentes familiares de carcinoma da mama (incluindo as mutações BRCA1 e BRCA2), não são uma contra-indicação para o uso de COC, a qual oferece protecção contra o carcinoma do ovário20. A utilização de COC por mais de 10 anos aumenta para duas vezes o risco relativo de carcinoma do colo do útero (sobretudo o adenocarcinoma em mulheres com menos de 35 anos), não existindo diferenças significativas com ou sem a presença de infecção a HPV1,21. Foi mesmo enunciada a recomendação de que na mulher que mantenha a utilização deste método por 4 ou mais anos, deverá ser efectuada uma avaliação regular com colpocitologia a intervalos mais curtos do que a população feminina em geral22. Nas mulheres utilizadoras de COC, o risco de carcinoma colo-rectal diminui cerca de 20% (RR 0,82 – IC95% 0,74-0,92)1,13. Não se sabe se esta protecção se mantém com as pílulas de baixa dosagem5. Esta protecção não parece estar relacionada com a duração da COC. Quando suspender a COC? A suspensão da COC na perimenopausa não é consensual. Uma revisão sistemática de 16 estudos clínicos concluiu que a acuidade da clínica e dos resultados analíticos para o diagnóstico de perimenopausa é muito limitada23. A idade média da menopausa espontânea é 50,7 anos com um intervalo de 44-56 anos1. Em mulheres com menos de 50 anos recomenda-se a utilização de contracepção até 2 anos de amenorreia. A OMS Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):79-88 calcula que o risco de ocorrer uma menstruação (e possivelmente ovulação), após um ano de amenorreia nas mulheres com mais de 45 anos é de 2 a 10%24. Os sintomas vasomotores surgem em 85% das mulheres em perimenopausa e não constituem um indicador fiável de falência ovárica1. O padrão menstrual não é relevante se a mulher estiver medicada com estro-progestativos. Ao efectuar contracepção hormonal ou tratamento hormonal na perimenopausa poderá ser difícil perceber quando ocorreria a menopausa3. A medição dos níveis circulantes de FSH para identificar as mulheres na pós-menopausa não é recomendada porque os valores não se correlacionam com o status pré/pós menopausa nas mulheres que fazem COC, mesmo quando doseada na semana de pausa da toma1,3,13. A FSH poderá ser doseada 6 ou mais semanas após suspensão do tratamento hormonal e a existência de duas medições de FSH superiores a 30 UI/L, com 1 a 2 meses de intervalo e amenorreia, é fortemente indicativa de falência ovárica1,3,4,13. É razoável suspender os COC aos 50-51 anos e utilizar métodos não hormonais até um ano de amenorreia ou iniciar contracepção com progestagénio isolado3,13. A medição dos níveis circulantes de FSH pode ser utilizada na contracepção com progestagénios isolados, situação em que a presença de amenorreia tem pouco valor diagnóstico 25. Contracepção combinada - outras vias de administração As hormonas sintéticas da contracepção combinada podem ser administradas por via vaginal com o anel vaginal ou por via transdérmica com os sistemas transdérmicos. Este tipo de contracepção não possui evidências clínicas sólidas na perimenopausa. Os indicadores de insucesso são semelhantes aos da COC3 pelo que poderá ser útil nas mulheres que têm a tendência para se esquecer de tomar os comprimidos2,14. A farmacocinética do sistema transdérmico implica uma exposição estrogénica ligeiramente superior em termos de concentração média, relativamente ao anel vaginal ou à COC, mas os resultados no respeitante ao risco tromboembólico são limitados12. As evidências clínicas nesta área limitam-se a um estudo caso-controlo comparativo entre COC oral e sistemas transdérmicos, utilizando os mesmos componentes (etinilestradiol e norgestimato)26. Não foram encontradas diferenças significativas. As contra-indicações da COC mantêm-se para a contracepção combinada não administrada por via oral13. Os sistemas transdérmicos contraceptivos têm uma elevada eficácia anti-conceptiva e que se mantém mesmo em caso de vómitos ou diarreia. O intervalo de segurança, em caso de esquecimento de mudança semanal do adesivo é de 48 horas (desde que não seja retirado o anterior)28. O anel vaginal é colocado na vagina por um período de 3 semanas e tem um intervalo de segurança de 1 semana. Pode ser usado concomitantemente com terapêutica vaginal antifúngica e com tampões. A sua eficácia também não se altera em caso de alterações do trânsito gastrointestinal27. Contracepção com progestagénio isolado A dosagem de progestagénios é inferior à da COC, pelo que o seu efeito contraceptivo ocorre principalmente à custa das alterações do endométrio e muco cervical, e da diminuição da motilidade tubária, em detrimento da inibição da ovulação29. Contudo, a pílula com desogestrel (Cerazette®) previne também a ovulação3. Os riscos e benefícios deste tipo de contracepção não estão tão bem documentados comparativamente aos da COC. Os estudos estão sujeitos a factores de confundimento, porque muitas das mulheres que utilizam estes métodos têm uma patologia de base que contra-indica os estrogénios sintéticos1. Apesar de as evidências serem limitadas, não parece existir um aumento do risco de eventos cardiovasculares e de acidentes vasculares cerebrais (AVC) nas mulheres normotensas submetidas a progestagénios orais ou injectáveis. Nas mulheres hipertensas, com idades entre os 20 e os 44 anos, o risco de AVC aumentou 10 vezes nas medicadas com COC ou progestagénio isolado, mas o risco de enfarte agudo do miocárdio e TEV manteve-se constante, tanto com a utilização da via oral como com a administração injectável24. Nas mulheres com antecedentes de TEV os benefícios desta variante da contracepção superam os seus riscos, contrariamente ao que sucede nas mulheres com TEV recente1. 83 Passos F, Godinho AB, Neves J, Calhaz-Jorge C O risco de carcinoma da mama com os progestagénio orais ou injectáveis é sobreponível ao da COC, sendo pouco provável que o sistema intra-uterino e o implante subcutâneo apresentem resultados diferentes1. Apesar de não aumentar o risco de carcinoma da mama, a OMS classifica a utilização de contracepção isolada com progestagénio em mulheres com antecedentes de cancro da mama, como categoria 3 (os riscos superam os benefícios)3,8. É uma boa opção nas mulheres com hipertrigliceridémia, diabetes, labilidade dos valores da pressão arterial com a COC ou enxaquecas4. O principal inconveniente deste tipo de contracepção é a frequência de irregularidades menstruais (desde amenorreia a hemorragia escassa, prolongada ou frequente). Quando suspender a contracepção com progestagénio isolado? Os contraceptivos com progestagénio oral ou subcutâneo podem ser usados até aos 55 anos, idade em que se assume a perda natural da fertilidade, pois mais de 95% das mulheres desta faixa etária estarão na pós-menopausa1,3. Este tipo de contracepção não influencia significativamente a secreção de FSH pelo que a presença de 2 valores de FSH >30 UI/L, com um intervalo de 6 a 8 semanas, equivale a uma falência ovárica. Mesmo assim, nestes casos é aconselhável manter a contracepção durante mais um ano (ou 2 se idade <50 anos)1. Em relação à densidade mineral óssea, a evidência actual é de que não há diminuição significativa da mesma até 3 anos após a menopausa. Na ausência de factores de risco para osteoporose os progestagénios injectáveis podem manter-se até aos 50 anos, idade a partir da qual se recomenda outra alternativa contraceptiva1. Formas de contracepção hormonal com progestagénios isolados Pílula progestagénica A posologia é um comprimido por dia sem interrupções. O intervalo de segurança desta pílula com desogestrel é de 12 horas. Trata-se de uma contracepção muito eficaz nas mulheres com mais de 35 anos, se as tomas forem regulares (taxa de insucesso de 1/100 mulheres-ano entre os 35 e 40 anos e 0,3/100 mulhe84 res-ano acima dos 40 anos de idade)30. Se a ovulação se mantiver a mulher menstrua mensalmente, contudo metade das mulheres evoluem para amenorreia 3. Existe contra-indicação em mulheres medicadas com rifampicina e anti-epilépticos, porque estes fármacos aumentam o metabolismo hepático dos progestativos e consequentemente diminuem a sua eficácia. Progestagénios injectáveis Injecção intramuscular trimestral – Acetato de medroxiprogesterona O efeito contraceptivo principal é a inibição da ovulação, embora também provoque alterações do muco cervical e do endométrio. As injecções são realizadas de 12 em 12 semanas (com um intervalo de segurança de mais ou menos 7 dias). A sua forma de administração subcutânea com a dose de 104 mg, tem a vantagem de permitir a auto-administração e ser menos dolorosa, mas ainda não está comercializada em Portugal. A taxa de insucesso é inferior a 1/100 mulheresano14. A sua eficácia é imediata, se administrada nos primeiros 5 dias do ciclo menstrual, logo após um aborto ou no pós-parto imediato numa mulher que não amamenta ou 6 semanas após o parto, se a amamentação for exclusiva. Caso contrário, recomendase associar outro método durante 3 a 5 dias29. Podem ocorrer irregularidades menstruais nos primeiros 6-9 meses, mas cerca de 50% das mulheres evoluem para amenorreia ao fim de um ano e 80% ao fim de três anos29. Quando se interrompe a contracepção, a fertilidade é retomada de forma progressiva. Em média, 6 a 12 meses na forma intramuscular (com limite máximo de 22 meses) e cerca de 7 meses na forma subcutânea29. Na perimenopausa após a suspensão deste método e caso a contracepção seja necessária, é aconselhável a utilização de preservativo até 2 anos de amenorreia1. A administração parentérica do acetato de medroxiprogesterona possui vantagens não contraceptivas tais como a diminuição em 80% do risco de carcinoma do endométrio (embora o risco absoluto seja muito baixo), a menor incidência de anemia ferropénica, a melhoria da dismenorreia e a diminuição da incidência de quistos dos ovários (vantagens estas que são comuns às restantes formas de contracepção hormonal com pro- Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):79-88 gestagénios isolados). A eficácia deste contraceptivo não é comprometida pela medicação anti-epiléptica e o nível de progestagénios aumenta o limiar convulsivo29. É também um contraceptivo adequado nas doentes com anemia falciforme estando associado a uma menor incidência de crises vasoclusivas, pelo seu efeito estabilizador da membrana dos eritrócitos e pela diminuição de perdas menstruais e consequente aumento do hematócrito12. O seu uso prolongado associa-se a uma diminuição da DMO no entanto sem significado clínico29. Tal diminuição é recuperada quando se suspende a terapêutica3. A relação entre a densitometria óssea e o risco de fractura nas mulheres com mais de 40 anos medicadas com acetato de medroxiprogesterona não está bem esclarecida1. Alguns autores consideram que se pode manter a terapêutica até aos 50 anos, se não existirem factores de risco para a osteoporose, mas a OMS recomenda métodos alternativos nos grupos etários inferiores aos 18 anos e superiores aos 45 anos1,29. Deverá ser ponderada a recomendação de outros métodos contraceptivos nas mulheres com maior risco de osteoporose (hábitos tabágicos, anorexia nervosa, atletas de alta competição, doenças da tiroideia, história familiar de osteoporose ou terapêutica crónica com corticosteróides) e, não existindo resultados científicos suficientes para garantir a segurança da sua utilização em mulheres com risco cardiovascular, naquelas com antecedentes de AVC ou EAM3,29. Implante subcutâneo de progestagénio A taxa de insucesso associada à contracepção com o implante subcutâneo de etonorgestrel ao fim de 1 ano é de 0,09% 29 e mantém-se durante 4 anos3. O mecanismo contraceptivo é a similar ao método anteriormente descrito. A inibição da ovulação tem início um dia depois da sua colocação e mantém-se estável durante 2 anos (no 3º ano é retomada a ovulação, mas o seu efeito contraceptivo mantém-se à custa das alterações do muco e do endométrio29). Após a sua remoção a fertilidade pode ser recuperada imediatamente mas na maior parte dos casos pode demorar 3 meses. Na perimenopausa, e se a contracepção é necessária, a mulher que retira um implante deve iniciar imediatamente outro método de contracepção29. Produz alterações no padrão das perdas menstruais, tais como amenorreia (em 20% dos casos ao fim de 90 dias 29). Não parece ter influência na DMO, porque não inibe completamente a actividade ovárica1. Este tipo de contracepção não possui evidências clínicas sólidas na perimenopausa2. Um estudo em mulheres com mais de 35 anos, revelou resultados comparáveis aos das mulheres dos grupos etários inferiores, no que diz respeito à sua eficácia, padrão menstrual e perfil de efeitos adversos31. Os anti-epilépticos diminuem a sua eficácia32. Sistema intra-uterino (SIU) de libertação hormonal O seu efeito contraceptivo é essencialmente local, por alterações no endométrio e no muco cervical. A atrofia do endométrio não é imediata podendo ocorrer hemorragia vaginal nos primeiros 3 a 6 meses29. Na maioria das mulheres a ovulação mantém-se, embora em cerca de 50% o padrão menstrual seja de amenorreia após 6 a 9 meses29,33. A sua e���������������������������������� ficácia contraceptiva é muito elevada, com o insucesso calculado em 0,2/100 mulheres/ ano29. A duração oficial do seu efeito contraceptivo é de 5 anos, mas pode persistir durante 7 anos34,35. Existem vantagens não-contraceptivas associadas à utilização deste SIU tais como o controlo das menorragias e dismenorreia, sendo equacionado como contracepção de 1ª linha nas mulheres com idade superior a 40 anos e com perdas hemáticas muito abundantes, sobretudo quando essas alterações do padrão menstrual aumentam a probabilidade de anemia por perdas3. Tem ainda, apesar da limitação da duração dos estudos, como vantagens não contraceptivas o controlo das algias pélvicas associadas a endometriose e adenomiose e a protecção endometrial durante a terapêutica de substituição hormonal ou durante o tratamento com tamoxifeno3. Existe referência ao efeito positivo da utilização do SIU no alívio dos sintomas vasomotores nas mulheres em peri-menopausa3. Apesar de a maioria dos médicos ser instruída a colocar um dispositivo intra-uterino (DIU) de cobre ou com levonorgestrel durante a menstruação alegando uma maior facilidade no procedimento, não existem desvantagens na colocação dos mesmos em qualquer fase do ciclo4. O SIU pode ser utilizado mesmo em nulíparas e não aumenta o risco de infertilidade29. As precauções/ 85 Passos F, Godinho AB, Neves J, Calhaz-Jorge C riscos do SIU são sobreponíveis aos dos DIU’s e relacionam-se com a doença inflamatória pélvica (DIP), a perfuração uterina e a possibilidade de expulsão 29. Existem algumas observações sobre a utilização do SIU em mulheres operadas a cancro da mama sob medicação com tamoxifeno. Os resultados estão relacionados com a prevenção de pólipos benignos do endométrio e correspodem à avaliação em 12 meses; existe necessidade da realização de estudos alargados para determinar o real impacto deste dispositivo nas mulheres em tratamento com o tamoxifeno no que diz respeito à prevenção da hiperplasisa endometrial, cancro do endométrio e efeitos do SIU na recorrência do cancro da mama36. Contracepção não hormonal Dispositivo Intra-Uterino Os dispositivos intra-uterinos de cobre têm como objectivo contraceptivo impedir o contacto entre as duas células germinativas. Actuando como promotores duma inflamação estéril do endométrio e com efeito sobre o muco cervical produzem um efeito espermostático e espermicida37. A taxa cumulativa de insucessos em 10 anos é de 17/100038. Está recomendado em mulheres que já engravidaram pelo menos uma vez e sobretudo em multíparas, sem distúrbios menstruais (dismenorreia ou menorragias) e que pretendam uma contracepção eficaz, reversível e de longa duração. Pode causar irregularidades menstruais sob a forma de spotting ou menorragias e ainda, dismenorreia nos primeiros 3-6 meses após a colocação3. É mandatório excluir patologia ginecológica ou infecção pélvica se as irregularidades menstruais persistirem ou surgirem de novo1. As complicações podem apresentar-se como falência contraceptiva, expulsão, DIP e são muito raras a partir dos 40 anos 3. É um método menos dispendioso do que o SIU. Os dispositivos com mais de 300 mm2 de cobre, inseridos a partir dos 40 anos, podem permanecer off-licence até 12 meses após a última menstruação3,39,40. Métodos de Barreira Têm uma taxa de insucesso entre 5 e 30 casos/100 mulheres/ano 41. Os preservativos têm a vantagem de 86 prevenir as infecções sexualmente transmissíveis mas o insucesso da contracepção é muito variável (2-15 falhas/100 mulheres/ano), sendo inferior nas faixas etárias mais avançadas 3. Aparentemente sem efeitos adversos, não alteram o ciclo menstrual e nas mulheres em perimenopausa não interferem com as manifestações dos sintomas de eventual falência ovárica fisiológica2. Esterilização Laqueação tubária Trata-se dum método com objectivos de irreversibilidade da concepção, sendo muito eficaz – taxa cumulativa de falha contraceptiva ao fim de 10 anos de 19/1000 procedimentos42. A taxa de insucesso varia com a técnica cirúrgica sendo de 8/1000 com a coagulação unipolar ou salpingectomia parcial e de 37/1000 com a aplicação de clip 42. Em relação a eventuais alterações do ciclo menstrual, a esterilização cirúrgica não melhora as irregularidades menstruais nem os sintomas que lhes possam estar associados e, no caso particular da perimenopausa, não alivia os sintomas vasomotores42. A cirurgia para laqueação das trompas pode estar associada a um maior risco de gravidez ectópica1. Actualmente também pode ser realizada a esterilização cirúrgica sob controlo histeroscópico. Vasectomia Como é óbvio, não é um método de contracepção dirigido para as mulheres, mas como é recomendável que as decisões da contracepção sejam avaliadas pelo casal, pode ser uma opção de anticoncepção nesta faixa etária. Consiste na laqueação dos vasos deferentes. O insucesso contraceptivo é de 1/2000 após confirmação da azospermia. Trata-se de uma cirurgia de ambulatório e que pode ser realizada com anestesia local. Não aumenta o risco de carcinoma testicular ou da próstata nem de doença cardíaca. Há a possibilidade de dor crónica testicular após o procedimento1. CONSIDERAÇÕES FINAIS A perimenopausa é uma fase da vida reprodutiva feminina em que, apesar da diminuição fisiológica da Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):79-88 fecundidade, não deixa de ser indispensável dar toda a atenção ao planeamento familiar já que as consequências de uma gravidez indesejada continuam a ter implicações de enorme gravidade na esmagadora maioria das situações. Neste trabalho apresentaram-se as perspectivas mais recentes sobre o uso de métodos contraceptivos neste grupo de mulheres sob os pontos de vista de eficácia, inconvenientes e vantagens não contraceptivas. A maior evolução nos últimos anos, fruto da diminuição progressiva da dose do componente estrogénico, terá sido, seguramente, a aceitação de que a manutenção da COC até aos 50-51 anos não acarreta aumento do risco de efeitos adversos graves. Obviamente em mulheres não fumadoras (mas sem contra-indicação para as ex-fumadoras com 12 ou mais meses de abstinência) e sem factores de risco tromboembólico ou de doenças cardio-vasculares. São reconhecidos diversos efeitos não contraceptivos da utilização prolongada (embora sobretudo das pílulas COC com maior dosagem hormonal) a nível do metabolismo ósseo, associando-se a menor probabilidade de fracturas do colo do fémur no período de pós-menopausa. Outros efeitos não contraceptivos são as repercussões benéficas no controlo das irregularidades menstruais e da intensidade da dismenorreia. A acção protectora da COC monofásica está bem descrita em relação ao cancro do ovário e do endométrio estando também claramente documentado que o efeito é tanto maior quanto maior for o tempo de utilização desta contracepção. A relação da utilização da COC e o risco do cancro da mama é inconsistente admitindo-se que o eventual risco, a existir, é francamente compensado por todos os benefícios que podem estar associados à contracepção deste tipo. Antecedentes familiares de cancro da mama (mãe ou irmã com diagnóstico de cancro da mama na pré-menopausa ou presença de mais de 2 familiares do primeiro grau com cancro da mama, sobretudo quando diagnosticado antes da menopausa) não devem ser considerados como contra-indicação absoluta para a contracepção hormonal combinada43. A contracepção hormonal oral com progestagénios isolados não tem sido particularmente estudada na perimenopausa mas tudo indica que poderá constituir uma alternativa na presença de hipertensão arterial, enxaquecas, hipertrigliceridémia ou Diabetes mellitus. A sua eventual utilização está contra-indicada em mulheres com eventos recentes de TEV. O recurso a outras vias de administração de contraceptivos hormonais não parece ter nada de particular nesta fase da vida da mulher e poderá traduzir-se em aumento de comodidade posológica, maior intervalo de segurança e teoricamente da aderência comparativamente à via oral. O sistema intra-uterino de libertação de levonorgestrel aparenta ser um método contraceptivo de eleição para as mulheres em perimenopausa não só pela eficácia contraceptiva (que não depende da toma regular de medicação) mas sobretudo pelos seus efeitos não contraceptivos, particularmente na redução do volume das perdas menstruais, no controlo da dismenorreia e ainda pela possibilidade de combinação eventual com tratamento hormonal de substituição, caso seja necessário. O grande desafio é a decisão sobre o momento da suspensão da contracepção hormonal na perimenopausa, uma vez que o já de si pouco preciso diagnóstico clínico de menopausa fica completamente impossibilitado. O recurso a doseamentos seriados de FSH poderá ser uma alternativa. Em qualquer caso, a ideia genérica é de que um qualquer método de contracepção deve ser mantido por um período de segurança após a falência ovárica, como foi expresso ao longo do texto. Em conclusão, as mulheres na perimenopausa devem ter conhecimento dos riscos de uma gravidez não planeada e das várias opções contraceptivas existentes. Nenhum método está contra-indicado meramente pelo factor idade. Para cada caso, é necessário ponderar as vantagens e desvantagens. BIBLIOGRAFIA 1. Faculty of Family Planning and Reproductive Health Care Clinical Effectiveness Unit. FFPRHC Guidance (January 2005). Contraception for women aged over 40 years. J Fam Plann Reprod Health Care 2005; 31: 51-63. 2. Kailas N, Sifakis S. Contraception during perimenopause. Eur J Contracept Reprod Health Care 2005; 10: 19-25. 3. Bhathena R, Guillebaud J. Contraception for the older woman: an update. Climacteric 2006; 9: 264-76. 4. 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Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):89-92 Artigo de Revisão/Review Article Gravidez após cirurgia bariátrica: uma revisão Pregnancy after bariatric surgery: a review Maria Fátima Silva*, Joana Silva*, Maria Elisa Paredes**, Emília Cunha*** Serviço de Obstetrícia e Ginecologia Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho ABSTRACT Obesity is a chronic disease with an increasing prevalence worldwide, mostly in developed countries. The use of bariatic surgery is also on the rise, transforming it into a common procedure among women of fertile age. We present a review of the literature on obstetric and perinatal outcomes after bariatic surgery. This procedure is associated with an increased fertility rate and a reduction in the obstetrical complications associated with obesity. Pre-conceptional evaluation is mandatory, namely for a nutritional orientation. Keywords: obesity; bariatric surgery; pregnancy outcome INTRODUÇÃO A obesidade, definida pelo Índice de Massa Cor- poral (IMC) ≥ 30, é uma doença crónica cuja prevalência mundial tem aumentado drasticamente nas últimas décadas, sobretudo nos países desenvolvidos. É considerada a epidemia do século XXI e um importante problema de Saúde Pública, constituindo um factor de risco cardiovascular e potenciador de outras co-morbilidades (hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia, entre outras). Nos países europeus a prevalência da obesidade na população adulta varia entre 20-50%, sendo esta percentagem mais elevada nos Estados Unidos da América. Em Portugal, um estudo epidemiológico nacional publicado em 2006 verificou que 38,69% da *Interna Complementar de Ginecologia/Obstetrícia ** Assistente Graduada de Ginecologia/Obstetrícia *** Chefe de Serviço de Obstetrícia população adulta, entre os 18 e os 64 anos de idade, tinha excesso de peso e 13,8% eram obesos1. O tratamento de primeira linha da obesidade é a alteração e adopção de estilos de vida saudáveis, sobretudo porque a causa primordial desta doença é comportamental. O tratamento cirúrgico está indicado nas situações de obesidade mórbida, (classe III; (IMC ≥ 40) ou obesidade classe II (IMC ≥ 35) quando associada a co-morbilidades, e após falência do tratamento conservador1,2. A cirurgia bariátrica, praticada desde 1954, tem tido um aumento exponencial da sua prática, não só pelo aumento da prevalência da obesidade mas também pelo maior conhecimento científico e tecnológico da actualidade. Existem diferentes tipos e técnicas cirúrgicas classificadas mediante a alteração anatómica e fisiológica envolvida. Cerca de 84% da população submetida a esta cirurgia são mulheres, muitas em idade fértil, o que poderá condicionar uma gravidez futura e seu desfecho. 89 Silva MF, Silva J, Paredes ME, Cunha E Assim, o principal objectivo deste trabalho é efectuar uma revisão literária sobre o efeito da cirurgia bariátrica numa gravidez subsequente, nomeadamente nos resultados maternos e neonatais. AQUISIÇÃO DE EVIDÊNCIA Os autores efectuaram uma pesquisa literária recorrendo a bases de dados como Medline, Pubmed, Uptodate, utilizando como palavras-chave “cirurgia bariátrica” e “gravidez”. Foram incluídos artigos de revisão, estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados, publicados entre 1984 e 2010, sobre diferentes tipos de cirurgia bariátrica e o decurso de gravidez após sua realização. SÍNTESE DA EVIDÊNCIA A obesidade e gravidez A obesidade constitui um factor de risco para infertilidade, ao potenciar ciclos anovulatórios, e para resultados obstétricos e neonatais adversos. A clínica revela que a obesidade aumenta significativamente a taxa de abortamentos espontâneos do primeiro trimestre, a incidência de Diabetes mellitus (prévia ou gestacional), potencia as complicações hipertensivas na gravidez, aumenta a incidência de macrossomia fetal, de parto pré-termo e aumenta as complicações infecciosas, nomeadamente pós-cirúrgicas. A literatura descreve ainda uma maior taxa indução do trabalho de parto e de parto cirúrgico em grávidas obesas1. O número de gestantes obesas ou com excesso de peso tem sido crescente e acompanha a tendência do aumento desta patologia a nível mundial. Este facto devese principalmente a erros comportamentais, sobretudo alimentares, que tendem a agravar na gravidez potenciadas pelas alterações hormonais que lhe estão inerentes. O aumento ponderal recomendado durante a gravidez está estabelecido e depende do IMC pré-gestacional. Se este é inferior a 18,5 (baixo peso), o aumento de peso da gestante durante toda a gravidez pode atingir os 18 ou 20 Kg, se o IMC for normal (18,5-25) o aumento ponderal máximo é de 13 Kg, e se existir obesidade prégestacional o aumento ponderal deve ser apenas o correspondente ao produto concepcional (6 a 7 Kg). 90 O tratamento bem sucedido da obesidade, pela perda de peso que induz, melhora os resultados obstétricos e neonatais2. Tratamento da Obesidade A perda de peso corporal é possível através da adopção de estilos de vida saudáveis e correcção de distúrbios do comportamento, nomeadamente alimentares. Uma dieta fraccionada (5 a 6 pequenas refeições diárias), rica em frutas, legumes e hipocalórica, aliada à prática diária de exercício físico (30 minutos de marcha) é a base para o tratamento da obesidade. O tratamento médico pode ainda ser complementado pelo recurso a fármacos, indicados para correcção de uma causa primária do excesso de peso, ou pelos seus efeitos na redução do apetite. Os exemplos mais comuns são a metformina, levotiroxina e os psicofármacos, tais como os anti-depressivos inibidores dos receptores de serotonina, que pretendem controlar o impulso e compulsão alimentar. Quando o tratamento conservador não é suficiente para o tratamento da obesidade, ou falha, o recurso à cirurgia bariátrica pode estar indicado nas situações de obesidade classe III (IMC>40), ou na obesidade classe II (IMC>35), quando associada a co-morbilidades. A opção por este tipo de tratamento depende de uma avaliação multidisciplinar, na qual intervêm médicos de família, endocrinologistas, cirurgiões, psicólogos, entre outros profissionais, de forma a serem excluídas doenças primárias ou factores causais do excesso de peso e a conhecer o perfil do doente. Este último ponto é fundamental afim de serem seleccionados os casos que beneficiam com a cirurgia bariátrica, e para escolha individualizada do tipo de cirurgia mais indicada3. Existem diferentes tipos de tratamento invasivo da obesidade: a endoscópica (colocação de balão intragástrico), o tratamento cirúrgico por via laparoscópica ou, menos frequentemente, por laparotomia. Actualmente a maioria dos procedimentos são efectuados por laparoscopia, uma cirurgia menos invasiva, com menos riscos e com menor tempo de recuperação e convalescença. De acordo com as alterações fisiológicas e anatómicas induzidas, as técnicas cirúrgicas podem ainda ser classificadas como restrictivas, mal- Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):89-92 absortivas ou mistas. No primeiro grupo existe uma limitação da capacidade de ingestão alimentar, por redução do volume gástrico, o segundo grupo engloba situações que levam a uma diminuição da absorção nutritiva, técnicas abandonadas da prática clínica, e as cirurgias mistas são aquelas que levam a uma diminuição da capacidade gástrica e da absorção dos nutrientes. Neste último grupo o exemplo mais famoso é o do bypass gástrico (anastomose em Y de Roux), que corresponde à secção do estômago, que torna o seu compartimento menor, e realização de gastroenteroanastomose em Y, condicionando uma diminuição da absorção em cerca de 30%3,4. As cirurgias mais realizadas actualmente são a colocação de banda gástrica, também designada por bandoplastia, e o bypass gástrico. A primeira tem como principal vantagem ser de execução rápida (cerca de 45 minutos), realizada por via laparoscópica, e reversível. Consiste na colocação de um anel ajustável e modulável no terço superior do estômago, que é ajustado e insuflado em períodos de 4 a 6 semanas, para que a restricção alimentar seja gradual. A bandoplastia é a técnica bariátrica mais realizada e a que tem menos complicações pósoperatórias3,5,6. O bypass gástrico, técnica já descrita, condiciona uma maior e mais rápida perda de peso, pelo que surge como importante opção nas situações de obesidade mórbida grave ou nos casos em que existe um distúrbio do comportamento caracterizado por compulsão alimentar. Esta técnica, embora com melhores resultados no tratamento da obesidade, acarreta maior tempo de internamento e convalescença e mais complicações a longo prazo, nomeadamente deficiências nutricionais6. O pós-operatório da cirurgia bariátrica exige dietas específicas e progressivas, e podendo condicionar algumas intolerâncias alimentares a longo prazo. As complicações mais frequentes na fase inicial (6 semanas), são as hemorragias e infecções, em semelhança a outras cirurgias. Numa segunda fase (7-12 semanas) os vómitos e síndrome de dumping são os mais frequentes e numa fase mais tardia as deficiências nutricionais e os distúrbios do comportamento alimentar tornam-se os mais comuns. Gravidez após cirurgia bariátrica A perda de peso condicionada pelo tratamento cirúrgico da obesidade aumenta a fertilidade da mulher sendo, assim, a gravidez mais fácil. Todavia, a mesma está contra-indicada nos primeiros 12 a 18 meses após realização de cirurgia bariátrica, uma vez que esta é a fase de maior redução ponderal, maior privação nutricional e aquela em que as complicações gestacionais são mais frequentes. A contracepção é de extrema importância nesta fase e deve ser personalizada, sem esquecer a possível intolerância a determinados métodos contraceptivos8. Após alcançada a gravidez existem alguns aspectos importantes a ter em conta, nomeadamente o tipo de cirurgia realizada. De facto, não existem muitos estudos sobre os resultados obstétricos após cirurgia da obesidade, embora seja uma realidade cada vez mais frequente. Dos trabalhos publicados verifica-se que a taxa de complicações é menor relativamente às existentes em grávidas obesas, uma vez que as situações patológicas condicionadas pelo excesso de peso se tornam menos prevalentes, nomeadamente a incidência de diabetes gestacional, de complicações hipertensivas e maior taxa de partos a termo e vaginais9. Melinda et al, numa revisão sistemática, comparou as diferentes técnicas cirúrgicas com os resultados obstétricos e verificou que as taxas de complicações obstétricas e neonatais, globalmente, são inferiores em mulheres submetidas a cirurgia bariátrica do que em mulheres obesas8. Ducarme et al comparou os resultados obstétricos de 13 gestações decorridas após colocação laparoscópica de banda gástrica com os de 414 pacientes com IMC ≥ 30 em igual período (2004 a 2006). Neste estudo a incidência de diabetes gestacional (0%vs22,1%) e pré-eclâmpsia (0%vs3,1%) foram menores no grupo de mulheres submetidas a cirurgia bariátrica do que no grupo de pacientes obesas2. Um outro trabalho mais recente avaliou o impacto da cirurgia bariátrica nos distúrbios hipertensivos na gravidez e verificou que o grupo de grávidas não submetidas a cirurgia apresentou uma taxa de pré-eclâmpsia superior ao grupo de grávidas submetidas a cirurgia (15% vs 3%). De igual forma as taxas de hipertensão gestacional e de hipertensão cónica 91 Silva MF, Silva J, Paredes ME, Cunha E complicando a gravidez foram significativamente inferiores no grupo de grávidas submetidas a cirurgia para redução de peso.10 No que diz respeito a taxas de cesariana e complicações relativas ao parto, os resultados não são conclusivos. Existem alguns estudos que reportam menor taxa de parto cirúrgico, enquanto outros não referem diferenças ou reportam taxas superiores. Relativamente aos resultados neonatais, Ducarme et al não encontrou diferenças nas taxas de prematuridade entre o grupo de parturientes submetidas a cirurgia bariátrica relativamente ao de mulheres obesas. No entanto, a percentagem de recém-nascidos de baixo peso (< 2,5Kg) e macrossómicos (> 4 ou 4,5Kg) foi menor no grupo da cirurgia bariátrica (7,7% vs 10,6 e 14,6%)2. As complicações gestacionais mais frequentes e potencialmente relacionadas com o procedimento cirúrgico são as deficiências nutricionais, habitualmente decorrentes de cirurgias mal absortivas, como o bypass gástrico11. As deficiências mais frequentes são as de ferro e de vitaminas do grupo B, importantes para um bom desfecho obstétrico e com necessidade de suplementação adequada, em doses habitualmente superiores às recomendadas para a gravidez. Assim, é importante o rastreio destas e outras carências nutricionais o mais precocemente possível, idealmente em fase pré-concepcional. CONCLUSÃO Os estudos publicados e a evidência científica demonstram um aumento da taxa de fertilidade e a redu- 92 ção das complicações obstétricas, decorrentes do excesso de peso, após a realização de cirurgia bariátrica. As complicações potencialmente associadas com este tratamento de obesidade podem ser minimizadas com vigilância obstétrica adequada e suplementação nutricional. É fundamental enfatizar a necessidade de pré-concepção, no sentido de minorar algumas das complicações maternas e obstétricas decorrentes da cirurgia bariátrica. BIBLIOGRAFIA 1. Paiva S., Ruas L., et al. Obesidade e Gravidez. Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo 2007; 02: 7-10; 2. Ducarme A., Revaux A., Luton D. Bariatric surgery and obstetrics. J Gynécol Obstét Biol Reprod. 2009 38, 107-116; 3. Almeida N, Gomes D, et al. O balão intragástrico nas formas graves de obesidade. GE – J Pon Gastrenrol 2006; 13: 220-225; 4. Guimarães J, Rodrigues D, et al. Factores preditivos da perda de peso após cirurgia bariátrica. Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo 2006; 7-11 5. Gaudry P, Maurice A, et al. Grossesse aprés anneau gastrique ajustable pour obesité morbide : les particularités du suivi. J Gynecol Obstet Biol Reprod 2004 ; 33 :235-240 6. Jasaitis Y, Sergent F, et al. Management of pregnancies after adjustable gastric banding. 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Human Reproductive Update 2009; 15: 189-201 Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):93-96 Caso Clínico/Case Report Morte fetal tardia após miomectomia electiva no 2º trimestre Late fetal death after mid-trimestre elective myomectomy Ana Maria Coelho*, Luciana Patrício*, Alexandre Valentim-Lourenço**, Nuno Clode***, Luís Graça**** Departamento de Obstetrícia/Ginecologia e Medicina de Reprodução Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte ABSTRACT Background: uterine leiomyomas are frequent in pregnant women, and are usually small and asymptomatic. Occasionally they may complicate the course of pregnancy requiring medical management. In the rare cases of failed medical treatment, surgical intervention may be a therapeutic option. Case: an elective myomectomy was performed at 16 weeks of gestation in a 28 year-old black primigravida with sickle cell trait, presenting with abdominal pain refractory to medical treatment. A subserous leiomyoma weighing 3745g was extracted. In the second week after surgery, fetal demise was confirmed. Pathological examination revealed a normally developed fetus and placental endarteritis obliterans with corio-decidual necrosis. Conclusion: the hemodynamic effects of myomectomy on the utero-placental circulation, in addition to the higher risk of veno-occlusive phenomena associated with the patient’s hematologic disease, may have determined the late vascular placental lesion. The role of prophylactic low weigh molecular heparin in this situation is yet to be determinated. Keywords: leiomyoma; myomectomy; pregnancy; fetal death BACKGROUND The incidence of uterine leiomyoma during preg- nancy is reported between 0.09 e 3.9%1. Although most of them remain asymptomatic, 10-40% may be associated with spontaneous abortion, preterm labor, premature rupture of fetal membranes, placental abruption and pelvic pain2. In rare cases, the persistence * Interna do Internato da Especialidade de Ginecologia/Obstetrícia ** Assistente Graduado de Ginecologia/Obstetrícia *** Chefe de Serviço de Obstetrícia **** Director do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução of symptoms, in spite of medical treatment, may require surgical intervention during pregnancy (myomectomy)3. Different criteria have been used empirically to select patients for surgical treatment in order to achieve a good materno-fetal outcome. CASE REPORT A 28 year-old black primigravida, with uterine leiomyomas diagnosed in Guiné-Bissau in 2007, was presented at our hospital with a 2 weeks history of pelvic and abdominal pain and vomiting. Physical examination revealed a large, hard and painless ab93 Coelho AM, Patrício L, Valentim-Lourenço A, Clode N, Graça L Figura 3 – Abdominal mass on physical examination Figura 3 – Sagittal view on MRI of the leiomyoma’s carnous degenerations (g) Figura 3 – Coronal view on MRI of the leiomyoma’s stalk (g) and gestacional sac (u) dominal mass that extended from the symphysis to the sternum (Figure 1). Ultrasound scan showed a 9-week singleton intrauterine pregnancy and also a large heterogenous mass with 18x12cm and a large stalk attached to the uterine fundus (7.7cm) suggesting subserosal leiomyoma. Magnetic resonance imaging (MRI) was performed at 10-week confirming the presence of a subserosal leiomyoma with an implantation basis anterior to the placenta and areas suggesting carnous degeneration (Figures 2-3). The hemoglobin level was 9.5g/dL and a sickle cell trait was diagnosed (HbS 42%). Due to persisting pain and digestive complaints refractive to medical therapy 94 Figura 3 – View of the leiomyoma demonstrating cut surface with carnous degeneration (hydration, narcotic analgesics, non-steroidal antiinflammatory drugs, antacids, H2-blockers, dopamine and serotonin antagonists), after negative aneuploidy screening, the patient was counseled and agreed to undergo myomectomy at 16 weeks. Under general anesthesia a midline laparotomy extending 3cm above the umbilicus was performed; 2 grams of cefoxitin was administred prophylactily. From the uterine fundus arised a large subserosal leiomyoma with a large Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):93-96 stalk which was ligated with Vicryl® 1 (Eticon Inc., Summerville, NJ). The tumor wheighing 3745g (Figure 4) was extracted using the coring technique with previous aspiration of 400cc of degenerative fluid. Approximately 1000mL of blood was lost and 3 units of packed red cells were transfused. Rectal indomethacine (100mg 8/8h for 48h) was administered to prevent uterine contractions. There were no complications in the post-operative period and the patient was discharged from the hospital 4 days after the surgery; ultrasound showed an evolutive pregnancy. The pathology report revealed leiomyoma with extensive areas of red degeneration. On the second week postmyomectomy fetal death occurred and the pathology report showed a normal fetus, placenta with lesions of endarteritis obliterans and fibrosis in the corion, retro-placental hematoma and corio-decidual necrosis, without lesions of corioamniotitis. DISCUSSION On the small percentage of cases in which the leiomyomas are symptomatic during pregnancy, pain due to red degeneration is the major complaint. The most common complication attributed to leiomyomas in pregnancy is the Syndrome of Painful Myoma (5-8%) described by Phelan. It is more frequent in the second trimester and is associated with nausea, vomiting and fever1. Conservative medical therapy is the traditional management of leiomyomas during pregnancy (analgesics and prostaglandin synthesis inhibitors) resulting in resolution of symptoms on the majority of cases. Surgical intervention may be considered if pain does not respond to analgesia after 72h of therapy4. Different criteria have been used empirically to select patients for surgical treatment. Phelan limited the procedure to pedunculated leiomyomas with stalks no larger than 5cm and avoided dissection of tumors from the uterine wall due to the risks of bleeding and need for hysterectomy1. The current criteria defined by Mollica included (i) recurrent pain, (ii) large (> 10 cm) or rapidly growing leiomyomas and (iii) medium or large leiomyomas (5-10 cm) in the lower uterine segment deforming the placental site5. Recently Lolis refrained from doing surgery on the leiomyoma which were less than < 5mm from the endometrial cavity due to the risk of premature rupture of membranes6. In these situations ultrasound evaluation plays a decisive role in the therapeutic choice as well as in the evaluation of fetal viability. In our case, we decided to perform myomectomy due to the presence of a very large tumor associated with alimentary intolerance refractory to medical treatment. The majority of reported myomectomies during pregnancy were performed between 11 and 19 weeks, with extremes at 6 and 25 weeks4. The surgical approach must allow adequate exposure and a low median incision may suit the best purposes. Myomectomy can be done by the usual technique via a vertical incision over the tumor and enucleation. However in large leiomyomas, like in our case, the direct approach with ligation of the stalk followed by extraction using the coring technique are easily done and should be considerate as a way to avoid extending laparotomy and subsequent scarring complications associated with the enlargement of the uterus during pregnancy. Careful homeostasis should be attained with delayed absorbable sutures, which prevent adhesion formation; antibiotic prophylaxis and anti-D immunoglobulin in Rh negative patients are recommended, but tocolysis is controverse4. Ultrasonography shoud be done postoperatively to evaluate fetal condition. Fetal anomalies, abortion, severe bleeding, uterine rupture or even need for hysterectomy may occur as possible complication of myomectomy performed in the first trimester7. Nevertheless most case reports show that pregnancy outcomes after myomectomy are good and without significant complications. In 1996, Mollica published the results of a clinical protocol implemented for surgical versus conservative approach of leiomyomas in pregnancy: in the surgical approach (18 women) there were no cases of spontaneous abortion, whilst in the conservative approach (88 women) a rate of 13.6% of abortion was reported; all but one (a preterm delivery at 32 weeks with neonatal death of a pregnant patient that refused myomectomy), had a good fetal outcomes5. In 2003, Lolis published the results of a prospective 95 Coelho AM, Patrício L, Valentim-Lourenço A, Clode N, Graça L cohort study which aimed to evaluate the safety and efficacy of myomectomy during the second trimester (15 to 19 weeks); of the 622 pregnant women with leiomyomas, 13 (2.1%) presented complications due to severe abdominal pain that did not respond to conservative management and/or increase in tumor size, being subjected to surgery. From these, 12 had a good outcomes and there was only a case of abortion on the first post-operative day due to uterine contractions that did not respond to medical treatment6. The case of fetal death that we describe on the second post-operative week constitute a late adverse outcome, to our knowledge not yet described. Our patient was heterozygote to sickle cells anemia which is not considered as a high risk situation except in the presence of poor oxigenation8. It is possible that the hemodynamic effects of the utero-placental circulation, in addition to the higher risk of veno-occlusive phenomenon associated to the patient’s hematologic disease, may have determined late vascular lesion in the form of placental thrombus leeding to endarteritis 96 obliterans and retroplacental hematoma. The role of low weigh molecular heparin as thromboembolism prophylaxis in this situation is yet to be determinated. REFERENCES 1. Phelan JP (1995) Myomas and pregnancy. 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Thurman AR, Steed LL, Hulsey T et al (2006). Bacteriuria in pregnant women with sickle cell trait. Am J Obstet Gynecol 194:1366-70 Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):97-101 Caso Clínico/Case Report Gravidez e carcinoma das células renais: caso clínico Pregnancy and renal cell carcinoma: a case report Sofia Figueiredo*, Joana Alves**, Edson Retroz***, Isabel Santos Silva**** Serviço de Obstetrícia da Maternidade Bissaya Barreto Centro Hospitalar de Coimbra ABSTRACT Renal cell carcinoma is a rare disease among pregnant women and requires multidisciplinary management. Pregnancy demands special consideration for diagnosis, and the timing of surgical management is not consensual, namely during the second trimestre. We report the case of a patient who was diagnosed with a renal mass at the end of the first trimestre of pregnancy. She underwent open radical nephrectomy at 18 weeks’ of gestation. Keywords: renal cell carcinoma; pregnancy complications; radical surgery INTRODUÇÃO O cancro do rim é uma entidade patológica cujo diagnóstico é raro durante a gravidez1. Clinicamente, caracteriza-se por dor lombar e hematúria macroscópica eventualmente associadas à uma massa palpável a nível lombar. Este quadro clínico inespecífico, comum às várias patologias benignas e frequentes na gravidez, condiciona um limiar de suspeição baixo para este tipo de tumor2. Do ponto de vista terapêutico, a abordagem de uma massa renal durante a gravidez implica a colaboração de uma equipa multidisciplinar. A conduta depende sobretudo da idade gestacional aquando do diagnóstico. * Assistente Hospitalar de Ginecologia/Obstetrícia ** Interna de Anatomia Patológica *** Assistente Hospitalar de Urologia **** Assistente Hospitalar Graduada de Ginecologia/Obstetrícia Os autores descrevem o caso clínico de um tumor renal de células cromófobas diagnosticado numa grávida às 14 semanas de gestação, discutindo as opções terapêuticas através de uma revisão da literatura. CASO CLINICO Uma grávida de 31 anos de idade, Gesta 3 Para 2, recorreu ao serviço de urgência da Maternidade Bissaya Barreto às 14 semanas de gestação por dor lombar e hematúria macroscópica. O quadro clínico, com 24 horas de evolução, teve um inicio súbito. A gravidez, adequadamente vigiada, não apresentava qualquer intercorrência até à data. Os antecedentes pessoais eram irrelevantes, excluindo-se patologia renal nomeadamente litíase. Ao exame objectivo, a grávida encontrava-se normotensa e apirética. O sinal de Murphy renal era negativo bilateralmente e o combur test não apresentava nenhu97 Figueiredo S, Alves J, Retroz E, Santos-Silva I ma alteração, a excepção da hematúria franca. A avaliação analitica realizada (hemograma, ionograma, avaliação da função renal e PCR) não revelou alterações. Do ponto de vista obstétrico, a ecografia confirmou uma gravidez unifetal de 14 semanas em evolução. Neste contexto, a grávida foi submetida a uma ecografia reno-vesical que identificou um rim direito aumentado de volume (139 mm de diâmetro bipolar), à custa de uma volumosa formação tumoral hiper-reflectida situada a nível do terço médio e medindo 67 mm de maior diâmetro (imagem 1). O rim esquerdo tinha características e dimensões normais. Não eram evidentes sinais de litiase. Para um adequado esclarecimento diagnóstico, foi realizada uma ressonância magnética nuclear (RMN) renal que evidenciou uma lesão expansiva, de características sólidas, localizada à metade superior e medial do rim direito com 61 x 51 x 38 mm (imagem 2). Nenhuma alteração dos órgãos adjecentes foi detectada. A avaliação imagiológica não excluiu a possibilidade de um tumor benigno. A análise citológica da urina não identificou células neoplásicas malignas. Imagem 1 Imagem da ecografia do rim direito 98 O caso clínico foi discutido numa reunião multidisciplinar envolvendo a obstetrícia, a urologia e a imagiologia. A grávida foi devidamente informada dos achados diagnósticos e das possibilidades terapêuticas. Após avaliação do caso e indo de encontro à vontade da grávida, foi decidido realizar uma nefrectomia parcial com exame extemporâneo da lesão e posterior ajuste da terapêutica cirúrgica em função do resultado anatomo-patológico. Às 18 semanas de gestação, a grávida foi submetida a nefrectomia radical direita. Ao exame macroscópico, identificou-se um nódulo tumoral sólido com 64 gramas e 65 x 54 mm de maiores eixos, aparentemente capsulado, de consistência mole e com superfície de corte heterogénea, com áreas esboçando nodularidade e tonalidade acastanhada/amarelada (imagem 3). Ao exame histológico observou-se uma neoplasia sólida, envolvida por uma cápsula fibrosa e constituída por ninhos e trabéculas de células, separados por feixes fibróticos por vezes marcadamente hialinizados. Identificaram-se células neoplásicas com dois aspectos morfológicos Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):97-101 Imagem 2 IRM: Imagem da RMN onde se visualiza formação tumoral (seta) Imagem 3 Aspecto macroscópico do tumor diferentes, nalgumas áreas o citoplasma das mesmas é amplo e eosinofílico, noutras é claro, finamente granular e os limites celulares são muito bem definidos. Os núcleos têm contornos irregulares, identificandose muito frequentemente halos peri-nucleares e também numerosas células binucleadas e multinucleadas com núcleos “empilhados”. Observavam-se imagens de invasão vascular da cápsula. Estas características sustentam o diagnóstico de tumor renal de células cromófobas (imagem 4) (pT1BNXMX). Imagem 4 Carcinoma de células cromófobas: Aspecto microscópico (HES X 400) O pós-operatório decorreu sem intercorrências. De acordo com as orientações terapêuticas preconizadas para esta neoplasia, não existe indicação para nenhuma terapêutica complementar nomeadamente quimioterapia. A gravidez teve uma evolução normal até ao parto que ocorreu às 38 semanas por via vaginal. Nasceu uma menina com 3410 gramas e um índice de APGAR de 10 ao 5ºminuto. A tomografia axial computorizada abdomino-pélvica (TAC) bem como a radiografia do tórax realizadas 6 meses após a cirurgia não identificaram lesões residuais ou sinais de recidiva. A doente mantem-se em vigilância na Consulta de Uro-oncologia do Centro Hospitalar de Coimbra. DISCUSSÃO Apesar da incidência estimada de cancro do rim na gravidez atingir 1/10001, menos de 80 casos foram descritos na literatura3,4. Destes tumores, 95% correspondem a tumores de células claras e, em apenas 5% dos casos, são identificados carcinomas de células cromófobas cujo prognóstico é mais favorável5. Estes dados, aparentemente paradoxais, explicam-se pelo 99 Figueiredo S, Alves J, Retroz E, Santos-Silva I facto dos sinais e sintomas associados ao cancro do rim mimetizarem patologias benignas e frequentes na gravidez, nomeadamente cólica renal e infecções do tracto urinário. Na gravidez, o quadro clínico típico é caracterizado pela detecção de uma massa lombar ao exame físico (88% dos casos), lombalgia (50% dos casos) e hematúria macroscópica (47% dos casos). Em 26% dos casos, a forma de apresentação na gravidez engloba esta tríade sintomática6. Mais raramente, este tipo de tumor manifesta-se sob a forma de uma hipertensão de novo durante a gravidez, decorrente da secreção acrescida de angiotensina II causada pela compressão da artéria renal pela formação tumoral7. Em casos pontuais, a anemia hemolítica e a hiperuricémia também já foram descritos como forma de apresentação7. No entanto, para Smith et al.8, o diagnóstico de um tumor do rim durante a gravidez é geralmente fortuito. Para este autor, os tumores renais durante a gravidez são, numa elevada proporção de casos, identificados através de uma ecografia abdominal não orientada para a avaliação renal. A abordagem diagnóstica inclui uma citologia da urina para pesquisa de células neoplásicas e uma avaliação imagiológica que reduza ao mínimo a exposição fetal às radiações e aos produtos de contraste. Nesta perspectiva, a RMN em complemento da ecografia reno-vesical são habitualmente privilegiadas. A ecografia estabelece o diagnóstico, a RMN permitindo uma melhor definição das características tumorais bem como a avaliação dos órgãos adjacentes9. Do ponto de vista terapêutico, o diagnóstico de uma massa renal durante a gravidez implica uma abordagem pluridisciplinar envolvendo obstetras, urologistas, anestesistas e eventualmente pediatras e oncologistas. Neste contexto, o principal desafio consiste na determinação da idade gestacional adequada para a realização da cirurgia de modo a optimizar o prognóstico materno-fetal10. Com esta finalidade, é crucial considerar dois aspectos importantes : o potencial de crescimento tumoral com o risco inerente de disseminação neoplásica e as implicações para o feto da terapêutica materna, sobretudo o risco de parto pré-termo. Nesta perspectiva, Loughlin et al.1 estabeleceu orientações clínicas para a abordagem terapêutica destes tumores tendo em conta dois prin100 cípios importantes: a duplicação de volume de um tumor renal a cada 300 dias11 e os constantes progressos da neonatologia que recuam cada vez mais o limiar da viabilidade fetal. Segundo este autor, a terapêutica cirúrgica, a nefrectomia parcial ou radical, apenas tem indicação no 1º e o 3º trimestre de gravidez. O tamanho e a localização tumorais determinam o tipo de abordagem cirúrgica urológica inicial. Quando as dimensões tumorais não excedem os quatro centímetros ou quando a localização é favorável (massa muito exofítica, superficial ou polar), a cirurgia conservadora (nefrectomia parcial) deve ser privilegiada. No caso de massas com dimensões superiores a quatro centímetros ou com localização desfavorável (muito intrasinuusal, profunda ou justahilar), a nefrectomia radical ab initio poderá estar indicada. Quando o tumor é diagnosticado no 1º trimestre, a nefrectomia deve ser realizada assim que possível. No caso de um diagnóstico no 2º trimestre, a cirurgia deve ser adiada após as 28 semanas tendo em conta o risco de parto pré-termo e de modo a minimizar as sequelas associadas à prematuridade. Apesar da realização de uma cirurgia renal e de uma cesariana electiva num mesmo tempo operatório já ter sido descrita12, a programação da cirurgia após o parto poderá constituir uma opção válida no caso de um tumor detectado durante o 3º trimestre. As recomendações Loughlin et al. não são totalmente consensuais na literatura. Alguns autores defendem que o adiamento da cirurgia em função da IG não é uma opção isenta de riscos, podendo a priori agravar o prognóstico materno, e preconizam a realização da cirurgia independentemente da IG13. A cirurgia pode ser realizada por laparotomia ou por via laparoscópica, várias vantagens estando associadas a esta via de abordagem nomeadamente uma menor dose de anestésicos e analgésicos14. O prognóstico a longo prazo do tumor renal de células cromófobas é favorável. Nas séries publicadas, a taxa de sobrevivência aos 5 anos é compreendida entre 82% e 92%15. A influência da gravidez, nomeadamente o status hormonal e imunológico, no prognóstico e na sobrevivência a longo prazo associados ao cancro do rim é desconhecida dado o reduzido número de casos descritos. Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):97-101 CONCLUSÃO Apesar de pouco comum, o cancro do rim deve ser considerado como uma possível causa de lombalgia e hematúria na gravidez. A pluridisciplinaridade da abordagem terapêutica é fundamental para optimizar o prognóstico materno-fetal. Para avaliar a impacto da gravidez no prognóstico do cancro do rim e eventualmente ajustar as condutas terapêuticas nestas circunstâncias, seria pertinente a elaboração de um registo nacional. REFERÊNCIAS 1. Loughlin KR. The management of urogical malignancies during pregnancy. Br J Urol 1995;76:639-644. 2. Khochikar MV. Management of urological cancers during pregnancy. Nat Rev Urol 2010;7(4):195-205. 3. Casella R, Ferrier C, Giudici G, Dickenmann M, Giannini O, Hosli I, Bachmann A, Susler T. Surgical management of renal cell carcinoma during the second trimester of pregnancy. Urol Int 2006;76:180-181. 4. Buda A, Pizzocaro G, Ceruti P, Salvioni R, Battistello M, Vergani P. Case report: renal cell carcinoma presenting as hypertension in pregnancy. Arch Gynecol Obstet 2008;277:263–265. 5. Pearson GAH and Eckford SD. Renal cell carcinoma in pregnancy. J Obstet Gynaecol 2009;29(1):53-66. 6. Walker JL and Knight EL. Renal cell carcinoma in pregnancy. Cancer 1986;58:2343-2347. 7. 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Progrès en Urologie 2001; 11: 209-216. 101 Oliveira P, Amaral A, Andrade A, Reis I, Furtado JM Caso Clínico/Case Report Mola hidatiforme parcial associada a síndrome de HELLP às 15 semanas de gravidez: caso clínico Partial mole associated with the HELLP syndrome at 15 weeks of pregnancy: a case report Pedro Oliveira*, Ana Amaral*, Ana Andrade**, Isabel Reis**, José Manuel Furtado*** Centro Hospitalar do Alto Ave – Unidade de Guimarães Hospital de S. João ABSTRACT Hydatidiform mole comprises the vast majority of gestational trophoblastic disease cases. Although noninvasive and localized, hydatidiform moles can be lifethreatening, due to the risk of complications and evolution to persistent forms. HELLP syndrome is a rare and serious condition that usually occurs after 20 weeks of pregnancy. There are only a few cases of HELLP syndrome reported in association with molar pregnancies. The authors report a case where a partial mole with fetal triploidy coexisted with a typical presentation of preeclampsia and HELLP syndrome at 15 weeks of gestation. The patient was admitted in our department with hyperemesis and preeclampsia. Ultrasound findings were consistent with partial hydatiform mole. Termination of pregnancy was performed and histophatological examination confirmed fetal triploidy and partial molar pregnancy. A few hours after abortion the patient developed HELLP syndrome, requiring intensive care unit admission, but the whole clinical picture subsequently resolved spontaneously. Keywords: partial molar pregnancy; preeclampsia; HELLP syndrome; fetal triploidy; hyperemesis INTRODUÇÃO A Mola Hidatiforme (MH) está incluída num grupo amplo de patologias, conhecido como Doença Gestacional do Trofoblasto (DGT), constituído por um espectro que vai desde situações benignas até situações potencialmente ameaçadoras para a vida. A incidência de MH tem sido relativamente constante nos Estados Unidade e Europa, com 1 a 2 casos em 1000 gravidezes1. Segundo dados do * Interno Complementar ** Assistente Hospitalar Graduado *** Diretor de Serviço 102 INE, em Portugal a proporção é de 1 para 570 gestações2. Esta entidade clínica é caracterizada, histologicamente, por alterações das vilosidades coriónicas que consistem na proliferação do trofoblasto e do estroma vilositário. As alterações tecidulares e a ausência ou presença de elementos embrio-fetais, permite diferenciar dois tipos de MH: mola hidatiforme completa e mola hidatiforme incompleta ou parcial (com tecido embriofetal). Na mola hidatiforme parcial (MHP), o embrião desenvolve-se na presença de hiperplasia trofoblástica Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):102-106 focal com alterações hidrópticas. Estudos citogenéticos demonstraram que cerca de 90% das MHP, estão associados a triploidia (69, XXX; 69, XXY ou 69, XYY).3 As manifestações clínicas da MH são, por ordem decrescente de frequência: hemorragia vaginal, aumento do volume uterino, desconforto ou dor pélvica, quistos teca-luteínicos, anemia. Existem outras manifestações menos frequentes, tais como: hiperemese gravídica, hipertiroidismo e pré-eclâmpsia (antes das 20 semanas de gestação). Todavia, um dos aspectos mais relevantes desta patologia é a mudança das formas de apresentação nas últimas décadas, com a utilização generalizada da ecografia, possibilitando o diagnóstico precoce desta situação clínica. A hyperemesis gravidarum ou hiperemese gravídica (HG) caracteriza-se por náuseas e vómitos incoercíveis, associado a cetose e perda de peso (>5% do peso antes da gravidez). Esta entidade clínica pode condicionar desidratação, alterações hidroelectrolitícas e do equilíbrio ácido-base, bem como alterações da função hepática. A HG ocorre normalmente num contexto de gravidez com níveis mais elevados de hCG que o habitual, tais como a gravidez gemelar, a gravidez molar e o hipertiroidismo. A pré-eclâmpsia (PE) é definida como uma condição própria da gravidez, clinicamente caracterizada pelo aparecimento de novo de hipertensão e proteinúria, após as 20 semanas de gravidez. Perante o desenvolvimento de PE antes da 20ª semana de gestação, deve-se suspeitar de doença molar. O risco de desenvolver PE é de 40% em mulheres com MHP.3,4,5 O Síndrome de HELLP caracteriza-se pela tríade: hemólise com microangiopatia, aumento das enzimas hepáticas e trombocitopenia. A ocorrência deste síndrome antes da 20ª semana de gestação, é extremamente rara.6,7 CASO CLÍNICO Grávida com 27 anos, sem antecedentes pessoais relevantes, G2P1 (parto eutócico pré-termo com nado morto após acidente de viação), recorre ao serviço de urgência por náuseas e vómitos incoercíveis associados a epigastralgias, às 15 semanas de gestação. Na avaliação de rotina do 1º Trimestre, a ecografia não identificou marcadores ecográficos de cromossomopatias e o rastreio combinado do 1º trimestre teve resultado positivo com risco para Síndrome de Down de 1/73. À entrada, apresentava valores tensionais aumentados (TA: 149/94 mmHg) e proteinúria (++), cetonúria (+) e hematúria (+) no Combur-Test ®. Ao exame obstétrico, verificou-se útero aumentado de volume Quadro I Resultados analíticos, à entrada, no 4º dia de internamento (D4) e no dia da alta Parâmetros Admissão D4 Alta Valores de Referência Hemoglobina 10.6 9.2 10.4 12.0-16.0 (g/dL) Hematócrito 30.4 26.8 30.4 36-46 (%) Leucócitos 12.3 13.4 11.2 4.8-10.8 (x103/uL) Plaquetas 119 28 211 150-350 (x103/uL) TGO 148 328 55 5-34 (Ul/L) TGP 103 217 161 10-35 (Ul/L) βHCG 685.245,24 - 8246.26 Neg <5 (mUl/mL) TGO: Transaminase Oxalacética TGP: Transaminase G. Pirúvica 103 Oliveira P, Amaral A, Andrade A, Reis I, Furtado JM compatível com cerca de 16 semanas de gestação; ausência de perda hemática genital e boa vitalidade fetal com placenta de espessura ligeiramente aumentada e com presença de vacúolos. Analiticamente, apresentava: anemia; trombocitopenia; aumento das enzimas hepáticas e níveis de β-hCG anormalmente elevados. (ver Quadro I) Durante o 1º e 2º dia de internamento e após terapêutica anti-emética, manteve epigastralgias, iniciando cefaleias ligeiras, apesar da melhoria significativa das náuseas e vómitos. Posteriormente, foi realizada avaliação ecográfica no Sector de Diagnóstico Pré-Natal que revelou feto com vitalidade, biometrias compatíveis com 15 semanas de gestação, com alterações anatómicas (cardiomegalia, cabeça em forma de limão, mielomeningocelo terminal) e aspectos sugestivos de mola hidatiforme (placenta espessada e vacuolizada). (Figura 1) Perante o diagnóstico de mola hidatiforme parcial associada a malformações fetais, a grávida decidiu pela interrupção médica da gravidez, iniciando protocolo médico de indução de gravidez inviável do 2º trimestre, com misoprostol. Após expulsão do feto e da placenta, por metrorragia moderada, procedeu-se a esvaziamento uterino instrumental. O exame anatomo-patológico fetal revelou feto masculino com crescimento e desenvolvimento correspondentes a 15 semanas; defeito aberto do tubo neural: mielomeningocelo sacrococcígeo; hidroce- falia ligeira com hemorragia intraventricular e hipoplasia pulmonar”. (Figuras 2, 3 e 4) O exame citogenético revelou triploidia: 69, XXY. O exame anatomo-patológico da placenta evidenciou placenta com peso superior ao esperado, com características morfológicas compatíveis com doença molar do trofoblasto. (Figura 5) Ao 4º dia de internamento e algumas horas após expulsão do conteúdo intra-uterino, registou-se um agravamento do quadro clínico, nomeadamente queixas de cefaleias intensas. Ao exame objectivo, apresentava TA 136/99 mmHg, taquicardia, taquipneia e icterícia discreta das escleróticas e crepitações pul- Figuras 2, 3 e 4. Imagens evidenciando malformações fetais e alterações placentares 1. Aspecto ecográfico evidenciando feto com biometrias Figura para 15 semanas de gestação e placenta vacuolizada 104 5. Aspecto macroscópico da placenta Figura Acta Obstet Ginecol Port 2011;5(2):102-106 monares. Analiticamente, constatou-se anemia, trombocitopenia, alteração das enzimas hepáticas (ver Quadro I). Realizou radiografia de tórax que revelou derrame pleural bilateral. A doente foi transferida para a Unidade de Cuidados Intensivos, com diagnóstico de Síndrome de HELLP associada a Síndrome de Disfunção Múltipla Orgânica (SDMO), onde permaneceu durante 4 dias. Após estabilização clínica, com evolução hemodinâmica e analítica favorável, foi transferida para o serviço de Obstetrícia, com melhoria progressiva do quadro clínico, tendo tido alta ao 10º dia de internamento, assintomática e com valores analíticos a normalizar e valor de β-hCG a decrescer (ver Quadro I) e ecografia trans-vaginal dentro dos parâmetros normais. Foi referenciada à consulta de pré-concepção, realizando doseamentos de β-hCG seriados, semanalmente, até obter três valores consecutivos negativos e mensalmente, durante 6 meses. Os valores de β-hCG normalizaram entre a 6ª e 7ª semana de vigilância. Manteve vigilância na consulta, durante cerca de 12 meses, medicada com anti-contraceptivo oral e sem evidência de recorrência de doença. DISCUSSÃO As complicações hipertensivas na gravidez, antes das 20 semanas são muito raras6. Da pesquisa efectuada, constatou-se que, na literatura, existem muito poucos casos descritos de associação entre mola hidatiforme parcial e síndrome de HELLP, tendo sido encontrados apenas quatro casos clínicos, com idades gestacionais compreendidas entre as 14 e as 18 semanas. 6,8,9,10 Neste caso clínico, o motivo pelo qual a grávida recorreu ao serviço de urgência foi náuseas e vómitos incoercíveis, tendo sido, posteriormente, constatado um quadro clínico compatível com pré-eclâmpsia. A hiperemese gravídica justifica-se perante os valores anormalmente elevados de β-hCG, típicos das portadoras de MH. Porém, o diagnóstico de MH tem sido mais precoce, principalmente devido ao uso cada vez mais difundido da ecografia no 1º trimestre, mesmo antes de ocorrerem manifestações clínicas.11 É importante referir que, a ecografia do 1º trimestre não identificou marcadores ecográficos de cromossomopatias ou alterações placentares, sugestivas de doença gestacional do trofoblasto. Contrariamente: os achados da ecografia realizada no sector de diagnóstico pré-natal, cerca de 4 semanas após a ecografia do 1º trimestre, foram sugestivos de MHP, por apresentarem alterações da anatomia fetal e espessamento com alterações quistícas focais da placenta. A forma de terminação da gravidez aconselhada pela maioria dos autores é a aspiração uterina. A aspiração intracavitária diminui o risco de perfuração uterina e aderências intra-uterinas comparativamente á utilização de cureta e diminui o risco de disseminação da doença, permitindo uma evacuação mais completa do conteúdo intra-uterino comparativamente aos protocolos médicos.12,13 Porém, em situações de mola parcial com feto ou partes fetais grandes, o esvaziamento uterino pode ser induzido com prostaglandinas, seguida de aspiração e/ou curetagem “suave” nos casos de retenção de restos feto-placentares, embora o risco de DGT persistente pareça maior.14 No que diz respeito à vigilância destas doentes, é importante ter presente que o risco de persistência da doença, na MHP, é inferior a 1%, e que o risco de gravidez molar numa gestação posterior é de 1/75.15 As recomendações actuais prevêem o doseamento semanal de β-hCG até ocorrerem três valores consecutivos negativos e mensalmente, durante 6 a 12 meses. Este caso clínico vem demonstrar a importância e heterogeneidade que a DGT pode apresentar, podendo raramente manifestar-se em fases mais avançadas da gestação, sem alterações ecográficas significativas prévias. A suspeição clínica, os achados analíticos e ecográficos são importantes no diagnóstico precoce, permitindo assim uma orientação terapêutica atempada com diminuição dos riscos de morbi-mortalidade associados a esta patologia. REFERÊNCIAS 1. Cunningham FG, Gant NF, Leveno KJ e col. Williams Obstetrics. 23ª ed. McGraw-Hill Companies Inc., 2009;10. 2. Sociedade Portuguesa de Ginecologia [Internet]. Consensos sobre 105 Oliveira P, Amaral A, Andrade A, Reis I, Furtado JM 3. 4. 5. 6. 7. 8. 106 Cancro da Vulva, Vagina e Trofoblasto. Junho 2000. Disponível em: http://www.spginecologia.pt/uploads/cancro_vulva.pdf. Jauniaux E. Partial mole from postnatal to prenatal diagnosis. Placenta 1999; 379-388. Cox SM, Klein VR. Partial molar pregnancy associated with severe pregnancy-induced hypertension. J Perinatol 1993;13:103-6. Newman RB, Eddy GL. Association of Eclampsia and hydatiform mole case report and review of literature. Obstet Gynecol Surv 1988; 43:185-90. Falkert A and Yildiz A.Partial mole with fetal triploidy as a cause for imminent HELLP - syndrome at 16 weeks of gestation. Arch Gynecol Obstet 2009; 279: 423-425. Sibai,BM, Ramadan, MK, Usta, I et al. Maternal morbidity and mortality in 442 pregnancies with hemolysis, elevated liver enzymes and low plateles (HELLP syndorme). Am J Obstet Gynecol 1993; 169:1000. Sherer, DM et al. Acute onset of severe hemolysis, elevated liver enzymes and low platelet count syndrome in a patient with partial hydatiform mole at 17 weeks gestation. Am J Perinatol 2006; 23: 163-166. 9. Ribbeck G et al. Mola incomplete, eclampsia y síndrome de HELLP: Un caso clínico. Rev Chil Ultrasound 2006; 9: 62-66. 10. Stefos T et al. A case of partial mole and atypical .type I triploidy associated with severe HELLP syndrome at 18 weeks’ gestation. Ultrasound Obstet Gynecol 2002; 20: 403-404. 11. Mosher R, Goldstein D, Berkowitz, R et al. Complete hydatiforme mole comparison of clinicophathologic features, current and past. J Reprod Med 1998; 48:21. 12. Tidy, JA, Gillespie, AM, Bright, N, et al. Gestational trophoblastic disease: a study of mode of evacuation and subsequent need for treatment with chemotherapy. Gynecol Oncol 2000; 78:309. 13. Soper, JT. Surgical therapy for gestational trophoblastic disease. J Reprod Med 1994; 39: 168. 14. Gerulath AH et al. Gestational Trophoblastic Disease. J Obstet Gynaecol Can 2002; 24:434. 15. Magowan B. et al. Gestational trophoblastic disease. In: Clinical Obstetrics & Gynaecology (2nd Edition). Saunders Elsevier 2009; 212-216. LISTA DE REVISORES - 2010 O Corpo Editorial da ACTA OBSTETRICA E GINECOLOGICA PORTUGUESA agradece aos seguintes revisores externos que colaboraram na avaliação de artigos submetidos durante o ano de 2010 e cuja contribuição foi fundamental para a revista. Carlos Aguiar Verissimo Rita Sousa Ana Paula Soares, Teresinha Simões Jorge Carlos Simões Pedro Tiago Silva Fatima Serrano João Saraiva Maria São José Pais Isabel Santos Silva Susana Santo Carla Sá-Couto Cláudio Rebelo Carla Ramalho Joana Queirós Luisa Pinto Elisabete Pinto Joana Pauleta Fatima Palma Filipa Beja Osório Inês Nunes Antonieta Melo João Paulo Marques Eduarda Marques Carlos Marques Armando Mansilha Ana Paula Machado José Adelino Barbosa Irene Jesus Alexandra Henriques Zélia Gomes Cristina Frutuoso José Alberto Fonseca-Moutinho Helder Ferreira Tiago Ferraz Francisco Augusto Falcão Ana Domingues Ana Bela Couceiro Francisco Cortêz Vaz João Colaço Nuno Clode Rui Marques Carvalho Teresa Carraca Filomena Cardoso Vitor Caeiro Iva Brito Ana Areia Njila Amaral 107 ACTA OBSTETRICA E GINECOLOGICA PORTUGUESA Órgão oficial da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia Official journal of the Federation of Portuguese Societies of Obstetrics and Gynecology REGRAS PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS INFORMATION FOR AUTHORS REGRAS GERAIS GENERAL RULES FOR SUBMMITING ARTICLES 1. Os artigos deverão ser submetidos exclusivamente à Acta Obstétrica e Ginecológica Portuguesa, não podendo estar a ser simultaneamente considerados para publicação noutra revista. Serão considerados para publicação artigos que foram previamente rejeitados noutras revistas e os autores são livres de submeter os artigos não aceites por esta revista a outras publicações. 1. Manuscripts should be submitted exclusively to Acta Obstetrica e Ginecologica Portuguesa, and may not be under simultaneous consideration for publication in other journals. Manuscripts that have been previously rejected by other journals will be considered for publication, and authors are free to submit those that have been rejected by this journal elsewhere. 2. Todos os artigos são submetidos à revista por iniciativa dos seus autores, excepto os artigos de revisão que poderão também ser elaborados a convite dos Editores. 2. All manuscripts are submitted to the journal on the authors’ initiative, except for revision articles that may also be submitted on invitation from the Editors. 3. Os dados constantes do artigo não podem ter sido previamente publicados, total ou parcialmente, noutras revistas. Deste âmbito, exclui-se a publicação sob forma de resumo em actas de reuniões científicas. 3. Data presented in the manuscript must not have been previously published, in whole or in part, in another journal. This does not include publications in the form of abstract in proceedings of scientific meetings. 4. Os autores poderão no prazo de 3 meses re-submeter uma única vez os artigos rejeitados pela revista, os quais serão encarados como novas submissões. 4. Authors may re-submit a rejected article once, within 3 months of the decision. Re-submitted articles will be considered as new submissions. 5. Os requisitos para autoria de artigos nesta revista estão em consonância com os Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals, disponível em www.icmje.org/icmje.pdf. 5. Requirements for authorship of manuscripts in this journal are in accordance with Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals, available at www.icmje.org/icmje.pdf . 6. Os autores são responsáveis pela verificação cuidadosa dos textos na primeira submissão, bem como nas eventuais versões modificadas e nas provas finais do artigo. 6. Authors are responsible for carefully checking their texts before first submission, as well as with subsequent revised versions, and in the final proofs of the manuscript. SUBMISSÃO ONLINE DE ARTIGOS ONLINE SUBMISSION OF ARTICLES 1. Os artigos são submetidos exclusivamente na página de submissões da revista em www.editorialmanager.com/aogp. 1. Articles are submitted exclusively at the journal submission site: www. editorialmanager.com/aogp. 2. A revista aceita cinco tipos diferentes de artigos: • ESTUDO ORIGINAL • ARTIGO DE REVISÃO • CASO CLÍNICO • ARTIGO DE OPINIÃO • CARTA AO EDITOR 2. The journal accepts five different types of articles: • ORIGINAL STUDY • REVIEW ARTICLE • CASE REPORT • OPINION ARTICLE • LETTER TO THE EDITOR 3. Todos os artigos necessitam de um título em Inglês que não pode exceder 150 caracteres incluíndo espaços. 3. All articles must contain a title in English, which should not exceed 150 caracters in length, including spaces. 4. A lista de autores deve incluir o primeiro e último(s) nome(s) de cada um, juntamente com as funções académicas e hospitalares actuais. Para os artigos de revisão, artigos de opinião e casos clínicos não se aceitam mais do que 5 autores. Para os estudos originais são aceites até 8 autores, podendo este número ser excedido em estudos corporativos que envolvam mais de dois centros. Um dos autores é designado “responsável pela correspondência” e os seus contactos devem ser fornecidos na página de submissões da revista. 4. The list of authors should include their first and last name(s), together with current academic and hospital positions. No more than 5 authors are accepted for review articles, opinion articles and for case reports. For original studies up to 8 authors will be accepted, and this number may be exceeded in corporate studies involving more than two centres. One of the authors will be designated as “responsible for correspondence” and his/her contact information should be made available at the journal submission site. 5. Os estudos originais, artigos de revisão, artigos de opinião e casos clínicos necessitam de incluir um resumo em inglês que não pode exceder 300 palavras. Este texto não pode incluir qualquer referência aos autotes ou à instituição onde o estudo foi realizado. A estrutura é diferente de acordo com o tipo de artigo: • ESTUDO ORIGINAL – parágrafos com os títulos Overview and Aims, Study Design, Population, Methods, Results, and Conclusions. • OUTROS – estrutura livre. 5. Original studies, review articles, opinion articles and case reports must include an abstract in English, which should not exceed 300 words. The text must not include any reference to the authors or to the institution where research took place. The structure of the abstract varies according to the article type: • ORIGINAL STUDY – paragraphs with the headings Overview and Aims, Study Design, Population, Methods, Results, and Conclusions. • OTHERS – free structure. 6. Os estudos originais, artigos de revisão, artigos de opinião e casos clínicos necessitam de incluir 1 a 5 palavras-chave, segundo a terminologia MeSH (www. nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html). 6. Original studies, review articles, opinion articles and case reports must include 1-5 keywords, according to MeSH terminology (www.nlm.nih.gov/ mesh/meshhome.html). 7. Todos os artigos necessitam de um título em Português que não pode exceder 150 caracteres incluíndo espaços. 7. All articles must include a title in Portuguese, which cannot exceed 150 caracteres in length, including spaces. 8. É necessário indicar o nome e localização da(s) instituição(ões) onde a investigação teve lugar. 8. The names and locations of the institution(s) where research was conducted must be supplied. 9. É da responsabilidade dos autores informar os Editores de possíveis conflitos de interesse relacionados com a publicação, bem como de publicações anteriores dos dados. 9. It is the responsability of authors to inform the Editors about potential conflicts of interest related with the publication, as well as about previous reports of the same data. 109 PREPARAÇÃO DO TEXTO, TABELAS E FIGURAS PREPARATION OF THE MANUSCRIPT, TABLES AND FIGURES 1. Os ficheiros submetidos com o texto principal do artigo, tabelas e figuras não devem ter qualquer referência aos autores ou à(s) instituição(ões) onde a investigação foi realizada. 1. Uploaded files containing the main manuscript, tables and figures must not contain any reference to the authors or to the institution(s) where research was conducted. 2. Todos os textos submetidos devem ter duplo espaço entre linhas, usando a fonte Times New Roman de 11 pontos. 2. All texts should be submitted double spaced, using an 11-point Times New Roman font. 3. O texto principal do artigo tem estrutura e dimensão máxima (excluíndo referências) de acordo com o tipo de artigo: • ESTUDO ORIGINAL – secções divididas com os títulos: Introdução, Métodos, Resultados e Discussão; dimensão máxima 3000 palavras. • ARTIGO DE REVISÃO – estrutura livre; dimensão máxima 5000 palavras. • ARTIGO DE OPINIÃO – estrutura livre; dimensão máxima 1500 palavras. • CASO CLÍNICO – secções divididas com os títulos Introdução, Caso Clínico e Discussão; dimensão máxima 1500 palavras. 3. The structure and maximum dimensions (excluding references) of the main manuscript vary according to the type of article: • ORIGINAL STUDY – separate sections with headings: Introdution, Methods, Results and Discussion; limit of 3000 words. • REVIEW ARTICLE – free structure; limit of 5000 words. • OPINION ARTICLE – free structure; limit of 1500 words. • CASE REPORT – separate sections with headings: Introduction, Case Report and Discussion; limit of 1500 words. 4. As investigações que envolvem seres humanos ou animais devem incluir no texto uma declaração relativa à existência de aprovação prévia por uma Comissão de Ética apropriada. Com seres humanos é ainda necessário incluir uma declaração relativa à solicitação de consentimento informado dos participantes. 4. All research involving human subjects or animals should contain a statement in the text regarding the existance of prior approval by an appropriate Ethics Committee. With human subjects it is also necessary to include a statement concerning the request of informed consent from participants. 5. As abreviaturas devem ser empregues com moderação e definidas por extenso aquando da primeira utilização, tanto no resumo como no texto principal do artigo. 5. Abbreviations should be used sparingly and written in full extent at first usage, both in the article’s abstract and in the full body of the text. 6. Devem ser sempre utilizados os nomes genéricos dos medicamentos, excepto quando o nome comercial é particularmente relevante. Neste caso, devem ser acompanhados do símbolo ®. 7. Os equipamentos técnicos, produtos químicos ou farmacêuticos citados no texto devem ser seguidos entre parentesis do nome do fabricante, cidade e país onde são comercializados. 8. No final do texto principal os autores podem incluir os agradecimentos que queiram ver expressos no artigo. 9. As referências deverão ser numeradas consecutivamente na ordem em que são mencionadas no texto, tabelas ou legendas de figuras, usando números arábicos em sobrescrito; exemplo 1,2,3. Os artigos aceites para publicação mas ainda não publicados podem ser incluidos na lista de referências no formato habitual, usando o nome da revista seguido da expressão in press. As comunicações pessoais, abstracts em livros de resumos de congressos, páginas web e artigos ainda não aceites não podem ser incluídos na lista de referências. • ESTUDO ORIGINAL – máximo de 50 referências. • ARTIGO DE REVISÃO – máximo de 125 referências. • ARTIGO DE OPINIÃO – máximo de 20 referências. • CASO CLÍNICO – máximo de 20 referências. 6. Drugs should always be referred to by their generic names, except when the trade name is of particlular relevance. In this case they should be accompanied by the symbol®. 7. Technical equipments, chemical or pharmaceutical products cited in the text should be followed in brackets by the name of the manufacterer, city and country where they are commercialised. 8. At the end of the main text, authors may include the aknowlegments that they would like published in the article. 9. References should be numbered consecutively in the order that they are first mentioned in the text, tables or figure legends, using arabic numbers in superscript; i.e 1,2,3. Papers accepted for publication but not yet published may be cited in the reference list in the usual format, using the journal name followed by the words in press. Personal communications, abstracts published in congress proceedings, web pages, and articles submitted for publication but still under evaluation may not be cited as references. • ORIGINAL STUDY – maximum of 50 references. • REVIEW ARTICLE – maximum of 125 references. • OPINION ARTICLE – maximum of 20 references. • CASE REPORT – maximum of 20 references. 10. A lista des referências deve seguir as normas do Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals www.icmje.org/icmje.pdf. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a lista da National Library of Medicine, disponível em ftp://nlmpubs.nlm.nih.gov/online/journals/ljiweb.pdf. Exemplo de artigos publicados em revistas: Grant JM. The whole duty of obstetricians. BJOG 1997;104:387-92. Exemplo de Capítulos de livros:: Goldenberg RL, Nelson KG. Cerebral Palsy. In: Maternal-Fetal Medicine (4th Edition). Creasy RK, Resnik R (eds). WB Saunders;1999:1194-214. 10. The reference list should follow the guidelines of the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals www.icmje. org/icmje.pdf. Journal titles should be abbreviated according to the National Library of Medicine list, available at ftp://nlmpubs.nlm.nih.gov/online/ journals/ljiweb.pdf. Example of articles published in scientific journals: Grant JM. The whole duty of obstetricians. BJOG 1997;104:387-92. Example of Book chapters: Goldenberg RL, Nelson KG. Cerebral Palsy. In: Maternal-Fetal Medicine (4th Edition). Creasy RK, Resnik R (eds). WB Saunders;1999:1194-214. 11. Os quadros são submetidos em formato digital, separadamente do texto principal. Devem ser numerados sequencialmente em numeração romana (I, II, III, IV etc.) e não apresentar linhas verticais internas; as únicas linhas horizontais a incluir são na margem superior e inferior do quadro e após os títulos das colunas. Os dados contidos nos quadros e nas legendas devem ser concisos e não devem duplicar a informação do texto. As legendas dos quadros devem ser submetidas nos mesmos ficheiros dos quadros. 11. Tables are to be submitted in digital format, separately from the main manuscript. They should be numbered sequentially with roman numerals (I, II, III, IV etc.) and must not display internal vertical lines; the only horizontal lines that should appear are above and below the table, and following the column headings. Data contained in the tables should be concise and must not duplicate the information given in the text. Table legends should be submitted in the same files as the tables. 12. As figuras devem ser numeradas sequencialmente na ordem que aparecem no texto, usando numeração arábica (1, 2, 3, etc.) e submetidas em formato digital, em ficheiros separados do texto principal e dos quadros. Podem ser submetidas figuras a preto e branco ou a cores. As legendas das figuras devem ser submetidas dentro do texto principal, numa página separada, após as referências. 12. Figures should be numbered sequentially in the order that they appear in the text, using arabic numerals (1, 2, 3, etc.) and submitted in digital format, in separate files from those of the main manuscript and tables. Both black-and-white and colour figures may be submitted. Figure legends should be submitted within the main manuscript file, on a separate page, following the references. 13. Após aceitação de um artigo, mas antes da sua publicação, os autores deverão enviar por email à revista o Formulário de Garantia dos Autores, disponível em www.aogp.com.pt/authors_form.pdf, assinado por todos. 13. After acceptance of an article, but before its publication, the authors must send to the journal by email the Authors’ Guarantee Form, available at www.aogp.com.pt/authors_form.pdf, signed by all. CARTAS AO EDITOR LETTERS TO THE EDITOR 1. As cartas ao Editor referem-se em principio a artigos publicados nos últimos dois números da revista, mas poderão ocasionalmente também ser publicadas cartas sobre outros temas de especial interesse. Se for considerado relevante o Editor Chefe solicitará uma resposta dos autores do artigo original. 1. Letters to the Editor usually refer to articles published in the last two issues of the journal, but those addressing other themes of special interest may ocasionally be published. If considered relevant, the Editor-in-Chief will ask for a reply from the authors of the original article. 2. As cartas ao Editor e as respostas dos autores não devem exceder 750 palavras nem 5 referências. 2. Letters to the Editor and replies from the authors should not exceed 750 words nor 5 references. 110