Título: Pesquisa Científica em Lazer no Brasil – Bases Documentais e Teóricas do Lazer Turístico Autores: Cristina Marques Gomes1 Mirian Rejowski2 Resumo: Pesquisa exploratório-descritiva que objetiva identificar e analisar as dissertações e teses sobre lazer defendidas no Brasil, com destaque para o lazer turístico. Baseia-se na metodologia desenvolvida e aplicada por Rejowski (1993), apresentando resultados preliminares da caracterização geral e das análises do conteúdo disciplinar e temático. Descreve os resultados iniciais de estudo sobre a bibliografia presente nesses documentos relacionados ao lazer turístico. Aponta o estágio atual da pesquisa e as dificuldades que ocorrem durante o seu desenvolvimento. Palavras-chave: Lazer e Turismo; Lazer Turístico; Dissertações e Teses; Pesquisa Acadêmica; Produção Científica; Brasil. 1 Bacharel em Turismo e mestranda em Ciências da Comunicação / Turismo e Lazer na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). E-mail: [email protected] 2 Livre-docente em Teoria do Turismo e do Lazer pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Docente Titular do Mestrado em Turismo da Universidade de Caxias do Sul. E-mail: [email protected] Considerações Iniciais Este texto aborda a pesquisa científica desenvolvida no âmbito do lazer, representando a síntese preliminar da dissertação de mestrado exploratório-descritiva Pesquisa Acadêmica em Lazer – Apreciação e Sistematização das Dissertações e Teses defendidas no Brasil - ainda em andamento, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). A referida investigação teve como desígnios identificar e caracterizar as dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas no país nas quais o lazer é objeto de estudo e analisar particularmente a produção da categoria “lazer e turismo” identificando as correntes teóricas nela presentes. Dentro do arcabouço do turismo a escolha do objeto teve como antecedentes as pesquisas de Doutorado e Livre-Docência de Rejowski (1993 e 1997), que analisaram a produção do conhecimento científico na área, através da configuração e sistematização documental da pesquisa acadêmica ao nível de pós-graduação stricto sensu no Brasil, no período entre 1970 e 19953. Trata-se, portanto, de um exercício de leitura e compreensão das teses, sob a ótica de um leitor-pesquisador com formação superior em turismo. A análise proposta configura-se como uma primeira abordagem do conjunto de documentos levantados, aberta a outros pesquisadores, docentes e executivos, cujas visões ou pontos de vista poderão enriquecer e complementá-la. Constitui-se, assim, em um laboratório aberto, ou no dizer de Humberto Eco, uma ´obra aberta´, pois a própria multiciplinaridade do turismo inviabiliza a análise unilateral de um único pesquisador-autor desta tese (Rejowski:1993). As pesquisas em questão influenciaram o aparecimento do projeto de Iniciação Científica (apoiado pela FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que resultou no Trabalho de Conclusão do Curso (GOMES:2001), intitulado Pesquisa Acadêmica em Turismo (1990/1999). Nesse, identificaram-se e catalogaram-se 245 dissertações e teses sobre o tema na década de 1990, realizando também a análise comparativa com a produção das décadas de 1970 e 1980. Foram apreciadas 196 dissertações de mestrado (80% aproximadamente do total), 44 teses de doutorado (17,95% aproximadamente do total) e 5 de livre-docência (2,04% aproximadamente do total). 3 Fazem parte do quadro teórico de referência, no contexto do turismo, em âmbito internacional, os trabalhos de Jafari e Aaser (1988), sobre as teses de doutorado produzidas nos Estados Unidos; de Jafari (1994) sobre o processo de “scientification” do turismo e de Pearce e Butler (1993) acerca de críticas e mudanças da pesquisa turística. Posto que o discurso conotativo sobre o lazer e o turismo gera conceitos, por vezes, divergentes, consideram-se os termos supracitados, a partir do princípio de que nem tudo o que é lazer reduz-se ao turismo. Segundo Camargo (2001), o turismo é aquela parcela do lazer, pouco significativa quantitativamente, mas de grande potencial qualitativo e de enorme importância na economia. Para esse autor, o turismo não se reduz ao lazer, há uma parcela significativa dos deslocamentos turísticos obedece a expectativas que vêm das esferas sócio-profissionais, sócio-familiares, sócio-religiosas e de saúde dos indivíduos, marcadas pelas obrigações decorrentes dessas esferas, ainda que contaminadas por valores e expectativas nascidas do lazer. Sem adentrar numa discussão conceitual, os termos lazer, turismo e lazer turístico ou turismo de lazer (as duas últimas expressões consideradas como sinônimas) são usados durante o decorrer desta pesquisa em relação aos estudos, da seguinte forma: • Lazer: Estudos relacionados à teoria e/ou prática do lazer doméstico, extra-doméstico (realizado no ambiente da própria cidade onde reside o sujeito) e turístico; • Turismo: Estudos sobre o turismo em sua acepção multidisciplinar podendo incluir, ou não, os aspectos relacionados ao lazer. • Lazer Turístico (ou turismo de lazer): Estudos relacionados ao lazer praticado fora da cidade de origem do viajante (ou o turismo que têm o lazer como atributo principal). O termo tese será adotado como sinônimo das dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas nos Programas de Pós-Graduação strictu sensu no Brasil reconhecidos pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), além de teses de livre-docência. A problemática em questão, além de preencher uma lacuna bibliográfica no estado atual da pesquisa em lazer e turismo, contribuirá para a compreensão do discurso científico desenvolvido academicamente no Brasil, pois, face à precariedade de informações sobre o tema, fazem-se necessárias tanto a sistematização documental das dissertações e teses sobre lazer, particularmente sobre o lazer turístico, quanto a divulgação do conhecimento produzido junto a pesquisadores e estudiosos da área. A opção pelas teses como objeto de estudo justifica-se por estas serem de caráter científico. Nelas a construção do discurso implica em seqüência lógica de passos e etapas metodológicas definidas e forma mais “acabada”, devendo refletir o estado do campo, ou seja, o estágio atual do conhecimento científico (“state-of-art”) em lazer turístico. Este trabalho aborda inicialmente o lazer na literatura internacional e nacional. Em seguida, trata da pesquisa acadêmica em Lazer no Brasil, de 1992 a 2001, apresentando aspectos metodológicos, caracterização geral e análise disciplinar e temática. Nas considerações expõe o estágio atual da pesquisa e algumas reflexões sobre o seu andamento. Lazer na Literatura Internacional e Nacional No contexto internacional os estudos e pesquisas sobre o lazer e outros termos análogos como tempo livre, lúdico, ócio, etc, são realizados sob diversos enfoques em cada período da história. Em se tratando do lazer contemporâneo o primeiro registro na literatura, remonta ao ano de 1880 na Europa, quando Paul Lafargue, escreve “Le Droit à la Paresse”: primeiro “panfleto” a favor dos operários. Nascido em 1842 em Santiago de Cuba, aos nove anos mudou-se para a França, onde, posteriormente, freqüentou o curso de Medicina e casou-se com Laura, filha de Marx, com a qual teve três filhos que morreram jovens. Tal fato fez com que Lafargue abandonasse a medicina e dedicasse sua vida a política, na qual sofreu influências das ideologias socialistas. Segundo De Masi (2001): proclamando o direito ao ócio como única forma de equilíbrio existencial, Lafargue não se posiciona contra o trabalho em si (o qual, ao contrário, considera “um ótimo tempero para o ócio”), mas o contrapõe a outros direitos, então defendidos para os operários: o direito ao trabalho, reivindicado pelos revolucionários de 1848; o direito à preguiça (droit à l ´oisivité), defendido por Moreau-Christophe; o direito ao lazer (droit au loisir), de que muitos já então tratavam; e o direito ao prazer (droit au plasir), que será teorizado mais tarde por Henri Rochefort. Além do referido autor, outros estudiosos contribuíram para o desenvolvimento de pesquisas relacionadas direta e indiretamente ao lazer, são eles: • Thorstein Veblen – Obra: A teoria da classe ociosa; • Riesman - Obra: A multidão solitária; • Domenico de Masi - Obras: Desenvolvimento sem trabalho e A emoção e a regra e A sociedade pós-industrial; • Maffesoli - Obras: O conhecimento comum, A conquista do presente, O tempo das tribos e A sombra de Dionísio; • Mihaly Csikszentmihalyi - Obra: A psicologia da felicidade; • Joffre Dumazedier - Obras: Lazer e cultura popular, Sociologia empírica do lazer, Teoria sociológica da decisão e A revolução cultural do tempo livre; • Friedman - Obra: O trabalho em migalhas. Uma lista dos pesquisadores atuais deve incluir os seguintes nomes: nos EUA, Phillip Bosserman, Max Kaplan, Geoffrey Godbey e Jack Kelly; no Canadá, Robert Sttebins, Jiri Zuzanek e Gilles Pronovost; na França, Roger Sue, Nicole Samuel e Madeleine Rommer; no Reino Unido, Kenneth Roberts e Stanley Parker; na Bélgica, Willy Faché e France Gowaertz; na Austrália Rob Linch e Francis Lobo; na América Latina, devem ser listados: Adriana Estrada (México), Carlos Vera Guardiã (Venezuela) e Inês Moreno (Argentina) (Camargo: 2001:254). No universo do lazer os resultados dos estudos e pesquisas dos referidos autores, as ações de conferências, as conclusões das reuniões regionais e nacionais são publicadas regularmente em revistas internacionais como a Society and Leisure, editada pela Universidade de Québec no Canadá. Além de tal periódico, o lazer é abordado em outras publicações técnico-científicas, tais como: Annals of Leisure Research; Journal of Leisure Research; World Leisure Jornal; Leisure Sciences; Leisure Studies; Loisir et Society; Australian Leisure Mangement; Journal of Leisurability; Journal of the Candian Association for Leisure Studies; Journal of Leisure Property; etc. No Brasil, a produção científica sobre o lazer destacou-se somente a partir da década de 1970, muito embora a prestação de serviços na área de forma organizada, tanto no setor público quanto no privado, remonte ao início do século XX. O desenvolvimento científico ocorreu por influência de autores como Marcellino, Magnani, Camargo; Requixa, Bacal, dentre outros. “Lazer Operário” de José Acácio Ferreira foi a primeira obra brasileira a abordar o tema. Em termos gerais, a literatura científica nacional foi influenciada por questões internacionais e pela presença de Joffre Dumazedier em seminários internos promovidos pelo SESC em São Paulo durante a década de 1980. Ainda que a formação específica em lazer no Brasil esteja atrelada aos cursos de graduação em Educação Física, Turismo, Pedagogia, Artes, etc, o desenvolvimento dos Núcleos de Pesquisa, vinculados às universidades brasileiras, que tratam de questões relativas ao lazer, encontra-se em estágio avançado. Muitos já apresentam trajetórias longevas em relação às pesquisas científicas na área. São mais de 50 grupos, dentre os quais: Centro de Pesquisa em Esporte, Lazer e Sociedade (UFPR); Economia do Entretenimento (UFRJ); Esporte, Lazer e Sociedade (UEPG); Grupo de Pesquisas em Lazer (UNIMEP); Gestão do lazer e do turismo (FGV/EAESP); Grupo de Pesquisa do CELAR (UFMG); Grupo de Pesquisa em Administração do Lazer e Entretenimento (UNICAMP); Grupos de Pesquisa em Políticas Públicas de Educação Física, Esporte e Lazer (UFPEL); Imaginário Social da Saúde, Esporte e Lazer (UGF); Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física & Esporte e Lazer (UFBA); Núcleo Interdisciplinar de Estudos do Lazer (UFPE); Políticas Públicas de Educação Física, Esporte e Lazer (UFRGS); dentre outros. Em decorrência dos avanços relativos as pesquisas na área surgiram nas últimas décadas diversos eventos técnico-científicos promovidos por associações, entidades e grupos de estudos, ocasionando encontros e debates regulares entre pesquisadores, estudantes e profissionais. Dentre os eventos realizados no país estão: Fórum de Debates Lazer e Informação Profissional; Encontro Latino-Americano de Recreação e Lazer; Congresso Brasileiro de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança; Encontro Nacional de Políticas Públicas em Esporte e Lazer; Seminário Municipal de Lazer, Esporte e Educação Física Escolar; Ciclo de Lazer e Motricidade; Encontro de Professores das Disciplinas de Recreação e Lazer; etc. Pesquisa Acadêmica em Lazer no Brasil (1972-2001) Considerações Metodológicas Os procedimentos metodológicos da pesquisa são análogos aos desenvolvidos por Rejowski (1993) em sua tese de doutorado, intitulada “Pesquisa Acadêmica em Turismo no Brasil (1975 a 1992) – Configuração e sistematização documental”. A aplicação da mesma metodologia é de suma importância, para a posterior comparação entre as áreas, em pesquisas porvindouras. • Universo da pesquisa: O universo da pesquisa é intencional, composto pelas dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas nos Programas de PósGraduação strictu sensu no Brasil reconhecidos pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) até o ano de 20014, nas quais o lazer é o tema principal ou manifesta-se de forma explícita no resumo dos respectivos trabalhos. • Levantamento de dados: A identificação das teses tomou por base os trabalhos nos quais a expressão “lazer” manifestava-se no título e / ou no resumo das teses, através dos seguintes procedimentos: Consultas a bancos de dados da produção científica; Consultas aos sites das Universidades / Faculdades Brasileiras: Consultas a bibliografias relacionadas e catálogos de teses; Pesquisas nos acervos de bibliotecas de instituições de ensino superior em São Paulo; Colaboração de especialistas da área de turismo e lazer (pós-graduados, professores e coordenadores de cursos superiores). • Registro dos dados: Adjacente a identificação das teses, os seguintes dados eram registrados em uma “ficha técnica”, adaptada do modelo preestabelecido por Rejowski (1993): Referência Bibliográfica: Conforme normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) – autor; ano; título; local; universidade; unidade; número total de páginas; tipo de documento; Dados complementares: Orientador do trabalho e Unidade / Área de defesa; Resumo – Segundo o autor; Classificação – A partir da leitura do título e resumo a obra era classificada de acordo com a preeminência do assunto. • Classificação: As teses foram classificadas, a partir da leitura do título e do resumo, em 17 categorias de assuntos predominantes. Para cada item tem-se uma série de subconjuntos de elementos considerados que constituem o campo do lazer5. • Procedimentos de descrição e análise: Assim que as teses eram identificadas, as informações específicas decorrentes da primeira leitura das referências bibliográficas e dos resumos eram, paralelamente, transcritas para uma Base de Dados no software Access e organizadas em “fichas técnicas” a partir das quais os elementos foram, a posteriori, categorizados e tabulados, sendo descritos e avaliados a partir da 4 Quando uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado é defendida, o respectivo trabalho fica disponível para consulta em bibliotecas, sites, etc, depois de alguns meses da defesa, sendo, portanto, inviável à identificação completa, catalogação e análise das investigações dos anos subseqüentes a 2001. 5 Cada pesquisa foi agrupada em somente uma classificação (a de maior importância no conteúdo da investigação) caracterização do universo (aspectos externos), do conteúdo disciplinar e temático (disciplina a partir da qual o trabalho foi desenvolvido e assuntos classificados) e da análise do lazer turístico (teses classificadas na categoria “Lazer e Turismo”), resultando em tabelas e figuras que, em conjunto, compõem o panorama da pesquisa científica em lazer no Brasil. Caracterização Geral A Pesquisa Acadêmica em Lazer no Brasil é composta por 290 dissertações de mestrado, 40 teses de doutorado e 2 de livre-docência. Predominam, portanto, as dissertações com 87% da produção total, seguidas das teses de doutorado (12%) e livredocência (1%). A produção científica iniciou-se no ano de 1972 com duas teses de doutorado defendidas na Universidade de São Paulo (USP): uma no Instituto de Psicologia e a outra na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. A evolução da produção das teses por nível acadêmico no período de 1972 a 2001 foi crescente em sua análise global. As flutuações decrescentes foram pouco significativas e aconteceram entre os anos de 1978 a 1987, com exceção do transpor de 1992 (16 teses) para 1993 (8 teses). As dissertações de mestrado (com início em 1975) tiveram uma distribuição mais homogênea durante todo o período em relação às teses de doutorado, que se concentraram, basicamente, na década de 1990 (do total de 40 teses de doutorado apenas 7 foram defendidas entre 1972 a 1988). A máxima produção científica, relacionada ao lazer, acontece em 2000 com 47 teses e a ausência total é detectada em 1973, 1974 e 1977. Figura 1- Evolução da produção das teses no período 1972-2001 50 40 30 20 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 10 2 3 2 2 2 5 3 5 1 2 1 4 0 0 2 2 0 0 4745 37 32 29 22 16 1517 1111 8 6 O período de 1995 a 1999 compreende a defesa de 137 teses, o equivalente a 41% do total das pesquisas cujas temáticas versam sobre o lazer. O intervalo subseqüente, de apenas dois anos, corresponde a aproximadamente 67% do anterior (92 teses) e é bastante representativo quantitativamente. A produção decresce, unicamente, de 17 para 14 teses entre 1980-1984 a 1985-1989 e logo se sobrepõem para 61 pesquisas entre 1990 e 1994. Na análise das teses por instituição destacam-se as produzidas na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com, respectivamente, 63 (19%) e 58 (17%) pesquisas sobre lazer. Na terceira “posição”, com 6% do total, está a Universidade Gama Filho (UGF) com 21 teses; subseqüentemente a esta, estão a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ambas, com 5 % do total de teses cada uma. São 19 instituições brasileiras que congregam 91,5% dos trabalhos científicos relacionados ao lazer. Destas, as três universidades mais representativas (USP, UNICAMP e UGF) possuem, em conjunto, 42% do total de teses. Analisando a produção de teses sobre lazer por período e instituição verifica-se que a USP apresenta pesquisas continuamente em toda o período estudado. Já a UNICAMP, em função da criação do Departamento de Estudos do Lazer em 1991, possui uma concentração de investigações nessa década6. A única universidade que não segue a tendência crescente de produção de teses relacionadas ao lazer é a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que interrompeu sua produção em 19977. As teses da UFSC (5% do total) apresentam-se apenas a partir de 19958. Já a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) demonstra uma produção antiga e não linear (uma tese em 1976, outra em 1982 e as restantes a partir da década de 1990). Com relação ao tipo de instituição produtora de teses tem-se 75% de públicas (250 teses) e 25% de privadas (82 teses). 6 Coincidindo com a UNICAMP, a UGF inicia suas defesas também a partir da década de 1990 (mais especificamente em 1991). 7 Em 2002 uma tese de doutorado, intitulada “O lazer enquanto comunicação humana: uma síntese sócio-cultural do ´ser licito´ e do ´ser necessário´”, de Roque Luiz Moro, foi defendida na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 8 Uma tese em 1995, 96, 97 e 99; duas em 1998; quatro em 2000 e seis em 2001 (total de 16 pesquisas). A região sudeste apresenta, aproximadamente, 72% dessa produção, sendo o Estado de São Paulo o maior produtor (173 teses), seguido do Rio de Janeiro (58 teses), Minas Gerais (5 teses) e Espírito Santo (2 teses). As demais regiões justas detêm apenas 28% do total de teses. Em segundo lugar tem-se a região Sul, com destaque para o Rio Grande do Sul (33 teses). Em terceiro lugar aparece a região Nordeste destacando-se Bahia (11 teses) e Pernambuco (10 teses). Por fim, as regiões Centro-Oeste e Norte apresentam os menores níveis de produção (7 e 2 teses, respectivamente). Figura 2 – Teses por região CentroOeste 2% Sudeste 71% Nordeste 9% Sul 17% Norte 1% Análise Disciplinar e Temática Dos 332 teses catalogadas o vocábulo “lazer” estava presente em 172 (52%) resumos e 160 (48%) títulos. Nas décadas de 1970 e 1980 apenas 8 (19%) teses continham o vocábulo “lazer” no resumo e 34 (81%) no título. ................. A análise das teses distribuídas por disciplinas ou áreas de estudos que as originaram demonstra a liderança da Educação Física e da Educação, com 67 (20%) e 55 (17%) do total de pesquisas, respectivamente. Em seguida tem-se a Comunicação com 25 (8%), a História com 23 (7%) e a Psicologia com 21 (6%) trabalhos. Outras áreas com menor produção são: Administração 19 teses (6%), Antropologia 18 teses (5%), Ciências Sociais 16 teses (5%), dentre outras. A primeira defesa na área de Educação ocorreu em 1975 e na Comunicação em 1978. Já na Educação Física (área que agrupa a maior concentração de trabalhos sobre lazer) a produção de teses teve início somente em 1986. Nota-se que a Educação e a Comunicação são áreas mais antigas e apresentam menos trabalhos enquanto a Educação Física é mais recente e detém 20% do total de teses sobre lazer defendidas no Brasil. Observar-se também que: a Comunicação teve o seu auge de 3 pesquisas/ano em 1990, 1993 e 2000; a Educação apresentou o máximo de 8 pesquisas/ano em 2001; e a Educação Física defendeu 13 pesquisas/ano em 2000. A Educação e a Educação Física apresentaram produção constante a partir da década de 1990, diferentemente da Comunicação que não teve nenhuma defesa nos anos de 1995, 1996 e 1999. Na análise temática das teses, estas foram classificadas em 17 categorias ou temas gerais, conforme mostra a tabela 1: Tabela 1 – Classificação das teses Classificação: Lazer doméstico Lazer e comunidade Lazer e cultura Lazer e educação Lazer e espaço urbano Lazer e esporte Lazer e família Lazer e história Sub-Itens considerados: Exemplo: Referência Bibliográfica: Televisão / Literatura / RAFFA, Luciane Orlando. 1997. Avaliação do Role Telefone / Videocassete / Playing Game como programa de lazer. Campinas: Telenovela; PUC, 146 p. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: ALVES, Fernando Mascarenhas. 2000. Lazer e grupos Grupos sociais; sociais: concepções e método. Campinas: UNICAMP, 122 p. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: Circo / Cultura popular / MARQUES, Núbia do Nascimento. 1976. Museus / Música / Teatro / Contribuição ao estudo exploratório sobre possíveis Escolas de samba / Carnaval correlações da cultura espontânea com o lazer e / Bandas de música / desenvolvimento comunitário a partir da observação Animação sócio-cultural / de alguns folguedos no estado de Sergipe - Brasil. Folclore; São Paulo: PUC (Dissertação de Mestrado). Propostas de educação / Referência Bibliográfica: Espaço escolar / Bibliotecas / VALENTE, Márcia Chaves. 1993. Disciplina Profissionais e estudos recreação e lazer no currículo de formação de acadêmicos / Disciplinas profissionais de educação física. Campinas: relacionadas ao lazer; UNICAMP, 150 p. (Dissertação de Mestrado). Aproveitamento de espaços Referência Bibliográfica: livres urbanos / Espaços BARCELLOS, Vicente Quintella. 1999. Os parques públicos de lazer / como espaços livres públicos de lazer: o caso de Arquitetura / Praças / Brasília. São Paulo: FAU / USP, 214 p. (Tese de Parques; Doutorado). Referência Bibliográfica: Futebol / Lazer esportivo / ANDRADE, Marcelo de Mello. 1991. Lazer Clube / Torcidas organizadas esportivo: fundamento da ecologia humana urbana. / Academias; São Paulo: EEFE / USP, 49 p. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: BRITO, Maria Auxiliadora de Melo. 1991. A criança Criança – mãe / Juventude / e suas interações com a mãe ou responsáveis durante Terceira idade; o período de lazer na praça pública. Rio de Janeiro: UERJ, 198 p. (Dissertação de Mestrado). Desenvolvimento histórico; Referência Bibliográfica: ALMEIDA, Rita de Cássia Miranda Jordão de. 1998. Dança de salão na cultura e no lazer do Rio de Lazer e meio ambiente Lazer e política Lazer e recreação Lazer e saúde Lazer e tempo livre Lazer e trabalho Lazer e turismo Lazer extradoméstico Outros Janeiro no período de 1870-1998. Rio de Janeiro: UGF, 158 p. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: Educação ambiental / LOURENÇO, César Galha Bergstrom. 1981. Lazer e a Preservação da paisagem / preservação da paisagem: projeto para o Parque do Planejamento ambiental / Guararu. São Paulo: FAU / USP, 64 + anexos Relação homem – natureza; (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: OLIVEIRA, Lorita Maria de. 2001. A gestão das Administração pública / políticas públicas do lazer no Rio Grande do Sul. Políticas públicas; Porto Alegre: URNRGS, 109 p. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: Atividades de recreação / MEIRELLES, Rogério J. de Azevedo. 1999. Brinquedo / Grupos de Atividades físicas e recreativas num grupo de idosas terceira idade / Lúdico / de um bairro de Ribeirão Preto: um relato de Brinquedo; experiência. Ribeirão Preto: EERP / USP, 157 p. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: Ambiente hospitalar / OLIVEIRA, Cátia Cristina Martins de. 2000. Exercício físico como Atividade física de lazer e associação com variáveis benefício à saúde / demográficas e outros hábitos relacionados à saúde Alcoolismo / Qualidade de em funcionários de banco estatal. São Paulo: vida; Fundação Oswaldo Cruz, 66 p. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: ALMEIDA, Maria Alves de. 1980. O uso do tempo Usos do tempo livre; livre e praticas de lazer, na auto-formação pessoal e social, do jovem de Tangara-RN. São Paulo: PUC. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: CALEGARI, Kátia Cristina. 1997. Lazer e Empresas / Aposentadorias; Aposentadoria: Relações e significados. Campinas: UNICAMP, 79 p. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: Viagens de lazer / Turismo MACHADO, Maria Olandina. 2001. Turismo e lazer social / Ecoturismo / Turismo no espaço rural de Camboriú: a "salvação da receptivo; lavoura”. Florianópolis: UFSC, 94 p. (Dissertação de Mestrado). Referência Bibliográfica: QUEIROS, Ilse Lorena Von Borstel G. de. 1999. Shopping-centers / A oktoberfest de Marechal Cândido Rondon, Cinema / Festas / Bailes; Paraná: um estudo sobre o significado do lazer entre descendentes de alemães. Campinas: UNICAMP, 191 p. Referência Bibliográfica: ARAÚJO, Maria Betânia Melo. 1994. Lutas e Consumo hedônico e tensões com as implicações do logos: um comportamento de lazer / estudo sobre a visão de prazer das Igrejas Lazer e igrejas Batistas do Brasil. Recife: UFPE, 159 p. (Dissertação de Mestrado). A mais representativa é “Lazer e Educação” que apresenta 35 teses, ou seja, 11% do total. Em seguida estão as categorias “Lazer e Trabalho” e “Lazer e Recreação” (28 teses cada). O tema que apresenta produção constante em todo o período analisado é o “Lazer e Espaço Urbano”. O “Lazer e Educação”, “Lazer e Tempo Livre” e “Lazer e Recreação” surgem no intervalo de 1975 a 1979 e se mantêm permanentes até o último ano sistematizado. Algumas categorias surgem somente na década de 1990 como: “Lazer e Esporte”, “Lazer e Família” e “Lazer e Turismo”. A categoria “Lazer e Meio Ambiente” apresenta 1 tese entre 1980 e 1984; 4 entre 1995 e 1999 e 6 entre 2000 e 2001. Considerações sobre o Estágio Atual da Pesquisa Em referência à revisão teórica, falta um aprofundamento da análise das obras que tratam particularmente do lazer no âmbito do turismo. A análise geral das teses sobre Lazer produzidas no Brasil está concluída. Com relação ao aprofundamento da análise da produção acadêmica na categoria Lazer Turístico, das 11 teses identificadas, até o momento teve-se acesso a 9. Para tanto, pretende-se: • Analisar as referências bibliográficas das teses, identificando as bases documentais e teóricas que fundamentam essas pesquisas a partir dos seguintes itens: • - Tipo de documento (livros, capítulo de livros, etc); - Autores dos documentos (nacionais e estrangeiros); - Temática do documento (turismo, lazer, hotelaria, lazer e turismo, etc); Identificar o posicionamento dos autores das teses em relação ao lazer turístico, em termos de: - Conceitos; - Características; - Outros aspectos. De outro lado, o período de 1972 a 2001 congrega trinta anos de produção científica na área do lazer. Apesar de ser interessante a sua expansão para 2003, isto não é possível face o prazo para finalização da pesquisa. A teoria que circunda o lazer apresenta-se em desenvolvimento em âmbito internacional, podendo-se constatar alguns periódicos reconhecidos e eventos técnicocientíficos na área. No Brasil, a situação do campo científico ainda é incipiente, são poucos os cursos específicos direcionados exclusivamente ao lazer. Em contraponto, os núcleos e grupos vinculados às universidades brasileiras apresentam-se bastante engajados em propostas de pesquisas científicas na área. Por fim, ressalta-se que esse estudo procura esboçar o lazer enquanto campo científico, através da configuração e sistematização das dissertações e teses defendidas no Brasil, proporcionando aportes para a realização de outras pesquisas no contexto do lazer. Referências Bibliográficas ANNALS of Tourism Research. Jafar Jafari (ed.). ATHIYMAN, Adee. The interface of tourism and strategy research: na analysis. Tourism Management, v. 16, n. 6, p 447-453, 1995. BACAL, Sarah S. Lazer: teoria e pesquisa. São Paulo: Edições Loyola, 1988. BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Editora Senac, 2001. BOGDAN, R. Introduction to quantitative research methods. 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