A eficácia do sacrifício.
Até que ponto os sacrifícios do Antigo Testamento foram eficazes?
Asseguravam realmente perdão e pureza? Que benefícios asseguravam para o
ofertante? Essas perguntas são de verdadeira importância, porque,
comparando e contrastando os sacrifícios levíticos com o sacrifício de Cristo,
poderemos compreender melhor a eficácia e finalidade do último. Este tema é
tratado na carta aos Hebreus. O escritor dirige-se a um grupo de cristãos
hebreus, os quais, desanimados pela perseguição, são tentados a voltar ao
Judaísmo e aos sacrifícios do templo. As realidades nas quais eles criam são
invisíveis, ao passo que o templo com seu ritual parece tangível e real. A fim
de evitar que tomassem tal decisão, o escritor faz a comparação entre o Antigo
e o Novo Concertos, sendo imperfeito e provisório o Antigo, mas perfeito e
eterno o Novo. Voltar ao templo e ao seu sacerdócio e sacrifício seria desprezar
a substância preferindo a sombra, o perfeito pela imperfeição. O argumento é
o seguinte: o Antigo Concerto era bom, na medida de sua finalidade e para o
seu determinado propósito ao qual foi constituído; mas o Novo Concerto é
melhor.
(a) Os sacrifícios do Antigo Testamento eram bons. Se não fossem, não
teriam sido divinamente ordenados. Eles eram bons no sentido de terem
cumprido um determinado propósito incluído no plano divino, isto é, um meio
de graça, para que aqueles do povo de Jeová que haviam pecado contra ele
pudessem voltar ao estado de graça, serem reconciliados, e continuarem no
gozo de comunhão com ele. Quando o israelita havia fielmente cumprido as
condições, então podia descansar sobre a promessa; "o sacerdote por ele fará
expiação do seu pecado, e lhe ser perdoado" (Lev. 4:26). Quando um israelita
esclarecido trazia oferta, estava ele cônscio de duas coisas: primeira, que o
arrependimento em si não era o suficiente; era indispensável uma transação
visível que indicasse o fato de ser removido o pecado. (Heb. 9:22.) Mas
por outro lado, ele aprendia com os profetas que o ritual sem a correta
disposição interna do coração também era mera formalidade sem valor. O ato
de sacrifício devia ser a expressão externa dos sacrifícios internos de louvor,
oração, justiça e obediência — sacrifícios do coração quebrantado e contrito.
(Vide Sal. 26:6; 50:12-14; 4:5; 51:16; Prov. 21:3; Amós 5:21-24; Miq. 6:6-8;
Isa. 1:11-17.) "O sacrifício (oferta de sangue) dos ímpios é abominação ao
Senhor", declarou Salomão (Prov. 15:8). Os escritores inspirados, em termos
claros externaram o fato de que as "emoções ritualistas não acompanhadas de
emoções de justiça eram devoções inaceitáveis".
[b)
O
sacrifício
único
do
Novo
Testamento
é
melhor.
Embora reconhecessem a divina ordenação de sacrifícios de animais,
os israelitas esclarecidos certamente compreendiam que esses animais não
podiam ser o meio perfeito de expiação.
1) Havia grande disparidade entre um irracional e irresponsável e o
homem feito à imagem de Deus. Era evidente que o animal não constituía
sacrifício inteligente e voluntário. Não havia nenhuma comunhão entre o
ofertante e a vítima. Era evidente que o sacrifício do animal não podia
comparar-se em valor à alma humana, nem tampouco exercer qualquer poder
sobre o homem interior. Nada havia no sangue da criatura irracional que
efetuasse a redenção espiritual da alma, a qual somente seria possível
pela oferta duma vida humana perfeita. O escritor inspirado externou o que
certamente foi a conclusão à qual chegaram muitos crentes do Antigo
Testamento, quando disse: "Porque é impossível que o sangue dos touros e dos
bodes tire os pecados" (Heb. 10:4). Quando muito, os sacrifícios eram apenas
meios temporários e imperfeitos de cobrir o pecado até que viesse uma
redenção mais perfeita. A lei levou o povo à convicção dos pecados (Rom.
3:20), e os sacrifícios tornaram inoperantes esses pecados de forma que
não podiam provocar a ira divina.
2) Os sacrifícios de animais são descritos como "ordenanças carnais", isto
é, são ritos que removeram contaminações do corpo, e expiaram atos externos
do pecado (Heb. 9:10) mas em si mesmos nenhuma virtude espiritual
possuíam "... o sangue dos touros e bodes... santifica, quanto à purificação da
carne" (Heb. 9:13); isto é, fizeram expiação pelas contaminações que
excluíam um israelita da comunhão na congregação de Israel. Por exemplo, se
a pessoa se contaminasse fisicamente seria considerada imunda e cortada da
congregação de Israel até que se purificasse e oferecesse sacrifício (Lev. 5:1-6);
ou se ofendesse materialmente seu próximo, estaria sob a condenação até
que trouxesse uma oferta pelo pecado (Lev.6:1-7). No primeiro caso o sacrifício
purificava a contaminação carnal; no segundo, o sacrifício fazia expiação pelo
ato externo mas não mudava o coração). O próprio Davi reconheceu que
estava preso por uma depravação da qual os sacrifícios de animais não o
podiam libertar (Sal. 51:16; vide 1Sam. 3:14}; ele orou a Deus pedindo a
renovação espiritual que sacrifícios não podiam proporcionar (Sal 51:6-10).
3) A repetição dos sacrifícios de animais denuncia a sua imperfeição; não
podiam aperfeiçoar o adorador (Heb. 10:1, 2), isto é, não podiam dar-lhe uma
posição ou relação perfeita perante Deus, sobre a qual pudesse edificar a
estrutura do seu caráter. Não podia experimentar de uma vez para sempre
uma transformação espiritual que seria o inicio duma nova vida.
4) Os sacrifícios de animais eram oferecidos por sacerdotes imperfeitos; a
imperfeição de seu ministério era indicada pelo fato de que não podiam entrar
a qualquer hora no Santo dos Santos, e, portanto, não podiam conduzir o
adorador diretamente à divina presença. "Dando nisto a entender o Espírito
Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto..." (Heb. 9:8).
O sacerdote não dispunha de nenhum sacrifício pelo qual pudesse conduzir o
povo a uma experiência espiritual com Deus, e dessa forma tomar o adorador
perfeito "quanto à consciência" (Heb. 9:9). Ao ser interpelado o israelita
espiritual com respeito às suas esperanças de redenção, ele diria, à luz do
mesmo discernimento que o fez perceber a imperfeição dos sacrifícios de
animais, que a solução definitiva era aguardada no futuro, e que a
perfeita redenção estava em conexão, de alguma maneira, com a ordem
perfeita que se inauguraria à vinda do Messias. Em verdade, tal revelação foi
concedida a Jeremias. Esse profeta havia desanimado de crer que o povo seria
capaz de guardar a lei; seu pecado fora escrito com pena de ferro (Jer. 17:1),
seu coração era enganoso e mau em extremo (Jer. 17:9). Não podiam mudar o
coração como o etíope não podia mudar a cor de sua pele (Jer. 19:23); tão
calejados estavam e tão depravados eram, que os próprios sacrifícios não lhes
podiam valer (Jer. 6:20). Na realidade, haviam-se esquecido do propósito
primordial desses sacrifícios. Do ponto de vista humano o povo não oferecia
nenhuma esperança, mas Deus confortou a Jeremias com a promessa da
vinda dum tempo quando, sob uma nova aliança, os corações do povo seriam
transformados, quando haveria então uma perfeita remissão dos pecados (Jer.
31:31-34). "Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei
dos seus pecados." Em Heb. 10:17, 18 encontramos a inspirada interpretação
dessas últimas palavras em que se concretizaria uma redenção perfeita
mediante um sacrifício perfeito que dava a entender que os sacrifícios de
animais haviam de desaparecer. (Vide Heb. 10:6-10.) Por meio desse sacrifício
o homem desfruta duma experiência "uma vez para sempre" que lhe dá uma
aceitação perfeita perante Deus. O que não se conseguiu pelos sacrifícios da
lei obteve-se pelo perfeito sacrifício de Cristo. "E assim o sacerdote aparece
cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que
nunca podem tirar os pecados; mas este, havendo oferecido um único
sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus..." (Heb.
10:11, 12).
5) Resta uma questão a ser considerada. é certo que havia
pessoas verdadeiramente justificadas antes da obra expiatória de Cristo.
Abraão foi justificado pela fé (Rom. 4:23) e entrou no reino de Deus (Mat. 8:11;
Luc. 16:22); Moisés foi glorificado (Luc. 9:30, 31); e Enoque e Elias foram
transladados. Sem dúvida houve muitas pessoas santas em Israel que
alcançaram a estatura espiritual desses homens dignos. Sabendo que os
sacrifícios de animais eram insuficientes, e que o único sacrifício perfeito era o
de Cristo, em que base então foram salvos esses santos do Antigo Testamento?
Foram salvos por antecipação do futuro sacrifício realizado. A prova dessa
verdade encontra-se em Heb. 9:15 (vide também Rom. 3:25), que ensina que a
morte de Cristo era, em certo sentido, retroativa e retrospectiva; isto é, que
tinha uma eficácia em relação ao passado. Hebreus 9:15 sugere o seguinte
pensamento: a Antiga Aliança era impotente para prover uma redenção
perfeita. Cristo completou essa aliança e inaugurou a Nova Aliança com a sua
morte, a qual efetuou a "redenção das transgressões que estavam debaixo
do primeiro testamento". Isso significa que Deus, ao justificar os crentes do
Antigo Testamento, assim o fez em antecipação da obra de Cristo, "a crédito",
por assim dizer; Cristo pagou o preço total na cruz e apagou a dívida. Deus
deu aos santos do Antigo Testamento uma posição, a qual a Antiga Aliança
não podia comprar, e assim o fez em vista duma aliança vindoura que podia
efetuar. Se perguntassem aos crentes do Antigo Testamento se durante a sua
vida gozaram dos mesmos privilégios que aqueles que vivem sob o Novo
Testamento, a resposta seria negativa. não havia nenhum dom permanente do
Espírito Santo (João 7:39) que acompanhasse seu arrependimento e fé; não
gozavam da plena verdade sobre a imortalidade revelada por Cristo (2 Tim.
1:10), e, de modo geral, eram limitados pelas imperfeições da dispensação
na qual viviam. O melhor que se pode dizer é que apenas saborearam algo das
boas coisas vindouras.
Editora Vida, 2006
ISBN 8573671440
Título original: Knowing the Doctrines of the Bible
Tradução: Lawrence Olson
Reeditado por SusanaCap, a partir de arquivo txt encontrado na web. *
Agradecimentos ao Dumane pela digitalização do Cap.VIII, que faltava.
* Obs.: Algumas referências bíblicas estavam ilegíveis e não puderam ser recuperadas
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A eficácia do sacrifício. Até que ponto os sacrifícios do Antigo