ALTERNATIVAS DE CONTROLE DA BACIA DO ARROIO AREIA PORTO ALEGRE/RS Adolfo Villanueva e Rutinéia Tassi Instituto de Pesquisas Hidráulicas – UFRGS Caixa Postal 15.029 – CEP 91501-970 Porto Alegre, RS [email protected], [email protected] 1. Introdução O artigo apresenta as alternativas de controle na escala de macro-drenagem, sugeridas para a bacia do Arroio Areia da cidade de Porto Alegre. 2 A bacia do Areia ocupa uma área de aproximadamente 12 km . A macro drenagem é realizada pelo Arroio Areia, curso principal que recebe diversas contribuições de pequenos canais ao longo do curso, e na parte superior a drenagem se abre em seis nascentes nos morros. A drenagem da bacia divide-se em dois sistemas bem distintos: um trabalhando por gravidade, drenando cerca de 95% da área da bacia, e outro, inserido no sistema de proteção contra enchentes drenado pela Casa de Bombas Sílvio Brum. Ambos os sistemas confluem para o Rio Gravataí em uma galeria composta por 2 células de 3x3m. A bacia foi dividida em 11 sub-bacias de acordo com as condições de fluxo da rede de drenagem. A ocupação na bacia se desenvolve no sentido de jusante para montante. Ocorrem problemas distribuídos de insuficiência de drenagem dos condutos, podendo, em algumas áreas gerar situações de risco para vidas humanas. Este é o caso da cabeceira da bacia, que é uma região com declividade acentuada, fazendo com que os excedentes de água que escoam pela rua atinjam grandes velocidades. Nas zonas mais planas, ao contrário, existem diversos locais onde a água permanece por um longo período de tempo nas ruas. 3. Simulação dos cenários Foram simulados o cenários de ocupação atual – determinado através das densidades populacionais dos bairros -, e o futuro - previsto no Plano Diretor Urbano e Ambiental de Porto Alegre -, para chuvas com períodos de retorno de 2, 5, 10, 25 e 50 anos. Através do modelo IPHS1 foram realizadas as transformações chuva-vazão, e os hidrogramas foram propagados na rede de drenagem através de um modelo hidrodinâmico. A análise dos resultados da simulação hidrodinâmica permitiu identificar os pontos nos quais a rede de drenagem é insuficiente e onde ocorrem os pontos de inundação. A figura 1a apresenta os pontos com problema na rede. Figura 1a – pontos de inundação na rede Figura 1b – áreas passíveis de implantação dos reservatórios 4. Alternativas de controle As alternativas de controle propostas deviam enquadrar-se nas limitações físicas da bacia, e resultarem em obras economicamente viáveis. Assim, devia-se buscar alternativas que não resultassem na ampliação do canal do Arroio Areia, pelo mesmo passar sob uma das pistas do aeroporto e ser muito longo, com aproximadamente 3 km. As alternativas de controle analisadas foram: 1 – Ampliação da rede de forma a dar vazão a todo o escoamento gerado para um período de retorno correspondente a 10 anos; 2 – Construção de reservatórios distribuídos ao longo da bacia de forma a promover a detenção dos picos dos hidrogramas para chuvas de 10 anos de TR; 3 – Combinação das alternativas anteriores; Alternativa 1: Ampliação de toda a rede Nessa alternativa, todos os condutos que apresentaram-se insuficientes na simulação hidrodinâmica foram ampliados de forma a dar passagem a toda a vazão que anteriormente ficava armazenada nas ruas. A figura 2 apresenta o hidrograma obtido para uma das sub-bacias para 10 anos de TR e cenário futuro, e a figura 3 para toda a bacia. Alternativa 2: Construção de reservatórios Os locais passíveis de implantação de detenções na bacia do Areia foram obtidos através de mapas, imagens de satélite e visitas a campo, e estão apontados na figura 1b. Os reservatórios foram dimensionados considerando os hidrogramas de entrada nos condutos. A maioria dos reservatórios é provido de uma estrutura do tipo “by-pass”, posicionada antes da entrada no reservatório permitindo a passagem direta da primeira porção do escoamento, até o seu valor de vazão limite, daí então permitindo a entrada do escoamento para o reservatório. A figura 3 apresenta o hidrograma obtido para a bacia. A implantação de detenções na bacia possibilitou a manutenção das dimensões atuais dos principais condutos de saída, além de permitir que eles trabalhem com cargas menores. No entanto, não eliminou a necessidade ampliação de trechos a montante, dado que a limitação de espaço disponível para os reservatórios condiciona a capacidade de amortecimento dos mesmos. Essa alternativa requer uma ampliação da ordem de 2,5 m³/s na Casa de Bombas. Alternativa 3: Combinação das alternativas anteriores Essa alternativa foi estudada, pois a implementação de um reservatório na sub-bacia C tornou-se economica e ambientalmente inviável. Optou-se então pela ampliação da rede na bacia C, trabalhando em conjunto com os demais reservatórios citados na alternativa 2 e o desvio para um novo conduto na Av. Cairu. Com essa alternativa os condutos forçados da bacia não necessitaram ampliação. Na figura 3 também é apresentado o hidrograma para esta alternativa. 160 80 trecho 18 - condutos ampliados 70 trecho 34 - Alternativa 2 trecho 34 - Alternativa 3 120 vazão (m3/s) 60 vazão (m3/s) trecho 34 - Alternativa 1 140 trecho 18 condutos atuais 50 40 100 80 60 30 40 20 20 10 0 0 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 10 20 30 40 50 60 70 80 90 tempo (min) tempo (min) Figura 2 –condutos atuais e ampliados na sub-bacia E Figura 3 – hidrograma de saída da bacia para as alternativas estudadas 5. Avaliação econômica das alternativas Uma estimativa preliminar dos custos de implantação das alternativas foi realizada e é mostrada na tabela 1. A vazão máxima que chega nas galerias de saída da bacia na situação atual (TR 10 anos) é de 30 m³/s; ao considerar este valor deve-se levar em conta que os alagamentos fazem a bacia funcionar como um reservatório de detenção. Tabela 1 – Estimativa de custos das alternativas Alternativa Vazão máxima (m³/s) Custo (R$) 1 - Alternativa de canalização 140 43.300.000 2 – Construção de reservatórios 45 27.114.000 53 23.100.000 3 - Detenção e aumento da capacidade dos condutos em alguns trechos A alternativa 1 apresentou um custo final 60% maior que a alternativa 2 e 87% maior que a alternativa 3. A alternativa 2 é cerca de 17% mais cara que a alternativa 3. Além do valor monetário, cabe ressaltar que a alternativa 3 apresenta um impacto menor no meio natural que a alternativa 1 pois conserva os trechos de leito natural do arroio Areia e não transfere o problema para os pontos de jusante. Dessa forma, a alternativa 3 apresentou importantes vantagens, sendo a medida recomendada. Referências Bibliográficas BEMFICA, D.C. 1999. Análise da aplicabilidade de padrões de chuva de projeto a Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS - Curso de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental. 213f. Dissertação de Mestrado. CAMPANA, N. A., TUCCI, C.E.M. 1994. Estimativa da área impermeável de macro-bacias urbanas. Revista Brasileira de Engenharia. Vol. 12. N 2. (Dez 1994). p 79 - 94. IPH, 2000. Plano Diretor de Drenagem Urbana de Porto Alegre. Volume III – Bacia do Arroio do Areia. Porto Alegre, RS. PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal. Secretaria de Planejamento Municipal. 1994. 1o. PDDU : Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre. Porto Alegre, RS. RAUBER, V. 1992. Prevenir é o melhor remédio. Sistemas de Proteção contra Inundações e Alagamentos de Porto Alegre. Prefeitura Municipal de Porto Alegre. TUCCI, C.E.M. 1993 . Hidrologia. Ed. da Universidade/UFRGS/ABRH. Porto Alegre. TUCCI, C.E.M., Zamanillo, E.A, Pasinato, H.D. 1989. Sistema de Simulação Precipitação-Vazão IPHS1. Porto Alegre: UFRGS - Curso de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.