Colóquio Internacional “Artes e Ciências em diálogo”
17 e 18 de Janeiro de 2013, Universidade do Algarve, Faro, Portugal
Contornar “Um erro de Deus”- complementaridade
artístico-científica na desmistificação e incorporação
social de um património natural único
Ana Moura Arroz1, Isabel Amorim2,3, Rita São Marcos1, Rosalina Gabriel2, Paulo A. V. Borges2 ,
Javier Torrent4
1
Azorean Biodiversity Group (GBA, CITA-A) and Platform for Enhancing Ecological Research & Sustainability (PEERS), Universidade
dos Açores, Dep. Ciências da Educação, 9700-042 Angra do Heroísmo, Portugal.
2
Azorean Biodiversity Group (GBA, CITA-A) and Platform for Enhancing Ecological Research & Sustainability (PEERS), Universidade
dos Açores, Dep. Ciências Agrárias, 9700-042 Angra do Heroísmo, Portugal.
3
4
Centre for Ecology, Evolution and Conservation, School of Biological Sciences, University of East Anglia, Norwich NR4 7TJ, UK
Castellon, España.
Palavras-chave: arte, ciência, multidisciplinaridade, património natural, educação ambiental, biodiversidade, endemismo
A imagem de marca dos Açores está associada a paisagens de uma natureza exuberante, pouco
intervencionada pelos seres humanos. No entanto, volvidos 500 anos de colonização do arquipélago,
constata-se que 97,5% da sua floresta nativa desapareceu, colocando em risco um património natural
exclusivo da Região. Ameaçados pelo rápido desaparecimento do seu habitat, os insetos representam o grupo
mais biodiverso dos Açores, com mais de 200 espécies endémicas (exclusivas da região) responsáveis por
funções fulcrais para o equilíbrio dos ecossistemas.
Integrada num projeto de investigação sobre especiação, foi desenhada, com uma colaboração estreita entre
a biologia, a entomologia, a psicologia social, o design de comunicação e a fotografia, uma intervenção
urbana para que, “trazendo os insetos à cidade”, se lhes reclame um lugar na esfera pública açoriana. A
delineação da estratégia comunicacional a accionar, partiu de resultados de inquéritos realizados na Região
que permitiram traçar a imagem que o público-alvo tinha dos insetos. Este diagnóstico revelou
desconhecimento, alguma aversão e indiferença relativamente à sua preservação corroborando-se ainda,
uma grande disparidade entre as visões dos biólogos e dos leigos acerca da importância dos insetos, do seu
papel na natureza e do seu valor patrimonial. A fim de se estimular a incorporação destes seres vivos no
imaginário dos açorianos, apostou-se no potencial imagético da macro-fotografia extrema em tornar
incontornávelmente visível aquilo que é naturalmente infímo e socialmente ignorado. Nesse sentido
representações hiperealistas de insetos endémicos foram criadas para ocupar, sobre telas, fachadas de
edificios de cidades açorianas. À estranheza incómoda e ameaçadora da intromissão espacial dos insetos na
via pública - que espelha a mesma lógica perceptiva que preside às visões da população acerca dos insetos aliou-se o design de comunicação, para a desconstruir. Através do copy, catapulta-se a mensagem num
sentido absolutamente contrário ao da imagem, humanizando os insetos, desmistificando crenças erróneas e
estabelecendo analogias discursivas para criativamente, criar empatia e descodificar conceitos cientificos
complexos.
Nesta comunicação serão exibidas as sinergias entre as ciências da vida, as ciências sociais, e as artes, na
concepção de um plano comunicacional no âmbito da conservação da natureza desde a sua fase de
diagnóstico ao modelo de avaliação de impactos concebido para aferir a alteração de conhecimentos,
atitudes e intenções no público-alvo em domínios em que a subjetividade inerente às práticas socialmente
construídas é frequentemente confundida com incomensurabilidade.
Colóquio Internacional “Artes e Ciências em diálogo”
17 e 18 de Janeiro de 2013, Universidade do Algarve, Faro, Portugal
Unidos pelo SOS– biólogos, psicólogos, designers e
entomólogos numa aliança estratégica para o controlo de
uma praga urbana
Ana Moura Arroz1, Rita São Marcos1,Rosalina Gabriel2, Paulo A. V. Borges2
1
Azorean Biodiversity Group (GBA, CITA-A) and Platform for Enhancing Ecological Research & Sustainability (PEERS), Universidade
dos Açores, Dep. Ciências da Educação, 9700-042 Angra do Heroísmo, Portugal.
2
Azorean Biodiversity Group (GBA, CITA-A) and Platform for Enhancing Ecological Research & Sustainability (PEERS), Universidade
dos Açores, Dep. Ciências Agrárias, 9700-042 Angra do Heroísmo, Portugal.
A infestação por térmita de madeira seca (Cryptotermes brevis) é considerada actualmente a praga urbana
com impactos mais graves no património construído de seis ilhas da Região Autónoma dos Açores. Quando,
em 2002, o problema eclodiu na esfera pública açoriana, para o enfrentar o Estado investiu no financiamento
de investigação sobre a ecologia da espécie e a eficácia comparativa de estratégias de dizimação. Os
investigadores, por seu turno, procuraram difundir os resultados do seu trabalho junto das comunidades
locais, dando primazia às tradicionais estratégias de divulgação científica. Tanto uns como outros
investimentos tiveram, porém, um impacto diminuto no controle da praga. Para reverter esta situação, foram
concebidos dois projectos de investigação em ciências sociais que exploraram as perspectivas dos cidadãos,
investigadores e políticos sobre o problema, a forma como estava a ser controlado e a confiança que
depositavam na resposta social accionada.
As dificuldades sentidas na conquista de audibilidade levaram a tornar operativa uma aliança estratégica
entre as ciências da vida, as ciências sociais e o design de comunicação que conduziria à concepção e
negociação de uma campanha de comunicação de risco (CR) com o poder regional e local dos cinco
municípios afectados. Nesta comunicação será tornado saliente o contributo do design de comunicação na
Campanha “SOS térmitas - Unidos na Prevenção” na delineação de estratégias comunicacionais que
incorporassem criativamente a percepção social do risco como factor impulsionador para o envolvimento dos
cidadãos no controlo da infestação.
A Campanha será ainda enquadrada nos princípios conceptuais e epistemológicos de um Programa de CR
mais vasto, traçando o seu percurso desde as fases de concepção e negociação até à implementação e
avaliação de impactos alcançados. Dando particular enfase às mais valias de uma abordagem multidisciplinar
na promoção de um modelo de governança informado por estudos de avaliação de risco, percepção e
confiança pública – para promover o diálogo entre stakeholders, mediar diferentes perspectivas em
presença com vista à consolidação da consciência social do risco e à assumpção partilhada de
responsabilidades no controlo da infestação.
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