ADILSON DA SILVA LEMOS JUNIOR IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA ESTRATÉGICO DOS SISTEMAS ESPACIAIS BRASILEIRO: uma proposta de investimento contínuo. Trabalho de Conclusão de Curso Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Coronel Engenheiro R1 Carlos Aberto Gonçalves de Araújo. Rio de Janeiro 2014 C2014 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG. _________________________________ Adilson da Silva Lemos Junior Biblioteca General Cordeiro de Farias Lemos Junior, Adilson da Silva. Implantação do Programa Estratégico dos Sistemas Espaciais Brasileiro: uma proposta de investimento contínuo. / Coronel Aviador Adilson da Silva Lemos Junior. - Rio de Janeiro: ESG, 2014. 66 f.: il. Orientador: Coronel Engenheiro R1 Carlos Alberto Gonçalves de Araújo. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2014. 1. Estratégia Nacional de Defesa. 2. Gestão Pública. 3. Gestão Financeira. 4. Centro de Distribuição. I.Título. Ao meu pai Adilson, homem visionário que orientou seus filhos para o futuro, alicerçado na educação, à minha mãe Neide, pelo suporte em todos os momentos de minha vida, à minha esposa Cecília, pelo amor e apoio incondicionais, aos meus filhos Marcela e Mateus, razão de todo o meu viver. Sem vocês nada teria sido possível! AGRADECIMENTOS Aos meus mestres por me educarem na retidão e conduta ilibada, forjado na educação, no moral e civismo, oriundos das escolas públicas da década de 1970. A todos meus amigos de todas as classes pelo incentivo e mão amiga nos momentos mais difíceis. Aos estagiários da Turma “ESG 65 anos pensando o Brasil” pela lembrança constante de nosso lema: nós viemos aqui para sermos felizes! Ao Corpo Docente da ESG pela forma correta em transmitir conhecimento para os futuros assessores e formadores de opinião, capazes de melhorar o Brasil. Ao presidente e vice-presidente da CCISE pelo apoio irrestrito durante a coleta de informações para a confecção deste trabalho. Ao meu orientador, Coronel Engenheiro Carlos Alberto, pelo aprendizado e ensinamento conjunto desse assunto que certamente será um divisor de águas para a continuidade do desenvolvimento do Brasil. “A melhor maneira de predizer o futuro é construí-lo.” Drucker, Peter RESUMO Esta monografia objetiva propor uma solução de investimento contínuo para a implantação do Programa Estratégico dos Sistemas Espaciais (PESE) Brasileiro. Os objetivos específicos, dentre alguns, deste estudo são: destacar elementos de análise que apontam claramente para o fato de que ocorreu uma desestabilização no investimento governamental destinado ao Programa Espacial Brasileiro (PEB) ao longo dos últimos 20 anos; analisar os efeitos da política de implantação do PESE a partir de 2012. A metodologia adotada comportou uma pesquisa qualitativa, predominantemente histórica e bibliográfica (fontes de referências secundárias), com o propósito de revelar o contexto e o processo sob o qual se construiu no país um gerenciamento de implantação do Programa Espacial. Esse exame baseou-se na legislação aprovada pela Estratégia Nacional de Defesa (END), bem como na Política Nacional de Defesa (PND), que estabeleceu os objetivos a serem alcançados. Sequencialmente, realizou-se uma entrevista semiaberta (semiestruturada) com o Presidente da Comissão para Coordenação e Implantação do Satélite Espacial (CCISE), a fim de se avaliar a fundamentação de opiniões acadêmicas com a realidade enfrentada por aquela Comissão. Quanto à estrutura, o presente trabalho monográfico, resultante desta pesquisa, apresenta em linhas gerais os tópicos a seguir: Introdução; a Influência da Gestão Política; a Previsão Orçamentária do PESE; o Resultado da Entrevista com o Presidente da CCISE; Algumas Possíveis Soluções; o Método de Planejamento Estratégico (MPE) da ESG; e Conclusão. O MPE sugere ações a serem implantadas pelo decisor estratégico para a aplicação de diretrizes, que podem ser estabelecidas como forma de superar os óbices e fatores adversos, garantindo uma solução equilibrada na questão da continuidade de recursos para o PESE. Palavras chave: Programa Estratégico dos Sistemas Espaciais. Gestão Pública. Comissão para Coordenação e Implantação do Satélite Espacial. Investimentos para o PESE ABSTRACT This study proposes a solution for the continuing investment towards the implementation of the Brazilian Strategical Space System Program (PESE). Among others, the specific objectives of this study are: to explain, via analysis, that there has been a reduced government budget towards the Brazilian Space Program for the last 20 years and guidelines; to analyze the PESE implementation policy from 2012 on. The methodology adopted was bibliographical and documentary research, aiming to obtain theoretical references of the context and process how the Space Program was built in the country. This course of study has been restricted to published legislation, including: the National Defense Strategy (END), as well the National Defense Policy (PND), which reflects the objectives to be reached. In sequence, an interview with the president of the Commission for the Space Satellite Implementation and Coordination (CCISE) was performed, so that the academic studies could be compared to the real issues faced by the Commission. Regarding the structural content, this study presents the following topics: Introduction; the influence of the Political Management; PESE´s budget; the result of the CCISE´s president interview; some possible solutions; Strategical Planning Method (MPE) for the problem; and a Conclusion. Lastly, this study suggests some implementations to be taken by the Government President in order to have some Ministry´s actions, which can be established to overcome the obstacles, assuring a balanced solution towards the continuing PESE´s budget. Keywords: Brazilian Strategical Space System Program. Public Management. Commission for the Space Satellite Implementation and Coordination. PESE´s budget. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 Recursos Financeiros do PNAE .......................................................24 FIGURA 2 Dinâmica dos Subprogramas e Projetos do PESE em 20 anos .......29 FIGURA 3 Investimento para a Implantação do PESE ......................................30 QUADRO 1 Fatos Portadores de Futuro e Eventos ............................................55 QUADRO 2 Cenários Extremos...........................................................................56 QUADRO 3 Objetivos de Estado e Governo .......................................................57 QUADRO 4 Matriz de Adequabilidade .................................................................59 QUADRO 5 Matriz de Exequibilidade ..................................................................60 QUADRO 6 Matriz de Aceitabilidade ...................................................................61 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AEB Agência Espacial Brasileira BID Base Industrial de Defesa CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBERS Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres CCISE Comissão para Coordenação e Implantação do Satélite Espacial CENSIPAM Centro Gestor do Sistema de Proteção da Amazônia CISCEA Comissão para Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo CLA Centro de Lançamento de Alcântara CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico COFIEX Comissão de Financiamentos Externos COMAER Comando da Aeronáutica CTA Centro Técnico Aeroespacial CTEx Centro Tecnológico do Exército CT&I Ciência Tecnologia e Informação DCTA Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial DECEA Departamento de Controle do Espaço Aéreo EB Exército Brasileiro EED Empresa Estratégica de Defesa EFP Eventos Futuros Preliminares EMAER Estado-Maior da Aeronáutica EMCFA Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas EME Estado-Maior do Exército END Estratégia Nacional de Defesa ESG Escola Superior de Guerra FA Forças Armadas FAB F orça Aérea Brasileira FPF Fatos Portadores de Futuro IAE Instituto de Aeronáutica e Espaço IFI Instituto de Fomento Industrial INPE Instituto Nacional de Pesquisa Espacial ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica LBDN Livro Branco de Defesa Nacional LC Lei Complementar LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias LOA Lei Orçamentária Anual MB Marinha do Brasil MD Ministério da Defesa MPE Método de Planejamento Estratégico da ESG MPOG Ministério de Planejamento Orçamentário e Gestão PDN Política de Defesa Nacional PAED Plano de Articulação dos Equipamentos de Defesa PEB Programa Espacial Brasileiro PED Produto Estratégico de Defesa PESE Programa Estratégico dos Sistemas Espaciais PLOA Proposta da Legislação Orçamentária Anual PNAE Programa Nacional de Atividades Espaciais PNBL Plano Nacional de Banda Larga PNID Política Nacional da Indústria de Defesa PND Política Nacional de Defesa PRODE Produto de Defesa PPP Parceria Público Privada PPA Programa Plurianual RETAERO Regime Especial para a Indústria Aeroespacial Brasileira RETID Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa SD Sistema de Defesa SEG Sistema Espacial Geoestacionário SGDC Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas SISDABRA Sistema de Defesa Aérea Brasileira SISFRON Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras SisGAAz Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul SNG Sistema Espacial Não-Geoestacionário SIVAM Sistema de Vigilância da Amazônia TCC Trabalho de Conclusão de Curso VLS Veículo Lançador de Satélites SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 16 2 A INFLUÊNCIA DA GESTÃO POLÍTICA ........................................................ 20 2.1 BREVE HISTÓRICO ........................................................................................ 20 2.2 OS INVESTIMENTOS NO PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO ................. 23 2.3 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DA POLÍTICA IMPLEMENTADA ............................. 25 2.4 COMO ATINGIR OS OBJETIVOS ................................................................... 27 2.5 DESCRIÇÃO RESUMIDA DO PESE ............................................................... 28 3 A PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA DO PESE .................................................... 30 4 RESULTADO DA ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA CCISE .............. 33 5 ALGUMAS POSSÍVEIS SOLUÇÕES .............................................................. 37 5.1 A CONCESSÃO PATROCINADA OU ADMINISTRATIVA ............................... 37 5.2 O FINANCIAMENTO EXTERNO ...................................................................... 39 5.3 A CONCESSÃO DE INCENTIVOS FISCAIS ÀS EMPRESAS DO SETOR ..... 40 5.4 A DISPENSA DE LICITAÇÃO .......................................................................... 41 5.5 A CRIAÇÃO DE JOINT VENTURES ENTRE EMPRESAS ............................. 42 5.6 A ADOÇÃO DE REGIME JURÍDICO E TRIBUTÁRIO ESPECIAIS .................. 42 5.7 A COMPRA DE AÇÕES GOLDEN-SHARE PELO GOVERNO. ...................... 46 5.8 A EXTINÇÃO DOS CONTINGENCIAMENTOS ORÇAMENTÁRIOS. .............. 47 6 O MÉTODO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA ESG ........................ 49 6.1 FASE DO DIAGNÓSTICO................................................................................ 49 6.1.1 Oportunidades.................................................................................................49 6.1.2 Ameaças...........................................................................................................50 6.1.3 Necessidades...................................................................................................51 6.1.4 Possibilidades.................................................................................................52 6.1.5 Limitações........................................................................................................53 6.2 FASE POLÍTICA ............................................................................................... 55 6.3 FASE ESTRATÉGICA...................................................................................... 57 7 CONCLUSÃO .................................................................................................. 64 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 66 ANEXO............................................................................................................. 68 16 1 INTRODUÇÃO De acordo com dados estatísticos da Euroconsult, atualmente, no Brasil, não há uma continuidade suficiente de investimentos orçamentários para o Ministério da Defesa (MD), a fim de que possam ser aplicados em empresas do setor aeroespacial (aquelas pertencentes aos ramos de engenharia civil, eletrônica e aeronáutica, voltadas para a área de espaço), ou sua parcela de recursos é muito insignificante. O Programa Espacial Brasileiro (PEB) remonta o ano de 1961, quando após um período inicial, o país dedicou-se à formação de cientistas espaciais e à implantação de uma infraestrutura física na forma de institutos de pesquisa e centros de lançamento, como o da Barreira do Inferno, em Natal/RN. Em seguida, surge o primeiro esboço de um programa espacial, delineado em 1979, pela Missão Espacial Completa Brasileira (MECB). Naquela época, previa-se apenas a construção de dois satélites de coleta de dados e dois de observação da Terra. Fruto do surgimento de haver projetos no campo espacial, foi criada, em 1994, a Agência Espacial Brasileira (AEB), como órgão central do sistema. Neste contexto, podem-se destacar os dois principais órgãos de execução: o DCTA, focado no desenvolvimento do veículo lançador de satélites e o INPE destinado a desenvolver os satélites. O tempo passa, e eis que em 2012, o Brasil chega ao Programa Estratégico dos Sistemas Espaciais (PESE), estabelecido pela Estratégia Nacional de Defesa (END), cuja implantação deverá ocorrer a partir de 2015, devendo se estender até 2030. Essa ação política priorizará a alocação de recursos, para colocar em órbita uma constelação de satélites de comunicações, sensoriamento remoto, datalink, meteorologia, observação da terra por radar, dentre outros. Militarmente, os mesmos serão utilizados como suporte aos SisGAAz (MB) e SISFRON (EB), bem como em apoio aos empresários, que necessitarem de informações estratégicas de negócio para sua área de cobertura. Pode-se afirmar que a relevância do presente Programa para a sociedade brasileira, além dos aspectos de segurança e soberania (Expressão Militar), remonta no fato gerador de conhecimento (bem intangível) científico aplicado a uma das 17 maiores fontes de valor agregado na atualidade do ponto de vista comercial: a exploração do espaço. Desta forma, as Expressões Científica e Tecnológica, Econômica e Psicossocial também se tornam evidenciadas. Dentro desse contexto, surge o questionamento (questão-problema) de como manter o investimento contínuo para as Empresas de defesa aeroespacial, a fim de implantar o PESE Brasileiro a ponto das mesmas não virem a falir durante essa importante atividade estratégica? Como objetivo geral procurou-se analisar a política espacial implantada no Brasil, com foco na gestão financeira, particularmente, no que se refere aos valores de investimentos continuados para as empresas do setor, intimamente influenciados pelas políticas públicas de Governo ao longo dos últimos 15 anos. A justificativa do presente trabalho possuiu a intenção de analisar e revelar as fraquezas e ameaças, que se tratadas adequadamente poderão incentivar o setor, restabelecendo os níveis de confiabilidade e segurança perante a sociedade. Para o desenvolvimento da pesquisa, optou-se pela discussão teórica no plano da análise de políticas públicas, baseando-se na proposição de Dye (1976), escolhido como Marco Teórico, segundo a qual “[...] fazer Análise de Política Pública é descobrir o que os governos fazem, por que fazem e que diferença isto faz.”; além disso, ressaltaram-se os cuidados necessários quando transformações institucionais são implementadas através da míngua de recursos destinados a instituições préexistentes, na linha estratégica apontada por Hill (1997, p 135). Como hipótese, julgou-se que o atraso no cumprimento do cronograma do Programa Espacial Brasileiro (PEB), até o momento, está associado à redução drástica nos investimentos nos últimos 15 anos, acarreando a falência de algumas indústrias do setor aeroespacial, que está a requerer reajustes e correções. Assim, foram elencadas as seguintes questões norteadoras: 1 - Que fatores apontam para redução de investimento para o Programa Espacial Brasileiro? 2 - Como se processou a implantação do PEB até 2003 e a redução de investimento para o Programa após esse ano? 3 - Quais transformações ocorreram para a aprovação do PESE após 2010? 4 - Que efeitos tais transformações já produziram, no sentido de viabilizar a implantação do PESE, a partir de 2015 até 2030? Quanto aos objetivos específicos, foram traçadas as seguintes linhas de ação: 1 - Destacar elementos de análise que apontam claramente para o fato de que ocorreu uma desestabilização no investimento governamental destinado ao 18 Programa Espacial Brasileiro. 2 - Identificar os fatores que permitiram a implantação do Programa no Brasil ao longo de 20 anos. 3 - Destacar as transformações ocorridas em função da política de implantação do Programa a partir de 2003 dentro do COMAER. 4 - Analisar os efeitos da política de implantação do PESE doravante. As limitações da pesquisa foram abrangidas na condução do estudo em nível de análise de políticas públicas implementadas, em que apenas se procuram apontar os fatores que devem ser objeto de consideração e reflexão para possíveis revisões, estando fora do escopo da pesquisa o estabelecimento dos parâmetros de uma nova política de implantação do Programa. Quanto à metodologia, a pesquisa iniciou-se pela coleta de dados de valores gastos no Programa Espacial Brasileiro ao longo dos 15 (quinze) últimos anos. Esses dados foram buscados junto a órgãos oficiais: a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e junto à própria Comissão para Coordenação e Implantação do Satélite Espacial (CCISE), pertencente ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Na sequência, foi realizada uma pesquisa qualitativa, predominantemente histórica e bibliográfica (fontes de referências secundárias), com o propósito de revelar o contexto e o processo sob o qual e pelo qual, respectivamente, construiuse no país um gerenciamento de implantação do Programa Espacial. Esse exame baseou-se na legislação aprovada pela Estratégia Nacional de Defesa (END), desde 2008, bem como na Política Nacional de Defesa (PND), que estabeleceu os objetivos a serem alcançados. Adicionalmente, realizou-se uma entrevista semiaberta (semiestruturada) com o Presidente da CCISE, localizada no Rio de Janeiro, a fim de avaliar-se a fundamentação de opiniões acadêmicas com a realidade enfrentada por aquela Comissão. Finalizando, foram analisadas, por meio do Método de Planejamento da ESG, as consequências imediatas da atual política, nessa fase de recuperação, procurando destacar os elementos essenciais, potencialmente causadores do insucesso do Programa, sobre os quais se poderão intervir para evitar-se repetir erros passados. Sendo assim, considerou-se fundamental percorrer um caminho lógico para abordagem, que apresenta, no segundo capítulo, um breve relato histórico a respeito do desenvolvimento da atividade espacial no Brasil, contextualizando os 19 investimentos do PEB, bem como a análise e avaliação da Política implementada. Adicionalmente, de acordo com a END, são elencadas as maneiras de se atingir os objetivos. A terceira seção tem por objetivo a análise de viabilidade de empreendimento de grande porte do PESE, na qual se estima uma taxa interna de retorno financeiro (TIR) de 3,5% com um tempo de recuperação dos custos financeiros (payback) em 14 anos. A quarta seção dedica-se aos resultados da entrevista, onde se procurou confrontar os questionamentos, originados durante a pesquisa literal e acadêmica com a realidade da Comissão, que vem implantando o Programa. A seguir, são escolhidas algumas possíveis soluções para o problema de descontinuidade de investimentos, de forma tal que as mesmas possam alicerçar o entendimento do Método de Planejamento da Escola Superior de Guerra (ESG). A quinta seção emprega essa metodologia preconizada pela ESG, apresentando as fases diagnósticas, políticas, estratégicas e diretrizes que superem os óbices identificados no âmbito deste trabalho. Por fim, a conclusão sintetiza as principais questões levantadas na presente monografia, deixando a decisão a cargo do Decisor Estratégico. 20 2 A INFLUÊNCIA DA GESTÃO POLÍTICA A ao longo desta seção, que se inicia com um breve histórico, espera-se esclarecer o fato de que o planejamento da gestão política aplicada ao PESE está pronto, concretizada por meio de documentos aprovados por seus responsáveis. Entretanto, os investimentos orçamentários não demonstram a real importância dada pelo Governo e sociedade, em detrimento da atual política social. 2.1 BREVE HISTÓRICO A partir de meados da década de 1990 (século passado), o governo, por meio do Programa Espacial Brasileiro (PEB), já possuía uma capacidade instalada de recursos humanos e institucionais (por que não se dizer industriais), capazes de executar o primeiro lançamento satelital, completamente nacional, isto é, veículo lançador, infraestrutura e satélites originados por brasileiros. O Centro Técnico Aeroespacial (CTA), criado em 1° de janeiro de 1954, por meio do Decreto n° 34.701, vivia um verdadeiro fervor de “emoções técnicas”, testemunhado por este autor, que estudava engenharia mecânica aeronáutica desde 1994. Internamente, os engenheiros formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), criado por meio do Decreto n° 27.695, de 16 de janeiro de 1950, juntamente com os demais funcionários do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), criado em 1991, do Instituto de Fomento Industrial (IFI) e Instituto de Estudos Avançados (IEAv) “respiravam espaço”, em especial para o desenvolvimento de foguetes e veículos lançadores de satélites. Todo conhecimento e produção eram traçados sob este tema. Externamente, o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), criado pelo Decreto Presidencial n° 68.532, em 22 de abril de 1971, tornava-se o principal órgão de execução das pesquisas espaciais, voltadas para a construção de satélites e suas aplicações. Além de um verdadeiro Parque Industrial, que suportava as demandas do CTA, tanto com componentes eletrônicos e mecânicos quanto com 21 infraestrutura de suporte espacial, instalava-se e desenvolvia-se em São José dos Campos com foco no mesmo objetivo. Eram constantes as viagens de engenheiros e técnicos para o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), criado em março de 1983, bem como os diversos testes em bancadas dos estágios dos propulsores, formados por combustível sólido, do Veículo Lançador de Satélites (VLS), os quais produziam barulhos ensurdecedores para todos que viviam ali naquele Centro. Era a pura tecnologia sendo desenvolvida. Nesse contexto, criou-se a Agência Espacial Brasileira (AEB), em 1994, conforme estabelecido pelo art. 11 da Lei n° 8.854, cuja finalidade era promover o desenvolvimento das atividades espaciais de interesse nacional, bem como elaborar e atualizar o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), cobrindo períodos decenais, onde as ações e a visão estratégica seriam estabelecidas. O PNAE, que cobrirá o período 2012-2021, teve antecipada sua revisão, prevista para acontecer somente em 2014, exatamente porque recepciona essas mudanças no cenário estratégico do Estado, com novas oportunidades sendo criadas pelo Governo Federal: o programa para o desenvolvimento de tecnologias críticas; as ações de absorção tecnológica no contexto do desenvolvimento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC); os novos direcionamentos dos Fundos Setoriais; a Estratégia Nacional de Defesa (END); as ações da Agenda Tecnológica Setorial (ATS) no contexto do Plano Brasil Maior; a atuação especial do Programa Ciência Sem Fronteiras para área espacial; as iniciativas legislativas para a desoneração do setor, dentre outras ações de governo. Politicamente, tendo como intuito a implantação de um sistema completo de sensoriamento remoto de nível internacional, derrubando as barreiras que impediam o desenvolvimento e a transferência de tecnologias sensíveis impostas pelos países desenvolvidos, o Brasil e China firmaram uma parceria conjunta, que incentivou o intercâmbio entre pesquisadores de nacionalidades diferentes. Em novembro de 2002, devido ao sucesso da cooperação bilateral no Programa China and Brazil Earth Resources Satellites ou Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS-1 e 2), os dois governos decidiram dar continuidade, firmando um novo acordo para o desenvolvimento e lançamento de mais dois 22 satélites, os CBERS-3 e 4, cuja previsão de lançamento para o CBERS-3 era para 9 de Dezembro de 2013, e para o CBERS-4 dois anos depois.1 Em 2003, por decisão política, a AEB passou a ser vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, perdendo sua subordinação direta com a Presidência da República. Entretanto, conforme a reportagem abaixo do Estado de São Paulo, no dia 23 de agosto de 2003, um verdadeiro infortúnio “manchou” a escalada de sucessos do PEB: Tudo parecia correr corretamente no Centro de Lançamento de Alcântara (MA) para a realização da Operação São Luís. Prevista para 25 de agosto de 2003, a missão colocaria em órbita, a 750 quilômetros de altura, dois satélites brasileiros: o microssatélite meteorológico SATEC, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), e o nanosatélite UNOSAT da Universidade do Norte do Paraná. A missão transformaria o Brasil no primeiro país da América Latina a enviar o seus próprios foguetes ao espaço. Mas durante a simulação, em 22 de agosto, três dias antes da operação, o Veículo Lançador de Satélites (VLS) explodiu. O acidente provocou a morte de 21 pessoas. As vítimas foram técnicos e engenheiros que estavam preparando o VLS V3 para o seu terceiro voo da base espacial de Alcântara. Em 2004, o PNAE sofreu uma revisão, que seria válida entre 2005-2014, onde as principais prioridades estabelecidas tornaram-se o fomento à comercialização e consolidação do CLA como base estratégica de lançamento de foguetes e à finalização do VLS com o lançamento de carga útil de 600 kg em órbitas de 800 km. Desta forma, em 2005, o Presidente da República promulgou o Tratado de cooperação de longo prazo entre a República Federativa do Brasil e a Ucrânia para utilização do Veículo de Lançamentos Cyclone-4 no CLA, fato que resultou na criação da empresa binacional Alcântara Ciclone Space (ACS), em 2007, para comercialização dos serviços de lançamento. Em 2009 e 2010, por meio mais uma vez de mudanças em gestões públicas e políticas, ocorreu uma grande avaliação e antecipação na revisão do decênio do PNAE, sendo o atual período de validade compreendido ente 2012-2021, cujas prioridades são: a continuidade do lançamento do CBERS e o Satélite 1 Hoje, sabe-se que o CBERS-3 foi fruto de um fracasso em seu lançamento, que culminou com sua destruição prematura. 23 Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). Este último tornou-se fruto de necessidades estipuladas pelos Ministérios da Defesa e das Comunicações, a fim de atender aos diversos sistemas militares, tais como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), a cargo do Exército Brasileiro (EB), e o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), a cargo da Marinha do Brasil (MB), bem como ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), com melhorias na rede de internet. Apesar de todos os planos e programas citados acima, que oferecem apoio de regulamentações, os recursos orçamentários disponibilizados pelo governo são muito incipientes, conforme pode constatar no tópico seguinte. 2.2 OS INVESTIMENTOS NO PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO Procurando entender um pouco do passado mais recente, de tal forma que se possa idealizar uma tendência futura, chegou-se a “triste” constatação, elencada por Roberto Amaral em 2010, na obra Desafios do Programa Espacial Brasileiro: Somente no período 1985-1989, os investimentos se concentraram nos três segmentos de atividade – satélites, veículos e centros de lançamento – com uma média anual de US$100 milhões. Daí em diante, penúria! Em 1990, os investimentos caíram para US$ 57 milhões e, em 1999, não passaram de US$ 9 milhões e 900 mil. Ao todo, o País gastou, de 1980 a 2002 (véspera do lançamento do VLS), apenas US$ 530 milhões e 200 mil. Como pensar seriamente em lançar nosso VLS se, a cada ano, o governo reduzia os investimentos? De US$ 27 milhões e 500 mil em 1995, caíram para US$ 18 milhões e 700 mil em 1996, para US$ 11 milhões e 271 mil em 1997, para US$ 10 milhões e 408 mil em 1998 e, finalmente, para US$ 3 milhões e 700 mil em 2002. Em 1999, o governo havia tido o desplante de só aplicar US$ 1 milhão e 600 mil! É fácil notar que o Governo não tem disponibilizado recursos financeiros quando comparado com outros principais centros detentores de programas espaciais. Como se pode verificar na figura a seguir, apesar dos dados serem de 2009, o Brasil não tem realizado um aporte financeiro significativo nos anos subsequentes que pudesse mudar esse quadro apresentado. 24 Figura 1 – Recursos Financeiros do PNAE Fonte: Elaborada pelo autor com dados extraídos do Portal da Transparência Verifica-se que os recursos financeiros disponíveis para conduzir um programa espacial da magnitude do brasileiro são aquém das necessidades previstas (ARAÚJO, 2014). Em 2009, apesar de haver uma inversão conduzida pelo governo, os investimentos chegaram a apenas US$ 164 milhões (R$ 302 milhões). Comparativamente, a Rússia investiu US$ 2 bilhões e 400 milhões em seu programa espacial. Ainda é muito pouco, mas pode-se reconhecer: os investimentos, que vinham em linha decrescente, foram retomados no início desta década. Extraindo-se os dados produzidos pelo Portal da Transparência (ARAÚJO, 2014) chegaram-se aos seguintes valores: Em 2010 – R$ 216 milhões (US$ 123,4 milhões); Em 2011 – R$ 283 milhões (US$ 171,52 milhões); Em 2012 – R$ 179 milhões (US$ 85,24 milhões). Olhando-se para o futuro, algumas transformações foram empreendidas, por meio de uma nova política de implantação. Foi antecipada a revisão do PNAE para 2009-2010, que somente ocorreria em 2013, tendo em vista o crescimento médio global de 6% ao ano, graças ao surgimento de novas demandas de aplicações e serviços espaciais, de novos atores e clientes. Globalmente, em 2010, o setor movimentou cerca de US$ 276,5 bilhões e continua crescendo cada vez mais. O Brasil precisa entrar nesse negócio! 25 Desta forma, para concretizar todas as propostas previstas neste PNAE 2012-2021, precisa-se dispor de recursos da ordem de R$ 9,1 bilhões, o que resulta em uma média de R$ 900 milhões ao ano, sendo 47 % destinados aos projetos de missões satelitais, 17% para projetos de acesso ao espaço, 26% para a infraestrutura espacial e 10% para outros projetos especiais e complementares. Pode-se, assim, verificar que o país possui os amparos legais orçamentários, estabelecidos no PNAE. Entretanto, o que se pode esperar dos objetivos traçados na Política Nacional de Defesa (PND). 2.3 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DA POLÍTICA IMPLEMENTADA Elaborada por meio do Decreto nº 373, de 26 de setembro de 2013, a PND fixou os objetivos de Estado, a serem seguidos por toda a sociedade brasileira, de acordo com os preceitos constitucionais, tendo em vista à Defesa Nacional. Além do mais, ela estabeleceu orientações para a consecução dos objetivos traçados. Importante ressaltar que tal política já vislumbrou que o desenvolvimento e a defesa estão intimamente ligados, na medida em que novos horizontes, tais como fontes de recursos petrolíferos, hídricos, minerais são descobertos, e necessitam ser protegidos de invasores, apesar da conduta pacífica que o país tem adotado nos últimos tempos em sua política externa. Quando se fala de ambiente internacional, todos se lembram com certeza das escutas telefônicas recentes realizadas pelo EUA contra a Exmas Sras Presidente do Brasil e Primeira Ministra da Alemanha. Além dos dados sigilosos captados pela espionagem cibernética americana sobre o Pré-Sal, que atingiram a maior empresa brasileira. Como consequência, ocorreu um aumento na pressão por mais investimentos na defesa nacional. Entretanto, desde a distribuição da PND, já era conhecido o “dever ser” ou o “dever fazer”, conforme o item 3.7 da mesma in verbis abaixo: Os avanços da tecnologia da informação, a utilização de satélites, o sensoriamento eletrônico e outros aperfeiçoamentos tecnológicos trouxeram maior eficiência aos sistemas administrativos e militares, sobretudo nos países que dedicam maiores recursos financeiros à Defesa. Em consequência, criaram-se vulnerabilidades que poderão ser exploradas, com o objetivo de inviabilizar o uso dos nossos sistemas ou facilitar a 26 interferência à distância. Para superar essas vulnerabilidades, é essencial o investimento do Estado em setores de tecnologia avançada. No tocante ao ambiente regional, a Política estabeleceu a integração com os blocos, principalmente no campo econômico, lindeiros, tornando-os verdadeiros entornos estratégicos de desenvolvimento da base industrial de defesa. O lema a ser seguido é ser competitivo com aqueles países de nível semelhante ao brasileiro, para que se possa ter poder de negociação de produtos e tecnologias quando necessária. Constata-se tal fato de acordo com o item 4.3 da PND abaixo: Entre os fatores que contribuem para reduzir a possibilidade de conflitos no entorno estratégico destacam-se: o fortalecimento do processo de integração, a partir do MERCOSUL e da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL); o estreito relacionamento entre os países amazônicos, no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA); a intensificação da cooperação e do comércio com países da África, da América Central e do Caribe, inclusive a Comunidade dos Estados LatinoAmericanos e Caribenhos (CELAC), facilitada pelos laços étnicos e culturais; o desenvolvimento de organismos regionais; a integração das bases industriais de defesa; a consolidação da Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) e o diálogo continuado nas mesas de interação inter-regionais, como a cúpula América do Sul-África (ASA) e o Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (IBAS). Após a contextualização acima, pode-se analisar que o objetivo nacional que mais tende para o sucesso do PESE é desenvolver a indústria nacional de defesa, orientada para a obtenção da autonomia em tecnologias indispensáveis (BRASIL, 2013). Para tal, as orientações políticas estabelecidas são as de que os setores governamental, industrial e acadêmico, voltados à produção científica e tecnológica e para a inovação, devem contribuir para assegurar que o atendimento às necessidades de produtos de defesa (PRODE) seja apoiado em tecnologias sob domínio nacional, obtidas mediante estímulo e fomento dos setores industrial e acadêmico. A capacitação da indústria nacional de defesa, incluído o domínio de tecnologias de uso dual, é fundamental para alcançar o abastecimento de produtos de defesa (BRASIL, 2013). Tomando-se por base Dye (1976), onde as políticas públicas devem ser entendidas como uma descrição e explicação das causas e consequências das ações dos governos, pode-se avaliar positivamente o fato do país já possuir todo o arcabouço regulatório de execução quando a viabilidade político-econômica permitir. Entretanto, dentro da exequibilidade das referidas políticas até o momento, muito 27 ainda se tem por fazer quanto à continuidade de investimentos para o setor tecnológico aeroespacial. Resta saber como atingir esse objetivo tão esperado. As respostas estão certamente na Estratégia Nacional de Defesa (END). 2.4 COMO ATINGIR OS OBJETIVOS Aprovada por meio do Decreto 6.703, em 18 de dezembro de 2008, a END focou, principalmente, em ações de pequeno, médio e longo prazo, que orientam e “fornecem o caminho” de como modernizar e reestruturar a Base Industrial de Defesa (BID). Os PRODE, provenientes desse Plano, devem ser, preferencialmente, produzidos no Brasil, fomentando desta forma a indústria especializada e sua geração de empregos. A reestruturação da indústria brasileira de material de defesa tem como propósito assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas apoie-se em tecnologias sob o domínio nacional (BRASIL, 2008). Paralelamente, foi abordado o papel de três setores decisivos para a defesa nacional: o cibernético, o espacial e o nuclear. O primeiro ficou sob a responsabilidade do Exército Brasileiro; o segundo, da Força Aérea Brasileira; e o terceiro, coube à Marinha do Brasil. Especificamente, no tocante ao objeto deste trabalho, o setor espacial, as prioridades são as seguintes, in verbis: a) Projetar e fabricar veículos lançadores de satélites e desenvolver tecnologias de guiamento remoto, sobretudo sistemas inerciais e tecnologias de propulsão líquida. b) Projetar e fabricar satélites, sobretudo os geoestacionários, para telecomunicações e os destinados ao sensoriamento remoto de alta resolução, multiespectral e desenvolver tecnologias de controle de atitude dos satélites. c) Desenvolver tecnologias de comunicações, comando e controle a partir de satélites, com as forças terrestres, aéreas e marítimas, inclusive submarinas, para que elas se capacitem a operar em rede e a se orientar por informações deles recebidas; d) Desenvolver tecnologia de determinação de coordenadas geográficas a partir de satélites. 28 Ou seja, a END define “o que fazer” para que o país se torne independente em relação às necessidades estratégicas de defesa espacial, colocando um enorme fardo sobre a FAB. Mas, o que foi feito de efetivo após essa determinação acima? Foi montada a Comissão para Coordenação e Implantação do Satélite Espacial (CCISE), criada por meio da Portaria nº 79/GC3, de 29 de fevereiro de 2012, do Comando da Aeronáutica, que formulou o Programa Estratégico dos Sistemas Espaciais (PESE), cujas diretrizes de implantação foram aprovadas em maio de 2012, restando, até o momento, os meios orçamentários previstos para sua evolução. 2.5 DESCRIÇÃO RESUMIDA DO PESE Em linhas gerais, o PESE é um programa multidisciplinar e de alta complexidade, que contém diversos projetos, sendo o primeiro e mais relevante denominado Projeto Áquila. Neste, além do Centro de Operações Espaciais (COPE), estão inseridas as seguintes frotas de constelação de satélites: Carponis, Lessônia, Attícora. Em sua versão inicial, o mesmo está organizado em quatro fases: a) Planejamento; b) Capacitação; c) Operação; e d) Sustentação. No planejamento, a ênfase é dada ao processo de elaboração do Programa, no qual são levantadas as necessidades operacionais, definido o escopo dos subprogramas e projetos, detalhados os seus objetivos específicos de maneira macro, além da definição de seu cronograma, processos de revisão e metodologias aplicáveis. Para efeito de evolução e controle, o PESE será revisado anualmente, a fim de se adaptar às atualizações doutrinárias e de necessidades operacionais emitidas pelos EMCFA, EMA, EME e EMAER, mantendo o caráter dual (civil e militar) dos sistemas implantados. Na capacitação, a ênfase consiste na obtenção e preparação dos recursos humanos para a especificação, desenvolvimento, operação, fabricação e suporte de sistemas espaciais (SE). Durante a fase de operação, o maior foco está relacionado à utilização dos SE e ao seu consequente amadurecimento operacional. Nela se busca manter e 29 aprimorar a autonomia operacional e aumentar o grau de independência técnica ao final dos ciclos de reposição dos SE. Caracteriza-se a fase de sustentação pela consolidação de um ambiente empresarial sustentável economicamente, com uma indústria espacial capaz de mantê-lo e criar novas oportunidades de negócio. É compreendida por um elevado grau de autonomia operacional e independência técnica nos SE operados pelas FA e entidades relacionadas ao Ministério da Defesa. Quanto aos produtos do PESE (PP), pode-se afirmar que os Sistemas Espaciais Não-Geoestácionários (SNG) são priorizados em relação aos Sistemas Espaciais Geoestacionários (SEG), de tal forma que permitam atingir a meta anual de lançamentos, com consequente demanda adequada para consolidação de uma indústria voltada ao Setor Espacial. Apesar dessa priorização, a funcionalidade do satélite é usada como parâmetro decisivo na concepção do SE e não o tipo de órbita. Seguindo a metodologia top-down, a configuração dos satélites dos subprogramas ou projetos é baseada nas necessidades de PP, que são divididos em seis classes principais: a) Comunicações; b) Observação da Terra; c) Mapeamento de Informações; d) Monitoramento do Espaço; e) Posicionamento; e f) Centro de Operações Espaciais (COPE). Figura 2: Dinâmica dos subprogramas e projetos do PESE em 20 anos. Fonte: Programa Estratégico dos Sistemas Espaciais, PCA 358-1 30 3 A PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA DO PESE Após uma análise financeira, objetivando avaliar os gastos com a implantação, chegam-se aos investimentos necessários para a implantação do programa, de acordo com a figura 3, sumarizada abaixo: Figura 3 – Investimentos para implantação do PESE Fonte: Análise de Viabilidade de Empreendimento de Grande Porte do Programa Estratégico dos Sistemas Espaciais A estimativa total do projeto perfaz R$ 8.455 milhões. Esse montante deverá ser liberado em várias etapas. A acuracidade da estimativa para a primeira constelação (Observação Ótica - SNG1) pode ser considerada elevada, totalizando R$ 1.253 milhões. Entretanto, esta fase inclui o Anteprojeto do Sistema. Durante os próximos anos, as revisões permitirão ajustar as estimativas, de modo a estabelecer maior precisão no cronograma de desembolso para o Programa. Adicionalmente, a CCISE prevê que os gastos com operação, ie, os custos decorrentes da operação dos ativos do PESE, assim como da exploração de cada uma das oportunidades examinadas, podem chegar a R$ 3.297 milhões. Contudo, de acordo com aquela Comissão, a receita total gerada para o Governo chega a valores estimados de R$ 13.123 milhões. Para a estimativa da receita da utilização do sistema em aplicações de Defesa e Segurança, partiu-se do princípio de que o sistema trará um aumento da eficiência das ações de segurança nas fronteiras terrestres (SISFRON), aéreas (SISDABRA) e marítimas (SisGAAz), e apoiará ações de polícia no interior do país com informações para planejamento, inteligência e reconhecimento. Espera-se que com isso seja possível reduzir o custo relativo a crimes de contrabando, narcotráfico e ambientais como o desmatamento, pesca e mineração ilegais. Dentre esses 31 ilícitos, os crimes relacionados ao narcotráfico são os que mais trazem custos à sociedade brasileira. Além do benefício de segurança e defesa elencado acima, estima-se que o desenvolvimento da indústria brasileira possa chegar a média mundial, que segundo a Satellite Industry Association, movimentou mais de US$ 180 bi em 2011 e apresentou um crescimento anual superior a 11% a.a. nos últimos 5 anos. Baseia-se esse percentual na aplicação de carga tributária de 4,5% sobre os valores auferidos pela indústria, assumindo que a vasta maioria das atividades será empreendida por empresas de alta tecnologia, elegíveis para os programas de redução de impostos do Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa (RETID). Os produtos de alta tecnologia possuem o potencial de alavancar outros setores da economia por meio de spinoffs (aproveitamento no meio civil de tecnologias desenvolvidas preliminarmente com objetivos militares) tecnológicos. Dessa forma, inovações como os airbargs, freios com ligas de carbono, ou o desenvolvimento de tecidos à prova de fogo são exemplos de derivados da indústria espacial. No Brasil, ligas de aço de alta-resistência ou a tecnologia de bobinagem de fios sintéticos são exemplos de tecnologias desenvolvidas por meio do programa espacial que encontraram aplicação em outros setores da indústria. Dentro do setor de telecomunicações, o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) pretende prover acesso de internet de qualidade a preços acessíveis a 40 milhões de domicílios até 2015. O governo pretende realizar num primeiro momento através do projeto do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). A tendência é de que com o crescimento da penetração do serviço e das velocidades requeridas de acesso, esse primeiro satélite tenha sua capacidade exaurida e tenha que ser complementado por novos satélites. Esse papel poderia num primeiro momento ser realizado pelos satélites de comunicações militares do PESE, que deverão ter cobertura nacional e poderão carregar payloads de comunicações civis, dentro do princípio da dualidade de funções. Em suma, estima-se uma taxa interna de retorno financeiro (TIR) de 3,5% com um tempo de recuperação dos custos financeiros (payback) em 14 anos. Além dos setores beneficiados acima, esperam-se inovações na agricultura, bem como em gestões de riscos e reduções de desastres naturais (VITAL, 2012). 32 Após todo o planejamento documental e orçamentário, coube então a confrontação com a realidade atual da execução física e financeira. 33 4 RESULTADO DA ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA CCISE A fim de se avaliar a fundamentação de opiniões acadêmicas com a realidade enfrentada pela Comissão, foi elaborada uma entrevista semiaberta (semiestruturada), contendo questões fechadas como roteiro de apoio, a qual buscou esclarecer o entendimento do autor com o Presidente da CCISE, visando reduzir a possibilidade de ocorrência de erros de interpretação das questões norteadoras formuladas na introdução deste TCC. Vale dizer que a pauta da entrevista aplicada encontra-se no Anexo desta monografia. O primeiro questionamento teve objetivo entender o porquê da mudança do Programa Espacial Brasileiro (PEB) da AEB, que se utiliza do INPE e DCTA, para o DECEA em 2012, visto que aquela Agência já vinha realizando a coordenação e implantação do PEB desde 1994 no país. Basicamente, a resposta esclareceu o fato de que o PEB vem sendo conduzido pela AEB, que é seu órgão central. O DCTA, que é um órgão executor, vem buscando resolver a questão dos lançadores. Ele não avança nos engenhos espaciais. Sabe-se que uma missão completa depende tanto desses engenhos quanto do elemento capaz de colocá-lo em órbita. Desta forma, o Comandante da Aeronáutica entendeu que a capacidade hoje existente na CISCEA em condução de projetos seria capaz de preencher, até mesmo com folga, as necessidades iniciais para começar a trabalhar num Programa dessa natureza. Então, tornou-se muito adequado que o PESE, que é um programa formado por vários projetos, seja apoiado pela própria CISCEA. Em seguida, questionou-se quanto às transformações políticas ocorridas para a aprovação do PESE após 2010. Surpreendentemente para este autor, a resposta elucidou o fato de inexistir uma Política Espacial dentro do Ministério da Defesa (MD). A mesma somente existe dentro do Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI). A CCISE vem buscando a possibilidade de que a mesma seja escrita no âmbito do MD, uma vez que as atividades espaciais não abrangem apenas o COMAER. Mas, há a atuação 34 direta em todos os Comandos Militares. Apenas desta forma se poderá ter a garantia da abrangência de atendimento às necessidades de todas as Forças. Procurando esclarecer à inquietude norteadora, a terceira pergunta restringiu-se aos efeitos que as transformações acima já produziram, no sentido de viabilizar a implantação do Programa, a partir de 2015 até 2030. O Presidente afirmou que a CCISE vem buscando desenvolver suas atividades dentro do entendimento de que o Programa possa atender às necessidades das três Forças. Para que se consiga atingir a esse objetivo, houve a criação de um grupo de assessoramento por representantes das três Forças, além do MD, AEB, INPE e CENSIPAM. Essas pessoas são as verdadeiras detentoras dos conhecimentos, ie, das necessidades operacionais, que são as Forças, e a CENSIPAM, para a condução da proteção Amazônia. A AEB, com seus órgãos executores INPE e DCTA, na condução das atividades espaciais, coordenando as atividades previstas no PNAE, ie, ela repassa recursos para os órgãos executores e outros projetos afins. Hoje, trabalha-se na formatação de um documento abrangente que atenda às necessidades básicas de todas as Forças. O questionamento sequencial procurou descobrir que fatores apontam para a redução de investimento para o Programa Espacial Brasileiro, apesar de estarem previstos no PNAE valores na ordem de R$ 9,1 bilhões entre 2012-2021, a serem bancados pelo MCTI. O entrevistado respondeu que a questão do PESE não está indexada ao PNAE, ie, o recurso orçamentário do PESE é originado no Ministério da Defesa. Desta forma, por intermédio deste, foi criada uma ação especifica em 2013. A CCISE, em trabalho com a Defesa e junto à Secretaria de Orçamento e Finanças (SOF), encaminhou dentro da Proposta da Legislação Orçamentária Anual (PLOA) para o Congresso. Inicialmente, foi solicitado um valor de R$ 204 milhões para 2014. Na PLOA, o MD encaminhou uma solicitação de R$ 184 milhões. Finalmente, na LOA, foi aprovado R$ 113 milhões pelo Congresso. Ou seja, trata-se de uma ação específica do Ministério da Defesa. Esses recursos não têm previsão de passar pela AEB ou serem fornecidos pela mesma. Embora a AEB seja a responsável pela condução dessa estrutura da área aeroespacial, mas muito voltada para as atividades de interesse dos Ministérios 35 Civis e da sociedade em geral. O PESE, em si, está voltado para as necessidades operacionais dos Comandos Militares. Sempre lembrando que os requisitos dos projetos voltados para os Comandos Militares atendem com vantagem ao meio civil, dentro do emprego dual dos engenhos espaciais e dos vários seguimentos que já foram definidos como atuação do PESE. Adicionalmente, questionou-se que alternativas a Comissão está trabalhando para cumprir sua missão, mesmo com os reduzidos investimentos orçamentários disponibilizados pelo Governo. O esclarecimento veio no sentido de que trabalhar com orçamento do Governo, principalmente em projetos que solicitam vultosas quantias de recursos financeiros e em longo prazo é bastante complexo. A Comissão teve a aprovação de um orçamento de R$ 113 milhões para 2014. No entanto, a CCISE recebeu zero de dinheiro. Todos os recursos foram voltados para o projeto do SGDC. Assim, é muito sensível a questão da indústria espacial, onde requer, não só recursos, mas o desenvolvimento de tecnologias, que consequentemente demanda a cadência de contratos, a fim de diluir os investimentos gastos, visando à contra entrega dos sistemas que venham a ser desenvolvidos. Na visão da CCISE, para atender às cadencias necessárias aos marcos planejados, poderá ser desenvolvida uma Parceria Público-Privada (PPP): empresas parceiras que se disponham a investir recursos visando à implantação do PESE e evidentemente à exploração comercial de que tudo isso possa trazer. Entretanto, a dificuldade também é enorme nesse ponto. Hoje, está se avaliando essa possibilidade e divulgando para que exista um grupo, um consórcio que se possa trabalhar. Finalmente, questionou-se o que se pode analisar dos efeitos da política de implantação do PESE doravante. Em resposta, o PR disse que a filosofia de implantação do PESE está basicamente em capacitar a indústria nacional a desenvolver alta tecnologia, que vai atingir o Programa Espacial Brasileiro. É de conhecimento de todos que os grandes avanços tecnológicos se dão em função de pesquisa da estrutura de avanço para o espaço. É necessária muita pesquisa, muito desenvolvimento, e recursos financeiros compatíveis. 36 Mas o que acontece efetivamente dentro desse processo: quando se começa uma pesquisa para se solucionar um problema para o setor espacial, diversas outras tecnologias são descobertas, que são os spinoffs, identificadas como todas as tecnologias subsidiárias, empregadas pelas indústrias em geral. Beneficamente as mesmas acontecem de forma vantajosa para qualquer indústria avançada e competitiva acima de tudo. Senão em desenvolvimento, mas na questão da produção, que está cada vez globalizada. Hoje em dia, só existe espaço para os produtos tecnologicamente avançados. Após elucidar as questões norteadoras e os objetivos específicos acima, foram analisadas as consequências imediatas da atual política social governamental, procurando destacar os elementos essenciais, potencialmente causadores do insucesso do Programa, sobre os quais se poderão intervir para evitar-se repetir erros passados, provendo algumas soluções possíveis. 37 5 ALGUMAS POSSÍVEIS SOLUÇÕES O desafio inovador abrange a geração de tecnologias novas ou aprimoradas, exigindo sobrepujar um obstáculo ainda maior neste início de jornada: o desafio gerencial. Como fazer com que a miríade de pessoas que trabalham no tabuleiro administrativo impulsione os seus remos na mesma direção e ritmo? Como tratar as tecnologias duais? Como fazer convergir os interesses setoriais com os nacionais? Uma vez que o setor industrial de defesa é estratégico para a consecução dos objetivos nacionais no futuro, cumpre indagar por quais maneiras o Estado pode prestar efetivo apoio ao fortalecimento das empresas que nele operam. Nesse sentido, é vital o funcionamento da indústria de defesa em “trilhos lubrificados” pela legislação governamental, abrangendo, dentre outros pontos: i) a concessão patrocinada ou administrativa (PPP); ii) o financiamento externo; iii) a concessão de incentivos fiscais às empresas do setor; iv) a dispensa de licitação; v) a criação de joint ventures de empresas estrangeiras com nacionais; vi) a adoção de regime jurídico e tributário especiais; vii) a compra, pelo governo, de ações golden share que lhe permitam exercer sua vontade sobre decisões estratégicas das firmas; e viii) a extinção dos contingenciamentos orçamentários, mediante a vinculação de recursos para gastos e investimentos em defesa. 5.1 A CONCESSÃO PATROCINADA OU ADMINISTRATIVA Nos últimos anos, o setor público, em diversos países, premido pela necessidade de viabilizar investimentos em contexto de restrição fiscal, encontrou nos arranjos de Parceria Público-Privada (PPP) o mecanismo eficiente na provisão de serviços públicos. No Brasil, após um ano de tramitação legislativa e intenso debate público propiciado por Governo, parlamentares e pela sociedade em geral, a lei das PPP foi sancionada (Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004), instituindo normas gerais 38 para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. O texto da referida lei incorporou conceitos aplaudidos pela experiência internacional e garantiu que as referidas parcerias sejam um instrumento efetivo na viabilização de projetos fundamentais ao crescimento do País, balizadas na atuação transparente da Administração Pública e nas regras de responsabilidade fiscal. Entende-se como parceria público-privada um contrato de prestação de serviços de médio e longo prazo (de 5 a 35 anos) firmado pela Administração Pública, cujo valor não seja inferior a R$ 20 milhões de reais, sendo vedada a celebração de contratos que tenham por objeto único o fornecimento de mão de obra, equipamentos ou execução de obra pública. Na PPP, a implantação da infraestrutura necessária para a prestação do serviço contratado pela Administração dependerá de iniciativas de financiamento do setor privado e a remuneração do particular será fixada com base em padrões de desempenho, somente quando o serviço estiver à disposição do Estado ou dos usuários. A lei traz a possibilidade de combinar a remuneração tarifária com o pagamento de contraprestações públicas e define PPP como contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa. Na concessão patrocinada, a remuneração do parceiro privado vai envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários, contraprestação pecuniária do parceiro público. A concessão administrativa, por sua vez, envolve tão somente contraprestação pública, pois se aplica nos casos em que não houver possibilidade de cobrança de tarifa dos usuários. Dentre outros aspectos, incorporou-se a possibilidade de inversão das fases de habilitação e julgamento no procedimento licitatório e a de repartição dos riscos de força maior, caso fortuito, e outros aspectos extraordinários dos contratos. A lei autorizou, ainda, a arbitragem para solução de conflitos e a constituição de fundos ou instituição de seguros para garantir o pagamento devido pelo poder público ao parceiro privado. Com relação à União, a lei da PPP estabeleceu que a abertura da licitação pelo órgão competente estará condicionada à autorização prévia do Comitê Gestor das PPP (CGP), formado pelos Ministérios do Planejamento, Orçamento e Gestão (coordenador), Fazenda e Casa Civil. Este órgão é quem dará as diretrizes para 39 contratação das PPP no âmbito federal e estabelecerá os critérios para seleção dos projetos sujeitos a esse novo regime. No tocante ao PESE, foco de investimento dos projetos satelitais, poderiam ser fomentadas pelo Governo algumas empresas parceiras, que objetivassem desfrutar os lucros futuros do lançamento e emprego duais da constelação de satélites. 5.2 O FINANCIAMENTO EXTERNO Países estrangeiros tipicamente oferecem financiamento para exportações de produtos espaciais de forma que a obtenção de financiamento externo é possível se desejado pelo governo. Compete ao Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão autorizar a preparação de projetos ou programas do setor público com apoio de natureza financeira de fontes externas, mediante prévia manifestação da Comissão de Financiamentos Externos (COFIEX), órgão colegiado integrante da estrutura do MPOG, instituída pelo Governo Federal em 1990, e reorganizada pelo Decreto nº 3.502, de 12 de junho de 2000. Os seguintes requisitos mínimos são solicitados de acordo com os artigos 4º, 5º e 6º do Decreto n.º 3.502, de 12 de junho de 2000, bem como na Resolução COFIEX n.° 291, de 1° de setembro de 2006: (i) compatibilidade do projeto com as prioridades do Governo Federal; (ii) compatibilidade do financiamento externo com as políticas da Administração Federal; (iii) compatibilidade do projeto com as metas fiscais do setor público; (iv) avaliação dos aspectos técnicos do projeto; e (v) avaliação do desempenho da carteira de projetos em execução do proponente mutuário e do executor. No caso de entidades do Governo Federal, serão ainda verificados (as): i) o enquadramento do projeto dentro dos programas e das ações, bem como a existência de recursos previstos no Plano Plurianual (PPA) compatíveis com o pleito, e a observância de fontes de recursos vinculadas, alternativas ao financiamento externo; ii) existência de recursos orçamentários na Lei Orçamentária Anual (LOA) e, quando for o caso, na proposta orçamentária para o exercício seguinte; e iii) 40 compatibilidade do pleito com a programação orçamentária e financeira do Tesouro Nacional. Analogamente ao executado para o Projeto do Sistema de Vigilância e Implantação da Amazônia (SIVAM), a Administração Pública poderia financiar os recursos com o país vencedor da licitação de implantação do PESE, de forma que os serviços disponibilizados pela constelação de satélites possam liquidar o referido financiamento em um curto espaço de tempo. 5.3 A CONCESSÃO DE INCENTIVOS FISCAIS ÀS EMPRESAS DO SETOR A Lei 12.598, de 21 de março de 2012, estabelece as normas especiais para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa e dispõe sobre regras de incentivo à área estratégica de espaço. Em seu capítulo IV, a referida Lei define o Regime Especial para a Indústria Aeroespacial Brasileira (RETAERO). Torna-se beneficiária do RETAERO a pessoa jurídica que produza partes, peças, ferramentais, componentes, equipamentos, sistemas, subsistemas, insumos e matérias-primas, ou preste alguns tipos de serviços regulamentados, a serem empregados na manutenção, conservação, modernização, reparo, revisão, conversão e industrialização dos produtos classificados em uma posição determinada da tabela de Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM). Considera-se pessoa jurídica preponderantemente fornecedora aquela que tenha 70% (setenta por cento) ou mais de sua receita total de venda de bens e serviços, no ano-calendário imediatamente anterior ao da habilitação. O uso fruto dos benefícios do RETAERO condiciona-se ao atendimento cumulativo, pela pessoa jurídica, dos seguintes requisitos: i) cumprimento das normas de homologação aeronáutica editadas no âmbito do Sistema de Segurança de Voo; ii) prévia habilitação na Secretaria da Receita Federal do Brasil; iii) regularidade fiscal em relação aos impostos e contribuições administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. No caso de venda no mercado interno ou de importação de bens definidos na Lei, ficam suspensos os impostos abaixo para as pessoas jurídicas beneficiárias do RETAERO: i) a exigência da Contribuição para o Programa de Integração Social 41 e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) incidentes sobre a receita da pessoa jurídica vendedora; ii) a exigência da Contribuição para o PIS/PASEP importação e da COFINS-Importação, quando a importação for efetuada; iii) o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente na saída do estabelecimento industrial ou equiparado, quando a aquisição no mercado interno for efetuada; iv) o IPI incidente na importação, quando efetuada por estabelecimento industrial de pessoa jurídica. Para efeitos desta Lei, equipara-se ao importador a pessoa jurídica adquirente de bens estrangeiros, no caso de importação realizada por sua conta e ordem por intermédio de pessoa jurídica importadora. Os benefícios citados acima podem ser utilizados nas aquisições e importações realizadas no período de 5 (cinco) anos, contados da data de habilitação no RETAERO. 5.4 A DISPENSA DE LICITAÇÃO A Lei 8666, de 21 de junho de 1993, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Em seu artigo 24, existe a regulamentação do que é dispensável a licitação, a saber: (i) Quando houver possibilidade de comprometimento da segurança nacional, nos casos estabelecidos em decreto do Presidente da República, ouvido o Conselho de Defesa Nacional; (ii) Para a aquisição de bens ou serviços nos termos do acordo internacional específico aprovado pelo Congresso Nacional, quando as condições ofertadas forem manifestadamente vantajosas para o Poder Público; (iii) Para a aquisição de bens e insumos destinados exclusivamente à pesquisa científica e tecnológica com recursos concedidos pela Capes, pela FINEP, pelo CNPq ou por outras instituições de fomento a pesquisa credenciadas pelo CNPq para esse fim específico; (iv) Para o fornecimento de bens e serviços, produzidos ou prestados no País, que envolvam, cumulativamente, alta complexidade tecnológica e defesa nacional, mediante parecer de comissão especialmente designada pela autoridade máxima do órgão. 42 5.5 A CRIAÇÃO DE JOINT VENTURES ENTRE EMPRESAS Joint Venture é uma figura contratual amplamente utilizada na atualidade do mundo dos negócios, definida como uma aliança estratégica entre duas ou mais empresas para alcançar um objetivo comum. Através do compartilhamento de tecnologia, insumos, capital e conhecimento, tais empresas têm a possibilidade de se fortalecer no mercado. Nesse cenário tecnológico, as mesmas emergem como importantes estratégias comerciais capazes de conciliar as demandas de conhecimento, tecnologia e capital, favorecendo a expansão da atividade mundialmente. Sua característica essencial é a realização de um projeto comum, empreendimento, cuja duração pode ser curta ou longa, porém com prazo determinado. Diferentemente da parceria, em que todos os partners são, presumidamente, agentes em nome da associação, tendo, portanto, o poder de obrigar os demais, perante terceiros, a joint venture não presume que os parceiros devam agir em nome dos demais. Ocorre apenas uma delegação de poderes, sendo explícita e normalmente limitada. Experimentalmente, existe uma contradição intrínseca da joint venture: ela reduz as perdas em caso de fracasso, operação, pela repartição do risco entre as partes. Mas, também, possui o maior risco de fracasso da operação. Ainda, ela pode ser criada para desenvolver uma série de atividades: projetos industriais, execução de obras, pesquisas e desenvolvimentos, atividades financeiras, prestação de serviços. A empresa VISIONA, responsável pela integração do SGDC, é um bom exemplo de joint venture entre a TELEBRAS e EMBRAER Defesa. 5.6 A ADOÇÃO DE REGIME JURÍDICO E TRIBUTÁRIO ESPECIAIS Nas últimas duas décadas, a Defesa Nacional não recebeu do governo federal a devida atenção nem recursos públicos adequados ao fortalecimento da 43 soberania nacional, embora o País tenha conquistado nesse mesmo período relevante importância estratégica no contexto mundial. Com muito atraso, portanto, a Defesa volta a fazer parte da pauta da agenda da política brasileira. A Lei 12.598 de 22 de março de 2012 é um instrumento de grande alcance para resgatar a competitividade do país nesse campo e revitalizar a Base Industrial de Defesa (BID), especificamente a indústria aeroespacial. Para resolver os diversos óbices de sua indústria, os documentos (PDN, PNID, END) defendem a isonomia tributária da BID frente aos produtos importados, a expansão da participação desta nos mercados interno e externo, o fortalecimento da cadeia produtiva no Brasil, a ampliação das compras estatais, a expansão e adequação de financiamentos e a promoção internacional da produção da BID. Os principais mecanismos propostos para solucionar as questões de maior incentivo à BID foram: (i) o Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa (RETID), cuja principal finalidade é eliminar a distorção de impostos entre o PRODE nacional e o importado, criando a isonomia para a indústria nacional concorrer em pé de igualdade com as estrangeiras; (ii) o estabelecimento de regras claras de prioridade à BID nos editais realizados pelo MD; e (iii) um aporte orçamentário para o reaparelhamento das FA, que naturalmente resulta em maior demanda para a BID. Ao analisar o RETID durante seminário em Outubro de 2011, o presidente do BNDES Luciano Coutinho mostrou estimativas que indicam que o Regime Especial pode até duplicar os empregos diretos e indiretos da BID, passando dos atuais 25 mil diretos e 100 mil indiretos para 50 e 200 mil – com criação substancial de 125 mil novas vagas. Isto ocorreria através da combinação das medidas do RETID com o contexto das Forças Armadas, da ordem de R$60 bilhões apenas na corrente década. Publicada em setembro de 2009, a Medida Provisória 544 criou o RETID e dispôs sobre algumas medidas de incentivo à BID, tendo sido transformada com poucas alterações na Lei 12.598, de 22 de Março de 2012, e trazendo diversos pontos positivos à indústria, como: a) Organizar e tipificar o mercado de defesa ao estabelecer os termos técnicos Produto de Defesa (PRODE), Produto Estratégico de Defesa (PED), Empresa Estratégica de Defesa (EED) e Sistema de Defesa (SD); b) Iniciar processo de criação de base de dados das empresas envolvidas na BID; 44 c) Possibilitar editais exclusivos para compra de PRODE e SD de produção nacional; d) Possibilitar editais direcionados exclusivamente para as EED quando da licitação para compra de PED; e) Criar regras de continuidade produtiva e estabilidade orçamentária, diminuindo as instabilidades que prejudicam o setor; f) Os editais deverão passar a esclarecer planos de compensação tecnológica, industrial, comercial que gerem ganhos para a BID quando das importações; g) O RETID beneficia parte da BID ao desonerar aquisições internas e importações das EED e de seus fornecedores; h) Desonerar também as exportações das EED, aumentando a competitividade internacional; i) Permitir o estabelecimento de uma parcela mínima de agregação nacional aos produtos importados pelo MD. É importante ressaltar que as beneficiárias da desoneração do RETID são as EED, empresas que participam do desenvolvimento, produção e/ou manutenção dos PED (produtos de defesa que, por seu conteúdo tecnológico, dificuldade de obtenção ou sua imprescindibilidade, são estratégicos para a Nação), como recursos bélicos, navais, aeroespaciais, serviços técnicos especializados e equipamentos para a área de inteligência. As empresas preponderantemente fornecedoras de EED também serão desoneradas. Contudo, do modo como foi redigido, o RETID desonera apenas as aquisições nacionais entre empresas, excluindo a venda final e mais vultosa, último e principal elo da cadeia de produção: a das empresas para o MD. Sendo o Estado o principal cliente da BID, esta oneração é a mais significativa possível em todo o setor. A permanência desta tributação contrasta com o que está expresso nos diversos decretos citados (e na Lei 8.666), já que com ela os produtos nacionais continuam mais onerados. Em outras palavras, o RETID mantém a vantagem competitiva aos importados isentos de Imposto de Importação e não fornece a isonomia devida à indústria nacional, essencial para o seu desenvolvimento. O motivo que pode ter levado a Lei 12.958 a ser constituída deste modo é a ideia de que, caso o RETID desonerasse as vendas finais para o MD, a BID seria mais bem beneficiada à custa de massiva renúncia fiscal por parte da União. Porém, 45 esta formulação se apoia em duas premissas ilusórias; a primeira é a de que o RETID é um benefício especial à BID, ideia equivocada visto que o estabelecimento de tratamento tributário isonômico para remover uma desvantagem competitiva instaurada anteriormente por políticas de governo não constitui benefício no sentido usual da palavra. A segunda se refere à suposta renúncia fiscal por parte da União, infundada por diversos motivos: como a única venda tributada será a feita ao MD, este pagará sozinho aos impostos, em valor exatamente igual ao que recolherá. Assim sendo, a tributação constitui mero passeio desnecessário de recursos que tem idêntica origem e destino, não gerando receitas ao governo e apenas perpetuando as condições desfavoráveis à indústria nacional. Na verdade, a resultante manutenção da vantagem competitiva das importações acaba por gerar menor receita ao governo, visto que estas não são tributadas e não influem na criação de empregos no País, no aquecimento da economia, na soma das riquezas ou no desenvolvimento da nação. Existe ainda o argumento de que os produtos nacionais não serão prejudicados nas licitações, pois o orçamento das Forças Armadas contempla recursos para o pagamento dos tributos. Sabendo, porém, que não há destinação pré-fixada no orçamento, tal assertiva se mostra contrária às políticas de governo, à END e à racionalidade político-econômica que busca desenvolver o País. Há que lembrar ainda que, devido à não obrigatoriedade de preferência aos produtos brasileiros nos editais, a continuidade da oneração nas vendas ao MD desencoraja o uso desse mecanismo, de modo que a importação de produtos continua parecendo boa opção para que as Forças Armadas aproveitem seu orçamento com maior eficácia. O que se pode esperar da combinação destas questões é uma evolução da BID aquém das expectativas, o que resulta numa situação especialmente delicada quando a relacionamos à exigência dos 70% para as fornecedoras preponderantes das EED: com uma atividade menor do setor de Defesa, as indústrias vão precisar encontrar outras opções para conseguirem manter a competitividade e terão maior dificuldade para atingir este pré-requisito. Quando analisada através de uma perspectiva de longo prazo, esta disposição do RETID sobre os 70% revela outra dissonância em relação aos decretos anteriores do governo: ao se exigir que ¾ do faturamento das fornecedoras venham exclusivamente do setor de Defesa, inibe-se parcialmente o 46 desenvolvimento de tecnologia dual, algo explicitamente descrito como positivo no PDN: “O desenvolvimento da Indústria de Defesa, incluindo o domínio de tecnologias de uso dual, é fundamental para o abastecimento seguro e previsível de materiais e serviços de defesa”. Tal tecnologia é, além disso, uma necessidade do setor para aumentar sua competitividade e criar defesas naturais aos contingenciamentos de gastos e às imprevisibilidades, além de possibilitar maior spinoff (aproveitamento no meio civil de equipamentos e tecnologias militares) para a área civil. Algumas vantagens podem ser facilmente visualizadas: (i) Esses contratos são instrumentos jurídicos de internacionalização das empresas; (ii) O fator expansionista regionalizado desses contratos certamente cria mais postos de trabalho e expande o mercado na oferta de produtos; (iii) Se ganha acesso aos conhecimentos recursos e tecnologia das outras partes; (iv) As outras partes ganham acesso aos seus conhecimentos recursos e tecnologia; (v) A joint venture resulta em economia de escala e eficiência. Entretanto, existem também algumas ineficiências operacionais, a saber: (i) Necessidade de mais tempo e recursos para iniciar; (ii) Mais tempo e recursos para administrar; (iii) Prováveis conflitos de interesse em contratos de vendas, compras, distribuição, serviços, licenças; (iv) Necessidade de ajustamento de culturas nacionais e de negócios das partes. 5.7 A COMPRA DE AÇÕES GOLDEN SHARE PELO GOVERNO. Numa definição mais restrita, segundo Rodrigues (2005), golden shares são participações sociais detidas por entidades públicas que, em resultado de uma intervenção legislativa derrogatória do regime geral das sociedades comerciais, atribuem poderes especiais intra-societários que não estão ao alcance dos entes privados. Uma golden share é uma participação acionista detida pelo Estado, que apesar de ser minoritária confere poderes especiais. Por isso mesmo, está em discussão no seio da União Europeia proibir os vários países membros de possuí-las em empresas, por norma que já pertenceram ao universo público e foram privatizadas. 47 Como exemplo, o caso da empresa Portugal Telecom, na qual o Estado possuiu uma pequena quantidade de apenas 500 ações, chamadas da categoria A, que lhe conferiram o poder de eleger um terço do número total de administradores, incluindo o presidente. Além disso, essas ações permitiram ao Governo ter capacidade de veto sobre alterações de estatutos (que até o momento proibiam qualquer empresa concorrente de ter mais que 10% do capital), aumentos de capital ou emissão de obrigações e outros títulos de crédito. Os direitos especiais alargam-se, ainda, à definição da estratégia e políticas que a empresa segue, bem como lhe dão uma palavra determinante no que toca à "definição dos princípios gerais de política de participação em sociedades", leia-se, na compra e venda de empresas. No caso brasileiro, a adoção de golden shares ocorreu, no primeiro momento, por meio das legislações de programas de desestatização (Lei 8031 de 1990), sendo posteriormente consagrada como lei societária (artigo 17 da Lei 6.404, de 1976). Foi efetivamente utilizado esse instrumento legal defensivo dos direitos dos interesses nacionais nas privatizações importantes, como a EMBRAER e Vale do Rio Doce (CVRD). Desta forma, o Governo poderia fomentar a criação de uma empresa, adotando as “ações de ouro”, de modo a canalizar as necessidades de implantação do PESE. 5.8 A EXTINÇÃO DOS CONTINGENCIAMENTOS ORÇAMENTÁRIOS. O contingenciamento imposto, no orçamento do COMAER, foi de aproximadamente R$ 1 bilhão em 2014. O impacto relativo ao mesmo, no orçamento do Comando da Aeronáutica, implica diretamente na manutenção do custeio da Força. Considerando-se o anexo I do Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008, que aborda os recursos provenientes do Tesouro Nacional, verifica-se um total cerceamento para o alcance dos objetivos determinados pela Estratégica Nacional de Defesa (END). Essa nova Estratégia de Defesa altera o conceito para que as Forças Armadas desenvolvam tecnologias, para a defesa da Amazônia Ocidental, bem 48 como para o desenvolvimento da Indústria de Defesa e ainda o aprimoramento dos recursos humanos a serem incorporados às Forças Armadas. Como executar essas missões, consideradas na END, sem que haja recursos orçamentários compatíveis com as dimensões político, econômicas, diplomáticas e militares do Brasil? Como desenvolver a Ciência e Tecnologia para acompanhar o desenvolvimento científico, envolvendo o conhecimento de sistemas e engenhos bélicos e espaciais de última geração sem os adequados recursos para prover Defesa Aeroespacial de última geração? Relevante frisar que o orçamento destinado ao custeio da Força compreende ainda projetos que contemplam o Reaparelhamento dos Equipamentos, Defesa do Espaço Aéreo, Administração de Unidades, Manutenção do Sistema de Saúde, do Sistema de Material Bélico, Alimentação do efetivo e Fardamento, assim como todo o Preparo e Emprego da Força Aérea. Não se devem contingenciar os gastos de defesa. Essa é a trajetória para manter este País seguro. Defesa não diz respeito somente a assuntos militares, mas a todas as expressões nacionais de poder, pois, sem ela, todos sucumbem à primeira ação das ameaças que nos rodeiam. Com base no orçamento de cada Força, em especial da Força Aérea, necessita-se cumprir as demandas da END. Assim, é de bom alvitre que o Congresso Nacional, ao votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), ressalve de contingenciamentos o Orçamento de Defesa, a fim de que se mantenha e se incremente o nível estratégico e operativo do Poder Aeroespacial. Urge evitar a retenção dos recursos orçamentários de Defesa e incrementados, caso se queira lograr êxito no que se refere à manutenção da soberania nacional. Paralelo à ressalva na LDO, é importante elaborar emenda à Constituição Federal no intuito de contemplar recursos mínimos para as ações de custeio e investimento destinados à manutenção e à implantação de novos Programas como o PESE. As debilidades já estão quase à mostra, não é salutar evidenciá-las para aqueles que tanto cobiçam os recursos naturais, as diversas formas de obtenção de energia e tantas outras riquezas nacionais. Desenvolvimento e defesa são binômios, mas fruto de unidade basilar: pátria. 49 6 O MÉTODO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA ESG Visando dar consistência às ações necessárias à continuidade dos recursos para a implantação do PESE, utilizou-se o Método de Planejamento Estratégico (MPE) da ESG. O mesmo é composto de quatro fases: Diagnóstico, Política, Estratégica e Gestão. A fase de Gestão não será analisada em função de ser um trabalho acadêmico. Para tal, foram definidos inicialmente os seguintes tópicos abaixo: (i) Tema: O Programa Espacial Brasileiro; (ii) Sistema: Brasil com foco no PESE; (iii) Abrangência: Brasil. A situação geral e a formação histórica que compõem a Fase de Diagnóstico foram apresentadas no Capítulo 2, as quais fornecerão os subsídios para a compreensão de todo o processo que será desenvolvido a seguir. 6.1 FASE DO DIAGNÓSTICO Conforme preconizado pelo MPE, inicia-se com a apresentação dos Objetivos Fundamentais os quais servem como balizadores para todo o processo de apoio à decisão: democracia, integração nacional, integridade do patrimônio nacional, paz social, progresso e soberania. Quanto ao cenário onde as ações relacionadas à questão da continuidade de recursos para o PESE se desencadeia, este pode ser dividido em externo e interno. O ambiente externo é caracterizado por toda ação no âmbito internacional que promova ou prejudique a consolidação do PESE, necessário à implantação dos satélites, sendo identificadas nesse âmbito as seguintes oportunidades: 6.1.1 Oportunidades No âmbito do Comércio Internacional, o Brasil tem a chance de estar entre um dos 12 (doze) países capazes de fazer parte de um mercado mundial de lançamento de satélites, que executa entorno de US$ 33 bilhões por ano; 50 A existência do Contrato entre o Brasil e a Ucrânia para lançamento de veículos espaciais daquele país a partir de Alcântara. Tal fato pode ser favorável a uma solução mais rápida para o desenvolvimento de propelente líquido, capaz de ser controlado mais facilmente do que o sólido; Quanto às ameaças desse ambiente destacam-se: 6.1.2 Ameaças Denúncia na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos sobre suposta desestruturação sociocultural e violação ao direito de propriedade na região de Alcântara, em função da existência do Centro de Lançamento naquele local, o CLA; A política de resistência de países fornecedores de produtos do setor aeroespacial na transferência de tecnologia; Considerando a questão de falta de continuidade de investimento para o PESE e conhecendo os Objetivos Fundamentais, é possível identificar, com base na situação geral já apresentada nos capítulos anteriores, os pontos fortes e fracos do Estado Brasileiro que caracterizam o ambiente interno, sendo relacionados ao potencial existente para tratamento do tema em foco. Assim, seguem-se os principais pontos fortes: Abundância de recursos naturais com facilidade de obtenção de matéria-prima; A estabilidade dos governos brasileiros nos últimos 20 anos, favorecendo as políticas públicas de desenvolvimento; A lei 12.598/12, regulamentada pelo Decreto 7.970/13, que estabelece normas especiais para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa, bem como incentiva à área estratégica de espaço; A existência de Institutos de formação tecnológica de excelência; A existência de recursos humanos de alta qualificação (cientistas, engenheiros e técnicos) com capacidade de absorver novas tecnologias; A capacidade do parque industrial brasileiro; A disponibilidade de financiamento específico para as EED; 51 Por outro lado, é notório nesse estudo os pontos fracos discriminados a seguir: Cortes e contingenciamentos no orçamento da Defesa por parte do Governo Federal, ou seja, não há a regularidade e a previsibilidade no orçamento da Defesa; Baixa prioridade dos últimos Governos para os projetos de C&T; Alta carga tributária; O desestímulo das EED devido ao alto risco do investimento de longo prazo, para desenvolvimento de PRODE; Pequeno número de empresas com capacidade de investimento próprio em P&D; A ausência da garantia de demanda de PRODE pelo governo; Reduzida conscientização do setor privado no desenvolvimento de C&T, comprovado pelo baixo número de patentes; Baixo aproveitamento institucional do offset de interesse da BID voltada para o espaço; Diante do mapeamento feito do ambiente externo e interno, é possível identificar com precisão as necessidades existentes para uma adequada condução da questão. Essas necessidades são descritas como se segue: 6.1.3 Necessidades 1) Criar programas mobilizadores para os produtos do setor aeroespacial, que devem ser parte da política do Estado Brasileiro, envolvendo todos os escalões do governo federal no sentido de garantir, em orçamentos plurianuais, recursos financeiros, humanos e materiais; 2) Nas compras de produtos estrangeiros, exigir a transferência de tecnologia por meio de contrato independente ou associado à compra de produto com cláusula de offset. É necessário que o Brasil disponibilize pessoal, infraestrutura e empresas capacitadas para assimilar as tecnologias envolvidas, e principalmente, que os engenheiros e técnicos capacitados sejam obrigados a aplicar os conhecimentos em produtos de espaço posteriormente; 3) Criar um centro de pesquisas científicas do BRICS, de forma a consolidar áreas estratégicas do bloco, visto que Rússia, Índia e China já fazem 52 parte do grupo detentor de conhecimento de lançamento de satélites e possuem programas espaciais completos; 4) Aumentar os gastos com defesa: de 1,5% para 2% PIB brasileiro. Sabe-se que o desenvolvimento de qualquer produto é muito oneroso, quanto mais aquele voltado para o espaço. A divulgação pelo Governo Federal desse aumento de 0,5% PIB deve deixar bem claro que se estará procurando atingir a um Objetivo Fundamental do país; 5) Melhor integrar o Ministério da Defesa e os institutos de pesquisas civis, indústrias, universidades, órgãos de fomento de CT&I, com a criação de escritórios de fomento nas principais instituições; 6) Padronizar, dentro das FA, as atividades de certificação, metrologia, normalização e fomento industrial, voltadas para o setor aeroespacial. Tanto o Instituto de Fomento Industrial (IFI) quanto o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) devem possuir uma importância no meio de CT&I de tal sorte que os símbolos ou marcas de produtos aeroespaciais e militares, homologados por ambos, não necessitem de definição ou explicação, mas que os mesmos possam ensejar em si mesmos os nomes das Instituições Militares, devido a seu elevado padrão de requisitos, similarmente ao padrão do INMETRO. Neste momento, cabe destacar que, no caso de os pontos fracos e as necessidades não serem superados adequada e oportunamente, é possível que o PESE não seja capaz de ser implantado, refletindo em uma continuada dependência externa a custos contratuais abusivos pelos serviços de aluguel de transponders, pelo acesso a internet de banda larga, e, principalmente, à exposição de comunicações seguras, tanto militares quanto de empresas civis estratégicas. Para tratar das questões mapeadas até aqui, o Poder Nacional conta com meios disponíveis e potenciais, que refletem suas possibilidades e limitações, sendo apresentados abaixo: 6.1.4 Possibilidades 1) A promulgação da END, em 2008 e o Livro Branco de Defesa, em 2012 representam os dois maiores "passos" da esfera política em prol da reestruturação das FA, juntamente com o apoio incondicional à BID e ao setor aeroespacial, consolidada pela Lei 12.598/13. Tais documentos permitiram a consolidação dos 53 três principais eixos estratégicos de defesa (nuclear, cibernético e aeroespacial), que ao serem apresentados pela END e posteriormente concretizados pelo PAED, no valor superior a R$680 bilhões, até 2031, servirão como marco regulador da política de defesa e da disponibilização dos recursos que se fizerem necessários ao longo desse período, firmando um compromisso governamental nos PPA dos anos subsequentes. 2) A atuação da diplomacia brasileira na defesa das exportações das indústrias nacionais tem se destacado através de visitas aos países potencialmente compradores, em conjunto com os empresários do setor. Dentro deste enfoque, foi muito importante a reunião dos BRICS, em 15/07/2014, na cidade de Fortaleza, para sacramentar a criação de um banco conjunto para atender ao plano de desenvolvimento do BRICS. 3) A existência da definição das EED, por meio da lei nº 12.598/2012, com ênfase nos produtos de uso dual (civil e militar) no País, 4) A existência do IME e ITA na capacitação de profissionais altamente especializados; 5) A abundância de recursos naturais, inúmeros destes exportados (commodities) para os países centrais, detentores de tecnologia de ponta na fabricação de diversos componentes de uso dual, que, certamente, podem ser aproveitados no desenvolvimento da indústria nacional; 6) A existência de linhas de crédito, pelo BNDES e FINEP, para os produtos de defesa da BID, permite que as empresas possam investir nesse seguimento, com linha de recursos diferenciada; 7) A possibilidade trazida pelo decreto nº 7.970/2013, que estabelece condições próprias para o termo de licitação especial, específico para as empresas da BID, dissociado da condição de preço mínimo, bem como a possibilidade de prorrogação do RETID a partir de 2018, sinalizam grande incentivo às parcerias com empresas estrangeiras mais sedimentadas no mercado mundial, de forma que haja mercados externos com capacidade de absorção de produtos duais brasileiros. 6.1.5 Limitações 1) Após todo o cabedal legislativo de suporte à BID (END, LBDN e outros), uma grande limitação é a ausência da consolidação do TLE (Termo de 54 Licitação Especial) a cargo de cada Ministério, previsto em Lei específica. Ele permitirá que nos processos licitatórios sejam consolidadas necessidades de especificação técnica, não ficando preso à escolha pelo menor preço, previsto na Lei 8.666. 2) A END e a Estratégia Nacional de Desenvolvimento são inter- relacionadas, no sentido em que a primeira é inseparável da segunda, ao mesmo tempo em que serve de anteparo para a segunda. A inexistência da Estratégia Nacional de Desenvolvimento, indispensável para complementar as ações previstas na END, impossibilita que outros ministérios sejam envolvidos de forma efetiva na mesma proporção do MD; 3) A indefinição da fonte de recursos para sustentar o Plano de Articulação de Equipamentos de Defesa (PAED), estimado hoje na ordem de R$ 1 trilhão, o que representa a concretização dos planos e programas até 2031; 4) A ausência de uma percepção das reais ameaças externas ao Brasil, fazendo com que a sociedade deixe de se preocupar e, consequentemente, passe a pressionar o governo para atender aos interesses e necessidades da área militar no poder dissuasório; 5) A pouca margem de crédito disponível no mercado para investimento pelas empresas interessadas em produção de itens de defesa, associado ao baixo crescimento da economia brasileira. Um país com elevada desigualdade social impõe ao governo priorizar programas nessa área, em detrimento da política de defesa, mesmo esta tendo sido publicamente divulgada em seu LBDN; 6) A elevada pressão promovida pelos países centrais que detém know how na produção de itens de defesa, fazendo com que a competição internacional sufoque a indústria nacional nessa área estratégica; 7) A escassez de centros de tecnologia capacitados em projetos de produtos de defesa, especialmente no setor aeroespacial, nas esferas federal e estadual, uma vez que, devido à sua complexidade dos equipamentos, o terceiro nível municipal sequer foi considerado pelo Estado Brasileiro. Essa limitação tende a acentuar a evasão de cientistas e profissionais especializados, cooptados por outros países onde há oferta de condições bem mais vantajosas de trabalho nessa área especializada. 55 6.2 FASE POLÍTICA Nessa fase são realizadas as análises prospectivas necessárias à elaboração dos cenários futuros, os quais permitem definir a concepção política e, ao final são estabelecidos os Objetivos de Estado (OE) e os Objetivos de Governo (OG), que são cotejados com os Objetivos Fundamentais (OF). A elaboração dos cenários é composta pelos fatos portadores de futuro (FPF), eventos futuros preliminares (EFP) e cenários extremos, sendo esses estágios fundamentais para que se possa ter uma imagem completa e integrada da questão de descontinuidade de recursos financeiros para o PESE no futuro. Obedecendo à sequência citada, foram selecionados os fatos portadores de futuro de maior relevância, ocorridos ou em andamento, que produzem os eventos futuros a serem determinados por meio da técnica do brainstorming. FPF1 – A espionagem americana realizada na Presidente da República e em altos funcionários da PETROBRAS, veiculada na mídia mundial, por meio da internet, procurando obter informações privilegiadas das novas descobertas de poços de petróleo no campo de pré-sal. EFP1 - O PNBL com maior acesso e proteção na internet , bem como os Projetos de Defesa (SisGAAz e SISFRON), que dependem do PESE, podem aflorar o patriotismo da alta cúpula do Governo Federal, referente à salvaguarda da soberania nacional, refletindo em maior interesse de negociação com os países do BRICS nesta implantação estimulado por um maior desinteresse brasileiro em negociar com os EUA. FPF2 – As manifestações públicas de insatisfação, ocorridas em meados de 2013, ocasionadas pelo baixo rendimento econômico governamental, por metas de inflação cada vez mais inalcançáveis, aumentando a dificuldade no poder de compra do cidadão. EPF2 – Estímulo da Administração Pública com maior facilidade de aporte de recursos financeiros para o desenvolvimento das indústrias nacionais, especialmente a BID em seu setor aeroespacial com capacidade dual, que atualmente negocia valores da ordem de US$ 33 bilhões por ano. FPF3 – Eleição brasileira para Presidente da República, Senadores, Deputados 56 Federais e Governadores Estaduais. EPF3 – Política desenvolvimentista do país, com incentivo governamental à BID, especialmente o setor aeroespacial, podendo utilizar algumas das soluções propostas, a saber: PPP, financiamento externo, RETAERO, dispensa de licitação, joint ventures, RETIDA, golden shares, extinção do contingenciamento orçamentário. Quadro 1 – Fatos Portadores de Futuro e Eventos Fonte: o Autor Em função da complexidade do assunto, foi empregada a técnica de cenários extremos, com base no conhecimento do pesquisador, para a determinação do cenário mais provável. EVENTO TENDÊNCIA (+ ou -) (+ ou -) PROVÁVEL FAVORÁVEL Ev1 Oc + + Ev2 Noc - + Ev3 Oc + + Oc – Ocorre; Noc – Não ocorre; Período considerado – 4 anos. Quadro 2 - Cenários Extremos Fonte: o Autor Como condicionantes para a elaboração dos Objetivos de Estado e de Governo, destacam-se os seguintes pressupostos básicos: desenvolvimento do país, avanço tecnológico, bem comum, impessoalidade, proporcionalidade, interesse público, segurança nacional. Esses pressupostos permitem avaliar a legitimidade, oportunidade e conveniência dos objetivos fixados, estando alinhados com os Objetivos Fundamentais. Assim, concluída as análises afetas a cada evento, para uma melhor compreensão do cenário ideal a ser perseguido, é procedido o detalhamento do cenário desejado, o qual consiste na Concepção Política: Evento 1 – Maior interesse de negociação com os países do BRICS nesta implantação estimulado por um maior desinteresse brasileiro em negociar com os EUA. 57 Evento 2 – Estímulo da Administração Pública com maior facilidade de aporte de recursos financeiros para o desenvolvimento das indústrias nacionais, especialmente a BID em seu setor aeroespacial. Evento 3 – Utilização de algumas das soluções propostas, a saber: PPP, financiamento externo, RETAERO, dispensa de licitação, joint ventures, RETIDA, golden shares, extinção do contingenciamento orçamentário. Em função da relevância e da possibilidade de atendimento imediato de necessidades, os objetivos são classificados entre Objetivos de Estado e Objetivos de Governo conforme discriminado a seguir: Objetivo Estado 1) Maior interesse de negociação com os países do Governo X BRICS na implantação do PESE, estimulado por um maior desinteresse brasileiro em negociar com os EUA. 2) Estímulo da Administração Pública com maior facilidade X de aporte de recursos financeiros para o desenvolvimento das indústrias nacionais, especialmente a BID em seu setor aeroespacial. 3) Utilização de algumas das soluções propostas para o X PESE, a saber: PPP, financiamento externo, RETAERO, dispensa de licitação, joint ventures, RETIDA, golden shares, extinção do contingenciamento orçamentário. Quadro 3 – Objetivos de Estado e Governo Fonte:o Autor 6.3 FASE ESTRATÉGICA Depois de concluída a etapa de fixação dos Objetivos, busca-se estabelecer na sequência os meios necessários à consecução desses objetivos, empregando-se para esse fim uma concepção lógica, composta pela identificação de óbices, definição de ações, opções e diretrizes estratégicas. Dessa forma, descreve-se a seguir as principais ações estratégicas relacionadas a cada evento, as quais são submetidas aos critérios dos testes de 58 adequabilidade e exequibilidade, os quais são eliminatórios, e ao teste de aceitabilidade, que é classificatório e permite hierarquizar as trajetórias conservadas: Evento 1 – Maior interesse de negociação com os países do BRICS na implantação do PESE, estimulado por um maior desinteresse brasileiro em negociar com os EUA. Óbices: - Interferência americana no BRICS, por meio de sanções econômicas e maior espionagem tecnológica; - Dependência brasileira da Rússia e China dos códigos fontes dos sistemas e procedimentos de fabricação dos satélites e lançadores, se forem adquiridos desses países; - Maior dificuldade em conseguir capital de financiamento do Banco Mundial, BIRD, BID e FMI; Ações Estratégicas: AE1.1 – Aliar-se também aos EUA na questão tecnológica, por meio do MRE, fazendo valer o regionalismo americano, concomitante com o multilateralismo entre os países; AE1.2 – Somente assinar contratos com cláusulas de offset, que aceitem brasileiros (engenheiros e técnicos) acompanhando os equipamentos, na fábrica dos fornecedores, desde o projeto até o primeiro protótipo; AE1.3 – Criar um banco único do BRICS. Evento 2 – Estímulo da Administração Pública com maior facilidade de aporte de recursos financeiros para o desenvolvimento das indústrias nacionais, especialmente a BID em seu setor aeroespacial. Óbices: - Redução dos recursos do governo em planos sociais assistencialistas; - Dependência técnica dos países estrangeiros, detentores do conhecimento de equipamentos aeroespaciais, especialmente no desenvolvimento do propelente líquido; - Reduzido número de empresas, engenheiros e técnicos com know how para o setor; Ações Estratégicas: AE2.1 – Criar uma política expansionista e desenvolvimentista internamente, onde o objetivo maior do ser humano seja sua força de trabalho; 59 AE2.2 – Incentivar o INPE e as demais indústrias do Complexo Industrial de São José dos Campos, por meio da redução de impostos, a investirem na pesquisa aplicada ao setor; Evento 3 – Utilização de algumas das soluções propostas para o PESE, a saber: PPP, financiamento externo, RETAERO, dispensa de licitação, joint ventures, RETIDA, golden shares, extinção do contingenciamento orçamentário. Óbices: - Dependência de aprovação pelo Congresso da solução escolhida; - Baixo número de empresas capazes de executar o Programa; - Investimento de elevado custo e muita duração, superior ao período governamental de 4 anos. Ações Estratégicas: AE3.1 – Elaborar uma medida provisória, até sua votação e aprovação pelo Congresso, que autorize a execução do PESE por meio de uma PPP. AE3.2 – Negociar com empresas mundiais a viabilidade técnica do Programa; AE3.3 – Definir o PESE como um programa de Estado e não de Governo com aprovação do Congresso. Em seguida, elaboraram-se os testes de adequabilidade, exequibilidade e aceitabilidade, sendo considerado como limite temporal para a implantação de cada ação o prazo máximo de quatro anos: ADEQUABILIDADE Integridade Ações Pert APF FID Campo da Abordagem Oport Condicionamento Req Lim Niv Ampl Alc AE 1.1 S S S S S S S S S AE 1.2 S S S S S S S S S AE 1.3 S S S S S S S S S AE 2.1 S S S S S S S S S AE 2.2 S S S S S S S S S AE 3.1 S S S S S S S S S AE 3.2 S S S S S S S S S AE 3.3 S S S S S S S S S 60 Pertinência - Pert; Atingimento dos Propósitos Fixados - APF; Fidelidade - FID; Requisitos - Req; Limitações - Lim; nível - Niv; Amplitude - Ampl; Alcance – Alc; Oportunidade – Oport; Sim – S e Não N. Quadro 4 - Matriz de adequabilidade Fonte: o Autor EXEQÜIBILIDADE Ações Disponib Disponib Disponib Disponib Disponib Rec Hum Rec. Mat Rec. Fin. Rec. Tec Tempo AE 1.1 S S S S S AE1.2 S S S S S AE 1.3 S S S S S AE 2.1 S S S S S AE 2.2 S S S S S AE 3.1 S S S S S AE 3.2 S S S S S AE 3.3 S S S S S Recursos Humanos – Rec. Hum.; Recursos Materiais – Rec. Mat.; Recursos Financeiros – Rec. Fin.; Recursos Tecnológicos – Rec. Tec.; Sim – S e Não – N. Quadro 5 - Matriz de exeqüibilidade Fonte: o Autor Nessa etapa são submetidas ao teste de aceitabilidade somente as ações consideradas adequadas e exequíveis. Considerando os diversos atrasos já ocorridos no lançamento do satélite brasileiro, utilizando-se ou não o Centro de Lançamento de Alcântara e o VLS, foi observada, para fins de pontuação, a rapidez com que as ações podem ser implementadas e o tempo necessário para a ocorrência dos seus efeitos. Assim, devem ser adotados os pesos discriminados a seguir na avaliação da aceitabilidade. Quanto ao tempo necessário para implantação da ação (critério A): - curto prazo (até 90 dias) – peso 2; - médio prazo (de 90 a 180 dias) – peso 1; e - longo prazo (mais de 180 dias) – peso 0. Quanto ao tempo necessário para que a ação produza efeitos (critério B): - curto prazo (até 90 dias) – peso 2; - médio prazo (de 90 a 180 dias) – peso 1; e - longo prazo (mais de 180 dias) – peso 0. 61 ACEITABILIDADE (Custo x Benefício) Ações Critério A Critério B Total AE 1.1 2 1 3 AE 1.2 2 0 2 AE 1.3 2 2 4 AE 2.1 1 0 1 AE 2.2 1 0 1 AE 3.1 2 2 4 AE 3.2 1 2 3 AE 3.3 1 2 3 Quadro 6 - Matriz de aceitabilidade Fonte: o Autor Com o resultado do teste de aceitabilidade é possível estabelecer a montagem das trajetórias das ações por objetivo. Onde ocorreu uma situação de empate nos pesos foi considerada, para fins de desempate, a existência de relação de causa e efeito: - Objetivo de Governo 1 – trajetória AE1.3, AE1.1 e AE1.2; - Objetivo de Estado 2 – trajetória AE2.1 e AE2.2; - Objetivo de Estado 3 – trajetória AE3.1, AE3.3 e AE3.2 Estabelecidas as opções estratégicas, ou seja, as melhores trajetórias, serão apresentadas na sequência as Diretrizes Estratégicas, as quais visam orientar a elaboração, execução e controle dos Planos Nacionais: Objetivo de Governo 1 - Maior interesse de negociação com os países do BRICS na implantação do PESE, estimulado por um maior desinteresse brasileiro em negociar com os EUA. Ação Estratégica – Criar um banco único dos BRICS, com vistas a permitir o financiamento de contratos, que constem cláusulas de offset onde os brasileiros (engenheiros e técnicos) possam acompanhar o desenvolvimento dos equipamentos, na fábrica dos fornecedores, desde o projeto até o primeiro protótipo. Diretriz Estratégica – A Casa Civil da Presidência da República, juntamente como o Ministério de Relações Exteriores (MRE) e o Ministério de Desenvolvimento, Inovação e Comércio (MDIC), negociará com os demais integrantes do BRICS, com vistas a permitir a criação do referido Banco. 62 Ação Estratégica - Como estratégia de negociação, aliar-se também aos EUA na questão tecnológica, fazendo valer o regionalismo americano, concomitante com o multilateralismo entre os países. Diretriz Estratégica – O MRE, juntamente com o MDIC, agendará reuniões quinzenais com os representantes americanos do setor aeroespacial, para tratar do assunto. Objetivo de Estado 2 - Estímulo da Administração Pública, com maior facilidade de aporte de recursos financeiros, para o desenvolvimento da BID em seu setor aeroespacial. Ação Estratégica - Criar uma política expansionista e desenvolvimentista internamente, onde o objetivo maior do ser humano seja sua força de trabalho; Diretriz Estratégica – A Casa Civil da Presidência da República promoverá ampla discussão com as elites da sociedade, para definir a forma desta política. Ação Estratégica - Incentivar o INPE e as demais indústrias do Complexo Industrial de São José dos Campos, por meio da redução de impostos, a investirem na pesquisa aplicada ao setor. Diretriz Estratégica – O Ministério da Economia, juntamente com o MDIC, definirá as empresas do setor a serem beneficiadas pelo RETID, especialmente RETAERO, em São José dos Campos. Objetivo de Estado 3 - Utilização de algumas das soluções propostas para o PESE, a saber: PPP, financiamento externo, RETAERO, dispensa de licitação, joint ventures, RETIDA, golden shares, extinção do contingenciamento orçamentário. Ação Estratégica - Elaborar uma medida provisória que autorize a execução do PESE por meio de uma PPP, definindo-o como um programa de Estado e não de Governo até sua votação e aprovação pelo Congresso. Diretriz Estratégica – O Ministério da Defesa encaminhará à Casa Civil da Presidência da República uma proposta de Decreto Lei sobre o assunto. Ação Estratégica - Negociar com empresas mundiais a viabilidade técnica do Programa. Diretriz Estratégica – O MRE, juntamente com o MDIC, agendará reuniões quinzenais com as empresas do setor para tratar do assunto. Finalizando, após a aplicação do método de planejamento preconizado pela Escola Superior de Guerra, sugere-se a aplicação das diretrizes estratégicas estabelecidas como forma de superar os óbices e fatores adversos, garantindo uma 63 solução equilibrada na questão da continuidade de recursos para o PESE em estudo, em consonância com o escopo deste trabalho. 64 7 CONCLUSÃO Desde meados da década de 1990 (século passado), o Brasil, por meio do Programa Espacial Brasileiro (PEB), vem obtendo sucesso na sua inserção entre as nações que dominam a tecnologia voltada para o espaço. Vencendo óbices e contrariando interesses das nações hegemônicas, soube o Brasil traçar um plano modesto, porém sólido, com bases alicerçadas na perseverança e visão estratégica de homens dotados de abnegação e elaboradores de ideias ousadas, capacitando o país a executar o primeiro lançamento satelital, completamente nacional, isto é, veículo lançador, infraestrutura e satélites originados por brasileiros. Os engenheiros formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), juntamente com os demais funcionários do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), do Instituto de Fomento Industrial (IFI) e Instituto de Estudos Avançados (IEAv) ainda detêm todo o conhecimento e a produção dos equipamentos necessários ao setor aeroespacial, em especial, a fabricação de foguetes e lançadores de satélites, bem como a infraestrutura de solo, relativa à construção de satélites. Externamente, o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), ainda é o principal órgão de execução das pesquisas espaciais no meio civil. Além de um verdadeiro Parque Industrial, que suporta as demandas do atual Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), tanto com componentes eletrônicos e mecânicos quanto com infraestrutura de suporte espacial, instalados em São José dos Campos. O fervor de emoções, à semelhança daquela vivida quando da disputa de quem seria indicado o primeiro astronauta brasileiro, pode ser rejuvenescida por meio de uma decisão política, que ao ser analisada de acordo com as proposições de Dye (1976), marco teórico deste trabalho, pode-se “...descobrir o que os governos fazem, por que fazem e que diferença isto faz”. Isto é, a consequência do PEB está consideravelmente dependente da sociedade brasileira e seu Governo. Nossa indústria espacial, similarmente à indústria aeronáutica, pode contribuir para a solução dos problemas do país, materializando grandes oportunidades através de seu elevado potencial de exportação, capacidade de substituir importações onerosas e moeda de troca em transações no campo espacial. 65 O Governo e a sociedade devem apoiar à continuidade de investimentos para o setor aeroespacial com consistência e convicção. Somente assim, será possível reconquistar o tempo perdido, atualizar sua capacitação, fortalecer a democracia e reduzir os desequilíbrios sociais e regionais. Neste contexto, o presente trabalho procurou demonstrar o seguinte fato, que incomoda o autor e muitos outros empreendedores: a ausência de uma política pública capaz de manter uma continuidade suficiente de investimentos orçamentários para o MD, a fim de que possam ser aplicados em empresas do setor aeroespacial, ou sua parcela de recurso ser muito insignificante. Apesar de todas as dificuldades, dentro do que estabelece a Estratégia Nacional de Defesa, a implantação do Programa Estratégico dos Sistemas Espaciais (PESE) Brasileiro deverá ocorrer a partir de 2015, devendo se estender até 2030. Essa ação política priorizará a alocação de recursos, para colocar em órbita uma constelação de satélites de comunicações, sensoriamento remoto, datalink, meteorologia, observação da terra por radar, dentre outros. Militarmente, os mesmos serão utilizados como suporte aos SisGAAz (MB) e SISFRON (EB), bem como em apoio aos empresários, que necessitarem de informações estratégicas de negócio para sua área de cobertura. Como objetivo geral, esse TCC analisou a política espacial implantada no Brasil, com foco na gestão financeira, particularmente, no que se refere aos valores de investimentos continuados para as empresas do setor, intimamente influenciados pelas políticas públicas de Governo ao longo dos últimos 15 anos. A justificativa do presente trabalho possuiu a intenção de analisar e revelar as fraquezas e ameaças, elencadas pelo MPE da ESG, que se tratadas adequadamente poderão incentivar o setor, restabelecendo os níveis de confiabilidade e segurança perante a sociedade. Finalizando, com certeza a questão-problema de como manter o investimento contínuo para as empresas de defesa aeroespacial, a fim de implantar o PESE Brasileiro, foi respondida por meio das Diretrizes Estratégicas do MPE. A assessoria foi realizada. Resta a decisão final do Decisor Estratégico. 66 REFERÊNCIAS AGÊNCIA ESPACIAL BRASILEIRA. A Política espacial. Disponível em: <http://www.aeb.gov.br/programa-espacial/politica-espacial>. Acesso em: 23 jul. 2014. ARAÚJO, C.A.G. O Programa Espacial Brasileiro: uma oportunidade de fortalecer o Poder Nacional. Rio de Janeiro: ESG, 2014. Artigo Científico. BRASIL. Decreto no. 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa, e dá outras providências. Diário Oficial da União,19 dez. 2008. Brasília, DF: MD, 2008. ______ Decreto no. 373, de 26 de setembro de 2013. Aprova a Política Nacional de Defesa. Diário Oficial da União, 27 set. 2013. Brasília, DF, 2013. ______ Lei nº 12.598, de 22 de março de 2012. Dispõe sobre as regras de incentivo à área estratégica de defesa, altera a Lei no 12.249, de 11 de junho de 2010, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20112014/2012/Lei/L12598.htm>. Acesso em: 14 ago. 2014. ______ Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm >. Acesso em: 14 ago. 2014. BRASIL. Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF, 2012. BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O Satélite CBERS. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.cbers.inpe.br>. Acesso em 09 ago. 2014. BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Assuntos Estratégicos. Desafios do Programa Espacial Brasileiro. Brasília, DF, 2011. p. 59, 76 DURÃO, O. S. C. O Programa Espacial Brasileiro: uma análise crítica e perspectivas. 2000. 50 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia) - Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 2000. DYE, T. R. The policy analisys. Alabama: the university of Alabama Press,1976. RODRIGUES, N. C. As Golden-Shares no Direito Português. Im: DIREITO DOS VALORES MOBILIÁRIOS. Coimbra: Editora, 2005, p. 191-231 (192). v.2. GARRO, W. R. Bases da Política Espacial Brasileira. O programa nacional de atividades espaciais e o apoio do parque industrial brasileiro, 1984. 45f. Trabalho Especial (Curso Superior de Guerra) – Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 1984. HILL, M. The policy process in the modern state. London: Prentice Hall, 1997. PAGÉS, J. O Programa Veículo Lançador de Satélites: VLS frente à realidade da indústria aeroespacial nacional. 2001. 35f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia) – Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 2001. 67 VENTURA, F. N. O Programa Espacial Brasileiro e sua Importância para a Segurança e o Desenvolvimento Nacional. 45f. 2003. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia) - Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 2003. VERÍSSIMO, R. L. C. A Questão Quilombola: o impacto sobre o Programa Espacial Brasileiro. 75f. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia) – Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 2009. VITAL, J.V; KENJI, P. Análise de Viabilidade de Empreendimento de Grande Porte do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais. Comissão de Coordenação do Programa Estratégico do Satélite Espacial, 2012. 123f. 68 ANEXO Entrevista com o Presidente da Comissão de Coordenação e Implantação dos Sistemas Espaciais (CCISE): 1) O que levou o COMAER a criar a CCISE no DECEA se o PEB já vinha sendo coordenado e implantando pela AEB, que se utiliza do INPE e DCTA, para o DECEA em 2012, visto que aquela Agência já vinha realizando a coordenação e implantação do PEB desde 1994 no país? O DCTA vem buscando resolver a questão dos lançadores. Ele se limita a lançadores, ele não avança nos engenhos espaciais. Sabemos que uma missão completa depende tanto dos engenhos espaciais quanto do elemento capaz de colocá-lo em órbita. Hoje temos o DCTA trabalhando em lançadores. O Comandante da Aeronáutica entendeu que a capacidade hoje existente na CISCEA em condução de projetos seria capaz de preencher, ate mesmo com folga, as necessidades iniciais para começar a trabalhar num Programa dessa natureza. Todos nós sabemos que um Programa contém diversos projetos. Então, a CCISE escreveu um Programa e agora estamos trabalhando nos diversos projetos, que compõem-no. Então acho muito adequado que o PESE, que é um programa, formado por vários projetos, ser apoiado pela própria CISCEA. 2) Quais transformações políticas ocorreram para a aprovação do PESE após 2010? No meu entendimento não houve mudança política, pois na nossa avaliação temos um elemento ainda inexistente: a Política Espacial. Ela não existe dentro do Ministério da Defesa (MD). Então, uma das coisas que a CCISE vem buscando é a possibilidade de que a mesma seja escrita no âmbito do MD. Uma Política Espacial, pois as 69 atividades espaciais não abrangem apenas a COMAER. Mas, a todos os Comandos Militares. Há a atuação direta em todos os Comandos Militares. Apenas desta forma se poderá ter a garantia da abrangência de atendimento às necessidades de todas as Forças. 3) Que efeitos tais transformações já produziram, no sentido de viabilizar a implantação do Programa, a partir de 2015 até 2030? A CCISE vem buscando desenvolver a suas atividades dentro do entendimento de que o Programa possa atender às necessidades das três Forças. Para que consigamos atingir esse objetivo, temos nos valido de um grupo de assessoramento criado por representantes das três Forças, além do MD, AEB, INPE e CENSIPAM. Entendemos que essas pessoas são as verdadeiras detentoras dos conhecimentos, ie, das necessidades operacionais, que são as Forças, e a CENSIPAM, para a condução da proteção Amazônia. O INPE e AEB na condução das atividades espaciais. Trabalhamos para que tenhamos a formatação de um documento abrangente que atenda às necessidades básicas de todas as forças. 4) Que fatores apontam para redução de investimento para o Programa Espacial Brasileiro, apesar de estar previsto no PNAE valores na ordem de R$ 9,1 bilhões entre 2012-2021? A questão do PESE não está indexada ao PNAE, ie, o recurso orçamentário do PESE é originado no Ministério da Defesa. Por intermédio do MD, foi criada uma ação especifica em 2013. A CCISE, em trabalho com a Defesa e junto à Secretaria de Orçamento e Finanças (SOF), encaminhou dentro da Proposta da Legislação Orçamentária Anual (PLOA) pro Congresso. Inicialmente, nós solicitamos um valor de R$ 204 milhões para 2014. Na PLOA, o MD encaminhou uma solicitação de R$ 184 milhões. Finalmente, na LOA, foi aprovado R$ 113 milhões pelo Congresso. Ou seja, é uma ação específica do Ministério da Defesa. Esses recursos não têm previsão de passar pela AEB ou serem fornecidos pela mesma. 70 Embora a AEB seja a responsável pela condução dessa estrutura da área aeroespacial, mas muito voltada para as atividades de interesse dos Ministérios Civis e da sociedade em geral. O PESE, em si, está voltado para as necessidades operacionais dos Comandos Militares. Sempre lembrando que os requisitos dos projetos voltados para os Comandos Militares atendem com vantagem ao meio civil, dentro do emprego dual dos engenhos espaciais dentro dos vários seguimentos que já foram definidos como atuação do PESE. 5) Que alternativas a Comissão está trabalhando para cumprir sua missão, mesmo com os reduzidos investimentos orçamentários disponibilizados pelo Governo? Trabalhar com orçamento do Governo, principalmente em projetos que solicitam vultosas quantias de recursos financeiros e em longo prazo é bastante complexo. Como eu falei anteriormente, nós tivemos a aprovação de um orçamento de R$ 113 milhões para 2014. No entanto, a CCISE recebeu zero de dinheiro. Todos os recursos foram voltados para o projeto do SGDC. É muito sensível a questão da indústria espacial, onde requer, não só recursos, mas o desenvolvimento de tecnologias. Este, por sua vez, demanda a cadência de contratos, que possam diluir os investimentos gastos, visando à contra entrega dos sistemas que venham a ser desenvolvidos. Na visão da CCISE, para atender às cadências necessárias aos marcos planejados, poderá ser através de uma Parceria Público-Privada (PPP): empresas parceiras que se disponham a investir recursos visando ao desenvolvimento do PESE e evidentemente à exploração comercial de que tudo isso possa trazer. Hoje, estamos avaliando essa possibilidade. Ainda estamos divulgando para que exista um grupo, um consórcio que possamos trabalhar. A dificuldade também é enorme nesse ponto. Para se ter uma ideia, hoje não existe nenhuma PPP no âmbito do governo federal. Apenas nos âmbitos estaduais e municipais. 6) O que se pode analisar dos efeitos da política de implantação do PESE doravante? 71 A filosofia de implantação do PESE está basicamente em capacitar a indústria nacional a desenvolver alta tecnologia, que vai atingir o Programa Espacial Brasileiro. Todos nós sabemos que os grandes avanços tecnológicos se dão em função de pesquisa da estrutura de avanço para o espaço. É necessária muita pesquisa, muito desenvolvimento, muito dinheiro. Mas o que acontece efetivamente dentro desse processo: quando se começa uma pesquisa para se solucionar um problema para o setor espacial, diversas outras tecnologias são descobertas na pesquisa espacial, são os spinoffs, que são todas as tecnologias subsidiárias, empregadas pelas indústrias em geral. Acontecem os spinoffs, que são vantajosos para qualquer indústria tecnologicamente avançada e competitiva acima de tudo. Senão em desenvolvimento, mas na questão da produção, que está cada vez globalizada e competitiva. Hoje em dia, só tem espaço produtos tecnologicamente avançados.