UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO-DOURO
Impacto da Fasciolose em Inspeção Higio-sanitária de
Bovinos
ANA JÚLIA SANTOS PIRES GAVIÃO
MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA
ORIENTADORA
Professora Doutora Alexandra Sofia Miguens Fidalgo Esteves
Vila Real, 2013
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO-DOURO
Impacto da Fasciolose em Inspeção Higio-sanitária de
Bovinos
ANA JÚLIA SANTOS PIRES GAVIÃO
MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA
ORIENTADORA
Professora Doutora Alexandra Sofia Miguens Fidalgo Esteves
COMPOSIÇÃO DO JÚRI
Presidente: Doutor Nuno Francisco Fonte Santa Alegria
Vogal: Doutora Alexandra Sofia Miguens Fidalgo Esteves
Vogal: Doutora Maria Madalena Vieira Pinto
Vila Real, 2013
ii
DECLARAÇÃO:
NOME: ANA JÚLIA SANTOS PIRES GAVIÃO
C.C.: 13622066
TELEMÓVEL: (+351) 910628646
CORREIO ELECTRÓNICO: [email protected]
DESIGNAÇÃO DO MESTRADO: MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA
VETERINÁRIA
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA:
Impacto da Fasciolose em Inspeção Higio-sanitária de Bovinos
ORIENTADOR:
Professora Doutora Alexandra Sofia Miguens Fidalgo Esteves
ANO DE CONCLUSÃO: 2013
Declaro que esta dissertação de mestrado é resultado da minha pesquisa e trabalho pessoal e
das orientações dos meus supervisores. O seu conteúdo é original e todas as fontes
consultadas estão devidamente mencionadas no texto, e na bibliografia final. Declaro ainda
que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer
grau académico.
VILA REAL, OUTUBRO, 2013
ANA JÚLIA SANTOS PIRES GAVIÃO
iii
iv
Agradecimentos
À minha família, em especial aos meus pais e irmão, pelo apoio incondicional, sem eles nada
seria possível.
Aos meus queridos Twix’s: Catarina Gonçalves, Cláudia Morgado, Daniel Costa, Helder
Valente, Joana Sousa, Paulo Afonso, Pedro Barbosa, Ricardo Silva, pela amizade,
companheirismo e por tudo o que vivemos.
À minha orientadora Professora Doutora Alexandra Esteves por todo o apoio prestado na
realização deste trabalho.
Ao Dr. Pedro Lopes por toda a atenção que teve comigo, ajuda e acompanhamento ao longo
do estágio no Matadouro de Aveiro.
A todo o corpo de inspeção sanitária do Matadouro de Aveiro: Álvaro Baptista, Ana Neves,
António Luzio, Graça Amaral, Joana Vaz, Juan Pisano, Susana Ferreira, por todo o apoio e
carinho que demonstraram.
À minha Rita, à minha Tininha e ao meu Prina por tudo, por me aturarem, por me apoiarem e
por estarem sempre presentes.
Obrigada!
v
vi
Resumo
A fasciolose é uma das infeções por trematodes mais presentes em ruminantes em todo o
mundo. A Fasciola hepatica é um antigo parasita que convive com o homem e animais desde
cerca do ano 3500 a.C..
O clima em Portugal favorece o desenvolvimento da Fasciola hepatica que exibe preferência
para as áreas ao redor dos grandes rios como o Tejo, Douro, Vouga e Minho.
Segundo estudos, em casos de fasciolose, a eficiência produtiva dos bovinos com infeções
suaves diminui 8% e em infeções graves pode diminuir cerca de 20% da produção.
A fasciolose hepática é uma doença comum em bovinos, caprinos e ovinos, também pode
infetar porcos, coelhos, equinos e outros mamíferos. Em zonas endémicas é comum encontrar
taxas de infeção superiores a 30% ou 50%.
Os mamíferos são infetados quando se alimentam em pastagens contaminadas. A infeção
ocorre através da ingestão de metacercárias localizadas sobre a superfície das plantas ou em
suspensão na água.
Neste trabalho são apresentados os dados recolhidos acerca dos casos de fasciolose
diagnosticados ao longo de quatro meses no matadouro de Aveiro, tendo em consideração o
distrito de proveniência dos animais, os meses de maior prevalência, as idades dos bovinos
afetados e é apresentado também uma estimativa do valor económico perdido devido à
reprovação dos fígados com fasciolose.
Num estágio realizado durante os meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro no
Matadouro da Beira Litoral, a principal causa de reprovações de fígados de bovino foi devido
a lesões causadas por parasitas, com uma prevalência de fasciolose de 1,97% (para um total
de 3253 bovinos abatidos). As lesões observadas causadas por Fasciola hepatica foram:
espessamento dos canais biliares, fibrose hepática, focos necróticos, colangite, aumento dos
gânglios linfáticos e presença de fascíolas.
Os animais abatidos eram originários de vários distritos do país, embora a grande maioria
fosse proveniente do distrito de Portalegre, Aveiro e Coimbra. A maioria dos casos de
fasciolose pertencia a animais provenientes de Aveiro, Coimbra e Viseu.
vii
O valor da perda pela reprovação dos fígados com fasciolose foi estimado em 1997€. Trata-se
de um valor elevado, tendo em conta que se contabilizou apenas os casos de quatro meses e
considerando que se trata de uma doença debilitante que apresenta perdas económicas em
todas as etapas de produção animal.
Palavras-chave: Fasciolose bovina, Portugal, distritos, impacto económico
viii
Abstract
The fasciolosis is one of the infections of trematodes most present in ruminants around the
world. The Fasciola hepatica is an old parasite that coexists with man and animals since
about the year 3500 b.C.
The portuguese weather promotes the development of Fasciola hepatica which shows
preference for areas around big rivers such as the Tejo, Douro, Minho and Vouga.
According to an estimate, in cases of fasciolosis, the productive efficiency of cattle with soft
infections fell by 8% and severe infections decreased more than 20% of production.
The fasciolosis is a common disease in cattle, sheep and goats, can also infect pigs, rabbits,
horses and other mammals. At endemic areas is common to find infection rates above 30% or
50%.
Mammals are infected when they feed on contaminated pastures. Infection occurs by
ingestion of metacercariae located on plant surfaces or in suspension in water.
This work presents the data collected about the cases of fasciolosis diagnosed over four
months in the slaughterhouse of Aveiro, taking into consideration the geographic origin of the
animals, the months of highest prevalence, the cattle ages affected, and is also presented an
estimate of the economic value that was lost due to the rejection of the livers with fasciolosis.
During the months of November December January and February at the slaughterhouse
Matadouro da Beira Litoral, the main cause of failures of bovine livers was due to injuries
caused by parasites, with a prevalence of fasciolosis of 1.97% (for a full 3253 cattle
slaughtered). The lesions caused by Fasciola hepatica were: thickened bile ducts, hepatic
fibrosis, focal necrosis, cholangitis, enlarged lymph nodes and presence of flukes.
The slaughtered animals were from various regions of the country, although most had its
origin in Portalegre, Aveiro and Coimbra. Most cases of fasciolosis originated in the districts
of Aveiro, Coimbra and Viseu.
ix
The value of the loss by rejection livers with fasciolosis was estimated at €1997. This is a
high value, in view that was only counted the cases during four months and considering that it
is a debilitating disease that causes economic losses in all stages of animal production.
Keywords: bovine Fasciolosis, Portugal, districts, economic impact
x
Índice geral
Agradecimentos .......................................................................................................................... v
Resumo ..................................................................................................................................... vii
Abstract ..................................................................................................................................... ix
Índice geral ................................................................................................................................ xi
Índice de figuras ....................................................................................................................... xv
Índice de mapas ........................................................................................................................ xv
Índice de fotografias ................................................................................................................. xv
Índice de tabelas ...................................................................................................................... xvi
Índice de gráficos .................................................................................................................... xvi
Lista de abreviaturas e siglas .................................................................................................. xvii
CAPÍTULO I .............................................................................................................................. 1
1.
Introdução ........................................................................................................................... 1
2.
História ................................................................................................................................ 3
3.
Fasciolose no mundo........................................................................................................... 5
3.1.
Fasciolose em Portugal ................................................................................................ 6
4.
Impacto económico ............................................................................................................. 8
5.
Fasciolose nos animais ........................................................................................................ 9
5.1.
Distribuição geográfica................................................................................................ 9
6.
Distribuição geográfica da fasciolose humana ................................................................. 11
7.
Taxonomia ........................................................................................................................ 12
8.
Ciclo Biológico ................................................................................................................. 13
8.1.
Ovos ........................................................................................................................... 13
8.2.
Miracídio ................................................................................................................... 14
xi
8.3.
Esporocisto ................................................................................................................ 15
8.4.
Rédia .......................................................................................................................... 15
8.5.
Cercárias .................................................................................................................... 16
8.6.
Metacercárias ............................................................................................................. 17
8.7.
Forma Imatura ........................................................................................................... 17
8.8.
Adulto ........................................................................................................................ 17
9.
Morfologia ........................................................................................................................ 19
10.
Ecologia ......................................................................................................................... 20
11.
Hospedeiro Intermediário .............................................................................................. 23
12.
Hospedeiros Definitivos ................................................................................................ 24
13.
Dicrocoelium dendriticum............................................................................................. 25
14.
Patogenicidade e Sinais Clínicos da Fasciolose nos animais ........................................ 26
15.
Fontes de infeção ........................................................................................................... 28
16.
Diagnóstico.................................................................................................................... 28
17.
Tratamento e profilaxia ................................................................................................. 29
18.
Fasciolose hepática no homem ...................................................................................... 31
18.1.
Prevalência da Fasciolose no homem .................................................................... 31
18.2.
Patogenicidade e Sintomatologia no Homem ........................................................ 32
18.3.
Fonte de infeção e modo de transmissão ............................................................... 32
18.4.
Prevenção e controlo .............................................................................................. 33
19.
Objetivos ....................................................................................................................... 34
20.
Material e métodos ........................................................................................................ 34
21.
Matadouro de Aveiro .................................................................................................... 34
22.
Metodologia de Inspeção Sanitária em Matadouro ....................................................... 35
xii
22.1.
Inspeção sanitária no abate de bovinos .................................................................. 35
22.1.1. Receção de Animais e Controlo Documental .................................................... 35
22.1.2. Inspeção ante mortem......................................................................................... 36
22.1.3. Inspeção post mortem ......................................................................................... 36
23.
Lesões hepáticas encontradas ........................................................................................ 37
23.1.
Lesões causadas por Fasciola hepática ................................................................. 38
24.
Decisão Sanitária ........................................................................................................... 41
25.
Distritos de origem dos Bovinos abatidos ..................................................................... 43
26.
Distribuição geográfica dos casos de fasciolose ........................................................... 44
27.
Distribuição dos casos de fasciolose por idades............................................................ 46
28.
Custos diretos da reprovação de fígados por fasciolose ................................................ 46
29.
Discussão ....................................................................................................................... 47
30.
Conclusão ...................................................................................................................... 49
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 51
Anexo 1 – Reprovações totais .............................................................................................. 60
Anexo 2 – Fotografias de casos de reprovação total ............................................................ 62
xiii
xiv
Índice de figuras
Figura 1 - Ovo de F. hepatica .................................................................................................. 14
Figura 2 – Miracídio ................................................................................................................. 14
Figura 3 - Rédias ...................................................................................................................... 15
Figura 4 - esquema de uma cercárias de Fasciola hepatica.. ................................................... 16
Figura 5- Fasciola hepatica na forma adulta. .......................................................................... 18
Figura 6 - ciclo biológico de Fasciola hepatica. ...................................................................... 18
Figura 7 - Fasciola hepatica adulta.......................................................................................... 20
Figura 8 -Hospedeiros intermediários da Fasciola hepatica.. ................................................... 24
Figura 9 - Vesícula biliar de pequeno ruminante parasitado por Dicrocoelium dendriticum .. 26
Figura 10 - Imagem histológica de jovem parasita em migração no parênquima hepático. .... 28
Índice de mapas
Mapa 1- Países com casos de fasciolose relatados. .................................................................. 10
Mapa 2 - Número de casos de fasciolose hepática e a sua distribuição pelos distritos de
Portugal. ................................................................................................................................... 45
Índice de fotografias
Fotografia 1 - Fígado de bovino com fasciolose ...................................................................... 39
Fotografia 2 - Fígado de bovino com fasciolose. Canal biliar proeminente ............................ 39
Fotografia 3 - Fígado de bovino com fasciolose. Colangite .................................................... 40
Fotografia 4 - Fígado de bovino com fasciolose. Aumento dos gânglios linfáticos ................ 40
Fotografia 5 - Fasciola hepatica no exterior de fígado de bovino ........................................... 41
Fotografia 6 – Suíno com excesso de escaldão ........................................................................ 62
xv
Fotografia 7 – Suíno com mamite necrótica ............................................................................ 62
Fotografia 8 – Suíno com osteomielite purulenta e abcesso .................................................... 63
Fotografia 9 – Bovino com Poliartrite...................................................................................... 63
Fotografia 10 – Pormenor de artrite em bovino ....................................................................... 64
Fotografia 11 – carcaça de bovino hidroémica ........................................................................ 64
Fotografia 12 – Pormenor de carcaça de bovino hidroémica ................................................... 65
Fotografia 13 – Suíno com massa tumoral no rim direito ........................................................ 65
Índice de tabelas
Tabela 1 - Prevalência de fasciolose no matadouro de Aveiro nos anos de 2000, 2001, 2002 e
2003 ............................................................................................................................................ 7
Tabela 2 - Número de bovinos abatidos por distrito e mês ...................................................... 43
Tabela 3- Número de reprovações totais de bovinos, pequenos ruminantes e suínos nos meses
de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro ............................................................................ 60
Tabela 4 – Causas de reprovações totais no abate de bovinos ................................................. 60
Tabela 5 – Causas de reprovações totais no abate de pequenos ruminantes ............................ 60
Tabela 6 – Causas de reprovações totais em suínos ................................................................. 61
Índice de gráficos
Gráfico 1 – Causas de reprovação de fígados de bovino em matadouro ................................. 37
Gráfico 2 - Número de casos de fasciolose em cada mês ........................................................ 44
Gráfico 4- Distritos com valores em percentagem dos casos de Fasciola hepatica ................ 45
Gráfico 5 - Valores em percentagem de bovinos com fasciolose com idade inferior a 24
meses, com idade entre 24 meses e 72 meses e, com mais de 72 meses de idade ................... 46
xvi
Lista de abreviaturas e siglas
% - Percentagem
€ - Euro
µm - micrómetro
a.C. – Antes de Cristo
ALT - Alanina aminotransferase
AST – Aspartato aminotransferase
CE – Comunidade Europeia
D.D.O. – Doença de declaração obrigatória
DIV – Divisão de Intervenção Veterinária
et al. – e outros
EUA – Estados Unidos da América
F. hepatica – Fasciola hepatica
IRCA – Informação Relativa à Cadeia Alimentar
Kg – Quilograma
L - litro
MBL – Matadouro da Beira Litoral
mg – miligrama
ml – mililitro
mm – milímetro
xvii
Nº - Número
ºC – Graus celsius
WHO – World Health Organization
ROG – Reação orgânica geral
xviii
CAPÍTULO I
1. Introdução
A fasciolose é uma das infeções por trematodes mais presentes em ruminantes em todo o
mundo, causando morbilidade, mortalidade e problemas socioeconómicos consideráveis
(Okewole et al., 2000). A fasciolose é uma doença parasitária causada pelo trematode
Fasciola hepatica e é considerada uma zoonose de origem alimentar a nível internacional com
impacto na saúde pública, que, em comparação com outras doenças, tem sido um pouco
negligenciada (Barriga, 2003).
Embora a Fasciola hepatica tenha uma maior prevalência em países com climas temperados
(Mas-Coma, 2005), de acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO) em 2007 a
infeção, que no passado estava limitada a áreas geográficas específicas e típicas, agora está
difundida por todo o mundo cada vez com mais casos humanos relatados pela Europa,
América, Oceânia, África e Ásia. A fasciolose, deve então ser considerada como uma zoonose
de grande importância regional e global (Maha et al., 2008).
Sem dúvida, a compreensão da epidemiologia da fasciolose e os fatores que afetam a sua
incidência são o pilar sobre o qual devem ser estabelecidos programas de prevenção e
controlo eficazes (Maha et al., 2008).
Para uma erradicação eficaz da fasciolose é extremamente importante compreender todos os
aspetos relacionados com a sua biologia. Os programas de controlo devem ter em
consideração também a diversidade genética do parasita evitando as resistências aos fármacos
anti-helmínticos (Santos, 2012).
O impacto económico das zoonoses em geral é observado principalmente na produtividade,
no declínio do turismo, diminuição da produção pecuária, morte e eliminação dos animais
afetados e as restrições do comércio internacional (Barriga, 2003).
Este parasita trematode provoca efeitos devastadores na saúde animal, humana e a nível
socioeconómico. Num estudo realizado em 2005, estimou-se que perto de 600 milhões de
1
animais e 2,4 milhões de pessoas de 61 países espalhados por todo o mundo sofrem de
fasciolose com perdas económicas estimadas em 3200 milhões de dólares americanos por ano
(cerca de 2400 milhões de euros) (Mas-Coma, 2005).
Também no Egito, a fasciolose animal e humana é um problema clínico e epidemiológico de
saúde pública. Segundo a Egyptian Academy of Scientific Reserch on Technology Report, as
perdas anuais devido à fasciolose animal no Egito foram estimadas em 190 milhões de libras
egípcias, o que equivale a cerca de 20 milhões de Euros (Maha et al., 2008).
As perdas económicas relacionadas com a fasciolose devem-se à morbilidade, à taxa de
crescimento reduzia, a reprovações dos fígados nos matadouros, aumento da suscetibilidade a
infeções secundárias e doenças metabólicas, perda de peso, anemia e diminuição da produção
de leite (e a sua qualidade) diminuição da eficiência reprodutiva e em alguns casos a
mortalidade dos animais ( Loyacano et al., 2002).
O recente aumento de casos, nos últimos anos, tem sido devido às mudanças climáticas. Pois
a humidade e temperatura tem impacto direto nos vários estágios do parasita e dos seus
hospedeiros intermediários, tendo influência na eficácia da transmissão (Fox et al., 2011).
Infelizmente, os estudos epidemiológicos existentes não cobrem toda a distribuição
geográfica da doença e portanto, os valores de prevalência de fasciolose em animais são ainda
imprecisos (Mas-Coma, 2005).
Existem vários métodos de controlo contra a Fasciola hepatica e podem ser utilizados de
forma independente ou conciliando vários métodos, como a redução do hospedeiro
intermediário, tratamentos de água, químicos contra os moluscos adultos (WHO, 2007).
Assim, a fasciolose não é mais considerada apenas como uma zoonose secundária, é agora
reconhecida como uma doença humana emergente ou re-emergente em vários países (MasComa, 2004).
2
2. História
A F. hepatica é um antigo parasita que convive com o homem e animais desde cerca do ano
3500 a.C.. Foram encontrados ovos de Fasciola em cropólitos humanos duma população da
idade da Pedra, que viveu no período Mesolítico e Neolítico, um período marcado pela
domesticação dos animais e o desenvolvimento da agricultura (Aspöck, et al., 1999; Bouchet,
1997; Dittmar e Teegen, 2003).
A primeira referência de fasciolose na literatura está contida no Livro Negro de Chirk
(manuscrito em idioma galês do século XIII, conhecido também por Chrik Codex e trata de
assuntos legais e históricos), publicado por volta do ano de 1200, em que mencionou a doença
em ovinos (Froyd, 1969).
A Fasciola hepatica foi observada pela primeira vez em França por Jean de Brie em 1379.
Brie referiu a doença como “podridão do fígado” em ovelhas, mas ele não considerou a
Fasciola como sendo o agente etiológico da doença, em vez disso, pensou tratar-se de uma
consequência de substâncias tóxicas produzidas por certas plantas consumidas pelas ovelhas.
No entanto, estas considerações foram importantes uma vez que foram as primeiras
considerações feitas sobre um trematode (Andrews, 1999).
No século XVI a fasciolose apareceu na forma de epidemia por toda a Europa, sendo a
Holanda e Alemanha os países mais atingidos. O primeiro esboço de uma Fasciola hepatica
adulta foi em 1668 por Francesco Redi, que, ao demonstrar que os parasitas põem ovos, Redi
destruiu a falsa doutrina da geração espontânea (Mufti, 2011).
A primeira descrição patológica da doença até à altura ainda designada por “podridão do
fígado” foi feita em 1755 por Frank Nicholls, um médico que relatou a calcificação dos
ductos biliares em bezerros infetados com Fasciola hepática (Mufti, 2011).
Em 1758, Linnaeus identificou a Fasciola hepatica, que em latim “Fasciola” significa faixa
ou pequena ligadura e “hepatica” significa fígado (Mufti, 2011).
3
Muller em 1773, observou vários tipos diferentes de cercárias nadando na água, mas não
encontrou evidências significativas que pudesse relaciona-los com estágios intermediários de
parasitas. Mais tarde, em 1803, Johann Zeder relatou a observação da eclosão de ovos de
diferentes espécies de trematodes e observou um miracídio em liberdade dentro de água.
Christian Nitzsch, em 1807 referiu pela primeira vez, o enquistamento de cercárias. A
próxima observação relevante foi em 1818 por Ludwig Bojanus que descobriu as fases de
rédia de outros trematodes, pois infelizmente não trabalhava com Fasciola hepatica
(Andrews, 1999).
Apesar de todos os avanços, só em meados do século XIX é que a maioria do ciclo de vida
foi compreendido.
O alemão David Weinland, em 1875, foi a primeira pessoa a suspeitar que os estágios larvais
da Fasciola hepatica ocorrem no hospedeiro intermediário Lymnaea truncatula. Ele verificou
que as cercarias enquistam na vegetação aquática presente, a fim de serem ingeridas por
ovelhas. Adolpho Lutz, em 1892, infetou com sucesso vários animais herbívoros ao juntar
metacercárias no alimento que foi distribuído aos animais, o que veio confirmar que os
mamíferos adquirem os parasitas pela ingestão de metacercárias enquistadas nas ervas das
quais se alimentam (Andrews, 1999).
A última peça que faltava no ciclo biológico foi descoberta por Dimitry Sinitsin em 1914, que
provou que os jovens parasitas, após a libertação dos quistos no intestino delgado no
hospedeiro definitivo, penetram na parede do intestino e migram para o fígado através da
cavidade peritoneal (Andrews, 1999).
4
3. Fasciolose no mundo
A fasciolose humana e animal causada pelo parasita Fasciola hepatica ocorre em todo o
mundo. No entanto, enquanto que a fasciolose animal ocorre principalmente em países com
altas produções de gado bovino e ovino, a fasciolose humana ocorre principalmente em países
em desenvolvimento com menos condições de higiene e com hábitos na população que
favorecem a infeção (Togerson e Claxton, 1999).
A análise global da distribuição de casos humanos, mostra que a correlação esperada entre
fasciolose animal e a fasciolose humana só aparece a um nível básico. Embora seja verdade
que a infeção humana não é rara em áreas onde estão presentes herbívoros domésticos
infetados. Altas ou baixas prevalências humanas não estão relacionadas com prevalências
altas ou baixas de origem animal, respetivamente (Mas-Coma, 2005).
A classificação epidemiológica de fasciolose inclui dois grandes grupos, áreas onde a
fasciolose é endémica e áreas onde a fasciolose é esporádica (Mas-Coma, 2004).
Áreas esporádicas, como o próprio nome indica, são aquelas onde relatos de casos humanos
e/ou de animais aparecem sem qualquer constância podendo existir relatos de casos num ano
e nos anos posteriores não existir casos de fasciolose identificados (Mas-Coma et al., 1999a).
Áreas endémicas podem ser hipoendémicas, com uma prevalência de menos de 1%,
mesoendémicas com uma prevalência de 1 a 10% e hiperendémicas com uma prevalência de
mais de 10% (Mas-Coma et al., 1999a).
Assim, elevadas prevalências em humanos não são necessariamente encontradas em áreas
onde a fasciolose é um grande problema veterinário. Por exemplo, na América do Sul, as
áreas hiperendémicas e mesoendémicas em humanos encontram-se principalmente na Bolívia
e Perú, onde o problema veterinário é menos relevante do que em países como o Uruguai,
Argentina e Chile, onde fasciolose humana é apenas esporádica ou hipoendémica (Esteban et
al., 1997). Outro exemplo é dado por Chen que em 1991 na China, onde a infeção animal é
frequente, apenas 44 casos humanos foram reconhecidos (Chen, 1991).
5
3.1. Fasciolose em Portugal
Em Portugal, a Fasciola hepatica pode ser encontrada praticamente por todo o país. Existem
relatos de bovinos infetados de norte a sul, Açores e Madeira (Ferreira e Oliveira 1969;
Rombert, 1991).
O clima em Portugal favorece o desenvolvimento e propagação da Fasciola hepatica. As
temperaturas amenas e a humidade permitem o desenvolvimento saudável dos ovos e a
humidade presente nos meses de inverno promove a abundância do seu hospedeiro
intermediário, Lymnaea truncatula. A Fasciola exibe uma preferência para as áreas ao redor
dos grandes rios como o rio Tejo, Douro, Minho e Vouga. Também está presente em alguns
microclimas no Alentejo, Beira Litoral e Algarve (Grácio, 1985; Rombert et al., 1991).
A Fasciola hepatica afeta principalmente ovelhas, seguido de bovinos, suínos e caprinos.
Numa escala menor, também afeta cavalos, mulas, burros e roedores (Ferreira e Oliveira,
1960).
Sousa estudou a presença de Fasciola hepatica em animais selvagens, como javalis e veados
na Tapada nacional da Mafra, observando as formas adultas nos fígados dos animais. Referiu
existir um aumento de casos de parasitismo entre 1992 e 2000 (Sousa, 2001).
Numa análise comparativa com base nos dados das Divisões de intervenção Veterinárias
(DIV) de Viseu, Coimbra e Leiria, foi demonstrado que a maioria dos bovinos com fígados
reprovados devido a fasciolose eram originários de Aveiro e Coimbra (Conceição, 2001).
Em Portugal, o homem é um hospedeiro acidental e os relatos de fasciolose no homem são
escassos. No entanto, é sabido que a fasciolose humana está particularmente presente nas
regiões do norte de Portugal (Sampaio, 1986). O 1ºcaso relatado de fasciolose humana em
Portugal foi em 1948, e até 1991 um total de 140 casos terão sido diagnosticados no país
(Rombert et al., 1991).
A maioria dos casos registados durante o ano de 1990, ocorreram na região centro do país,
como consequência de um surto no Ribatejo. Os primeiros casos começaram a aparecer nos
meses de fevereiro e março, ou janeiro e fevereiro, o que corresponde a um desenvolvimento
6
de Fasciola hepatica a partir de novembro do ano anterior (Rombert e Grácio, 1990). O que
coincide com as fortes chuvas típicas deste período do ano (Rombert et al., 1991).
Em relação à Fasciolose animal, tem-se constatado a sua presença constante nos bovinos
abatidos, referido ao período de entre 2000 e 2003 (tabela 1). No trabalho realizado por Costa
(2007) em que houve registo de rejeição de fígados por fasciolose, 2001 foi o ano com a
proporção mais elevada (5,11%), facto que estará relacionado (entre outras causas) com a
temperatura e humidade ocorridas no ano anterior, de muitas chuvas, o que propicia o
desenvolvimento do ciclo do parasita. Nos últimos dois anos da análise, verificou-se uma
redução da prevalência de fasciolose, aferida a nível do matadouro, provavelmente por
alterações das condições climáticas (anos mais secos) (Costa, 2007).
Ano
Bovinos
Total de
Fígados
abatidos
fígados
reprovados por
reprovados
Fasciola
Prevalência de
Fasciola
hepatica (%)
hepatica
2000
11268
1443
498
4.41
2001
10012
1519
512
5.11
2002
11716
1632
553
4.72
2003
15101
2167
560
3.70
Tabela 1 - Prevalência de fasciolose no matadouro de Aveiro nos anos de 2000, 2001, 2002 e 2003
(Adaptado de Costa, 2007. Fonte: Inspeção sanitária)
Prevalência (no matadouro) = nº de casos de Fasciolose ÷ Total de bovinos abatidos (ano).
7
4. Impacto económico
A ocorrência de uma doença num efetivo, seja ela qual for, tem sempre associada a si um
elevado impacto económico, através da redução no volume de produção, redução na
qualidade do produto final, ineficácia na utilização dos fatores de produção, custos associados
à prevenção e/ou ao controlo da doença, custos na Saúde Pública associados à presença e ao
seu controlo, impacto negativo no bem-estar animal, restrições internacionais de circulação do
produto devido à presença da doença e aos métodos de controlo implementados (Bennett,
2003).
Numa situação de doença, os animais produzem aquém do seu real potencial genético, por
diversos fatores, como ingestão alimentar, digestibilidade alimentar, índice de conversão,
produção de leite, entre outros aspetos que são afetados pela doença (Howe e Christiansen,
2004).
A presença de uma doença num efetivo pode ter efeitos não só na produção mas também no
valor final dos produtos de origem animal, assim como a necessidade de um maior
investimento para obter o rendimento pretendido. Por exemplo, quando por doença há uma
diminuição na produção de leite, leva a maiores custos com despesas veterinárias, mais
alimento para atingir o mesmo ganho de peso vivo, mais inseminações artificiais para atingir
uma gestação e, tudo isto exige um maior tempo despendido, obtendo a mesma quantidade de
produção, o que equivale a consideráveis perdas económicas (Costa, 2007).
Segundo uma estimativa, em casos de fasciolose, a eficiência produtiva dos bovinos com
infeções suaves diminui 8% e em infeções graves diminui mais de 20% da produção (Costa,
2007).
Em ovelhas, a perda na produção de lã pode variar entre 20 a 39%. As perdas são a vários
níveis, no atraso do desenvolvimento, na redução da produção de lã, no leite, carne, a
diminuição do valor dos fígados no mercado e a sua rejeição para consumo. Para além disso, a
infeção de parasitas nos animais permite a proliferação de Clostridium novyi que pode
originar hepatite infeciosa necrótica. (Srihahim e Pholpark, 1991).
8
Num estudo feito em 2007 no concelho de Vagos (Aveiro), foram estimadas as perdas diretas
pela rejeição dos fígados em matadouro devido a fasciolose, para um ano de baixa prevalência
o valor do prejuízo seria de 1175€ enquanto que num ano de elevada prevalência de fasciolose
o valor quase duplicaria para 2263€, para um total de 1748 bovinos com origem no concelho
de Vagos (Costa, 2007).
5. Fasciolose nos animais
A fasciolose hepática é uma doença comum em bovinos, caprinos e ovinos em muitas partes
do mundo. Também pode infetar porcos, coelhos, equinos e outros mamíferos. As taxas de
morbilidade e mortalidade variam consoante a região geográfica. Em zonas endémicas é
comum encontrar taxas de infeção superiores a 30% ou 50% (Barriga, 2003).
5.1. Distribuição geográfica
A Fasciola hepatica tem uma distribuição mundial em ruminantes, suínos, cavalos e
ocasionalmente em humanos, nas zonas temperadas onde haja criação de ruminantes e exista
um ambiente favorável ao desenvolvimento do hospedeiro intermediário e das cercárias. Este
parasita é mais comum nos trópicos como Africa, Ásia menor e Sudeste asiático, sul da
europa, Havai e EUA (Barriga, 2003).
Devido à capacidade de colonização dos hospedeiros intermediários e à capacidade dos
parasitas infetarem uma grande variedade de hospedeiros definitivos, a Fasciola hepatica é
um parasita bem sucedido na sua expansão da área geográfica original, podendo ser
encontrada em praticamente todas as regiões de clima temperado (Andrews, 1999; Mas-Coma
e Bargues, 1997).
Este parasita é capaz de sobreviver em zonas de baixas altitudes assim como sobreviver em
zonas de grande altitude como os Andes da Bolívia, Perú e Venezuela (Ashrafi, et al., 2007;
Mas-Coma, 2003).
9
Devido a esta enorme capacidade de adaptação, a Fasciola hepatica é o parasita com uma
distribuição geográfica com maior latitude, longitude e altitude atingidas (Mas-Coma et al.,
2003).
Infeções com Fasciola hepatica foram relatadas nos seguintes países (mapa 1): no Canadá,
Estados Unidos da América, México, Porto Rico, Jamaica, Cuba, Bolívia, Perú, Equador,
Uruguai, Argentina, Chile, Brasil, Venezuela, Colômbia, França, Espanha, Portugal, antiga
União Soviética, Turquia, Reino Unido, Irlanda, Suíça, Itália, Holanda, Alemanha, Áustria,
Polónia, Egito, Quénia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Etiópia, Tanzânia, Zimbabué,
Zâmbia, África do Sul, Rússia, Irão, Japão, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Austrália, Nova
Zelândia (Esteban et al., 1998; Mas-Coma, 2005; Yilmaz e Godemerdan, 2004).
Mapa 1- Países com casos de fasciolose relatados (pontos laranja) (adaptado, dados de Esteban, 1998; MasComa, et al., 2005; Yilmaz e Godemerdan, 2004).
Em 2007, as autoridades veterinárias nas Filipinas diagnosticaram um nível de infeção de
89,5% na pecuária, o que representou um aumento repentino de casos positivos devido às
condições meteorológicas instáveis na zona (Sarmiento, 2007).
10
O planalto andino compreende uma região fortemente afetada pela fasciolose. De facto, no
Chile, Bolívia e Perú, a incidência de Fasciola hepatica pode variar de 87% em ovinos,
66,6% em bovinos, 27,1% em suínos e 15,4% em burros (Grock, et al., 1998; Mas-Coma,
1998). Na província de Jujuy na Argentina, 80% dos lamas foram considerados infetados com
Fasciola hepatica (Cafrune et al., 1996).
A ocorrência de fasciolose em países europeus também é notável. Espanha (29,5%), Irlanda
(45%), Reino Unido (10%) e Portugal são países com alta frequência de infeções de Fasciola
hepatica e os principais animais infetados são bovinos, ovinos e caprinos (Togerson e
Claxton, 1999). Curiosamente na Córsega, Itália, existem habitats em que os seres humanos
são contaminados, mas os hospedeiros definitivos principais (herbívoros mamíferos) não
estão presentes. Nesses lugares, Rattus rattus (ratazana preta) tem demonstrado ser o principal
reservatório com altos valores de prevalência da Fasciola hepatica até cerca de 45,1% (MasComa et al., 2003).
6. Distribuição geográfica da fasciolose humana
Entre 1972 e 1997 foram relatados 7071 casos de fasciolose em humanos em 51 países por
todos os continentes, 2951 na Europa, 3267 na América, 354 na Ásia, 487 na África, 12 na
Oceânia. Números, que apenas se referem aos casos relatados, que na realidade terão sido,
sem dúvida, muito maior do que o reportado (Esteban et al., 1998).
A análise da distribuição geográfica mundial mostra não haver relação direta com as áreas de
maior prevalência da fasciolose em veterinária. Existem várias limitações no processo de
contagem de casos e a sua distribuição geográfica, pois muitos casos diagnosticados são
apenas relatados em publicações internas com uma difusão muito limitada. Outro aspeto é a
dificuldade do diagnóstico da doença que em muitos casos é assintomática ou os sintomas e
sinais não são patognomónicos, sendo assim, o número real de casos humanos é muito maior
do que o relatado (Esteban et al., 1998).
Um total de 2951 casos diagnosticados na Europa, de acordo com Esteban e colaboradores,
(1997) Portugal é um dos países com maior número de casos relatados, juntamente com os
11
países vizinhos Espanha e França, nos restantes países os casos parecem ser bastante
esporádicos.
Em Portugal a doença atinge valores relevantes sendo o norte do país considerando com zona
endémica. Sampaio Silva em 1991 referiu a 561 casos em apenas três cidades no norte de
Portugal. Num relatório mais recente, o mesmo autor ( Sampaio Silva, 1996), faz referência a
1011 casos diagnosticados num laboratório do Porto entre os anos de 1970 e 1992 (Chen e
Mott, 1990).
7. Taxonomia
De acordo com Lofty et al (2008), a classificação taxonómica do parasita Fasciola hepatica é
a seguinte:
Filo: Platyhelminthes
Subphylum: Neodermata
Classe: Trematoda (Rodolphi, 1808)
Subclasse: Digenea (Van Beneden, 1858)
Superordem: Anepitheliocystida
Ordem: Echinostomida
Subordem: Echinostomata
Superfamília: Echinostomatidea
Família: Fasciolidae (Railliet, 1895)
Género: Fasciola
Espécie: Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758)
12
8. Ciclo Biológico
O ciclo de vida da Fasciola hepatica é heterogenético e complexo, envolve várias fases e dois
hospedeiros, um hospedeiro definitivo mamífero e um molusco anfíbio como hospedeiro
intermediário (figura 6) (Andrews, 1999).
Podem existir algumas variações nos ciclos de vida da Fasciola, particularmente em relação
aos hospedeiros definitivos, mas os principais fatores que afetam o ciclo de vida tendem a ser
a exigência de temperatura adequada e humidade suficiente (Andrews, 1999).
Como todos os trematodes (com exceção para o Schistosoma), a Fasciola hepatica é
hermafrodita e a autofecundação é a forma mais comum de reprodução sexual. No entanto
pode ocorrer, em situações de stresse, fecundação cruzada (Fletcher et al., 2004).
8.1. Ovos
A taxa de produção de ovos pode atingir os 20 mil a 50 mil por dia (Andrews, 1999). Os ovos
têm uma forma oval, são colocados pelo parasita no sistema de ductos biliares do hospedeiro
definitivo, passam para o duodeno com a bílis, de seguida, os ovos são libertados para o
exterior com as fezes. Os ovos têm uma casca fina, e ainda não estão embrionados nesta fase
(figura 1). Apesar da casca fina, são extremamente resistentes (Andrews, 1999).
O desenvolvimento embrionário inicia-se quando os ovos são libertados na água fresca e é
regulado principalmente pela temperatura, humidade, luz e características químicas da água.
Os ovos podem resistir a temperaturas entre os 0º a 37ºC mas a temperatura ideal para o seu
desenvolvimento é entre 15º a 25ºC. Geralmente, necessitam de 9 a 15 dias para a eclosão
(Togerson e Claxton, 1999).
13
Figura 1 - Ovo de F. hepatica (adaptado de www.rvc.ac.uk/review )
8.2. Miracídio
O miracídio é o 1º estádio larvar de vida livre e é um organismo que não se alimenta, por isso
o tempo de vida é determinado pela quantidade de energia armazenada (Graczyk e Fried,
1999).
O miracídio é uma larva com cílios (figura 2) que nada vigorosamente até alcançar o processo
papiliforme retrátil do hospedeiro intermediário, esta etapa é facilitada pela secreção de
enzimas proteolíticas que são libertadas pelo hospedeiro intermediário (Simpkin et al., 1980 ;
Smythe e Halton, 1983).
É urgente encontrar um hospedeiro intermediário, pois geralmente o miracídio apenas
sobrevive 24 horas sem hospedeiro (Andrews, 1999).
Figura 2 – Miracídio (Fonte: www.perulactea.com )
14
8.3. Esporocisto
Depois de penetrar no molusco, o miracídio perde os cílios e transforma-se num esporocisto
de forma arredondada que migra pelo sistema digestivo do molusco (Smythe e Halton, 1983).
8.4. Rédia
O esporocisto dá origem a várias rédias por reprodução assexuada, através de divisões por
mitose (figura 3). As rédias libertam-se do esporocisto (que posteriormente morre) e migram
para o fígado e pâncreas do hospedeiro intermediário (Graczyk e Fried, 1999).
Normalmente cada esporocisto dá origem a 5 ou 8 rédias móveis. Sob condições adversas, a
rédias atrasam o seu desenvolvimento e dão origem a uma segunda geração de rédias, também
por mitose (Andrews, 1999).
Em condições adequadas as células germinativas das rédias desenvolvem-se e evoluem para
cercárias (Andrews, 1999).
Figura 3 - Rédias (Fonte: www.repository.utl.pt )
15
8.5. Cercárias
A cercária é libertada em meio aquático quando a temperatura está acima dos 10ºC.
Todo o processo, desde a infeção do molusco até à libertação das cercárias dura normalmente
40 a 80 dias, dependendo da temperatura. Temperaturas mais elevadas reduzem o número de
dias necessários (figura 4). (Andrews, 1999; Smythe e Halton, 1983).
Figura 4 - esquema de uma cercárias de Fasciola hepatica. 1- Ventosa oral, 2- esófago, 3- ventosa ventral, 4células embrionárias, 5- cólon, 6- células flama, 7- túbulo excretor, 8- ducto descendente primário, 9- ducto
ascendente, 10- ducto descendente principal, 11- vesícula excretora, 12- ducto excretor caudal. (Adaptado de:
www.perulactea.com).
16
8.6. Metacercárias
Depois de sair do molusco, a cercária anexa-se à vegetação aquática presente. A cauda de
cercária cai e as glândulas localizadas na lateral do corpo formam um quisto com quatro
camadas. A formação da parede do quisto pode durar até dois dias. A metacercária é a forma
infestante para o hospedeiro definitivo (Andrews, 1999).
A eclosão de um único miracídio pode produzir até 4000 quistos infestantes (metacercárias),
devido à multiplicação nas fases esporocisto e rédia (Andrews, 1999).
Em condições adequadas (condições de elevada humidade e temperaturas amenas), as
metacercárias conseguem sobreviver até 1 ano, mas em condições com baixa humidade, a
capacidade de sobrevivência diminui (Suhardono et al., 2006).
8.7. Forma Imatura
Ao serem ingeridas juntamente com a vegetação, as metacercárias entram no intestino
delgado do hospedeiro definitivo e perdem o quisto que as envolvia, libertando o parasita
juvenil. O desenquistamento ocorre no duodeno devido às elevadas concentrações de dióxido
de carbono e temperaturas de 39ºC (Andrews, 1999), a presença da bílis, sais biliares e sucos
gástricos também proporcionam a destruição do quisto e a libertação do parasita (Mulcahy et
al., 1999).
Os parasitas imaturos penetram na parede intestinal e entram na cavidade peritoneal, no prazo
de 24 horas, a partir daí, vão para o fígado onde migram por todo o parênquima hepático
consumindo células hepáticas e sangue durante cerca de 6 semanas até que encontram os
ductos biliares (Andrews, 1999).
8.8. Adulto
Após cerca de 4 semanas nos ductos biliares, os parasitas atingem a maturidade sexual,
geralmente dentro de 3 semanas após a infeção inicial (figura 5). A Fasciola fixa-se nas
paredes dos ductos o que causa desgaste do epitélio e rutura dos vasos sanguíneos (Dawes,
1963).
17
A infeção tem um período pré-patente de 8 a 12 semanas, podendo manter-se durante anos
(Ballweber, 2001). Ocasionalmente podem ocorrer infeções ectópicas, podendo parasitas
serem encontrados em quase todos os órgãos (Mas-Coma et al., 1999b).
Figura 5- Fasciola hepatica na forma adulta (Fonte: www.ufrgs.br).
Figura 6 - ciclo biológico de Fasciola hepatica (adaptado de www.dpd.cdc.gov/dpdx).
18
9. Morfologia
A subclasse Digenea compreende uma grande quantidade de espécies com importância
médica e económica. Como endoparasitas de vertebrados, apresentam adaptações estruturais
para poderem fixar-se aos hospedeiros: glândulas de penetração, glândulas para a produção do
material do quisto e órgãos de adesão (Hickman, et al., 2004).
Os Digenea têm também um sistema digestivo incompleto com a boca na extremidade
anterior e um sistema reprodutivo bem desenvolvido (Hickman, et al., 2004).
O sistema nervoso é muito simples e os sentidos são pouco desenvolvidos (Hickman, et al.,
2004).
A Fasciola hepatica tem um corpo plano em forma de folha e o tegumento externo coberto de
espinhos. Geralmente, um adulto atinge os 20 a 30 mm de comprimento com 15 mm de
largura (Fairweather et al., 1999; Valero et al., 2005).
As ventosas orais e ventrais localizam-se no cone cefálico. A ventosa oral tem um diâmetro
de 1,0 mm (Muller, 2002).
O intestino dos parasitas adultos é muito ramificado com divertículos que se estendem desde a
parte anterior do corpo até à parte posterior (Mas-Coma, 2004).
Os órgãos reprodutores femininos estão presentes perto da ventosa ventral e os órgãos
reprodutores masculinos estão presentes perto do centro do corpo. Os testículos, altamente
ramificados, encontram-se na metade posterior do corpo enquanto que o ovário está
localizado logo acima dos testículos e está ligado a um curto útero que se abre para um poro
genital acima da ventosa ventral. As glândulas vitelinas estão dispersas pela região lateral e
posterior do corpo (figura 7) (Fairweather et al., 1999; Mas-Coma, 2004).
Os ovos de Fasciola hepatica têm uma forma elipsoidal (130-150 µm de comprimento por
60-90 µm de largura) e têm uma casca amarela-acastanhada com um opérculo. As células
embrionárias não se distinguem do restante ovo (Valero et al., 2002).
O miracídio tem o corpo em forma cónica coberto por cílios e pode ter 130 por 30 µm (MasComa, 2004).
19
Figura 7 - Fasciola hepatica adulta (adaptado de www.scielo.org.pe ).
10. Ecologia
É necessário um conjunto de condições ambientais para a Fasciola hepatica sobreviver. A
humidade e temperatura adequada são cruciais, tanto para os hospedeiros intermediários,
como para o seu próprio desenvolvimento e crescimento (Mas-Coma, 2004).
A temperatura adequada para o desenvolvimento dos ovos de Fasciola, regista-se entre os 10º
e 25ºC, assim como para o desenvolvimento dos estágios de vida livre e formação das
metacercárias. O crescimento da Fasciola em ambientes mais quentes, entre 17º a 25ºC reduz
a quantidade de tempo necessário para completar o desenvolvimento do parasita (Andrews,
1999).
A Fasciola heapatica é encontrada em quase todas as regiões temperadas, onde ovelhas,
cabras, bovinos e outros ruminantes são criados, pois praticamente todas essas áreas têm
20
humidade suficiente e temperaturas adequadas, pelo menos durante uma parte do ano, para
sustentar uma população de moluscos (Mas-Comas, 2004).
Portanto, a ecologia da Fascioa hepatica está diretamente ligada à ecologia do seu hospedeiro
intermediário. Juntamente com a presença de água e temperaturas adequadas, características
fisiológicas, composição do solo, e fatores climáticos são da maior importância na faixa de
sobrevivência e de reprodução das Lymnaeas e por isso na presença de Fasciolas (Myers et
al., 2012).
As Lymnaeas são capazes de se adaptar a amplas condições físicas e químicas extremas com a
uma grande variedade de vegetação aquática (Mas-Comas, 2004).
Do ponto de vista ecológico, o habitat das Lymnaeas pode ser dividido em dois tipos gerais:
foco primário (ou reservatórios) e áreas de difusão (Chapuis et al., 2007).
Os focos primários estão localizados em ambientes permanentemente húmidos, tais como,
rios, lagos, lagoas, canais. Os moluscos são normalmente encontrados em corpos de água
estagnada ou perto das margens, onde a água flui lentamente. Os moluscos colocam os ovos
na primavera quando a temperatura sobe acima dos 10ºC e continuam a postura, desde que a
temperatura se mantenha acima dos 10ºC. Em situações de temperaturas mais altas, os ovos
desenvolvem-se mais rapidamente (Chapuis et al., 2007).
Desde as 3 semanas de idade as Lymnaeas começam a por ovos, conseguem produzir até 3
gerações numa única estação desde que tenham água suficiente. Assim, estima-se que um só
exemplar de Lymnaea truncatula consegue produzir até 100 mil novos moluscos numa só
estação do ano (Acha e Szyfres, 2003).
Durante os verões excecionalmente quentes e secos, muitos moluscos podem morrer, outros
entram em estivação e retomam o seu desenvolvimento quando a temperatura desce e as
condições húmidas voltam. Durante invernos muito frios, também podem morrer e alguns
entram em hibernação e apenas retomam a sua atividade quando as temperaturas sobem acima
dos 10ºC (Luzün-Peña, 1994).
As Lymnaeas que por estivação e hibernação conseguem sobreviver às condições adversas
das secas, calor e frio, são as responsáveis pela manutenção das gerações seguintes de
21
Lymnaeas, e por consequência, das gerações seguintes de Fasciola hepatica (Luzün-Peña et
al., 1994).
A temperatura acima dos 10ºC é o fator chave na epidemiologia da fasciolose, pois quando
está abaixo de 10ºC os ovos de Fasciola não se desenvolvem, os hospedeiros intermediários
não se reproduzem, os esporocistos, rédias e cercárias não se desenvolvem no interior do
molusco, e o ciclo do parasita é quebrado (Luzün-Peña et al., 1994).
A adaptação das Lymnaeas às massas de água permanentes, faz com que a transmissão seja
possível ao longo do ano, como observado nos países do sul da Europa e ilhas do
Mediterrâneo (Valero et al., 1998).
As áreas de disseminação são caracterizadas pela alternância períodos de cheias e secas,
mantendo uma grande concentração de Lymnaeas que podem também vir de focos primários
trazidas pelas correntes das cheias, ou podem ser reativadas depois da estivação durante
períodos de seca. Este tipo de ocorrências sazonais pode levar a surtos graves de fasciolose
(Acha e Szyfres, 2003; Chapuis et al., 2007).
Tal como acontece com muitos parasitas, existe um padrão sazonal distinto de surtos de
fasciolose com dois períodos principais de infeção, verão e inverno (Altizer et al., 2006).
Os ovos de Fasciola, transmitidos por animais infetados na primavera e início do verão,
desenvolvem-se dentro dos hospedeiros intermediários e produzem cercárias e metacercárias
até ao final do verão (Fox et al., 2011; Goodall et al., 1991).
Os ovos que são excretados durante o inverno não se desenvolvem até encontrarem as
condições adequadas. No início da primavera os ovos iniciam o seu desenvolvimento até ao
estado de metacercárias no final da primavera ou início do verão. As metacercárias são
ingeridas pelos hospedeiros definitivos produzindo sintomas no verão e outono (Fox et al.,
2011; Goodall et al., 1991).
Em regiões de clima tropical ou subtropical, a doença pode ocorrer em qualquer altura do ano
(Togerson e Claxton, 1999).
Concluindo, os fatores climáticos como as chuvas, a temperatura do ar, são decisivos para o
desenvolvimento de Fasciola hepatica, principalmente porque têm um impacto muito grande
22
para o desenvolvimento do hospedeiro intermediário, do qual a Fasciola hepatica não está
dependente para completar o seu ciclo biológico (Fox et al., 2011).
11. Hospedeiro Intermediário
A distribuição geográfica dos trematodes, entre outras coisas, está dependente dos seus
hospedeiros intermediários. A Fasciola hepatica tem uma ampla gama de hospedeiros
intermediários e, geralmente, diferentes regiões do mundo têm diferentes espécies de
moluscos como hospedeiro intermediário da Fasciola (Graczyk e Fried, 1999).
Os hospedeiros intermediários são moluscos anfíbios da família Lymnaeidae (Bargues e MasComa, 1997).
No passado, a maioria das espécies em questão foram classificadas como género Lymnaea,
mas algumas dessas espécies receberam nova classificação incluindo os géneros Galba,
Fossaria, Pseudosuccinea e Stagnicola (Acha e Szyfres, 2003).
As Lymnaeas são moluscos de água doce, de casca fina e alongada de forma ovoide.
Alimentam-se de algas e detritos orgânicos e são hermafroditas (Kohl, 2012).
O hospedeiro intermediário mais comum para a Fasciola hepatica é Galba truncatula
(Muller, 1774) anteriormente conhecido como Lymnaea truncatula. É o hospedeiro
intermediário principal na África, Ásia e Europa (Graczyk e Fried, 1999).
A fasciolose tem uma origem europeia, mas conseguiu expandir-se para o resto do mundo, a
novas regiões onde a doença foi introduzida, diferentes variedades de moluscos desempenham
um papel muito importante como hospedeiro intermediário de Fasciola hepatica (Mas-Coma
e Bargues, 1997; Mas-Coma et al., 2003).
Espécies que incluem (figura 8): Galba cubensis (Pfeiffer, 1839), Galba viatrix (d’Orbigny,
1835), Lymnaea diaphana (king, 1830) e Pseudosuccinea columella (Say, 1817) na América
do Sul. Na América do Norte os hospedeiros intermediários podem ser Fossaria bulimoide
(Lea, 1841), Hinkleyia caperata (Say, 1829), Lymnaea humilis (Say, 1822), Galba cubensis e
Pseudosuccinea columella. As espécies Galba cubensis e Pseudosuccinea columella
23
encontram-se na América Central. Lymnaea tomentosa (Pfeiffer, 1855), Austropeplea ollula
(Gould, 1859) e Pseudosuccinea columella na Austrália e Nova Zelândia (Acha e Szyfres,
2003).
A Lymnaea truncatula ou Galba truncatula foi relatada também na América do Sul
especialmente em áreas hiperendémicas de Fasciolose (Bargues, 1997; Mas Coma, 2001).
Figura 8 - Hospedeiros intermediários da Fasciola hepatica. a- Fossaria bulimoide; b- Galba viatrix; cPseudosuccinea columella; d- Galba cubensis; e- Galba truncatula. ( Adaptado de www.psteinmann.net ,
www.dpd.cdc.gov , www.fwgna.org , www.scoopweb.com).
12. Hospedeiros Definitivos
A Fasciola hepatica tem uma grande gama de hospedeiros definitivos como ovinos, caprinos,
bovinos, que são os hospedeiros predominantes (Mas-Coma, 2005). Atualmente a Fasciola
hepatica tem mostrado a capacidade de expandir o seu leque de hospedeiros definitivos para
animais exóticos em todo o mundo (Mas-Coma, 2004). Muitas espécies de herbívoros
domésticos e silvestres podem servir como hospedeiro definitivo, no entanto, alguns apenas
são hospedeiros temporários e não podem manter um ciclo do parasita por muito tempo, o que
faz com que estes animais não cheguem a contaminar as pastagens (Acha e Szyfres, 2003).
24
13. Dicrocoelium dendriticum
O Dicrocoelium dendriticum é também um parasita relativamente comum nos fígados de
bovinos e muitas vezes causa de reprovação dos fígados de bovino em matadouros. É uma
infeção hepática frequente em mamíferos, geralmente ruminantes, característica de solos
secos, calcários ou alcalinos, que é o habitat natural dos seus dois hospedeiros intermediários.
Como primeiro hospedeiro intermediário, o Dicrocoelium dendriticum utiliza os gastrópodes
terrestres dos géneros: Zebrina (Zebrina detrita), Helicella (Helicella negleta) e Cionella
(Cionella lubrica), como segundo hospedeiro intermediário tem as formigas do género
Formica (Formica fusca, F. rufa, F. pratensisi) (Arias et al., 2012).
As cercárias não possuem mobilidade e encontram-se dispersas pelo segundo hospedeiro
intermediário. Os adultos destes parasitas residem nos canalículos biliares (figura 9) e foram
encontrados não só em ruminantes como também em camelos, cavalos, porcos, coelhos, cães
e até humanos (Arias et al., 2012).
Embora as condições climáticas que este parasita necessita sejam distintas das condições
necessárias ao desenvolvimento da Fasciola hepatica, o Dicrocoelium dendriticum realiza a
postura de ovos ao longo de todo o ano, havendo vários relatos de infeções mistas (Fasciola
hepatica em simultâneo com Dicrocoelium dendriticum) no hospedeiro definitivo (bovinos)
(Arias et al., 2011).
Dicrocoelium dendriticum penetra nos ductos biliares causando dilatação e inflamação
(angiocolite). Macroscopicamente apresentam-se como cordões brancos típicos de
angiocolite, mas menos numerosos, mais curtos e mais finos do que na fasciolose (Corrêa,
1976).
Ao contrário da Fasciola hepatica, os adultos de Dicrocoelium dendriticum não são
hematófagos, alimentando-se de células epiteliais de descamação e mucina da hipersecreção.
Os seus ovos são mais pequenos do que os de Fasciola hepatica (36x30 μm), com forma
elipsoide, de coloração castanho-escuro, estão embrionados no momento da postura e têm um
opérculo pouco visível (Dorchies, 2006).
25
Figura 9 - Vesícula biliar de pequeno ruminante parasitado por Dicrocoelium dendriticum (Fonte:
www.capraiaspana.com )
14. Patogenicidade e Sinais Clínicos da Fasciolose nos animais
A patogenicidade tem origem em mecanismos diretos e indiretos. A invasão, estabelecimento,
migração, alimentação e multiplicação no hospedeiro provocam efeitos diretos no hospedeiro.
Os mecanismos indiretos têm uma maior influência na produtividade e bem-estar do
hospedeiro. Uma vez que são parasitas histiófagos na fase imatura e hematófagos na fase
madura, as ações de F. Hepatica incluem a ingestão e destruição de tecidos e sangue. Devido
ao seu tegumento espinhoso, são ações que levam a uma irritação das superfícies epiteliais
com as quais entra em contacto (Cordero del Campillo e Rojo-Vázquez, 1999).
Durante as migrações pode veicular outros agentes infeciosos, pode provocar obstrução do
fluxo biliar e facilitar a multiplicação e patogenia de agentes que em condições normais não
provocariam doença (Cordero del Campillo e Rojo-Vázquez, 1999).
A migração das fasciolas imaturas no parênquima do fígado provoca hepatite traumática e
hemorragias que podem resultar em anemias. Alguns trajetos migratórios, graças à capacidade
regenerativa do fígado, são transformados em trajetos fibrosados. (Ballweber, 2001).
As fascíolas adultas ingerem sangue, o que também pode causar anemia, a irritação causada
pela presença dos parasitas nos canais biliares leva a uma proliferação do epitélio dos ductos
biliares, colangite e necrose da parede dos ductos (figura 10), fibrose na lâmina própria dos
ductos podendo vir a calcificar (Ballweber, 2001).
26
Segundo Ballweber (2001), a doença clínica pode ocorrer em quatro formas: aguda,
subaguda, crónica e subclínica.
A forma aguda é causada pela ingestão a curto prazo de um grande número de metacercárias
que invadem o fígado ao mesmo tempo. Os sinais clínicos incluem inapetência, perda de
peso, dor abdominal, anemia, ascite e depressão. A morte súbita ocorre em apenas alguns
dias. Os ovinos e caprinos são os animais mais afetados pela forma aguda, sendo muito rara
em bovinos (Ballweber, 2001).
A ingestão de grande número de metacercárias também pode originar uma forma subaguda da
doença, mas a ingestão estende-se num período longo de tempo. Nestes casos, o hospedeiro
definitivo apresenta inapetência, diminuição do ganho de peso ou mesmo perda de peso,
hemorragia, anemia, insuficiência hepática (aumento da ALT e ASL ) e morte, durante 4 a 8
semanas (Ballweber, 2001).
Uma forma crónica da doença é causada por um número moderado de metacercárias ingeridas
durante um período prolongado de tempo, os sinais clínicos incluem diminuição da ingestão
de alimentos, diminuição no ganho de peso, redução da produção de leite, anemia, emaciação,
edema submandibular e ascite. Os bovinos tendem a apresentar a forma crónica da doença
(Ballweber, 2001).
Ao ingerirem uma baixa quantidade de metacercárias num espaço de tempo alargado, os
animais adquirem uma forma subclínia da infeção, esta origina apenas uma moderada
colangite sem sinais clínicos (Ballweber, 2001).
Então, a sintomatologia causada depende da carga parasitária (número de metacercárias
ingerido), a idade do hospedeiro e a sua condição geral de saúde (Arjona et al., 1995).
Em suínos e cavalos, a fasciolose é geralmente assintomática e torna-se clinicamente aparente
quando existem outros fatores debilitantes, como a desnutrição ou doenças concomitantes
(Amor et al., 2011).
27
Figura 10 - Imagem histológica de jovem parasita em migração no parênquima hepático, infiltração celular,
hemorragia e células hepáticas em necrose junto ao parasita (Fonte: http://www.facmed.unam.mx/ ).
15. Fontes de infeção
Os mamíferos são infetados com Fasciola hepatica quando se alimentam em pastagens
contaminadas. A infeção ocorre através da ingestão de metacercárias localizadas sobre a
superfície das plantas. A água também pode ser uma fonte de infeção ao ser ingerida com as
metacercárias presentes na superfície da água (Mas-Coma, 2005).
A infecciosidade das metacercárias é dependente do tempo de armazenamento, sendo menor
quando os quistos são mais velhos. Além disso, a viabilidade das metacercárias não varia
entre os reservatórios de diferentes espécies. Assim, parasitas de reservatórios secundários,
tais como porcos e macacos, envolvem o mesmo risco potencial de infeção como os de ovinos
e bovinos (Valero e Mas-Coma, 2000).
16. Diagnóstico
O diagnóstico de Fasciolose baseia-se nas manifestações clínicas (dores, febre,
hepatomegalia, eosinofilia e anemia) e é confirmado com a presença de ovos nas fezes
(O’Neill et al., 1998).
Durante a fase aguda não são observados ovos porque os parasitas ainda não amadureceram e,
portanto, para o diagnóstico são utilizados testes imunológicos. No entanto, num estádio
28
muito recente da doença os testes não dão positivo a fasciolose. Nesta fase é importante
distinguir fasciolose de hepatite aguda que se deve a outras causas. Antecedentes
epidemiológicos e a presença de eosinofilia periférica auxilia na identificação da fasciolose
(Arjona et al., 1995; Mas-Coma, 2005).
O diagnóstico da fasciolose aguda é frequentemente feita na necropsia com base na
observação das lesões hepáticas e na presença de parasitas imaturos. A ultrassonografia não
mostra os parasitas que migram mas possibilita a observação da vesícula biliar distendia e os
ductos biliares dilatados (Radostits, 2006).
A colecistocentese guiada por ultrassonografia é um excelente método de obtenção de
amostras de bílis para demonstração da Fasciola hepatica e dos ovos. Realiza-se o
procedimento pelo lado direito do animal no 9º, 10º e 11º espaço intercostal (Ballweber,
2001).
O diagnóstico clínico da fasciolose bovina raramente é estabelecido. Em Portugal continental,
a nível animal, não é prática de rotina o recurso a testes serológicos, recorrendo-se
pontualmente a exames coprológicos, contrariamente ao que se verifica a nível humano em
que o uso das técnicas serológicas está generalizado. (Costa, 2007).
17. Tratamento e profilaxia
O tratamento e controlo no hospedeiro definitivo (bovino) centra-se na escolha do fasciolicida
e no momento do seu uso, tendo como base o ciclo epidemiológico da região, o conhecimento
do hospedeiro intermediário e a sua pressão demográfica, permitindo prever para uma
determinada zona, quais os períodos de eliminação de cercárias e portanto, a contaminação
dos pastos e posterior infeção dos mamíferos (Conceição, 2001).
O objetivo é eliminar os parasitas antes da produtividade do animal ser afetada e evitar a
contaminação das pastagens com os ovos da fascíola. O momento do tratamento e a escolha
do fármaco variam de acordo com as formas de transmissão e com a área geográfica e seu
clima (Ballweber, 2001).
29
O intervalo de segurança imposto pelos fármacos é o maior fator limitante a quando da
escolha do fasciolicida para bovinos. Por exemplo, o triclabendazole, o closantel, o clorsulon
e a ivermectina só devem ser aplicados durante o período de secagem das vacas leiteiras. A
aplicação de um fasciolicida deve estar enquadrada numa estratégia de controlo, prevendo um
número mínimo de tratamentos, a fim de diminuir significativamente o número de
metacercárias nas pastagens (Costa, 2007).
Para os bovinos que pastoreiam durante todo o ano em zonas temperadas com invernos
amenos, o aconselhável é realizar dois tratamentos, um no final do outono e outro no início da
primavera (Costa, 2007).
Em bovinos estabulados, a primeira dose deverá ser administrada na altura do alojamento de
Inverno para eliminar os possíveis parasitas adultos e as formas imaturas contraídas durante o
pastoreio de Verão e Outono. Posteriormente, a segunda dose deverá ser administrada entre
Abril e Maio que é quando os animais regressam às pastagens, prevenindo assim a
contaminação dos pastos e a infeção do hospedeiro intermediário (Costa, 2007).
Em novilhos de engorda, a desparasitação deverá ser feita no momento da sua chegada à
exploração e repetir-se o tratamento após seis semanas (Costa, 2007).
É importante fazer um uso escrupuloso dos fasciolicidas, com o mínimo de administrações,
fazer a rotatividade dos princípios ativos ou a combinação dos mais indicados, de forma a
realizar uma terapêutica mais racional evitando o surgimento de resistências aos
antihelmínticos (Conceição, 2001).
O controlo do hospedeiro intermediário é uma forma eficaz de impedir o desenvolvimento das
metacercárias, com uma boa drenagem dos terrenos, embora se torne inviável em regiões de
grande pluviosidade. Ecologicamente, esta prática tem riscos, podendo alterar a fauna dos
habitats (Costa, 2007).
Outro método de controlo do hospedeiro intermediário é o uso de moluscicidas que atuam
diretamente sobre a população dos moluscos. Sendo este um método dispendioso pelo que
raramente é utilizado (Costa, 2007).
30
18. Fasciolose hepática no homem
O homem é um hospedeiro acidental, o ciclo de infeção na natureza mantem-se entre os
animais (especialmente entre ovelhas e bovinos) e os moluscos. Podendo então considerar--se
que os animais podem ser vistos como reservatórios da infeção para o homem (Barriga,
2003).
18.1. Prevalência da Fasciolose no homem
A fasciolose hepática no homem tem ocorrido principalmente na Austrália, Bolívia, Equador,
Egipto, França, Inglaterra, Irão, Perú e Portugal (Garcia e Bruckner, 1997).
Curiosamente não parece existir uma relação entre a frequência da fascíola hepática animal
com a fasciolose hepática em humanos. Embora a infeção bovina seja relatada em abundância
no oeste e sudeste dos EUA, os casos de fasciolose humana são raros. Em 1991 (Chen, 1991)
foram relatados 44 casos de fasciolose humana na China apesar de a infeção ser muito comum
em animais. As maiores epidemias foram relatadas em França, perto de Lyon entre 1956-1957
com cerca de 500 casos e no Valle de Lot em 1957 com cerca de 200 casos. A fonte comum
de infeção foi o consumo de agrião contaminado com metacercárias (Malek, 1980).
Na Inglaterra o maior surto conhecido foi de 40 pessoas em 1972. No Egito contaram--se 40
casos em crianças num só ano (El-Karaksy et al., 1999).
Em Cuba, houve mais de 100 casos em 1944 (ao qual devem ser adicionados muitos achados
posteriores). No Chile em 1954 diagnosticaram-se 82 casos. Costa Rica, em 1973, contava
com 42 casos diagnosticados (Mora et al.,1980).
Esteban em 1999, numa série de 31 sondagens no planalto boliviano, encontrou uma
prevalência de fasciolose humana de 15,4%, com variações locais de 0 a 68% (Esteban et al.,
1999).
Em 1997 o planalto boliviano foi considerado uma área hiperendémica com uma prevalência
de 75% em crianças e 41% em adultos, provavelmente os valores mais elevados de todo o
mundo (Esteban et al., 1997).
31
Na Europa há uma concentração de casos de fasciolose humana nos países ocidentais como
França, Espanha, e Portugal, devido às condições climáticas (Esteban, 1998).
18.2. Patogenicidade e Sintomatologia no Homem
O efeito na saúde do homem depende do número de parasitas e na duração da infeção. A
migração das fascíolas através da parede intestinal e pelo peritoneu pode não causar
manifestações clínicas. Por outro lado, as migrações pelo parênquima hepático podem causar
lesões traumáticas, necróticas e inflamatórias cuja gravidade depende do número de parasitas.
Nos ductos biliares a fascíola adulta causa proliferação celular no epitélio dos ductos,
inflamação e fibrose (Barriga, 2003).
Nas infeções massivas pode levar a obstrução biliar, atrofia do fígado e cirrose periportal. Nos
casos crónicos observa-se com frequência colecistite e colelitíase. Os sinais clínicos mais
comuns durante a fasciolose aguda (devido à migração das fascíolas jovens pelo parênquima
hepático) são a dor abdominal, febre, hepatomegalia e eosinofilia e algum grau de anemia
(Barriga, 2003).
Na fase crónica (parasitas adultos localizam-se nos ductos biliares) os sinais mais comuns são
cólicas biliares e colangite. A eosinofilia da fase aguda geralmente persiste. Por vezes a
infeção crónica pode ser assintomática (El-Nehwihi et al., 1995).
Em Espanha, 6 pacientes com fasciolose crónica apresentaram eosinofilia, dor abdominal,
febre, perda de peso e mialgia generalizada (Gorgolas et al., 1992).
Durante a migração na cavidade abdominal, os parasitas podem dirigir-se para órgãos
erráticos, embora sendo raro, os pacientes podem apresentar infiltrados pulmonares (Barriga,
2003).
18.3. Fonte de infeção e modo de transmissão
O homem é infetado principalmente por comer saladas de agrião (Nasturium officinale) com
metacercárias enquistadas. Em França, onde o consumo de salada de agrião é muito comum
(consomem-se cerca de 10 mil toneladas por ano), a infeção humana é mais frequente do que
32
nos outros países europeus. Em certas ocasiões, a alface e outras plantas consumidas cruas
podem estar contaminadas servindo como fonte de infeção assim como a água corrente. O
consumo de água de fontes naturais é muitas vezes citado como fonte de infeção. Em 1996,
uma análise realizada da água do rio Tambillo na Bolívia, relatou até sete metacercárias em
apenas meio litro de água (Bargues et al., 1996).
A capacidade de sobreviver durante algum tempo em ambientes secos explica a contaminação
humana pelo consumo de plantas colhidas em habitats secos com massas de água temporárias
e a contaminação a partir de plantas colhidas em plantações frequentemente irrigadas (MasComa, 1999a).
Lavar objetos com água que contenha metacercárias pode ser a fonte de infeções acidentais,
por exemplo, no Egito é costume lavar utensílios de cozinha e roupas nos canais de irrigação
onde Lymnaea e animais estão presentes. (Cadel et al., 1996; Curtale et al., 2003).
Através de experiências realizadas com ratos e porcos, conclui-se que humanos também
podem infetar-se ao consumir pratos crus preparados a partir de fígados frescos, infetados
com parasitas imaturos, ou ao consumir fígados crus ou pratos de fígado semi-cozinhado
infetados com parasitas adultos (Taira et al., 1997).
18.4. Prevenção e controlo
No tratamento e controlo no Homem, o praziquantel foi o medicamento de eleição, mas está a
ser substituído pelo triclabendazole, por indicação da OMS (Organização Mundial de Saúde)
desde 1990 (Savioli et al., 1999).
A lavagem das plantas para consumo é essencial como prevenção da fasciolose humana. Ao
enxaguar as verduras durante 10 minutos em água corrente elimina apenas 50% das
metacercárias, mas com ácido cítrico (10mL/L) ou vinagre comercial (120mL/L), ou sabão
líquido (12mL/L), ou permanganato de potássio (24mg/L) vai separar ou eliminar na
totalidade as formas parasitárias. (El-Sayad et al., 1997).
33
CAPÍTULO II
19. Objetivos
Neste trabalho, pretende-se apresentar os dados recolhidos acerca dos casos de fasciolose
diagnosticados ao longo dos quatro meses de estágio no Matadouro da Beira Litoral (Aveiro),
tendo em consideração a proveniência dos animais, os meses de maior prevalência, as idades
dos bovinos afetados e apresentando também uma estimativa do valor económico perdido
devido à reprovação dos fígados com fasciolose.
No geral, o objetivo do trabalho é relatar casos de fasciolose hepática em bovinos
diagnosticados durante o abate, evidenciando a sua relevância no panorama da saúde pública
e impacto económico.
20. Material e métodos
Foram recolhidos os dados dos 3253 bovinos abatidos através da consulta das guias de
trânsito de cada animal, registando o distrito do qual eram originários.
Durante todos os abates, foram registadas todas as causas de reprovação dos fígados de
bovino, com especial atenção para os casos diagnosticados como fasciolose bovina.
O diagnóstico de fasciolose realizou-se durante a inspeção sanitária de cada fígado de bovino,
sendo que se consideraram todos os fígados nos quais era possível a observação de formas
adultas ou imaturas de Fasciola hepática no fígado.
21. Matadouro de Aveiro
Durante quatro meses, entre novembro a fevereiro, realizamos um estágio no Matadouro da
Beira Litoral, pertencente à DIV de Aveiro, onde tivemos a oportunidade de acompanhar
todas as atividades do âmbito da inspeção sanitária.
34
O Matadouro da Beira Litoral, é do tipo horizontal, possuindo três linhas de abate, para
bovinos, pequenos ruminantes e suínos. Em Anexo (anexo 1 e 2) apresento os dados dos
abates relativos às reprovações totais de bovinos, pequenos ruminantes e suínos.
Os animais abatidos são provenientes de várias zonas do país e por vezes também de Espanha.
No MBL pude acompanhar a inspeção sanitária no abate de suínos, ovinos, caprinos e
bovinos, assim como a realização de auditorias. Tive também a possibilidade de visitar um
matadouro de aves (Hilário, em Estarreja) e acompanhar o abate de frangos, um matadouro de
leitões (Nova Casa Dos Leitões em Anadia) e uma lota (Doca Pesca, na Gafanha da Nazaré,
Aveiro) onde se realizou a inspeção ao pescado, auditorias a barcos e o acompanhamento do
leilão.
Ao longo do estágio verifiquei que a ocorrência de reprovações de fígados de bovino por
lesões provocadas por parasitoses eram abundantes, fiz então o registo dos casos de
parasitoses no fígado, dos quais, a maioria se devia ao trematode Fasciola hepatica.
22. Metodologia de Inspeção Sanitária em Matadouro
22.1. Inspeção sanitária no abate de bovinos
22.1.1. Receção de Animais e Controlo Documental
De acordo com o Regulamento (CE) Nº854/2004 de 27 de Julho, o Veterinário Oficial, é
responsável pelo controlo dos documentos relativos a cada animal para abate. Os bovinos
recebidos na abegoaria do matadouro, devem vir acompanhados dos seguintes documentos:
 Passaporte individual (modelo 241-B/DGV), documento que contêm informações
relativas à identificação do animal e do proprietário, dos resultados e datas dos
rastreios serológicos efetuados, entre outros;
 Guias de trânsito, documentos de numeração seriada obrigatórios na circulação dos
animais onde constam dados referentes à identificação do proprietário, os números das
marcas auriculares dos animais enviados para abate e o matadouro a que se destinam
(entre outras informações).
35
 Declaração de deslocações (modelo 253/DGV);
 Informação Relativa à Cadeia Alimentar (IRCA) que contém as informações
referentes às explorações de origem dos animais;

Declaração de limpeza e desinfeção e, em conformidade com o Edital nº 30 Febre
Catarral Ovina / Língua Azul, desinsetização do transporte;

Se a duração da viagem de transporte do animal até ao matadouro for superior a 8
horas, é necessário também a entrega de um diário de viagem, como previsto no
Regulamento (CE) n.º 1/2005, do Conselho, de 22 de Dezembro de 2004 (2);
 No caso de abate de emergência, deve ainda ser entregue uma declaração médico
veterinária emitida pelo Médico Veterinário que assistiu ao abate animal.
22.1.2. Inspeção ante mortem
Antes do abate, na abegoaria, todos os animais são inspecionados, com finalidade de
averiguar o estado higio-sanitário de cada animal, diagnosticando animais doentes ou
suspeitas de doença, verificar o bem-estar animal e recolher todas as informações possíveis
uteis à inspeção post mortem.
O diagnóstico de possíveis casos de fasciolose, nesta etapa do abate, torna-se irrelevante por
não ser viável nem trazer vantagens para o restante processo, tanto do ponto de vista higiosanitário como logístico
22.1.3. Inspeção post mortem
A inspeção post mortem, imediatamente após o abate, é realizada de forma metódica a todas
as partes de cada animal individualmente. O regulamento (CE) 854/2004 estabelece todas as
regras para cada espécie e todos os procedimentos a ter ao examinar e manipular as carcaças e
vísceras.
36
Pretende-se detetar alterações patológicas, conspurcações, deficiências nas técnicas de abate e
proceder às decisões sanitárias adequadas.
22.1.3.1. Inspeção do fígado
Após a abertura da cavidade abdominal e da cavidade torácica, o fígado é separado da carcaça
juntamente com a língua, traqueia, pulmões e respetivos gânglios linfáticos.
A inspeção do fígado inicia-se pela observação da superfície e palpação do fígado e dos
gânglios linfáticos hepáticos e pancreáticos.
Realiza-se a incisão da superfície gástrica do fígado e na base do lobo caudado para exame
dos canais biliares.
23. Lesões hepáticas encontradas
No total de todos os bovinos abatidos (3253), os fígados rejeitados durante a inspeção foram
636, dos quais 64 se deveram a Fasciola hepatica. No gráfico 1, são apresentadas as causas
de reprovação de fígados de bovino.
Gráfico 1 – Causas de reprovação de fígados de bovino em matadouro (Original, dados da Inspeção Sanitária do
Matadouro de Aveiro).
37
Verifica-se então que a principal causa de reprovações de fígados de bovinos foi devido a
lesões causadas por parasitas. Os 167 casos de parasitismo apresentados, excluem os casos em
que não foi possível o diagnóstico de fasciolose, mas apresentavam lesões características de
parasitismo, como focos de cor branco-amarelada na superfície do fígado, alterações da
consistência do parênquima, assim como espessamento dos canais biliares.
Os casos de fasciolose hepática diagnosticados foram 64, de entre o total de 3253 bovinos
abatidos, o que dá uma prevalência de 1,97%.
23.1. Lesões causadas por Fasciola hepática
Nos fígados diagnosticados com fasciolose as lesões observadas foram:

Focos necróticos – tanto à superfície, como no parênquima, podem ser observados
focos de necrose devido às agressões causadas pelos parasitas (fotografia 1);
 Canais biliares proeminentes à superfície - os canais biliares aparecem salientes na
superfície capsular devido ao espessamento da sua parede (fotografia 2), após corte
dos canais é possível observar a sua parede espessada e calcificada (calcificação
distrófica), o lúmen preenchido por vários parasitas e com conteúdo líquido granular
de tom castanho esverdeado resultante de excreções dos parasitas (fotografia 3);
 Fibrose hepática – devido aos trajetos migratórios dos parasitas no parênquima, a
regeneração hepática dá origem a focos de fibrose, tornando a consistência mais firme
e com aparência irregular (fotografia 3);
 Colangite – ao corte, verifica-se um espessamento da parede dos canais biliares que se
deve à reação inflamatória causada pela presença dos parasitas (fotografia 3);
 Aumento dos gânglios linfáticos – em alguns casos os gânglios linfáticos hepáticos
apresentam-se aumentados de tamanho (fotografia 4);
 Presença de Fascíolas – principalmente presentes nos grandes canais biliares
(fotografias 1, 2 e 5).
38
Fotografia 1 - Fígado de bovino com fasciolose (Original, matadouro de Aveiro).
Fotografia 2 - Fígado de bovino com fasciolose. Canal biliar proeminente (Original, matadouro de Aveiro).
39
Fotografia 3 - Fígado de bovino com fasciolose. Colangite (Original, matadouro de Aveiro).
Fotografia 4 - Fígado de bovino com fasciolose. Aumento dos gânglios linfáticos (Original, matadouro de
Aveiro).
40
Fotografia 5 - Fasciola hepatica no exterior de fígado de bovino após corte do parênquima hepático (Original,
matadouro de Aveiro).
24. Decisão Sanitária
Durante a inspeção post mortem, após a inspeção de cada fígado, sempre em que o fígado
apresenta lesões compatíveis com parasitismo por Fasciola hepatica, procede-se à reprovação
do órgão afetado e a restante carcaça é aprovada, caso se verifique a inexistência de nenhuma
outra alteração com repercussões na salubridade.
A decisão sanitária baseia-se no Regulamento (CE) Nº854/2004, Anexo 1, secção II; Capítulo
V, que diz o seguinte :
“1. A carne deve ser declarada imprópria para consumo se:
41
u) Na opinião do veterinário oficial, após análise de todas as informações relevantes, puder
constituir um perigo para a saúde pública ou animal, ou for, por quaisquer outras razões,
imprópria para consumo humano.
p) Revelar alterações fisiopatológicas, anomalias de consistência, sangria insuficiente (exceto
no caso da caça selvagem) ou anomalias organoléticas, nomeadamente um pronunciado odor
sexual;”
De entre os casos de fasciolose referidos, apenas se procedeu à reprovação total de uma
carcaça por esta apresentar poliartrite e carnes anémicas, para além da fasciolose
diagnosticada no fígado do mesmo animal. Neste caso, poderá haver uma relação entre uma
severa fasciolose hepática e a anemia presente na carcaça.
42
25. Distritos de origem dos Bovinos abatidos
No processo de controlo de documentação, foram registadas as informações acerca dos
animais abatidos, localidade de origem e idade, para posteriormente fazer cruzamento com
dados do abate relativos aos fígados dos bovinos (tabela 2).
Aveiro
Coimbra
Viseu
Guarda
Santarém
Beja
Leiria
Porto
Portalegre
Setubal
Évora
Castelo Branco
Lisboa
Viana do Castelo
Faro
Braga
Açores
Bragança
Totais
nov.
dez.
jan.
fev.
Total
197
137
48
23
32
53
33
5
153
29
93
8
37
1
3
0
0
0
852
275
151
70
45
31
93
17
0
258
34
108
25
5
0
3
2
3
2
1119
161
126
45
28
17
17
5
0
234
9
85
8
5
3
9
1
2
5
760
129
61
28
29
3
5
7
2
170
10
24
13
6
0
1
1
1
0
490
762
502
191
125
81
168
62
7
815
82
310
54
53
4
19
4
6
7
3253
Tabela 2 - Número de bovinos abatidos por distrito e mês (novembro, dezembro, janeiro, fevereiro) (dados
fornecidos pela Inspeção Sanitária).
Realizou-se então o registo da localização das explorações nas quais os animais
permaneceram antes do abate. Em alguns casos, os animais estiveram em várias explorações
distintas ao longo da sua vida, considerou-se então a última exploração, na qual
permaneceram.
Os animais recebidos no matadouro de Aveiro provêm de vários distritos embora a grande
maioria tenha origem em Portalegre, Aveiro e Coimbra.
43
Gráfico 2 - Número de casos de fasciolose em cada mês (dados da inspeção Sanitária).
De entre o total de casos de fasciolose encontrados (64), o maior número foi registado no mês
de novembro com 26 fígados reprovados com lesões compatíveis com fasciolose (gráfico 2).
O segundo mês com mais casos foi dezembro, mês este que registou também o maior número
de bovinos abatidos.
26. Distribuição geográfica dos casos de fasciolose
De entre o total de bovinos abatidos, durante estes quatro meses, o número de casos de
fasciolose foi de 64. Estes animais têm origem em diferentes localidades do país, sendo que a
maioria dos casos de fasciolose pertencem aos distritos de Aveiro, Coimbra e Viseu (mapa 2).
Como se pode verificar no gráfico 4, Aveiro teve uma prevalência de fasciolose de 0.79% de
entre os 3253 bovinos abatidos, Coimbra 0.43%, Viseu 0.24%, Beja 0.12%, Portalegre 0.12%,
Guarda 0.6% e, para Porto, Faro, Évora e Setúbal uma percentagem de 0.03%.
44
Nº de fígados com fasciolose
Mapa 2 - Número de casos de fasciolose hepática e a sua distribuição pelos distritos de Portugal (Original, dados
da Inspeção Sanitária do matadouro de Aveiro).
Gráfico 3- Distritos com valores em percentagem dos casos de Fasciola hepatica (Original, dados da Inspeção
Sanitária do matadouro de Aveiro).
45
27. Distribuição dos casos de fasciolose por idades
Em 64 casos de fasciolose encontrados, 11 pertenciam a bovinos com mais de 72 meses de
idade e 20 pertenciam a bovinos com idade inferior a 24 meses, sendo que a maior parte dos
casos tinham entre 24 a 72 meses de idade (gráfico 5).
Gráfico 4 - Valores em percentagem de bovinos com fasciolose com idade inferior a 24 meses, com idade entre
24 meses e 72 meses e, com mais de 72 meses de idade (Original, dados da Inspeção Sanitária do matadouro de
Aveiro).
28. Custos diretos da reprovação de fígados por fasciolose
Para calcular o prejuizo directo que acarreta a reprovação dos fígados devido a fasciolose,
consultou-se o preço de venda dos fígados em cinco talhos diferentes. O valor médio do
fígado de bovino obtido foi de 5,89€ por Kg.
Tendo como objetivo o cálculo total da perda na venda dos fígados, realizou-se a pesagem de
20 fígados de bovinos de diferentes idades. O peso médio obtido foi de 5,3Kg.
Durante o estágio, o número total de fígados rejeitados devido a Fasciola hepatica foi de 64,
considerando o peso médio por fígado de 5,3Kg pode-se fazer o seguinte cálculo:
64 x 5,3 x 5,89 = 1997€
Estima-se então que apenas com a reprovação de 64 fígados, contabilizou-se um prejuízo de
cerca de 1997€
46
29. Discussão
A fasciolose bovina em Portugal, aparentemente (de entre os anos de 2000 e 2003) tem vindo
a diminuir. Tendo em conta os valores de Costa (2007), a prevalência da fasciolose bovina
(dados do matadouro de Aveiro), para o ano de 2000 foi de 4,41%; 2001 de 5,11%; 2002 de
4,72% e em 2003 sofreu uma descida para 3,70%. No presente estudo (no ano de 2012/2013)
a prevalência obtida foi de 1,97% em apenas quatro meses.
A reprovação de fígados de bovino no matadouro deveu-se a várias causas, em que a principal
foi o parasitismo, se juntarmos os vários tipos de parasitismo hepático, os fígados reprovados
foram 231 o que representa 36,3% do total de fígados reprovados. Os casos de fasciola
representam 10% das reprovações de fígados.
Os bovinos abatidos eram provenientes de diferentes distritos do país, sendo que, a grande
maioria teve origem no distrito de Portalegre, Aveiro e Coimbra. Verificando os distritos com
maior prevalência de fasciolose, seria de esperar que fossem os mesmos distritos dos quais se
abateram mais animais, pela razão de ter uma maior amostra. Contudo, Portalegre aparece
apenas no 5º lugar dos distritos com mais casos de fasciolose encontrados, enquanto que o
distrito de Aveiro é o distrito do qual foram abatidos mais animais com fasciolose. Estes
resultados remetem-nos para a importância do ambiente (temperatura e humidade) para a
proliferação da Fasciola hepatica. Verificamos então que Portalegre sendo um distrito com
humidade reduzida, teve menos casos de fasciolose (apesar do menor número de animais) do
que Aveiro, que é um distrito banhado pelo rio Vouga, com vários afluentes, o que faz do
distrito de Aveiro um habitat com muita humidade, de acordo com as necessidades do parasita
Fasciola hepatica.
Factos que vão de encontro a conhecimentos apresentados na revisão bibliográfica, pois
segunto Rombert et al (1991), Portugal apresenta um clima favorável para o desenvolvimento
da Fasciola hepatica, principalmente nas margens dos grandes rios, nos quais se encontra o
rio Vouga, presente no distrito de Aveiro. Também Conceição em 2001, baseando-se em
dados das DIV’s de Aveiro, Leiria e Coimbra, referiu que a maioria dos casos de fasciolose
bovina encontradas nos vários matadouros, eram originários do distrito de Aveiro.
Considerando o facto de que a maioria das infeções por fasciolose ocorre durante a primavera
e início do verão, e tendo em conta o período pré-patente da doença de dois ou três meses, os
quatro meses em que decorreu a recolha de dados (novembro, dezembro, janeiro, fevereiro)
são os meses por excelência de manifestação da fasciolose.
Os animais foram abatidos em meses de finais de Outono e Inverno. De entre os quatro
meses, os que representam um maior número de animais com fasciolose foi o mês de
novembro, em segundo lugar dezembro, terceiro janeiro e o mês com menor número de casos
foi fevereiro. Enquanto que, os meses com maior número de animais abatidos foi dezembro,
depois novembro, janeiro e com menos animais fevereiro.
47
Ao analisar as idades dos animais diagnosticados com fasciolose, verifica-se uma maior
prevalência em animais entre os 24 e 72 meses de idade. O que já seria de esperar pois trata-se
da faixa etária que teve maior número de animais abatidos.
O valor da perda pela reprovação dos fígados com fasciolose foi estimado em 1997€. Tratase de um valor elevado, tendo em conta que se contabilizou apenas os casos de quatro meses,
e considerando que se trata de uma doença debilitante que apresenta perdas económicas em
todas as etapas de produção.
Em 2007, Costa, através de um modelo económico, estimou o prejuízo económico pela perda
dos fígados com fasciolose para dois cenários diferentes, para um ano de baixa prevalência o
prejuízo foi estimado em 1175€ e para um ano de elevada prevalência foi de 2263€. No
presente trabalho, o prejuízo alcançou os 1997€, tendo em conta a inflação do valor dos
fígados em talho nestes 5 anos, a fasciolose aparece ainda como uma causa de grandes perdas
económicas pois para além do valor comercial dos fígados de bovino, existem perdas a nível
dos tratamentos e profilaxias, pela diminuição de rendimento dos animais doentes (leite,
conformação da carcaça, maior consumo de alimento...). Sendo este valor apresentado, apenas
uma estimativa de uma pequena parcela do total do impacto económico causado.
48
30. Conclusão
A Fasciolose hepática é ainda uma doença com uma prevalência considerável em matadouros
e uma das principais causas de reprovação de fígados de bovino. A sua importância recai para
o impacto económico e impacto na saúde pública.
Neste trabalho verificou-se a importância da origem geográfica dos animais, uma vez que
houve uma incidência maior nos animais provenientes do distrito de Aveiro (de entre o total
de casos de fasciolose, a maioria pertencia a animais provenientes do distrito de Aveiro), que
mostra ainda ser uma região que reúne as condições ambientais favoráveis ao
desenvolvimento do hospedeiro intermediário Lymnaea truncatula.
É evidente a importância da intervenção do corpo de inspeção nos matadouros, uma inspeção
metódica e cuidadosa dos fígados de bovino no diagnóstico de fasciolose no âmbito da saúde
pública. Os matadouros demostram ser o local privilegiado na recolha de dados a fim da
perceção do panorama nacional nas mais diversas doenças e lesões.
O impacto económico desta doença assume valores concretos pela venda dos fígados em
talhos, apenas de entre os 3253 animais abatidos durante os quatro meses, estimou-se uma
perda de 1997€ pela reprovação dos 64 fígados com fasciolose. Sendo esta uma doença com
repercussões em todos os aspetos da produção, uma vez que animais doentes exigem mais
despesas veterinárias, e apresentam menor rendimento, tudo isso leva a perdas económicas
diretamente relacionadas com a fasciolose hepática.
O médico Veterinário Oficial aparece aqui com o papel fundamental e insubstituível na
identificação dos casos e na decisão sanitária.
Pretendem-se soluções que diminuam o número de casos de fasciolose, tanto em matadouro,
como nos restantes animais portadores, de maneira a que se reduza a postura dos ovos de F.
hepatica nos campos, diminuído assim a proliferação da doença.
Uma das soluções passa por informar as explorações mais afetadas pela fasciolose, esclarecer
acerca das medidas a tomar como forma de profilaxia. Com simples alterações no maneio dos
animais, atos que não implicam gastos extras, pode ser possível reduzir significativamente os
casos de fasciolose.
Nestas medidas encontra-se a alteração de hábitos em relação às pastagens, evitando o uso de
pastos de campos alagados (ou onde anteriormente tenham estado alagados), ou contornar o
hábito de cortar a vegetação rente à raiz e distribuir aos animais como suplemento alimentar.
A doença causada por Fasciola hepatica nos bovinos, maioritariamente apresenta-se como
uma patologia crónica, tal faz com que os danos causados no organismo do animal, a longo ou
curto prazo sejam tidos em conta. Durante estes quatro meses apenas se observou um caso de
reprovação total da carcaça em simultâneo com a reprovação do fígado por fasciolose. Este
49
animal apresentava artrites em várias articulações e carnes anémicas, a anemia generalizada
neste caso, pode ter sido causada por uma doença parasitária com origem em parasitas
hematófagos, como a Fasciola hepatica.
Pode-se concluir com este trabalho que, os valores referentes a casos de fasciolose registados
ao longo da inspeção aos fígados de bovinos abatidos no matadouro de Aveiro, são
atualmente números relevantes, tanto no panorama de saúde animal, como no panorama de
saúde pública. Tratando-se de uma doença ainda com elevada prevalência e que acarreta
prejuízos económicos ao logo de todo o processo de produção animal.
50
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59
Anexo 1 – Reprovações totais
bovinos
pequenos ruminantes
suinos
nov
3
5
9
dez
0
32
23
jan
0
0
12
fev
0
3
7
Total abatidos
3254
2727
14807
Tabela 3- Número de reprovações totais de bovinos, pequenos ruminantes e suínos nos meses de novembro,
dezembro, janeiro e fevereiro (matadouro de Aveiro).
Causas de reprovações totais
hidroémia
poliartrites
Bovinos
2
1
Tabela 4 – Causas de reprovações totais no abate de bovinos (matadouro de Aveiro).
causas de reprovações totais de pequenos
ruminantes
pleuresia fibrinopurulenta
osteomielite purulenta + ROG
osteomielite purulenta
caquexia + carnes congestivas
pneumonia purulenta + hidrocaquéxia
pneumonia purulenta
carnes fatigadas + hiperémicas
hidroémia + hiperemia
animais utilizados para fins experimentais
ROG + broncopneumonia purulenta
carnes pouco nutritivas
linfadenite caseosa
peritonite + ROG
nov
1
1
1
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
dez
0
0
1
1
0
1
4
2
21
2
1
0
0
jan
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Tabela 5 – Causas de reprovações totais no abate de pequenos ruminantes (matadouro de Aveiro).
60
fev
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
1
causas de reprovações totais em suínos
osteolielite purulenta
mamite necrotica purulenta
penumonia purulenta
pneumonia purulenta + ROG
pleuropneumonia fibrinopurulena
excesso de escaldão
broncopneumonia + pleuresia
peritonite fibrinopurulenta
sem identificação (brinco ou tatuagem)
abcesso abdominal
tumor renal
osteolielite purulenta + artrites
poliartrites
nov
3
1
1
1
1
2
0
0
0
0
0
0
0
Tabela 6 – Causas de reprovações totais em suínos (matadouro de Aveiro).
61
dez
9
1
3
0
7
0
1
1
1
1
0
0
0
jan
6
0
0
0
3
0
0
1
0
0
1
1
1
fev
3
0
2
0
2
0
0
0
0
0
0
0
0
Anexo 2 – Fotografias de casos de reprovação total
Fotografia 6 – Suíno com excesso de escaldão
Fotografia 7 – Suíno com mamite necrótica
62
Fotografia 8 – Suíno com osteomielite purulenta e abcesso
Fotografia 9 – Bovino com Poliartrite
63
Fotografia 10 – Pormenor de artrite em bovino
Fotografia 11 – carcaça de bovino hidroémica
64
Fotografia 12 – Pormenor de carcaça de bovino hidroémica
Fotografia 13 – Suíno com massa tumoral no rim direito
65
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Impacto da Fasciolose em Inspeção Higio