Diversidade de Cladocera (Crustacea, Anomopoda e Ctenopoda) em reservatórios e trechos lóticos da bacia do Rio da Prata (Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai) Danilo Augusto de Oliveira Naliato Tese apresentada Biociências da ao Instituto Universidade de Estadual Paulista – Campus de Botucatu, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas, Área de concentração: Zoologia. Orientador: Prof. Dr. Marcos Gomes Nogueira Co-Orientadora: Prof.(a) Dr.(a) Lourdes Maria Abdu El-moor Loureiro Botucatu – SP 2013 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO DE AQUIS. E TRAT. DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSANGELA APARECIDA LOBO Naliato, Danilo Augusto de Oliveira. Diversidade de Cladocera (Crustacea, Anomopoda e Ctenopoda) em reservatórios e trechos lóticos da bacia do Rio da Prata (Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai) / Danilo Augusto de Oliveira Naliato. – Botucatu : [s.n.], 2013 Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Botucatu Orientador: Marcos Gomes Nogueira Co-orientadora: Lourdes Maria Abdu El-moor Loureiro Capes: 20400004 1. Ecologia aquática. 2. Limnologia. 3. Eutrofização. 4. Zooplâncton. 5. Cladocera. Palavras-chave: Ecologia; Eutrofização; Latitudinal; Limnologia; Variáveis físico-químicas; Zooplâncton. Dedico este trabalho à Clivia e aos meus queridos pais e avó Agradecimentos À fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela minha bolsa de Doutorado (2009/06149-0) e pelo suporte financeiro através do Auxílio à Pesquisa (2009/00014-6) sob coordenação do Prof. Dr. Marcos Gomes Nogueira. Ao meu orientador, Marcos Gomes Nogueira, pela confiança e amizade durante os mais de 8 anos que faço parte de seu laboratório. Sem dúvida, o convívio e uma ida ao campo com ele é sempre repleto de muitos ensinamentos. Sua dedicação a tudo que faz é um exemplo a ser seguido. Obrigado pelas inúmeras oportunidades que me proporcionou. À minha co-orientadora, Lourdes Maria Abdu Elmoor Loureiro, pela ajuda nas identificações de vários de cladóceros, e pelos conselhos durante a tese. A todos os amigos do laboratório, como são muitos e fiquei com medo de esquecer alguém, não vou citar nomes, mas meu muito obrigado a todos vocês. Aos funcionários do Departamento de Zoologia e da seção de Pós-graduação pela disponibilidade em ajudar sempre que necessário. Aos companheiros que foram na expedição de coleta na Bacia do Prata, convivendo por mais de dois meses dentro de uma camionete, sempre com muita vontade para tudo dar certo, apesar do grande esforço físico, ondas, encalhamentos, etc.. Obrigado Marcos Gilmar, José, Silvia e Jorge. À minha família por todo o apoio e amor, obrigado Mãe, Pai, Vó, Ju e família (Gabriel, Giulia e Carina). Amo muito vocês! À minha querida esposa, Clivia, por estar sempre ao meu lado, sendo sempre muito carinhosa, amorosa e divertida. Sem você nada teria graça e muito das coisas que realizei e melhorei na minha vida não teriam acontecido. Obrigado e TE AMO!! À família de minha esposa (Fiorilo-Possobom) e em especial a minha sogra, Terezinha, obrigado. Enfim, a todos que me ajudaram de alguma forma a vencer mais esta etapa da vida!! Obrigado!!! SUMÁRIO Apresentação 6 Resumo Geral 8 Abstract 9 Capítulo I: Diversidade de Cladocera (Crustacea: Anomopoda e Ctenopoda) 10 na bacia hidrográfica do rio da Prata (América do Sul) Resumo 11 Introdução 12 Material e Métodos 15 Resultados 20 Discussão 34 Conclusões 39 Referências Bibliográficas 42 Capítulo II: Correlações entre as condições ambientais e as populações de 49 Cladocera em grandes rios e reservatórios da Bacia do Prata (América do Sul): uma análise macro ecológica Resumo 50 Introdução 51 Material e Métodos 53 Resultados 58 Discussão 73 Conclusões 79 Referências Bibliográficas 80 Anexos 87 Mapa e imagens dos locais de coleta 88 Imagens da metodologia utilizada em campo 95 Imagens da metodologia utilizada em campo e procedimentos laboratoriais 96 APRESENTAÇÃO O presente estudo foi realizado na bacia hidrográfica do rio da Prata, segunda do continente americano em magnitude, excedida apenas pela bacia amazônica, e a quarta maior do planeta, com uma área de 3,17 106 km2. Esta bacia drena parte dos territórios da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai e os rios Paraná, Uruguai e Paraguai são os três principais formadores. Esta bacia apresenta a maior taxa demográfica do continente sul-americano, que gera uma enorme carga de poluição urbana e agroindustrial, além de possuir um dos maiores parques hidroelétricos do mundo, com uma série de reservatórios construídos em cascata e ainda com novas usinas hidrelétricas inventariadas para serem construídas nos próximos anos, principalmente em território brasileiro. Esta tese está integrada a um projeto mais amplo, com foco na Bacia do rio Prata, intitulado “Estudo limnológico dos grandes reservatórios da bacia hidrográfica do rio da Prata (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai): uma abordagem espacial geográfica e a influência de processos atuais e históricos” (processo Fapesp 2009/00014-6). O projeto envolve uma série de outros temas relacionados à ecologia de rios e reservatórios da Bacia do Prata, abordando diferentes grupos zoológicos (Copepoda, cladóceros litorâneos, mexilhão dourado – Limnoperna fortunei), fitoplâncton, uso e ocupação do solo na bacia (GIS - Sistema de Informações Geográficas), análise dos sedimentos (granulometria, nutrientes, pesticidas e concentração de metais) e testes toxicológicos. Esta tese foi planejada para investigar a fauna de cladóceros planctônicos em reservatórios e trechos lóticos da bacia do rio Prata, com uma visão pioneira, em macroescala, já que a maioria dos estudos realizados tem um caráter mais pontual, não sendo possível identificar padrões de distribuição espacial e temporal ao longo de toda a bacia. 6 Para atingir os objetivos propostos foi empreendido um considerável esforço para realização das coletas, sendo percorridos aproximadamente 27 mil quilômetros por vias rodoviárias, totalizando 76 dias de permanência em campo, empregando protocolos padronizados de amostragem e análise. Foram realizadas amostragens em 44 locais, abrangendo as sub-bacias do rio Paraná, Uruguai e Paraguai, em quatro diferentes países, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Foram amostradas as regiões de montante (semi-lêntica) e barragem (lêntica) de 15 reservatórios de hidrelétricas e 14 pontos em trechos de rios livres de represamento (lótico). Em termos de estruturação da tese optou-se pela redação em forma de capítulos, sendo o primeiro denominado “Diversidade de Cladocera (Crustacea: Anomopoda e Ctenopoda) na bacia hidrográfica do rio da Prata (América do Sul)” com os resultados da distribuição espacial e temporal dos cladóceros ao longo dos 44 pontos de amostragem e os principais atributos ecológicos - riqueza, abundância e diversidade. O segundo capítulo, intitulado, “Correlações entre as condições ambientais e as populações de Cladocera em grandes rios e reservatórios da Bacia do Prata (América do Sul): uma análise macro ecológica”, considera as principais variáveis ambientais e limnológicas que podem influenciar a atual distribuição, riqueza e abundância de Cladocera na bacia hidrográfica do rio da Prata. 7 RESUMO GERAL Através de um estudo em macro-escala realizado na bacia hidrográfica do rio da Prata (quarta maior do planeta) foi estudada a distribuição espacial e temporal dos cladóceros planctônicos, com ênfase na composição, riqueza, abundância e diversidade dos organismos e principais fatores ambientais e variáveis limnológicas correlacionados. As coletas ocorreram em 44 locais, incluindo 15 reservatórios de hidrelétricas (regiões lêntica e semi-lêntica) e 14 trechos lóticos livres de represamento, distribuídos por quatro diferentes países da América do Sul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). As expedições ocorreram no período de verão (janeiro/fevereiro) e inverno (junho/julho) do ano de 2010 e a coleta dos cladóceros foi realizada através de arrastos verticais com uma rede de plâncton cônica de 68 μm de abertura de malha. Para as variáveis ambientais e limnológicas (15 no total) foram seguidos protocolos usuais e padronizados de amostragem. A tese foi elaborada com base nos seguintes capítulos: 1º “Diversidade de Cladocera (Crustacea: Anomopoda e Ctenopoda) na bacia hidrográfica do rio da Prata (América do Sul)”, com uma abordagem descritiva das principias tendências e padrões de distribuição espacial dos cladóceros ao longo da bacia. Procurou-se destacar as diferenças quanto à composição, riqueza, abundância e diversidade, entre os tipos de ambiente (reservatório e rio), sub-bacias (Paraná, Uruguai e Paraguai) e trechos (alto, médio e baixo); um 2º capitulo intitulado “Correlações entre as condições ambientais e as populações de Cladocera em grandes rios e reservatórios da Bacia do Prata (América do Sul): uma análise macro ecológica” aborda os principais fatores ambientais e variáveis limnológicas que podem influenciar na distribuição e nos atributos ecológicos básicos (riqueza e abundância) dos cladóceros ao longo da bacia do Prata. 8 ABSTRACT In the “La Plata” River Basin (fourth largest in the world) we studied the spatial and temporal distribution of planktonic cladocerans, with emphasis on composition, richness, abundance and diversity, as well as the main environmental factors and limnological variables correlated. Samples were obtained in 44 locations, 15 hydroelectric reservoirs (lentic and semi-lentic regions) and 14 lotic stretches, distributed in four different countries, Argentina, Brazil, Paraguay and Uruguay. The expeditions occurred during the summer (January / February) and winter (June / July) of 2010. Samplings of the organisms were performed through vertical hauls along the water column with a plankton net of 68 µm of mesh size. The environmental and limnological variables (15 in total) were simultaneously measured following standard protocols. The thesis was elaborated in the following chapters: 1º "Diversity of Cladocera (Crustacea: Anomopoda and Ctenopoda) in the “La Plata” River Basin (South America)", with a descriptive approach of the main trends and patterns of spatial distribution of cladocerans to along the basin, with emphasis on the differences of composition, richness, abundance and diversity among the types of environment (reservoir and river), sub-basins (Paraná, Paraguay and Uruguay) and stretches (high, medium and low). A second chapter is entitled "Correlations between environmental conditions and the populations of Cladocera in large rivers and reservoirs of the La Plata River Basin (South America): macro-ecological analysis ", and discusses the main environmental factors that can influence the distribution and ecological attributes (richness and abundance) of cladocerans along the La Plata basin. 9 Capítulo I 10 Diversidade de Cladocera (Crustacea: Anomopoda e Ctenopoda) na bacia hidrográfica do rio da Prata (América do Sul) RESUMO Através de um estudo em macro-escala realizado na bacia hidrográfica do rio da Prata (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia), a segunda do continente americano em magnitude (área 3,17 x 106 km2, vazão 22.000 m3 s-1) e a quarta maior do planeta, analisou-se a composição e os atributos ecológicos (riqueza de espécies, diversidade e abundância) da fauna de Cladocera amostrada em 15 reservatórios (regiões lêntica e semi-lêntica) e 14 trechos lóticos livres de represamento. As expedições ocorreram no período de verão (janeiro/fevereiro) e inverno (junho/julho) do ano de 2010 e a coleta de amostras foi feita através de arrastos verticais com uma rede de plâncton cônica de 68 μm de abertura de malha. No total foram encontradas 58 espécies, pertencentes às famílias Sididae, Daphniidae, Bosminidae, Moinidae, Macrothricidae, Ilyocryptidae e Chydoridae. As espécies mais frequentes na bacia foram Bosmina hagmanni, Bosmina freyi, Bosminopsis deitersi, Ceriodaphnia cornuta, Diaphanosoma birgei, Diaphanosoma brevirreme, Diaphanosoma fluviatile e Moina minuta, principalmente nos trechos com influência de reservatórios. Contudo espécies das famílias Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae foram mais representativas nos trechos lóticos. Em relação às espécies consideradas planctônicas, a maioria apresentou ampla distribuição espacial, já as espécies típicas de ambientes litorâneos e bentônicos foram mais restritas a determinados trechos lóticos. Não foi possível discriminar espécies ou grupo de espécies com ocorrência restrita a determinadas sub-bacias ou intervalos de latitude. No sentido latitudinal/longitudinal, para as três principais sub-bacias (Paraná, Uruguai e Paraguai), não houve uma clara diferença em relação à riqueza de espécies e diversidade, rejeitando-se a hipótese de elevação destes atributos ecológicos em direção à foz do rio da Prata – gradiente montante-jusante. As descontinuidades dos valores de riqueza e diversidade ocorreram devido a ampla heterogeneidade dos ambientes amostrados (reservatórios e rios) e grande distância entre os pontos de coleta (em média 250 km). Provavelmente, as características intrínsecas de cada local prevaleçam sobre processos que determinam os padrões de diversidade. Em relação abundância total de organismos, houve uma nítida diferença entre locais com reservatórios e rios sem represamento. Em geral, os ambientes lênticos apresentaram valores de abundância superiores aos lóticos, devido principalmente à maior contribuição de espécies pelágicas. Nos ambientes lóticos, fatores físicos, como a alta velocidade da correnteza e o baixo tempo de residência da água, certamente limitam o desenvolvimento de grandes populações de espécies planctônicas, sendo encontradas nestes locais maiores abundâncias de espécies típicas de ambientes litorâneos e bentônicos (Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae). Na escala temporal, os valores de abundância foram superiores no período de verão na maioria dos pontos. Nas maiores latitudes, porção média e baixa da bacia, os valores da abundância no inverno foram extremamente baixos (menor que 50 ind. m-3), mostrando que as baixas temperaturas limitam o 11 desenvolvimento das populações de Cladocera. Apesar da baixa frequência temporal empregada, o fato de ter sido considerada uma ampla escala espacial, bem como protocolos padronizados de amostragem e resolução taxonômica, conferem ao estudo um caráter pioneiro, que possibilitou obter-se um panorama atual da distribuição da fauna de Cladocera em rios e reservatórios da bacia do rio da Prata. Palavras-chave: reservatórios, rios, Paraná, Uruguai, Paraguai, ecologia, latitudinal. INTRODUÇÃO Cladocera é considerado um grupo monofilético, provavelmente derivado de grandes branquiópodes ancestrais (Waard et al., 2006). Em termos históricos, sua origem é antiga, data da era Paleozóica (Dumont & Negrea, 2002), embora seus fósseis sejam conhecidos somente a partir do Mesozóico (Kotov & Korovchinsky, 2006). Diferentemente de outros grupos de invertebrados aquáticos, melhor representados no ambiente marinho (e.g. Copepoda), a maioria dos cladóceros ocorre em águas continentais, sendo encontrados nas zonas pelágicas, litorâneas e bentônicas (Margalef, 1983; Fernando, 2002). A irradiação dos táxons em Cladocera difere na escala geológica. Estudos de filogenética, a partir de análise molecular, indicam que as subfamílias de Chydoridae foram separadas no Médio Paleozóico (400 milhões de anos atrás) (Sacherová & Hebert, 2003), enquanto que representantes do gênero Daphnia se diferenciaram há 200 milhões de anos atrás (Colbourne & Hebert, 1996). Para alguns táxons, apesar da antiguidade geral dos Cladocera, a diferenciação é mais recente, por exemplo, para os Bosminidae (Taylor et al., 2002). Segundo Korovchinsky (2006), os cladóceros deveriam apresentar uma ampla distribuição geográfica no passado, mas mudanças climáticas no Cenozóico/Terciário teriam determinado à extinção em massa de táxons nas atuais zonas tropical e boreal, enquanto nas zonas temperada e subtropical a fauna permaneceu comparativamente inalterada. Demais processos como vicariância e especiação alopátrica, tanto em nível intercontinental como regional, certamente também influenciaram a alta complexidade e diversidade dos cladóceros nas diferentes regiões geográficas (Lynch, 1985; Forró, 2008). 12 Outros fatores relacionados à biologia dos cladóceros, como elevada taxa de reprodução assexuada, que proporciona rápida colonização de novos ambientes, formação de ovos de resistência em períodos desfavoráveis, dispersão passiva através de diferentes vetores (animais, vento), dispersão através da deriva em corpos d’água conectados, além das atuais ações antrópicas (eutrofização acelerada, construção de barragens, aquecimento global, introdução de espécies), contribuem para o complexo cenário da distribuição histórica e atual do grupo (Havel & Shurin, 2004; Louette & Meester, 2005; Havel & Medley, 2006). No início do século passado prevalecia o conceito de distribuição cosmopolita para a maioria dos Cladocera. Os estudos taxonômicos restringiam-se a fauna da Europa, sendo que o aprofundamento taxonômico no restante do mundo era incipiente, frequentemente designando o mesmo nome de espécies encontradas na Europa (Frey, 1986) aos táxons morfologicamente similares de outras regiões do planeta. A partir de estudos mais detalhados da taxonomia e filogenia, principalmente de Chydoridae (Frey, 1982; 1986; 1987; Sinev, 2001; Van Damme et al., 2011), e posteriormente o uso de análises moleculares (Schwenk et al., 2000; Taylor et al., 2002; Eliaz-Gutiérrez & Valdez-Moreno, 2008; Kotov e Taylor, 2010), o conceito do não cosmopolitismo em Cladocera vem sendo reforçado, causando um forte impacto sobre a compreensão da diversidade, filogenia e biogeografia do grupo. Assim, o estudo dos cladóceros envolve a análise de uma série de variáveis e hipóteses necessárias ao entendimento da complexa distribuição geográfica deste grupo. O cosmopolitismo de algumas espécies, a presença de restrita faixa de distribuição para outras e espécies endêmicas em ambos os hemisférios são fatores intimamente relacionados à origem antiga do grupo e à série de mudanças geomorfológicas e climáticas do planeta (tectônica de placas, glaciações, etc.) e que levam a diferentes interpretações sobre sua distribuição (Forró et al., 2008). Atualmente, existe a descrição de aproximadamente 620 espécies de Cladocera consideradas como válidas (Forró et al., 2008). No entanto, diversos autores acreditam que a diversidade dos cladóceros seja até quatro vezes maior que a atualmente conhecida. Análises que combinam técnicas morfológicas e moleculares são promissoras para delimitar novas espécies com relativa uniformidade morfológica (Schwenk et al., 1998, 2001; Hobaek et al., 2004; Forró et al., 2008). 13 Na região Neotropical foram descritas 186 espécies de cladóceros, distribuídas em 50 gêneros, dentro das ordens Anomopoda e Ctenopoda, e 98 destas são consideradas endêmicas (Forró et al., 2008). Alguns autores (Rocha et. al., 2011; Elmoor-Loureiro et al., 2004; Elmoor-Loureiro 2000, 2007) ressaltam a necessidade de aprofundar os estudos taxonômicos para esses organismos na região neotropical, pois se acredita que espécies atualmente consideradas de ampla distribuição, possam se tratar de inúmeros complexos, e ainda, a maioria dos trabalhos se concentra em corpos d’água próximos de grandes centros de pesquisa. Uma rede amostral mais ampla e a resolução de problemas taxonômicos possivelmente levariam ao aumento da lista de espécies conhecidas. Na bacia do rio da Prata, segunda do continente em magnitude, que drena parte dos territórios da Bolívia, Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai, há atualmente uma forte pressão antrópica com cargas significativas de poluição urbana e agroindustrial. Adicionalmente, há a construção de grandes reservatórios para produção de energia elétrica, que transformam sistemas lóticos em lênticos, gerando consideráveis mudanças na composição e estrutura das comunidades aquáticas (Agostinho et al., 2007). Nesta bacia hidrográfica do rio da Prata, embora haja diversos estudos sobre a composição e ecologia dos cladóceros, a maioria é realizada de forma pontual, em pequenos trechos ou reservatórios. Com exceção de alguns trabalhos que consideram escalas mais amplas (Güntzel, 2000; Sampaio et al., 2002, Zanata, 2005; Frutos et al., 2006; José de Paggi & Paggi, 2007; Nogueira et al., 2008; Lansac-Tôha et al., 2009; Rocha et al., 2011), não há uma abordagem holística para esta grande bacia hidrográfica. Assim, o presente estudo, pretende fornecer informações valiosas sobre a distribuição em macro-escala dos Cladocera da bacia do rio da Prata. Através de uma amostragem simultânea, durante dois períodos de 2010 (verão e inverno), foram analisados 44 pontos de amostragem composto por locais com reservatórios e trechos lóticos, gerando as seguintes hipóteses em relação a alguns atributos ecológicos e de distribuição dos Cladocera: i: há diferenças em relação aos atributos ecológicos (riqueza, abundância e diversidade) entre os trechos (alto, médio e baixo) dos grandes rios da bacia do Prata 14 (Paraná, Uruguai e Paraguai), esperando maiores valores para riqueza e diversidade nas altas latitudes, no sentido da foz do Prata; ii: há uma clara distinção na composição e nos atributos ecológicos dos cladóceros entre os tipos de ambiente amostrados: lêntico (barragem dos reservatórios); semi-lêntico (montante dos reservatórios) e sistemas lóticos (rios sem influência de represamento); iii: existe uma distribuição geográfica de algumas espécies, ou grupo de espécies, restrita a determinadas sub-bacias ou a trechos latitudinais ou longitudinais da bacia do rio Prata. MATERIAL & MÉTODOS A bacia do rio da Prata é a segunda do continente americano em magnitude, excedida apenas pela bacia amazônica, e a quarta maior do planeta. Os rios Paraná, Uruguai e Paraguai são os três principais afluentes. A bacia hidrográfica tem uma área de 3,17 x 106 km2, drenando parte dos territórios da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai e com vazão média no trecho final de 22.000 m3 s-1 (Bazán & Arraga, 1993). As amostras para o presente estudo foram obtidas em 44 diferentes locais georreferenciados, distribuídos ao longo da bacia do rio da Prata. Foram selecionados 15 reservatórios (amostrando-se as zonas de barragem e montante) e 14 trechos lóticos (Tabela 1 e Figura 1). Todos os reservatórios amostrados possuem tempo de residência superior a 15 dias, considerando-se que uma retenção hidráulica inferior provavelmente seja limitante para o desenvolvimento de populações estáveis de microcrustáceos planctônicos. Entre os reservatórios, foram amostrados aqueles construídos nas cabeceiras (localizados nas regiões altas e/ou médias) e próximo às desembocaduras (regiões baixas) dos grandes rios da bacia do Prata, ou seja, o primeiro e último grande reservatório de cada rio. Para a sub-bacia do rio Paraná, além dos reservatórios no eixo latitudinal, também foram amostrados reservatórios de seus maiores tributários: rios Paranaíba, Grande, Tietê, Paranapanema e Iguaçu. Após o último reservatório no trecho médio do rio Paraná (Yacyretá, Argentina) foram amostrados 6 pontos lóticos, 15 equidistantes em aproximadamente 250km, até a desembocadura no Rio da Prata. Na sub-bacia do rio Uruguai, além do primeiro e último reservatório, também foram incluídos três pontos lóticos, dois no trecho médio (260 km eqüidistantes) e um no baixo (Tabela 1 e Figura 1). No rio Paraguai foram amostrados apenas trechos lóticos, nas porções alta, média (distância de 250 km entre si) e baixa (cerca de 650 km após o ponto médio), além de um grande afluente da margem direita, rio Bermejo. No eixo latitudinal (NorteSul), a maior amplitude de variação, em relação a coordenadas geográficas, ocorreu entre os pontos EMB-M (18º22’40’’S) e RPLA (34º26’49’’S). No sentido longitudinal (LesteOeste), a maior variação foi entre os pontos FUR-M (45º31’24’’O) e RPAR-B1 (60º43’23”O) (Figura 1). Para contemplar esta ampla escala amostral foram percorridos aproximadamente 27 mil quilômetros por vias rodoviárias, totalizando 76 dias de permanência em campo para realização das coletas, considerando-se os dois períodos sazonais. As amostragens foram realizadas no verão (em janeiro e fevereiro 2010) e no inverno (em junho e julho/2010), nos canais centrais dos reservatórios (zonas de montante/intermediárias e de barragem/lênticas) e dos rios. A coleta de zooplâncton foi feita com arrastos verticais na coluna de água (próximo ao fundo até a superfície) de cada ponto selecionado, obtendo-se três amostras quantitativas e uma para análise qualitativa, todas fixadas com formol 4%. Nos locais mais profundos os arrastos tiveram uma extensão padronizada de 40m. Foi utilizada uma rede de plâncton cônica de 68 μm de abertura de malha, modificada com a presença de anteparo anti-refluxo. Através do cálculo da área do cilindro (área da boca da rede e profundidade do arrasto) foi estimado o volume de água filtrada. Nos pontos lóticos, foram realizados arrastos verticais com o barco em deriva, evitando que o arrasto fosse oblíquo. Em laboratório, o material biológico foi identificado sob lupas (Zeiss Stemi SV6) e microscópios (Zeiss Standard 20). A identificação dos cladóceros foi realizada com auxílio de bibliografia especializada e consulta a especialistas de outros grupos de pesquisa, quando necessário. Através de sub-amostragens, foram contados no mínimo 200 organismos por amostra e, sempre que possível, ao menor nível taxonômico. A abundância total foi expressa em indivíduos por metro cúbico (ind. m-3). A partir dos espécimes de Cladocera identificados e quantificados, foi calculado o índice de 16 diversidade (Shannon-Wiener log2) no software Past 6.0. Para a determinação da riqueza específica foi considerado o conjunto de amostras obtido por ponto. Para comparar os trechos alto, médio e baixo das sub-bacias do Paraná, Uruguai e Paraguai, em base à composição e abundância de Cladocera, foram realizadas análises de agrupamento por similaridade com o método “complete linkage” (Distância Euclidiana), no software Statistic v. 6.0 (Statsoft, 2002). Tabela 1. Lista dos pontos de coleta na Bacia do Rio da Prata, abreviações, localização (unidades federativas do Brasil - UF ou países estrangeiros*) e coordenadas geográficas. Legendas: M=região de montante (transição rio/reservatório); B=região próxima a barragem. Os pontos de coleta foram agrupados nos seguintes trechos (Alto, Médio e Baixo) e sub-bacias (Paraná, Uruguai e Paraguai). 1-24: Alto Paraná; 25-29: Médio Paraná; 30-33: Baixo Paraná; 34-35: Alto Uruguai; 36-37: Médio Uruguai; 38-40: Baixo Uruguai; 41: Alto Paraguai; 42: Médio Paraguai; 43-44: Baixo Paraguai. N Rio / Reservatório (UHE) Abrev. 1 UHE Emborcação (Rio Paranaíba) UHE Emborcação (Rio Paranaíba) UHE São Simão (Rio Paranaíba) UHE São Simão (Rio Paranaíba) UHE Furnas (Rio Grande) UHE Furnas (Rio Grande) UHE Água Vermelha (Rio Grande) UHE Água Vermelha (Rio Grande) UHE Barra Bonita (Rio Tietê) UHE Barra Bonita (Rio Tietê) UHE Três Irmãos (Rio Tietê) UHE Três Irmãos (Rio Tietê) UHE Jurumirim (Rio Paranapanema) UHE Jurumirim (Rio Paranapanema) UHE Rosana (Rio Paranapanema) UHE Rosana (Rio Paranapanema) UHE Foz do Areia (Rio Iguaçu) EMB-M Localização UF - País MG/GO EMB-B MG/GO SSIM-M MG/GO SSIM-B MG/GO FUR-M MG FUR-B MG AVER-M MG/SP AVER-B MG/SP BBON-M SP BBON-B SP TIRM-M SP TIRM-B SP JUR-M SP JUR-B SP ROS-M SP/PR ROS-B SP/PR FARE-M PR 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Coordenadas geográficas 18°22'40.47"S 47°44'03.58"O 18°29'33.09"S 47°58'17.22"O 18°40'22.54"S 50°04'17.76"O 18°59'15.59"S 50°30'18.93"O 20°58'35.58"S 45°31'24.18"O 20°39'36.51"S 46°18'12.16"O 19°55'42.17"S 49°45'05.31"O 19°52'03.73"S 50°19'28.77"O 22°40'06.24''S 48°21'06.42"O 22°31'45.12"S 48°31'27.90"O 20°57'21.57"S 50°36'34.83"O 20°41'57.09"S 51°05'58.43"O 23°19'25.07"S 48°42'11.07"O 23°13'41.07"S 49°13'28.03"O 22°36'28.27"S 52°09'43.75"O 22°36'04.71"S 52°49'48.15"O 26°03'41.64"S 51°24'02.25"O 17 18 FARE-B PR SCAX-M PR SCAX-B PR ISOL-M SP/MS ISOL-B SP/MS ITA-M PAR* / PR ITA-B PAR / PR YACI-M ARG* YACI-B ARG 27 UHE Foz do Areia (Rio Iguaçu) UHE Salto Caxias (Rio Iguaçu) UHE Salto Caxias (Rio Iguaçu) UHE Ilha Solteira (Ato Rio Paraná) UHE Ilha Solteira (Ato Rio Paraná) UHE Itaipu (Ato Rio Paraná) UHE Itaipu (Ato Rio Paraná) UHE Yaciretá (Médio Rio Paraná) UHE Yaciretá (Médio Rio Paraná) Rio Paraná – trecho médio RPAR-M1 ARG 28 Rio Paraná – trecho médio RPAR-M2 ARG 29 Rio Paraná – trecho médio RPAR-M3 ARG 30 Rio Paraná – trecho baixo RPAR-B1 ARG 31 Rio Paraná – trecho baixo RPAR-B2 ARG 32 Rio Paraná – trecho baixo RPAR-B3 ARG 33 Rio de la Plata - RPLA URU / ARG 34 MAC-M SC / RS MAC-B SC / RS 36 UHE Machadinho (Alto Rio Uruguai) UHE Machadinho (Alto Rio Uruguai) Rio Uruguai – trecho médio RURU-M1 ARG / RS 37 Rio Uruguai – trecho médio RURU-M2 ARG / RS 38 SGRA-M ARG SGRA-B URU*/ ARG 40 UHE Salto Grande (Baixo Rio Uruguai) UHE Salto Grande (Baixo Rio Uruguai) Rio Uruguai – trecho baixo RURU-B URU / ARG 41 Rio Paraguai – trecho alto RPAG-A MS 42 Rio Paraguai – trecho médio RPAG-M PAR / MS 43 Rio Paraguai – trecho baixo RPAG-B ARG / PAR 44 Rio Bermejo – trecho baixo (afluente Rio Paraguai) RBER ARG 19 20 21 22 23 24 25 26 35 39 25°59'57.06"S 51°38'52.27"O 25°30'32.11"S 53°18'24.26"O 25°31'50.96"S 53°28'45.76"O 20°10'29.60"S 51°02'07.06"O 20°22'10.87"S 51°20'37.65"O 24°29'10.77"S 54°19'42.38"O 25°25'09.67"S 54°32'14.47"O 27°24'24.13"S 56°15'19.86"O 27°30'09.12"S 56°31'56.69"O 28°30'10.12"S 59°03'03.24"O 30°01'07.73"S 59°33'50.86"O 31°38'29.94"S 60°23'21.53"O 32°44'02.61"S 60°43'23.95"O 33°41'19.94"S 59°37'30.79"O 33°56'31.07"S 58°27'46.80"O 34°26'49.57"S 57°36'27.99"O 27°32'26.71"S 51°37'52.31"O 27°29'27.77"S 51°46'26.50"O 27°17'15.23"S 54°11'31.66"O 28°32'38.40"S 56°01'24.69"O 30°46'27.52"S 57°47'55.53"O 31°15'31.41"S 57°55'33.66"O 33°48'07.39"S 58°26'07.48"O 18°58'07.73"S 57°38'55.75"O 21°41'09.18"S 57°52'59.85"O 26°51'15.42"S 58°19'21.45"O 26°51'58.70"S 58°22'59.80"O *(ARG=Argentina; PAR=Paraguai; URU=Uruguai). 18 Figura 1. Localização dos pontos de amostragem na bacia do rio da Prata. Para os reservatórios, os códigos referem-se às três primeiras letras do nome de cada reservatório e, após o hífen, a letra “M” = montante; letra “B” = barragem. Para os trechos lóticos, indicados pela letra “R”, a denominação PAR refere-se ao rio Paraná, PAG=Paraguai e URU=Uruguai e as letras após o hífen referem-se a A=trecho alto, M=trecho médio e B=trecho baixo. 19 RESULTADOS Composição e Riqueza- Cladocera No total foram encontradas 58 espécies de cladóceros ao longo da bacia do Prata (Tabela 2), 5 pertencentes à família Bosminidae, 13 à família Daphniidae, 8 à família Sididae, 3 à família Moinidae, 23 à família Chydoridae, 4 à família Macrothricidae e 2 à família Ilyocryptidae. No ponto RBER (rio Bermejo), afluente do baixo Paraguai, não foram encontrados espécimes de Cladocera em nenhuma das amostragens, portanto, esse ponto não será incluído nas Tabelas e Figuras a seguir. Em relação à distribuição das espécies ao longo da bacia do Prata, não houve nenhuma espécie encontrada em todos os locais de coleta, no entanto, as mais frequentes, com presença nas sub-bacias do Paraná, Uruguai e Paraguai, foram Bosmina hagmanni, Bosmina freyi, Bosminopsis deitersi, Ceriodaphnia cornuta, Diaphanosoma birgei, Diaphanosoma brevirreme, Diaphanosoma fluviatile e Moina minuta (Tabela 2). Na maioria das vezes, as espécies com habitat tipicamente planctônico apresentaram ampla distribuição na bacia do Prata, portanto, não foram encontradas espécies que tenham distribuição restrita a determinada sub-bacia ou faixa latitudinal, somente variações na abundância entre os pontos de um mesmo período e sazonais foram notadas. Já em relação às espécies com habitat litorâneo ou bentônico, algumas foram exclusivas de determinados locais, no entanto, isto pode estar relacionado à baixa frequência de amostragem, à raridade de presença nas amostras, bem como limitação da metodologia empregada para estudar este tipo de organismo (Tabela 2). Conforme mostrado na Tabela 2, a distribuição das espécies de Cladocera ao longo da bacia do Prata apresentou uma clara distinção entre pontos de reservatórios e de rios sem represamento (lóticos). O grupo de espécies com hábitos tipicamente planctônicos, principalmente das famílias Bosminidae, Daphniidae, Sididae e Moinidae, ocorreu com maior frequência nos locais formados por reservatórios (ambientes lênticos e semi/lênticos). As espécies típicas de ambientes litorâneos ou bentônicos (Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae) ocorreram principalmente em trechos de rios sem represamento e em baixa frequência e densidade (Tabela 2). 20 A presença de espécimes considerados litorâneos e bentônicos ocorreu, ainda que em menor frequência, em alguns reservatórios (ITA, YACI, SGRA), principalmente nas regiões semi-lênticas (montante dos reservatórios) (Tabela 2). Dentre os períodos sazonais amostrados, 13 espécies foram exclusivas do verão e 18 do inverno, tratando-se principalmente de indivíduos de habitat litorâneo e bentônico, já para grande parte das espécies planctônicas, houve registro nos dois períodos do ano. Em relação aos cladóceros planctônicos mais frequentes, ocorreram espécies cogenéricas de Bosmina, Ceriodaphnia, Diaphanosoma e Moina ao longo dos pontos e períodos. No entanto, para o gênero Daphnia geralmente foi registrada apenas uma única espécie (Daphnia gessneri). A ocorrência de outras espécies de Daphnia (Daphnia ambigua, Daphnia laevis e Daphnia parvula) se deu apenas no inverno e em baixa frequência (Tabela 2). No reservatório de SGRA-B, no baixo rio Uruguai, foi encontrado apenas um espécime do gênero Monospilus sp, até então com registro apenas nas regiões zoogeográficas Neártica, Paleártica e Afrotropical, sendo que o espécime encontrado apresenta ligeiras diferenças com a descrição da única espécie conhecida (Monospilus dispar Sars, 1862), possivelmente se tratando de uma nova espécie, que será descrita posteriormente, já que há necessidade de encontrar mais indivíduos dentre as amostras (Tabela 2). Quanto à riqueza de Cladocera, a sub-bacia do rio Paraná registrou um total de 47 espécies, seguida pela sub-bacia do rio Paraguai com 35 espécies e Uruguai com 23 espécies (Tabela 2). Comparativamente a riqueza variou de uma única espécie, em diversos pontos lóticos, principalmente durante o inverno (RPAR-M2, RPAR-M3, RPAR-B1, RPLA, RURU-M1), até 20 espécies encontradas em RPAG-A durante o período de inverno (Figuras 2 e 3). Na sub-bacia do Paraná, a riqueza oscilou amplamente entre trechos lênticos, semi-lênticos e lóticos. No geral, durante o período de verão foram encontrados valores semelhantes entre os trechos alto, médio e baixo. No inverno, o trecho alto da bacia do Paraná, formado apenas por reservatórios, registrou valores mais elevados de riqueza, juntamente com alguns pontos do trecho baixo (RPAR-B2 e RPAR-B3) (Figuras 2 e 3). 21 Na sub-bacia do Uruguai, representada por reservatórios e trechos sem represamentos, o trecho médio (RURU-M1 e RURU-M2) apresentou baixa riqueza em ambos os períodos. Nos demais pontos foram registrados valores mais elevados, com algumas oscilações entre os períodos sazonais (Figuras 2 e 3). Na sub-bacia do Paraguai, os valores encontrados no inverno foram superiores para os pontos RPAG-A e RPAG-B, principalmente para o trecho alto, que passou de 6 para 20 espécies no inverno. No trecho médio (RPAG-M), o número de espécies no verão foi maior, 17, comparado ao inverno, 13 (Figuras 2 e 3). Ao longo da bacia do rio Prata não foi identificado um padrão claro de variação espacial (latitudinal) e temporal (sazonal) da riqueza de espécies. Em geral, os pontos formados por reservatórios apresentaram riqueza mais elevada, porém, em alguns pontos lóticos (RPAG-M verão, RPAR-B1 verão, RPAG-A inverno) foram registrados altos valores, devido à presença concomitante de espécies com características planctônicas, litorâneas e bentônicas (Tabela 2 e Figuras 2 e 3). 22 Tabela 2. Lista de táxons de Cladocera e sua ocorrência nos distintos locais de amostragem. V: verão; I: inverno; V/I: ambos os períodos. PAR=bacia do Paraná; URU=bacia Uruguai; PAG=bacia do Paraguai. Médio PAR Táxon Baixo PAR Alto Médio Baixo URU URU URU Paraguai EMB-M EMB-B SSIM-M SSIM-B FUR-M FUR-B AVER-M AVER-B BBON-M BBON-B TIRM-M TIRM-B JUR-M JUR-B ROS-M ROS-B FARE-M FARE-B SCAX-M SCAX-B ISOL-M ISOL-B ITA-M ITA-B YACI-M YACI-B RPAR-M1 RPAR-M2 RPAR-M3 RPAR-B1 RPAR-B2 RPAR-B3 RPLA MAC-M MAC-B RURU-M1 RURU-M2 SGRA-M SGRA-B RURU-B RPAG-A RPAG-M RPAG-B Alto PAR Bosminidae Bosmina freyi De Melo and Hebert, 1994 Bosmina hagmanni Stingelin, 1904 I V/I V/I I V/I V/I I V/I V/I I V/I V/I I Bosmina cf. huaronensis Delachaux, 1918 I V I I I I I V/I V/I V/I I I I I I V/I I V/I V/I I I V V I I V V/I V/I I V/I I V V V I V V/I V/I V V/I V V/I I V/I V/I V Bosmina tubicen Brehm, 1953 V/I I Bosminopsis deitersi Richard, 1895 I I I V/I V V/I I I V/I V/I I V V/I I V V/I V/I V/I I V/I V V/I V/I Daphniidae Ceriodaphnia cornuta forma paradoxa I V/I V/I V/I I Ceriodaphnia cornuta forma rigaudi Ceriodaphnia cornuta Sars, 1886 cornuta V V/I V/I V V V/I V/I V/I V V V/I V/I I V/I V V/I V V/I V/I V/I V/I V/I I V/I V/I Ceriodaphnia cf. dubia Richard, 1894 V I V V/I V/I V/I I I V/I I V V I I V/I V/I V/I V/I V/I V/I V V V V V V V V V V/I V V I V/I V V/I V/I V V V V/I Ceriodaphnia silvestrii Daday, 1902 V/I V/I V/I V/I I Daphnia ambigua Scourfield, 1947 Daphnia gessneri Herbst, 1967 V/I V/I V/I V/I V/I I V/I I I V/I V/I V/I I I V I I Daphnia parvula Fordyce, 1901 I I Simocephalus latirostris (Stingelin 1906) V I I V/I V/I V/I V/I V/I I V/I V/I V I I I I I I I I I I I I I I I Simocephalus mixtus Sars, 1903 I Simocephalus semiserratus Sars, 1901 V/I I I V/I V/I I V/I V/I V/I V/I V/I V/I V/I V/I V/I Daphnia laevis Birge, 1879 I V/I V/I V/I V/I V/I I I V V Simocephalus serrulatus (Koch, 1841) I I V/I V V/I V V Sididae Diaphanosoma birgei Korinech, 1981 Diaphanosoma brevireme Sars, 1901 V/I V/I V/I V V V/I V/I V V/I I I I V/I V/I I V/I V V V V V I V I I V/I V V/I V V V I V V/I V/I V V I V V V V V V V V V I V V/I I V V/I V/I V V I V/I V/I Tabela 2. Continuação Médio PAR Táxon Baixo PAR Alto Médio Baixo URU URU URU PAG EMB-M EMB-B SSIM-M SSIM-B FUR-M FUR-B AVER-M AVER-B BBON-M BBON-B TIRM-M TIRM-B JUR-M JUR-B ROS-M ROS-B FARE-M FARE-B SCAX-M SCAX-B ISOL-M ISOL-B ITA-M ITA-B YACI-M YACI-B RPAR-M1 RPAR-M2 RPAR-M3 RPAR-B1 RPAR-B2 RPAR-B3 RPLA MAC-M MAC-B RURU-M1 RURU-M2 SGRA-M SGRA-B RURU-B RPAG-A RPAG-M RPAG-B Alto PAR Diaphanosoma fluviatile Hansen 1899 V/I V/I I V/I V Diaphanosoma spinulosum Herbst, 1976 V/I V/I I V/I V/I I V/I I V/I V/I V/I V/I V/I V/I V V V V/I V V/I V/I V/I V/I V/I V V/I V/I V/I V/I V V/I V V/I V/I V/I I V V Latonopsis australis Sars, 1888 V V V V V/I V/I V I V/I I V V/I V V V I Pseudosida ramosa (Daday, 1904) I Sarsilatona behningi Korovchinsky, 1985 I Sarsilatona serricauda (Sars, 1901) V V Moinidae Moina micrura Kurz 1874 Moina minuta Hansen, 1899 V V/I V/I V/I V/I V I V V/I V I I V V V I V/I I I V V/I V V/I Moina reticulata (Daday, 1905) V V V/I V V V V V V V V/I I V/I V V Chydoridae Alona dentifera (Sars, 1901) V Alona ossiani Sinev, 1998 V Alona yara Sinev & Elmoor-Loureiro, 2010 I Alonella dadayi Birge, 1910 I I I I Anthalona cf. simplex Van Damme, 2011 I Camptocercus australis Sars, 1896 I V V I Monospilus sp Sars, 1861 Chydorus nitidulus (Sars, 1901) Chydorus pubescens Sars, 1901 I I Alonella lineolata Sars, 1901 Chydorus eurynotus Sars, 1901 I I I I V I I I I I I V V Tabela 2. Continuação. Médio PAR Táxon Baixo PAR Alto Médio Baixo URU URU URU PAG EMB-M EMB-B SSIM-M SSIM-B FUR-M FUR-B AVER-M AVER-B BBON-M BBON-B TIRM-M TIRM-B JUR-M JUR-B ROS-M ROS-B FARE-M FARE-B SCAX-M SCAX-B ISOL-M ISOL-B ITA-M ITA-B YACI-M YACI-B RPAR-M1 RPAR-M2 RPAR-M3 RPAR-B1 RPAR-B2 RPAR-BB RPLA MAC-M MAC-B RURU-M1 RURU-M2 SGRA-M SGRA-B RURU-B RPAG-A RPAG-M RPAG-B Alto PAR Chydoridae I Euryalona orientalis (Daday, 1898) V Graptoleberis occidentalis Sars, 1901 V V karualona muelleri (Richard, 1897) V Kurzia longirostris (Daday, 1898) I Kurzia polyspina Hudec, 2000 V V V V V V V V V Leberis davidi (Richard, 1895) I I V/I V Leydigia striata Berabén, 1939 I Leydigiopsis ornata Daday, 1905 V Nicsmirnovius fitzpatricki Chien, 1970 V Notoalona sculpta (Sars, 1901) I I I I V V I V V V Oxyurella longicaudis (Birge, 1910) V Picripleuroxus quasidenticulatus Smirnov, 1996 I Macrothricidae Grimaldina brazzai Richard, 1892 V/I Macrothrix elegans Sars 1901 I Macrothrix squamosa Sars, 1901 V I Onchobunops tuberculatus Fryer & Paggi, 1972 I V I V V V V I Ilyocryptidae Ilyocryptus cuneatus brasiliensis Kotov and Elmoor-Loureiro, 2008 Ilyocryptus spinifer Herrick, 1882 I I V V V V V V/I V/I V V I V/I V/I V 21 18 Verão Inverno Riqueza (S) 15 12 9 6 3 EMB-M EMB-B SSIM-M SSIM-B FUR-M FUR-B AVER-M AVER-B BBON-M BBON-B TIRM-M TIRM-B JUR-M JUR-B ROS-M ROS-B FARE-M FARE-B SCAX-M SCAX-B ISOL-M ISOL-B ITA-M ITA-B YACI-M YACI-B RPAR-M1 RPAR-M2 RPAR-M3 RPAR-B1 RPAR-B2 RPAR-B3 RPLA MAC-M MAC-B RURU-M1 RURU-M2 SGRA-M SGRA-B RURU-B RPAG-A RPAG-M RPAG-B 0 PAR URU PAG Figura 2. Valores de riqueza dos Cladocera entre os pontos e períodos de amostragem na bacia do Prata. PAR=bacia do Paraná; URU=bacia Uruguai; PAG=bacia do Paraguai. Figura 3. Visão geral da distribuição da riqueza dos Cladocera entre os pontos e períodos de amostragem na bacia do Prata. 26 Abundância total e relativa Em relação à abundância total dos Cladocera, houve diferenças consideráveis entre os períodos sazonais (verão e inverno) e entre os locais com reservatórios e rios sem represamento (Figuras 4 e 5). Em geral, a abundância total foi maior no período de verão para todos os pontos de coleta. Para alguns pontos a amplitude de variação foi extremamente elevada, como no caso de SCAX-M, com valor de 7.898 ind. m-3 no verão e de 14 ind. m-3 durante o período de inverno. As únicas exceções ocorreram em ISOL-M e BBON-B, sendo a maior variação encontrada em BBON-B, no qual o valor do inverno (27.110 ind. m-3) ultrapassou amplamente o valor encontrado no verão (5.445 ind. m-3). No eixo latitudinal da bacia, locais de coleta com latitude acima de 27º 50’ S (trechos baixos da bacia do Prata), apresentaram abundâncias baixíssimas no inverno, não ultrapassando 50 ind. m-3. No entanto, em locais de baixas latitudes (trecho alto da bacia) a variação da abundância entre os períodos foi menos acentuada (Figuras 4 e 5). O reservatório de Rosana (ROS) no rio Paranapanema, apresentou baixas abundâncias em ambos os períodos sazonais, provavelmente em razão da forte influência de um tributário com altas cargas de material inorgânico, a qual dificulta a filtração de partículas orgânicas que servem de alimento aos cladóceros. Em relação ao tipo de ambiente amostrado, na maioria das vezes as zonas de barragem (ambientes lênticos) e de montante (ambientes semi-lênticos) apresentaram valores de abundância total superiores aos encontrados nos trechos lóticos. No trecho alto da bacia do Paraná e do Uruguai, região que concentra a maioria dos reservatórios, os valores de abundância foram bastante superiores aos encontrados nos demais pontos de coleta na bacia do Prata. Comparando somente os trechos lóticos das três sub-bacias, a do Paraguai foi a que registrou os maiores valores de abundância total (Figuras 4 e 5). Destaca-se ainda, a grande abundância encontrada em reservatórios eutróficos do rio Tietê (BBON e TIRM), com dominância de indivíduos de pequeno tamanho corporal, como Bosmina freyi, Ceriodaphnia cornuta e Ceriodaphnia silvestrii. 27 10.698 27.110 18.893 8.308 14.444 8000 Verão Inverno 6000 4000 -3 Abundância (ind. m ) 2000 560 480 400 320 240 160 80 EMB-M EMB-B SSIM-M SSIM-B FUR-M FUR-B AVER-M AVER-B BBON-M BBON-B TIRM-M TIRM-B JUR-M JUR-B ROS-M ROS-B FARE-M FARE-B SCAX-M SCAX-B ISOL-M ISOL-B ITA-M ITA-B YACI-M YACI-B RPAR-M1 RPAR-M2 RPAR-M3 RPAR-B1 RPAR-B2 RPAR-B3 RPLA MAC-M MAC-B RURU-M1 RURU-M2 SGRA-M SGRA-B RURU-B RPAG-A RPAG-M RPAG-B 0 PAR URU PAG Figura 4. Valores de abundância total dos Cladocera entre os pontos e períodos de amostragem na bacia do Prata. PAR=bacia do Paraná; URU=bacia Uruguai; PAG=bacia do Paraguai. Figura 5. Visão geral da distribuição de abundância total dos Cladocera entre os pontos e períodos de amostragem na bacia do Prata. 28 Nos pontos formados por reservatórios a análise da abundância relativa entre as famílias de Cladocera mostrou que há uma tendência à dominância de Sididae no verão, representado principalmente por espécimes de Diaphanosoma birgei e Diaphanosoma spinulosum, alterando-se para Daphniidae (Ceriodaphnia cornuta) e Bosminidae (Bosmina freyi) no inverno (Figura 6). Em alguns reservatórios considerados meso/eutróficos (BBON, TIRM e FARE), e também nos pontos da sub-bacia do rio Uruguai (MAC e SGRA), as famílias Moinidade e Bosminidae ocorreram em grandes proporções em ambos os períodos sazonais (Figura 6). Nos trechos lóticos as famílias Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae apresentaram maior representatividade independente do período sazonal (Figura 6). Em vários pontos de coleta (RPAR-M2, RPAR-M3, RURU-M1), principalmente no inverno, foi registrado apenas uma espécie (Figura 6). 29 0 EMB-M EMB-B SSIM-M SSIM-B FUR-M FUR-B AVER-M AVER-B BBON-M BBON-B TIRM-M TIRM-B JUR-M JUR-B ROS-M ROS-B FARE-M FARE-B SCAX-M SCAX-B ISOL-M ISOL-B ITA-M ITA-B YACI-M YACI-B RPAR-M1 RPAR-M2 RPAR-M3 RPAR-B1 RPAR-B2 RPAR-B3 RPLA MAC-M MAC-B RURU-M1 RURU-M2 SGRA-M SGRA-B RURU-B RPAG-A RPAG-M RPAG-B 0 PAR EMB-M EMB-B SSIM-M SSIM-B FUR-M FUR-B AVER-M AVER-B BBON-M BBON-B TIRM-M TIRM-B JUR-M JUR-B ROS-M ROS-B FARE-M FARE-B SCAX-M SCAX-B ISOL-M ISOL-B ITA-M ITA-B YACI-M YACI-B RPAR-M1 RPAR-M2 RPAR-M3 RPAR-B1 RPAR-B2 RPAR-B3 RPLA MAC-M MAC-B RURU-M1 RURU-M2 SGRA-M SGRA-B RURU-B RPAG-A RPAG-M RPAG-B % % Sididae Daphniidae Moinidae Bosminidae Chydoridae Macrothricidae Ilyocryptidae 100 100 Verão 80 60 40 20 Inverno 80 60 40 20 URU PAG Figura 6. Valores de abundância relativa das famílias de Cladocera entre os pontos e períodos de amostragem na bacia do Prata. PAR=Paraná; URU=Uruguai e PAG=Paraguai. 30 Diversidade A diversidade de Shannon-Wiener variou de 0 a 2,77 bits indiv.-1 ao longo da bacia do Prata (Figura 7 e 8). Os valores com diversidade zero ocorreram, na maioria das vezes, em trechos lóticos e no inverno, onde havia a presença de uma única espécie na amostra. Somente em três pontos de reservatório (ROS-M, YACI e SGRA) foi encontrada diversidade igual a zero, devido provavelmente a grande quantidade de sólidos inorgânicos em suspensão na água oriundos de afluentes, limitando o desenvolvimento dos cladóceros (Tabela 2). A diversidade nos reservatórios apresentou valores intermediários (Figuras 7 e 8), embora estes locais tenham apresentado as maiores abundâncias e riquezas, a ocorrência da dominância de poucas espécies diminuiu os valores da diversidade em muitos casos, como em Barra Bonita (BBON) no rio Tietê, que registrou elevadas abundâncias da espécie Bosmina freyi durante o inverno. Em relação aos trechos lóticos, ocorreram grandes oscilações. No geral, valores mais elevados da diversidade foram encontrados ao longo da sub-bacia do Paraguai, baixo rio Paraná e baixo rio Uruguai (Figura 7 e 8), devido à alta equitabilidade e presença de grande número de espécies litorâneas nas amostras. Em síntese, ao longo da bacia do Prata não foi encontrado um padrão claro de variação da diversidade no sentido latitudinal ou entre as sub-bacias consideradas. Provavelmente prevaleceram características intrínsecas de cada ambiente, certamente com grande relevância para variáveis físicas, como a variação do tempo de residência da água entre ambientes lênticos (reservatórios) e lóticos (rios sem represamento). 31 2,8 -1 Diversidade (bits indiv. ) 2,4 Verão Inverno 2,0 1,6 1,2 0,8 0,4 EMB-M EMB-B SSIM-M SSIM-B FUR-M FUR-B AVER-M AVER-B BBON-M BBON-B TIRM-M TIRM-B JUR-M JUR-B ROS-M ROS-B FARE-M FARE-B SCAX-M SCAX-B ISOL-M ISOL-B ITA-M ITA-B YACI-M YACI-B RPAR-M1 RPAR-M2 RPAR-M3 RPAR-B1 RPAR-B2 RPAR-B3 RPLA MAC-M MAC-B RURU-M1 RURU-M2 SGRA-M SGRA-B RURU-B RPAG-A RPAG-M RPAG-B 0,0 PAR URU PAG Figura 7. Valores de diversidade (Shannon-Wiener H’) dos Cladocera entre os pontos e períodos de amostragem na bacia do Prata. PAR=bacia do Paraná; URU=bacia Uruguai; PAG=bacia do Paraguai. Figura 8. Visão geral da distribuição da diversidade (Shannon-Wiener H’) dos Cladocera entre os pontos e períodos de amostragem na bacia do Prata. 32 Similaridade Os resultados da análise de similaridade, em base a estrutura da comunidade de Cladocera, demonstraram uma distinção entre trechos compostos por reservatórios e rios livres de represamento. O trecho representado pela bacia do alto Paraná, onde todas as amostragens foram feitas em reservatórios, foi o mais diferenciado dos demais em ambos os períodos. Destaca-se também um agrupamento, em ambos os períodos sazonais, formado por trechos predominantemente lóticos (médio e baixo Paraná e Uruguai), separados dos trechos altos da bacia do Paraná e Uruguai (sistemas lênticos). Os pontos da sub-bacia do Paraguai formaram agrupamentos isolados, ou se aproximaram dos trechos baixo e médio do Paraná e Uruguai ou com o alto Uruguai (Figura 9). Euclidean distances Complete linkage A Alto PAR Médio PAR Médio URU Baixo PAR Alto PAG Baixo URU Médio PAG Baixo PAG Alto URU 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 B Alto PAR Médio PAR Médio URU Baixo PAR Baixo URU Médio PAG Baixo PAG Alto URU Alto PAG 0 300 600 900 1200 1500 1800 Linkage Distance Figura 9. Resultado gráfico da análise de similaridade realizada entre os trechos alto, médio e baixo dos rios Paraná (PAR), Uruguai (URU) e Paraguai (PAR), com base na composição e abundância de Cladocera. A: período de verão; B: período de inverno. 33 DISCUSSÃO O número total de 58 espécies de Cladocera encontrado neste estudo é inferior ao encontrado em alguns trabalhos que englobaram uma ampla escala amostral no interior da Bacia do rio da Prata. Na bacia do rio Paraná, trecho médio (Argentina), José de Paggi & Paggi (2007), em um trabalho de síntese, encontraram um total de 125 espécies. Lansac-Tôha et al. (2009) encontraram 74 espécies para a região do alto Paraná (Brasil). Embora estes trabalhos tenham considerado um menor escala geográfica, foram realizados com uma maior periodicidade e incluíram amostragens espaciais detalhadas (diferentes habitats por ecossistema). Desta forma, pode-se considerar que o menor número de registros no presente estudo, possivelmente tenha sido influenciado pelo caráter pontual das coletas e a baixa frequência temporal, dada a dificuldade logística de acesso aos 44 pontos de coleta. Na sub-bacia do rio Paraguai, onde foram amostrados apenas três pontos lóticos, foram encontradas 35 espécies de cladóceros. Este valor é superior ao relatado por Frutos et al. (2006), que registraram 21 espécies a partir de uma amostragem intensiva, em 59 pontos de coleta, ao longo de toda a extensão do rio Paraguai. Para a sub-bacia do rio Uruguai não existem trabalhos que englobem uma ampla escala amostral, apenas estudos escassos e pontuais (e.g. Chalar et al., 2002 sobre a limnologia do reservatório de Salto Grande), mas sem dados sobre assembleias de cladóceros. Na sub-bacia do Paraná existem alguns estudos em maiores escalas, Nogueira et al. (2008) e Sampaio et al. (2002) registraram 56 e 26 espécies respectivamente ao longo da cascata de reservatórios do rio Paranapanema (alto Paraná, Brasil), Zanata (2005) encontrou 37 espécies nos reservatórios do médio e baixo rio Tietê (alto Paraná, Brasil), entre outros. Valores de riqueza de espécies de Cladocera similares ao encontrado em nosso estudo foram relatados para outras bacias e sub-bacias hidrográficas da América do Sul. Vásquez & Rey (1989), em um estudo de macro-escala na bacia do rio Orinoco (Venezuela e Colômbia) que contemplou 21 estações de coleta (zonas centrais e litorâneas do rio), encontraram 48 espécies de Cladocera. Quanto à diferença no número de espécies de Cladocera encontrado em cada grande sub-bacia da bacia do Prata, 47 no Paraná, 35 no Paraguai e 23 no Uruguai, esta pode ser explicada, a princípio, em base à complexidade dos ambientes amostrados em cada região. Isto é, presença de trechos lóticos livres de barramento, de grandes 34 reservatórios e planícies de inundação e ecossistemas laterais associados (e.g. várzeas, lagoas, etc.). Na bacia do rio Paraná foram amostrados 26 pontos de coleta correspondentes a regiões de montante e barragem de reservatórios, com diferentes características morfométricas e hidrológicas (tempo de residência da água, trofia do sistema, formato, profundidade), e ainda 7 pontos em trechos lóticos. Na bacia do Paraguai foram amostrados apenas 3 pontos lóticos, os quais eram caracterizados por uma vasta zona litorânea, com diferentes espécies de macrófitas, além de formação de pequenas lagoas marginais associadas ao canal central do rio. No rio Uruguai houve coleta do zooplâncton em 4 pontos de reservatórios e 3 em trechos lóticos. Destaca-se que nos trechos de rios, com exceção do ponto localizado no baixo Uruguai (RURU-B), não havia desenvolvimento de zonas litorâneas com vegetação e o canal apresentava uma alta velocidade de correnteza. Assim, devido às diferenças entre a quantidade de ambientes amostrados e diversidade de habitats em cada sub-bacia ocorreu, como esperado, um número maior de espécies na sub-bacia do rio Paraná. Nesta sub-bacia houve a presença de indivíduos tipicamente de ambientes pelágicos nos reservatórios e de ambiente litorâneo e bentônico nos trechos de rio. Na sub-bacia do rio Paraguai, embora composto apenas por trechos lóticos, a presença de lagoas marginais e macrófitas, propiciou o registro de um grande número de espécies de hábitos de vida distintos. No rio Uruguai, o menor número de espécies deve-se principalmente à pequena contribuição de espécies típicas de habitats litorâneos e bentônicos. No sentido latitudinal da bacia, em direção foz do Prata, não foi possível identificar um padrão de aumento na riqueza de espécies. Outros estudos que consideraram extensos gradientes longitudinais nas bacias do Paraguai e Paraná, também não encontraram um padrão de aumento de espécies no sentido montante jusante (Nogueira et al., 2008; Sampaio et al., 2002; Frutos et al., 2006; Frutos, 2004; José de Paggi & Paggi, 2007). Portanto, a heterogeneidade ambiental entre os trechos alto, médio e baixo da bacia do Prata, composta por reservatórios com diferentes graus de trofia, profundidade, forma, redes de tributários associados, etc., e, dos pontos formados por rios com diferenças quanto à velocidade da correnteza no canal central, presença de áreas 35 litorâneas com vegetação e lagoas marginais associadas, dificultam o estabelecimento de um padrão latitudinal de riqueza de espécies ao longo da bacia. Desta forma, provavelmente, características intrínsecas de cada ponto de amostragem, possam ter maior relevância para a riqueza e diversidade do que o processo de incorporação gradual de espécies oriundas das mudanças naturais na dimensão longitudinal dos rios (Vannote et al., 1980), desta forma, refutando-se a hipótese de aumento de riqueza e diversidade no sentido a jusante – foz do rio da Prata. Em relação à composição das assembleias de cladóceros, foram encontradas diversas espécies exclusivas, sobretudo da família Chydoridae, em determinadas faixas latitudinais ou sub-bacias. No entanto, este resultado pode estar relacionado à baixa frequência de amostragem e uso de metodologia não direcionada à coleta deste tipo de organismo (Nogueira et al., 2003). Esta limitação é indicada pelo fato de que algumas espécies com ocorrência já registrada anteriormente nos pontos/regiões amostrados (Elmoor-Loureiro, 2000; Frutos, 2004; José de Paggi & Paggi 2007; Serafim Jr et al., 2003; Zanata et al., 2003) não foram encontradas no presente estudo. Como exemplo podem ser citadas as espécies, Moinodaphnia macleayi e Ilyocryptus paranaensis, além de inúmeras espécies da família Chydoridae. Apesar da grande contribuição de espécies da família Chydoridae nos trechos de rios, poucas alcançaram altas abundâncias, como mencionado em outros estudos realizados em rios da América do Sul (José de Paggi, 1980; Paggi & José de Paggi, 1990; José de Paggi 1981; Bonetto & Corrales, 1985; Vásquez & Rey 1989). A espécie mais frequente e abundante nos trechos lóticos da bacia do Prata foi Bosminopsis deitersi, assim como encontrado por José de Paggi (1990) no trecho médio do rio Paraná e Frutos et al. (2006) no rio Paraguai. As espécies mais frequentes nos ambientes pelágicos, Bosmina hagmanni, Bosmina freyi, Bosminopsis deitersi, Ceriodaphnia cornuta, Diaphanosoma birgei, Diaphanosoma brevirreme, Diaphanosoma fluviatile e Moina minuta, estiveram amplamente distribuídas ao longo da bacia. Diversos estudos de caráter local e regional na bacia do Prata também reportam estas espécies como sendo as mais frequentes (Nogueira et al., 2008; Frutos et al. 2003; José de Paggi & Paggi, 2007; Lansac-Tôha et al., 2009; Serafim Jr et al., 2003; Nogueira, 2001; Sartori et al., 2009; Sampaio et al., 2002). 36 Desta forma, considerando que algumas espécies litorâneas/bentônicas exclusivas no presente estudo, possam estar relacionadas à baixa frequência e a metodologia não adequada de amostragem e que as espécies planctônicas distribuíramse por toda a extensão da bacia, não há suporte suficiente para sustentar a hipótese inicial de que ocorram espécies de distribuição geográfica restrita em determinadas subbacias ou nos diferentes trechos no sentido latitudinal ou longitudinal. Portanto, seria necessário um maior esforço amostral, principalmente na escala temporal, além de um detalhamento na amostragem de ambientes, com inclusão de zonas litorâneas e planícies de inundação, para determinar a ocorrência de espécies raras ou endêmicas de determinados locais. Adicionalmente, fatores relacionados à rápida colonização de novos ambientes, em função de eficientes estratégias reprodutivas (partenogênese, ovos de resistência), dispersão através da deriva em corpos d’água conectados, mecanismos passivos de dispersão e a origem antiga dos Cladocera (Havel & Shurin, 2004; Louette & Meester, 2005; Havel & Medley, 2006) podem favorecer a ampla distribuição geográfica da maioria das espécies ao longo da Bacia do Prata. Ainda, dentre as três grandes bacias da América do Sul, Amazônica, Orinoco e Prata, que formam uma única área zoogeográfica (Neotropical), não existem muitas espécies consideradas endêmicas de Cladocera (José de Paggi & Paggi 2007), possivelmente devido aos fatores relacionados anteriormente. Em relação à abundância dos cladóceros na bacia do Prata, um padrão distinto foi identificado entre pontos de reservatório e os trechos lóticos. Os maiores valores geralmente estiveram associados aos reservatórios, com contribuição principalmente de espécies das famílias Sididae, Daphniidae, Moinidae e Bosminidae. Nos reservatórios, a prevalência de características lênticas, devido ao maior tempo de residência da água, permite o completo desenvolvimento e reprodução dos espécimes de Cladocera (Nogueira, 2001; Nogueira et al., 2008). Já nos sistemas lóticos, a velocidade da correnteza e o baixo tempo de residência da água, são os principais fatores que limitam o desenvolvimento das populações de cladóceros. Nesse caso é usual a presença de representantes das famílias Chydoridae, Macrothricidade e Ilyocriptidae. Desta forma, a hipótese de distinção nos atributos ecológicos dos cladóceros entre os tipos de ambientes amostrados (reservatório e rio) é corroborada em parte, principalmente em relação à abundância total e relativa. 37 Como mencionado por vários autores (Hynes, 1970; Hart, 1992; Brigante e Espíndola, 2003), a alta velocidade da correnteza, baixo tempo de residência da água e turbidez excessiva limitam o desenvolvimento do zooplâncton em sistemas lóticos. Nestes sistemas, a presença de compartimentos laterais com maior tempo de retenção da água e diversidade de habitats são fundamentais para o desenvolvimento da biota em geral (Henry, 2003) e especificamente para o zooplâncton, como demonstrado por Schiemer et al. (2001) na teoria de "Inshore Retention Concept" para grandes rios. No entanto, a disponibilidade de zonas litorâneas que funcionam como áreas de retenção da água dependem da morfologia das margens dos rios e também está relacionada à variação do nível da água (Reckendorfer et al., 1999). Nos pontos de coleta do rio Paraguai, estas características foram encontradas ao longo das margens, o que provavelmente foi responsável por uma maior abundância de cladóceros em relação aos demais pontos lóticos da bacia do Prata. Nos trechos lóticos do Paraná, valores um pouco superiores de abundância foram encontrados somente no verão, como consequência provável do aumento no nível da água, gerando maior conectividade com lagoas marginais. No rio Uruguai, os trechos lóticos apresentavam margens com morfometria retilínea, sem presença de áreas laterais que pudessem aumentar o tempo de retenção local da água de forma a favorecer a diversidade de habitats. Em relação à abundância relativa nos reservatórios, ocorreram grandes oscilações, com dominância de Sididae no verão, representado principalmente por espécimes de Diaphanosoma birgei e Diaphanosoma spinulosum, sendo substituída por Daphniidae (Ceriodaphnia cornuta) e Bosminidae (Bosmina freyi) no inverno. Esta alternância na dominância das famílias de Cladocera entre os períodos de amostragem pode estar relacionada às condições ambientais, como a temperatura da água e ao aparecimento de como de algas filamentosas (cianofíceas) durante as amostragens no período de inverno. Mecanismos de filtração dos grandes espécimes que podem ser danificados como consequência do bloqueio do aparato de filtração por algas filamentosas (Lampert, 1987), possibilitando desta forma, a dominância de pequenos indivíduos. Os maiores valores de abundância total de cladóceros foram encontrados em locais eutróficos dos reservatórios do rio Tietê (BBON e TIRM), com dominância de indivíduos de pequeno tamanho corporal, como Bosmina freyi, Ceriodaphnia cornuta e 38 Ceriodaphnia silvestrii. Algumas espécies, como Bosmina freyi, exibem grande tolerância a “blooms” de cianofíceas, passando a serem numerosas e dominantes em locais considerados eutróficos (Matsumura-Tundisi, 1999; Sendacz & Kubo, 1999; Bonecker et al., 2007; Gueller & Muller, 1991). Entre os trechos alto, médio e baixo das três grandes bacias do Prata não foi encontrado um padrão de variação quanto a abundância, somente foi detectada uma grande variação entre os dois tipos predominantes de ambiente (reservatório e rio). Estudos de grande escala no rio Danúbio, segundo maior da Europa, também não encontraram diferenças significativas em gradientes longitudinais (Baranyi et al., 2002; Vadadi-Fülöp, 2012). Da mesma forma, em trabalhos realizados nos rios Paraná e Paraguai, não se verificou um padrão claro de variação ao longo das bacias (Frutos et al. 2006; José de Paggi & Paggi, 2007), sendo os maiores valores encontrados em planícies de inundação associadas ao canal central do rio. Outros fatores biológicos, como a invasão biológica do Limnoperna fortunei (mexilhão dourado) na bacia do rio Prata, iniciada na década de 90 (Pastorino et al., 2003), podem estar afetando o desenvolvimento e abundância dos Cladocera, embora não tenha sido investigado esta hipótese e não haja trabalhos correlacionados nesta bacia hidrográfica. Um estudo focado em larvas de Limnoperna fortunei (Pessotto, 2012), realizado simultaneamente ao presente estudo, encontrou abundâncias elevadíssimas (até 100.000 ind. m-3), superiores a abundância dos cladóceros, em todos os trechos da bacia do Paraguai e na maioria dos pontos do rio Paraná e Uruguai. CONCLUSÕES Quanto à composição de Cladocera no rio Prata não foi possível identificar padrões claros de distribuição geográfica, latitudinalmente ou entre as três grandes sub-bacias Paraná, Uruguai e Paraguai. Notou-se ampla distribuição de diversas espécies de hábitos pelágicos por toda a bacia e as espécies litorâneas e bentônicas mais restritas a determinadas localidades, especialmente trechos lóticos. Porém esta limitada distribuição de espécies litorâneas e bentônicas deve-se à baixa frequência de amostragem, à ocorrência de caráter raro, bem como, ao fato de não ter sido empregada uma metodologia adequada para estudar especificamente estes organismos. 39 Em relação à riqueza e diversidade, ocorreram grandes oscilações dentre os trechos alto, médio e baixo das três grandes sub-bacias (Paraná, Uruguai e Paraguai), não sendo possível estabelecer um padrão de aumento em direção as maiores latitudes, no sentido da foz. Tal descontinuidade em relação à variação da riqueza e diversidade, possivelmente seja devido a grande heterogeneidade dos ambientes amostrados (reservatórios e rios), bem como, às longas distâncias entre os pontos de trechos lóticos amostrados (em média 250 Km). Deve-se considerar que há um baixo desenvolvimento local de populações de Cladocera em grandes rios, devido principalmente a alta velocidade da correnteza e grande quantidade de material em suspensão, não promovendo uma efetiva incorporação de riqueza e diversidade no sentido de jusante. Assim, estruturas e processos intrínsecos de cada ambiente, como presença de áreas laterais com maior tempo de residência da água, planícies de inundação associadas ao canal do rio e vegetação litorânea, prevaleçam sobre o transporte advectivo da diversidade oriunda das regiões a montante. Na escala temporal, notaram-se valores levemente superiores para riqueza e diversidade no período de verão. Nos trechos compostos por reservatórios prevaleceram espécies das famílias Sididae, Daphniidae, Bosminidae e Moinidae, já nos trechos lóticos, as famílias Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae apresentaram maior contribuição para a riqueza e diversidade local. Em relação à abundância total de cladóceros na bacia do Prata, houve uma nítida diferença entre locais com reservatórios e rios sem represamento, sendo este fator, determinante para a grande amplitude de variação dos dados. Em geral, os ambientes lênticos apresentaram valores de abundância superiores aos lóticos, devido principalmente à contribuição de espécies pelágicas das famílias Sididae, Daphniidae, Bosminidae e Moinidae. Nos ambientes lóticos, fatores físicos, como a alta velocidade da correnteza e baixo tempo de residência da água, certamente limitaram o desenvolvimento de grandes populações de espécies pelágicas de Cladocera. Nestes locais foram encontradas maiores abundâncias de espécies típicas de ambientes litorâneos (Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae). Temporalmente os valores de abundância foram superiores no período de verão na maioria dos pontos. Nas altas latitudes, porção média e baixa da bacia do Prata, os valores da abundância no inverno foram extremamente baixos, possivelmente em razão da queda acentuada da temperatura da água, diminuindo o metabolismo e as taxas de reprodução dos cladóceros. 40 A Figura 10 apresenta um diagrama simplificado dos ambientes estudados na bacia do Prata, no qual procura-se evidenciar a maior representatividade das famílias Sididae, Daphniidae, Bosminidae e Moinidae nos pontos de reservatórios. Nesse caso provavelmente prevaleça o controle destas populações por interações biológicas (e.g. quantidade e qualidade de alimento) em relação aos fatores físicos (e.g. velocidade da correnteza). Nos pontos formados por rios, há a maior contribuição das famílias típicas de ambientes litorâneos e bentônicos (Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae), sendo o desenvolvimento e reprodução dos cladóceros limitado principalmente por fatores físicos, relacionados principalmente a velocidade da correnteza, concentrações de sólidos em suspensão e o tempo de residência da água. Figura 10. Diagrama simplificado das tendências de variação da riqueza e abundância das famílias de Cladocera conforme o tipo de ambiente (rio reservatório) na bacia do Prata. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agostinho A. A., Gomes L. C. & Pelicice F. M. (2007) Ecologia e manejo de recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil. Eduem, Maringá. Baranyi C., Hein T., Holarek C., Keckeis S. & Schiemer F. (2002) Zooplankton biomass and community structure in a Danube River floodplain system: effects of hydrology. Freshwater Biology. 47, 473–482. Bazán J. M. & Arraga E. (1993) El Rio de la Plata, un sistema fluvio-maritimo frágil? In: Acercamiento a una definición de la calidad de sus aguas. (eds A. Boltovskoy & H. Lopez) pp. 71-82. Conferencias de Limnología - Instituto de Limnología Dr. R. Ringuelet, La Plata. Bonecker C. C., Nagae M. Y., Bletter, M. C. M., Velho L. F. M. & Lansac-Tôha F. A. (2007) Zooplankton biomass in tropical reservoirs in Southern Brazil. Hydrobiologia, 579, 115-123. Bonetto A. A. & Corrales M. (1985) Zooplancton del Rio Paraná Medio: variaciones temporales y distribucionales en el área de confluencia con el río Paraguay. Ecosur. 13, 1–23. Brigante J. & Espíndola E. L. G. (2003) Limnologia fluvial: um estudo no rio MogiGuaçu. Rima, São Carlos. Chalar G., Leon L. De, Brugnoli E., Clemente J. & Paradiso M. (2002) Antecedentes y nuevos aportes al conocimiento de la estructura y dinámica del Embalse Salto Grande. In: El água em Iberoamerica, de la limnologia a la gestión en sudamérica. (eds A. Cirelli & G. Marquisa) pp. 123-141. CYTED, Buenos Aires. Colbourne J. K. & Hebert P. D. N. (1996) The systematics of North American Daphnia (Crustacea: Anomopoda): a molecular phylogenetic approach. Philosophical Transactions of the Royal Society of London, Series B. 351, 349–360. Dumont H. J. & Negrea S. V. (2002) Introduction to the class Branchiopoda. In: Guides to the Identification of the Microinvertebrates of the Continental Waters of the World 19 (ed. H. J. Dumont). Backhuys Publishers, Leiden. 42 Elías-Gutiérrez M. & Valdez-Moreno M. (2008) A new cryptic species of Leberis Smirnov, 1989 (Crustacea, Cladocera, Chydoridae) from the Mexican semidesert region, highlighted by DNA barcoding. Hydrobiologia. 360, 63-73. Elmoor-Loureiro L. M. A. (2000) Brazilian cladoceran studies: where do we stand?. Náuplius. 8, 117-131. Elmoor-Loureiro L. M. A. (2007) Phytophilous cladocerans (Crustacea, Anomopoda and Ctenopoda) from Paranã River Valley, Goiás, Brazil. Rev. Bras. de Zool. 24, 344-352. Elmoor-Loureiro L. M. A., Mendonça-Galvão L. & Padovesi-Fonseca C. (2004) New Cladoceran records from Lake Paranoá, Central Brazil. Braz. J. Biol. 64, 415422. Fernando C. H. (2002) A guide to tropical freshwater zooplankton: Identification, Ecology and Impact on Fisheries. Backhuys Publishers, Leinden Forró L., Korovchinsky N. M., Kotov A. A. & Petrusek A. (2008) Global diversity of cladocerans (Cladocera; Crustacea) in freshwater. Hydrobiologia 595, 177–184. Frey D. G. (1982) Questions concerning cosmopolitanism in Cladocera. Archiv für Hydrobiologie. 93, 484–502. Frey D. G. (1986) The non-cosmopolitanism of chydorid Cladocera: Implications for biogeography and evolution. In: Crustacean biogeography (eds R. H. Gore & K. L. Heck) pp. 237-256. Balkema, Rotterdam. Frey D. G. (1987) The taxonomy and biogeography of the Cladocera. Hydrobiologia 145, 5–17. Frutos S. M. (2004) Abundancia y riqueza de especies del zooplancton en el eje fluvial Paraguay-Paraná. Com. Cient. Tecn. Univ. Nac. Nordeste . B-04 6:4. Frutos S. M., Poi de Neiff A. S. G. & Neiff J. J. (2006) Zooplankton of the River: a comparison between sections and hydrological phases. Annales de limnologieinternational journal of limnology. 42, 277-288. 43 Geller W. & Müller, H. (1981) The filtration apparatus of Cladocera: Filter mesh-sizes and their implications on food selectivity. Oecologia (Berl.). 49, 316-321. Güntzel A. M. (2000) Variações espaço-temporais da comunidade zooplanctônica nos reservatórios do médio e baixo rio Tietê/Paraná, SP. Tese de doutorado. UFSCAr, São Carlos, Brasil, 445 p. Hart R. C. (1992) Experimental studies of food and suspend sediment effects on growth and repreoduction of six planktonic cladocerans. J. Plantkon Research. 14, 1425-1448. Havel J. E. & Medley K. A. (2006) Biological invasions across spatial scales: intercontinental, regional, and local dispersal of cladoceran zooplankton. Biological Invasions. 8, 459–473 Havel J. E. & Shurin J. B. (2004) Mechanisms, Effects, and Scales of Dispersal in Freshwater Zooplankton. Limnology and Oceanography. 49, 1229-1238. Henry R. (2003) Os ecótonos nas interfaces dos ecossistemas aquáticos: tipos, processos e importância. Estudo de aplicação em lagoas marginais ao Rio Paranapanema na zona de sua desembocadura na Represa de Jurumirim. In: Ecótonos nas interfaces dos ecossistemas aquáticos (Ed R. Henry) pp. 1-28. Rima, São Carlos. Hobaek A., Skage M. & Schwenk K. (2004) Daphnia galeata X D. longispina hybrids in western Norway. Hydrobiologia 526, 55–62. Hynes H. B. N. (1970) The Ecology of Running Waters. University of Toronto Press, Toronto. José de Paggi S. B. (1980) Campaña limnológica en el río Paraná Medio: zooplancton de ambientes lóticos. Ecología. 4,69–75. José de Paggi S. B. (1981) Variaciones temporales y distribución horizontal del zooplancton en algunos cauces secundarios del río Paraná Medio. Stud Neotrop Fauna Environ. 16,185–199. 44 José de Paggi S. & Paggi J. C. (2007) Zooplankton. In: The Middle Paraná River: Limnology of a Subtropical Wetland (eds M. Iriondo, J. C. Paggi & J. Parma) pp. 229–250. Springer - Verlag. Berlin, Heidelberg, Germany. Korovchinsky N. M. (2006) The Cladocera (Crustacea: Branchiopoda) as a relict group. Zoological Journal of the Linnean Society. 147, 109–124. Kotov A. A. & Korovchinsky N. M. (2006) First record of fossil Mesozoic Ctenopoda (Crustacea, Cladocera). Zoological Journal of the Linnean Society. 146, 269– 274. Kotov A. A. & Taylor D. J. (2010) A new African lineage of the Daphnia obtusa group (Cladocera: Daphniidae) disrupts continental vicariance patterns. Journal of Plankton Research. 32, 937-949. Lampert, W. (1987) Laboratory studies on zooplankton-cyanobacteria interactions. NZ J. Mar. Freshwater Res. 21, 483-490. Lansac-Tôha F. A., Bonecker C. C., Velho L. F. M., Simões N. R., Dias J. D., Alves G. M. & Takahashi E. M. (2009) Biodiversity of zooplankton communities in the Upper Paraná River floodplain: interannual variation from long-term studies. Brazilian Journal of Biology. 69, 539-549. Louette G. & Meester L. D. (2005) High Dispersal Capacity of Cladoceran Zooplankton in Newly Founded Communities. Ecology. 86, 353-359. Lynch M. (1985) Speciation in the Cladocera. Verh. Inter. Verein. Limnol. 22, 3116– 3123. Margalef R. (1983) Limnología. Omega, Barcelona. Matsumura-Tundisi T. (1999) Diversidade de zooplâncton em represas do Brasil. In: Ecologia de reservatórios: estrutura, função e aspectos sociais (Ed R. Henry) pp. 39-54. Fundibio/Fapesp, Botucatu. Nogueira M. G. (2001) Zooplankton composition, dominance and abundance as indicators of environmental compartimentalization in Jurumirim Reservoir (Paranapanema River), São Paulo, Brazil. Hydrobiologia. 455, 1-18. 45 Nogueira M. G., George D. G. & Jorcin A. (2003) Estudo do zooplâncton em zonas litorâneas lacustres: um enfoque metodológico. In: Ecótonos nas interfaces dos ecossitemas aquáticos. (Ed R Henry) pp. 83-127. RIMA, São Carlos. Nogueira M. G., Oliveira P. C. R. & Britto Y. C. T. (2008) Zooplankton assemblages (Copepoda and Cladocera) in a cascade of reservoirs of a large tropical river (SE Brasil). Limnética (Madrid). 27, 151-170. Paggi J. C. & José de Paggi S. B. (1990) Zooplankton of lotic and lenitic environments of the Middle Paraná River. Acta Limnológica Brasiliense 3, 685–719. Pastorino G. G., Darrigran, S M. & Lunaschi L. (1993). Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) (Mytilidae), Nuevo bivalvo invasor em águas del Río de la Plata. Neotropica 39, 171-175. Pessotto M. A. (2012) Estudo da distribuição das fases larvais do bivalve invasor Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) nos principais corpos d’água da bacia do rio da Prata. Bacharelado. Unesp, Botucatu, 36p. Reckendorfer W., Keckeis H., Winkler G. & Schiemer F. (1999) Zooplankton abundance in the River Danube, Austria: the significance of inshore retention. Freshwater Biology. 41, 583-591. Rocha O., Santos-Wisniewski M. J. & Matsumura-Tundisi T. (2011) Checklist de Cladocera de água doce do Estado de São Paulo. Biota Neotropica. 1a, 1-20. Sacherová V. & Hebert P. D. N. (2003) The evolutionary history of the Chydoridae (Crustacea: Cladocera). Biological Journal of the Linnean Society. 79, 629–643. Sampaio E. V., Rocha O., Matsumura-Tundisi, T. & Tundisi, J. G. (2002) Composition and abundance of zooplankton in the limnetic zone of seven reservoirs of the Paranapanema River, Brazil. Brazilian Journal of Biology. 62, 525-545. Sartori L. P., Nogueira M. G., Henry R. & Moretto, E. M. (2009) Zooplankton fluctuations in Jurumirim Reservoir (São Paulo, Brazil): a three-year study. Brazilian Journal of Biology. 69, 1-18. Schiemer F., Keckeis H., Reckendorfer W. & Winkler G. (2001) The ‘inshore retention concept’ and its significance for large rivers. Large Rivers. 12, 509–516. 46 Schwenk K., Bijl M. & Steph B. J. M. (2001) Experimental interspecific hybridization in Daphnia. Hydrobiologia. 442, 67–73. Schwenk K., Posada D. & Hebert P. D. N. (2000). Molecular systematics of European Hyalodaphnia: the role of contemporary hybridization in ancient species. Proceedings of the Royal Society of London, Series B. 267, 1833–1842. Schwenk K., Sand A., Boersma M., Brehm M., Mader E., Offerhaus D. & Spaak P. (1998) Genetic markers, genealogies and biogeographic patterns in the Cladocera. Aquatic Ecology 32, 37–51. Sendacz S. & Kubo, E. (1999) Zooplâncton de reservatórios do Alto Tietê. In: Ecologia de reservatórios: estrutura, função e aspectos sociais (Ed R. Henry) pp. 509530. Fundibio/Fapesp, Botucatu. Serafim JR M., Lansac-Tôha F. A., Paggi J. C., Velho L. F. M. & Robertson B. (2003) Cladocera fauna composition in a river-lagoon system of the upper Paraná river floodplain, with a new record for Brazil. Braz. J. Biol. 63, 349- 356. Sinev A. Y. (2001) Separation of Alona cambouei Guerne & Richard, 1893 from Alona pulchella King, 1853 (Branchiopoda: Anomopoda: Chydoridae). Arthropoda Selecta. 10, 5-18. StatSoft, Inc. (2002) Statistica (data analysis software system). version 6.0 www.statsoft.com. Taylor, D. J., Ishikane C. R. & Haney R. A. (2002) The systematics of Holarctic bosminids and a revision that reconciles molecular and morphological evolution. Limnology and Oceanography. 47, 1486–1495. Vadadi-Fülöp C. (2013). Microcrustacean assemblages in a large river: on the importance of the flow regime. Hydrobiologia. 702, 129-140. Van Damme K., Sinev A. Y. & Dumont H. J. (2011) Separation of Anthalona gen.n. from Alona Baird, 1843 (Branchiopoda: Cladocera: Anomopoda): morphology and evolution of scraping stenothermic alonines. Zootaxa. 2875, 1-64. 47 Vannote R. L., Minshall G.W., Cummins K. W., Sedell J. R. & Cushing C.E. (1980) The river continuum concept. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences. 37, 130-137. Vasquez E. & Rey J. (1989) A longitudinal study of zooplankton along the Lower Orinoco River and its Delta (Venezuela). Ann Limnol. 25, 107–120. Waard J. R., Sacherova V., Cristescu M. E., Remigio E. A., Crease T.J. & Hebert P. D. (2006) Probing the relationships of the branchiopod crustaceans. Molecular Phylogenetics and Evolution. 39, 491–502. Zanata L. H., Espindola E. L. G., Rocha, O. & Pereira, R. H. G. (2003) First record of Daphnia lumholtzi Sars, 1885, exotic cladoceran, in São Paulo state (Brazil). Brazilian Journal of Biology. 63, 717-720. Zanata, L. H. (2005) Distribuição das populações de Cladocera (Branchiopoda) nos reservatórios do médio e baixo rio Tietê: uma análise espacial e temporal. Tese de Doutorado. USP/São Carlos. 282 p. 48 Capítulo II 49 Correlações entre as condições ambientais e as populações de Cladocera em grandes rios e reservatórios da Bacia do Prata (América do Sul): uma análise macro ecológica RESUMO Em um estudo em macro-escala realizado na bacia do rio da Prata (América do Sul) foram analisadas as assembleias de Cladocera de grandes reservatórios artificiais de hidrelétricas e trechos lóticos com características hidrodinâmicas naturais. As coletas ocorreram em 15 reservatórios (regiões lêntica e semi-lêntica) e 14 trechos de rios livres de represamento, durante o período de verão (janeiro/fevereiro) e de inverno (junho/julho) do ano de 2010. Foram efetuadas análises de correlação simples (Pearson) entre as variáveis limnológicas, simultaneamente medidas, e os atributos ecológicos básicos dos cladóceros. Uma maior abundância e riqueza das famílias Sididae, Daphniidae, Moinidae e Bosminidae ocorreu nos trechos com predominância de reservatórios, correlacionados principalmente com a maior transparência e profundidade desses locais. Nos trechos lóticos houve uma maior representatividade de espécies típicas de habitats litorâneos e bentônicos, das famílias Chydoridae, Ilyocryptidae e Macrothricidae, embora registradas em baixas densidades na zona pelágica dos rios. Fatores relacionados a hidrodinâmica dos trechos lóticos, como o baixo tempo de residência da água, alta velocidade de correnteza e elevada concentração de material em suspensão parecem limitar o desenvolvimento de grandes populações de Cladocera. Em relação à riqueza e abundância total dos Cladocera nas três principais sub-bacias do Prata (Paraná, Uruguai e Paraguai), menores valores médios foram encontrados no rio Uruguai para ambos os parâmetros, sendo que a maior abundância ocorreu no rio Paraná e a maior riqueza no rio Paraguai. Em termos latitudinais (nortesul), nos trechos alto, médio e baixo da bacia, não foram identificados padrões claros de variação. Contudo, uma maior riqueza foi verificada no trecho alto, sendo esta significativamente diferente daquela observada no trecho médio. Dentre os períodos sazonais, ocorreram diferenças significativas, com valores bem mais elevados de abundância no verão. Possivelmente a queda acentuada da temperatura no período de inverno, principalmente nas altas latitudes da bacia (trechos médio e baixo), afetam negativamente a reprodução e o crescimento das populações de Cladocera. Em locais com processos avançados de eutrofização, com influência de grandes centros urbano/industriais, houve dominância da família Bosminidae, correlacionada positivamente com as concentrações de clorofilaa. Apesar da baixa frequência temporal do presente estudo, a ampla escala espacial considerada, de forma praticamente simultânea, permitiu identificar os principais fatores que interferem na distribuição da riqueza e abundância dos cladóceros na bacia do rio da Prata. Destaca-se a forte ação antrópica na bacia, dada principalmente pela construção de grandes reservatórios que tornaram condições primariamente lóticas em lênticas, com importantes alterações das características limnológicas (transparência da água, profundidade, tempo de retenção da água, velocidade correnteza), além da influência, 50 em termos de eutrofização, das regiões metropolitanas. Tais modificações podem ser consideradas as principais forças atuando sobre fauna de Cladocera na bacia do Prata. Palavras-chave: padrões, latitudinal, eutrofização, rio Paraná, rio Uruguai, rio Paraguai. INTRODUÇÃO A hidrografia da América do Sul é predominantemente formada por grandes rios e ecossistemas associados, como extensas planícies de inundação, áreas alagáveis e lagos rasos, sendo pequena a ocorrência de grandes lagos naturais (Tundisi, 1994). No entanto, as alterações dos sistemas fluviais pelas ações humanas alcançaram grande magnitude nas últimas décadas, sendo que um dos maiores impactos é a construção de grandes barragens, alterando drasticamente as condições de armazenamento e controle do fluxo dos grandes rios (Agostinho et al., 2007). Na bacia do rio Prata, a segunda do continente em magnitude, encontra-se 50% da população da América Latina, que gera uma enorme carga de poluição urbana e agroindustrial. A bacia também possui o maior parque hidroelétrico do continente, que no caso do Brasil, representa mais de 80% da energia elétrica produzida no país (Souza-Filho et al., 2004; Nogueira et al., 2006; Agostinho et al., 2007). Assim, a construção de grandes reservatórios para a geração elétrica acaba por transformar sistemas lóticos em lênticos ou semi-lênticos, promovendo alterações significativas de velocidade de fluxo, profundidade, largura, sedimentação de partículas, transparência e penetração de luz, estratificação térmica, entre outros (Henry & Maricatto, 1996; Nogueira et al., 1999; Armengol et al., 1999; Pagioro & Thomaz, 2002). Por sua vez, tais mudanças influenciam de forma determinante a organização das comunidades bióticas, incluindo o zooplâncton (Sampaio et al., 2002; Panarelli et al., 2003; Bonecker et al., 2007; Nogueira et al., 2008, ). Em relação aos cladóceros, há uma clara distinção na composição, riqueza e abundância entre ambientes com características lóticas ou lênticas. Nos sistemas considerados lóticos, o desenvolvimento de grandes populações zooplanctônicas é inibido pelo baixo tempo de residência da água e altas velocidades de correnteza, levando a um contínuo transporte dos espécimes para jusante. Tais condições de fluxo, 51 somadas a elevadas concentrações de turbidez e material em suspensão inorgânico que dificultam os processos de filtração e respiração dos cladóceros, impedem o recrutamento local efetivo das populações (Hynes, 1970; Winner, 1975; Kirk, 1991; Richardson, 1992; Viroux, 2002; Jack et al., 2006). Nos sistemas lênticos, há geralmente o desenvolvimento de grandes populações zooplanctônicas, com os principais fatores controladores podendo estar relacionados à temperatura (Bunioto & Arcifa, 2007), estado trófico do ambiente (Pinto-Coelho et al., 2005), qualidade e quantidade de alimento (Ferrão-Filho et. al., 2003) e, certamente, estabilidade da massa d’água. Além das mudanças nas características hidrodinâmicas dos ambientes, o aumento de atividades antrópicas de alto impacto nas bacias de drenagens do rio da Prata, como o lançamento de esgotos (urbanos e industriais) e ocupação intensiva do solo pela urbanização e atividades agro-pastoris, tem levado ao enriquecimento excessivo de nutrientes, em especial de fósforo (P) e nitrogênio (N), causando a eutrofização e degradação da qualidade de água (Matsumura-Tundisi & Tundisi, 2005; Agostinho et al., 2007). Consequências desses processos degradação geralmente manifestam-se no aumento da produção primária, com visíveis florações de algas cianofíceas (algumas tóxicas) e proliferação de macrófitas aquáticas (Bollmann & Andreoli, 2005). As assembleias de cladóceros e demais grupos zoológicos presentes no plâncton destes ambientes podem sofrer alterações quanto à composição e estrutura, sendo que algumas espécies, ou associações de espécies podem ser consideradas como potenciais bioindicadoras devido à adaptabilidade aos recursos disponíveis e sensibilidade às mudanças das variáveis limnológicas (Sendacz & Kubo, 1999; Nogueira, 2001). Embora existam diversos trabalhos sobre a fauna de Cladocera em sistemas lóticos e lênticos da região, analisada concomitantemente com as variáveis limnológicas (e.g. Sampaio et al., 2002, Frutos et al., 2006; José de Paggi & Paggi, 2007; Nogueira et al., 2008), tais pesquisas foram realizadas em escalas espaciais mais reduzidas. Assim, o presente estudo tem como objetivo de apresentar uma visão em macro-escala das principais variáveis ambientais e limnológicas que podem influenciar atualmente a distribuição, riqueza e abundância de Cladocera na bacia hidrográfica do rio da Prata. Para tanto foram contemplados 44 pontos de amostragem distribuídos em reservatórios e trechos lóticos (rios sem represamento) da bacia do rio Prata. 52 MATERIAL & MÉTODOS As amostras foram obtidas em 44 locais, georreferenciados, distribuídos ao longo da bacia do rio da Prata (área de 3,17 x 106 km), abrangendo as sub-bacias do rio Paraná, Uruguai e Paraguai em quatro diferentes países da América do Sul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). Foram amostradas as regiões de montante (semi-lêntica) e barragem (lêntica) de 15 reservatórios de hidrelétricas e 14 pontos em trechos de rios livres de represamento (lótico) (Tabela 1 e Figura 1). Para facilitar a compreensão e descrição dos resultados, optou-se por dividir as sub-bacias hidrográficas dos rios Paraná, Uruguai e Paraguai em trechos alto, médio e baixo (Tabela 1). No trecho alto da bacia do rio Paraná, além das coletas ao longo do curso principal, também foram contempladas amostragens nos principais afluentes (Paranaíba, Grande, Tietê, Paranapanema e Iguaçu). Em relação aos reservatórios, foram realizadas coletas em sistemas correspondentes a cabeceiras dos rios (localizados nas regiões altas e/ou médias) e próximos às desembocaduras (regiões baixas). Nos demais locais amostrados da bacia do Prata, tentou-se estabelecer uma relação de equidistância entre os pontos, desde o trecho alto até o baixo, embora com alguma dificuldade devido as condições logísticas (Tabela 1 e Figura 1). As amostragens foram realizadas no verão (em janeiro e fevereiro 2010) e inverno (em junho e julho/2010), no eixo principal dos rios e reservatórios (zonas de montante/intermediárias e de barragem/lênticas). Em relação ao rio Bermejo (BER), afluente do baixo rio Paraguai, não foram encontrados espécimes de Cladocera e os valores da maioria das variáveis ambientais foram extremamente altos (exemplo, acima de 3.800 mg L-1 de material suspensão total), portanto, optou-se por não utilizar os dados referentes a este ponto no presente estudo. Zooplâncton - Cladocera A coleta de zooplâncton foi realizada através de arrastos verticais na coluna d’água (desde próximo ao fundo até a superfície), sendo que nos pontos mais profundos, os arrastos tiveram uma extensão padronizada de 40m. Foi utilizada uma rede de plâncton cônica modificada com anteparo anti-refluxo de 68 μm de abertura de malha e todas as amostras foram fixadas em formol 4%. Através do cálculo da área do cilindro (área da boca da rede e profundidade do arrasto) foi estimado o volume de água filtrada. 53 Nos pontos lóticos, as amostragens foram feitas com o barco em deriva, evitando arrastos oblíquos cujos volumes não poderiam ser estimados adequadamente. Em laboratório, o material biológico foi identificado sob lupas (Zeiss Stemi SV6) e microscópios (Zeiss Standard 20). A identificação dos cladóceros foi realizada com auxílio de bibliografia especializada e consulta a especialistas de outros grupos de pesquisa, quando necessário. Através de sub-amostragens, foram contados no mínimo 200 organismos por amostra, e sempre que possível ao menor nível taxonômico, sendo a abundância total expressa em indivíduos por metro cúbico (ind. m-3). Variáveis ambientais Para acessar cada ponto de amostragem foi utilizado um barco motorizado, sendo todos os pontos geo-referenciados (GPS Garmin E-Trex). Após a ancoragem, realizaram-se medidas da profundidade (sonar Speedtech), da transparência da água (disco de Secchi), da velocidade superficial da correnteza em trechos lóticos (correntômetro Flowatch) e da temperatura do ar (termômetro de mercúrio aferido pelo Inmetro). Perfis verticais completos de temperatura, oxigênio dissolvido, pH e condutividade elétrica foram obtidos ao longo de toda a coluna d’água através da sonda multi-parâmetros Eureka Manta 2 série de medidas a cada segundo). Amostras de água foram coletadas para posterior análise em laboratório da turbidez, concentração de nitrogênio total, fósforo total, silicato dissolvido, material em suspensão e clorofila a. As amostras d’água foram obtidas com uma garrafa de Van Dorn em quatro profundidades, correspondentes à superfície, meio da zona eufótica, final da zona eufótica (determinadas a partir da leitura do disco de Secchi) e próximo ao fundo, sendo imediatamente estocadas em caixas térmicas com gelo. As filtrações necessárias (clorofila e material em suspensão) foram feitas imediatamente após as coletas. Em laboratório foram realizadas análises espectrofotométricas (espectrofotômetro Tecnal) para determinação de nitrogênio total (Mackereth et al., 1978) e fósforo total (Strickland & Parsons, 1960) após digestão físico-química (Valderrama, 1981); de silicato dissolvido (Goltermam, 1978) e clorofila a - após maceração manual dos filtros e extração em solvente orgânico (acetona 90% à frio) (Talling & Driver, 1963). Através de técnica gravimétrica (Cole, 1979) foi realizada a 54 determinação do material sólido em suspensão total, após a secagem em estufa (70 °C 24), e das frações inorgânica e orgânica – secagem em forno mufla Fanen (450 °C – 1 h). Para a preparação prévia dos filtros (peso inicial antes da filtração no campo) e pesagens posteriores (pós-estufa e pós-mufla) utilizou-se balança analítica Denver (0,00001 g). Análises estatísticas Para identificar diferenças significativas em relação à riqueza total, abundância total e abundância das famílias de Cladocera foram realizadas análises de variância (ANOVA one-way) com base em quatros fatores: bacias – Paraná, Paraguai e Uruguai; locais – montante, barragem e rio; trechos – alto, médio e baixo; e períodos – verão e inverno. Os dados foram logaritimizados ((log (X+1)) e testada a normalidade (ShapiroWilk) e homogeneidade da distribuição dos dados (Levene) antes da realização das análises de variância. Uma correlação simples de Pearson (dados logaritimizados) foi realizada entre os atributos das assembleias de Clodocera (riqueza total, abundância total e abundância das famílias) e as variáveis ambientais, utilizando-se um nível de significância de p=0,05. Foram obtidas médias para a coluna d’água das variáveis ambientais, sendo que em locais com altas profundidades, acima de 60 m, foram utilizadas medidas até essa profundidade, assumindo-se uma baixa influência dessas zonas hipolimnéticas sobre a dinâmica dos cladóceros. A ANOVA e correlações de Pearson foram realizadas no software Statistic v.6.0 (Statsoft, 2006). 55 Tabela 1. Lista dos pontos de coleta na Bacia do rio da Prata e respectivas abreviações*. Os pontos de coleta foram agrupados nos seguintes trechos (Alto, Médio e Baixo) e sub-bacias (Paraná, Uruguai e Paraguai). 1-24: Alto Paraná; 25-29: Médio Paraná; 30-33: Baixo Paraná; 3435: Alto Uruguai; 36-37: Médio Uruguai; 38-40: Baixo Uruguai; 41: Alto Paraguai; 42: Médio Paraguai; 43-44: Baixo Paraguai. N 1 Rio / Reservatório (UHE) UHE Emborcação Abrev. EMB-M N 25 Rio / Reservatório (UHE) UHE Yaciretá Abrev. YACI-M 2 UHE Emborcação EMB-B 26 UHE Yaciretá YACI-B UHE São Simão SSIM-M 27 (Médio Rio Paraná) Rio Paraná - trecho lótico UHE São Simão SSIM-B 28 Rio Paraná – trecho lótico RPAR-M2 UHE Furnas FUR-M 29 Rio Paraná – trecho lótico RPAR-M3 UHE Furnas FUR-B 30 Rio Paraná – trecho lótico RPAR-B1 UHE Água Vermelha AVER-M 31 Rio Paraná – trecho lótico RPAR-B2 UHE Água Vermelha AVER-B 32 Rio Paraná – trecho lótico RPAR-B3 UHE Barra Bonita BBON-M 33 Rio de la Plata - trecho lótico RPLA UHE Barra Bonita BBON-B 34 UHE Machadinho MAC-M UHE Três Irmãos TIRM-M 35 MAC-B UHE Três Irmãos TIRM-B 36 UHE Machadinho (Alto Rio Uruguai) Rio Uruguai – trecho lótico UHE Jurumirim JUR-M 37 Rio Uruguai – trecho lótico RURU-M2 UHE Jurumirim JUR-B 38 UHE Salto Grande SGRA-M UHE Rosana ROS-M 39 UHE Salto Grande SGRA-B UHE Rosana ROS-B 40 (Baixo Rio Uruguai) Rio Uruguai – trecho lótico UHE Foz do Areia FARE-M 41 Rio Paraguai – trecho lótico RPAG-A UHE Foz do Areia FARE-B 42 Rio Paraguai – trecho lótico RPAG-M UHE Salto Caxias SCAX-M 43 Rio Paraguai – trecho lótico RPAG-B UHE Salto Caxias SCAX-B 44 Rio Bermejo – trecho lótico RBER UHE Ilha Solteira ISOL-M UHE Ilha Solteira ISOL-B UHE Itaipu ITA-M UHE Itaipu ITA-B 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 (Rio Paranaíba) (Rio Paranaíba) (Rio Paranaíba) (Rio Paranaíba) (Rio Grande) (Rio Grande) (Rio Grande) (Rio Grande) (Rio Tietê) (Rio Tietê) (Rio Tietê) (Rio Tietê) (Rio Paranapanema) (Rio Paranapanema) (Rio Paranapanema) (Rio Paranapanema) (Rio Iguaçu) (Rio Iguaçu) (Rio Iguaçu) (Rio Iguaçu) (Ato Rio Paraná) (Ato Rio Paraná) (Ato Rio Paraná) (Médio Rio Paraná) (Alto Rio Uruguai) (Baixo Rio Uruguai) (afluente Rio Paraguai) RPAR-M1 RURU-M1 RURU-B (Ato Rio Paraná) *Para os reservatórios (UHE), após o hífen, a letra “M”: montante e letra; “B”: barragem. 56 Figura 1. Localização dos pontos de amostragem na bacia do rio da Prata. Para os reservatórios, os códigos referem-se as três primeiras letras do nome de cada reservatório e, após o hífen, a letra “M” = montante; letra “B” = barragem. Para os trechos lóticos, indicados pela letra “R”, a denominação PAR refere-se ao rio Paraná, PAG=Paraguai e URU=Uruguai e as letras após o hífen referem-se a A=trecho alto, M=trecho médio e B=trecho baixo. 57 RESULTADOS Fatores ambientais e variáveis limnológicas Em relação aos fatores ambientais e variáveis limnológicas analisadas ao longo dos 44 pontos de amostragem do rio da Prata, as principais diferenças estiveram relacionadas aos tipos de ambiente (reservatório e rio) e entre os períodos sazonais (Tabelas 1 e 2). Dentre os períodos sazonais estudados, ocorreram grandes oscilações entre trechos e sub-bacias para a maioria das variáveis. Houve uma tendência de maiores valores para material em suspensão, turbidez, fósforo total e clorofila-a no período de verão (Tabela 2). Comparando-se todos os pontos lóticos e lênticos estudados na bacia do Prata (Tabela 1), os valores encontrados nos rios (lótico) para fósforo total, silicato dissolvido, clorofila-a, condutividade elétrica, turbidez e material em suspensão foram muito mais elevados, principalmente durante o período de verão. Os registros de nitrogênio total, profundidade e transparência da água foram superiores nos reservatórios. Diferenças entre distintas regiões dos reservatórios (barragem e montante) foram menos evidente, com uma tendência de maiores valores para os nutrientes, clorofila-a e material em suspensão nas regiões de montante. A temperatura da água variou conforme o período, com maior valor médio para os pontos lóticos no verão e invertendo-se para o período de inverno, com maiores valores registrados nos reservatórios (lêntico). Para as demais variáveis analisadas, os valores encontrados entre os tipos de ambiente foram semelhantes. Dentre as sub-bacias (Paraná, Uruguai e Paraguai), considerando ambos os períodos sazonais, os valores médios de fósforo total, temperatura da água, silicato dissolvido, turbidez e material em suspensão (total, inorgânico e orgânico) foram maiores na sub-bacia do Paraguai. Em relação ao nitrogênio total, clorofila-a e pH, valores semelhantes e mais altos foram encontrados nas sub-bacias do Paraná e Uruguai. Em relação à transparência da água, a sub-bacia do Paraná registrou um valor médio de 2,19m, seguido do Uruguai com 1,01m e Paraguai com 0,82m. A condutividade elétrica foi maior na sub-bacia do Paraná (média 73,36 µS cm-1) e a concentração do oxigênio dissolvido foi maior na sub-bacia do Uruguai (8,67 mg L-1) e menor no Paraguai (5,18 mg L-1) (Tabela 2). 58 Considerando cada sub-bacia em separado, em função dos trechos alto, médio e baixo (eixo latitudinal, nortesul), alguns padrões e tendências de variação foram observados. Na sub-bacia do Paraná, há uma sequência de diminuição da profundidade no sentido da jusante, em função de ter sido considerado somente reservatórios no trecho alto, um conjunto de reservatórios e rios no trecho médio e somente rios no trecho baixo (Tabelas 1 e 2). Esta heterogeneidade de tipos de ambiente e diferenças nas características hidrodinâmicas de cada região, certamente influenciaram o padrão de aumento da turbidez, material em suspensão (total, inorgânico e orgânico) e silicato dissolvido no sentido da jusante e, consequentemente, uma diminuição da transparência da água. A mesma tendência de aumento de valores a jusante foi encontrado para o fósforo total, clorofila-a e condutividade elétrica (Tabela 2). Em relação à temperatura da água no verão, os valores foram relativamente semelhantes entre os trechos (26,4; 29,0 e 29,5ºC). No inverno, entretanto, a retenção de calor no trecho alto, pela presença dos reservatórios, foi maior, com um valor médio de 20,7ºC no alto Paraná, seguido de 17,8ºC no trecho médio e 14,7ºC no trecho baixo. Estas diferenças na temperatura da água também foram influenciadas pela menor temperatura do ar no inverno nas altas latitudes (temperatura média do ar entre trechos: 21ºC alto e 15ºC baixo) (Tabela 2). Em relação à sub-bacia do rio Uruguai, o trecho médio (RURU-M1 e RURUM2), composto unicamente por trechos de lóticos, registrou os maiores valores médios para material em suspensão (total, orgânico e inorgânico) durante o verão. Contudo, no inverno o trecho baixo registrou valores superiores. O trecho alto (MAC-M e MAC-B), onde se contemplou apenas reservatórios, apresentou os menores valores para material em suspensão em ambas as estações sazonais. Em relação ao fósforo total, houve um padrão de aumento no sentido da jusante, variando em média de 14 µg L-1 a 36 µg L-1, entre os trechos alto e baixo. Para o nitrogênio total e condutividade elétrica, ocorreu uma maior concentração no trecho médio seguido do baixo e alto, respectivamente. A média da clorofila-a, durante o verão, foi maior no trecho médio (5,08 µg L-1) e menor no alto (1,98 µg L-1). Durante o inverno os valores foram menores em todos os trechos (entre 1,16 e 1,62 µg L-1). Para a temperatura da água, os trechos médio e baixo apresentaram os valores médios para a coluna d’água mais altos durante o verão, contudo no inverno, o trecho alto exibiu a menor amplitude de variação, uma queda na temperatura de apenas 4ºC, enquanto nos outros trechos, a variação foi de 59 aproximadamente 12ºC. Nas demais variáveis analisadas, pequenas oscilações foram registradas (Tabela 2). Na sub-bacia do rio Paraguai, com amostragens apenas em trechos lóticos, grandes oscilações entre trechos e períodos sazonais foram encontradas. A concentração do oxigênio dissolvido foi menor para os trechos alto e médio em ambos os períodos sazonais, com valores abaixo de 6 mg L-1. A temperatura da água foi semelhante entre os trechos para o verão (em média 30ºC), entretanto no inverno, foi registrada uma queda mais acentuada apenas do ponto baixo (RPAG-B), como consequência intrínseca da diferença latitudinal (inverno mais intenso) entre os pontos de amostragem do rio Paraguai (Tabela 2). Para o material em suspensão, turbidez e silicato dissolvido, os maiores valores foram encontrados no ponto baixo (RPAG-B), nos demais trechos (RPAG-A e RPAG-M) ocorreram oscilações entre os períodos sazonais. Para o nitrogênio total, fósforo total, clorofila-a e condutividade elétrica houve uma tendência de aumento no sentido da jusante, principalmente durante o inverno. Em relação ao pH, valores mais ácidos ocorreram nos trechos alto e médio (Tabela 2). Considerando a divisão dos trechos em conjunto das sub-bacias, por exemplo, uma média entre os trechos altos do Paraná, Uruguai e Paraguai, e assim subsequentemente para os trechos médio e baixo, se têm uma visão geral das distintas regiões da bacia do Prata. Nota-se uma tendência de aumento do material em suspensão (total, inorgânico e orgânico), fósforo total, clorofila-a e condutividade elétrica em direção a foz do Prata (nortesul) e um resultado inverso para a transparência da água. Em relação à temperatura da água, há uma equivalência entre os trechos durante o período de verão, contudo no inverno, uma queda acentuada nas maiores latitudes (sentido da jusante). Ressalta-se que no trecho alto da bacia há um predomínio de reservatórios de hidrelétricas e que fatores relacionados às diferenças nas profundidades máximas e nas características hidrodinâmicas podem influenciar as tendências e padrões dos fatores ambientais e das variáveis limnológicas entre os trechos da bacia do rio da Prata. 60 Inverno Verão Tabela 2. Valores médios das variáveis limnológicas nos trechos e sub-bacias ao longo da bacia do Prata*. Abreviações: Prof: profundidade máxima; NT: Nitrogênio total; PT: Fósforo Total; Sil: Silicato dissolvido; Clor: Clorofila-a; T. água: Temperatura da água; Cond: condutividade elétrica; OD: oxigênio dissolvido; Trans: Transparência da água; Turb: Turbidez; MST: Material em suspensão total; MSI: Material em suspensão inorgânico; MSO: material em suspensão orgânico; T.ar: Temperatura do ar. Alto Paraná Médio Paraná Baixo Paraná Média Bacia Paraná Alto Uruguai Médio Uruguai Baixo Uruguai Média Bacia Uruguai Alto Paraguai Médio Paraguai Baixo Paraguai Média Bacia Paraguai Alto Paraná Médio Paraná Baixo Paraná Média Bacia Paraná Alto Uruguai Médio Uruguai Baixo Uruguai Média Bacia Uruguai Alto Paraguai Médio Paraguai Baixo Paraguai Média Bacia Paraguai Prof m NT µg L-1 PT µg L-1 Sil mg L-1 Clor µg L-1 T. água ºC pH Cond µS cm-1 OD mg L-1 Trans m Turb NTU MST mg L-1 MSI mg L-1 MSO mg L-1 T. ar ºC 45,01 12,74 13,35 36,28 100,00 19,00 15,00 40,43 9,00 21,00 3,90 11,30 43,55 10,80 10,25 34,55 91,50 26,35 18,87 41,76 12,30 8,90 5,50 8,90 599,10 496,70 461,45 566,90 545,29 851,13 641,34 673,84 570,10 776,71 610,08 652,30 781,61 416,38 369,14 676,28 358,80 710,69 659,37 588,16 139,86 203,33 258,58 200,59 18,99 26,93 67,62 26,09 17,45 27,87 43,52 31,60 36,60 73,82 68,32 59,58 23,10 23,09 41,59 25,34 11,65 16,28 28,70 20,28 14,74 25,10 39,47 26,43 4,72 5,99 6,08 5,08 4,71 6,02 4,86 5,15 5,57 7,55 7,09 6,74 4,09 4,83 5,47 4,37 3,14 4,57 6,05 4,80 7,74 7,90 5,23 6,95 2,54 3,01 4,79 2,88 1,98 5,08 4,33 3,87 1,79 3,50 3,96 3,08 2,62 1,54 2,71 2,47 1,50 1,16 1,62 1,46 1,14 1,98 2,12 1,75 26,44 29,05 29,50 27,20 19,49 26,33 28,97 25,51 30,21 31,03 29,60 30,28 20,70 17,89 14,71 19,54 15,95 17,35 15,47 16,14 24,66 24,21 18,73 22,53 7,19 7,34 7,36 7,23 7,00 7,35 7,24 7,20 6,69 6,90 6,98 6,86 7,23 7,61 7,59 7,34 6,74 7,50 7,65 7,35 6,24 6,62 7,13 6,66 66,25 61,30 102,98 69,95 30,14 44,23 44,24 40,21 44,04 90,45 88,59 74,36 70,96 59,33 133,35 76,76 34,39 47,29 74,25 55,16 49,66 63,85 70,49 61,33 6,31 7,40 5,81 6,42 9,15 7,73 7,47 8,02 4,47 2,79 6,00 4,42 8,09 9,14 9,89 8,47 8,22 9,55 9,92 9,32 4,44 5,74 7,64 5,94 1,94 0,96 0,55 1,63 2,08 0,58 0,55 0,99 0,50 1,00 0,40 0,63 3,48 0,96 0,58 2,75 1,65 0,75 0,80 1,03 1,10 1,30 0,60 1,00 17,88 24,63 34,16 20,88 12,40 32,85 32,63 26,91 41,75 9,52 31,20 27,49 11,84 35,23 41,45 18,98 16,64 31,94 29,98 26,73 16,00 17,03 48,93 27,32 3,82 33,51 66,57 15,92 2,44 23,58 11,35 12,30 13,17 7,74 20,70 13,87 2,56 48,05 30,81 12,88 1,79 6,31 10,52 6,82 7,53 16,67 38,21 20,80 3,26 31,07 61,76 14,56 1,34 19,28 8,93 9,72 14,76 5,83 17,78 12,79 1,33 44,93 28,14 11,19 1,03 5,06 8,83 5,53 5,93 14,46 34,20 18,20 1,33 2,52 4,81 1,93 1,01 4,57 2,42 2,63 2,37 1,58 2,92 2,29 1,14 3,11 2,67 1,63 0,76 1,25 1,68 1,29 1,60 2,21 4,01 2,61 29,56 30,50 32,75 30,09 30,75 33,00 31,33 31,64 31,00 38,00 28,00 32,33 21,54 17,60 15,63 20,23 16,50 19,50 15,50 16,93 30,00 31,00 16,00 25,67 *Divisão dos pontos de amostragem por trechos e sub-bacias ver Tabela 1. Riqueza e Abundância dos Cladocera Ao longo da bacia do Prata foram encontradas 58 espécies, 5 pertencentes à família Bosminidae, 13 à família Daphniidae, 8 à família Sididae, 3 à família Moinidae, 23 à família Chydoridae, 4 à família Macrothricidae e 2 à família Ilyocryptidae. A sub-bacia do rio Paraná registrou um total de 47 espécies, seguida pela sub-bacia do rio Paraguai com 35 espécies e Uruguai com 23 espécies (ver Capitulo 1). Em relação à riqueza média, a sub-bacia do rio Paraguai exibiu os maiores valores em ambas as estações sazonais, com 11 e 15 espécies no verão e inverno, respectivamente. Na sub-bacia do Paraná foi encontrada uma média de 8,2 espécies no verão e 7,4 espécies no inverno, enquanto na sub-bacia do Uruguai foram registrados os menores valores, com 5,4 espécies no verão e 5,2 espécies no inverno (Tabela 3). Observou-se uma pequena queda na média das espécies entre o verão e inverno para a sub-bacia do Paraná e Uruguai, já no rio Paraguai houve um acréscimo entre as estações sazonais consideradas (Tabela 3). Em relação ao número médio de espécies por família de Cladocera, Sididae e Daphniidae foram as mais especiosas em toda a bacia do Prata. Porém, nota-se uma maior contribuição das famílias Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae na sub-bacia do rio Paraguai. Entre os períodos sazonais, houve tendência de elevação do número médio de espécies das famílias Bosminidae e Chydoridae durante o inverno e uma diminuição de Sididae nas sub-bacias do Paraná e Uruguai (Tabela 3). Considerando os trechos de cada sub-bacia, observou-se maior representatividade de Sididae, Daphniidae, Moinidae e Bosminidae nos trechos altos do rio Paraná e Uruguai, que é composto unicamente por reservatórios, com presença frequente de espécies com hábitat tipicamente planctônico (Diaphanosoma birgei, Daphnia gessneri, Moina minuta e Bosmina freyi). Nos trechos médio e baixo destas sub-bacias, regiões composta por ambientes lóticos e lênticos, houve uma maior contribuição média de espécies de Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae. Na sub-bacia do Paraguai, houve uma maior proporcionalidade do número de espécies por família para os trechos alto, médio e baixo (Tabela 3). 62 Tabela 3. Riqueza média de famílias de Cladocera por sub-bacia hidrográfica e trecho estudado. Abreviações das famílias de Cladocera: Sid=Sididae; Dap=Daphniidae; Moin=Moinidae; Inverno Verão Bos=Bosminidae; Chy=Chydoridae; Mac=Macrothricidae; Ily=Ilyocryptidae. Trechos – Sub-Bacia Sid Dap Moin Bos Chy Mac Ily Total Alto 2,67 3,42 0,67 1,13 0,08 0,04 0,04 8,8 Médio 2 1,6 0,6 0,6 2,6 0,2 0,6 8,4 Baixo 2,75 0,75 1,25 1 2 0,5 0,75 8,7 Bacia Paraná 2,58 2,82 0,73 1,03 0,70 0,12 0,21 8,21 Alto 1,5 1,5 1 3 0 0 0 7,0 Médio 1 0 0 0 0 0 0 1,0 Baixo 1 1,6 1 2,3 0,3 0,6 0,3 7,3 1,14 1,14 0,71 1,86 0,14 0,29 0,14 5,4 Alto 1 2 1 1 0 0 1 6 Médio 3 3 2 1 6 1 1 17 Baixo 4 2 1 2 1 0 1 11 Bacia Paraguai 2,67 2,33 1,33 1,33 2,33 0,67 1,00 11,0 Alto 2,13 4,04 0,42 1,96 0,17 0,04 0,04 8,8 Médio 0,2 0,6 0,4 0,4 0 0 0 1,6 Baixo 0,5 1,5 0,5 1,25 1,25 0 0,5 5,7 Bacia Paraná 1,64 3,21 0,42 1,64 0,27 0,03 0,09 7,4 Alto 1,5 2,5 0 2,5 0,5 0 0,5 7,5 Médio 0,5 0 0 0,5 0,5 0,5 0 2 Baixo 1 1 0 1,5 3 0,5 1 6 1,00 1,00 0,00 1,43 1,14 0,29 0,43 5,2 Alto 4 3 1 2 8 1 1 20 Médio 4 3 1 1 2 1 1 13 Baixo 2 3 1 2 4 0 0 12 3,33 3,00 1,00 1,67 4,67 0,67 0,67 15,0 Bacia Uruguai Bacia Uruguai Bacia Paraguai A riqueza total de espécies apresentou diferenças significativas somente entre as sub-bacias (F=5,43; p=0,00) e trechos (F=8,30; p=0,00), não sendo identificadas as mesmas relações entre períodos (verão e inverno) e tipos de ambiente (montante, barragem e rio). A sub-bacia do Paraguai exibiu a maior riqueza média, sendo similar ao Paraná e com diferença significativa em relação à sub-bacia do Uruguai. Na comparação entre os trechos (alto, médio e baixo) da bacia do Prata, o trecho alto foi o que apresentou o maior valor, e, através do teste de Tukey, mostrou-se significativamente diferente do trecho médio (Figura 2). 63 F=5,43; p=0,00 Riqueza (log) 1,4 ac 1,0 ab F=8,30; p=0,00 a 1,2 1,0 a ac 0,8 ab 0,8 0,6 0,6 Paraná Uruguai Sub-bacias Paraguai 0,4 Alto Médio Trechos Baixo Figura 2. Riqueza média (± erro padrão) com os valores da ANOVA (F, p) e resultados do teste de Tukey (a, b, c) gerados a partir da riqueza total das espécies de Cladocera entre as Sub-bacias e Trechos na bacia do rio da Prata. Em relação à abundância média, a sub-bacia do rio Paraná apresentou os maiores valores em ambas as estações sazonais, com 3500 ind. m-3 no verão e 1861 ind. m-3 no inverno, seguida da sub-bacia do Paraguai (1466 ind. m-3 – verão; 84 ind. m-3 – inverno) e por último pela sub-bacia do rio Uruguai (991 ind. m-3 – verão; 28 ind. m-3 – inverno). Os valores da abundância média referentes ao período de inverno foram extremamente inferiores aos encontrados no verão para as três sub-bacias (Tabela 4). Quanto à abundância média por família de Cladocera, houve uma maior abundância média de Sididae, Daphniidae, Moinidae e Bosminidae na maior parte dos trechos e subbacias. Porém, existiu uma grande contribuição de indivíduos das famílias Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae ao longo dos 3 trechos da sub-bacia do Paraguai e, ainda que em menor proporção, no médio e baixo Paraná e Uruguai. Entre as estações sazonais, a abundância média de Sididae na sub-bacia do Paraná e de Moinidae na sub-bacia do Uruguai foi maior no período de verão, ocorrendo uma modificação de dominância para Bosminidae em ambas as bacias no inverno (Tabela 4). Esta maior abundância da família Bosminidae está fortemente relacionada à presença de Bosmina freyi, encontrada em grande quantidade nos reservatórios de BBON (rio Tietê, alto Paraná) e MAC (alto rio Uruguai) durante o inverno. O trecho alto das sub-bacias do Paraná e Uruguai apresentaram as maiores abundâncias de cladóceros, seguido pelo trecho baixo e médio. A elevada abundância média de Sididae, Daphniidae, Moinidae e Bosminidae nos trechos altos está relacionada à predominância de reservatórios (características lênticas) nesta região, propício ao desenvolvimento de espécies pelágicas destas famílias de Cladocera. Na sub-bacia do 64 Paraguai, o trecho baixo apresentou a maior abundância média no verão e no inverno a maior abundância foi registrada no trecho alto (Tabela 4). Tabela 4. Abundância média (ind. m-3) de famílias de Cladocera por sub-bacia hidrográfica e trecho estudado. Abreviações das famílias de Cladocera: Sid=Sididae; Dap=Daphniidae; Moin=Moinidae; Bos=Bosminidae; Chy=Chydoridae; Mac=Macrothricidae; Ily=Ilyocryptidae. Trechos - Bacia Sid Dap Moin Bos Chy Mac Ily Total 1929 1356 467 974 1 0,2 0,2 4733 Médio 31 5 7 2 4 0 1 49 Baixo 72 12 76 246 16 2 19 439 1417 988 350 739 3 0 3 3500 Alto 66 209 1356 633 0 0 0 2265 Médio 1 0 0 0 0 0 0 1 Baixo 7 63 354 335 2 2 42 803 Uruguai 22 87 539 325 1 1 18 991 Alto 349 25 37 12 0 0 12 436 Médio 1009 66 113 9 66 9 9 1283 Baixo 809 419 670 726 28 0 28 2679 Paraguai 723 170 273 249 31 3 17 1466 Alto 190 944 99 1352 0 0 0 2598 0 2 0 1 0 0 0 4 Alto Verão Paraná Médio Baixo 1 2 1 1 3 0 1 9 139 687 72 984 1 0 0 1891 Alto 2 3 0 62 1 0 0 70 Médio 1 0 0 1 1 1 0 2 Baixo 2 2 0 7 3 0 2 17 Uruguai 2 2 0 21 2 0 1 28 Alto 19 14 45 6 32 3 35 155 Médio 27 6 2 2 4 6 4 50 Baixo 16 9 5 5 11 0 0 47 Paraguai 21 10 17 5 16 3 13 84 Inverno Paraná Através da análise de variância (ANOVA) foram encontradas diferenças significativas entre as sub-bacias (F=3,25; p=0,04), com a maior abundância total (média) na sub-bacia do Paraná, com diferença significativa apenas em relação à sub-bacia do Uruguai, a qual registrou a menor abundância média. Entre os locais (F=16,97; p=0,00), evidenciou-se uma maior abundancia média para os pontos de montante e barragem de reservatórios que em relação aos pontos lóticos (rios). Em relação aos períodos sazonais 65 (F=12,83; p=0,00), uma maior abundância média ocorreu para o período de verão. Em relação aos trechos (alto, médio e baixo) não foram identificadas diferenças significativas (Figura 3). a ab ac 2,1 a a 3,0 Abundância Abundância (log) 3,5 2,8 3,5 F=3,25; p=0,04 1,4 F=16,67; p=0,00 2,5 2,0 b 1,5 1,0 0,7 Paraná Uruguai Sub-Bacias 3,2 Abundância (log) 0,5 Paraguai a Montante Barragem Locais Rio F=12,83; p=0,00 2,8 b 2,4 2,0 1,6 Verão Iinverno Períodos Figura 3. Abundância média (± erro padrão) com os valores da ANOVA (F, p) e resultados do teste de Tukey (a, b, c) gerados a partir da abundância total de espécies de Cladocera entre as Subbacias, Locais e Períodos sazonais na bacia do rio da Prata. Em relação à análise de variância em base a abundância das famílias de Cladocera (Tabela 5), Sididae e Daphniidae apresentaram diferenças significativas em relação aos quatro fatores testados: para períodos - maior abundância média no verão; trechos – trechos alto da bacia do Prata maior abundância em relação aos trechos médios e baixos; locais – regiões de montante e barragem semelhantes e região de montante com diferença significativa com os locais formados por rios para a família Sididae, e no caso de Daphniidae, barragem e montante maiores abundâncias médias e diferentes significativamente dos rios; sub-bacias – Paraguai e Paraná maior abundância média e com diferença estatística em relação ao Uruguai para Sididae; e para Daphniidae, Paraná e Paraguai com abundâncias médias maiores e semelhantes, e através do teste de Tukey, 66 diferença significativa entre a sub-bacia do Paraná e Uruguai (Tabela 5). A família Moinidae apresentou diferença significativa em relação aos períodos (verão maior abundância média) e em relação aos trechos, com valores de abundância média maiores e semelhantes entre os trechos alto e médio e com diferença significativas com o trecho baixo. A abundância média da família Bosminidae apresentou diferenças significativas para os locais, com montante e barragem maiores que os pontos de rios (F=12,17; p=0,00) e para os trechos (F=16,98; p=0,00), com a maior abundância nas regiões alta, média e baixa, consecutivamente. Para as famílias Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocriptidae não houve diferenças significativas entre os períodos, sendo encontrado diferença em relação às sub-bacias, com valores médios de abundância maiores para o rio Paraguai; e em relação aos locais, diferentemente das demais famílias, com maiores valores de abundância para os rios e com diferença significativa em relação às regiões de barragem e montante; e para os trechos, a região baixa da bacia do Prata com as maiores abundâncias médias e com diferença significativa dos demais trechos, Chydoridae (F=7,85; p=0,00) e Ilyocryptidae (F=12,17; p=0,00) (Tabela 5). Tabela 5. Valores da ANOVA (F, p) e resultados do teste de Tukey (= sem diferenças significativas; > com diferenças significativas e com maiores ou menores valores médios) gerados a partir das abundâncias das famílias de Cladocera (abreviações ver Tabela 3). Os fatores analisados foram quanto à sub-bacias hidrográficas (PAR: Paraná, URU: Uruguai e PAG: Paraguai); tipos de Locais estudados (B: barragem, M: montante e R: rios); Trechos (A: alto, M: médio e B: baixo); Períodos sazonais (V: verão, I: inverno). Períodos Trechos Locais Sub-Bacias Fat. Anova Sid Dap Moin Bos Chy Mac Ily F 6,80 4,96 2,95 0,29 16,33 9,41 14,39 p 0,00 0,00 0,06 0,07 0,00 0,00 0,00 Tukey PAG=PAR>URU - - PAG>URU=PAR PAG>URU=PAR PAG>URU=PAR F 4,00 19,02 0,93 12,17 11,66 4,52 7,52 p 0,02 0,00 0,39 0,00 0,00 0,01 0,00 Tukey M=B; M.>R B=M>R - M=B>R R>M=B R=M; R>B R>M=B F 18,93 32,56 3,15 16,98 7,85 3,09 12,17 p 0,00 0,00 0,04 0,00 0,00 0,06 0,00 Tukey A>M=B A>B=M A=M>B A>B>M M=A; B>A - B>M=A F 20,60 20,60 14,63 2,16 0,24 0,41 2,92 p 0,00 0,00 0,00 0,14 0,62 0,52 0,09 Tukey V>I V>I V>I - - - - PAR=PAG; PAR>URU 67 Correlações de Pearson entre Cladocera e Variáveis Limnológicas Para as correlações geradas entre a riqueza total de espécies e variáveis limnológicas, em toda a bacia do Prata e em ambos os períodos sazonais, apenas cinco foram consideradas significativas (p<0,05). A riqueza total correlacionou-se positivamente com a transparência da água e negativamente com o material em suspensão total, turbidez, oxigênio dissolvido e pH (Figura 4). Para as correlações com a abundância total, houve correlação positiva com a profundidade, transparência e temperatura da água, e negativa com o material em suspensão total, silicato e oxigênio dissolvido (Figura 5). Características relacionadas ao tipo de ambiente (reservatório ou rio), certamente influenciaram as correlações da riqueza e abundância com as variáveis limnológicas, principalmente nas variáveis que estão diretamente relacionadas com a hidrodinâmica, como por exemplo, a transparência da água, material em suspensão total e profundidade. Em relação às correlações de Pearson da abundância das famílias de Cladocera com as variáveis limnológicas, há claras diferenças nas correlações das famílias Sididae, Daphniidae e Bosminidae e das famílias Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae (Tabela 6). As variáveis limnológicas da transparência da água e profundidade correlacionaram-se positivamente com as famílias Sididae, Daphniidae e Bosminidae e um resultado inverso (negativo), no verão, foi encontrado para as famílias Chydoridae, e Ilyocryptidae. Como esperado, um resultado contrário ocorreu para turbidez e material em suspensão (total e inorgânico), com uma correlação negativa (verão e inverno) com as famílias Sididae, Daphniidae e Bosminidae e positiva (verão) com as famílias Chydoridae e Ilyocryptidae (Tabela 6). A correlação entre a abundância e os nutrientes ocorreu de forma negativa para o fósforo total com as famílias Sididae (r=-0,34; p=0,02) e Daphniidae (r=-0,41; p=0,00) e positiva com Chydoridae (r=0,42; p=0,00) e Ilyocryptidae (r=0,53; p=0,00) durante a estação de verão. Silicato dissolvido apresentou um padrão similar de correlação ao fósforo total, principalmente no período de inverno. O nitrogênio total não apresentou correlações significativas (Tabela 6). A temperatura da água correlacionou significativamente e de forma positiva com Chydoridae (r=0,33; p=0,00) e Ilyocryptidae (r=0,41; p=0,00) no período de verão e com Sididae (r=0,49; p=0,00) e Daphniidae (r=0,45; p=0,00) durante o período de inverno. O pH durante o inverno apresentou correlação negativa apenas com a abundância de 68 Chydoridae, Ilyocryptidae e Macrothricidae. Em relação ao oxigênio dissolvido, ocorreu uma correlação negativa, em ambos os períodos sazonais, com Sididae, Chydoridae e Ilyocryptidae (Tabela 6). Em relação à clorofila-a, ocorreu uma correlação significativa e positiva (r=0,39; p=0,01) apenas com a família Bosminidae durante o período de inverno. Para as famílias Moinidae e Macrothricidae nenhuma correlação significativa foi encontrada no período de verão, enquanto no inverno, apenas a turbidez correlacionou negativamente com Moinidae e, para Macrothricidae, houve uma correlação positiva com silicato dissolvido e negativa com pH e oxigênio dissolvido (Tabela 6). 69 r = 0,33; p= 0,00 1,2 1,1 1,2 Riqueza 1,0 1,0 0,9 0,8 0,8 0,6 0,7 0,4 0,6 0,5 0,0 , 95% confidence 0,2 0,4 0,6 0,8 Transparência da água Riqueza 1,0 r = -0,34; p= 0,00 1,4 0,2 6,0 1,2 1,0 1,0 0,8 0,8 0,6 0,6 0,4 0,4 0,6 0,7 0,8 0,9 Oxigênio dissolvido 1,4 6,4 1,0 1,1 0,2 0,0 6,8 7,2 pH 7,6 8,0 8,4 r = -0,39; p= 0,00 1,4 1,2 0,2 0,5 r = -0,36; p=0,04 1,4 0,4 0,8 1,2 Turbidez 1,6 2,0 r = -0,31; p= 0,04 Riqueza 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 Material em suspensão total 2,4 Figura 4. Correlações de Pearson significativas (p<0,05) entre a riqueza total de Cladocera e algumas variáveis ambientais. 70 4,0 Abundância 3,5 3,5 3,0 2,5 2,5 2,0 2,0 1,5 1,5 1,0 1,0 4,0 Abundância 95% confidence 0,8 1,2 1,6 Profundidade 2,0 2,4 r = 0,44; p= 0,00 0,5 1,1 4,0 3,5 3,5 3,0 3,0 2,5 2,5 2,0 2,0 1,5 1,5 1,0 1,0 0,5 0,0 4,0 0,2 0,4 0,6 0,8 Transparência da água 1,0 r = -0,25; p= 0,01 0,5 0,4 4,0 3,5 3,5 3,0 3,0 2,5 2,5 2,0 2,0 1,5 1,5 1,0 1,0 0,5 0,4 0,6 0,8 Silicato dissolvido r = 0,40; p= 0,00 4,0 3,0 0,5 0,4 Abundância r = 0,46; p= 0,00 1,0 0,5 0,0 1,2 1,3 1,4 Temperatura 1,5 1,6 r = -0,40; p= 0,00 0,6 0,8 1,0 Oxigênio dissolvido 1,2 r = -0,41; p= 0,00 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 Material em suspensão total 2,4 Figura 5. Correlações de Pearson significativas (p<0,05) entre a abundância total de Cladocera e algumas variáveis ambientais. 71 Inverno Verão Tabela 6. Correlações de Pearson significativas (p<0,05) entre as abundâncias das famílias de Cladocera e variáveis ambientais*. Abreviações das famílias de Cladocera: Sid=Sididae; Daph=Daphniidae; Moin=Moinidae; Bosm=Bosminidae; Chyd=Chydoridae; Macr=Macrothricidae; Ilyo=Ilyocryptidae. Var.* NT PT Sil Clo Prof Trans Temp pH K OD Turb MST MSI MSO NT PT Sil Clo Prof Trans Temp pH K OD Turb MST MSI MSO Sid Daph -0,34; 0,02 -,0,41; 0,00 Moin Bosm Chyd Macr 0,42; 0,00 Ilyo 0,53; 0,00 0,45; 0,00 0,34; 0,00 0,46; 0,00 0,46; 0,00 0,48; 0,00 0,33; 0,02 -035; 0,02 -0,30; 0,00 -0,40; 0,00 -0,30; 0,00 -0,44; 0,00 0,33; 0,00 0,41; 0,00 -0,33; 0,02 -030; 0,04 -0,46; 0,00 -0,43 0,00 -0,34 0,02 0,28; 0,00 0,37; 0,01 -0,49; 0,00 -0,57; 0,00 -0,38; 0,01 0,46; 0,00 0,54; 0,00 -0,49; 0,00 -0,55; 0,00 -0,45; 0,00 0,44; 0,00 0,53; 0,00 -0,35; 0,01 -0,45; 0,00 0,36; 0,02 0,49; 0,00 -0,44; 0,00 -0,51; 0,00 0,35; 0,02 0,36; 0,00 0,34; 0,00 0,70; 0,00 0,72; 0,00 0,52; 0,00 0,49; 0,00 0,45; 0,00 -0,53; 0,00 0,31; 0,00 0,44; 0,00 0,35; 0,02 -0,34; 0,02 -0,35; 0,02 -0,41; 0,00 -0,34; 0,02 -0,35; 0,02 0,46; 0,00 0,39; 0,01 -0,40; 0,00 -0,68; 0,00 -0,70; 0,00 -0,35; 0,02 -0,58; 0,00 -0,37; 0,01 -0,37; 0,01 -0,35; 0,02 -0,42; 0,00 -0,42; 0,00 -041; 0,00 *NT: nitrogênio total; PT: fósforo total; Sil; silicato dissolvido; Clo: clorofila-a; Prof: profundidade máxima; Trans: transparência da água; Temp: temperatura; K: condutividade elétrica; OD: oxigênio dissolvido; MST: material em suspensão total; MSI: material em suspensão inorgânico; MSO: material em suspensão orgânico. 72 DISCUSSÃO Dentre as diferentes sub-bacias (Paraná, Uruguai e Paraguai) e trechos (alto, médio e baixo) analisados ao longo da bacia do rio da Prata, identificou-se uma clara relação das variáveis limnológicas e da fauna de Cladocera com o tipo de ambiente amostrado, reservatório (lêntico) ou rio sem influência de represamento (lótico). As características relacionadas à hidrodinâmica destes dois tipos de ambiente, como diferenças no tempo de residência da água, profundidade, velocidade da correnteza e taxas de sedimentação, influenciaram diretamente a transparência da água, a concentração de sólidos totais e a turbidez, que por sua vez atuam na variação da composição, riqueza e abundância dos cladóceros. Houve uma desigualdade quanto ao número de pontos e tipos de ambientes (rio e reservatório) amostrados em cada sub-bacia (Paraná, Uruguai e Paraguai) e trecho (alto, médio e baixo), o que certamente influenciou em algumas diferenças médias encontradas dentre as regiões e prejudicou na identificação de padrões de variação. Na sub-bacia do rio Paraná, as amostragens ocorreram predominantemente em pontos formados por reservatórios. No trecho alto foram amostrados 24 locais em reservatórios; no trecho médio 2 pontos em reservatório e 3 em trechos lóticos; e no baixo foram amostrados 4 pontos em ambientes lóticos. Na sub-bacia do Uruguai, no trecho alto, foram amostrados 2 pontos em reservatório; no trecho médio foram realizadas amostragens em 2 pontos lóticos; e no trecho baixo, 2 pontos em reservatório e um em trecho lótico. Na sub-bacia do rio Paraguai foram realizadas coletas somente em ambientes lóticos, sendo um ponto em cada trecho (Tabela 1). Esta distribuição dos pontos de amostragem entre ambientes lênticos e lóticos, refletiu o atual cenário da distribuição dos reservatórios de hidrelétricas, com maior concentração no trecho alto das bacias do Paraná e Uruguai, e com uma diminuição no sentido da jusante. No rio Paraguai, não há reservatórios, exceto em tributários da porção alta da bacia, devido principalmente à baixa declividade que impossibilita a construção de grandes represas artificiais no canal principal. As principais variáveis limnológicas que se correlacionaram significativamente com a fauna de Cladocera foram a transparência da água, profundidade, temperatura, turbidez, material em suspensão total e inorgânico e silicato dissolvido. Em relação à transparência da água, os trechos altos da sub-bacia do Paraná e Uruguai, representados unicamente por reservatórios, apresentaram os maiores valores (média acima de 1m), 73 principalmente durante o período de inverno. Este resultado deve-se ao fato que nas demais regiões estudadas na bacia do Prata há um predomínio de ambientes lóticos, e portanto, os baixos valores de transparência da água estão associados a hidrodinâmica e transporte dos grandes rios, como o baixo tempo de residência da água, alta velocidade de correnteza, baixa profundidade, baixa taxa de sedimentação e re-suspensão de sedimentos do fundo (Johnson et al., 1995). Quanto à concentração de material em suspensão na água (total, inorgânico e orgânico) e turbidez, como o esperado, os maiores valores foram encontrados nos trechos médio e baixo do Paraná e Uruguai e ao longo do rio Paraguai, onde predominam condições lóticas. Alguns estudos na bacia do Paraná (Nogueira et al., 2006) e Paraguai (Frutos et al., 2006) que englobaram trechos lóticos e lênticos, também encontraram resultados semelhantes, com a mesma variação entre os períodos sazonais. Estas diferenças encontradas principalmente em relação à transparência da água, turbidez e material em suspensão entre os trechos com predomínio de reservatórios ou rios (lóticos), podem ter contribuído para a maior abundância média dos cladóceros encontrada nos trechos lênticos (reservatórios) e com diferença significativa (ANOVA) em relação aos trechos lóticos. Houve correlação (Pearson) positiva da abundância média dos cladóceros com a transparência da água e com a profundidade, e negativa com o material em suspensão e silicato dissolvido, em razão primordialmente dos valores distintos encontrados entre os trechos altos da sub-bacia do Paraná e Uruguai (somente reservatórios) e os trechos médios e baixos destas sub-bacias (predomínio de ambientes lóticos). Na sub-bacia do rio Paraguai, formada apenas por pontos lóticos, embora com valores relativamente altos do material em suspensão total, houve uma contribuição de espécimes litorâneos e bentônicos no canal principal onde foram feitas as amostragens, resultando no aumento da abundância e riqueza média de Cladocera nessa sub-bacia. A baixa abundância dos cladóceros encontrada nos trechos lóticos da bacia do Prata, principalmente no canal principal do rio Paraná e Uruguai, é um padrão recorrente em grandes rios, mostrando serem estes ambientes inóspitos para o desenvolvimento do zooplâncton (Hynes, 1970; Winner, 1975; Viroux, 2002). Processos relacionados à hidrodinâmica de grandes rios, como o baixo tempo de residência da água (Viroux, 1997) e alta velocidade da correnteza (Richardson, 1992; Jack et al., 2006), promovem o contínuo transporte do zooplâncton no sentido de jusante, impedindo localmente a reprodução e o desenvolvimento populacional, isto é, impossibilitando a manutenção de uma população no canal central do rio. Fatores relacionados à turbidez (Hart, 1992) e material em suspensão 74 inorgânico (Kirk, 1991) estão entre aqueles que inibem o desenvolvimento dos cladóceros em grandes sistemas lóticos. Por outro lado, em áreas laterais aos grandes rios (várzeas, lagoas), onde há uma diminuição da velocidade da correnteza e um maior tempo de retenção da água, existe a possibilidade de se formarem zonas de manutenção e reprodução do zooplâncton para os trechos lóticos de grandes rios (Reckendorfer et al., 1999; Shiemer et al., 2001; Lansac-Tôha et al., 2009), sendo que a disponibilidade destas áreas é dependente da morfologia das margens e do nível da água, que geralmente varia sazonalmente. Planícies de inundação também funcionam como fonte de diversidade para o canal principal dos rios, principalmente durante o período das chuvas, quando há maior conectividade entre os ambientes (Serafim et al., 2003; Alves et al., 2005; Viroux, 2002, Lansac-Tôha et al., 2009 ). Comparando os trechos lóticos das três sub-bacias, a maior abundância de Cladocera encontrada no rio Paraguai, pode justamente estar relacionada às características particulares encontradas nos pontos de coleta, como a sinuosidade do rio que propiciou uma menor velocidade da correnteza e a presença de áreas marginais com maior tempo de retenção da água, que fornecem condições para o desenvolvimento de espécies com habitat pelágico das famílias Sididae, Daphniidae, Moinidae e Bosminidae, bem como os extensos bancos de macrófitas nas margens, que são habitats de inúmeras espécies das famílias Chydoridae, Macrothricidae e Ilyocryptidae, encontradas em maior abundância no rio Paraguai. Nos pontos lóticos das sub-bacias do Paraná e Uruguai, não existem zonas com as características mencionadas anteriormente, em relação ao rio Paraguai, exceto no trecho baixo, onde há uma ramificação (formação de um grande delta) dos rios Paraná e Uruguai próxima à foz da Prata, resultando em menores velocidades de correnteza e possibilidade de desenvolvimento e manutenção das populações de Cladocera. Em um estudo realizado ao longo do rio Orinoco, Venezuela, as maiores abundâncias também foram encontradas na foz em formato de delta, com os autores sugerindo uma correlação negativa entre velocidade da correnteza e abundância dos Cladocera (Vásquez & Rey, 1989). A presença de reservatórios pode influenciar nas variações de vazão, concentrações de material em suspensão e pulsos de inundação nas regiões de jusante (Naliato et al., 2009; Stevaux et al., 2009), as quais podem agir diretamente sobre as populações zooplanctônicas (Lansac-Tôha et al., 2009). Em relação à possibilidade dos reservatórios localizados a montante dos pontos lóticos, como por exemplo, MAC-B (reservatório) e RURU-M1 (lótico) ou YACI-B (reservatório) e RPAR-M1 (lótico), servirem como locais 75 fonte de zooplâncton que seria exportado a jusante (Akopian et al., 1999), esta não foi verificada, provavelmente devido a grande distância entre os pontos de coleta (em média 250 Km). A manutenção das populações dos cladóceros por estes extensos trechos lóticos é inviável, havendo uma redução considerável na abundância logo nos primeiros quilômetros (Pourriot et al., 1997; Mitsuka & Henry, 2002; Chang et al., 2008, Perbiche Neves & Nogueira, 2010; Portinho, 2011) Nos grandes reservatórios as condições hidrodinâmicas (maior tempo de residência da água) não funcionam como principais fatores limitantes ao desenvolvimento dos cladóceros, prevalecendo outras forças reguladoras, tais como a temperatura (Bunioto & Arcifa, 2007), estado trófico do ambiente (Pinto-Coelho et al., 2005), qualidade e quantidade de alimento (Ferrão-Filho et. al., 2003). Diversos estudos na bacia do Prata que englobaram trechos lênticos e lóticos (Paggi & José de Paggi, 1990; Sampaio et al., 2002; Frutos et al., 2006; Nogueira et al., 2008; Lansac-Tôha et al., 2009), também verificaram as maiores abundâncias dos cladóceros nos ambientes de maior tempo de residência da água, com predomínio de indivíduos das famílias Sididae, Daphniidae, Moinidae e Bosminidae. A maior abundancia média de cladóceros ocorreu no rio Paraná, contudo a maior riqueza foi registrada no rio Paraguai. Em ambos os casos as diferenças foram estatisticamente significativas em relação à bacia do rio Uruguai. Estas diferenças em relação à bacia do rio Uruguai devem-se às baixíssimas abundâncias e riquezas encontradas nos pontos do trecho médio (RURU-M1 e RURU-M2), possivelmente em função da alta velocidade de correnteza, ausência de áreas marginais com remansos ou macrófitas, além de elevados valores de material em suspensão inorgânico e turbidez que prejudicam o desenvolvimento dos espécimes de Cladocera. Em relação à temperatura da água, o período de verão apresentou valores médios semelhantes para toda a bacia do Prata (28-32ºC), contudo no inverno, nos trechos médios e baixos do rio Paraná e Uruguai, houve um acentuado decréscimo. Isto poder ser explicado por dois fatores principais, o primeiro relacionado à faixa latitudinal dos pontos coleta, onde os trechos altos das sub-bacias (baixas latitudes) registraram uma menor amplitude de variação da temperatura do ar; e o segundo, relacionado à presença dos reservatórios, que devido a maior profundidade, volume e tempo de residência da água, possuem uma maior capacidade de retenção de calor quando comparado aos trechos de rios 76 (Straškraba, 1999). No rio Paraguai, sem reservatórios, apenas o trecho baixo apresentou uma queda acentuada da temperatura no inverno, certamente relacionada à faixa latitudinal, com grandes diferenças na temperatura do ar e da água entre o trecho alto (30ºC ar; 24ºC água) e baixo (16ºC ar; 18ºC água). Grandes variações foram encontradas na abundância média dos cladóceros entre os períodos sazonais amostrados, com maiores valores registrados no verão, sendo provavelmente a temperatura da água, que se correlacionou positivamente (Pearson) com a abundância total, um dos fatores mais importantes nesta relação. Diversos estudos demonstram que parâmetros relacionados ao tempo da primeira reprodução, taxas de fecundidade, tempo de geração e tamanho das proles apresentam melhores performances em temperaturas mais elevadas, principalmente espécies consideradas típicas de ambiente pelágico (Sarma et. al, 2005; Bunioto & Arcifa, 2007; Fileto et al., 2010). Em relação à análise comparativa entre as famílias de Cladocera, destacam-se as diferenças entre um grupo formado por Sididae, Daphniidae e Bosminidae e outro pelas famílias Chydoridae, Ilyocryptidae e Macrothricidae. As famílias com predominância de espécies consideradas pelágicas (Sididae, Daphniidae e Bosminidae) apresentaram na maioria das vezes as maiores abundâncias (ANOVA) nas regiões de montante e barragem dos reservatórios, no trecho alto da bacia do Prata, no período de verão e nas sub-bacias do Paraná ou Paraguai. Estas famílias se correlacionaram positivamente (Pearson) com a transparência da água e profundidade, e negativamente com material em suspensão (total e inorgânico) e turbidez. As famílias com espécies litorâneas e bentônicas (Chydoridae, Ilyocryptidae e Macrothricidae) foram mais abundantes na sub-bacia do Paraguai, principalmente no trecho baixo, e sem diferença entre os períodos sazonais. Estas apresentaram correlações positivas com material em suspensão, silicato dissolvido e turbidez e negativas com a transparência da água e profundidade. A heterogeneidade na distribuição das famílias, quanto aos ambientes e períodos testados, e nas correlações com as variáveis limnológicas podem ser explicadas pelos seguintes fatores: as amostragens ao longo dos 44 pontos da bacia do Prata foram realizadas no pontos centrais dos reservatórios e rios, direcionadas à coleta de espécies de hábitos pelágicos. Portanto, as espécies mais frequentes e abundantes foram aquelas essencialmente planctônicas das famílias Sididae, Daphniidae, Moinidae e Bosminidae (por exemplo, Diaphanosoma birgei, Daphnia gessneri, Moina minuta e Bosmina freyi), as 77 quais foram registradas principalmente em locais com condições mais lênticas (geralmente montante e barragem de reservatórios). Tais locais apresentam maiores transparências e profundidades, ao contrário dos trechos lóticos, onde características hidrodinâmicas, principalmente relacionada às altas velocidade de correnteza, sólidos inorgânicos em suspensão e ao tempo de residência da água, limitaram o desenvolvimento de grandes populações dos cladóceros com características pelágicas e onde as espécies ocasionais, de ambiente litorâneo associado à macrófitas ou de ambiente meio bentônico, apareceram mais frequentemente nas amostras. Estudos realizados em extensos trechos lóticos de grandes rios (Paggi & José Paggi, 1990; Baranyi et al., 2002; Viroux, 2002; Vadadi-Fülöp, 2012), também encontraram elevada contribuição de espécies não planctônicas (pseudoplâncton) nas zonas centrais dos rios, sempre em baixas densidades, como também foi registrado no presente estudo. Além da presença do pseudoplâncton no canal central dos trechos lóticos, espécies consideradas planctônicas, como Bosmina freyi, Bosminopsis deitersi, Ceriodaphnia cornuta e Moina minuta, também foram frequentes, ainda que em baixas densidades, similar ao observado em outros estudos realizados nos rios Paraná (Paggi & José Paggi, 1990) e Paraguai (Frutos et al., 2006). Destaca-se que algumas espécies de pequeno porte, principalmente da família Bosminidae, apresentam rápidas taxas de crescimento (Pace et al., 1992), com valores similares a algumas espécies de rotíferos, sendo esta família de Cladocera numericamente dominante nos rios da maioria dos continentes (Talling & Rzóska, 1967; Vásquez & Rey, 1989; Pace et al., 1992; Kobayaski et al., 1998; Viroux, 2002), evidenciando sua maior adaptabilidade às condições hidrodinâmicas de ambientes lóticos (Viroux, 2002). Nos pontos localizados em reservatórios, principalmente no trecho alto Paraná, as famílias Sididae e Daphniidae foram mais abundantes no período de verão, contudo no período de inverno, houve uma alteração na dominância pela família Bosminidae, que se correlacionou (Pearson) positivamente com a clorofila-a. Grandes abundâncias de Bosmina freyi e Bosmina hagmanni foram encontradas em reservatórios considerados eutróficos do alto Paraná, principalmente em Barra Bonita (BBON-M) onde foram registradas elevadas concentrações de clorofila-a (31,2 µg L-1 inverno), e presença de “blooms” de cianofíceas. Outros autores também têm encontrado estas espécies em maior abundância em condições de maior trofia (Sendacz & Kubo,1999; Bonecker et al., 2007; Nogueira et al., 2008), possivelmente devido sua tolerância a presença de algas filamentosas e a um declínio das 78 espécies de grande porte (por exemplo, Diaphanosoma) devido a danos no aparato de filtração (Gueller & Muller, 1981). CONCLUSÕES O cenário atual de distribuição dos grandes reservatórios nos trechos altos dos rios Paraná e Uruguai e a manutenção das características naturais lóticas no rio Paraguai e na maior parte dos trechos médio e baixo dos rios Paraná e Uruguai foram os principais fatores responsáveis pelas diferenças encontradas nas variáveis limnológicas e na composição, riqueza e abundância dos cladóceros da bacia hidrográfica do rio da Prata. Houve uma clara distinção nas variáveis limnológicas, tais como transparência da água, profundidade, turbidez, silicato dissolvido e material em suspensão (total, inorgânico e orgânico), entre os trechos lênticos (represamentos) e lóticos, e que combinadas às diferenças no tempo de residência da água e velocidade da correnteza influenciaram diretamente o desenvolvimento das populações de Cladocera. Foi encontrada uma tendência de maior abundância e riqueza das famílias Sididae, Daphniidae, Moinidae e Bosminidae nos trechos com predominância de reservatórios, correlacionados positivamente com a maior transparência e profundidade desses locais. Nos trechos lóticos, fatores relacionados a hidrodinâmica, como o baixo tempo de residência da água e altas velocidades de correnteza, limitaram o desenvolvimento de grandes populações de Cladocera, sendo encontradas menores abundâncias, porém com maior contribuição de indivíduos com características de habitat litorâneo ou meio bentônico das famílias Chydoridae, Ilyocryptidae e Macrothricidae, mesmo que registrados em baixas densidades na zona pelágica do rios. Embora tenha havido correlação positiva das famílias Chydoridae e Ilyocryptidae com material em suspensão, turbidez e silicato dissolvido, e uma correlação negativa com profundidade e transparência da água, o habitat natural destes indivíduos difere da zona pelágica (canal principal do rio) onde ocorreram as amostragens, se tratando, portanto, de ocorrências ocasionais. A variação na temperatura da água entre os períodos de verão e inverno parece ser um fator de grande importância para o controle da abundância dos cladóceros ao longo da bacia do rio da Prata. Essa influência da sazonalidade não foi tão evidente para a riqueza de espécies. Valores de abundância muito mais elevados foram registrados no período de 79 verão para toda a bacia. No período de inverno, a queda acentuada da temperatura da água nos trechos médios e baixos (altas latitudes) da bacia, determinaram uma considerável redução na abundância de indivíduos nessas regiões, possivelmente devido a diminuição das taxas reprodutivas, de desenvolvimento e crescimento populacionais. Processos avançados de eutrofização, principalmente em reservatórios sob influência de regiões metropolitanas (Barra Bonita – BBON, São Paulo e Foz do Areia - FARE, Curitiba), tiveram influência sobre a composição e estrutura das assembleias de Cladocera, sendo encontrada uma forte correlação com as concentrações de clorofila-a. Apesar da baixa frequência temporal empregada no presente estudo, a ampla escala espacial considerada, de forma praticamente simultânea, permitiu identificar os principais fatores ambientais que interferem na distribuição, riqueza e abundância dos cladóceros na bacia do rio da Prata. Destaca-se a forte ação antrópica na bacia, dada principalmente pela construção de grandes reservatórios, que tornaram condições de fluxo primariamente lóticas em lênticas, e as alterações decorrentes de algumas variáveis limnológicas oriundas destas modificações (transparência da água, profundidade, tempo de retenção da água, velocidade correnteza), como as principais forças agindo na fauna de Cladocera na bacia do Prata. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agostinho A. A., Gomes L. C. & Pelicice F. M. (2007) Ecologia e manejo de recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil. Eduem, Maringá. Akopian M. A., Garnier. J. & Pourriot R. (1999) A large reservoir as a source of zooplankton for the river: structure of the populations and influence of fish predation. J. Plankton Research. 21, 285–297. Alves G. M., Velho, L. F. M., Lansac-Tôha F. A., Robertson B. & Bonecker, C. C. (2005) Effect of the connectivity on the diversity and abundance of cladoceran assemblages in lagoons of the Upper Paraná River Floodplain. Acta Limnologica Brasiliensia. 17, 317-327. Armengol J., Garcia J. C., Comerma M., Romero, M., Dolzs J., Roura M., Han B. H., Vidal A. & Šimek K. (1999) Longitudinal Processes in Canyon Type Reservoirs: 80 The Case of Sal (N.E. Spain). In: Theoretical Reservoir Ecology and its Applications (eds M. Straskraba & J. G. Tundisi.) pp. 331-345. Brazilian Academy of Sciences, International Institute of Ecology and Backhuys Publishers, São Carlos, Brazil. Baranyi C., Hein T., Holarek C., Keckeis S. & Schiemer F. (2002) Zooplankton biomass and community structure in a Danube River floodplain system: effects of hydrology. Freshwater Biology.47, 473–482. Bollmann H. A. & Andreoli O. R. (2005) Água no Sistema Urbano. In: Gestão Integrada de Reservatórios de Abastecimento Eutrofizados (eds C. V. Andreoli, C. Carneiro) pp.85-120. Graf. Capital Ltda, Curitiba. Bonecker C. C., Nagae M. Y., Bletter, M. C. M., Velho L. F. M. & Lansac-Tôha F. A. (2007) Zooplankton biomass in tropical reservoirs in Southern Brazil. Hydrobiologia, 579, 115-123. Bunioto T. C. & Arcifa M. S. (2007) Effects of food limitation and temperature on cladocerans from a tropical Brazilian lake. Aquat. Ecol. 41, 569-578 Chang K., Doi H., Imai Hi., Gunji F. & Nakano S. (2008) Longitudinal changes in zooplankton distribution below a reservoir outfall with reference to river planktivory. Limnology. 9, 125–133. Cole G. A. (1979) Textbook of limnology. The C.V. Mosby Company, Saint Louis. Ferrão-Filho A., Arcifa S. & Fileto, C. (2003) Resource limitation and food quality for cladocerans in a tropical Brazilian lake. Hydrobiologia. 491, 201-210. Fileto C., Arcifa M. S., Henry R. & Ferreira R. A. R. (2010) Effects of temperature, sestonic algae features, and seston mineral content on cladocerans of a tropical lake. Ann. Limnol. - Int. J. Lim. 46, 135-147. Frutos S. M., Poi de Neiff A. S. G. & Neiff J. J. (2006) Zooplankton of the River: a comparison between sections and hydrological phases. Annales de limnologieinternational journal of limnology. 42, 277-288. Geller W. & Müller, H. (1981) The filtration apparatus of Cladocera: Filter mesh-sizes and their implications on food selectivity. Oecologia (Berl.). 49, 316-321. 81 Golterman, H. J. (1978) Chemistry and limnology: a “marriage de raison”? With special emphasis on the polyphosphate phytate controversy. In Phosphate in Sediments. Proceedings of the 4 th International Symposium. (eds L. Serrano, & H. Golterman) pp. 1-7. Backhuys Publishers, Leiden. Hart R. C. (1992) Experimental studies of food and suspended sediment effects on growth and reproduction of six planktonic cladocerans. J. Plankton Research. 14, 14251448. Henry R. & Maricatto F. E. (1996) Sedimentation rates of tripton in Jurumirim reservoir (São Paulo, Brasil). Limnologica. 25, 15-25. Hynes H. B. N. (1970) The Ecology of Running Waters. University of Toronto Press, Toronto. Jack J. D., Fang W. & Thorp J. H. (2006) Vertical, lateral and longitudinal movement of zooplankton in a large river. Freshwater Biology. 51, 1646-1654. Johnson B. L., Richardson W. B. & Naimi T. J. (1995) Past, present, and future concepts in large river ecology. BioScience. 45, 134-141. José de Paggi S. & Paggi J. C. (2007) Zooplankton. In: The Middle Paraná River: Limnology of a Subtropical Wetland (eds M. Iriondo, J. C. Paggi & J. Parma) pp. 229–250. Springer - Verlag. Berlin, Heidelberg, Germany. Kirk K. L. (1991) Inorganic particles alter competition in grazing plankton: the role of selective feeding. Ecology. 72, 915-923. Kobayashi T., Shiel R. J. & Gibbs P. (1988) Size structure of river zooplankton: seasonal variation, overall pattern and functional aspect. Mar. Freswater Res. 49, 547-552. Lansac-Tôha F. A., Bonecker C. C., Velho L. F. M., Simões N. R., Dias J. D., Alves G. M. & Takahashi E. M. (2009) Biodiversity of zooplankton communities in the Upper Paraná River floodplain: interannual variation from long-term studies. Brazilian Journal of Biology. 69, 539-549. Marckereth F. I. H., Heron J. & Talling J. F. (1978) Water analysis: some revised methods for limnologists. Freshwater Biological Association, London. 82 Matsumura-Tundisi T. & Tundisi J. G. (2005) Plankton richness in a eutrophic reservoir (Barra Bonita Reservoir, SP,Brazil). Hydrobiologia, Aquatic Biodiversity. 542, 367-378. Mitsuka P. M. & Henry R. (2002) The fate of Copepod Populations in the Paranapanema River (São Paulo, Brazil), Downstream from the Jurumirim Dam. Brazilian Archives of Biology and Technology, 45 (4): 479-490. Naliato D. A. O., Nogueira M. G. & Perbiche-Neves G. (2009) Discharge pulses of hydroelectric dams and their effects in the downstream limnological conditions: a case study in a large tropical river (SE Brazil). Lakes & Reservoirs: Research and Management. 14, 301-314. Nogueira M. G., Henry R. & Maricatto F. E. (1999) Spatial and temporal heterogeneity in the Jurumirim Reservoir, São Paulo, Brazil. Lakes & Reservoirs: Research and Management. 4, 107-120. Nogueira M. G. (2001) Zooplankton composition, dominance and abundance as indicators of environmental compartimentalization in Jurumirim Reservoir (Paranapanema River), São Paulo, Brazil. Hydrobiologia. 455, 1-18. Nogueira M. G., Jorcin A., Vianna N. C. & Britto Y. C. T. (2006) Reservatórios em cascata e os efeitos na limnologia e organização das comunidades bióticas (fitoplâncton, zooplâncton e zoobentos) - um estudo de caso no rio Paranapanema (SP/PR). In: Ecologia de Reservatórios - Impactos Potenciais, Ações de Manejo e Sistemas em Cascata (eds Nogueira, M. G., Jorcin, A. & Henry R) pp. 83-125. Rima, São Carlos. Nogueira M. G., Oliveira P. C. R. & Britto Y. C. T. (2008) Zooplankton assemblages (Copepoda and Cladocera) in a cascade of reservoirs of a large tropical river (SE Brasil) Limnética (Madrid). 27, 151-170. Pace M. L., Findlay S. E. G. & Lints D. 91992) Zooplankton in advective environments: the Hudson River community and a comparative analysis. Can. J. Fish. Aquat. Sci. 49, 1060-1069. Paggi J C & José de Paggi S. B. (1990) Zooplankton of lotic and lenitic environments of the Middle Paraná River. Limnologica Brasiliensia. 3,685-719. 83 Pagioro T. A. & Thomaz S. M. (2002) Longitudinal patterns of sedimentation in a deep, monomitic subtropical reservoir (Itaipu, Brazil- Paraguay). Archives Hydrobiology. 154, 515-528. Panarelli E., Casanova S. M. C., Nogueira M. G., Mitsuka P. M. & Henry R. (2003) A comunidade zooplanctônica ao longo de gradientes longitudinais no Rio Paranapanema/Represa de Jurumirim (São Paulo, Brasil). In: Ecótonos nas interfaces dos ecossistemas aquáticos (ed. R. Henry) pp. 129-160. Rima, São Carlos. Perbiche-Neves G. & Nogueira M. G. (2010) Multi-dimensional effects on Cladoceran (Crustacea, Anomopoda) assemblages in two cascade reservoirs in Southeast Brazil. Lakes & Reservoirs: Research and Management. 15, 139-152. Pinto-Coelho R. M., Pinel-Alloul B., Méthot G. & Havens k. (2005) Crustacean zooplankton in lakes and reservoirs of temperate and tropical regions: variations with trophic status. Can. J. Fish. Aquat. Sci. 61, 348-361. Portinho J. L. (2011) Assembleias zooplanctônicas (Cladocera, Copepoda e Rotifera) e condições limnológicas no gradiente longitudinal barragem-jusante do reservatório de Itaipu, rio Paraná (Brasil, Paraguai e Prgentina). Dissertação, Unesp, Botucatu. Pourriot R., Rougier C. & Miquelis, A (1997) Origin and development of river zooplankton: example of the Marne. Hydrobiologia, 345:143-148. Reckendorfer W., Keckeis H., Winkler G. & Schiemer F. (1999) Zooplankton abundance in the River Danube, Austria: the significance of inshore retention. Freshwater Biology. 41, 583-591. Richardson W. B. (1992) Microcrustacea in flowing water: experimental analysis of washout times and a field test. Freshwat Biology. 28, 217-230. Sampaio E. V., Rocha O., Matsumura-Tundisi, T. & Tundisi, J. G. (2002) Composition and abundance of zooplankton in the limnetic zone of seven reservoirs of the Paranapanema River, Brazil. Brazilian Journal of Biology. 62, 525-545. Sarma S. S. S., Nandini S. & Gulati R. D. (2005) Life history strategiesof cladocerans: comparisons of tropical and temperate taxa. Hydrobiologia. 542, 315-333. 84 Schiemer F., Keckeis H., Reckendorfer W. & Winkler G. (2001) The ‘inshore retention concept’ and its significance for large rivers. Large Rivers. 12, 509–516. Serafim JR M., Lansac-Tôha F. A., Paggi J. C., Velho L. F. M. & Robertson B. (2003) Cladocera fauna composition in a river-lagoon system of the upper Paraná river floodplain, with a new record for Brazil. Braz. J. Biol. 63, 349- 356. Sendacz S. & Kubo E. (1999) Zooplâncton de reservatórios do Alto Tietê, Estado de São Paulo. In: Ecologia de Reservatórios: Estrutura, Função e Aspectos Sociais. (ed R. Henry) pp. 511-529. Fundibio, FAPESP, Botucatu. Souza-Filho E. E., Rocha P. C., Comunello E. & Stevaux, J. C. (2004) Effects of the Porto Primavera dam on physical environment of the downstream floodplain. In: The upper River Paraná River and its Floodplain (eds S. M. Thomaz, A. A. Agostinho & N. S. Hahn) pp. 55-74. Backhuys Publishers, Leiden. StatSoft, Inc. (2002) Statistica (data analysis software system). version 6.0 www.statsoft.com. Stevaux J. C., Martins D. P. & Meurer M. (2009) Changes in regulated tropical rivers: The Paraná River downstream Porto Primavera dam, Brazil. Geomorphology, 113, 230238. Straškraba M. (1999) Retention time as a key variable of reservoir limnology. In: Theoretical Reservoir Ecology and its Applications. (eds M. Straskraba & J. G. Tundisi) pp. 385-410. Brazilian Academy of Sciences, International Institute of Ecology and Backhuys Publishers, São Carlos, Brazil. Strickland J. D. & Parsons T. R. (1960) A manual of sea water analysis. Bull. Fish. Res. Bel. Can. 125, 1-185. Talling J. F. & Driver D. (1963) Some problems in the estimation of chlorophyll a in phytoplankton. In: Proceedings, Conference of primary productivity measurements in marine and freshwater. Hawaii: USAEE. pp. 142-146. Talling J. F. & Rzóska J. (1967) The development of plankton in relation to hydrological regime in the Blue Nile. Journal Ecology. 55, 637-662. 85 Tundisi J. G. (1994) Tropical South America: present and perspectives. In: Limnology now: a paradigm of planetary problems (ed R. Margalef) pp. 353-424. Elsevier Science B, Amsterdan. Vadadi-Fülöp C. (2012). Microcrustacean assemblages in a large river: on the importance of the flow regime. Hydrobiologia 702, 129-140. Valderrama J. G. (1981) The simultaneous analysis of total nitrogen and phosphorus in natural waters. Marine Chemistry. 10, 109-122. Vasquez E. & Rey J. (1989) A longitudinal study of zooplankton along the Lower Orinoco River and its Delta (Venezuela). Ann Limnol. 25, 107–120. Viroux L. (1997) Zooplankton developments in two large lowland rivers, the Moselle (France) and the Mouse (Belgium), in 1993. J. Plankton Research. 19, 1743-1762. Viroux L. (2002) Seasonal and longitudinal aspects of micro-crustacean (Cladocera, Copepoda) dynamics in a lowland river. Journal of Plankton Research. 24, 281292. Winner J. M. (1975) Zooplankton. In: River Ecology (ed. B. A. Wintton) pp. 155-169. Oxford University Press, Oxford. 86 Anexos 87 A) Mapa e Imagens dos Locais de Coleta Pontos de coleta na Bacia do Prata 88 EMB-M EMB-B SSIM-M SSIM-B FUR-M FUR-B AVER-M AVER-B Imagens dos pontos de amostragem nos reservatórios do alto Paraná - rios Paranaíba e Grande (Brasil). 89 BBON-M BBON-B TIRM-M TIRM-B JUR-M JUR-B ROS-M ROS-B Imagens dos pontos de amostragem nos reservatórios do alto Paraná - rios Tietê e Paranapanema (Brasil). 90 FARE-M FARE-B SCAX-M SCAX-B ISOL-M ISOL-B ITA-M ITA-B Imagens dos pontos de amostragem nos reservatórios do alto Paraná - rios Iguaçu e Paraná (Brasil e Paraguai). 91 YACI-M YACI-B RPAR-M1 RPAR-M2 RPAR-M3 RPAR-B1 RPAR-B2 RPAR-B3 Imagens dos pontos de amostragem em reservatórios e trechos lóticos do médio e baixo Paraná (Argentina e Paraguai). 92 MAC-M MAC-B RURU-M1 RURU-M2 SGRA-M SGRA-B RURU-B RPLA Imagens dos pontos de amostragem em reservatórios e trechos lóticos do rio Uruguai e no rio da Prata (Brasil, Argentina e Uruguai). 93 RPAG-A RPAG-M RPAG-B RBER Imagens dos pontos de amostragem nos trechos lóticos do rio Paraguai (Brasil, Argentina e Paraguai). 94 B) Metodologia utilizada em campo Imagens da metodologia empregada em campo. A. Deslocamento por vias rodoviárias, total de 27.000 km. B. Barco motorizado - acesso aos pontos de coleta. C. Aparelho de GPS – geo-referenciamento. D. Sonar – medição da profundidade. E. Disco de Secchi – transparência da água. F. Correntômetro – velocidade superficial da água em ambientes lóticos. G. Eureka Manta 2 – sonda multi-parâmetros. H. Garrafa de Van Dorn - coleta d’agua em diferentes profundidades. 95 C) Metodologia utilizada em campo e procedimentos laboratoriais Imagens da metodologia empregada para o zooplâncton (Cladocera). A. Método de coleta do zooplâncton - arrasto vertical. B. Fixação da amostra em campo. C. Depósito na Coleção Científica de Microcrustáceos de Águas Continentais (CCMAC), UNESP Botucatu. D. Lupa (Microscópio Esteroscópio Motorizado Discovery V20, Zeiss) E. Microscópico (Zeiss Standard 20). 96