XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 AS NECESSIDADES DE AFILIAÇÃO, REALIZAÇÃO E PODER E AS RELAÇÕES COM AS DIMENSÕES DO COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL Simone Alves Pacheco de Campos (UFSM) [email protected] Vania de Fátima Barros Estivalete (UFSM) [email protected] Mauri Leodir Löbler (UFSM) [email protected] Eliete dos Reis (UFSM) [email protected] Este estudo tem como objetivo estabelecer relações entre as necessidades de realização, afiliação e poder e as dimensões do comprometimento organizacional. Para tanto, utilizou-se uma abordagem quantitativa, de cunho exploratório, através dde um estudo de caso em uma organização que atua na fabricação e comercialização de vagões ferroviários, localizada no interior do estado do Rio Grande do Sul. Participaram da pesquisa 153 colaboradores. Os resultados indicaram que a necessidade mais valorizada pelos colaboradores é a de realização. Quanto às dimensões do comprometimento organizacional, a dimensão mais valorizada é a normativa. Ao estabelecer relações entre as necessidades de afiliação, realização e poder e as dimensões do comprometimento organizacional, observouse que a maior correlação encontrada residiu entre a necessidade de realização e a dimensão afetiva. É importante ressaltar que a necessidade de poder não obteve correlações significativas com nenhuma das dimensões do comprometimento organizacional. Palavras-chaves: Realização, afiliãção, poder, comprometimento organizacional XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 1. Introdução As relações de trabalho entre os indivíduos e as organizações estão atravessando um período de mudanças e transformações e tem se tornado cada vez mais complexas impulsionando novas direções no que concernem às alterações no nível de exigência individuais e organizacionais. Esta complexidade e exigência têm colocado os indivíduos em situações desafiadoras, na medida em que passam a exigir-lhes o desenvolvimento de novas competências e a busca permanente de diferenciais que os mantenham em condições de competir no mercado de trabalho. Estes aspectos também se configuram como desafios para as organizações que necessitam desenvolver técnicas de gestão capazes de satisfazer o público externo e interno. Neste cenário, surgem as políticas de gestão de pessoas, como estratégias para estabelecer canais de interação entre a organização e seus colaboradores e, de certa forma, influenciar seus comportamentos e atitudes, a fim de suprir suas expectativas e necessidades, gerando assim um maior comprometimento com a organização. Sob esta perspectiva, torna-se relevante ampliar a compreensão sobre os motivos e necessidades mais valorizadas pelos colaboradores, pois conforme o entendimento de Kolb, Rubin e Mcintyre (1978), as pessoas têm necessidades diferentes e conseqüentemente vêm o mundo de forma diferente. Na visão de McClelland (1972), estas necessidades podem ser apreendidas ou socialmente adquiridas às quais variam de individuo para indivíduo, sendo que estes são motivados pelo alcance de três necessidades básicas, a saber: necessidade de realização, necessidade de afiliação e necessidade de poder (McCLELLAND, 1972). Assim como as necessidades sociais, o comprometimento organizacional torna-se uma importante ferramenta para descrever o relacionamento existente entre os indivíduos e a organização da qual fazem parte (WANG, 2007). Nesta mesma linha, Meyer e Allen (1991) entendem o comprometimento organizacional como um estado psicológico que liga o indivíduo à organização a partir do estudo de três dimensões entendidas como: afetiva, instrumental e normativa. Assim, inspirados no construto de McClelland (1972), Meyer e Allen (1991), Meyer, Allen e Smith (1993) e Medeiros e Enders (1997), emergiu a seguinte inquietação que motivou a realização desta pesquisa: Qual a relação entre as necessidades de realização, afiliação e poder e as dimensões do comprometimento organizacional? Desta forma, o objetivo geral deste estudo está centrado em estabelecer a relação entre as necessidades de realização, afiliação e poder e as dimensões do comprometimento organizacional. Visando responder a motivação inicial e atingir o objetivo proposto, este estudo tem seu foco de análise voltado a uma organização que atua na fabricação e comercialização de vagões ferroviários localizada no interior do estado do Rio Grande do Sul. Desta forma, foram definidos os seguintes objetivos específicos que balizaram a realização desta pesquisa: (i) diagnosticar os necessidades/motivos sociais mais valorizados, segundo a perspectiva dos colaboradores da empresa estudada e; (ii) identificar as dimensões do comprometimento organizacional priorizadas pelos mesmos. A relevância desta pesquisa substancia-se no fato de que o estudo das necessidades socialmente adquiridas e do comprometimento organizacional podem vir a auxiliar na compreensão das relações entre o indivíduo e a organização a fim de entender seu comportamento e as razões que levam o indivíduo a permanecer como membro da 2 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 organização. Para responder o problema de pesquisa e atingir o objetivo proposto, o presente trabalho está estruturado em mais cinco seções, além da introdução: na seção dois aborda-se o referencial teórico que balizou a realização deste estudo. Na seção três é apresentada a arquitetura metodológica que possibilitou a operacionalização da pesquisa. Na seção quatro são apresentados os resultados alinhados com os objetivos propostos. Na seção cinco abordam-se as considerações finais e por fim as referências bibliográficas utilizadas no estudo em questão. 2. Referencial Teórico 2.1 As Necessidades de Afiliação, Realização e Poder: Uma visão sob a Perspectiva de McClelland No campo de estudos acerca de comportamento organizacional, a teoria das necessidades de McClelland (1972) tem sido amplamente utilizada nos estudos de motivação, liderança, clima e aprendizagem organizacional. Ainda sobre a teoria proposta por McClelland (1972), acrescenta-se a contribuição de Gomes (2002) ao enfatizar que a mesma tem como característica ser voltada ao ambiente, se relacionando dessa forma à conceitos de aprendizagem e resolução de problemas. A teoria desenvolvida por McClelland (1972) pressupõe que, como os indivíduos têm diferentes necessidades, tem percepções diferentes a cerca da realidade (KOLB, RUBIN, McYTIRE; 1978). Dessa forma, McClelland (1972) afirma que existem necessidades aprendidas e socialmente adquiridas, as quais variam de indivíduo para indivíduo, sendo que estes são motivados pelo alcance de três necessidades básicas, a saber: necessidade de realização, necessidade de afiliação e necessidade de poder. Bowditch e Buono (2000) afirmam que cada pessoa, em determinado momento, é influenciada por necessidades de afiliação, realização ou poder, e que a intensidade e a influência desta necessidade varia de acordo com a situação. Entretanto, de acordo com estes mesmos autores, cada indivíduo desenvolve uma tendência dominante para determinada necessidade, tendo por base suas experiências anteriores (BOWDITCH e BUONO, 2000). Um importante aspecto relacionado à teoria proposta por McClelland (1972), de acordo com o entendimento de Kolb, Rubin e Mcintyre (1978), reside no fato de que as necessidades de afiliação e poder serem necessidades orientadas interpessoalmente, ou seja, relacionadas ao grupo, enquanto a necessidade de realização está diretamente relacionada ao próprio indivíduo. No que diz respeito a necessidade de realização, McClelland (1972) afirma que esta é relativa a necessidade que o individuo tem de realização pessoal. Essa necessidade pode ser entendida como uma orientação para a excelência, preferência por riscos moderados e a procura constante por feedback com o objetivo de melhorar o seu desempenho (REGO e LEITE, 2003) McClelland (1972) afirma que pessoas que manifestam necessidades de realização desejam alcançar metas de difícil alcance e exigem elevado padrão de sucesso, assim como o domínio de tarefas complexas. Robbins (2005) advoga que quando há uma forte necessidade de realização, o individuo busca a realização pessoal mais do que a recompensa pelo sucesso, já que deseja fazer algo melhor e de maneira mais eficiente do que já foi feito. A necessidade de afiliação, segundo o entendimento de McClelland (1972), diz respeito a necessidade que o indivíduo apresenta em estabelecer relacionamentos afetivos e positivos 3 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 com outras pessoas. Nesta mesma linha, Robbins (2005), afirma que esta necessidade encontra-se ligada ao desejo de relacionamentos interpessoais próximos e amigáveis. Os indivíduos com necessidades de afiliação apresentam um forte desejo de aprovação de outras pessoas (MCCLELLAND, 1972). Robbins (2005) corrobora com o entendimento de McClelland (1972) ao enfatizar que estes indivíduos costumam buscar amizade, apresentam preferências por situações de cooperação ao invés de competição e envolvem-se em relacionamentos que apresentem um alto grau de compreensão mútua. De acordo com o entendimento de Jaepil (2006) a necessidade de afiliação encontra-se ligada a necessidade de manter relacionamentos e auto-afirmação perante o grupo. Neste sentido, Mcclelland e Burnham (2003) ressaltam que, gestores com altas necessidades de afiliação, por desejar fortemente a aceitação do grupo, estão mais propensos a favorecer interesses particulares de alguns membros do grupo para manter e estabelecer relacionamentos afetivos tendo em vista a aceitação dos mesmos. A necessidade de poder é descrita por McClelland (1972) como uma preocupação, por parte do individuo, com o controle dos meios de influenciar os demais. Segundo o entendimento de Kolb, Rubin e Mcintyre (1978), as pessoas movidas pela necessidade de poder apresentam características, tais como: lutam por influenciar os outros, preferem situações competitivas e controlam os canais de informação, objetivando aumentar sua auto-imagem e prestígio. Além disto, pessoas que manifestam tais necessidades tendem a se preocupar mais com status e influência do que em obter um desempenho eficaz (ROBBINS, 2005). Cabe, ainda, acrescentar que, de acordo com o entendimento Kolb, Rubin e McIntyre (1978), não se deve confundir uma alta necessidade de poder com comportamentos abusivos por parte do gestor. Sob esta mesma ótica, Mcclelland e Burnham (2003) afirmam que é importante que os gestores apresentem necessidades de poder, entretanto estas devem ser orientadas somente por objetivos de crescimento pessoal e para o crescimento da organização. 2.2 As Dimensões do Comprometimento Organizacional De um modo geral, segundo Meyer e Allen (1991), entre as questões de grande preocupação sobre comprometimento organizacional, está a falta de consenso na definição do mesmo. Na realidade Bastos (1993), afirma que podem ser identificadas distintas abordagens do constructo que envolvem conceituações e argumentos de mensuração diferenciadas. Entretanto, comprometimento organizacional, de acordo com Meyer e Allen (1991), é um estado psicológico que liga o indivíduo a organização. Neste sentido, baseado nos construtos desses autores torna-se pertinente elucidar as principais vertentes do tema. O modelo de comprometimento organizacional, proposto por Meyer e Allen (1991) engloba três dimensões de maior importância: Afetiva, Instrumental e Normativa. Para esses autores, o fator comum dessas três dimensões consiste na afirmação de que a “visão do comprometimento é um estado psicológico o qual (a) caracteriza o relacionamento do empregado com a organização, e (b) tem implicações na decisão de continuar ou não como membro da mesma” (MEYER e ALLEN, 1991, p. 67). A primeira dimensão, enfoque “afetivo”, também denominado atitudinal enfatiza o processo pelo qual as pessoas se identificam com os valores e objetivos da organização, desejando manter-se membro de maneira a facilitar o alcance desses objetivos (MEYER e ALLEN, 1991). Esta dimensão do comprometimento organizacional foi baseada nos estudos de Mowday, Porter e Steers (1982) que observaram quatro categorias de variáveis antecedentes do comprometimento afetivo: caracterísitas pessoais, características estruturais, estados do 4 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 papel e experiências no trabalho. Dentre esses antecedentes, as características pessoais e as características organizacionais tendem a produzir correlações fracas com a dimensão afetiva do comportamento (MEYER e ALLEN, 1991; SIQUEIRA e GOMIDE JUNIOR, 2004). A segunda dimensão, instrumental/continuação, diz respeito ao comprometimento visto como função das recompensas e custos, associados à condição do indivíduo deixar a organização (MEYER e ALLEN, 1991). De acordo com o pressuposto desses autores, o indivíduo sente que precisa permanecer na empresa, devido aos fortes laços que possui com a mesma. Esta dimensão instrumental, é proveniente dos estudos de Becker (1960) que, descreve o comprometimento como uma tendência do indivíduo em se engajar em linhas consistente de atividade na empresa, o que chamou de side bets ou trocas laterais, relacionando-se à troca e aos múltiplos investimentos feito pelo indivíduo, tornando custoso o ato de sair da organização (BASTOS, 1993). Referente aos antecedentes do comprometimento instrumental, Meyer e Allen, (1991), corroboram que devido a dimensão deste comprometimento refletir no reconhecimento de custos associados ao indivíduo deixar a organização, qualquer fato que cause um aumento nestes custos pode ser considerado como um antecedente. A terceira dimensão, designada como normativa, segundo Bastos (1993), provém dos estudos de Wiener (1982) e Wiener e Vardi (1982), os quais sugerem que o sentimento de obrigação que leva o indivíduo a permanecer na organização pode ser resultado de uma internalização de pressões normativas, de forma que se comporte conforme os interesses e objetivos da mesma. Assim, no entendimento de Wiener (1982), essas pressões normativas são procedentes da cultura da empresa, que determina sua ação e seu comportamento na organização. Neste sentido, de acordo com Siqueira e Gomide Jr (2004), o comprometimento normativo abrange pensamentos de reconhecimento de obrigações e deveres morais do indivíduo para com a organização, acompanhados de sentimentos de culpa, incômodo, apreensão e preocupação por planejar-se desligar-se dela. Relativo aos antecedentes do comprometimento normativo, Meyer e Allen (1991) exprimem ser a socialização organizacional e socialização cultural. Segundo Siqueira e Gomide Jr (2004), a socialização cultural inclui experiências culturais advindas do convívio familiar e social antes do indivíduo entrar na organização, enquanto que a socialização organizacional ocorre depois que o indivíduo entra na organização . Por fim, é importante acrescentar que, de acordo com a ótica de Meyer e Allen (1991) é possível encontrar num mesmo indivíduo mais de uma das dimensões do comprometimento como, por exemplo, uma forte necessidade (instrumental), uma forte obrigação (normativo) e um baixo desejo (afetivo) de permanecer na empresa, sugerindo a possibilidade de existir combinações entre as três dimensões na composição do comprometimento organizacional. 3. Metodologia Visando atender aos objetivos delineados neste estudo realizou-se uma pesquisa de natureza quantitativa e de caráter exploratório. O objetivo principal deste tipo de pesquisa é desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, para que possam ser formuladas abordagens posteriores (GIL, 1999). No que diz respeito ao método de investigação, utilizouse o método do estudo de caso. De acordo com o entendimento de Yin (2005), este método objetiva a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real. O objeto de análise do estudo foi uma organização que atua na fabricação e comercialização de vagões ferroviários, localizada na região centro do estado do Rio Grande do Sul. A escolha 5 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 desta empresa foi do tipo intencional ou seleção racional (BARROS e LEHFELD, 2004), tendo em vista a importância exercida pela mesma na região em que atua. Esta empresa está presente na região desde 2005 sendo constituída sob a forma de joint-venture. Atualmente, a organização é uma das maiores fabricantes de vagões do Brasil, tendo como diferencial a fabricação de vagões customizados. A empresa estudada possui 238 colaboradores, os quais foram distribuídos em oito grupos funcionais, sendo eles: Técnico Operacional, Assistente, Auxiliar, Operador, Encarregado, Líder, Gerente e Analista. Participaram da presente pesquisa 153 colaboradores, devido ao fato de que alguns colaboradores estavam afastados por motivos diversos, e, outros optaram por não responder. Dos 153 que participaram da pesquisa, 132 foram agrupados no nível operacional e 21 foram agrupados no nível administrativo. Convém destacar que, os cargos de Gerente e Analista, foram agrupados no nível administrativo para garantir a confidencialidade das informações. No que se refere aos 153 sujeitos pesquisados, os resultados revelaram que quase a totalidade, ou seja, 144 pessoas pertencem ao sexo masculino (94,1%), sendo que apenas 9 pertencem ao sexo feminino (5,9%). Sobre a escolaridade dos mesmos, 45 deles (29,4%) possui ensino médio completo e, 33 possuem ensino médio incompleto (21,6%). É importante salientar que apenas 5 pessoas possuem curso superior completo (3,3 %). Percebe-se, também que 42,4% dos respondentes têm acima de 36 anos de idade, o que representa um fator significativo, caracterizando um quadro funcional jovem. Quanto ao grupo funcional dos pesquisados, há uma maior concentração (57%) pertencentes ao grupo denominado “Técnico Operacional”, o qual abrange os cargos: mecânico montador, mecânico ajustador, pintor, soldador, pedreiro, prototipista, jardineiro, porteiro e motorista. O segundo grupo funcional com maior expressividade foi o denominado “Auxiliar”, o qual abarca os cargos de auxiliar de almoxarifado, auxiliar contábil, auxiliar de corte e dobra de compras, auxiliar de departamento de pessoal, auxiliar de manutenção, auxiliar de mecânico, auxiliar de pintor e auxiliar de serviços gerais. Outro aspecto a ressaltar é quanto ao tempo de empresa dos entrevistados. Os resultados revelaram que a maioria dos pesquisados (52,9%) está na empresa a menos de um ano, percebendo-se, assim, que há alto turnover nesta organização, o que deve ser considerado nas análises posteriores sobre as necessidades mais valorizadas e o comprometimento organizacional. Como método de coleta de dados foi aplicado um questionário elaborado a partir de dois construtos teóricos. O primeiro refere-se à teoria das necessidades socialmente adquiridas de McClelland (1972), que classifica as necessidades em três tipos: afiliação, realização e poder. Com base no referencial teórico foram elaboradas questões afirmativas, apresentadas na forma de escala tipo likert de 5 pontos, variando de discordo (1) a concordo (5). O segundo refere-se à avaliação do comprometimento organizacional, que teve como base o modelo conceitual de três componentes do comprometimento (afetivo, instrumental e normativo), proposto por Meyer e Allen (1991) e Meyer, Allen e Smith (1993), validado no Brasil por Medeiros e Enders (1997). Cabe salientar que, para fins desta pesquisa, optou-se por utilizar somente duas questões para cada dimensão do comprometimento, no sentido de facilitar a coleta de dados. As questões, assim como no primeiro construto, também foram apresentadas na forma de escala tipo likert composta de 5 pontos. A Figura 1 sintetiza o modelo de pesquisa utilizado. 6 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Necessidades Sociais Dimensões do Comprometimento Meyer e Allen (1991); Meyer, Allen e Smith (1993) Medeiros e Enders (1997) McClelland (1972) Afiliação Realização Poder Afetivo Normativo Instrumental Figura 1 – Desenho da Pesquisa Elaborado pelos autores Para o processamento e análise dos dados quantitativos foram utilizados os softwares “Windows Excel®” e “Statistical Package for the Social Sciences – SPSS 13.0” a fim de realizar os testes estatísticos descritivos, teste t para diferenças de médias e correlação de Pearson, detalhados na seção de resultados. 4. Resultados 4.1 Ampliando a Compreensão sobre as Necessidades de Afiliação, Realização e Poder e as Dimensões do Comprometimento Organizacional: A Percepção dos Colaboradores Com o objetivo de diagnosticar as necessidades mais valorizadas pelos colaboradores da empresa objeto do presente estudo, foram calculadas as médias e os desvios-padrão de cada necessidade, conforme pode ser visualizado no Quadro 1. Necessidades Afiliação Poder Realização Média 3,79 3,29 4,41 Desvio Padrão 1,17 1,12 0,82 Quadro 1 – Médias Necessidades Analisando os dados constantes no Quadro 1, pode-se perceber que a maior média encontrada (4,41) refere-se a necessidade de realização. Indivíduos com necessidade de realização preferem trabalhar com altos níveis de responsabilidade, feedback e um grau médio de riscos (ROBBINS, 2005). Segundo o entendimento de Hitt, Miller e Colella (2007), pessoas com alta necessidade de realização não costumam aceitar facilmente os objetivos estabelecidos por outras pessoas, preferindo estabelecer seus próprios objetivos. Estes dados merecem uma maior apreciação, haja vista que as pessoas participantes da presente pesquisa, em sua maioria, pertencem ao grupo funcional “Técnico-operacional”. Esse grupo engloba tarefas essencialmente técnicas e de natureza basicamente operacionais e rotineiras, não envolvendo um nível maior de dificuldade e de desafios. Estes resultados podem ser um indicativo de que as pessoas que atuam na organização pesquisada almejam assumir níveis maiores de responsabilidades, bem como desempenhar tarefas mais difíceis e desafiadoras, pois como afirmam Hitt, Miller e Colella (2007, p. 167) “existem poucas razões para se esperar que pessoas que têm forte necessidade de realização desempenhem particularmente bem tarefas enfadonhas e rotineiras”. 7 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 A necessidade que obteve a menor média (3,29) foi a necessidade de poder. Os indivíduos com esta necessidade, de acordo com o entendimento de Robbins (2005), se caracterizam por serem pessoas que “gostam de estar no comando”, buscando exercer influência sobre os outros. As pessoas com alta necessidade de poder aspiram por ascensão profissional, pela conquista de maior status e de maior prestígio e, desejam influenciar o comportamento das outras pessoas (ROBBINS, 2005; McCLELLAND, 1972). Os resultados justificam-se pela natureza do trabalho exercido pela maior parte dos participantes da pesquisa, onde a prioridade não demonstra estar centrada na busca por status, prestígio e autoridade, uma vez que se concentram em atividades de cunho eminentemente técnico e operacional. Em relação às necessidades socialmente adquiridas, propostas por McClelland (1972), constata-se à percepção compartilhada entre os pesquisados evidenciada pelos baixos desviospadrão, conforme o Quadro 1, comprovando que os respondentes foram coerentes em suas opiniões, não havendo grande variabilidade. A fim de verificar se há diferença significativa entre as médias encontradas, foi realizado um teste t para amostras pareadas. A realização deste teste deve-se ao fato de os conjuntos de observação estarem relacionados aos mesmos respondentes (MALHOTRA, 2006). Através da realização do teste t, observou-se que os resultados encontrados são significativos, já que o valor de sigma resultou menor que 0,05, conforme visualiza-se no Quadro 2. Pares Realização – Afiliação Realização – Poder Afiliação – Poder Diferença entre Pares Média Desvio 0,6209 1,3475 1,1176 1,2719 0,4967 1,4695 t Sig 5,699 10,869 4,181 0,000 0,000 0,000 Quadro 2 – Teste t para as necessidades sociais Ao analisar os resultados apresentados no Quadro 2, percebe-se que a necessidade de realização é a necessidade mais valorizada por apresentar médias estatisticamente superiores quando comparada às demais. Por outro lado, a necessidade de poder obteve médias estatisticamente inferiores, o que demonstra ser esta a de menor valorização. A maior diferença entre as médias reside entre as necessidades de realização e poder (1,1176). Isto equivale a dizer que os respondentes demonstraram ter maior necessidade de realização à poder. A menor diferença encontrada entre as médias reside entre as necessidades de afiliação e poder (0,4967). Sobre o resultado encontrado, acrescenta-se a contribuição de Kolb, Rubin e Mcintyre (1978) de que estas necessidades encontram-se ligadas a aspectos relacionados à interação do indivíduo com o seu grupo. Diante desta perspectiva, cabe acrescentar a contribuição de Rego e Carvalho (2002, p.20) de que “os mais afiliativos tendem a procurar relações pessoais fortes, esforçam-se por conquistar amizades, atribuem mais importância às pessoas do que às tarefas, procuram a aprovação social.” Na análise dos resultados da escala de comprometimento organizacional, buscando atender ao segundo objetivo do estudo, foram realizadas análises de estatísticas descritivas (médias e desvio-padrão) dos itens das variáveis do comprometimento organizacional (Quadro 3), e 8 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 também, o teste t para amostras pareadas visando verificar se há diferença significativa entre as dimensões. Necessidades Instrumental Afetivo Normativo Média 3,2745 3,9314 4,0882 Desvio Padrão 0,9950 0,8566 0,7908 Quadro 3 – Media e Desvio Padrão das Dimensões do Comprometimento Organizacional Fonte: Dados da Pesquisa Em relação às dimensões do comprometimento organizacional priorizadas pelos colaboradores da empresa estudada, os resultados encontrados sinalizam para uma maior valorização da dimensão normativa (média igual a 4,0882) em detrimento das outras. Estes resultados atentam para o fato de que os funcionários permanecem na empresa, pois há um sentimento de obrigação que permeia o relacionamento entre a organização e os indivíduos (MEYER e ALLEN, 1991). Observou-se, também, que a dimensão menos valorizada pelos sujeitos pesquisados foi a instrumental (média igual a 3,2745). Isto revela que os funcionários da empresa não associam sua saída da organização à custos e também que estes acreditam terem outras alternativas de emprego, caso viessem deixar a empresa (MEYER e ALLEN, 1991). Em relação às dimensões do comprometimento constata-se uma coerência nas opiniões dos entrevistados, evidenciada pelos baixos desvios-padrão, conforme observa-se no Quadro 3, revelando que não houve grande variabilidade nas respostas. Para verificar se há diferença significativa entre as dimensões do comprometimento organizacional, no caso específico deste estudo, foi realizado o teste t para amostras pareadas, conforme mostra o Quadro 4. Pares Instrumental – Afetivo Instrumental – Normativo Afetivo – Normativo Diferença entre Pares Média Desvio -0,6569 1,1478 -0,8137 1,0651 -0,1569 0,7769 t Sig -7,079 -9,450 -2,498 0,000 0,000 0,014 Quadro 4 – Teste t para as Dimensões do Comprometimento Organizacional Observa-se, através da análise dos dados constantes no Quadro 4, que há diferença significativa entre as médias das dimensões do comprometimento organizacional, pois os valores de sigma encontrados são menores que 0,05. Com os resultados obtidos através do teste t, torna-se possível inferir que a dimensão priorizada pelos respondentes é a dimensão normativa. De acordo com Siqueira (2002) a dimensão normativa do comprometimento é composta pelas crenças do indivíduo acerca da sua dívida social ou obrigatoriedade em retribuir um favor para com a organização. Por outro lado, a dimensão menos valorizada pelos pesquisados foi a dimensão instrumental. De acordo com Guimarães (2007) o comprometimento organizacional instrumental é decorrente de uma avaliação positiva dos resultados dos investimentos do funcionário, bem como a possibilidade percebida de perder ou não ter como repor vantagens decorrentes dos investimentos feitos na organização, caso viesse a se desligar dela. A fim de estabelecer relações entre as necessidades socialmente adquiridas e as dimensões do comprometimento organizacional e visando atingir o objetivo central deste estudo, foi feita a 9 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 analise de correlação linear, pois de acordo com Aaker, Kumar e Day (2001), a corrrelação visa medir o grau em que existe associação linear entre duas variáveis intervalares. O quadro 5 mostra os resultados obtidos. Afetivo Instrumental Normativo Realização 0,367** 0,162* 0,348** Afiliação 0,180* 0,197* 0,205* Poder 0,124 0,030 0,052 *Correlação é significativa ao nível de 0,05 **Correlação é significativa ao nível de 0,01. Quadro 5 – Matriz de Correlação entre as Necessidades Sociais e as Dimensões do Comprometimento Organizacional Através da análise do Quadro 5, percebe-se que há correlação entre as necessidades de afiliação e realização e as três dimensões do comprometimento organizacional. Entretanto, observa-se que, a necessidade de poder não demonstrou correlação com nenhuma das dimensões do comprometimento analisadas. A partir dos resultados obtidos através do cálculo do coeficiente de correlação, percebe-se que todas as correlações encontradas foram positivas. Entende-se por correlação positiva uma tendência de que um valor alto em uma variável esteja associado a um valor alto em outra (AAKER, KUMAR e DAY, 2001). Quanto as intensidades das correlações, os resultados revelam que estas encontram-se em um intervalo de intensidade baixa e muito baixa, pois foram obtidos resultados abaixo de 0,2 (entre as necessidade de afiliação e realização e a dimensão instrumental do comprometimento e, entre a necessidade de afiliação e a dimensão afetiva), e entre 0,2 e 0,39 (entre as necessidades de realização e a dimensão afetiva do comprometimento e entre as necessidades de realização e afiliação e a dimensão normativa) (PESTANA e GAGEIRO, 2000). O maior valor entre as correlações analisadas foi para a necessidade de realização e a dimensão afetiva (0,367). Indivíduos com necessidades de realização desejam assumir responsabilidade pessoal pelo seu sucesso ou fracasso (KOLB, RUBIN e MCINTYRE, 1978), desejam fazer algo melhor ou de maneira mais eficiente do que já foi feito anteriormente, buscando sempre a excelência (ROBBINS, 2005). Já o comprometimento afetivo é tido por Meyer e Allen (1991), como o desejo do indivíduo de manter-se como membro da organização e esforçar-se em prol da mesma. Os achados de Steers (1977) vão ao encontro dos resultados analisados, por associar as necessidades de realização com o desenvolvimento do comprometimento afetivo. O comprometimento afetivo, segundo esse mesmo autor, apresenta como antecedentes as características pessoais, organizacionais e as experiências do indivíduo no trabalho, sendo a necessidade de realização uma das características pessoais. A menor correlação encontrada foi para a necessidade de realização e a dimensão instrumental (0,162). Estes resultados são coerentes, pois no entendimento de Rego e Carvalho (2002), as pessoas com alta necessidade de realização gostam de aperfeiçoar suas competências pessoais, esforçam-se para melhorar seus resultados e tentam desenvolver o seu trabalho de modo inovador. Para Hrebiniak e Alutto (1972), o comprometimento instrumental é definido como um fenômeno estrutural que resulta das transações entre o indivíduo e a organização e as alterações nos benefícios adquiridos (side bets) e investimentos realizados pelo indivíduo em 10 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 seu trabalho ao longo do tempo. Nesta mesma linha, Bastos (1993), afirma que as trocas laterais (side bets) seriam os múltiplos investimentos feitos pelo indivíduo, como desenvolvimento de habilidades, que tornam custoso o abandono da organização. Pode-se inferir que o desenvolvimento dessas habilidades, sejam pré-requisitos para o alcance da auto-realização o que comprova a baixa correlação encontrada entre a necessidade de realização e a dimensão instrumental. 5. Considerações Finais A realização deste estudo proporcionou ampliar o entendimento das relações existentes entre a teoria das necessidades socialmente adquiridas e as dimensões do comprometimento organizacional. Dessa forma, o estudo realizado teve como objetivos: (i) diagnosticar as necessidades sociais mais valorizadas, segundo a perspectiva dos colaboradores da empresa estudada; (ii) identificar as dimensões do comprometimento organizacional priorizadas pelos colaboradores, e (iii) estabelecer relações entre as necessidades e as dimensões do comprometimento organizacional. Este estudo teve como foco de análise uma empresa localizada na região centro do estado do Rio Grande do Sul, que atua no segmento industrial. No que se refere às necessidades socialmente adquiridas, observou-se que a necessidade de realização é a mais valorizada pelos colaboradores da empresa objeto do presente estudo. Neste sentido, os resultados encontrados revelaram que os colaboradores estão preocupados com elevados padrões de excelência e desempenho, estando envolvidos com o alcance de objetivos a longo prazo, de modo a aperfeiçoar a forma de desenvolver o seu trabalho (KOLB, RUBIN e McINTYRE, 1978). Cabe acrescentar, ainda, o entendimento de Hitt, Miller e Colella (2007) de que as pessoas com forte necessidade de realização desempenham bem tarefas difíceis e desafiadoras, o que pode sugestionar a motivação para busca de necessidades desta natureza. Em outras palavras, de acordo com esses autores, essas pessoas desejam fazer as coisas melhor e de maneira mais eficaz do que as outras pessoas já possam ter feito (HITT, MILLER e COLELLA, 2007). Ainda se referindo as necessidades socialmente adquiridas, os resultados demonstraram ser a necessidade de poder a de menor valorização. De acordo com Hitt, Miller e Colella (2007), as pessoas que apresentam forte necessidade de poder institucional desejam influenciar outras pessoas por razões altruístas, ou seja, elas estão preocupadas com o funcionamento da organização e têm desejo de servir a outras pessoas. Além disto, pessoas que apresentam forte necessidade de poder pessoal desejam influenciar as outras pessoas para o seu próprio ganho pessoal (HITT, MILLER e COLELLA, 2007). Esses resultados justificam-se pelo fato de que a maior parte das atividades desenvolvidas pelos entrevistados é de natureza técnica e operacional, onde a prioridade não demonstra estar centrada na busca pelo exercício do poder visando obter status e prestígio. Quanto às dimensões do comprometimento organizacional, os resultados do estudo demonstraram que a dimensão mais valorizada pelos colaboradores da empresa é a normativa. Esta dimensão sugere um foco central dos controles normativos (normas e regulamentos) e uma missão forte e disseminada na organização (WIENER, 1982). Sob a ótica de Siqueira e Gomide Jr (2004), a dimensão normativa diz respeito ao reconhecimento de obrigação e deveres morais do funcionário para com a organização, que são acompanhados de sentimentos de culpa, incômodo, apreensão e preocupação por pensar ou planejar deixar a empresa da qual faz parte. Em contrapartida, a dimensão menos priorizada foi a instrumental, o que vale dizer que os respondentes não percebem como um custo o fato de deixar a organização (MEYER e 11 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 ALLEN, 1991). Ao estabelecer relações entre as necessidades de realização, afiliação e poder e as dimensões afetiva, instrumental e normativa, percebeu-se que a maior correlação encontrada residiu entre as necessidades de realização e o comprometimento afetivo. Estes resultados atentam para o fato de que o indivíduo que busca a realização pessoal mais do que a recompensa pelo sucesso pode estar relacionado com a dimensão afetiva do comprometimento, que pressupõe um vínculo mais forte entre o indivíduo e a organização do que as outras dimensões (BANDEIRA, MARQUES e VEIGA, 1999). Assim, pode-se inferir que na organização estudada, a necessidade de realização relaciona-se com a aceitação das crenças, identificação e assimilação dos valores da organização desenvolvendo, dessa forma, laços de comprometimento afetivo. É importante ressaltar que a necessidade de poder não obteve correlações significativas com nenhuma das dimensões do comprometimento organizacional. Esta necessidade está relacionada a preocupação, por parte do indivíduo, com o controle dos meios de influenciar os outros (McCLELLAND, 1972). Cabe acrescentar que, a necessidade de realização apresentou correlações próximas tanto com a dimensão afetiva quanto a normativa. Estes resultados apontam para uma associação existente entre a necessidade de realização pessoal e o desenvolvimento de fortes vínculos de comprometimento entre o indivíduo e a organização, na medida em que os sentimentos de maior expressividade nos funcionários da empresa pesquisada, em relação ao comprometimento organizacional, encontram-se ligados ao desejo e a obrigação de se manter como membros da empresa (MEYER e ALLEN, 1991). Para uma melhor visualização dos resultados obtidos foi elaborada a Figura 2. Necessidades de McClelland Realização Poder 0,205 Afiliação 0,367 Normativo Afetivo Instrumental Comprometimento Organizacional Correlação Baixa Correlação Muito Baixa Figura 2 – Relações entre as Necessidades de McClelland e as Dimensões do Comprometimento Organizacional Fonte: Elaborado pelos autores Recomenda-se que novos estudos sejam desenvolvidos, ampliando a discussão acerca da influência das necessidades socialmente adquiridas e das dimensões do comprometimento organizacional, dada a importância destes temas no contexto das organizações. Sugere-se, também, a realização de estudos que investiguem a relação entre a necessidade de poder e as dimensões do comprometimento organizacional envolvendo organizações de outros setores, a fim de se obter estudos comparativos. Como limitações do estudo, pode-se mencionar o fato 12 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 de que a maioria dos entrevistados pertence ao nível operacional, sendo pouca a participação dos colaboradores do nível administrativo. Referências: AAKER, D. A., V. KUMAR e G. S. DAY. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas. 2001. BASTOS, A. V. B. Comprometimento organizacional: um balanço dos resultados e desafios que cercam essa tradição de pesquisa. Revista de Administração de Empresas, v.33, n.3, p.52-64. 1993. BOWDITCH, J. L. e A. F. BUONO. Elementos de Comportamento Organizacional: Thomson Learning (Portug). 2000 BARROS, A. I. S.; LEHFELD, N.A.S. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Pearson Makron Books, 2004. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas. 1999 (Links) GOMES, F. R. 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