OPS! ACHO QUE ESCREVI UM LIVRO RAY R. RAMOS 2 3 Prefácio Neste livro reuni a minha produção poética dos últimos três anos, há uma gradativa mudança nos temas abordados e na forma de aborda-los. Acredito que sempre fui um leitor assíduo e que arriscar-me na escrita era apenas uma consequência, mas ao final de contas, não me arrependo de dizer que gosto muito do que juntei aqui. Optei por usar uma ordem quase cronológica para organizar a disposição dos meus poemas. Os primeiros são produto da minha agora distante adolescência (ou seja, datam do longínquo ano de dois mil e dez) e vejo que neles eu usava uma escrita mais simples e um assunto mais repetitivo. “O Monstro da solidão” foi o poema que usei como encerramento dessa fase, pois nele vejo uma síntese de todo esse período. Então num segundo momento eu escrevi “Emancipação”, foi no começo desse ano, logo depois que eu finalizei o projeto “Eu Monstro Menino”. Este projeto foi extremamente importante para concluir o 4 meu primeiro estágio como poeta do qual eu falava anteriormente. Mas como eu ia dizendo, com “Emancipação”, do alto dos meus dezoito anos eu dei início a uma poesia rica em imagens e mais livre. Usei essa ordem para dispor os poemas simplesmente porque a achei mais simples e como esse este é o meu primeiro livro daria uma aparência mais uniforme para a seleção. Mas quero lembrar o leitor de que ele deve ler na ordem que achar melhor, de trás para frente, de cabeça para baixo e etc. Mas leia, pois acabam de me contar que eu não posso dar a opção de não ler. Boa leitura! Ray R. Ramos 5 OPS! ACHO QUE ESCREVI UM LIVRO 6 7 Esperanças em uma dor futura Se o tempo é relativo E a morte (ainda) uma certeza Então posso dizer que já morri Não sei se serei cremado Só sei que já morri Não sei para onde irei Só sei que já morri Não sei se doerá em mim Mas espero que doa em ti 8 Maldita Poesia Maldita poesia Que do nada me constrói E tudo em mim destrói Maldita poesia Que me engrandece Para me encolher Maldita poesia Que me pôs na vida Para ver a morte Maldita poesia Que me mostra o feio na sombra do bom 9 O desespero oculto na esperança A mentira por trás do amor Maldita poesia Que se faz maldita E necessária 10 Menino cinza Sou um menino para quem a lua nunca parece maior Para quem os pássaros não cantam Só gritam Para quem os beijos não têm sabor Os sabores não têm cheiros Os cheiros não têm sons Os sons não têm cores E todas as cores são cinza 11 Ocupante do Banco Vazio No banco de ônibus eu encolhido Tentando me misturar, Por mais estranho que tenha parecido, Com a parede desse transporte popular Ao meu lado no banco vazio Um anjo desasado veio se sentar De um jeito terno me sorriu Era a tristeza que pulou a roleta só para me fitar De tanta pena que lhe causei Até pensou em se levantar 12 Foi então que lhe apontei: Minha parada já estava por chegar 13 Monstro Menino Eu, Monstro Menino Rugindo ferido Escondido nas trevas Acuado, encolhido Eu, Monstro Menino Fingindo malvado Farsante genuíno De falar mentido Eu, Monstro Menino Tenho o espírito corroído Fui lesado pelo destino Quero ter do nome um pedaço subtraído 14 Para quem sabe Ser só Menino 15 O Nó Sempre, sempre essa mão Espremendo meu coração Essa angústia, essa agonia Essa dor que era para ir, mais não ia Essa coisa que me dá Que me faz pensar Em encher os pulmões com aquele pó Só para ver se desata esse nó