Universidade Federal da Bahia Instituto de Biologia Curso de Ciências Biológicas 2015.1 Classificações Taxonômicas e a Sistemática Filogenética NO CONTEXTO DA DISCIPLINA BIOB40 POR: Marcelo Felgueiras Napoli BIOB40: Fundamentos de Taxonomia Zoológica Escolas Taxonômicas I. As classificações biológicas e as escolas propriamente ditas: 1.1. Escola Lineana, Essencialista ou Tipológica Fundamentada na lógica Aristotélica = ontologia essencialista. 1.2. Escola Catalográfica Sistemática descompromissada do conhecimento da evolução biológica. 1.3. Escola Gradista (ou sintética) • Classificações Biológicas: devem incluir informações outras além das exclusivamente de parentesco; • Grado ou “Grau evolutivo”: composição de um ou mais agrupamentos com base em caracteres de interação com o ambiente = adaptações ecológicas como principal objeto no estudo das modificações evolutivas; • Baseava-se em semelhanças, sem definir quais eram exclusivas; • Não tinha critérios bem definidos (métodos) para agrupar táxons, isto quando eram enunciados Continua no próximo slide Chondrichthyes: irradiações adaptativas Neoselachii 1ª. Irradiação Cladoselachida Xenacanthida Chondrichthyes 1ª. Irradiação Elasmobranchii 2ª. Irradiação Holocephali 2ª. Irradiação Hybodontes 3ª. Irradiação Neoselachii Galeomorfos Squalomorfos Batóides Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 1. Galeomorpha: tubarões, 01 nadadeira anal. Heterodontiformes Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 1. Galeomorpha: tubarões, 01 nadadeira anal. Cação-carpete: (Orectolobus) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 1. Galeomorpha: tubarões, 01 nadadeira anal. Cação-lixa (Ginglymostoma) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 1. Galeomorpha: tubarões, 01 nadadeira anal. Tubarão-baleia: (Rhincodon typus ) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 1. Galeomorpha: tubarões, 01 nadadeira anal. Mangona: (Carcharias taurus ) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 1. Galeomorpha: tubarões, 01 nadadeira anal. Anequim: (Isurus oxyrinchus ) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 1. Galeomorpha: tubarões, 01 nadadeira anal. Tubarão-megaboca: (Megachasma pelagios) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 1. Galeomorpha: tubarões, 01 nadadeira anal. Tubarão-raposa: (Alopias) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 1. Galeomorpha: tubarões, 01 nadadeira anal. Tubarão-peregrino: (Cetorhinus maximus) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 2. Squalomorfa: tubarões, ausência de nadadeira anal. Cação-bargre: (Squalus acanthias) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 2. Squalomorfa: tubarões, ausência de nadadeira anal. Cação-charuto: (Isistius brasiliensis) Elasmobranchii: 3ª irradiação adaptativa 3. Batoidea: raias Escolas Taxonômicas: Sistemática Fenética (Taxonomia Numérica) 1.3. Sistemática Fenética: Sneath & Sokal (1973) Numerical Taxonomy - The Principles and Practice of Numerical Classification - Surgiu no final da década de 1950 com o advento dos computadores eletrônicos. Princípios 1. Uma classificação será cada vez melhor pelo aumento do conhecimento sobre os táxons contidos em uma classificação e pelo aumento do número de caracteres sobre os quais esta classificação está baseada [já que se aproximaria do número total de caracteres que constituem os táxons] 2. A priori, todo caráter tem o mesmo peso na criação de táxons naturais; 3. A similaridade geral entre duas entidades quaisquer é devida às suas similaridades individuais considerando-se cada um dos caracteres utilizados nas comparações; 4. Táxons distintos podem ser reconhecidos porque correlação de caracteres difere entre os grupos de organismos em estudo; 5. Inferências filogenéticas podem ser feitas a partir das estruturas taxonômicas dos grupos e das correlações de caracteres, dadas certas premissas sobre as vias e mecanismos evolutivos; 6. A Taxoomia é vista e praticada como um ciência empírica; 7. Classificações são baseadas em similaridade fenética. Foi o primeiro conjunto de ideias organizado em torno de um método que valorizou a objetividade em detrimento da autoridade e do conhecimento prévio acerca da evolução, além de ter introduzido na sistemática o que hoje é praticamente tão comum quanto o uso de lápis e papel: a utilização de computadores, matrizes de dados e algoritmos matemáticos.(...). A prática classificatória contemporânea aproxima-se mais da objetividade estatística da taxonomia numérica do que dos apriorismos da taxonomia evolutiva (fonte: Morphy, C.D.S., 2008 Scienti ae studia, 6). Objetivos i. Facilitar a reunião de um grande número de dados de evolução, aparentemente incongruentes, e encontrar explicações convincentes (Hennig era praticamente desconhecido); ii. Terminar com o subjetivismo das classificações tradicionais: não havia métodos objetivos e os critérios para modificações das classificações eram fracos, enviesados ou não existiam; iii. Fornecer um sistema operacional objetivo para atividades de identificação taxonômica. Escolas Taxonômicas: Sistemática Fenética (Taxonomia Numérica) Método (síntese): i. Agrupa os táxons (espécies) de maneira crescente na hierarquia. Espécies similares são agrupadas em gêneros similares, os quais são agrupados em famílias similares e assim por diante. ii. Unidade básica: unidade taxonômica operacional (OTU, em inglês, operational taxonomic unit) que é a menor entidade taxonômica usada em um estudo. Podem ser espécies ou táxon de categoria superior, ou amostras de populações ou indivíduos. iii. Tenta-se identificar e amostrar o maior número de caracteres em cada estudo. iv. Os dados são organizados em uma matriz de OTU’s. v. Os estados dos caracteres são normalmente codificados de forma binária (presença/ausência) ou em classificações multiestado. vi. Os códigos são analisados em grupo no computador que produz uma matriz de similaridade ou de distância de coeficientes = semelhanças ou diferenças de todas as formas de pareamento das OTU’s. vii. Fenograma: representa os resultados de modo hierárquico. Escolas Taxonômicas: Sistemática Fenética (Taxonomia Numérica) Exemplo comentado 2. Matriz binária de estados de caracteres 1. Código binários para os estados de caracteres hipotéticos Taxa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 C. aus 1 0 1 1 1 0 1 0 1 1 1 1 C. bus 1 1 1 1 1 0 1 1 0 0 0 0 Character Number Character States Character States 1 0=bowed 1=straight C. cus 1 1 1 1 1 0 0 1 0 0 0 0 2 0=absent 1=present C. dus 0 1 1 1 0 1 1 1 0 0 0 0 3 0=blue 1=yellow C. eus 0 1 0 0 0 1 1 1 0 0 0 0 4 0=absent 1=present 5 0=yellow 1=green 6 0=absent 1=present 7 0=equal 1=smaller 8 0=rounded 9 3. Matriz de distâncias (diferenças) para os cinco táxons do grupo. Taxa C. aus C. bus C. cus C. dus C. eus 1=pointed C. aus 0 6 7 9 11 0=separate 1=fused C. bus ---- 0 1 3 5 10 0=one tip 1=bifurcated C. cus ---- ---- 0 4 6 11 0=present 1=absent C. dus ---- ---- ---- 0 2 12 0=orange 1=green C. eus ---- ---- ---- ---- 0 Escolas Taxonômicas: Sistemática Fenética (Taxonomia Numérica) Exemplo comentado (continuação) 1 4. Matriz de distâncias organizada pela ordem de similaridade crescente entre os táxons Taxa C. dus C. eus C. bus C. cus C. aus C. dus 0 2 3 4 9 C. eus ---- 0 5 6 11 C. bus ---- ---- 0 1 6 C. cus ---- ---- ---- 0 7 C. aus ---- ---- ---- ---- 0 5. Construção do dendrograma fenético: cálculo das distâncias entre os táxons mais semelhantes. C. cus + C. bus (distância = 1) – Grupo A C. dus + C. eus (distância = 2) – Grupo B C. aus: mais diferente de todos – distâncias de 6-11 6. Cálculo da distância entre os táxons mais similares (semelhança média dos caracteres) GRUPO A vs. GRUPO B (3 + 4) + (5 + 6) = 18 18/4 = 4.5 GRUPO A vs. C. aus 6 + 7 = 13 13/2 = 6.5 GRUPO B vs. C. aus 9 + 11 = 20 20/2 = 10.0 GRUPO A + GRUPO B vs. C. aus 9 + 11 + 6 + 7 = 33 33/4 = 8.25 Escolas Taxonômicas: Sistemática Fenética (Taxonomia Numérica) Principais Críticas à Escola da Sistemática Fenética 1 1. Dalton Amorim (2005): “um fenograma é a produção de classes essencialistas, abstratas, descompromissadas de significado biológico e histórico”. 2. Mickevich & Johnson (1976 Syst. Zool) e Mickevich (1978 Syst. Zool.), como discutido por Wiley (1981): i. Estabilidade: classificações fenéticas são menos estáveis do que as filogenéticas. ii. As informações suplementares não aumentam a estabilidade como feneticistas previram. iii. Homoplasia: seus efeitos são mais acentuados na fenética. iv. A Sistemática filogenética é melhor porque separa estados plesiomórficos, apomórficos e não homólogos e emprega esta informação ao nível adequado de universalidade (Mickevich, 1978). v. Classificações fenéticas somente contêm informação sobre similaridade geral (semelhança média). Não discriminam quais semelhanças são de natureza plesiomórfica, apomórfica ou homoplástica. FUTURO: poder-se-ia considera-la abandonada. A Escola Cladística: O Método e a Nomenclatura Filogenética • Willi Hennig (1966) • MÉTODO de reconstrução para as relações de parentesco entre as espécies e grupos de espécies; • FUNDAMENTO BÁSICO: utilização de características exclusivas para definir os CLADOS; • CLASSIFICAÇÕES BIOLÓGICAS: reflexo in equívoco do conhecimento atual sobre as relações de parentesco entre táxons. A Escola Cladística: O Método e a Nomenclatura Filogenética I. Séries de Transformação: Plesiomorfia e Apomorfia Sequência linear de modificações que determinada estrutura sofreu, tornando-se sucessivamente mais derivada. Condição (estado) Apomórfica Condição (estado) Plesiomórfica Três diferentes tipos de séries de transformação: A. Apenas duas condições, plesiomórfica e apomórfica; B. Condições sucessivamente apomórficas, em que cada estado do caráter só resulta uma modificação mais apomórfica. C. Condição Plesiomórfica inicial, uma condição apomórfica dela originada e três condições apomórficas distintas que surgem independentemente a partir da condições apomórfica intermediária. a a b b c d e c a b d e Táxons que compartilham a condição mais derivada de uma série de transformação também compartilham todas as condições apomórficas anteriores dessa série. O Método e a Nomenclatura Filogenética II. Homologia e Analogia Estruturas homólogas: Estruturas homólogas têm a mesma origem embrionária ou evolutiva; portanto, são derivadas de um ancestral comum. Na prática: Como se identificar homologias? Critérios Indiretos 1. Estruturas que têm formas parecidas; 2. Estruturas que têm a mesma posição em relação a outras do corpo; 3. Ontogenia: a partir de células ou tecidos que ocupavam posição similar em estágios embrionários iniciais. Estruturas análogas: Apresentam função semelhante, mas não compartilham ancestralidade comum. São co-temporais. O Método e a Nomenclatura Filogenética Estruturas homólogas Estruturas análogas O Método e a Nomenclatura Filogenética III. Características compartilhadas: Simplesiomorfias e Sinapomorfias • Estados de uma série de transformação: APOMÓRFICOS ou PLESIOMÓRFICOS • Compartilhamento de estados APOMÓRFICOS por grupos de táxons = SINAPOMORFIAS • Compartilhamento de estados PLESIOMORFIAS por grupos de táxons = SIMPLESIOMORFIAS. Logo, Um caráter é SINAPOMÓRFICO para um conjunto de todas as espécies que compartilham a condição APOMÓRFICA de um caráter. E Um caráter é SIMPLESIOMÓRFICO para um conjunto de todas as espécies que compartilham a condição PLESIOMÓRFICA de um caráter. O Método e a Nomenclatura Filogenética IV. Como se determinar, de um par de condições homólogas e diferentes entre si, qual é a APOMÓRFICA e a PLESIOMÓRFICA? 4.1 – O MÉTODO ERRADO A. O fato de uma característica (estado/condição de um caráter) ser comum ou rara dentro de um grupo NUNCA pode ser tomada como indicador da polaridade do caráter. B. A condição apomórfica de um caráter que surgiu no início da evolução (= condição a’ do caráter a na figura) será relativamente comum no grupo. C. A condição apomórfica de um caráter que surgiu tardiamente (=condição b’ do caráter b) será rara no grupo. O Método e a Nomenclatura Filogenética IV. Como se determinar, de um par de condições homólogas e diferentes entre si, qual é a APOMÓRFICA e a PLESIOMÓRFICA? 4.2 – O MÉTODO DE COMPARAÇÃO COM GRUPOS EXTERNOS (Hennig 1966; Watrous & Wheeler 1981; Wiley 1981; Nelson & Platnick 1981; Maddison et al. 1984; Nixon & Carpenter 1993): A. A condição PLESIOMÓRFICA é aquela que pode ser encontrada em GRUPOS EXTERNOS aoD. qual estamos analisando (=grupo interno); B. PREMISSA DE MONOFILETISMO do grupo interno (ver Colless 1967 [feneticista] para o problema da regressão infinita – sempre será necessária hipótese anterior e mais abrangente (inclusiva) de monofilia para se analisar o grupo interno. C. Não é possível iniciar um estudo de análise filogenética sem antes delimitar um suposto grupo monofilético maior, dentro do qual pretende-se estudar relações de parentesco. Recomendação: Primeiramente devem ser resolvidas, mesmo que preliminarmente, as relações de parentesco em nível mais abrangente, delimitando um grupo que seja monofilético, para só então iniciar a análise do subgrupo de interesse. MAS... O QUE É UM GRUPO MONOFILÉTICO O Método e a Nomenclatura Filogenética V. Grupo Monofilético Conjunto de espécies incluindo um ancestral e todas as suas espécies descendentes. O Método e a Nomenclatura Filogenética VI. Grupo Merofilético Corresponde a um grupo monofilético maior do qual se retirou um grupo monofilético menor ou um grupo merofilético menor. É o que sobra quando de um grupo monofilético quando se retiram uma ou mais de suas espécies descendentes. Parafilético (Bernardi 1981): são grupos merofiléticos que resultam da exclusão de um ou mais grupos monofiléticos do menor grupo monofilético de que fazem parte. [tracejado vermelho ao lado] Polifilético (Bernardi 1981): são grupos merofiléticos que resultam da exclusão de pelo menos um grupo parafilético do menor grupo monofilético de que fazem parte. [tracejado verde ao lado] O Método e a Nomenclatura Filogenética VI. Grupo Merofilético Corresponde a um grupo monofilético maior do qual se retirou um grupo monofilético menor ou um grupo merofilético menor. É o que sobra quando de um grupo monofilético quando se retiram uma ou mais de suas espécies descendentes. Parafilético (Bernardi 1981): são grupos merofiléticos que resultam da exclusão de um ou mais grupos monofiléticos do menor grupo monofilético de que fazem parte. Polifilético (Bernardi 1981): são grupos merofiléticos que resultam da exclusão de pelo menos um grupo parafilético do menor grupo monofilético de que fazem parte. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Filogenia; 25/05/2015. O Método e a Nomenclatura Filogenética VII. Paralelismos e Convergências: HOMOPLASIAS Correntemente, é a limitação mais grave da Sistemática Filogenética. HOMOPLASIAS: todos os casos de semelhança derivada adquirida independentemente em diferentes espécies ou táxons supra específicos. 1. Paralelismo: em duas espécies diferentes uma mesma condição PLESIOMÓRFICA é alterada de modo idêntico, produzindo nas duas espécies uma condição APOMÓRFICA semelhante. 2. Convergência: em duas espécies diferentes, condições PLESIOMÓRFICAS diferentes são alteradas, mas resultam em condições APOMÓRFICAS finais semelhantes. 3. Reversão: em uma espécie uma característica APOMÓRFICA sofre uma nova APOMORFIA que resulta em uma forma final semelhante a PLESIOMÓRFICA original O Método e a Nomenclatura Filogenética Convergência Ictiossauro Tubarão Golfinho O Método e a Nomenclatura Filogenética VIII. Conflitos e Parcimônia CONGRUÊNCIA: um grupo (A+B ou C+D) está completamente incluído em outro (A+B+C+D) e um grupo (A+B ou C+D) exclui completamente o outro = inclusão completa OU exclusão completa entre os conjuntos. Diagrama de Wenn Diagrama de Wenn Um grupo não está completamente incluído no outro e um grupo não exclui completamente o outro. OU SEJA, um INCONGRUÊNCIA: par de caracteres é incongruente entre si quando apenas uma parte das espécies que compartilha condições apomórficas de um dos caracteres compartilha a condição apomórfica do outro caráter. O Método e a Nomenclatura Filogenética VIII. Conflitos e Parcimônia PARCIMÔNIA: Escolha da topologia com menor número de passos evolutivos. Hipóteses econômicas = parcimoniosas: aquelas que exigem o menor número de premissas. Cladogramas que admitem o menor número de eventos de surgimento de condições apomórficas de caracteres seriam mais aceitáveis que cladograma que admitem um número maior de eventos. Construção de Cladogramas I. Politomias e Cladogramas possíveis 1.1. Grupo monofilético com apenas dois táxons subordinados. A B 1.2. Grupo monofilético com três táxons subordinados (terminais). i. (A) Tricotomia inicial, indicando a ausência de conhecimento das relações de proximidade filogenética entre os três táxons terminais. ii. (B-D) As três únicas soluções possíveis para a tricotomia, quando se exclui a possibilidade de eventos de partição simultânea de uma espécie ancestral em três descendentes. iii. (E-G) Variações gráficas de um cladograma com a mesma informação filogenética que à da figura B, em que A e B tem um ancestral comum que não é ancestral de C. Construção de Cladogramas I. Politomias e Cladogramas possíveis Solução para cladogramas com quatro táxons terminais. A. Politomia inicial. B. (B-P) As 15 possíveis soluções, sem inclusão de eventos de especiação múltipla. Tabela 1. Progressão do número de cladogramas possíveis para grupos com 1 a 22 táxons terminais sem politomias (Felsenstein 1978): Número de táxons terminais Número de Cladogramas 1 1 5 105 6 945 7 10.395 8 135.135 10 34.459.425 22 13.113.070.457.687.988.603.440.625 Construção de Cladogramas I. Politomias e Cladogramas possíveis Importante 1: O aparecimento sucessivo de hipóteses de monofilia reduz gradativamente o número de cladogramas possíveis. Veja o exemplo abaixo e ao lado: A. Politomia com 10 táxons terminais = 34 milhões de cladogramas possíveis; B. Adição de uma hipótese de monofilia (A, B, C, D, E, F (G, H, I, J)): B.1. Politomia com 7 ramos = 10.395 soluções possíveis; B.2. Tetratomia com 4 ramos = 14 soluções possíveis. B.3. Conjugação das possibilidades das duas politomias: 155.925 soluções possíveis = eliminação de 34.273.500 possibilidades! C. Adição de uma segunda hipótese de monofilia (A, B (C, D, E, F) (G, H, I, J)): exclui-se mais 122.850 possibilidades = restam 33.075 cladogramas possíveis (0,096% do total das hipóteses iniciais). Construção de Cladogramas I. Politomias e Cladogramas possíveis 1. Cladogramas não são hipóteses únicas, completamente verdadeiras ou completamente falsas. 2. Correspondem a conjuntos de suposições. Cada hipótese de monofilia de um subgrupo em um cladograma pode ser correta ou falsa e a alteração de uma hipótese não invalida necessariamente as demais. 3. Cladogramas são inferências (ou hipóteses) permanentemente sujeitas a transformação. 4. Inferências que ao serem testadas podem levar a alterações do cladogramas: i. Afirmações sobre homologia primária dos caracteres; ii. Afirmações sobre polaridade dos caracteres; iii. Afirmações sobre homologias secundárias (se as apomorfias compartilhadas são sinapomorfias ou homoplasias; e se plesiomorfias compartilhadas são simplesiomorfias ou reversões); iv. Afirmações sobre a monofilia dos táxons. 5. Apenas alguns caracteres podem ser suficientes para gerar um cladograma confiável, mas o cladograma gerado é uma hipótese que deve servir para todos os caracteres. 6. Um bom cladograma tem o poder de retrovisão, isto é, o de determinar indiretamente fatos já ocorridos na evolução. Construção de Cladogramas I. Consenso 1. Há situações em que são obtidas topologias iguais com distribuições diferentes de caracteres e mesmo número de passos; 2. Há situações em que são obtidas topologias diferentes, mas com o mesmo número de passos; 3. Consenso: síntese da informação filogenética entre cladogramas conflitantes. Consiste no aproveitamento da informação comum e na possibilidade de eliminação da informação conflitante. Tipos de Consenso: Próximo slide Cladogramas de um mesmo grupo, mas com topologias diferentes e mesmo número de passos. Tipos diferentes de Consenso: A, Consenso de Adams; B, Consenso estrito; C, Consenso de maioria. Construção de Cladogramas I. Consenso 1. 2. 3. Consenso de Adams: considerar-se-á no cladograma final (consenso) um grupo monofilético que não seja conflitante com grupos monofiléticos de outros cladogramas. Consenso estrito (Sokal & Rohlf 1981: considerar-se-á somente grupos monofiléticos presentes em todos os cladogramas. Consenso de maioria (Margush & McMorris 1981): considerar-se-á no cladograma de consenso os grupos monofiléticos presentes na maioria dos cladogramas, haja ou não conflito entre eles. QUAL ESCOLHER (AMORIM 2005: 68-69)? i. ii. iii. Adotar os três tipos de análise e produzir três árvores de consenso; Não adotar nenhum consenso e exibir os vários cladogramas conflitantes; Escolher um método de consenso como melhor e somente apresenta-lo. Cladogramas de um mesmo grupo, mas com topologias diferentes e mesmo número de passos. Tipos diferentes de Consenso: A, Consenso de Adams; B, Consenso estrito; C, Consenso de maioria. Exercício comentado: Amorim (1994: 89-91) Matriz polarizada de caracteres de um grupo hipotético com oito táxons terminais (A-H). Não há incongruência entre caracteres: não há homoplasias no cladograma resultante. Condição Plesiomórfica Condição Apomórfica 1 2 3 4 5 6 A 0 1 0 0 0 0 B 0 1 1 0 0 0 C 0 1 1 0 0 0 D 0 0 0 0 1 0 E 1 0 0 0 1 0 F 1 0 0 1 1 1 G 1 0 0 1 1 1 H 1 0 0 0 1 1 Exercício comentado: Amorim (1994: 89-91) A B C D E F G H 1 0 0 0 0 1 1 1 1 2 1 1 1 0 0 0 0 0 A 3 0 1 1 0 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 1 1 0 5 0 0 0 1 1 1 1 1 B C 2 6 0 0 0 0 0 1 1 1 A B C D E F G H A B C D E F G H A D E F G H 1 3º Passo: Reúna as informações de uma cladograma no outro. H Faça agora você mesmo todos os demais caracteres... 2º Passo: Cada caráter isoladamente + condição apomórfica Faça agora você mesmo todos as demais reuniões e gere o cladograma final. F G 2 1 1º Passo: Politomia Original B C D E A B CD E F G H 4 3 2 Topologia Final 1 5 6 Classificações Filogenéticas Hennig: “Classificações biológicas devem ser um reflexo inequívoco do conhecimento atual sobre as relações de parentesco entre os táxons”. Em outras palavras... • Todos os táxons da classificação devem ser monofiléticos; • Todas as informações entre grupos irmãos devem estar expressas. E, portanto... Como só existe uma filogenia verdadeira, só há uma classificação possível; portanto, a classificação filogenética deve ser idêntica à filogenia do grupo tratado. Classificações Filogenéticas: Exemplo (Amorim, 2002:96) Classificações Filogenéticas: Cladogramas vs. Classificações Amorim, 2002:99-109. Normas gerais: 1. Todos os táxons devem corresponder a grupos monofiléticos, ou se a monofilia do táxon não está determinada, isto deve estar claro; 2. Todos os níveis de generalidades dos grupos devem ser expressos ou devem ser passíveis de reconhecimento; 3. Deve ser possível reconhecer as relações entre grupos irmãos; 4. Deve ser possível reconhecer a que grupo maior um grupo menor está relacionado. Ø Representação das relações de parentesco em classificações filogenéticas (Nelson, 1972) Há duas maneiras: • por Subordinação • por Sequenciação Neste curso veremos somente o tipo “Subordinação” a título de exemplo. Classificações Filogenéticas: Cladogramas vs. Classificações Amorim, 2002:99-102. Subordinação: 1. Grupos de níveis hierárquicos subordinados diferentes têm sempre categorias taxonômicas de nível menor que aquela do grupo mais abrangente; 2. Todos os grupos monofiléticos do cladograma têm um nome próprio e estão representados na classificação; 3. Táxons irmãos sempre têm a mesma categoria taxonômica. Desvantagens, A B C D M N E O Superclasse M Classe A Classe N Subclasse B Subclasse O Infraclasse C Infraclasse D Infraclasse E 1. 2. 3. segundo Amorim (2002): Classificação de grupos muito grandes exige número elevado de categorias para que todos os níveis da filogenia sejam representados; Inclusão de novos táxons inclusivos altera necessariamente todas as categorias associadas aos táxons subordinados abaixo deste nível; Resulta em grande número de nomes redundantes (qdo. São dados dois ou mais nomes para o mesmo táxon, cada um dos quais associados a uma categoria).