EDUCAÇÃO CORPORATIVA E DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇAS EM EMPRESAS MULTISITE Autoria: Ticiana Nunes Moscardini, Amarolinda Zanela Klein RESUMO O objetivo desta pesquisa é identificar quais estratégias educacionais e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) vêm sendo utilizadas na Educação Corporativa (EC) para o desenvolvimento de lideranças em organizações multisite. Como método foram realizadas entrevistas com empresas da região de Porto Alegre/RS. Os resultados indicam que a maioria das empresas ainda não adota, totalmente, a abordagem de EC. As estratégias mais utilizadas são: aulas expositivas e debates; a modalidade presencial predomina e as TIC utilizadas são: Ambientes Virtuais de Aprendizagem e Web 2.0. O principal desafio para desenvolver lideranças nessas empresas é a aprendizagem e disseminação da cultura organizacional. 1 1 INTRODUÇÃO Ao analisar as mudanças ocorridas do século XX para o século XXI, percebe-se que a gestão das organizações passou de um paradigma taylorista-fordista, para um modelo mais flexível. No início do século XX vivia-se em um ambiente externo com considerável estabilidade, que permitia uma separação entre trabalho manual e intelectual. Com o surgimento de um ambiente externo em constante mudança, é necessária a disseminação mais rápida e eficaz do conhecimento (Eboli, 2004). Diante da necessidade de um aprendizado permanente e de promover o desenvolvimento e o autodesenvolvimento, o tradicional treinamento e desenvolvimento (T&D) necessita migrar para uma visão de Educação Corporativa, que de forma sucinta, pode ser definida como um conjunto de práticas educacionais que a organização promove, visando metas futuras, com o objetivo de desenvolver as competências críticas para o seu negócio (Eboli, 2004; Gould, 2005; Meister, 1999). As Estratégias de Educação Corporativa (EC) devem favorecer uma qualificação profissional que permita ao indivíduo entender, interpretar, interagir e compartilhar, de modo que o aprendizado permita condições para inovação, empreendedorismo e para o desenvolvimento de uma liderança eficiente (Eboli, 2004). O desenvolvimento de lideranças representa uma demanda necessária e uma das mais importantes em empresas que buscam expansão e, especialmente, aquelas que atuam em multisite, pois precisam disseminar sua cultura, gerir suas unidades, seguindo um padrão e uma estratégia comum. A EC tem sido difundida nas organizações e diferentes estratégias têm sido utilizadas para o desenvolvimento de pessoas. Há também um crescimento na utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) que podem ser utilizadas presencialmente ou possibilitar a educação à distância (EAD). As práticas vinculadas ao uso de TIC podem ser representadas por diferentes modalidades educacionais, estratégias e formas de organização para ensino, aprendizagem e interação, que podem contribuir com a aprendizagem em empresas multisite, pois as TIC possibilitam o acesso à informação e a comunicação em qualquer lugar e a qualquer hora (Meister, 1999; Morin & Renaud, 2009; Saccol, Schlemmer & Barbosa, 2010). Considerando esse contexto, a presente pesquisa tem como objetivo identificar e analisar as estratégias e TIC utilizadas na Educação Corporativa para o desenvolvimento das lideranças em empresas multisite da região metropolitana de Porto Alegre/RS. Nas seções seguintes são apresentadas a fundamentação teórica, a metodologia de pesquisa, a análise dos dados e por fim as considerações finais deste estudo. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nesta seção são trabalhados os principais conceitos teóricos relacionados com ao objetivo desta pesquisa. 2.1 Educação Corporativa (EC) Ao revisar a literatura, percebe-se que a EC possui várias definições, não havendo um consenso, sendo, por vezes, definida como sinônimo de Universidade Corporativa. Neste trabalho estes dois conceitos não serão tratados como equivalentes, pois Universidade Corporativa é um dos meios para o desenvolvimento das Estratégias de EC. Com missão, visão, valores, objetivos e metas claramente definidas, a EC deve ter como norte a estratégia do negócio, permitindo atender às necessidades dos indivíduos e da empresa. É um processo que evoluiu de uma visão tradicional de T&D, antes muito associada às empresas, para uma abordagem estratégica de ensino e aprendizagem e atualização constante, antes vinculado somente às instituições de ensino, conduzindo a empresa para o caminho da qualificação corporativa contínua, necessária para a sua sobrevivência e 2 competitividade (Blass, 2005; Pacheco, Scofano, Beckert & Souza, 2009). A EC, segundo Eboli (2004), está pautada em sete princípios de sucesso: 1. Competitividade: valorizar a educação para o desenvolvimento dos colaboradores, pois desta forma é que a empresa poderá competir no mercado e consolidar as competências críticas para o negócio. 2. Perpetuidade: transmitir a cultura organizacional e a influência que esta exerce nos indivíduos. 3. Conectividade: favorecer a interação entre todos os públicos (internos e externos à empresa). 4. Disponibilidade: disponibilizar recursos para o aprendizado em qualquer lugar, a qualquer hora. 5. Cidadania: desenvolver indivíduos capazes de agir com ética e responsabilidade. 6. Parceria: estabelecer parcerias internas (líderes e gestores) como também externas (universidades, instituições de ensino). 7. Sustentabilidade: gerar resultados para a empresa, por meio das ações de EC. Em suma, para esta pesquisa, a EC será definida como um conjunto de estratégias educacionais contínuas, que a organização promove, fundamentada em metas futuras, nas estratégias e na cultura organizacional, com o objetivo de desenvolver as competências críticas para o negócio, envolvendo o público interno e externo à empresa. Para mobilizar as pessoas para a Educação Corporativa, é possível definir as seguintes estratégias - Tabela 1 (Pacheco et al., 2009). Tabela 1 Estratégias de Educação Corporativa Estratégias Autoinstrução Aulas expositivas Definição Aprendizagem autodirigida. O indivíduo, através de sua maturidade, busca o conhecimento necessário. Estratégia mais tradicional, os indivíduos aprendem em um ambiente fixo, como sala de aula, por meio de um instrutor ou professor. Tipo de estratégia que permite a discussão e a reflexão coletiva. Como ocorre O indivíduo recebe conteúdos escritos ou por meio eletrônico para estudar, onde e como lhe for mais adequado. Representa uma educação formal, em que há uma programação e conteúdo definido. Referências Fulmer; Gibbs (1998). Pacheco, et al (2009) Antonello et al. (2011) Meister (1999) Pacheco et al. (2009) Antonello et al. (2011) Pacheco et al. (2009) Antonello et al. (2011) Dramatização Representação de uma determinada situação ou fato. Seminários, congressos, discussão de leituras. Através da linguagem o é possível absorver e interpretar o conhecimento. A partir da identificação do problema central, busca-se compreender suas causas e efeitos, e identificar meios para resolução, com diversas fontes de informação. Pressupõe a análise de casos práticos de dentro ou fora da empresa. É uma prática que ocorre em grupo ou de forma individual. Representação baseada em situações reais. Workshop ou Oficinas de trabalho Envolve seções de aprendizagem prática, por meio de ações e geração de produtos Evento conduzido por uma ou mais pessoas, com o objetivo de unir teoria e prática. É uma Debates Aprendizagem baseada em problemas Estudo de Caso Envolve a resolução de problemas identificados no contexto dos próprios aprendizes, relacionados às suas atividades na organização. Refere-se à análise de fatos e proposta de soluções aos problemas apresentados. Pacheco et al. (2009) Antonello et al. (2011) Pacheco et al, (2009) Antonello et al. (2011) Pacheco et al. (2009) Antonello et al. (2011) Meister (1999) Pacheco et al. (2009) 3 concretos atividades. Benchmarking Job rotation Participação em Projetos Jogos Comunidades de Prática Coaching Mentoring ao final das Visa a observação e análise de práticas de outras pessoas ou organizações, com o objetivo de aprendizado. É uma prática que permite aos indivíduos exercerem atividades diferentes dentro da organização. Trata-se de um aprendizado vivenciado na prática, no qual o profissional tem uma meta específica a ser atingida ao final de um projeto. Envolvem atividades lúdicas que podem ser tanto competitivas quanto colaborativas. São grupos de pessoas que compartilham o mesmo interesse por alguma coisa que fazem. Envolve o acompanhamento do indivíduo por um profissional, em que o foco é o desenvolvimento através de diálogos, questões que incentivem o indivíduo a pensar em suas ações. Quando um indivíduo mais experiente orienta outro para a formação de um cargo futuro ou para aprimoramento no cargo atual. forma de materializar o conhecimento gerado entre os indivíduos (há sempre um trabalho prático). Para aplicação desta estratégia é preciso ter um diagnóstico interno e um roteiro com os itens que devem ser observados. O indivíduo é retirado de sua rotina de trabalho, e conhece outros ambientes e atividades, o que estimula a reflexão. O indivíduo conta com um profissional para orientar a condução das atividades, proporcionando feedbacks constantes. Jogos pressupõem a existência de atividades que envolvam ações, com regras e objetivos claros a serem atingidos. As pessoas compartilham suas experiências (presencial ou no meio digital), por meio da narração de suas experiências e contos de trabalho, colaborando na resolução de problemas. Pode ser conduzido por executivos, consultores externos e internos. Pode ser realizado por executivo ou pessoa que tem conhecimento em uma determinada atividade ou tem habilidade para corrigir comportamentos. Fulmer; Gibbs (1998) Pacheco et al. (2009) Rebelo e Gomes (2008) Pacheco et al. (2009) Antonello et al. (2011) Pacheco et al. (2009) Tahir, Naeem, Sarfraz, Javed e Ali (2011) Pacheco et al. (2009) Brown; Duguid (1991) Wenger (2004) Pacheco et al. (2009) Nagy; Burch (2009) Antonello e.t al. (2011) Pacheco et al. (2009) Weinberg; Lankau (2010). Fonte: Elaborado pelas autoras 2.2 Liderança Nesta pesquisa a liderança é entendida como um processo coletivo, ou seja, a formação da liderança nas empresas tem como base características que emergem entre os líderes (independentemente do nível hierárquico), que surgem da interação entre os líderes e suas equipes, em um processo social, que transforma esta relação em motivação, aprendizado e desenvolvimento (Crevani, Lindgren & Packendorff et al., 2010; Day, 2000; Fagundes, 2007; Galli & Stewens, 2012). Este contexto de liderança também está vinculado ao conceito de sensemaking de Weick, Sutcliffe e Obstfeld (2005), em que os autores afirmam que os indivíduos desenvolvem a habilidade de agir, tendo em vista o mesmo sentido, um significado comum para uma determinada ação. O sensemaking é que permite que a liderança interprete e compartilhe as situações ao tomar decisões no âmbito organizacional. Neste aspecto é que a cultura organizacional pode ser o resultado da construção comum de sentidos, fortalecendo a liderança em rede, ou seja, aquela que está constantemente conectada em suas ações (Fagundes, 2007; Weick, Sutcliffe & Obstfeld, 2005). 4 Liderança independe de qualquer papel formal ou estrutura hierárquica, não está ligada somente ao papel de líder, mas também pode ser vista como uma influência e um processo coletivo, difundido entre os membros de qualquer sistema social. É uma interação social, na qual existe uma influência mútua, entre líder e liderado, ou seja, o líder influencia e também se deixa influenciar pelo seu grupo (Crevani et al., 2010; Derue & ASHFORD, 2010; Fagundes, 2007; Raelin, 2011; Skipper & BELL, 2006). Em síntese, a partir dos conceitos anteriores é possível definir liderança como uma interação social e uma capacidade de influenciar as pessoas e envolvê-las nas decisões a serem tomadas na organização, à luz de suas crenças e valores, articulando as ações em equipe para alcançar os resultados esperados pela organização. A partir dessa definição, verifica-se que o desenvolvimento de liderança emerge de um processo criativo, no qual o significado e as práticas do dia-a-dia da empresa são como uma construção de sentidos compartilhados entre indivíduos que participam de um grupo social, como também um mesmo sentido compartilhado pela liderança. (Day, 2000; Weick, et al.,2005). Esse processo, por vezes, está vinculado à sobrevivência e competitividade da empresa, sendo uma forma de desenvolver a liderança de acordo com o seu contexto específico (Dalakoura, 2010; Galli & Stewens, 2012). A identidade de liderança é outro fator que precisa ser avaliado e considerado ao se elaborar programas de desenvolvimento de líderes, pois está atrelada à visão entre líderes e liderados, o que se reflete no comportamento de ambos e compreende três elementos (Derue & Ashford, 2010): a) Internalização individual: os indivíduos passam a incorporar a identidade do líder ou liderado como parte de sua própria concepção. b) Reconhecimento relacional: a liderança é considerada mais forte quando a identidade do líder é reconhecida e seguida pelos seus liderados. c) Endosso coletivo: é o mais amplo ambiente social, quando um comportamento individual começa a ser visto como um comportamento do grupo. Estes três níveis fazem parte da construção de identidade de liderança, como também, estão presentes no desenvolvimento de líderes, cujo processo deve considerar a construção de relacionamentos sociais como parte deste desenvolvimento (Derue & Ashford, 2010). Balkanska, Georgiev e Popova et al. (2010) explicam que o desenvolvimento de lideranças envolve um processo atuante, que inspira os líderes a aprender as habilidades necessárias para o perfil que a organização busca, e apresenta recomendações para este processo, como introduzir a competência como uma abordagem que auxilia na formação contínua do indivíduo, melhorando seu desempenho no trabalho. Também aconselha repensar e implementar mudanças nos métodos de treinamento existentes para superar a distância no processo de aprendizagem, bem como utilizar práticas de inovação para que o indivíduo aprenda também a partir de sua experiência. Day (2000); Crevani, Lindgren e Packendorff et al.(2010) definem as diferenças entre desenvolvimento de líderes e desenvolvimento de lideranças, explicando que o primeiro trata do desenvolvimento do indivíduo como líder, fazendo parte do capital humano, enquanto que o segundo representa um processo coletivo, um engajamento entre um grupo de pessoas em um ambiente organizacional, representando um capital social. Considerando o desenvolvimento de lideranças (visão coletiva), a seguir exploram-se as diferentes modalidades educacionais e TIC que podem dar suporte a esse processo. 2.3 Modalidades Educacionais e TIC para EC e Desenvolvimento de Liderança As modalidades educacionais para desenvolver o ensino e aprendizagem na organização representam alternativas para a implementação das estratégias de EC visando ao desenvolvimento de lideranças, que podem ocorrer da seguinte forma: 5 a. Presencial física: consiste em uma forma de ensino e aprendizagem face a face com um instrutor, facilitador ou demais participantes (Lee, 2010). b. EAD: O aprendizado ocorre sem que os indivíduos estejam envolvidos nas atividades ao mesmo tempo e no mesmo lugar. O e-learning é uma das formas de EAD na qual as atividades são intermediadas pela Internet, e que tornou o EAD uma modalidade mais frequente em instituições e em algumas empresas (Maia & Mattar, 2007; Male & Pattinson, 2011; Pacheco et al., 2009). c. blended learning: significa misturado, neste caso, uma modalidade que combina encontros presenciais físicos com EAD (Lee, 2010). d. m-learning: trata-se do aprendizado apoiado pelo uso de TIC móveis e sem fio, em que os indivíduos aprendem com mobilidade e podem estar fisicamente distantes um do outro, bem como de um espaço formal e fixo de educação (Saccol et al, 2010). e. u-learning: Possibilita ao indivíduo acessar as tecnologias de computação móveis e sem fio, bem como sensores e mecanismos de localização e comunicação quando e onde estes forem necessários (Peng, Su, Chou & Tsai, 2009; Saccol et al., 2010; Weiser, 1991). Algumas TIC que podem ser utilizadas para implementar as Estratégias de EC (em diferentes modalidades educacionais) são as seguintes: a) Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA): são sistemas via Web que representam ambientes de aprendizagem digital e proporcionam novas alternativas para a construção do conhecimento (Schlemmer, Saccol & Garrido, 2007). b) Tecnologias da Web 2.0: tratam-se de ferramentas para interação entre os indivíduos, com possibilidade de autoria e produção de conteúdos (ex: blogs, wikis, redes sociais), que podem ser utilizadas como forma de cooperação e colaboração (Schlemmer, 2010). c) Tecnologias Móveis e Sem Fio: São tecnologias que permitem a comunicação e interação por meio de dispositivos portáteis e sem o uso de cabos, utilizando-se de redes de radiofrequência ou conexão 3G/4G como meio de transporte de dados via Internet (Abou El-Seoud, Ahmad & Farouk, 2009; Saccol et al., 2010; Schlemmer, 2010). d) Tecnologias da Web 3D: consiste em ambientes de aprendizagem virtuais em terceira dimensão, como, por exemplo, os Metaversos, que possibilitam a criação de Mundos Digitais Virtuais em 3D (MDV3D) (Schlemmer, 2010). 3 MÉTODO DE PESQUISA Foi realizada uma pesquisa qualitativa exploratória, para que fosse possível analisar diferentes experiências e percepções existentes com relação ao tema proposto (Collis & Hussey, 2005; Silverman, 2009). A pesquisa abrangeu 12 empresas de grande porte, de acordo com a classificação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2013), localizadas na região metropolitana de Porto Alegre, que atuam em formato Multisite. A técnica de coleta de dados utilizada foi a entrevista semi-estruturada, que segundo Bauer e Gaskell (2010), fornece uma descrição detalhada do assunto, através de diferentes opiniões que são relatadas pelos indivíduos (Silverman, 2009). As entrevistas tiveram duração média de 33 minutos, para se obter o máximo de informações detalhadas do entrevistado, de acordo com a disponibilidade de cada um, e foram norteadas por um roteiro com perguntas abertas, permitindo que durante a conversa o pesquisador pudesse incluir mais questões, conforme a necessidade, e que o entrevistado pudesse responder, de acordo com o seu entendimento e de forma autêntica (Bauer & Gaskell, 2010; Silverman, 2009). A Tabela 2 mostra o perfil das empresas participantes com nome fictício, mantendo o sigilo prometido no momento da pesquisa, e a sigla utilizada para identificação na análise dos dados, associando nome da empresa e setor em que ela atua: 6 Tabela 2 Perfil Empresas participantes da pesquisa Nome fictício Setor da empresa Empresa A Serviços – Tecnologia Empresa B Serviços - Segurança Empresa C Indústria – Construção Empresa D Indústria – produção Empresa E Serviços - Financeiro Empresa F Serviços – Tecnologia Empresa G Serviços -Segurança Empresa H Indústria - produção Empresa I Indústria - produção Empresa J Serviços – Tecnologia Empresa L Serviços - Educação Empresa M Serviços -Tecnologia Fonte: Elaborado pela autoras Sigla de identificação AT BS CC DP E FT GS HP IP JT LE MT Abrangência da empresa Nacional Nacional Nacional Nacional Nacional Estadual Região Sul Internacional Internacional Nacional Nacional Internacional Porte Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande Grande Nº Empregados 150 2500 1990 2600 115.000 130 780 4500 1800 800 2300 65.000 Foram entrevistados os gestores da área de Recursos Humanos ou os responsáveis pelos programas de EC ou áreas semelhantes, bem como um gestor das áreas de negócios em cada uma das empresas. Todas as entrevistas foram gravadas, com a devida autorização do entrevistado. Foram realizadas ao todo 24 entrevistas presenciais entre os meses de dezembro de 2012 a julho de 2013. Na Tabela 3 seguem informações sobre as entrevistas. Tabela 3 Informações sobre as entrevistas Nome fictício da empresa Empresa AT Empresa BS Empresa CC Empresa DP Empresa EF Empresa FT Empresa GS Empresa HP Empresa IP Empresa JT Empresa LE Empresa MT Total de Horas Fonte: Dados da pesquisa Cargo do Entrevistado Gerente Administrativo Coordenador de Desenvolvimento Gestor de Qualidade e Educação Corporativa Gerente de Negócios Gerente Corporativo de RH Gerente de TI Gerente de T&D Gerente Industrial Analista de RH Gerente Geral Sócio-Diretor Diretor de Tecnologia Gerente de RH Gerente Comercial e MKT Supervisor de RH Gerente Regional de Vendas Coordenador de Treinamento e Desenvolvimento Gerente de Controladoria Analista de desenvolvimento Líder de equipe de Qualidade Gerente de RH Coordenador de Unidade Gerente de RH Diretor de Serviços Duração da entrevista 1:13:22 34:08 37:01 36:11 41:40 21:01 33:25 46:53 1:44:45 32:21 43:39 46:04 32:09 38:54 47:00 27:12 1:17:55 35:57 1:03:16 33:15 37:50 27:54 52:44 41:19 13:29:37 A Análise de Conteúdo foi a técnica escolhida para a análise dos dados (qualitativos). Esta técnica permitiu analisar o texto criado a partir da transcrição literal das entrevistas, classificando sistematicamente o material coletado e categorizando os dados de acordo com os temas abordados neste estudo (Bauer & Gaskell, 2010; Silverman, 2009). As categorias de 7 análise basearam-se na revisão da literatura da pesquisa. Utilizou-se o software NVivo® para a criação do banco e análise dos dados coletados, a qual é apresentada na próxima seção. 4 RESULTADOS Nesta seção serão apresentados os principais resultados da pesquisa. As empresas pesquisadas serão identificadas por siglas (ver Tabela 3). As análises têm como objetivo identificar se as empresas multisite pesquisadas, de fato, realizam EC e quais estratégias e TIC estão sendo utilizadas, nesse contexto, para o desenvolvimento de lideranças. Inicialmente, ao falarem sobre os objetivos da área de EC (ou outro nome dado à área da empresa voltada ao desenvolvimento de pessoas), os entrevistados em sua maioria destacam a importância de preparar as pessoas de acordo com a estratégia relacionada ao crescimento e expansão das suas organizações, principalmente os líderes e seus sucessores. De um modo geral, de acordo com a percepção dos entrevistados, as empresas estão posicionadas da seguinte forma, conforme sintetizado na Tabela 4. Tabela 4 Síntese da visão estratégica Educação Corporativa x Visão de treinamento. Visão AT Visão Estratégica (EC) Visão de treinamento X Fonte: Dados da pesquisa BS X CC X DP X EF X Empresa-Setor FT GS HP X X X IP X JT X LE MT X X Conforme o relato dos entrevistados, das 12 empresas, 9 empresas afirmam realizar as ações de desenvolvimento de pessoas com base nas estratégias definidas pela organização, com um olhar direcionado ao negócio da empresa e a uma visão de futuro. No entanto, ao relatarem sobre os programas de desenvolvimento, todos os entrevistados mencionaram que as ações de suas empresas são direcionadas ao público interno, não contemplando pessoas que não fazem parte da empresa. Para desenvolver os programas de EC, 9 das 12 empresas pesquisadas também contam com parcerias institucionais, sendo 2 com uma instituição do sistema S e 7 com faculdades ou universidades. Por essa razão, acredita-se que essas 9 empresas (ver Tabela 4) tem uma visão mais estratégica, voltada para a EC, mas mesmo assim não adotando-a em sua plenitude (em todos os seus princípios, incluindo o desenvolvimento de público externo). O desenvolvimento das lideranças nas empresas ocorre de diferentes formas. A Tabela 5 apresenta as estratégias utilizadas pelas empresas pesquisadas. Tabela 5 Estratégias utilizadas para o desenvolvimento de Lideranças. Empresa/Setor Estratégias Aulas expositivas Debate Coaching Workshop ou oficina Estudo de caso Auto instrução Benchmarking Aprendizagem baseada em problema Participação em Projetos Jogos A T X BS CC DP EF FT GS HP IP JT LE MT Total X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 12 11 10 9 7 6 X X X X X 6 5 X X X 5 X X X X X X X X X X X X X X X 3 8 Mentoring Job rotation Dramatização Comunidade de prática Total por empresa 1 Fonte: Dados da pesquisa X X X 6 3 X X X X 9 8 7 8 4 10 7 3 2 2 1 X 11 8 Percebe-se que a aula expositiva é a estratégia mais utilizada para o desenvolvimento de lideranças (em todas as empresas), seguida de debate (11 empresas), coaching (10 empresas) e workshops ou oficinas (9). Quanto às modalidades educacionais adotadas para o desenvolvimento de lideranças, a maioria dos entrevistados afirma que a sua empresa utiliza somente a modalidade de educação presencial física, somente em três empresas (EF, HP e MT) já se utiliza a EAD, e em duas delas somente – EF e MT - também se utiliza a mistura de EAD com o ensino presencial, ou blended learning. A Tabela 6 apresenta uma síntese dos resultados. As modalidades Mlearning e U-learning não são utilizadas por nenhuma das empresas pesquisadas. Mesmo sendo empresas multisite, estas ainda optam por realizar os programas de desenvolvimento de lideranças de forma presencial, ainda que este formato possa gerar mais custos. Tabela 6 Modalidades utilizadas para o Desenvolvimento de Lideranças. Modalidades Presencial física EAD Blended M-learning U-learning Total* AT X BS X CC X DP X EF X X X 1 1 1 1 3 Empresa-Setor FT GS HP X X X X IP X JT X LE X MT X X X 1 1 1 1 2 1 2 Total 12 3 2 0 0 17 Nota:* Os dados somam mais de 12 (empresas), porque as respostas não são mutuamente excludentes. Fonte: Dados da pesquisa Com relação ao uso de TIC para o desenvolvimento de lideranças, percebe-se por meio das entrevistas que já existem algumas utilizações, mas essa utilização, na maioria das iniciativas, ainda é voltada somente ao uso das ferramentas de TIC para armazenamento de dados, materiais didáticos e informações, com pouco uso para interação e colaboração. A Tabela 7 apresenta uma síntese com o número de empresas que utilizam cada ferramenta, exceto aquelas cuja finalidade se dá somente para armazenamento de informações. A Tabela 7 mostra que 3 empresas utilizam AVA e duas realizam trabalhos também por meio de wikis. As empresas EF e MT se destacam nesta questão. Tabela 7 TIC para o desenvolvimento de Liderança TIC AVA Tecnologias Web 2.0 Blog Wiki Tecnologias Móveis e sem Fio Tecnologias da Web 3D Fonte: Dados da Pesquisa AT BS CC DP EF X X Empresa-Setor FT GS HP IP X JT LE MT X Total 3 X 2 0 0 Com relação ao Sistema de avaliação dos programas de liderança a Tabela 8 apresenta, de forma sintetizada, os aspectos levantados. 9 Tabela 8 Sistema de avaliação dos resultados dos programas de Liderança. Sistema de avaliação Avaliação de Desempenho Avaliação de Projetos Resultado financeiro ou expansão da empresa Percepção de melhoria na forma de gestão Não consegue medir os resultados Total* AT BS X CC X X X DP Empresa –Setor FT GS HP X X X EF X X IP X JT LE MT X X 2 2 X 1 X X 1 2 2 1 1 Total 8 2 1 1 1 1 1 2 1 15 Nota:* Os dados somam mais de 12 (empresas), porque as respostas não são mutuamente excludentes. Fonte: Dados da pesquisa O sistema de avaliação mais citado pelos entrevistados é a avaliação de desempenho (8 empresas), que está relacionada a uma avaliação do indivíduo. A avaliação de projetos ocorre em somente duas empresas, assim como a mensuração de resultados financeiros ou de expansão gerados. Melhorias para a gestão só são avaliadas por uma das empresas. Percebeuse, pelas entrevistas, que medir o resultado dos investimentos em programas de desenvolvimento de lideranças é um dos maiores desafios enfrentados pelas empresas multisite, sendo que duas delas afirmaram abertamente não conseguir medir esses resultados. Com relação aos principais desafios enfrentados pelas empresas no momento de desenvolver programas para as lideranças, a Tabela 9 apresenta as respostas dos entrevistados. Tabela 9 Desafios enfrentados pelas empresas multisite para o desenvolvimento de lideranças. Desafios Aprendizagem e disseminação da Cultura Organizacional Não encontram dificuldade Diferenças relativas à cultura nacional e regional em cada unidade Custos Total* AT BS CC DP X X X X EF Empresa-Setor FT GS HP IP X X X JT LE X MT Total X X X 8 X 4 X 1 1 1 1 1 1 1 1 X 2 1 1 1 1 14 1 Nota:* Os dados somam mais de 12 (empresas), porque as respostas não são mutuamente excludentes. Fonte: Dados da pesquisa A maioria das empresas (8) percebe que a aprendizagem e disseminação da cultura organizacional é um desafio para realizar programas de desenvolvimento de lideranças em empresas multisite. Mesmo que os processos sejam informados, por meio de capacitações ou manuais, a forma como cada líder irá desempenhar seu papel tem variações. Em empresas de grande porte, como as que foram pesquisadas, é um desafio disseminar a mesma cultura para todos, ainda que seja a mesma empresa. Quanto aos resultados obtidos com os programas de desenvolvimento de liderança a Tabela 10 mostra uma síntese das percepções dos entrevistados. Tabela 10 Resultados obtidos com os programas de Liderança. Resultados obtidos Desenvolvimento de Líderes Internos Disseminação do AT X BS X X CC X DP X EF X Empresa- Setor FT GS HP IP X X X JT X LE MT X Total 6 5 10 conhecimento Visão coletiva – objetivo comum Resultados financeiros Habilidade das lideranças para a Gestão de Pessoas Profissionalização da Gestão Atendimento ao cliente e demais áreas Total* X X X X X X X X X X X X X X 5 X 5 4 X X 3 X 2 5 2 3 2 3 1 5 3 2 1 1 29 Nota:* Os dados somam mais de 12 (empresas), porque as respostas não são mutuamente excludentes. Fonte: Dados da pesquisa O desenvolvimento de líderes internos, ou seja, líderes que cresceram dentro da empresa, é o resultado dos programas de desenvolvimento de liderança citado por 6 das 12 empresas pesquisadas, seguido pela disseminação do conhecimento, visão coletiva e resultados financeiros (5 empresas). Considerando que são empresas multisite, os entrevistados também relatam que seus líderes, desenvolvidos internamente, são transferidos para novas unidades adquiridas ou construídas em outras cidades, como forma de possibilitar que os processos e a cultura serão disseminados, conforme estes aprenderam durante sua trajetória na empresa. Os entrevistados também foram questionados quanto às principais melhorias que atuais programas de desenvolvimento de lideranças devem ter. A Tabela 11 apresenta de forma sintetizada os resultados. Tabela 11 Melhorias para os programas de Liderança. Melhorias Estruturação e continuidade dos Programas Coaching e acompanhamento individual Maior investimento Definição de identidade – gestão homogênea Definir medida de resultado Programa formal para desenvolvimento dos líderes Atitude dos líderes Total* AT BS X CC X DP X EF X Empresa-Setor FT GS HP IP X X X JT LE X X MT X Total 7 X 3 X X 2 2 X X 1 1 X 1 1 1 2 1 3 1 2 1 X 1 1 2 1 17 Nota:* Os dados somam mais de 12 (empresas), porque as respostas não são mutuamente excludentes. Fonte: Dados da Pesquisa É possível perceber que as opiniões são diversas, as empresas identificam fatores diferentes que devem ser aprimorados em seus programas. Porém, a necessidade de melhoria mais citada é a estruturação e continuidade dos programas (7 empresas), seguido pelo uso de coaching e acompanhamento individual (3 empresas). Na seção seguinte é realizada a discussão dos resultados obtidos e considerações finais comparando-os com a literatura. 5 DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS As ações de desenvolvimento de lideranças das empresas multisite pesquisadas, conforme o que os entrevistados relataram, apresentam uma tendência em direção à definição teórica de EC. Segundo Eboli (2011), a EC deve estar voltada ao desenvolvimento de pessoas, 11 tanto internas quanto externas à empresa, aprimorando as competências consideradas críticas para o negócio da organização, promovendo um processo de aprendizado contínuo. Neste contexto, percebe-se que as empresas estão em um estágio inicial de EC, ou seja, ainda em construção e buscando o reconhecimento e continuidade de suas ações. Comparando com os conceitos de Eboli (2004), em que esta afirma que a Educação Corporativa está pautada em sete princípios essenciais, discutem-se os resultados encontrados, de forma geral, à luz destes princípios: 1. Competitividade: todas as empresas demonstram a preocupação em desenvolver seus profissionais, com foco nas estratégias de negócio. 2. Perpetuidade: considerando que todas as empresas são multisite, um desafio presente em boa parte das empresas é a disseminação da cultura e perpetuidade desta, mesmo em locais diferentes. Esta questão é vista como um desafio, e devido a isto está presente nas ações de desenvolvimento de lideranças. 3. Conectividade: as ações das empresas ainda estão direcionadas somente para o público interno, o que vai de encontro aos princípios básicos da EC. 4. Disponibilidade: pode-se observar que diferentes estratégias são utilizadas para as ações de ensino e aprendizagem, sendo que alguns materiais são disponibilizados para estudos, porém estas ações, em sua maioria, não estão disponíveis em qualquer tempo e a qualquer hora, ou seja, a utilização do EAD, ou outras modalidades como o blended ou o mobile e o ubiquitous learning podem ser adotadas ou expandidas nas organizações. A continuidade dos programas foi identificado como um ponto de melhoria, desta forma, as evidências apontam para ações pontuais e não contínuas, o que também vai de encontro aos princípios básicos da EC. 5. Cidadania: os resultados relatados pelos entrevistados apontam que o conhecimento é importante em boa parte das empresas, porém, o que se percebe é que estas ações estão voltadas ao desenvolvimento do indivíduo, não apresentando um olhar coletivo. No entanto pode-se considerar que este item está sendo trabalhando, pois, mesmo que o foco esteja no indivíduo, as empresas estão buscando desenvolver a parte comportamental de sua liderança, como comprometimento e responsabilidade com sua equipe e com a empresa. 6. Parceria: a maioria das empresas possui parcerias institucionais, como faculdades e instituições do sistema S, que auxiliam nos programas de capacitação e desenvolvimento. 7. Sustentabilidade: de um modo geral, a maioria das empresas conseguem apontar resultados, mas ainda fortemente relacionados somente aos indivíduos, sem uma medida objetiva ou método específico para avaliação dos resultados obtidos com o investimento na formação de lideranças. Observa-se que a maioria das empresas demonstra estar praticando dois princípios: competitividade e parceria (1 e 6), e que existe uma preocupação em chegar aos princípios 2, 5 e 7. Este fato leva a percepção de que as empresas em sua maioria ainda estão trabalhando com uma visão mais próxima à lógica de treinamento, mas com ações iniciais de EC. Ao investigar sobre a EC para o desenvolvimento de lideranças em empresas multisite, percebe-se que todas as organizações estão preocupadas com este tema, algumas já desenvolvendo, umas estruturando e outras, cujas ações ainda são informais. Todos os entrevistados relatam que a maioria dos seus líderes atuais foi desenvolvida internamente, seja através de programas ou na prática, e que isto ocorre graças ao tempo de empresa destas pessoas e a sua identificação com a cultura organizacional. Isso é relevante, pois a identidade da liderança torna-se importante ao conduzir uma equipe. Trata-se de um processo social, em que a liderança assume comportamentos de seus liderados, da mesma forma em que estes endossam o seu estilo e lhe atribuem confiança (Derue & Ashford, 2010). 12 Quando questionadas sobre as estratégias utilizadas para o desenvolvimento de lideranças, as empresas ainda realizam ações, na maioria das vezes, presenciais. As estratégias mais utilizadas são nessa ordem: aulas expositivas, debates, coaching e workshop. A maioria das empresas utiliza mais de sete estratégias para a formação de lideranças, corroborando a literatura, pois os autores afirmam que os programas de desenvolvimento de lideranças devem envolver diferentes estratégias para o desenvolvimento deste público, já que é preciso considerar que o processo de aprendizagem deve ser contínuo e ocorrer em diferentes cenários, gerando ações semelhantes e coletivas para a liderança como um todo (Balkanska, Georgiev & Popova, et al., 2010; Weick et al.,2005). A modalidade presencial física, utilizada pela maioria das empresas, pode promover um engajamento dos gestores no ambiente organizacional, contribuindo para uma melhor adaptação à cultura da empresa. (Crevani et al., 2010; Day, 2000,). Cultura organizacional, segundo Fagundes (2007, p.88) pode ser definida como: “A cultura de uma organização reflete, pois, os sistemas sociais de conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais cotidianos”. No entanto, pode ser relevante ampliar as modalidades educacionais e as TIC adotadas para dar suporte ao desenvolvimento de lideranças, de forma a imprimir flexibilidade a esse processo, em termos de tempos e espaços de formação disponíveis para os aprendizes. Uma das empresas relata que a EAD é utilizada amplamente em outro país, porém no Brasil, existe resistência em mudar os processos que já estão sendo utilizados. Segundo Albertin e Brauer (2012), esta resistência à EAD pode estar atrelada à necessidade de interação presencial, dificuldades na gestão do tempo, como também a falta de infraestrutura técnica, que deve ser adequada para suportar o sistema pelo qual será utilizada a modalidade EAD. Realizar as estratégias de EC somente em formato presencial, pode representar também um custo alto para as empresas multisite, mas percebe-se que as organizações preferem esta modalidade, como forma de aproximar as lideranças e possibilitar uma maior integração e interação entre eles, o que pode representar uma alternativa para o principal desafio enfrentado por estas empresas que é a aprendizagem e disseminação da cultura organizacional. Balkanska et al. (2010) alertam que é preciso repensar e implementar mudanças nos métodos de desenvolvimento existentes para os líderes, sendo necessário introduzir tecnologia e combinar diferentes formas de aprendizagem. Atuar conforme a cultura organizacional pode representar a sobrevivência e garantir a competitividade da empresa e a liderança tem um papel importante no entendimento deste contexto, compartilhando este significado com os demais líderes e disseminando para a sua equipe em qualquer local em que a empresa esteja presente (Day, 2000; Dalakoura, 2010; Fagundes, 2007; Galli & StewenS, 2012; Weick, et al.,2005). No momento de avaliar as ações de desenvolvimento de lideranças, os entrevistados citam diferentes formas de averiguar o quanto os programas estão sendo efetivos. Contudo, na maioria das empresas verificou-se que a avaliação de desempenho individual é muitas vezes a única forma de avaliação dos resultados, sendo que outros critérios de avaliação poderiam ser utilizados, até mesmo para guardar coerência com uma visão mais coletiva de liderança. Foi possível observar também que em geral a mensuração dos resultados ainda é subjetiva. Os programas de desenvolvimento de lideranças são realizados sem que se saiba ao certo o resultado que a empresa almeja atingir. O Modelo de Produtividade de Allen e Mcgee (2004) afirma que é necessário analisar os resultados dos programas previamente à sua execução, e desenvolver metas abrangentes a organização e não somente ao indivíduo (o foco somente no indivíduo denota uma visão de treinamento). Ou seja, se o objetivo é o desenvolvimento de uma liderança que compartilhe dos mesmos significados que permeiam a organização, é preciso definir clara e objetivamente 13 quais os indicadores que se espera atingir e avaliá-los ao longo do programa, utilizando-se de estratégias adequadas às necessidades de ensino e aprendizagem (Allen & Mcgee, 2004). Ainda que sem uma medida exata de resultados a serem atingidos, os entrevistados percebem subjetivamente alguns benefícios obtidos com os programas de liderança. O desenvolvimento de líderes internos é o resultado mais citado, seguido por disseminação do conhecimento, visão coletiva e resultados financeiros. De forma geral estes resultados reforçam que a ênfase da avaliação está no indivíduo. Uma boa parte dos entrevistados citou como melhorias desejáveis para o desenvolvimento de lideranças a estruturação e continuidade dos programas. Esta melhoria vai ao encontro dos conceitos de EC, pois os programas não podem ser pontuais e estáticos, mas devem ser contínuos. Percebe-se desta forma, que, na maioria das empresas pesquisadas os programas de lideranças ainda são pontuais e remetem a uma visão de treinamento (Eboli, 2002; Meister, 1999), mas há já indícios de se querer mudar essa visão. As empresas não citaram a adoção de TIC como uma das melhorias que poderiam ser implantadas e nem tampouco outras modalidades de ensino (ex: EAD, m-learning), logo, isto pode ser remetido à necessidade de interação, já citada anteriormente, pois a maioria dos entrevistados acredita que esta deva ocorrer de forma presencial (face a face) em um único local. No entanto as TIC, se utilizadas de forma adequada, tanto em questões técnicas quanto educacionais, podem contribuir para a integração entre as pessoas e se tornarem uma aliada para o desenvolvimento de lideranças (Eboli, 2011). A EC, em alguns aspectos, está proporcionando resultados relacionados à teoria. Entende-se, pelas evidências coletadas, que as empresas têm o objetivo de promover a interação entre seus líderes, e isto tem como base a escolha das estratégias, que são desenvolvidas, em sua maioria, na modalidade presencial física. Com base nos conceitos de Meister (1999) e Eboli (2004), percebe-se que são muitas as possíveis vantagens no desenvolvimento de líderes através das ações de EC. Os programas precisam ser elaborados considerando a cultura da empresa, os seus valores, o seu negócio, o que permite conhecer seus produtos ou serviços, tomar as decisões conforme os critérios estabelecidos pela empresa. No que concerna a cultura organizacional, há autores que a consideram também como uma construção de sentidos e um contexto social (Allen & Mcgee, 2004; Fagundes, 2007; Weick et al.,2005), logo, torna-se necessário potencializar a interação entre a liderança, e isto pode ocorrer tanto de forma presencial física como digital, sendo que a última pode ter sua utilização expandida entre as empresas que participaram desta pesquisa. Por fim, esta pesquisa deixa as seguintes contribuições e recomendações: • Para a academia: esta pesquisa pode abrir portas para diversas outras relacionadas ao tema, pois há poucos artigos ou livros que relacionem a EC para o desenvolvimento de lideranças, com as estratégias utilizadas para esses fins e com o uso de TIC. • Para gestores e profissionais de RH: indicadores de resultados precisam ser trabalhados de forma objetiva. A utilização de diferentes estratégias e TIC para o desenvolvimento de lideranças também merece ser considerada. O assunto estratégias de EC e TIC para o desenvolvimento de lideranças em empresas multisite, não se esgota neste trabalho. Há ainda muitas ações que podem ser implantadas nas empresas e a academia pode auxiliar neste processo, pesquisando as melhores práticas relativas a este tema e disseminando-as, para que mais organizações possam obter resultados significativos no desenvolvimento de sua liderança. As limitações desta pesquisa podem ser representadas pelas poucas empresas que puderam ser pesquisadas, como também pela dificuldade de disponibilidade dos respondentes (horários para entrevistas em profundidade). O método adotado trouxe uma visão qualitativa 14 sobre o tema estudado, um estudo quantitativo pode ser utilizado futuramente para averiguar a generalização estatística dos resultados. 6 REFERÊNCIAS Abou El-Seoud, S. M. A., Ahmad, A., & Farouk El-Sofany, H. (2009). Mobile learning platform connected to moodle using J2ME. International Journal of Interactive Mobile Technologies, 2(2), 46–55. Albertin, A. L., & Brauer, M. (2012). Resistência à educação a distância a educação corporativa. Revista de Administração Pública, 46(5), 1367-389. Allen, M., & McGee, P. (2004). Measurement and evaluation in corporate universities. New Directions for Institutional Research, (124), 81-92. Antonello, C. S., & Godoy, A. S. (2011). Aprendizagem organizacional no Brasil. 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