Proposta:
PLANO ESTRATÉGICO PARA A CÁRITAS EM PORTUGAL
2013-2015
“ O amor ao próximo, radicado no amor de Deus,
é um dever, antes de mais, para cada um dos fiéis,
mas é-o também para a comunidade eclesial inteira.”
“Deus caritas est”, 20
INTRODUÇÃO
“É, pois, pela caridade para com Deus e o próximo que se caracteriza o verdadeiro discípulo de
Cristo” (LG 42)
Bento XVI , na sua carta apostólica sob a forma de motu proprio Intima Ecclesiae Natura, sobre
o serviço da Caridade e, citando Deus Caritas est, 25 refere que “ a natureza íntima da Igreja
exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus, celebração dos sacramentos,
serviço da caridade. São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado
dos outros.
Portanto, também, o serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e
expressão irrenunciável da sua própria essência; todos os fiéis têm o direito e o dever de se
empenharem pessoalmente por viver o mandamento novo que Cristo nos deixou, oferecendo
ao homem contemporâneo não só ajuda material, mas também refrigério e cuidado para a
alma.
A Igreja é chamada à prática da diakonia da caridade também a nível comunitário (...), por
isso, há necessidade também de «organização enquanto pressuposto para um serviço
comunitário ordenado», uma organização articulada mesmo através de expressões
institucionais”.
O presente Plano Estratégico da Cáritas em Portugal para o triénio 2013-2015, propõe pôr em
comum, de forma coordenada, um conjunto de objetivos e orientações que tornam possível à
Cáritas Portuguesa e às Cáritas Diocesanas – fiéis à sua identidade e missão e considerando as
realidades específicas e singulares de cada Diocese – dar prioridade à animação da ação social
da Igreja como “uma Instancia típica e oficial da Igreja para a promoção da sua ação social, a
partir da assunção de responsabilidades inerentes à comunidade cristã como tal” tal como
assumido na Instrução pastoral sobre a Ação Social da Igreja, nº 20
O Plano Estratégico é, por um lado, um rumo a seguir, uma ferramenta a aplicar e um
compromisso a assumir por todos os que, na Cáritas em Portugal, constroem um trabalho
comum de serviço baseado num claro e demonstrativo conhecimento da realidade social atual
portuguesa, sobretudo, no que se refere às suas causas. Por outro lado, proporciona um novo
espírito colaborativo na forma comum de se pensar a necessidade de dar respostas novas aos
problemas com que se deparam, exigindo uma melhor articulação nas diferentes ações a
desenvolver pela Cáritas em Portugal (CP e CD’s). E por outro lado ainda, estimula a comunhão
de esforços nas experiências e nas interpelações das pessoas, grupos e instituições
comprometidas na prática da ação social da Igreja.
Desejamos que o Plano Estratégico (2013-2015) possa ser uma resposta no campo concreto da
caridade e possa contribuir para fomentar e estimular, em todos, as atitudes da gratuidade, da
participação, da responsabilidade, da subsidiariedade e solicitude em favor dos mais
necessitados, numa concretização das palavras do Evangelho.
1. IDENTIDADE
Ao definirmos a identidade Cáritas, estamos a afirmar que, na Pastoral Social da Igreja, a
Cáritas tem um lugar específico que se caracteriza numa vertente institucional e em função do
sentido prioritário do seu agir: a Cáritas é o serviço animador da ação social da Igreja e das
comunidades cristãs que a constituem e é «uma instância típica e oficial da Igreja para a
promoção da sua ação social, a partir da assunção de responsabilidades à comunidade cristã»
(IPASI, 20).
A Cáritas existe para sinalizar e fomentar o exercício da caridade nos seus diversos âmbitos de
realização:


É mais do que uma organização, é um modo de vivência cristã
É mais do que um grupo de voluntários, é a expressão do ser comunidade cristã
Trata-se de uma tarefa primordial na vida da Igreja «que abraça com amor todos os afligidos
pela enfermidade humana; mais ainda, reconhece nos pobres e nos que sofrem a imagem do
seu fundador pobre e sofredor, procura aliviar as suas necessidades e procura servir neles a
Cristo». (LG, 8)
A identidade da Cáritas situa-se para além do nível institucional. Exprime uma dimensão
eclesial estrutural e está intrinsecamente enraizada na vida e missão da comunidade cristã. A
Cáritas é, aliás, uma das suas expressões estruturais mais significativas ao manter vivo o
compromisso permanente da caridade cristã. A identidade cristã é conferida através da
resposta aos Evangelhos e é descoberta no encontro de Cristo no outro.
2. MISSÃO
A missão da Cáritas é acolher e trabalhar com as pessoas em situação de pobreza e exclusão,
sendo elas protagonistas da sua própria libertação e envolvendo toda a comunidade cristã.
A Cáritas, está posicionada no centro da missão da Igreja, um sinal do amor de Deus pela
humanidade em Jesus Cristo e é, ao mesmo tempo, expressão organizada da missão da Igreja,
testemunha da presença do amor de Deus entre nós, um amor a todas as pessoas e, acima de
tudo, às mais simples e mais “insignificantes”: os pobres.
A missão da Cáritas é missão Pastoral.
A exigência ética e evangélica anima a constante busca de agir com coerência para denunciar
as injustiças e contribuir para a construção da nova relação de justiça, solidariedade e paz.
3. VISÃO
A Cáritas em Portugal deverá ser, no final do triénio 2013-2015, uma referência da prática da
Ação Social da Igreja à luz da sua doutrina social e iluminada pela fé. Neste sentido, deverá ser
dada «prioridade ao imperativo fundamental: a criação, funcionamento e qualificação de um
serviço paroquial de ação social, integrado por voluntários e voluntárias, bem como por
representantes de instituições já existentes».
“E terá o dever da caridade como tarefa intrínseca da Igreja inteira e do Bispo na sua diocese”
(Intima Ecclesiae Natura, Proémio)
4. VALORES E PRINCÍPIOS PERMANENTES DA DOUTRINA
SOCIAL DA IGREJA

A pessoa humana e a sua dignidade como filho de Deus. Os direitos humanos como
expressão social da dignidade humana.

A opção pelos pobres.

A relação pessoa-sociedade. A sociabilidade.

O bem comum, fundamento da ordem sociopolítica.

A solidariedade e subsidiariedade, reguladoras da vida social

A concepção da sociedade: a primazia das pessoas sobre as estruturas

A participação social: espiritual, livre e educadora

A partilha universal dos bens
Teremos sempre presentes os valores morais que fundamentam a nova sociedade:

Caridade e Justiça Social

Compaixão

Espiritualidade

Gratuidade

Partilha

Subsidiariedade universalidade

Verdade
5. Orientações de Base
Na concretização das suas funções a Cáritas tem as seguintes orientações de ação para o
triénio 2013-2015 e a todos os níveis (nacional, diocesano e paroquial):
a) Exercer uma missão profética, sinalizando – pela ação prática, pelo anúncio e pela
denúncia – a opção pelos pobres como caminho a ser vivido por cada cristão e por
toda a Igreja;
b) Desenvolver uma “função evangelizadora-catequética” pela sensibilização da
consciência cristã para a vivência da caridade e pela formação permanente de agentes
pastorais na área sociocaritativa da Igreja;
c) Assumir o papel fulcral na animação comunitária, promovendo ações significativas e
colaborando, de acordo com a sua própria identidade, em todas as iniciativas que se
promovam na Igreja e na sociedade em resposta a reais necessidades humanas, em
particular a favor dos mais pobres;
d) Intervir de modo visível, concreto e rápido em momentos particularmente difíceis para
a vida das pessoas e das comunidades (dimensão assistencial e de apoio em situações
de emergência);
e) Ajudar a refletir sobre a realidade social e a promover caminhos de desenvolvimento
das pessoas e das comunidades;
6. OBJETIVOS
Face às orientações de base para a ação, propõem-se os seguintes objetivos :
1. Criar grupos de ação social, suscitando e fazendo crescer, na comunidade paroquial, a
dimensão social como exigência da vida da própria comunidade cristã;
2. Qualificar e formar os agentes da animação da ação social;
3. Reforçar a participação e colaboração entre as Cáritas Diocesanas e a Cáritas
Portuguesa, atendendo ao princípio da subsidiariedade e espírito de comunhão que
deve orientar a nossa ação;
4. Desenvolver e fortalecer a Rede Cáritas
7. ESTRATÉGIA
Partindo da reflexão desenvolvida sobre o papel da Cáritas em Portugal e da leitura partilhada
com as Cáritas Diocesanas, nomeadamente no que se refere às realidades sociais locais com
que se confrontam e à forma como é possível organizar a resposta às diversas solicitações,
torna-se imprescindível adotar uma atitude estratégica que conduza ao modelo de ação social
paroquial e permita a animação pastoral nas comunidades. O foco dinamizador será, sempre, a
animação e qualificação da comunidade cristã sobre a ação social paroquial.
A nossa opção aponta para quatro Eixos de ação:

Três eixos são transversais a toda a dinâmica a ser implementada:
Espiritualidade, Sustentabilidade e Rede Cáritas

Um quarto eixo vertical que incorpora o foco central de todo o trabalho a realizar
durante o triénio 2013-2015, pela Cáritas em Portugal:
Animação e qualificação da Ação Social na Paróquia
7.1 Eixo Espiritualidade
A ação da Cáritas sustenta-se numa espiritualidade que marca o ritmo do ser cristão e da
vivência eclesial. Desperta o sentido da partilha de bens e desenvolve um sentido de
solidariedade ativa e uma permanente atenção à realidade.
A espiritualidade vive a dimensão da encarnação como estruturante e abre-se à totalidade da
pessoa. Procura o seu desenvolvimento harmonioso e completo.
É um caminho sem fim que se escolhe, a partir de um compromisso de fé e que se percorre
através do testemunho. Viver a espiritualidade da Cáritas (da Igreja) é escolher os mais
fragilizados e excluídos e desenvolver todos os esforços para a sua libertação, assumindo-os
como irmãos e protagonistas da sua própria história de libertação. Não basta, por isso, reparar
as situações de pobreza é preciso renascer: a comunidade precisa de reconhecer a dignidade
dos pobres, partilhar os seus problemas e apoiar as suas aspirações numa atitude de
compromisso com a justiça e contribuindo, assim, para a construção diária do reino.
7.2 Eixo Sustentabilidade
O desafio da sustentabilidade centra-se na capacidade de mobilizar e diversificar recursos de
forma permanente que permitam o cumprimento da missão sem comprometer a sua
identidade.
Na Cáritas a sustentabilidade passa pelo reforço de quatro dimensões:
A Sustentabilidade permitirá ao longo do triénio:

Ser Cáritas na Cáritas: cumprir a sua missão localmente, mobilizar a população local e
promover a sua formação; captação de recursos; geração dos próprios recursos;
gestão administrativa e financeira

Ser Cáritas em Conjunto: fomentar a interação entre Cáritas como testemunho e ação,
numa lógica de subsidiariedade e com instrumentos de colaboração concretos;
Modelos de gestão; perfil e qualificação das pessoas que colaboram com a Cáritas
(RH); metodologias de trabalho;

Ser Cáritas na Igreja: assumir o compromisso com a missão da Igreja através do
fortalecimento da pastoral de conjunto; vivência diária dos valores do Evangelho; ação
centrada na dignidade da pessoa humana e no bem comum; missão e identidade
ancoradas no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja.

Ser Cáritas no Mundo (polis): acolher as pessoas que contribuem para o cumprimento
da missão, conhecer profundamente as temáticas e exercer a influência pública em
favor dos mais pobres e do bem comum; vínculo(s) à sociedade; sistema de
governança; promoção da participação; credibilidade; redes internas e externas
7.3 Eixo Rede Cáritas
Se a propagação do saber, entendido no sentido tradicional, é um dado central na
comunicação, então, essa realidade acentua-se ainda mais no momento em que integram as
inovações tecnológicas centradas precisamente na intenção de ampliar as possibilidades de
transmissão.
Num sentido mais amplo, os nossos “media” podem ser utilizados no âmbito didático não só
para comunicar os conteúdos particulares, mas também para nos fazer entrar em contacto
com uma nova visão do mundo.
O conceito rede escapa, assim, de um âmbito meramente técnico, para chegar a significar um
universo no qual tudo está ligado, se não em profundidade, ao menos em extensão na qual o
valor é dado pelo estabelecimento de uma relação.
Propomos como objetivo prioritário para 2013-2015 desenvolver , promover e fortalecer a
Rede Cáritas, tendo em vista a necessidade de:
a) Definir um modelo colaborativo entre membros Cáritas;
b) Consolidar os sites, a Intranet, o Centro de Recursos, a Livraria, como instrumentos
de fomento de unidade e de colaboração Cáritas;
c) Criar um sistema de informação nacional, para recolha e tratamento de dados,
provenientes da rede Cáritas:
d) Estabelecer um plano nacional de Emergências;
e) Estabelecer princípios de colaboração as organizações sócio-eclisiais;
f) Criar um programa nacional de integração e formação de dirigentes e colaboradores
profissionais da Cáritas
Para o cumprimento da sua missão a rede Cáritas precisa de fortalecer a sua cultura de
comunhão e colaboração, pondo em prática a verdadeira espiritualidade da Cáritas. Para tal,
deverá, nos próximos anos, intensificar um processo de reflexão sobre o modelo colaborativo.
7.4 Eixo Ação Social na Paróquia
“Vai e faz tu, também, do mesmo modo” (Lc, 10-37)
Importa, então, desenvolver todo o esforço no que se refere à pastoral social em todas as
paróquias.
Trata-se de algo que não é fácil, atendendo a que não se pode reduzir a “atos pontuais” de
“natureza assistencial” mas sim de pôr em prática, todos os dias, as grandes motivações
evangélicas que são a solidariedade humana, a transformação social e, daí, a partilha dos bens,
na linha do seu destino universal, a luta pela injustiça e a cooperação no desenvolvimento
integral da pessoa humana (CEP, 1997).
O caminho a propor visa:

Aprofundar, refletir e articular a ação da Cáritas com a pastoral de conjunto a nível
paroquial, diocesano ou nacional e encontrar uma convergência fundamental que
congregue esforços e evite duplicações;

Estruturar conteúdos formativos de curta duração para a formação dos agentes de
ação social paroquiais, estruturando dessa forma um referencial de
formação/animação com vista à criação de serviços paroquiais de ação social;

Promover dinamismos sistematizados de animação/formação local com os grupos e
agentes de ação social paroquial.

constituir equipas animadoras nas dioceses para a dinamização da pastoral social de
proximidade, reforçando, assim, a organização e a sustentabilidade da animação e o
apoio aos grupos organizados nas paróquias;

Promover o conhecimento e o tratamento de dados, que fundamentem a formulação
de propostas de políticas e medidas a adoptar;

Reforçar a informação pública sobre a pastoral social de proximidade;
8 Planeamento
São de referir algumas ações a implementar e que decorrem das orientações estratégicas
definidas quer para a Cáritas Portuguesa, quer para as Cáritas Diocesanas numa comunhão de
esforços que vise, num horizonte a médio prazo, o seguinte:
- “Cultura Social” – criação de estratégias de influência pública e de consciencialização das
comunidades:
- melhorar relações com a sociedade
- participação no debate público
- fortalecer o conhecimento da identidade “Cáritas”
- “Rede Cáritas” – fortalecer capacidades e optimizar recursos para a intervenção social
- partilha de recursos na rede aos níveis local, nacional e internacional
- qualificação do trabalho profissional e voluntário
- “Modelo colaborativo” - entre membros Cáritas
- definição de princípios de atuação
- metodologias de trabalho conjunto
- instrumentos de apoio para a uniformização
- definição de padrões de avaliação e monitorização
- “Ação Social da Igreja” – organização
- promover o debate e articulação entre estruturas sócio-eclesiais
- desenvolvimento de conteúdos
- formação de agentes
- “Ação Social da Igreja” – animação
- consolidação de equipas de animação diocesanas
- planos diocesanos de animação
- sistema de informação nacional para a recolha e tratamento de dados
9 AVALIAÇÃO
“ Os seres humanos são anjos de uma asa só; para voar,
têm de se unir um ao outro”
O Plano Estratégico é um documento vivo com incidência concreta no trabalho da Cáritas em
Portugal. Por isso, deve ser uma referência de forma a contribuir para a solução dos
problemas. Proporcionando novas formas ativas de trabalho em comunhão. Encontrando
novos modos para combater as injustiças, a pobreza e a exclusão social.
As ações programadas devem ser monitorizadas em cada ano e avaliada a sua eficácia. É
preciso manter viva a estratégia, corrigindo-a sempre que necessária sem que se percam de
vista os objetivos. Devem ser feitos planos operacionais anuais (por Cáritas Diocesana e Cáritas
Portuguesa) e calendarização das atividades desenvolvidas ao longo de cada ano. Planos e
calendário devem ser ter efeitos na planificação e avaliação pela monitorização de resultados.
No segundo ano do Plano Estratégico, 2014, será feita uma avaliação sobre o processo de
implementação.
Conceitos:
Mobilização de recursos: é o desenvolvimento contínuo de iniciativas metodológicas e de
gestão capazes de disponibilizar recursos humanos, materiais e financeiros para a realização
da Missão. A mobilização de recursos, nesse sentido, engloba o conjunto das estratégias de
mobilização de todos os tipos de recursos (apoio político, mobilização social, trabalho
voluntário, contribuição técnica, doação de materiais e equipamentos e recursos financeiros)
necessários para o fortalecimento da sustentabilidade institucional. Por isso, a mobilização de
recursos integra a captação de recursos financeiros, mas vai além.
Captação de recursos: são iniciativas de acesso a diferentes tipos de fontes de recursos
financeiros.
Prestação de contas com transparência (accountability): constrói-se – com base nas
necessidades, preocupações e visões das pessoas a quem servimos; no desenvolvimento de
ações numa lógica de compromisso, qualidade, aprendizagem e eficácia, e através do
desenvolvimento uma relação com todos os intervenientes (stakeholders).
10 Calendarização do Triénio
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“ O amor ao próximo, radicado no amor de Deus,