ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste – Campus de Cascavel ISSN 2176-4778 ORGANIZAÇÃO DAS AÇÕES EM SAÚDE DO TRABALHADOR NA ATENÇÃO BÁSICA NOS MUNICÍPIOS DA 20ª REGIONAL DE SAÚDE DO PARANÁ1 Viviane Delcy da Silva2 Neide Tiemi Murofuse INTRODUÇÃO A Saúde do Trabalhador (ST) é uma das competências do SUS que tem como atribuições “[...] executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como a de saúde do trabalhador”, assim como “[...] colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho” (BRASIL, 2000, p. 116). As ações de ST incluem a realização de assistência aos trabalhadores vítimas de Acidentes (AT) e/ou Doenças do Trabalho (DO); a participação em estudos, pesquisas, avaliação e controle tanto dos riscos como dos agravos existentes nos locais de trabalho, potencialmente prejudiciais à saúde; prestar informações sobre os riscos de AT e DO, incluindo os resultados das fiscalizações, avaliações ambientais, e resultados de exames de saúde respeitando os princípios ético-legais, às empresas, entidades sindicais e propriamente aos trabalhadores (BRASIL, 2008). Nessa direção, as ações de segurança e ST exigem uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial de forma a contemplar a complexidade envolvida na relação entre o processo de produção e o processo saúde doença. A legislação brasileira prevê atribuições e competências para cada esfera do governo (BRASIL, 2000, p. 116). A Política Nacional de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, vigente a partir do ano de 2004, tem por finalidade a redução dos acidentes e doenças do trabalho, mediante a execução de ações de promoção, reabilitação e vigilância na área de saúde. 1 Trata-se de uma síntese dos resultados apresentados como monografia de conclusão do Curso de Especialização em Saúde Pública da UNIOESTE, Campus de Cascavel. 2 Enfermeira. Especialista em Saúde Pública (UNIOESTE), aluna do curso de especialização em Gestão Pública Municipal (UEM); enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Nova Santa Rosa. Rua Guarani, 581, Centro. Nova Santa Rosa – PR. Fone: (45) 32531585. Email: [email protected] ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste – Campus de Cascavel ISSN 2176-4778 Aos municípios cabe a tarefa de garantir o atendimento e assegurar as condições necessárias para o acesso aos serviços de saúde ao trabalhador acidentado e/ou adoecido pelo trabalho, bem como garantir sua reabilitação. Ao Estado cabe o assessoramento e acompanhamento dos municípios para organizarem sua rede de assistência à ST (PARANÁ, 2002). A Vigilância em Saúde do Trabalhador implica em ações de assistência, vigilância sanitária e informações epidemiológicas em ST (PARANÁ, 2002). A Vigilância Sanitária relativa à ST, compreende ações a serem desenvolvidas pelas autoridades sanitárias, com o objetivo de avaliar fontes de risco à saúde dos trabalhadores em todos os estabelecimentos e locais de trabalho, exigindo o cumprimento das legislações vigentes na área. Inclui ainda verificar os prováveis riscos ambientais envolvidos, os processos de trabalho da produção, as medidas de proteção adotadas, as condições de segurança, conforto e adaptação dos ambientes de trabalho aos trabalhadores (PARANÁ, 2002). Nestas últimas décadas, no Brasil, houve importantes avanços na organização da Atenção à ST, à organização da Atenção Básica (AB) e na descentralização da Vigilância em Saúde (VS), porém, ainda persistem diversos problemas relacionados à gestão e organização dos serviços de saúde que prejudicam a efetiva integração entre AB e VS e consequentemente comprometem a integralidade do cuidado (BRASIL, 2008). O Ministério da Saúde tem publicações contemplando diretrizes e orientações para a assistência à ST. No entanto, não se conhece como tais legislações estão sendo implementadas pelos municípios bem como se existe uma rede estruturada para a assistência. Nesse sentido, este estudo buscou realizar um diagnóstico sobre como estão sendo realizadas as ações relativas à ST na AB, considerando a ausência detectada por meio da revisão da literatura realizada, de trabalhos que apontem como o trabalhador vem sendo assistido pela AB, seja em função de AT ou DO. A área escolhida foi a AB, justamente por ser a porta de entrada preferencial no SUS e responsável pela maioria dos atendimentos. ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste – Campus de Cascavel ISSN 2176-4778 OBJETIVO O estudo teve como objetivo analisar as ações relativas à ST realizadas pelos 18 municípios pertencentes a 20ª Regional de Saúde do Paraná (20RS) articulando com os agravos e o contexto produtivo e assistencial presentes na região. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa de campo envolvendo 18 municípios pertencentes a 20RS. A coleta de dados foi realizada por meio de documentos, através da consulta aos arquivos da 20RS, em quatro bases de dados de âmbito nacional (SINAN – NET, CNES, DATASUS e ANVISA) e uma base de dados de abrangência estadual (IPARDES). O período de coleta foi entre dezembro de 2009 e abril de 2010. Os aspectos éticos preconizados para as pesquisas envolvendo seres humanos foram observados, obtendo a aprovação por meio do Parecer 436/2009 – do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. RESULTADOS A maioria dos 18 municípios pertencentes a 20RS caracterizava-se como de pequeno porte, em que oito deles foram instalados num período de 16 anos (1952 a 1977) e os demais a partir do ano de 1983, resultado do “fenômeno do federalismo” observado após a Constituição de 1988, no qual houve a criação e o crescimento de pequenos municípios em todo o país, com conseqüências para o setor saúde. Entre os anos de 1950 a 1970 a região registrou o aumento da população que saltou de um total de 16.000 para mais de 760.000 habitantes, sendo que tal crescimento não foi verificado em nenhum outro espaço geográfico paranaense. A região totaliza 15.801 pessoas (44% da população total da região) que se enquadra como economicamente ativa, ou seja, que estão expostas a riscos decorrentes do processo de trabalho. Trata-se de uma região que contempla municípios em situação sócio econômica favorável, com exceção dos menores municípios que tem o maior índice de pobreza e tem o maior número de ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste – Campus de Cascavel ISSN 2176-4778 municípios com os melhores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), em relação ao Estado, conforme censo realizado no ano de 2000. Foram encontrados 25 ramos produtivos na região, sendo que em sete municípios, com mais de 10.000 habitantes, o ramo da Indústria de Produtos Alimentícios, de Bebida e Álcool Etílico, foi o que apresentou a maioria dos postos de trabalho com 17.274 empregos (23%), seguido pelo comércio varejista com 13.474 empregos (18%), a Administração Pública Direta e Indireta com 6.032 empregos e o Serviço de Alojamento, Alimentação, Reparo, Manutenção, Radiodifusão e Televisão com 6.016 empregos. Entre os 11 municípios com menos de 10.000 habitantes, os ramos produtivos mais freqüentes foram os empregos na Administração Pública Direta e Indireta (27%), seguidos do Comércio Varejista (17%), da Indústria de Produtos Alimentícios, de Bebida e Álcool Etílico (11%) e a Agricultura, Silvicultura, Criação de Animais, Extração Vegetal e Pesca. Por meio das atividades produtivas pode-se relacionar a exposição dos trabalhadores aos riscos decorrentes do processo de trabalho. Assim, constata-se que nos municípios maiores o planejamento das ações deveriam se concentrar no ramo industrial e nos municípios menores na própria administração pública. Afora as diferenças entre municípios a análise geral de toda a 20RS indica que são 18.194 trabalhadores expostos a riscos decorrentes do processo de trabalho no ramo da Indústria de Produtos Alimentícios, de Bebida e Álcool Etílico, seguida pelo Comércio Varejista (14.819 trabalhadores) e a administração pública (8.222). Ressaltase, no entanto, que os resultados apresentados referem-se somente aos postos de trabalhos com vínculo formal, excluídos, portanto, os trabalhadores rurais e informais. Entretanto, no planejamento, organização e acompanhamento das ações de Saúde do Trabalhador tais grupos devem ser contemplados, principalmente por se trata de região predominantemente agrícola, com processos de trabalho, riscos e agravos específicos. Em relação a estrutura e recursos existentes na saúde nos municípios estudados constatou-se a deficiência em relação a estrutura física, recursos materiais e veículos de transporte disponíveis às equipes dos municípios. Verificou-se diferenças quantitativas e qualitativas entre os Recursos Humanos sendo que a maioria dos profissionais de saúde pertenciam a AB (95%) e a minoria (5%) a VS, além da precariedade nos vínculos de trabalho e diferença na carga horária semanal. Quanto às ações desenvolvidas, verificou-se a ausência de planejamento e de rotinas programadas; em ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste – Campus de Cascavel ISSN 2176-4778 que as ações eram realizadas após a ocorrência do agravo(50%) ou realização de atividades pontuais, fortuitas, informais e não integradas(50%). As ações específicas de vigilância em ambientes de trabalho priorizavam a promoção e prevenção através de orientações, vistorias e intervenções. Entre as principais dificuldades no desenvolvimento da vigilância em ST foram a ausência de capacitação da equipes (93% dos municípios), seguida pelo número inadequado e insuficiente de recursos humanos, materiais, veículos e estrutura física. As ações de assistência são realizadas em 80% dos municípios na AB; porém, 46,7% não possuem nenhum serviço assistencial de saúde preparado para atender os trabalhadores que procuram atendimento relacionado à ST, ficando prejudicada a qualidade da assistência. Constatou-se a diferença quanto a disponibilidade e atualização dos dados nos sistemas de informação existentes, bem como a implantação parcial dos sistemas de informação utilizados com notificação de três tipos de agravos (AT graves e fatais, acidentes com material biológicos e intoxicações exógenas) entre os anos de 2007 a 2009, dentre os 11 agravos de notificação compulsória regulados pela Portaria n. 777/GM, de 28/04/2004. A notificação em território nacional fornece informações para análise do perfil de morbidade, contribui para a tomada de decisão em nível municipal, estadual e federal bem como permite identificar o motivo do adoecimento e morte de trabalhadores, relacionando com os ramos de atividade econômica e aos processos de trabalho, possibilitando as intervenções em suas causas e determinantes. CONCLUSÕES O estudo realizado possibilitou conhecer que as ações de Vigilância e Assistência em ST realizadas pelos 18 municípios da 20RS apresentam limitações e fragilidades, impedindo o avanço da organização dessas ações na Atenção Básica de Saúde. Tanto as ações de Vigilância quanto de Assistência em ST não estão sendo realizadas de forma estratégica, planejada e contínua, o que contribui para a não efetivação da ST. As equipes realizavam algumas ações de Vigilância aos ambientes de trabalho, priorizando a promoção e prevenção através de orientações, vistoria em ambientes de trabalho e intervenção naqueles que apresentam riscos de agravo à saúde do trabalhador. ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste – Campus de Cascavel ISSN 2176-4778 Entretanto, pela ausência de planejamento prévio e rotina das atividades as ações deixam de ser contínuas e sistemáticas como requer o campo da ST. Tanto na equipe da Vigilância quanto da Assistência à ST constatou-se o reduzido número de pessoas nas equipes, no entanto, na comparação verifica-se que o setor da VS está ainda mais prejudicado, tanto quantitativa quanto qualitativamente. As principais dificuldades da Vigilância em ST destaca-se o número insuficiente de profissionais e trabalhadores como fator principal, seguido da falta de condições de trabalho incluindo: veículos para transporte, equipamentos, estrutura física e materiais. Por outro lado, as equipes de AB, que compreende a Estratégia Saúde da Família, são numericamente superior em termos de recursos humanos. Porém, como há ausência da integração entre as áreas da Vigilância e AB acaba comprometendo o efetivo desenvolvimento das ações em ST. Quanto aos locais de atendimento de casos de AT e DO constatou-se que a principal “porta de entrada” é a AB, seguido pelos serviços hospitalares e pronto atendimento. A ausência de serviços de saúde preparados ou capacitados para realizar assistência a ST acaba interferindo na organização dos serviços, principalmente quanto ao atendimento inicial e posterior encaminhamento, acompanhamento da recuperação e prevenção de novos incidentes bem como pode comprometer a qualidade da assistência, a investigação do nexo entre o agravo apresentado e o trabalho desempenhado. Os tipos de agravos notificados pelos municípios no SINAN-net (intoxicações exógenas, material biológico, graves e fatais), e não os onze agravos regulamentados por lei indicam fragilidade e dificuldades. Considerando que o diagnóstico situacional do adoecimento e/ou acidentes do trabalho pode ser obtido a partir das notificações conclui-se que a identificação da realidade epidemiológica desta região está prejudicada e consequentemente o planejamento das ações refere à ST. O estudo indica que ainda as ações em ST precisam se tornar prioridade para que assim possa ser estruturada as equipes de Vigilância e Assistência, contemplando melhores condições de trabalho aos trabalhadores da saúde e organização dos serviços aos usuários acidentados e adoecidos pelo trabalho. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil: 1988. 13.ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2000. ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste – Campus de Cascavel ISSN 2176-4778 ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Atenção Básica. Vigilância em Saúde. 2.ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde. 2008. PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde. Código de Saúde do Paraná. Curitiba: SESA, 2002. PALAVRAS-CHAVE: Saúde do Trabalhador, Atenção Básica de Saúde, Vigilância à Saúde do Trabalhador, Assistência à Saúde do Trabalhador.