Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia CONTECC’ 2015 Centro de Eventos do Ceará - Fortaleza - CE 15 a 18 de setembro de 2015 CONSUMO DE ALIMENTOS E GANHO DE PESO POR OVINOS MESTIÇOS CONFINADOS RECEBENDO ÁGUA SALINA NO CARIRI PARAIBANO JOAB JORGE LEITE DE MATOS JÚNIOR1, SEBASTIÃO GARCIA NETO2, LUANNA AMADO DA SILVA3, ELIZÂNGELA DE LIMA MOTA4, DERMEVAL ARAÚJO FURTADO5 1 Mestrando em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 9128-9830, [email protected] 2 Mestrando em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 8879-0620, [email protected] 3 Mestranda em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 9695-6171, [email protected] 4 Mestranda em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 8890-8005, [email protected] 5 Profº Dr. Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 3310-1055, [email protected] Apresentado no Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC’ 2015 15 a 18 de setembro de 2015 - Fortaleza-CE, Brasil RESUMO: Este trabalho teve como objetivo analisar o consumo de ração e o ganho de peso de ovinos confinados, recebendo água com diferentes níveis de salinidade no Cariri Paraibano. Foram utilizados 24 animais, dispostos em 4 baias, cada uma com 6 animais, equipadas com comedouros e bebedouros. Os animais tinham idade média de 7 meses e peso médio de 18 kg. O fornecimento de ração foi realizado duas vezes ao dia e composta por palma forrageira, feno de Tifton, farelo de milho, farelo de soja e sal mineral. Os níveis de salinidade foram de 1,5; 3,0; 6,0 e 9,0 dSm. O consumo de água e alimentos foi quantificado pelo total fornecido subtraindo-se as sobras. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com 4 tratamentos e 6 repetições. Os animais submetidos aos níveis de salinidade mais elevados 6,0 e 9,0 dSm apresentaram maior consumo de água, que foram de 2,609 Kg dia-1 e 2,101 Kg dia-1, respectivamente. Os tratamentos apresentaram diferença significativa no consumo de alimentos, consumindo em média 1,68 kg dia-1. Os animais submetidos ao tratamento com água salina nível 6,0 dSm apresentaram maior ganho de peso, mas todos os animais tiveram um ganho de peso satisfatório. PALAVRAS–CHAVE: Água salina, confinamento, consumo de alimentos, ganho de peso, ovinos. WEIGHT FOOD CONSUMPTION AND GAIN IN SHEEP MESTIZO CONFINED WATER IN RECEIVING SALINA CARIRI PARAIBANO ABSTRACT: This study aimed to analyze the feed intake and weight gain of feedlot sheep receiving water with different salinity levels in the Cariri Paraibano. Were used 24 animals, arranged in four bays, each with 6 animals, equipped with food and water. The animals had an average age of seven months and average weight of 18 kg. The supply of food was carried out twice a day and consists of spineless cactus, Tifton hay, corn meal, soybean meal and mineral salt. Salinity levels were 1.5; 3.0; 6.0 and 9.0 dSm. Water consumption and food was quantitated by subtracting the total supplied leftovers. The experimental design was completely randomized with 4 treatments and 6 repetitions. The animals subjected to the higher salinity levels 6.0 and 9.0 dSm showed increased water consumption, which were 2,609 kg day-1 and 2.101 kg day-1, respectively. The treatments showed significant difference in food consumption, consuming on average 1.68 kg day-1. The animals submitted to treatment with saline water level 6.0 dSm gained more weight but all animals had a satisfactory weight gain. KEYWORDS: Saline water, confinement, food intake, weight gain, sheep. INTRODUÇÃO Na produção animal é necessário que fatores como a sanidade, alimentação e a ambiência estejam de acordo com a necessidade do animal e o Brasil sendo um país de dimensões continentais, apresenta-se com grande diversidade climática, isto implica em que uma técnica de criação utilizada em uma região pode necessitar de adaptações para utilização desta em outra região ou local. Fato este se deve aos efeitos da latitude, altitude, ventilação, umidade relativa do ar, entre outras causas (SILVA et al., 2007). O consumo é um dos componentes que exerce grande influencia na alimentação e nutrição animal, uma vez que determina o nível de nutrientes ingeridos e, consequentemente, o desempenho animal (BERCHIELLI et al., 2006), podendo ser influenciado por diversos fatores, como espécie animal, peso, estado fisiológico, nível de produção, tipo do alimento, capacidade de enchimento, condições e disponibilidade de alimento, espaço no comedouro ou frequência de alimentação e das condições climáticas (CANDIDO et al., 2007). A água que constitui aproximadamente 98% de todas as moléculas do organismo animal (NRC, 2001) sendo distribuída em todo o corpo, incluindo o fluído extracelular e intracelular que contém, respectivamente, de 31% a 38% e de 62% a 69% do total de água do corpo, é o substrato químico mais abundante e vital para nutrição de todo ser vivo (NRC, 2007). A água é o nutriente requerido em maior quantidade pelos animais e parte vital de qualquer sistema biológico de vida, participando dos processos fisiológicos como digestão, transporte, absorção e reguladora da temperatura corporal, já que tem elevado calor especifico, conseguindo que a temperatura corporal não se eleve, mesmo quando o animal realiza trabalho muscular (CALLE & SÁNCHEZ, 1995). É também a substância química mais abundante nos sistemas vivos (NRC, 2007) e, a percentagem de água no corpo dos animais depende da alimentação, idade do animal e da quantidade de gordura, proteínas e cinzas presentes em seu corpo (DIAS et al., 2008; ARAÚJO et al., 2010). Segundo o NRC (2007) existe uma correlação entre o consumo de matéria e seca e consumo de água, sendo que para quilo de matéria seca consumida, o animal deve ingerir 2,87 litros de água. Quanto à salinidade, o ideal é que a água tenha uma concentração de sais que não afete o seu consumo pelos animais, porém muitas vezes a água que é ofertada para estes não tem uma boa qualidade, o que faz com que em alguns casos, os animais consumam menos que o desejável, o que faz com que o consumo de águas salinas possa vir a interferir no consumo de alimentos. Pensando nisso, objetivou-se com essa pesquisa, a utilização de águas com concentrações de sais para a produção animal, já que em períodos de longa estiagem o nível dos reservatórios cai e com isso há o aumento na concentração desses sais, como também a utilização das águas subterrâneas, já que estas, na maioria das vezes, também tem concentrações de sais bem consideráveis. Para isso analisamos a influência que a salinidade presente na água pode exercer no consumo de alimentos de ovinos confinados. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no sítio Soares, localizado no distrito Marinho, no município de Boqueirão, microrregião do Cariri Oriental paraibano, que apresenta área territorial de 396,4 km², altitude de 355m, e tem como coordenadas geográfica a latitude de 07º 28’ 54” S, e a longitude de 36º 08’ 06’’(IBGE, 2010), possuindo clima tropical chuvoso com verão seco, apresentando temperatura máxima em torno de 37º e mínima de 16º. Seu índice pluviométrico é muito irregular possuindo picos de 1494,4 mm até níveis abaixo de 336,6 mm, em virtude disso é possível explicar o fato da região passar por fortes estiagens e longos períodos de seca. A pesquisa foi desenvolvida no período de março a maio de 2015, com duração de 67 dias, utilizando-se 24 ovinos, mestiços da raça Dorpinês (meio sangue das raças Dôrper e Santa Inês), confinados, alocados em 4 baias, cada uma com seis animais dispostos aleatoriamente. Os animais tinham no início do confinamento em média 7 meses de idade e peso médio de 18,33 Kg. Inicialmente, os animais foram pesados, identificados e tratados contra ecto e endoparasitas, em seguida passaram por um período de adaptação as instalações e alimentação de sete dias (fase pré – experimental). Para a quantidade de alimento ofertado a vontade estabeleceu-se 15% de sobras, fazendo-se reajuste diário da quantidade oferecida. No galpão, os animais foram mantidos em baias medindo 8m x 2,5m, cimentadas, dando uma área média de 3,33m² por animal, equipadas de cochos de madeira de 1 m linear, os alimentos colocados duas vezes ao dia, manhã ás 7 h e a tarde às 16h, e um bebedouro, onde foi ofertada água ad libitum. A ração fornecida aos animais foi composta por feno de Tifton (Cynodon dactylon, (L) Pers) constituindo (22,5%), farelo de milho (25%), farelo de soja (18%), sal mineral (2,0%), composição esta de acordo com NRC (2007) e palma forrageira da espécie Opuntia fícus-indica, conhecida como palma gigante (32,5%). O controle da salinidade da água foi feita com NaCl, controladas com o auxílio de um condutivímetro digital portátil modelo ITCD – 1000, da marca Instrutemp. Os tratamentos realizados foram baseados na oferta das soluções: T1 – água com salinidade de 1,5 dSm, T2 – água com salinidade de 3,0 dSm, T3 – água com salinidade de 6,0 dSm, e T4 – água com salinidade de 9,0 dSm. O respectivo consumo foi quantificado pelo total fornecido subtraindo-se as sobras no período de 24 hs, tanto para a água como para o alimento. O ganho de peso foi contabilizado realizando uma primeira pesagem no inicio do confinamento e em seguida pesagens periódicas a cada 20 dias e uma última pesagem no último dia de confinamento. Para a pesagem foi utilizada uma balança digital com capacidade para até 100 kg e precisão de 0,20g da marca Wenny. O delineamento experimental foi inteiramente casualisado, com 4 tratamentos (níveis de salinidade), e 6 repetições. Os resultados foram submetidos ao teste de Tukey a 1% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO O consumo médio de ração pelos animais foi afetado (P < 0,01) pelo nível de salinidade da água (Tabela 1), semelhante entre os tratamentos 1 e 2, que receberam menores concentrações de sais na água, e havendo diferença nos tratamentos 3 e 4 e, entre estes tratamentos, apresentando um resultado médio de 1,68 k dia-1. Mesmo os animais que consumiram menor quantidade de alimentos, tiveram um consumo que pode propiciar um ganho de peso de 180,94 g (NRC, 2007). Quanto ao consumo de água, observa-se que houve diferença significativa entre todos os tratamentos (P < 0,01), onde os animais que receberam água com condutividade de 1,5 e 3,0 dSm tiveram menor consumo e inferior aos demais (média de 1,71 kg dia-1), seguidos dos animais que receberam água com salinidade de 9,0 dSm (média de 2,10 kg dia-1), e o maior consumo de água foi registrado com os animais que receberam água com salinidade de 6,0 dSm (média de 2,61 kg dia-1). Água com elevadas condutividades elétricas, entre 8,0 e 11,0 dSm, ou quantidades mais elevadas de sal precisa de cuidados e só deve ser fornecida para ruminantes, incluindo os caprinos e os ovinos, que têm mais capacidade de tolerância. Este consumo foi semelhante aos observados por FURTADO et al. (2010), demonstrando que mesmo os ovinos recebendo água com salinidade acima da recomendada, consumiram uma quantidade de água suficiente para sua manutenção e ganho de peso. O NRC (2007) sugere uma correlação entre o consumo de matéria e seca e consumo de água, de 1 kg MS para 2,87 litros de água, e a melhor relação observada foi nos animais que receberam água com salinidade de 6,0 dSm, que foi de 1 kg de ração para 1,54 kg de água, o que pode favorecer aos micro-organismos ruminais, consequentemente aos processos metabólicos nos animais. Tabela 1. Consumo de ração, água, relação consumo de ração x água e ganho de peso diário dos animais. Tratamento Consumo ração Consumo água Relação consumo Ganho de peso (Kg dia-1) (Kg dia-1) água x ração diário (g dia-1) 1,5 dSm 1,685 Kg b 1,680 Kg d 1,00 X 1 198,00 b 3,0 dSm 1,678 Kg b 1,759 Kg c 1,05 X 1 197,88 b 6,0 dSm 1,695 Kg a 2,609 Kg a 1,54 X 1 255,55 a 9,0 dSm 1,669 Kg c 2,101 Kg b 1,26 X 1 180,94 c Médias nas colunas seguidas de mesma letra não diferem a 1% de probabilidade pelo teste Tukey. CV% 0.3 Consumo de ração por indivíduo. Consumo de água por indivíduo. Relação consumo de água x consumo de ração. Ganho de peso diário individual. O ganho de peso médio individual por dia alcançado pelos animais foi de 208,08g, sendo que os animais dos tratamentos 1 e 2 tiveram ganho de peso semelhante não diferenciando significativamente (P < 0,01), o tratamento 4 apresentou o menor ganho de peso, havendo diferença significativa (P < 0,01) dos demais tratamentos, e o tratamento 3 foi o que propiciou o melhor ganho de peso. Observa-se que os animais que receberam água com salinidade de 6,0 dSm foram os que tiveram melhor consumo de ração, maior consumo de água e melhor relação entre o consumo de ração e água, o que propiciou maior ganho de peso (P < 0,01). Os animais do tratamento 4 tiveram o menor consumo de ração e receberam água com salinidade considerada acima da ideal para ovinos, o que propiciou o menor ganho de peso nos animais. Já os animais dos tratamentos 1 e 2, apesar de receber água com nível de salinidade menor, apresentaram um relação entre o consumo de água e ração abaixo do recomendado pelo NRC (2007), o que pode ter afetado o metabolismo do animal, propiciando menor ganho de peso. Mesmo os animais que receberam água com salinidade elevada, considerada acima do padrão para ovinos, conseguiram manter um bom ganho de peso, demonstrando que ovinos criados em confinamento no semiárido brasileiro podem obter ganho de peso satisfatório, mesmo recebendo água de qualidade inferior. CONCLUSÕES O nível de salinidade da água interfere no consumo de ração e ganho de peso, sendo que o nível de 9,0 dSm propiciou aos ovinos menor consumo e ganho de peso. O nível de salinidade de 6,0 dSm foi o que proporcionou melhor consumo, relação consumo de ração x água e melhor ganho de peso. Mesmo os ovinos que receberam água com salinidade elevada, conseguiram bom ganho de peso, demonstrando que o confinamento pode ser uma alternativa viável para o semiárido brasileiro, mesmo com oferecimento de água considerada de qualidade inferior. REFERÊNCIAS ARAUJO, G.G.L.; VOLTOLINI, T.V.; CHIZZOTTI, M.L. TURCO, S.H.N.; CARVALHO, F.F.R. de. Water and small ruminant production. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.39, p.326-336, 2010 (suplemento especial). BAÊTA, F.C.; Souza, C.F. Ambiência em edificações rurais: conforto animal. Viçosa: UFV, 2010. 246 p BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G.; Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal: Funep, 538p, 2006. CALE, J.R.C.; SÁNCHEZ, E.C. Necessidades de agua. In: Zootecnia: Bases de production animal. Tomo II – Reproduccion y alimentacion. Ed. Mundi-Prensa, Madri, 1995, 293p. CANDIDO, M.J.D.; CARNEIRO, H.A.V.; CIDRÃO, P.M.L. Consumo de Nutrientes e desempenho produtivo de ovinos alimentados com dietas orgânicas. 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