O PLANO SECRETO JAPONÊS PARA A CONQUISTA DO MUNDO
José Freitas
(Memorando Tanaka)
1944
Para se compreender o Japão moderno, toda a sua evolução política, a série de campanha
militares no continente asiático e a sua entrada na presente guerra, torna-se necessário o
conhecimento de um dos mais célebres documentos que ficarão na História do Mundo
como índice de uma época. Trata-se do memorando do general Tanaka, célebre militarista
japonês, que concebeu um programa para a ocupação da China, da Ásia, da Oceânia e do
Mundo inteiro.
Denunciado pelo governo chinês em 1931, o famoso documento foi traduzido em quase
todas as línguas cultas. Em Portugal, apenas se transcreveram alguns dos trechos mais
elucidativos. O plano de Tanaka volta a ter, com os acontecimentos actuais, uma
oportunidade flagrante. Ele prova a premeditação nipónica contra os seus irmãos
amarelos e contra os povos brancos.
Neste volume, além da sua tradução integral conta-se a história do plano e faz-se resenha
dos factos que explicam como Tanaka conseguiu realizar os seus primeiros objectivos.
1º CAPÌTULO
O SONHO DE DOMINIO MUNDIAL
O sonho de domínio mundial tem ensanguentado as gerações de todas as idades. Homens
nascidos do nada ou reis que viram pela primeira vez a luz do sol em seus berços de ouro,
lançaram-se nessa luta inglória de conquista, espezinhando direitos, desprezando a lei da
vida, para edificarem, ou tentarem edificar, os seus efémeros impérios. A ideia da
subjugação total do Mundo, que os animava, nunca foi conseguida. Apesar dos atropelos a
todas as convenções e a todos os tratados, apesar do desrespeito completo pela vida
humana, apesar de serem fortes e os outros fracos – nunca venceram por completo, nunca
ergueram, embora sobre ruínas e sangue e luto e dor, a sua obra condenável e condenada
a perecer. Até hoje, que uma nova guerra provocada pelo entrechoque de interesses de
imperialismo a morrer e novos imperialismos que queriam nascer mas já foram
esmagados, essa ideia estranha e sinistra de domínio mundial por um homem ou por uma
raça, por uma nação ou por um império, não teve forças para se erguer sobre o clamor das
vitimas, a maldição dos mortos e os gemidos dos feridos, e firmar-se nos escombros de
tudo. Os grandes generais da antiguidade e os notáveis cabos de guerra ou estadistas das
nossas eras mal iniciavam a construção dos alicerces da sua obra temerosa, ou eram
assaltados pela morte ou caiam no desfavor dos deuses. Aconteceu assim a Gengis Khan e
a Napoleão e está agora também a acontecer. Os imperialismos militares, porque dos
económicos e financeiros não nos apraz agora apreciar, já porque este livro a isso não se
destina, já porque as circunstancias não são de aconselhar a fazê-lo, fenecem quando se
abalançam a ferir a grande batalha do Mundo. Parece que forças ocultas, que poderes
desconhecidos, que armas escondidas e valores secretos se reúnem e se sincronizam na
defesa contra o invasor. O Mundo não pode nunca ser conquistado por um homem, nem
uma raça tão pouco poderá firmar a sua superioridade sobre outra porque fabrica
melhores canhões e baixa com mais precisão as bombas aéreas. A opor-se aos canhões e
aos bombardeamentos da aviação existem os valores morais, a vontade humana, que
nenhum engenho pode quebrar. Estes factores galvanizam as gentes, criam um estado de
ódio colectivo, fazem de crianças heróis e de velhos doentes homens saudáveis. E uma
muralha humana, mais forte que a da China, mais poderosa que um castelo da Idade
Média, ergue-se contra o invasor e faz malograr todos os seus planos. Pode um Gengis
Khan, em cujos descendentes, diz a lenda, existem um lobo azul, uma cadela rafeira e um
ciclope, vencer o Xá da Pérsia, passar cidades a fio de espada e chacinar milhões dos seus
habitantes e violar tratados celebrados com os Song; pode um Napoleão assenhorear-se da
Europa, ditar a paz nas suas capitais, possuir os mais sábios generais e os mais valentes
soldados; pode ainda um homem de origem humilde, que à custa do seu génio político e da
sua palavra fácil chegou a mandar num dos mais belos países da Europa, organizar
exércitos temíveis, que pareciam invencíveis – que o sonho do domínio do Mundo por um
homem, por uma raça, por uma nação se malogrará.
Do caso particular de que nos vamos ocupar, do plano secreto do Japão para o domínio da
Ásia, da Oceânia e do Mundo inteiro nem existe, para o comparar com os exemplos citados,
o génio, embora primário, de Gengis Khan, a intuição militar de Napoleão ou as
circunstâncias especiais que deram vida e ânimo e coragem ao último conquistador citado.
O plano japonês é o sonho de um megalómano que se não apercebeu de que as linhas
paralelas de caminhos-de-ferro, as minas de carvão, o controle da exportação da fava e a
perseguição a pobres e apátridas emigrantes e ainda a posse de todas as riquezas das Três
Províncias do Leste não tinham poder suficiente, como está provado, para vencer uma
civilização, para destruir a razão de ser de um povo – e muito menos para conquistar o
Mundo. Sobre todas as riquezas da Manchúria e da Mongólia, sobre, até, todas as riquezas
da terra, ergue-se indestrutível e invencível a vontade humana de ser livre. Num sonho
fantasma de conquista pensou Tanaka, o barão japonês, formar num espaço de dez anos os
alicerces para o seu país obter o senhorio do Mundo. Desde 1927 a 1937 – a data da nova
agressão à pobre nação chinesa – o japonês, de uma forma geral, conseguiu realizar a parte
primária do célebre memorando do aristocrata insular. A lenta ingerência nos negócios da
Manchúria, tão chinesa como Xantung ou outra qualquer das antigas dezoito províncias do
velho Império do Meio, deu como consequência a guerra de 1932-31 e a ocupação daquela
região e o domínio virtual da Mongólia Interior do governo nominal do príncipe Teh. Os
dez anos pedidos por Tanaka morriam em 1937. Já senhor das riquezas imensas das Três
Províncias do Leste ia o Japão atirar-se na louca corrida, na incursão suicida para ocupar o
Mundo? Assim parece ter acontecido. Os cérebros dos «samurais» e dos príncipes, e a ideia
nipónica de que a raça nipónica descende dos deuses e, por isso, está destinada a dirigir o
Mundo, a ideia que se pretende ser unânime no Japão, mas – aliada à fraqueza dos homens
que, nessa época, tinham nas mãos o poder em Londres, em Paris e em Washington – tudo
isto e mais ainda a morte recente por toda a Europa da liberdade de vida e da liberdade de
viver, deram ao japonês a esperança de o Mundo inteiramente japonês.
O plano Tanaka, apoiado pelo malogro total da S.D.N., pela cumplicidade dos
irresponsáveis compatriotas de um homem que, havia já quarenta anos, denunciara à
Europa o perigo amarelo, assistido pela complacência de um governante que, depois de ter
o Japão por inimigo durante a campanha da Etiópia, o havia de desejar para aliado – quase
se cumprira. Em 1937, precisamente dez anos depois de o barão nipónico ter entregue ao
seu imperador o famoso documento, iniciam os exércitos japoneses a nova aventura.
Durante estes dez anos tinham já eles firmado o seu novo império continental e aplicado a
sua politica positiva perante a Manchúria e a Mongólia. « Para conquistar o Mundo inteiro
– escreve Tanaka – a conquista da China é uma condição preliminar. Mas, para conquistar
a China – assevera duas linhas antes – precisamos primeiro de conquistar a Manchúria e a
Mongólia». Os militaristas japoneses tentam, então, dominar a China, «japonizar» a China.
Sabe-se que não chegaram todas as riquezas das matérias primas dos países já
denominados, a Formosa, a Coreia, a Manchúria e a Mongólia Interior – para vencer a
China. Perdidas as Provincias do Norte do rio Amarelo, perdido o litoral, perdidos todos
os portos e até a estrada da Birmânia, hoje em vias de reconquista, a China e os chineses
refugiaram-se nas montanhas inacessíveis do Xé Xuan, sempre a dar batalha e a
enfraquecer o invasor. O domínio da China, que os técnicos japoneses julgavam obra de
três meses realizada em alegres passeios militares pelas planícies amarelas, transformouse numa guerra de usura, que não aniquila o invasor, mas lentamente o enfraquece. A
campanha de 37 foi o primeiro obstáculo sério à realização da segunda etapa do plano do
Barão Tanaka. Mas a agressão declarada e sem desculpa encontrava apoio na distante
Europa a cavar, ela própria conscientemente, a sua ruína. Munique dera novas forças ao
japonês que, receoso ainda de eventuais reacções da Améria e da Inglaterra, circunscrevia
as suas operações militares ao Norte do Rio Amarelo e ao Yang-Tsé inferior. O acordo da
cidade nacional socialista, o assassínio da Checoslováquia, o afastamento efémero da
União Soviética dos problemas políticos europeus, permitiram ao inimigo ampliar a zona
de ataque e dar o assalto a Cantão, a grande cidade do Sul, berço da Revolução e da
República Chinesa. A China ardia num fogo lento que percorria as planícies, vencia as
cidades e dominava as montanhas. Mas a China, nesses dias de luto, quando tudo parecia
morrer, quando o auxilio estranho falhava, quando num dos seus inflamados discursos
Hitler, já chanceler, proclamava ao Mundo: « Eu ou o Sr. Bénès» - teve forças para se unir
sob o comando militar e a orientação política de Chang-Kai-Chek. Hoje, sete longos anos
depois destes acontecimentos, a unidade da China, já nas vésperas de uma vitória que se
apresenta evidente e indiscutível, corre o perigo de esvair-se e recomeçarem ali as guerras
civis? A distancia e a falta de informação não nos permitem seguir com rigor a evolução
dos sucessos políticos desenrolados em Xung-King durante sete anos. As tropas e os
governantes dos Hunan e do Sin-Kiang, as províncias que mais homens têm enviado para a
luta parecem, de certa forma, descontentes com a distribuição dos armamentos pelos
exércitos. Estes acontecimentos levaram um jornalista americano, que viveu na China
quatro anos, a repudiar todos os seus artigos anteriores enviados de Xung-King. Estas
revelações sensacionais determinaram a viagem de Wallace, vice-presidente dos Estados
Unidos, à capital da China Livre. A China deve, incontestavelmente a Chang-Kai-Chek a
manutenção dessa união e a própria vitória sobre o Japão. A unidade nacional obtida em
Naquim, pouco depois da ocupação de Pequim pelo inimigo, galvanizou o país inteiro. A
continuação dessa unidade no limiar da vitória é agora ainda mais precisa do que quando
o exército nipónico descia com poder incontível pelas planícies da linha férrea de TienTsin a Pu Keu. Nos dias negros das derrotas, quando as bombas só caiam em Xangai – a
China, para viver, contava só com um pacto de não agressão com a União Soviética e a
valentia desses exércitos das províncias autónomas, mal armados e famintos. A China de
hoje, a China já vitoriosa, não os pode esquecer nem desprezar.
A invasão da Polónia pelas forças de Hitler veio dar razão aos prognósticos chineses
segundo os quais a guerra na Europa era inevitável, porque os desígnios japoneses se
assemelhavam aos desígnios alemães. Desde essa hora, a China acreditou que as duas
guerras se haviam de fundir numa única. Em 7 de Dezembro de 41, a guerra europeia
transformava-se em guerra mundial e, nesse mesmo dia, morriam para sempre as
ambições de Tanaka e reduzia-se a cinzas o último plano de domínio do mundo por uma
raça ou um país.
Mesmo que El Alamein e Estalinegrado – se não nos reportarmos à vitória da batalha aérea
da Grã-Bretanha e ao erro político ou à necessidade militar do ataque alemão à União
Soviética – não tivessem constituído os acontecimentos decisivos que determinaram uma
nova fase da guerra e permitiram a reconquista de Karkov e o estabelecimento da Segunda
Frente Atlântica, a libertação de Paris pelos próprios franceses e a libertação da França
pelas forças das Nações Unidas – mesmo que os exércitos e as armadas alemães e
nipónicas se encontrassem no Indico, num amplexo mortal para os aliados, mesmo assim,
o plano do barão Tanaka ter-se-ia malogrado. O Mundo ficaria dividido entre duas grandes
potências, que teriam ainda de dar à Itália fascista aquilo que ela pudesse obter. E o sonho
de um universo japonês não tinha realização possível.
O Japão saiu, sem qualquer período de transição, do feudalismo medieval para o
capitalismo moderno. Esteve dois séculos isolado do mundo sem ter quaisquer
conhecimentos da evolução política dos povos e dos progressos da técnica. Venceu a
primeira guerra com uma potência branca, depois de ter copiado o Ocidente que no íntimo
repudiava. Não tem matérias-primas e, apesar disso, industrializou-se. Mas, como podia
assim viver, como grande potência asiática, uma nação que, através da história, nunca
representara qualquer influência na vida política, social ou religiosa do Extremo Oriente?
Era fatal e inevitável a queda vertical de todo o Japão moderno, imperialista e militar. Em 7
de Dezembro de 41, o Japão mikadonal assinou a sua sentença de morte. Foi um «harakiri»
nacional.
Se o plano Tanaka apresentava como objectivos militares imediatos a guerra contra a
Rússia, porque motivo foi Matsuoka a Moscovo assinar um pacto de não agressão? Era
evidente que os governantes japoneses se preparavam já para o assalto a Pearl Harbor e
queriam manter a paz na sua fronteira da Manchúria. Esta mudança de estratégia nipónica
aparece, por vezes, inexplicável. Não teria o japonês prestado melhor auxílio ao seu aliado
europeu investindo sobre a Sibéria em vez de provocar a intervenção activa dos Estados
Unidos na guerra? Mas o Japão fazia a sua guerra. Os seus interesses não se assemelhavam,
neste particular, aos interesses alemães. A U.R.S.S. era muito diferente da Rússia czarista.
Ainda, numa derradeira tentativa para seguir à risca os planos do famoso barão, o Japão
tentou auscultar o poder militar soviético no Extremo Oriente. Junto às fronteiras da
Manchúria com a Sibéria russa, onde, em menos de dez anos, dois mil incidentes de
carácter grave se haviam já registado, provocou um novo conflito de maior gravidade que
os anteriores. Trata-se do incidente de Xang-Ku-Feng, de 1938, durante o qual ficou
plenamente demonstrado que as investidas nipónicas pela Sibéria não teriam como
resultado a vitória espantosa de 1905. O plano de Tanaka sofrera um novo revés. Se, na
Cina, apesar de conquistada Naquim, a resistência não decrescia de violência, no extremo
oriental da Sibéria a evolução dos acontecimentos parecia agravar-se de forma inesperada.
A derrota japonesa neste conflito fez Tóquio arripiar caminho. O plano de Tanaka, se não
fora posto de parte, voltava aos cofres do Ministério dos Negócios Estrangeiros japonês,
esperando melhor oportunidade de execução. Mas os militaristas nipónicos, apesar de
cansados na China, não deixavam de sonhar novas conquistas e os políticos de apresentar,
imitando os seus parceiros na Europa, a solução do problema asiático com a nova ordem
na grande Ásia Oriental. O programa do príncipe Konoye, antigo primeiro-ministro do
governo de Tóquio, sintetizava-se assim, segundo as suas declarações de 14 de Dezembro
de 1938: «A Nova Ordem na Ásia consiste em que o Japão, o Manchuco e a China se
auxiliem e colaborem estritamente nos assuntos políticos, económicos e culturais para
combater o perigo vermelho, para proteger a civilização oriental, para destruir barreiras
económicas e para ajudar a China a deixar de ser um país semi-colonial e a assegurar a paz
no Extremo Oriente».
As incontidas ambições japonesas haviam de explodir por qualquer banda. A oportunidade
havia de chegar, porque a Europa estava nas vésperas de uma nova grande guerra. «A
Oceânia, numa extensão de 1.200 milhas de Leste a Oeste – proclamava Mutsuoka na Dieta
nipónica em 26 de Fevereiro de 1941 – deve ser considerada como um espaço de
colonização para os países asiáticos. Estou firmemente convencido de que a Divina
Providência nos deu o direito de nos instalarmos nessa região».
Se em 1939, Konoye declarava que «os japoneses devem preparar-se para assumir a
reorganização de toda a Ásia» - em Dezembro de 41 lançavam-se eles nessa aventura que,
três anos depois, os havia de levar à beira da derrota.
O sonho de domínio do Mundo pela casta dos «samurais» desfazia-se, arrastando na queda
o próprio império nipónico fundado em 1910 com a anexação da Coreia. Todos os esforços
pacientes, salpicados aqui e ali de gestos de puro sabor medieval, se frustram, porque o
Japão só á custa de uma bravura cega conseguira dominar, mas não pacificar, a vasta
Manchúria e o Norte da China. Reduzido ao domínio da Ásia o seu plano de domínio do
Mundo, limitado o memorando Tanaka ao programa Konoye da esfera de co-prosperidade
na grande Ásia Oriental – o Japão atirou-se para a arriscada aventura da guerra com a
Inglaterra e os Estados Unidos. E o fim desta aventura está à vista. Vai o povo japonês,
trabalhadores dos campos de arrozais e os operários das fábricas Mitsui, sofrer os
resultados da próxima derrota?
O sonho de domínio do Mundo, o mundo japonês, como o mundo alemão – tudo se esvaiu.
Os povos pequenos e os povos grandes criam um mundo para os homens de todas as raças
e de todas as cores. A obra começou nos abrigos de Londres, quando pesados
bombardeiros despejavam sobre a cidade quase indefesa as suas toneladas de bombas;
formou-se quando os moscovitas foram armados para defender a sua capital e consolidouse em Estalinegrado e durante o primeiro ataque aéreo às ilhas do arquipélago japonês.
O memorando Tanaka, plano secreto japonês para a conquista do Mundo, se está já
sepultado, constitui ainda um documento de alto valor histórico e comprovativo das
ambições imperialistas do militarismo insular. Nas vésperas da paz, quando os mais
comprometidos se procuram desculpar – é de interesse geral o seu conhecimento para
apreciar factos passados e acontecimentos futuros.
2º CAPITULO
QUANDO SE COMEÇA A CUMPRIR O PLANO TANAKA
Para melhor se poder compreender e apreciar o malogrado plano do barão Tanaka é
necessário ter uma ideia, embora resumida e sem pormenores fastidiosos, da evolução do
Japão desde 1893 até à guerra com a China de 1931-32. Uma resenha dos factos
acontecidos desde aquela data revela o ambiente nipónico que permitiu transformar o
Japão numa grande potência da Ásia, sem que o país, para isso tivesse quaisquer das
condições necessárias, e esclarece como foi possível elaborar-se semelhante plano de
domínio do Mundo e como se permitiu o principio da sua execução. Nos primeiros tempos
da aclimação japonesa aos processos e à técnica ocidentais, a Inglaterra jogou com esta
nação contra a influência czarista na Ásia e contra a própria penetração norte-americana
no Extremo Oriente. O Japão era um gigante de pés de argila que à custa de apoio inglês e
para a defesa dos próprios interesses ingleses nesta parte do Mundob saiu do feudalismo
medieval para se lançar na era do capitalismo industrial. Como se sabe, desde 1640, data
da última expedição dos portugueses de Macau à cidade de Nagasaki, os governantes
xogunais do Japão encerraram o país a todo o comércio com o exterior. Os indivíduos
acusados de manter relações secretas com os povos brancos eram mortos sem
contemplações. Todos os brancos de alto mar foram incendiados, os missionários cristãos
expulsos e só foi autorizado a alguns mercadores holandeses fixarem-se numa ilha na
ponta sul de Kiu-Siu de onde comerciavam, estreitamente vigiados, com o indígena. A
importação de livros fora também proibida e, na prática, apesar da presença dos
holandeses, que cada vez encontrava mais dificuldades para o seu negócio, o Japão
encerrava-se hermeticamente a qualquer contacto com o estrangeiro.
Viveu assim dois séculos.
Depois foi a chegada do comodoro Perry à baia de Uraga. O Japão estava indefeso, não
sabia da existência da máquina a vapor, não conhecia as grandes transformações sociais
porque o mundo passara, a derrota da França, o império de Bismark, o nascimento dos
Estados Unidos, o declínio português. A luz do progresso industrial, a luz de uma nova
civilização que começava a desenvolver-se com potencial gigantesco cegou-o. O Japão
entregou-se porque não podia lutar. E as nações brancas, como já o haviam feito na China,
começaram, à compita, a impor ao Xogum tratados iguais aos que tinham imposto à
dinastia manchu que governava a China. Esta situação criou entre os japoneses um mal
estar contra as classes governantes. Este movimento aumentou de importância e, em
1867, o Xogum renuncia ao governo e entrega todos os poderes ao Mikado, que era, desde
há muito, apenas um chefe religioso. A esta restauração mikadonal chamam os
historiadores a grande revolução japonesa. Vistos, porém, os acontecimentos sob outro
aspecto, não podendo deixar-se de registar que começou, desde esta altura, a adaptação do
Japão aos métodos ocidentais, verifica-se que essa revolução foi apenas aparente. Do
sistema social japonês antigo nada foi alterado. O camponês continuou a ser explorado
pelo seu senhor e o operariado, uma nova classe que nascia, não teve melhor sorte que o
camponês do campo. Assim , o Japão adoptou, apenas do Ocidente, os ensinamentos da
técnica e, na sua estrutura, o Estado continuou a ser feudal. Hoje, como ontem, os pais
alugam os filhos em troca do perdão de dividas que são inevitáveis devidas aos impostos e
ao alto preço do aluguer da terra para a cultura do arroz. Um país ao mesmo tempo feudal
e capitalista, apadrinhado por uma grande potencia industrial, a Inglaterra, empreendeu a
tarefa árdua de se libertar das cadeias indignas, impostas, na sua sede de conquistas e de
domínio de novos mercados, pelas nações do Ocidente. E conseguiu-o. Em 1868 inicia o
Japão uma nova era, a era de Meiji, a do «governo esclarecido». Mas, como vemos os
japoneses só imitavam da Europa aquilo que as circunstancias impunham. As diligências
diplomáticas, principiadas desde 1872 pelo Príncipe Ivakura, iam dar resultados tr~es
anos depois, quando a Inglaterra e a França retiram as suas tropas de território nipónico.
Mais tarde, a Grã-Bretanha aceita a revisão dos chamados «Tratados Injustos». O Japão, à
medida que ia importando máquinas industriais e comprava navio nos estaleiros
britânicos, contratava engenheiros e técnicos para iniciar a sua industrialização. Não
procurou averiguar se no território do país existiam matérias-primas para alimentar todos
esses maquinismos. E já nessa época o Japão exigia da China a entrega da Coreia e
ambicionava secretamente as ricas regiões da Manchúria. Era o plano imperialista de
Meiji, a que Tanaka se refere, que se começava a executar. O primeiro assalto foi à
Formosa. E, desde então, os governantes japoneses não deixaram um momento de
inquietar a paz no Extremo Oriente. O memorando do barão insular, embora não estivesse
ainda escrito, fixava-se no pensamento de todos os «samurais» e constituía o objectivo
supremo das classes dirigentes nipónicas. Porque negá-lo? Porque recusar-lhe
autenticidade, se uma resenha histórica do Japão moderno não é mais do que, afinal, a
aplicação viva do plano Tanaka?
Com dinheiro, com máquinas, com professores e com engenheiros, a Inglaterra atira o
Japão contra a Rússia czarista. Liga-se até a este país por uma aliança militar que só seria
denunciada muitos anos mais tarde, quando o Japão representava já um perigo, não só
para a Inglaterra e para os Estados Unidos, como para o Mundo inteiro. Mas só nessa
altura é que as grandes potências brancas viram o que representava a ameaça de uma
«japonização» da China…
E os tempos correram. Após a derrota czarista de 1905, que a notável visão política de um
outro Roosevelt diminuiu pelo Tratado de Portsmouth, o imperialismo japonês
assenhoreia-se praticamente da Coreia, que acaba por anexar com a oposição quase total
dos seus habitantes, em 1910. O Japão dera ao Mundo, se excluirmos a ocupação da ilha
Formosa, que é chinesa, e da Coreia, que é coreana, um exemplo admirável do poder de
vontade colectivo, que transforma uma nação fraca numa grande potência. Por certo, sem
o apoio britânico, esta obra não podia realizar-se, mas este facto não pode fazer esquecer
este outro: aparecia, pela primeira vez no Mundo, uma nação asiática e não cristã a tratar
com a América e países da Europa em pé de igualdade. Havia-se desprezado a civilização
da Ásia e as grandes possibilidades dos povos amarelos. As «elites» brancas consideravam
a Europa como única fonte de cultura a irradiar pelo Mundo e a proteger o Mundo. Os
amarelos pouca ou nenhuma diferença faziam dos negros. E surgiu um país a proclamar
que à Ásia estava também reservado um grande papel na direcção do Universo. Povo sem
originalidade, sem civilização própria, o japonês tivera a grande capacidade de adaptar-se
ao seu clima e à sua forma de vida, o mais belo que havia na civilização chinesa e indiana.
Desta amalgama nasceu o que erradamente se chama de civilização nipónica, porque no
Japão nada existe de original. Tudo é cópia e adaptação. E chegara este povo,
intelectualmente o mais pobre da Ásia, para se impor à cultura branca. Foi este o grande
serviço que o Japão prestou aos seus irmãos asiáticos. Foi o seu exemplo que, reflectindose na China, provocou, de certo modo, o levante chinês contra uma dinastia estrangeira e a
criação de um grupo, que mais tarde havia de ser um dos maiores partidos políticos deste
país.
Mas foi efémero este papel simpático dos governantes japoneses. O Japão fora a bandeira
asiática de reivindicações, o lábaro rubro contra a tirania e a opressão exercida sobre
nações e povos por gentes que, com muita razão, os explorados apelidaram de bárbaros.
Breve se iria reunir aos seus antigos adversários para, de comum acordo, partilhar do
banquete imenso que era a divisão da China em esferas de influência.
A participação do Japão na grande guerra de 1914 – 18 ao lado das potências aliadas e
associadas permitiu o desenvolvimento de todas as industrias nipónicas que, depois da
luta, haviam de fazer concorrência à própria Inglaterra e aos Estados Unidos. O Japão, na
grande guerra, limitou-se, apenas, a ocupar as ilhas alemãs mal defendidas no Pacífico e a
desembarcar forças na China para expulsar os alemães das suas concessões nas províncias
de Xantung. Naturalmente, estes territórios deveriam voltar à posse da China, nação
também aliada, mas, contra todos os protestos, o Xantung não regressou ao seu legitimo
proprietário e a China não assinou, por isso, o Tratado de Paz. Triste paz alicerçada em
tantas e tantas injustiças, poucos anos havia de durar!
Era este problema do Xantung que havia de provocar a celebrada reunião dos técnicos
nipónicos para estudar os assuntos da Manchúria e da Mongólia e de que saiu o famoso
plano do barão Tanaka. E é o reforço das tropas nesta província chinesa, em 1928, o
primeiro resultado da leitura e da discussão do documento referido. Mas vejamos, porém,
como os factos se passaram. Os artigos 156.º, 157.º e 158.º do Tratado de Versalhes
transferiram para o Japão todos os direitos alemães no Xantung. O Japão aproveitou-se da
concessão, apadrinhada pela Inglaterra e pela França, para se fixar ali com armas e
bagagens. Só a Conferencia Internacional de Washington, em 1921, representa a primeira
reacção séria a este crescimento de poder que parecia não parar. Já as ilhas sob mandado
da S.D.N. permitiam ao Japão criar bases navais a aéreas de excepcional valor para
eventuais operações militares. Os acontecimentos de hoje justificam inteiramente esta
asserção. A conferência limitou o armamento naval do Japão, determinou a retirada
gradual das suas tropas do Xantung e denunciou a aliança anglo-nipónica que ainda se
encontrava em vigor nessa altura. Foi um sério revés para os interesses imperialistas de
Tóqui. Houve patriotas e «samurais» que fizeram o «harakiri» e houve oficiais fanáticos
que assassinaram ministros e diplomatas acusados de culpados da grande vergonha que
enlutara por todo o Japão. Correu por todos os militaristas e governantes uma onda de
ódio contra os Estados Unidos, promotores da reunião e inimigos dos interesses da classe
dirigente nipónica. A América encontrava-se ainda numa situação mais delicada que a
própria Inglaterra, em risco de perder os mercados de algodão da Índia. Entrechocavam-se
os interesses capitalistas destas três nações e o Japão teve de submeter-se à lei do mais
forte. Também havia já muitos anos que se submetera até à ocupação do país e soubera
libertar-se de tais algemas. Era preciso trabalhar para que o império não morresses
asfixiado, perdidos os mercados do Seul e da Índia e em risco de se lhes negar a venda das
matérias de Samatra, da Austrália e das outras ilhas do Pacífico. Dos gritos de desespero
passou-se às acções reflectidas, aos programas estudados. E surgiu Tanaka e o seu
inconfundível memorando. Tudo o que, a seguir, se sucede no particular da política
externa e militar nipónica tem como base Tanaka. Tanaka e os seus papéis, as suas
percentagens, os seus caminhos-de-ferro e as suas conquistas – representam o Japão
depois de 1929. Tudo gira em obediência ao plano estabelecido naquele documento. E
Tanaka, que os azares da política – dessa política de oposição e desmancha prazeres de
que ele amargamente se queixa – correm da Presidência do Conselho, fica, na penumbra,
quase se desfaz em sombra, a orientar, a dirigir, a mandar, a acarinhar a realização desse
famoso plano que havia de transformar a Ásia, a América e a Europa – o Mundo todo –
numa gigantesca colónia do Japão! E Tanaka tem discípulos, tem partido, não está só a
lutar. Apiam-no Matsuoka, Araki, Suetsugu, Yamamoto – toda a fina flor fascista das quatro
mil ilhas nipónicas.
Resta, apenas, esperar ocasião, aguardar uma boa oportunidade e organizar, organizar,
organizar sempre para que , como um relógio de preço, a máquina não falhe nem nos
campos de combate, nem nas lutas diplomáticas, que se hão-de desenrolar na S.D.N., nessa
S.D.N. que serviu de sepulcro aos seus próprios criadores, cobardes até ao ponto de
recearem a sua própria obra, da sua própria paz!
Tanaka fora demitido por causa do primeiro escândalo da Manchúria, que teve
repercussões universais: o assassínio de Chang-Tso-Lin.
Já antes da ocupação total da Manchúria, em 1931-32, o Japão dominava esta rica
província chinesa. Depois da guerra de 1905, expulsa a Rússia czarista de Porto Artur,
obtivera o reconhecimento pelas potências de privilégios no caminho-de-ferro SulManchu. Cento e trinta quilómetros quadrados ao longo desta via passaram para a posse
nipónica. A companhia ferroviária explorava também altos fornos e propriedades
agrícolas, ao mesmo tempo que construía escolas, hospitais, grandes quartéis para
alojamento de inúmeras divisões do exército. Com esta esplêndida via de penetração e a
aplicação dos modernos processos da técnica, a Manchúria transformou-se numa colónia,
facto de que, aliás, Tóquio não fazia qualquer segredo. Parece estranho que, sendo a
Manchúria chinesa, o governo chinês permitisse estas actividades que limitavam a sua
soberania de Estado Independente. Mas era a China por essa época um Estado
independente. A China vivia numa lenta agonia, numa desagregação interna permanente,
num estado de revolta perpétuo. Era o caos de onde, mais tarde, havia de nascer um
grande movimento de reivindicações nacionais e sociais chefiados por Sun-Yat-Sem. A
dinastia governante era estrangeira e impotente. Os funcionários venais e devassos e ao
povo, esmagado pela fome, não chegara ainda a hora de rebelar-se.
Tanaka negociava com Chang-Tso-Lin, governador da Manchúria, senhor de imenso poder
que dominava o país autonomamente, novas concessões territoriais, novas possibilidades
de penetração nipónica. Não se sabe ainda quais os motivos que levaram a um
rompimento entre o general japonês e o potentado manchu. Sabe-se, apenas, que quando
Chang-Kai-Chek, na sua famosa marcha para o Norte, na primeira campanha de unificação
da China, se aproximava de Pequim, Chang-Tso-Lin procura refugiar-se em Mukden. Um
atentado praticado contra a carruagem em que viajava tira-lhe a vida, e um dos seus mais
íntimos conselheiros, o inglês Putman Weale, afirma que o seu amo fora vitima dos
imperialistas japoneses. Esta declaração causou viva emoção em Tóquio e a oposição
serve-se dela para derrubar Tanaka. Tanaka perde o poder, mas fica a orientar a classe
militarista. Não se importa que o novo governo seja moderado, civil, e que o novo Ministro
dos Estrangeiros venha a público declarar: «Terminou a política agressiva contra a China».
Tanaka sorri e acarinha o seu sonho. Agora, que terminou a colaboração entre os senhores
da Manchúria e o Japão, agora, que a marcha de Chang-Kai-Chek para Pequim parece ter
possibilidades de unificar a China, dar-lhe a noção de que é um Estado moderno, é preciso
agir. Tanaka e os seus amigos dominam o exército, principalmente as forças aquarteladas
em Kuantung e na Coreia, que poucas ou nenhumas satisfações dos seus actos dão ao
Governo, sendo só responsáveis, sendo só responsáveis das suas acções perante o
Imperador.
As hostilidades rebentam. Trata-se possivelmente da primeira guerra de repercussões
internacionais entre a China e o Japão. Os chineses, no seu legítimo direito, estudavam um
plano de construção de um caminho-de-ferro que permitiria ganhar vinte e quatro horas
no trajecto Pequim-Paris, pelo transberiano. Os interesses do Sul-Manchu estavam em
perigo. Em Setembro de 1931, as tropas japonesas encarregadas da vigilância deste
caminho-de-ferro bombardeiam os arsenais chineses de Mukden e ocupam a cidade. A
China apela para a S.D.N., enquanto os japoneses, mais práticos, ampliam a zona de
operações a toda a Manchúria. O plano Tanaka, entregue ao imperador em 1927,
começava a executar-se quatro anos mais tarde. E a S.D.N. envia para o Oriente a comissão
de inquérito Lytton. O resultado desta atitude passiva perante acontecimentos de tamanha
gravidade foi a derrota chinesa. Mas, desde essa altura, a S.D.N. perdeu toda a sua
autoridade como organismo internacional. Foi o primeiro golpe recebido no seu prestígio.
Se se houvesse manifestado forte, se a Inglaterra e a França tivessem o mundo genebrino a
assumir uma posição mais enérgica perante a agressão, se o organismo da paz não tivesse
medo de uma guerra para impor a paz, quem pode adivinhar que evolução levaria o
Mundo?
E Tanaka sorria. O seu dinheiro chegava a Paris e a outras grandes capitais e era suficiente
para comprar certos jornais e certos jornalistas. Elogiou-se o Japão, procurou-se justificar
o acto, glorificou-se a agressão. O Japão era contado em artigos de notável beleza literária
como o país dos sonhos orientais, dos perfumes, das belezas exóticas. Correu mundo a
graciosidade diáfana das suas mulheres e o aspecto varonil e esplêndido dos grandes
descendentes dos «samurais».
Mas, fenómeno estranho, a China resistia! E, para liquidar o incidente o Japão teve que
enviar ao continente um verdadeiro exército. Só depois das batalhas de Xangai, que
Andrée Viollis admiravelmente descreve, a China, vencida e esfarrapada, impotente e
abandonada, assina a Convenção de Tang-Ku, em 1933, aceitando a criação de uma zona
desmilitarizada ao longo da Grande Muralha.
Entrementes, Dohiara, célebre general japonês, chefe de todos os serviços de espionagem
nipónicos na China, consegue raptar de Tien-Tsin, aquele que fora o último imperador da
China e que abdicara em favor da República, e levá-lo para a Manchúria. Chama-se hoje PuYi e foi coroado Imperador do novo estado Manchuco.
As primeiras fases do plano Tanaka estavam concluídas. E quando a Mongólia, de que se
fala também no célebre documento, começava já a sofrer as investidas imperialistas dos
novos senhores da Manchúria, foi precisa uma enérgica declaração soviética para as deter.
Estaline afirmara que a URSS estava resolvida a defender, contra todos os ataques, a
República Popular Mongol. Tanaka deteve os seus movimentos. Para substituir a Mongólia
era necessária a China do Norte. O plano voltaria em breve a funcionar.
Ainda num gesto pobre de consequências, mas procurando limpar uma afronta que caira
sobre todo o organismo, a SDN, em 1933, condena por maioria, com a única excepção do
Sião, o ataque japonês à integridade territorial da China. A resposta foi a saída do Japão, a
pedido do Manchuco (!), da associação de Genebra. E quando o temido e discreto senhor
Avenol solicitou à delegação de Tóquio a restituição das ilhas alemãs sob mandato, que,
desta forma, terminava, Matsuoka respondeu perante toda a assembleia:
- «Que as vão lá buscar, se tiverem coragem para isso!»
O Japão tinha já a Manchúria. Iria dispensar a Mongólia em troca de uma nova agressão
contra as cinco Províncias da China do Norte?
Tanaka sorria. Começava a executar-se o se famoso plano de conquista da Ásia e do
domínio do Mundo. E o general Araki proclamava entusiasmado: «Vamos propagar o
nosso ideal nacional através dos sete mares e dos cinco continentes, mesmo que, para isso,
tenhamos que empregar a força. Somos os descendentes dos deuses, devemos governar o
Mundo».
E Tanaka sorria. O seu famoso plano criava adeptos em todo o Japão. Os generais seus
colegas apoiavam-no, desde a Formosa a Hsing-King, desde Seul a Dairen, desde Kiu-Siu a
Hokaido. Tanaka era o senhor invisível do Japão e o seu plano a Biblia do imperialismo
nipónico.
3º CAPITULO
A HISTÓRIA DO FAMOSO DOCUMENTO
A autenticidade do plano do barão-general Tanaka nunca foi confirmada pelos círculos
japoneses. Tóquio opôs sempre uma negativa formal à existência deste documento. O
celebrado Matsuoka, o mesmo político que assinou em Moscovo o pacto de não-agressão
nipo-soviético, recusou-se em plena assembleia da Sociedade das Nações a aceitar a
existência desse plano e asseverou que ele era devido à engenhosidade de algum chinês
com o objectivo de comprometer as relações internacionais do seu país. Citou um erro do
documento: o barão Tanaka não visitara a Europa após a conclusão do Tratado das Nove
Potências. A viagem efectuara-se, de facto, mas pouco antes de rebentar a grande guerra
de 1914-18. No entanto, Tanaka fora, efectivamente, alvo de um atentado em Xangai, em
1922. O barão permanecera secretamente nas Filipinas, por essa ocasião, onde, segundo
consta, mantivera estreito contacto com determinados emigrantes japoneses. A revista
nipónica Le Japon et les Japonais, de Novembro desse ano, confirma estes factos. É de
admitir que o plano, tal como os chineses o deram a conhecer ao Mundo, não seja
exactamente a cópia do original? O Governo de Naquim comprou-o, por uma importância
que se desconhece, a determinado indivíduo de nacionalidade japonesa. Este individuo,
para beneficiar de circunstâncias atenuantes, teria ele próprio alterado aqui e ali o texto
para, no caso de ser descoberto, poder desculpar-se, alegando que vendera um documento
truncado? Ou o próprio Governo Chinês, de acordo com o vendedor, introduziu-lhe
alterações mínimas para evitar que as suspeitas recaíssem sobre o seu agente? Não se
pode, por enquanto, como é de calcular, responder com segurança a estas interrogações.
Sabe-se só que uma cópia, fiel ou infiel, do Plano Tanaka foi comprada pela China a um
japonês. Este deveria ser, certamente, uma personalidade altamente colocada no
Ministério nipónico por onde estes assuntos correm.
O certo é que o plano chegou às mãos do governo chinês. Este fez dele o melhor uso
possível, denunciando ao Mundo o grande perigo que corria e procurando obter auxílio
das potências para a sua própria defesa.
As provas da existência do plano do barão Tanaka são inúmeras. O documento começou a
ser divulgado nos círculos chineses a partir de 1929, sem ter sido objecto de qualquer
desmentido japonês. Só, porém, em 1931, a revista The China Critic, no seu número de 24
de Setembro, o publica na integra. A sua tradução foi inserta na Europa pelos jornais
Morning Post, de Londres, e Journal de Genèvre e pela revista Internationale Communiste,
tradução francesa. Nessa altura, os representantes diplomáticos do Japão protestaram
contra o crédito que se dava a um documento que consideravam totalmente inventado.
Mas se não nos quisermos reportar apenas aos factos registados na Manchúria, que
constituem ainda a melhor prova da sua autenticidade, encontramos na obra a «Luta entre
Amarelos e Brancos», escrita em 1933, pelos chineses T.C.Wang e S. Feng, algumas
considerações que merecem o melhor exame:
«em Novembro de 1932 – escrevem os autores – quando o Dr. Wellington Koo,
representante da China, se referia ao citado memorial no conselho da Sociedade das
Nações, o Sr. Matsuoka, representante do Japão, protestou de novo contra o facto,
afirmando que esse documento fora fabricado em todos os seus pormenores pelos
chineses, esquecendo ele próprio o que tinha dito no seu livro A Manchúria e a Mongólia
em movimento, que o documento fora escrito por um japonês».
Matsuoka desmentia-se a si próprio, procurando tirar, na assembleia de Genebra, o efeito
causado pelas revelações do delegado chinês. A venalidade de um funcionário nipónico
levara o Japão a uma situação internacional muito grave. Boas razões tinha o general
Tanaka para afirmar: «Desta forma é provável é provável que os chineses empreguem
aventureiros japoneses para desvendar os novos segredos, de maneira que, antes de um
projecto ser posto em execução, é levado ao conhecimento dos chineses, e, em seguida, ao
mundo inteiro».
As referências ao plano Tanaka não são apenas feitas pelos chineses ou pelos círculos antinipónicos. Encontram-se aqui e ali, na imprensa de Tóquio com maiores
responsabilidades. Os próprios japoneses não souberam guardar um rigoroso segredo
sobre o documento. Assim, o Chyngai-Shogno-Shirpo, ou o jornal do comércio nipoestrangeiro, que se publica em Tóquio, escrevia em 31 de Julho de 1931, sobre os
incidentes da Manchúria: «entre os documentos enviados ao governo imperial pelas
organizações políticas, pode citar-se o memorial secreto do general Tanaka, referente à
política do Japão na Manchúria e na Mongólia. Neste documento encontra-se a seguinte
passagem: «Se conseguirmos aumentar até dois milhões e meio o número de coreanos na
Manchúria, poderemos incitá-los a actividades militares. Em caso de malogro, e sob o
pretexto de os reprimir, iremos em sua ajuda».
A propósito da crise económica do Japão e dos problemas das suas colónias, o grande
jornal japonês Central Review, de Tóquio, referia-se também, em Setembro de 1931, a esta
mesma passagem do plano Tanaka, que é, por seu turno, exactamente igual ao que se
encontra no documento denunciado pelo governo chinês.
O facto ainda mais extraordinário, segundo os autores da Luta entre Amarelos e Brancos, é
que uma passagem do memorial em questão foi inserta numa publicação oficial da
Companhia dos Caminhos de Ferro Sul – Manchu. Sobre este problema da construção de
uma via-férrea entre Kirin e Kwainei escreve-se: deitemos agora um olhar sobre os
interesses económicos ao longo desta linha. Segundo investigações escrupulosas do nosso
Estado Maior e do SMR a reserva total de madeira eleva-se a 200 milhões de toneladas. Se
se cortar cada ano um milhão de toneladas, enviando-as para o nosso país, as reservas
chegarão para um período de 200 anos. Isto evitaria a importação de madeira americana
que nos custa cada ano 80 a 120 milhões de yens. Ainda que a nossa informação seja bem
fundamentada, não a devemos dar a conhecer ao mundo, porque a Rússia ou a China,
sabendo que queremos explorar as florestas existentes ao longo da linha em questão e que
recebemos tantas quantidades de madeira da América, procurariam a intervenção dos
Estados Unidos para evitar a construção desta linha».
Certamente a publicação no folheto da SMR «O valor florestal da Manchúria perante o
Japão» só foi permitida depois de o plano Tanaka não constituir já segredo para esferas
interessadas e ao governo japonês não interessar, nessa altura, o seu desmentido. Como
dissemos, o memorial foi conhecido na China em 1929 e «O valor florestal da manchúria
perante o Japão» é datado de Março de 1930. A publicação de uma passagem do referido
documento numa publicação oficial nipónica parece poder anular os desmentidos de
Matsuoka na SDN e as declarações dos diplomatas nipónicos acreditados nas capitais
europeias. No entanto, segundo se julga, «O valor florestal da Manchúria perante o Japão»
não se destinava ao conhecimento público. Era, melhor, um folheto com indicações
secretas para os funcionários do SMR. De outra forma não se justificava a sua publicação,
visto os seus autores manifestarem a opinião de que era um perigo a China ou a Rússia
terem conhecimento do valor das florestas manchus. Este documento deve ter chegado a
Naquim por forma idêntica à que ali chegou o plano Tanaka.
Estas referencias feitas ao plano Tanaka pela imprensa e por publicações oficiosas do
Japão, se não constituem uma prova flagrante da autenticidade do famoso documento são,
pelo menos, indicações seguras da sua existência. As suas primeiras etapas foram já
realizadas. E quem dele tiver conhecimento pode, com muito mais facilidade, compreender
os problemas de ontem e de hoje em todo o Extremo Oriente e, em especial, na China.
Assistimos à agressão às Três Províncias do Leste, a Manchúria, à criação do estado
fantoche do Manchuco (que a Polónia foi a primeira nação a reconhecer; quanta
actualidade tem agora este gesto do antigo governo da Varsóvia) à ocupação do Jehol, à
nova guerra de 1937, ao domínio virtual de toda a China do Norte e às propostas repetidas
de uma paz inaceitável pelo governo do Principe Konoye. Tudo isto faz parte do plano. É a
realização, por etapas, do domínio do Mundo!
Mas a ideia de um universo japonês não é apenas preconizada por Tanaka. Os grandes
chefes e militaristas nipónicos se não apresentaram ao seu imperador um pormenorizado
memorial sobre os objectivos do Japão, têm feito declarações que não deixam dúvidas
sobre os seus secretos desígnios sobre a Ásia e o Mundo. Ainda recentemente, o antigo
director dos serviços de propaganda do Ministério dos Estrangeiros de Tóquio, Shiratori,
embaixador em Roma, escrevia, num artigo intitulado «O Tríplice Pacto e o Mundo de
Amanhã», numa revista em Bucareste, em 1940, que «os oito cantos do mundo deviam
estar sob o mesmo tecto». Isto queria dizer que todo o Mundo devia reunir-se sob o
domínio de um único imperador. O imperador, como é natural, seria Mikado.
É evidente que os arranjos políticos com a Alemanha e a Itália – como tudo isto está já a
pertencer à história! – determinaram uma linguagem mais comedida em relação às
ambições nipónicas. Assim nasceu a Nova Ordem na Ásia Oriental, que não é mais do que
uma adaptação às realidades do célebre plano tanaka. E Shiratori, para diminuir a
impressão que poderia causar junto dos seus aliados o Mundo sob o domínio japonês,
limita as suas exigências à criação de uma Ásia japonesa. E escreve:
«O principio individualista e democrático será excluído da Ordem Nova, que fará da
concepção totalitária o principio fundamental da sociedade humana. A liberdade e a
igualdade do individuo, os direitos do homem, o direito de auto-determinação dos povos,
devem ser olhados de uma forma diferente e perderão necessariamente o valor que hoje
se lhes atribui».
No caso particular das oprações na China há escritores japoneses que atribuem ao
nacionalismo chinês as causas da guerra, afirmando que foi ele que colocou o governo em
condições de resistir à agressão… um professor de ciências políticas da escola Militar de
Tóquio chegou a afirmar:
« o objectivo da guerra japonesa contra a China é organizar a solidariedade da Ásia
Oriental sob a direcção do Japão. O nacionalismo do Kuomitang contraria este programa.
Se a China continuar a ser um Estado nacional, independente e soberano, disputará ao
Japão a sua posição de dirigente da Ásia Oriental».
O general Araki, já aqui citado, depois de ter afirmado a Andrée Viollis «somos os
descendentes dos deuses, devemos governar o Mundo», acrescentou:
«Somos a primeira potência asiática e devemos dirigir a Ásia, sacrificando para isso até à
última parcela das nossas forças nacionais. Os brancos fizeram das potências asiáticas
simples e verdadeiros objectos de opressão. O Japão imperial não deve nem pode deixar
por mais tempo esta impudência sem castigo. O nosso país propagará o seu ideal através
dos sete mares e dos cinco continentes mesmo que, para isso, tenha que empregar a força.
Mas para preparar a conquista do Mundo temos, primeiro, de nos apossar das matérias
primas da China».
Estas expressões parecem ter sido extraídas da obra de Tanaka. Não são. São declarações
do general Araki, um dos principais chefes do militarismo japonês. Pode, depois destas
transcrições julgar-se que o plano Tanaka foi inventado por um chinês para prejudicar o
bom nome do Japão no concerto das grandes nações do Mundo? O plano do general barão
Tanaka existe e cumpriu-se à risca até o aparecimento de dois factores, quase inesperados,
que alteraram e apressaram profundamente a evolução social e política do Mundo: a
resistência chinesa e a guerra mundial.
A China resiste ao embate dos exércitos nipónicos desde 1937. Não se sabe ainda onde foi
encontrar poder para se manter na luta, sofrendo grandes reveses, aceitando derrotas
quase decisivas. A China estava desramada e só. Não tinha espingardas nem canhões. E
resistiu. E a sua resistência representou a primeira sombra negra à realização do sonho de
domínio do Mundo pelo Japão.
4º CAPÍTULO
TEXTO DO PLANO TANAKA
O Plano Tanaka
Memorando apresentado ao imperador do Japão em 25 de Julho de 1937
Depois da guerra europeia, os interesses políticos e económicos do Japão encontram-se em
precárias circunstâncias. Isto deve-se ao facto de não termos sabido explorar os nossos
privilégios especiais na Manchúria e na Mongólia e realizar completamente os nossos
direitos já adquiridos. Mas, desde que ocupo o cargo de primeiro-ministro, informei-me
especialmente sobre o assunto para salvaguardar os nossos interesses nessas regiões e
aproveitar todas as ocasiões para ali favorecer a nossa expansão. Tais disposições não
poderiam ser tomadas sem cuidado especial. Desde o dia em que comecei a apoiar uma
política positiva perante a Manchúria e a Mongólia, na qualidade de simples cidadão
desejei ardentemente vê-la realizada. Foi para reunir todos os planos para a colonização
do Extremo Oriente para o desenvolvimento do nosso império continental que tivemos
uma conferência especial durante 11 dias, desde o dia 27 de Junho até ao dia 7 de Junho.
Todos os funcionários, civis e militares, com conhecimentos da Manchúria e da Mongólia,
assistiram à reunião. As resoluções seguintes são o resultado desta conferência.
Submetemo-las respeitosamente à consideração de Vossa Majestade.
Considerações gerais
As reuniões da Manchúria e da Mongólia compreendem as províncias de Fengtien, Kirin e
Heilung-Kiang e a Mongólia Exterior e Interior. Representam 119.096 quilómetros
quadrados com uma população de 28 milhões de habitantes. Este território é três vezes
maior, em extensão, do que o nosso império, exceptuando a Coreia e a Formosa, mas a sua
população não atinge um terço da nossa. A fraca densidade de população não é o único
atractivo que oferece este país: as suas riquezas florestais, minerais e agrícolas não têm
rival no Mundo. Para explorar estas riquezas e eternizar a nossa glória nacional, criámos a
Companhia do Caminho de Ferro do Sul da Manchúria. Os nossos investimentos totais da
nossa empresa em caminhos-de-ferro, em construções navais, em minas, na exploração de
florestas, em fábricas de aço, em agricultura e em criação de gado – projecto «soit disant»
destinado ao benefício mútuo da China e do Japão – elevam-se a 440 milhões de yens. É,
verdadeiramente, o maior de todos os investimentos de uma única empresa e esta
organização é a mais forte do nosso país. Sendo a companhia já autorizada a exercer
funções diplomáticas, de polícia e outros cargos administrativos correntes, de maneira a
realizar a nossa política imperial, ela representa uma organização particular que possui
exactamente os mesmos poderes que os do governo-geral da Coreia. Este único facto
chega para mostrar os interesses consideráveis que possuímos na Manchúria e na
Mongólia. Por consequência, a politica dos governos sucessivos perante estes dois países,
depois da era Meiji, é fundada sobre estas instruções, elaborando e completando
continuamente o desenvolvimento do novo império continental para facilidade da nossa
glória nacional e prosperidade das nossas futuras gerações.
Infelizmente, depois da guerra europeia, houve alterações contínuas nos assuntos
externos e internos. As autoridades das Três Províncias do Leste acordaram também e
procuram gradualmente reconstruir e desenvolver a sua indústria, seguindo o nosso
exemplo. Estes progressos são impressionantes. Afectaram o desenvolvimento da nossa
influencia de uma maneira muito grave e causaram-nos já tantos prejuízos que todos os
novos objectivos na Manchúria e na Mongólia tentados pelos nossos sucessivos governos
se malograram. De mais, a restrição imposta pelo Tratado das Nove Potências, assinado
durante a conferência em Washington, reduziu os nossos direitos especiais e os nossos
privilégios na Manchúria e na Mongólia a tal ponto que já não temos ali liberdade de acção.
A existência do nosso país está ameaçada. A menos que estes obstáculos não sejam
afastados, a nossa existência nacional será precária e a nossa força nacional deixará de se
desenvolver. Por outro lado, as riquezas naturais estão acumuladas na Manchúris do Norte.
Se não tivermos o direito de ali penetrar é evidente que não poderemos tocar nas riquezas
deste país. Até as possibilidades da Manchúria do Sul que obtivemos em consequência da
guerra sino-japonesa ficarão gravemente limitadas pelo Tratado das Nove Potências. O
resultado é que, enquanto o nosso povo não pode emigrar para a Manchúria, aumenta o
número de chineses que lá se fixam todos os anos, número que atinge já muitos milhões.
Os chineses puseram em perigo todos os nossos direitos adquiridos na Manchúria e na
Mongólia a tal ponto que o excedente anual da nossa população (800.000 pessoas) já não
encontra lugar para viver. Em consequência, somos obrigados a admitir o malogro do
nosso esforço para equilibrar a nossa população e as possibilidades do seu abastecimento.
Se não encontrarmos um meio de deter imediatamente o aumento da emigração chinesa, o
número desta ultrapassará 6 milhões em cinco anos. Neste momento encontramos as
maiores dificuldades na Manchúria e na Mongólia.
Recordamos que, na altura em que o Tratado das Nove Potências foi assinado, limitando a
nossa actividade na Manchúria e na Mongólia, a opinião pública estava muito excitada. O
Imperador Taisho convocou a conferência de Yamagata e de outros funcionários (oficiais
do exército e da armada) para se encontrar um meio capaz de neutralizar este novo
compromisso. Fui enviado à Europa e à América para sondar secretamente a atitude dos
homens de Estado eminentes perante este tratado. Estavam todos de acordo em que ele
fora devido à iniciativa dos Estados Unidos. As outras potências que o assinaram estavam
dispostas a aceitar o aumento da nossa influência na Manchúria e na Mongólia a fim de
que pudéssemos proteger o comércio e a colocação de capitais. Pessoalmente, esta era a
atitude dos homens de Estado da Inglaterra, da França e da Itália. E podia-se contar com a
sinceridade das suas opiniões. Infelizmente, no momento em que nos encontrávamos na
altura de iniciar a nossa política e de denunciar o Tratado das Nove Potências, denuncia
feita com o consentimento das individualidades que encontrei no decurso da minha
viagem, o governo do partido Seiyukai caiu e a realização da nossa política ficou
comprometida. Verdadeiramente, foi um grande prejuízo! Depois de ter conferenciado
com os representantes das potências sobre o desenvolvimento da Manchúria e da
Mongólia, regressei ao Japão, via Xangai. No cais desta cidade, um chinês atentou contra a
minha vida. Uma americana foi ferida, mas a protecção divina dos meus imperadores
salvou-me. Parece que a vontade divina era que eu ajudasse Vossa Majestade a inaugurar
uma era nova no Extremo Oriente e a desenvolver o novo império continental.
As três províncias do Este (a Manchúria) constituem um país politicamente imperfeito do
Extremo Oriente. Para a nossa própria protecção e para a dos outros, o Japão só poderá
afastar as suas dificuldades na Ásia Oriental desde que adopte uma politica de ferro e fogo.
Mas, iniciando esta política ser-nos-á preciso fazer frente aos Estados Unidos, porque a
China, cuja política é de combater o veneno com o veneno vai voltar-se contra nós. No futuro,
se quisermos dominar a China, precisamos primeiro de aniquilar os Estados Unidos, como no
passado fizemos à Rússia. Mas, para conquistar a China, precisamos primeiro de conquistar a
Manchúria e a Mongólia. Para conquistar o Mundo inteiro a conquista da China é uma
condição preliminar. Se conseguirmos conquistar a China, os outros países da Ásia e dos
mares do Sul sujeitar-se-ão ao nosso domínio. Nessa altura, o Mundo verá que a Ásia Oriental
nos pertence e não ousará mais violar os nossos direitos. Este é o projecto que o imperador
Meiji nos legou e cuja realização é essencial à nossa existência nacional
O Tratado das Nove Potências é inteiramente uma expressão do espírito de rivalidade
comercial. É intenção da Inglaterra e da América esmagar a nossa influência na China sob o
peso das suas riquezas. A redução dos armamentos proposta é apenas um meio para
limitar a nossa força militar, tornando assim impossível a nossa conquista da China. Para
evitar que todas as riquezas da China fiquem inteiramente à nossa disposição, a Inglaterra
e a América esperam fazer ruir todos os nossos projectos. E, apesar disto o partido
Minseito dava grande importância a este tratado e apoiava-se mais no nosso comércio que
nos nossos direitos na China. É uma política falsa – uma política de suicídio nacional. A
Inglaterra, tendo a Índia e a Austrália para lhe fornecerem produtos alimentares e
matérias-primas, pode permitir-se falar de questões comerciais. Acontece o mesmo com os
Estados Unidos aos quais o Canadá e a América do Sul fornecem o que necessita. Podem
dedicar todas as energias de que dispõem ao desenvolvimento do seu comércio na China,
para enriquecerem. Mas, no Japão, a alimentação e as matérias-primas diminuem em
relação às necessidades da sua população. Se colocamos as nossas esperanças no
desenvolvimento do nosso comércio, eventualmente seremos vencidos pela Inglaterra e
pela América, que possuem uma força económica preponderante. No fim de contas, nada
obteremos. O que há de mais perigoso ainda é o dia em que a China possa despertar. Mesmo
no decurso destes últimos anos de lutas intestinas, o povo chinês pode ainda trabalhar
pacientemente e pode imitar e substituir os nossos produtos de uma forma prejudicial ao
desenvolvimento do nosso comércio. Tendo em conta que os chineses são os nossos únicos
clientes precisamos de nos precaver contra o dia em que a China se una ou que as suas
indústrias se tornem prósperas. Os americanos e os europeus fazem-nos concorrência; o
nosso comércio está arruinado. A proposta do partido Minseito de apoiar o Tratado das
Nove Potências e de adoptar uma política comercial perante a Manchúria é, nada menos
que uma política de suicídio.
Considerando as condições actuais e as possibilidades do nosso país, a nossa melhor
política é tomar medidas positivas para obter direitos e privilégios na Manchúria e na
Mongólia. Nestes países, há todas as possibilidades para nos colocarmos em forma de
desenvolver o nosso comércio. Isto deterá não só o desenvolvimento industrial da China,
mas também a penetração das potências europeias. É esta a nossa política possível.
O meio de adquirirmos verdadeiros direitos na Manchúria e na Mongólia consiste em nos
servirmos dessas regiões como base para a penetração no resto da China, sob o pretexto
de comércio. Armados destes direitos já adquiridos, dominaremos todas as fontes de
receita do país. Tendo as possibilidades de toda a China à nossa disposição procederemos
à conquista da Índia, dos arquipélagos dos Mares do Sul, da Ásia Menor, da Ásia Central e
da própria Europa. Se a raça do Yamato se quiser distinguir na Ásia continental, o domínio
da Manchúria e da Mongólia é a primeira acção a impor-se. O êxito final pertence ao país
que for senhor do reabastecimento: a prosperidade industrial só é possível nos países que
possuem matérias-primas e o pleno desenvolvimento de uma potência nacional só pode
dar-se numa nação que ocupe um grande território. Se continuarmos a manter uma
política positiva com o objectivo de aumentar os nossos direitos na Manchúria e na China,
teremos todas as condições que fazem uma grande potência. Acresce que o excedente
anual de 700.000 indivíduos verificado na nossa população tem também de ser tomado em
consideração. Se quisermos iniciar uma política nova e assegurar a prosperidade
permanente do nosso império, o único meio é uma política positiva perante a Manchúria e
a Mongólia.
A – A Manchúria e a Mongólia não são territórios chineses
Historicamente falando, a Manchúria e a Mongólia, não fazem parte nem do território da
China nem das suas possessões. O Dr. Yano fez um estudo profundo sobre a história da
China e chegou à conclusão de que a Manchúria e a Mongólia nunca fizeram parte do
território chinês. Este facto foi anunciado ao Mundo sob a autoridade da Universidade
Imperial. A exactidão das investigações do Dr. Yano é tal que nunhum sábio chinês a
desmentiu. Infelizmente, o nosso governo reconheceu abertamente a soberania da China
sobre estes domínios durante a nossa guerra com a Rússia, e, uma vez mais na Conferencia
de Washington, assinando o Tratado das Nove Potencias. Em consequência destes dois
erros da nossa parte a soberania da China sobre a Manchúria e a Mongólia ficou
estabelecida nas relações diplomáticas e os nossos interesses sofreram com isso muito
seriamente. Embora se diga que, no passado, a China era constituída por uma república de
cinco raças, todavia o Tibete, o Turquestão, a Manchúria e a Mongólia ficaram sempre
como domínios especiais e autorizados os seus próprios príncipes a exercer as suas
funções tradicionais. Por consequência, a soberania sobre estes domínios ficou, na
realidade, nas mãos destes príncipes. Quando a ocasião se apresentar, faremos conhecer
ao Mundo esta verdade. Nós devemos também penetrar na Mongólia Exterior e Interior a
fim de reconstituirmos o continente. Enquanto os príncipes mantiverem nesses países a
sua antiga forma de governo, os direitos de administração estão nas suas mãos. Se
quisermos penetrar nestes territórios devemos tratá-los como soberanos e negociar com eles
para adquirir direitos e privilégios. Não nos faltarão, para isso, esplêndidas ocasiões, e a
nossa influência nacional aumentará assim rapidamente.
B- Política positiva na Manchúria
Quanto aos direitos na Manchúria, devemos tomar medidas energéticas fundamentadas
sobre os «21 Pedidos» e assegurarmo-nos das seguintes condições para salvaguardar mais
direitos do que aqueles que adquirimos até agora.
1º - Quando o contrato de aluguer por trinta anos estiver a expirar devemos conseguir
prolongar o prazo pelo tempo que desejarmos. Da mesma forma deve ser-nos reconhecido
o direito de alugar terrenos para usos comerciais e agrícolas.
2º. – Os súbditos japoneses terão o direito de viajar e habitar na Mongólia Oriental e de
participar nos negócios comerciais e industriais. A China será obrigada a conceder-lhes
este privilégio até com prejuízo das leis chinesas. Por outro lado, os súbditos japoneses
não serão sujeitos a imposições ilegais.
3º. – Devemos obter o direito de explorar as 19 minas de ferro e de carvão em Fentien
(Mukden) e Kirin e também de explorar as florestas.
4.º - Devemos conseguir a prioridade para a construção de caminhos-de-ferro e conceder
empréstimos para esse fim na Manchúria do Sul e na Mongólia Oriental.
5º. – Precisamos de aumentar o número de conselheiros políticos, financeiros e militares
japoneses e também de instrutores militares. Precisamos ainda de conseguir a prioridade
para a colocação de novos conselheiros.
6º. – Direitos de polícia sobre os coreanos na China.
7º. – O prazo de administração e do desenvolvimento do caminho de ferro de Kirin a XangXun deve prolongar-se até 99 anos.
8º. – O direito exclusivo da venda de certos produtos, e a prioridade de exportação, por
mar, para a Europa e para a América.
9º. – Direito do exclusivo de exportação das minas de Heilung-Kiang.
10º. – Direito de construir os caminhos de ferro de Kirin-Huening e Xang-Xun-Talai.
11º. – No caso de a China ter necessidades de dinheiro para comprar o caminho-de-ferro
do Leste Chinês, o governo japonês deve conseguir o direito de prioridade sobre os
necessários empréstimos à China.
12º. – O direito de porto em Antong e em Yn Keu e o direito de transito directo.
13º. - O direito de colaboração, criando o Banco Central da Manchúria.
14º. – O direito de pastagem.
C – Política positiva perante a Mongólia Interior e Exterior
Como a Manchúria e a Mongólia se encontram ainda em poder dos príncipes antigos é
preciso que, no futuro, reconheçam as suas qualidades de soberanos e os sustentemos de
poder. É por esta razão que a filha do general Fukushima, governador do Kuantung, arrisca
a sua vida no seio do povo mongol de Tushiyeh para se tornar conselheira do príncipe
reinante e servir assim o governo imperial. Como a concubina do Príncipe Regente é a neta
do Príncipe Manchu Su, as relações entre o nosso governo e o Príncipe mongol tornaramse bem íntimas. Os príncipes da Mongólia Exterior e Interior testemunharam o respeito
sincero por nós, principalmente depois de os termos seduzido com vantagens particulares
e a nossa protecção. No presente, há 19 oficiais japoneses reformados na Casa de
Tushiyeh. Já adquirimos os direitos de monopólio para as compras de lãs, bens
imobiliários e minas. Todavia, enviamos para ali outros oficiais reformados. É preciso que
se vistam à chinesa para não chamar a atenção do governo de Mukden. Dessiminados pelos
territórios dos príncipes poderão empregar-se na agricultura, na criação de animais
domésticos e no comércio de lãs. Quanto aos outros principados, podemos empregar os
mesmos métodos que utilizamos em Tushiyeh. Por toda a parte colocaremos os nossos
oficiais reformados para dominar os negócios dos príncipes. Quando um grande número dos
nossos representantes tiverem emigrado para a Mongólia Exterior e Interior comparemos
terras por um décimo do seu valor e começaremos a cultivar o arroz onde for possível
fazê-lo a fim de aliviar o nosso deficit alimentar. Nas terras onde não for possível a cultura
do arroz devemos desenvolver a criação de animais domésticos e de cavalos para prover
as nossas necessidades militares. A criação de animais domésticos pode servir para a
fabricação de conservas que poderemos exportar para a América e para a Europa. As peles
servirão também para satisfazer as nossas necessidades. Quando a ocasião se apresentar, a
Mongólia Exterior e Interior pertencer-nos-ão. Como os direitos de soberania não se
encontram ainda claramente definidos e os governos chinês e soviético tê as suas atenções
ocupadas noutros problemas, temos, desta forma, a ocasião de estabelecer ali, com
tranquilidade, a nossa influência. Uma vez que tenhamos comprado a maior parte das terras
já não haverá ocasião de se perguntar se a Mongólia pertence aos japoneses ou aos mongóis.
Ajudados pela nossa força militar, realizaremos a nossa política positiva. A fim de realizar
este plano, precisamos de empregar a partir deste ano 1.000.000 de yens dos «fundos
secretos» do orçamento do Ministério da Guerra, de forma que se possa enviar 400 oficiais
reformados disfarçados em professores e em cidadãos para a Mongólia Exterior e Interior a
fim de se misturarem com o povo, ganhar a confiança dos mongóis e obter deles concessões
de criação de minas e para a protecção dos nossos interesses nacionais para os próximos cem
anos.
D – Encorajamento e protecção da emigração coreana
Depois da anexação da Coreia temos tido poucas contrariedades. Mas a declaração do
presidente Wilson sobre o direito de os povos disporem livremente de si próprios, feita
depois da guerra europeia, foi como uma revelação divina aos povos oprimidos. Não houve
excepção entre os coreanos. O espírito de revolta alastrou no país inteiro. Ao mesmo
tempo, por causa da liberdade que gozam na Manchúria em consequência de um
defeituoso serviço de polícia e por causa da riqueza do país, há actualmente ali 1.000.000
de coreanos. Este inesperado desenvolvimento é de felizes efeitos para a nossa nação. Sob
o ponto de vista económico e militar, este facto aumentou a nossa influencia. Sob outro
ponto de vista, isto deu novas esperanças à administração dos coreanos. Eles servem ao
mesmo tempo de guardas avançadas para a colonização de campos virgens e para
estabelecer contacto com o povo chinês. Por outro lado, podemo-nos utilizar dos coreanos
naturalizados chineses para a compra de terras e para a cultura do arroz, ao mesmo tempo
que os poderemos ajudar financeiramente por intermédio da Sociedade Cooperativa e pela
Companhia do Caminho de Ferro do Sul Manchu, etc., de maneira que eles possam servir à
nossa protecção económica. Isto aliviará o nosso problema de alimentação e abrirá, ao
mesmo tempo, um novo campo de colonização. Os coreanos naturalizados chineses são
chineses apenas no nome: eles voltarão eventualmente ao nosso rebanho. São diferentes
dos japoneses naturalizados na Califórnia e na América do Sul. Quando o seu número
atingir os dois milhões e meio poderão ser colocados em diversas actividades militares,
em caso de necessidade, e sob o pretexto de repressão dos coreanos nós poderemos
conceder-lhes auxílio. Como todos os coreanos não são naturalizados chineses, o Mundo
não saberá distinguir se são os coreanos chineses ou os coreanos japoneses que
provocaram os tumultos. Poderemos dizer que, neste caso, num lado se põe o ramo,
noutro se vende o vinho.
Naturalmente, quando não nos for possível utilizar os coreanos para tais objectivos,
precisamos de ter em conta que os chineses os podem, igualmente, empregar contra nós.
Mas a Manchúria está mais sob a nossa jurisdição que sob a chinesa. Se os chineses
quiserem utilizar os coreanos contra nós, teremos um pretexto de guerra contra a China.
Neste caso, o factor mais temível é a Rússia soviética. Se os chineses utilizarem os
vermelhos para influenciar os coreanos, a sorte do nosso povo mudará e ficaremos
ameaçados por um grande perigo. Por consequência, o Governo actual toma todas as
precauções contra esta eventualidade. Se nos quisermos servir dos coreanos para o
desenvolvimento do nosso império continental, é preciso ter mais cuidado do que nunca
com a sua protecção e seus regulamentos. Devemos aumentar a nossa força de polícia na
Manchúria do Norte ao abrigo do Tratado de Mitzuya, de forma que possamos proteger os
coreanos e ajudá-los na sua rápida penetração do país. À companhia para o
desenvolvimento oriental Totuku Kaishu e a Companhia do Caminho de Ferro Sul Manchu
devem fornecer-lhes auxílio financeiro. É preciso criar-lhes condições particularmente
favoráveis , de maneira que, por eles, só possamos desenvolver a Manchúria e a Mongólia e
monopolizar os direitos comerciais. O fluxo de coreanos nestes territórios é de uma
importância tão evidente, tanto sob o ponto de vista militar como sob o ponto de vista
económico, que o Governo imperial nãon deverá deixar de o encorajar. Isto criaria novas
oportunidades ao nosso império. Como o efeito da convenção de Lausing-Ishii foi anulado
pela Conferencia de Washington, só podemos salvaguardar os nossos interesses pelo
desenvolvimento favorável devido à presença de muitos milhares de coreanos na
Manchúria. Não há possibilidades de levantar qualquer objecção, sob o ponto de vista
internacional, a este procedimento.
E – Caminhos-de-ferro e desenvolvimento do nosso novo continente
Os meios de comunicação são o factor principal da defesa de um país, a garantia da vitória
e a fortaleza do desenvolvimento económico. A China possui apenas cerca de 7.300 milhas
de vias-férreas, das quais 3.000 milhas existem na Manchúria e na Mongólia,
representando as duas quintas partes da totalidade. Tendo em conta a grandeza da
Manchúria e da Mongólia e a abundância dos seus produtos naturais, estes países devem
ter, pelo menos mais de cinco ou seis mil milhas de vias-férreas. É lamentável que os
nossos caminhos-de-ferro estejam em grande parte na Manchúria do Sul e não possam
chegar às fontes de riqueza das regiões setentrionais. Por outro lado, existem muitos
chineses que vivem na Manchúria do Sul e prejudicam os nossos projectos militares e
económicos. Se desejarmos desenvolver as fontes naturais do país e reforçar a nossa
defesa nacional, precisamos de construir caminhos-de-ferro na Manchúria do Norte. Com a
construção de vias-férreas poderemos enviar mais japoneses para a Manchúria do Norte.
Desta região poderemos dirigir o desenvolvimento económico e político na Manchúria do
Sul e reforçar a nossa defesa nacional no interesse da paz no Extremo Oriente. Demais, o
caminho-de-ferro sul manchu foi construído principalmente para objectivos económicos.
Faltam-lhe linhas de cintura necessárias para a mobilização militar. De hoje em diante
precisamos de ter os objectivos militares como o nosso principal pensamento e construir
linhas de cintura para envolver o coração da Manchúria e da Mongólia de forma que
possamos iniciar os desenvolvimentos militares, políticos e económicos da China, de um
lado, e deter a penetração da influência da Rússia, por outro. Esta é a chave da nossa
política continental.
Há duas linhas principais na Manchúria e na Mongólia. São o caminho-de-ferro do Leste
chinês e o caminho de ferro Sul manchu. O caminho-de-ferro construído pela China tornarse-á, certamente, muito poderoso, no futuro, sendo ajudado pelas receitas financeiras do
governo provincial de Kirin. Com as receitas combinadas das províncias de Mukden e de
Heilung Kiang, os caminhos-de-ferro da China desenvolver-se-ão num grau bastante
superior ao nosso caminho-de-ferro sul manchu. Disto resultará, inevitavelmente, uma
formidável concorrência. Felizmente, as condições financeiras da província de Mukden
estão num verdadeiro caos do qual não poderão sair sem o nosso socorro. É uma grande
vantagem para nós. Devemos tomar enérgicas medidas até que o nosso objectivo, o
desenvolvimento ferroviário, seja atingido. Por outro lado, podemos depreciar o valor das
notas do Banco de Mukden à nossa vontade. Nesse caso, a bancarrota em Mukden seria
apenas uma questão de tempo. O desenvolvimento da Manchúria e da Mongólia já não
estaria ao alcance das suas possibilidades. Mas é preciso ter ainda em conta o caminho de
ferro do Leste chinês. Forma um T com o caminho-de-ferro sul manchu. Embora este
sistema seja cómodo p+ara nada serve do ponto vista militar. Se a China construir linhas
férreas de alimentação para o caminho de ferro Leste chinês é preferível que elas sejam
paralelas no sentido Leste-Oeste. Mas tomando o caminho-de-ferro sul manchu como via
principal, devemos fazer todo o possível para que elas sejam construídas no sentido NorteSul. No próprio interesse dos chineses, há também a vantagem de que sejam assim
construídas. Por consequência, o nosso interesse não está necessariamente em conflito
com o dos chineses. Presentemente, que a Rússia perde a sua influência e que se mostra
impotente para penetrar na Manchúria e na Mongólia, é evidente que a China será
obrigada a agir conforme os nossos desejos quanto ao desenvolvimento futuro do seu
caminho-de-ferro. Facto surpreendente: o Governo de Mukden construiu há pouco dois
caminhos-de-ferro, um de Ta Hushan a Toung Liao e outro de Kirin a Heilung, ambos para
usos militares. Estes dois caminhos-de-ferro afectam seriamente os nossos projectos
militares na Manchúria e na Mongólia e os interesses do caminho-de-ferro sul manchu. Em
consequência disso já protestámos vivamente.
Esta é a falta dos nossos funcionários e das autoridades do caminho-de-ferro do sul
manchu, que calcularam mal a capacidade do Governo de Mukden e cuja negligencia
permitiu a construção destas duas vias-férreas. Por outro lado, os americanos desejam
ardentemente colocar capitais no Norte de Houloutao, desenvolvimento já empreendido
pelos capitais britânicos. Aproveitando-se desta situação, o Governo de Mukden
introduziu capitais da América e Grã-Bretanha nestes caminhos-de-ferro para lesar os
nossos interesses. Por agora, somos obrigados a fechar os olhos sobre estes factos e
esperar por uma ocasião favorável para tratar com a China o problema destes dois
caminhos-de-ferro.
Recentemente, correu o boato de que o Governo de Mukden projectava construir uma
linha de Ta Hshan via Loung Liao e Fu Yu, de maneira a obter uma linha entre Pequim e
Karbine sem necessidade nem do caminho-de-ferro sul manchu nem do caminho de ferro
Leste Chinês. O que há de mais surpreendente ainda é que um outro caminho-de-ferro,
partindo de Mukden, passando por Hailung, Kirin, Wushang e terminando em Karbine,
está já em construção. Se este projecto se realiza, estas duas linhas cercarão o caminho de
ferro sul manchu e limitarão a sua esfera de actividade a uma região insignificante. Disto
resultaria que o nosso desenvolvimento económico e político na Manchúria e na Mongólia
se malograria e que os objectivos previstos no Tratdo das Nove Potências de limitar todo o
nosso poder se realizaria. Demais, a conclusão destas duas linhas tornaria inútil o caminho
de ferro sul manchu. Esta Companhia debater-se-ia numa verdadeira crise. Mas a China,
em consequência das suas actuais condições financeiras, não poderá empreender a
construção destes dois caminhos-de-ferro, a menos que recorra a empréstimos
estrangeiros. Há ainda a acrescentar que as tabelas de transportes seriam mais altas que
as dos caminhos-de-ferro do sul manchu. Estas considerações tranquilizam-nos um pouco.
Mas, no caso de estas linhas se tornarem um facto e o Governo chinês estabelçecer tarifas
particularmente baixas para concorrer com o nosso caminho de ferro sul manchu, não só
nós, mas também o caminho de ferro do Leste Chinês, teriam graves perdas. O Japão e a
Rússia não permitirão, certamente, que a China tome tais medidas obstrutivas, quando o
caminho-de-ferro Leste Chinês depende de Tsitsihar e de Karbine para a maior parte do
seu tráfego. As consequências seriam ainda mais sérias para os interesses gerais do Japão
e da Rússia quando estas novas linhs estivessem concluídas.
Consideremos agora mais em pormenor as linhas de concorrência projectadas na
Manchúria e na Mongólia.
O projecto da China:
1.º - Caminho-de-ferro Suolun-Tachan;
2.º - Caminho de ferro Kirin-Karbine.
O projecto da Rússia:
1.º - Caminho-de-ferro de Auta – Pohung;
2.º - Caminho-de-ferro Mieupo – Washan – Potung;
3.º - Caminho-de-ferro Kirin – Hailin;
4.º - Caminho-de-ferro Mishan – Muling
Os projectos da Rússia têm por objectivo reforçar o caminho-de-ferro Leste Chinês e
ampliar assim os seus desejos imperialistas. Desta forma, as linhas projectadas são de
Leste a Oeste. Ora, ainda que a potência da Rússia Soviética esteja em decadência, a sua
ambição na Manchúria e na Mongólia não diminuiu. Cada diligencia que ela realiza tende a
contrapor-se ao nosso progresso e dá motivos ao detrimento do caminho-de-ferro sul
manchu. É absolutamente preciso que façamos os possíveis para nos opormos a essa
influência. Devemos utilizar o Governo de Mukden como instrumento para deter o seu
avanço para o Sul. Sob o pretexto de impedir o avanço da Rússia Soviética para o Sul
penetramos gradualmente na Manchúria do Norte e exploraremos as suas riquezas
naturais. Poderemos então deter o desenvolvimento da influência chinesa no Sul e o
avanço da Rússia no Norte. Na luta contra a influência politica e económica da Rússia,
devemo-nos servir dos chineses colocando-os à frente, ficando nós na retaguarda, a dirigir
os acontecimentos. Ao mesmo tempo, devemos também ligar-nos secretamente à Rússia
para impedir que aumente a influencia da China. Foi para atingir este objectivo que o
barão Goto, do Governo Mato, convidou Joffre a visitar o nosso país, e foi por isto ainda que
apoiou o reatamento das nossas relações com a Rússia. Embora tenhamos um acordo com
o caminho-de-ferro do Leste Chinês relativo às tabelas de transportes, segundo o qual
45% pertencem ao caminho de ferro do Leste Chinês e 55% a nós, o caminho-de-ferro do
Leste Chinês faculta ainda tarifas de concorrência aos interesses do caminho-de-ferro sul
manchu. Além disso, segundo uma declaração secreta da Rússia Soviética, embora não
tenha objectivos territoriais, ela não pode evitar interessar-se pelos assuntos do caminho
de ferro do Leste Chinês pelo facto de, ao norte da fronteira russa-chinesa, o frio rigoroso
tornar o outro caminho de ferro sem valor. Sendo Vladivostok no seu único porto do
Extremo Oriente, a Rússia não pode abandonar o caminho de ferro do Leste Chinês sem
perder ao mesmo tempo a sua base no Pacífico. Esta consideração só faz aumentar a nossa
apreensão.
Por outro lado, o caminho-de-ferro sul manchu não é suficiente para nosso uso.
Considerando as nossas necessidades actuais e as nossas actividades futuras, precisamos
de ter a fiscalização dos caminhos de ferro da Manchúria do Norte e da Mongólia do Sul,
principalmente pelo facto que as riquezas da Manchúria do Norte e da Mongólia Oriental
darão lugar a uma expansão e ganhos materiais mais consideráveis ainda. Na Manchúria
do Sul, o número de chineses aumenta em tais proporções que prejudicará certamente os
nossos interesses económicos e políticos. Em tais circunstâncias somos obrigados a tomar
medidas agressivas na Manchúria do Norte para assegurar a nossa futura prosperidade.
Mas se o caminho de ferro do Leste Chinês da Rússia Soviética se estender a este território,
a nossa nova política continental será condenada à demora, por um certo tempo. Disto
resultará inevitavelmente um conflito com a Rússia num futuro próximo. Neste caso se
assistirá a uma repetição da guerra russo–japonesa. Como o caminho-de-ferro sul manchu
durante a última guerra, o caminho de ferro do Leste Chinês cairá em nosso poder e
capturaremos Kirin como outrora ocupámos Dairen. No programa do nosso aumento de
poder nacional, uma outra guerra com a Rússia na Manchúria do Norte parece uma
medida necessária. A menos que este obstáculo não seja destruído, o nosso navio de
Estado não pode avançar tranquilamente. Precisamos de exigir da China o direito de
construir todas as linhas militares de importância. Quandos estes caminhos-de-ferro
estiverem concluídos, lançaremos as nossas forças na Manchúria do Norte tão longe
quanto seja possível. Quando a Rússia Soviètica intervier, como certamente o fará, será
uma ocasião para abrir o conflito.
Devemos insistir na construção dos seguintes caminhos-de-ferro:
1.º Linha Toungliao-Jehol. Esta linha terá o comprimento de 447 milhas e custará 50
milhões de yens. Quando se concluir terá um grande valor para a nossa expansão na
Mongólia Interior. De facto é o mais importante de todos os caminhos-de-ferro desta
empresa. Segundo os levantamentos topográficos feitos com cuidado pelo departamento
de Guerra, há na Mongólia Interior, vastas extensões de terra que servem para a cultura do
arroz. Depois de um desenvolvimento conveniente haverá ali lugar para colocar vinte
milhões, pouco mais ou menos, de habitantes. Teremos a possibilidade de produzir dois
milhões de cabeças de gado que se podem transportar pelos caminhos-de-ferro para
aprovisionamento e exportação para a Europa e para a América. A lã é também um
produto especial. Enquanto no Japão um carneiro não produz mais que dois catties de lã
por ano, na Mongólia um carneiro pode dar seis. O SMR (caminho de ferro sul manchu) já
fez numerosas experiencias que confirmam este facto. Por outro lado, a lã desta região é
superior à da Austrália. O seu baixo preço e a sua alta qualidade, reunidos à sua abundante
quantidade, fazem da Mongólia uma fonte potencial de grande riqueza. Quando se atingir o
pleno rendimento desta indústria, graças ao desenvolvimento dos caminhos-de-ferro, a
produção total será decuplicada. Escondemos este segredo ao Mundo com receio de que a
Inglaterra e a América nos façam concorrência. Por consequência, precisamos primeiro
fiscalizar o transporte e, em seguida, desenvolver a indústria das lãs. Quando os outros
países tiverem disto conhecimento já será muito tarde para fazerem o que quer que seja.
Com este caminho de ferro em nosso poder poderemos desenvolver a industria de lã não
só para nosso uso mas também para exportação para a Europa e para a América. Por outro
lado, podemos satisfazer os nossos desejos de aproximação com a Mongólia. Este caminho
de ferro é uma questão de vida ou de morte, no que respeita à nossa politica na Mongólia.
Sem ele, o Japão não poderá ter nenhuma participação no desenvolvimento desye país.
2.º Linha Suolun-Taonan. Esta linha terá um comprimento de 136 milhas e custará 10
milhões de yens. Se se olhar para o futuro do Japão, uma guerra com a Rússia nas planícies
da Manchúria é inevitável. Sob o ponto de vista militar, esta linha nos permitirá não só
ameaçar a retaguarda do exército russo, mas ainda cortar os seus reforços para a
Manchúria Setentrional. Sob o ponto de vista económico, esta linha deixará em nossas
mãos todas as riquezas do Vale Tao-Er-Ho, reforçando também o SMR. Os príncipes dos
países vizinhos, capazes de nos ajudar, poderão também utilizar esta via para ampliar a
nossa influência, abrindo-nos o seu respectivo território. A nossa esperança de trabalhar
de comum acordo com os príncipes mongóis, de adquirir terras, minas, pastagens, e de
desenvolver o comércio com os indígenas, como medida preliminar de uma penetração
futura, tudo isto depende desta linha de caminho de ferro. Com a via Tungliao-Jehol,
formam dois caminhos suplementares para a Mongólia. Quando a industria estiver bem
desenvolvida, ampliaremos os nossos interesses à Mongólia Exterior. Mas o perigo desta
linha reside no facto de poder fornecer facilidades à emigração chinesa para esta nova
região e prejudicar a nossa própria política. Vejamos o que se passou no SMR. Não serviu
ele os interesses da China? A compensação é que os terrenos e as minas ao longo desta via
férrea pertencem aos príncipes mongóis. Se conseguirmos primeiro assenhorearmo-nos
desles, não teremos mais que nos preocupar com o problema da emigração chinesa. De
Mais, podemos levar os príncipes a publicar leis desfavoráveis aos emigrantes chineses.
Quando a vida se lhes tornar difícil eles partirão naturalmente para outras regiões mais
distantes. Há ainda outros meios para deter os chineses. Se quisermos realizar um esforço
sério, eles não poderão fixar-se no território mongol.
3.º A secção da linha Changchun-Taonan. Esta linha vai de Changchun a Fuyu e Talai. A
secção entre Chang-chun e Taonan tem, aproximadamente, 131 milhas e custará pouco
mais ou menos 11 milhões de yens. É de uma importância considerável porque toda a
riqueza da Manchúria e da Mongólia está concentrada na manchúria setentrional. Esta
linha facilita-nos acesso a esta região, por um lado e, por outro, beneficiará o SMR em
detrimento do caminho-de-ferro chinês. Atravessa o vale superior do rio Sungari, onde o
solo é fértil e os produtos agrícolas abundantes. Nos arredores de Talai encontram-se as
cataratas do Yueh-Liang, que se poderão utilizar para produzir energia eléctrica. Que esta
região seja um centro próspero de indústria e de agricultura está fora de todas as dúvidas.
Depois da conclusão desta linha, poderemos fazer de Talai uma base e marchar para a
Sibéria em três direcções, quer dizer, para Taonan, Aushan e Tsitsihar. Então, a riqueza da
Manchúria do Norte cairá em nosso poder. Desta forma, será ela a primeira linha de
penetração em Heilung Kiang. Além disso formará um desvio e servirá, com o caminho-deferro entre Chang-Chun e Taonan, aos nossos fins militares, quando penetramos na
Mongólia. Ao longo de toda esta via, a população é rara e a terra rica. Não se terá
necessidade de adubar a terra durante cinquenta anos. A posse desta linha assegura-nos
toda a riqueza da Mongólia setentrional e da Mongólia. Nesta região há ainda lugar para
trinta milhões de habitantes, pelo menos. Quando se concluir o caminho de ferro de Kirin e
que ele ligue à linha para Hueining, na Coreia, transportaremos os produtos até ao porto
de Osaka e de Tóquio por uma via directa. Em tempo de guerra, as nossas tropas poderão
ser expedidas para a Manchúria setentrional e para a Mongólia pelo Mar do Japão, sem
nenhum contratempo, evitando, em todas as eventualidades, a entrada das forças chinesas
na Manchúria do Norte. Os submarinos americanos ou russos não poderão passar o
estreito da Coreia. Na altura em que os caminhos-de-ferro entre Kirin e Heining e entre
Chang-chun e Talai estiverem concluídos, teremos suficientes produtos alimentícios e
matérias-primas. Não teremos qualquer receio em caso de guerra com qualquer país, não
importa qual. Nos nossos problemas referentes á Manchúria e á Mongólia, a China será
intimidada ao ponto de se submeter e cederá aos nossos objectivos. Se quisermos acabar
com a existência política da Manchúria e da Mongólia, conforme a etapa estabelecida no
plano do Imperador Meiji, o único meio será concluir estes dois caminhos de ferro. A linha
Changchun-Talaib aumentará o valor do SMR e desenvolver-se-á de tal forma que se
tornará uma linha vantajosa. É umaempresa de importância capital para a nossa
penetração neste país.
4.º - Linha Kirin – Hueining. Enquanto a linha Kirin-Tunhua está já concluída, a linha
Tunhua-Hueining encotra-se ainda em construção. A via estreita de dois pés e seis
polegadas de Kirin Lastokow, não é suficiente para o desenvolvimento económico do novo
continente. É preciso um crédito de oito milhões de yens para acabar a secção LastoukowTenhua. Toda esta empresa custará, aproximadamente, vinte milhões de yens. Quando
estiver concluída, teremos ganho uma etapa na nossa poliítica continental. Até agora, para
ir à Europa, era preciso passar por Dairen ou por Vladivostok. Desde esta altura, a viagem
faz-se pela grande linha, directamente de Ching-Chin-Kang, via Transberiano. Quando
obtivermos o domínio deste grande sistema de transportes, não teremos mais necessidade
de esconder os nossos desejos na Manchúria e na Mongólia, conforme a terceira etapa do
plano estabelecido por Meiji. A «raça Yamato» seguirá no caminho da conquista do mundo!
Segundo as últimas vontades de Meiji, a nossa primeira etapa será a conquista da Formosa
e a segunda a anexação da Coreia. Estas já estão realizadas. A terceira etapa está ainda em
vias de conclusão, e será a conquista da manchúria, da Mongólia e da China. Quando esta
etapa se concluir, o resto da Ásia, incluindo as ilhas dos mares do sul, ficará sob os nossos
pés. Se estes projectos ainda não foram postos em execução, é um crime dos vossos
servidores.
Na história, os habitantes de Kirin, de Mukden e de uma parte de Heilung Kiang chamamse Sushans. Hoje estão dessiminados ao longo da costa e nos vales dos rios Amor e Tunen.
Foram conhecidos, em diferentes épocas da história, como Kulais, Sushans, Heibeis,
Palous, Wotsus, Fuyus, Kitans, Pohais e Nuchens. Descendiam de uma raça mestiça. Os
antepassados da dinastia manchu tiveram também a sua origem na região. Primeiro,
dominaram o país de Kirin, depois, estabeleceram-se solidamente na Chinadurante
trezentos anos. Se quisermos levar a bom fim a nossa política continental, precisamos de
tomar nota deste facto histórico, que nos indica que devemos instalar-nos primeiro nesta
região. Disto resulta a necessidade do caminho de ferro Kirin-Heining. Teremos toda a
liberdade de decidir, conforme as circunstâncias, sobre o terminus deste caminho-deferro: Ching-Ching, Lochin ou mesmo Hsiungchi. Sob o ponto de vista de defesa nacional,
no momento presente, parece que Lochin é um porto e um terminus ideal. Será, mais
tarde, o melhor porto do Mundo. Por outro lado, Lochin arruinará Vladivostok e será o
centro da riqueza da Manchúria e da Mongólia. É preciso ter em conta que Dairen não nos
pertence ainda inteiramente, porque, enquanto a manchúria não fizer parte do nosso
império, é difícil realizar o desenvolvimento da cidade coreana. Verificando esta situação,
ficaremos numa posição precária em tempo de guerra. O inimigo poderá bloquear o
estreito de Tsushima e de Senchima e os víveres que nos vêem da Manchúria e da
Mongólia não chegarão ao seu destino. Não tendo matérias-primas à nossa disposição,
seremos vencidos, principalmente se a Inglaterra e os estados Unidos agirem de comum
acordo para prejudicar a nossa acção em todas as direcções possíveis. Hoje ou amanhã,
para nos precavermos, e advertir a China e o resto do Mundo, devemos dar combate à
América. A esquadra asiática dos estados Unidos, estacionada nas Filipinas, está apenas
separada de Tsushima e de Senchima por um tiro de peça. Se manda os seus submarinos
para estas regiões, os nossos aprovisionamentos de víveres e de matérias-primas da
Manchúria e da Mongólia ficarão cortados. Mas se nós terminarmos o caminho de ferro
Kirin Hueining teremos uma grande linha circular atravessando a manchúria Setentrional.
Teremos o acesso de todas as direcções e a liberdade de transportar os nossos soldados e
os nossos aprivisionamentos por esta linha até os nossos portos de Tsuruga e de Nagata.
Os submarinos inimigos não terão possibilidades de passar os estreitos do Japão e da
Coreia. Chama-se a isto fazer do mar do Japão o centro da nossa defesa nacional. Uma vez
que o livre transporte de víveres e de matérias-primas esteja assegurado não teremos
mais a recear nem a marinha americana, por causa da sua potência, nem os exércitos
chineses ou russos por causa do seu número. Feito isto, estaremos em estado de reprimir
os coreanos. Permita-me que lhe repita que, se quisermos iniciar a execução da nossa
política continental, é precisa a construção deste caminho-de-ferro. A manchúria e a
Mongólia são dos países menos desenvolvidos do Extremo Oriente. Nestes territórios
seremos obrigados, mais tarde ou mais cedo, a fazer guerra à Rússia Soviética. O campo de
batalha será Kirin.
Quando estiver realizada a terceira etapa do plano Meiji, referente à China, será preciso
tomar as seguintes medidas:
1.º - Mobilizar as divisões do exército de Fukuoka e de Hiroshima e expeli-las para a
Manchúria Meridional, via Coreia. Isto evita o avanço para o Norte dos soldados chineses.
2.º - Enviar divisões de Nagoya e de Kwansei por mar, para Chingchin e, por esta via, para
a Manchúria setentrional pela linha Kirin Huening.
3.º - Enviar o exército de Kuantung por Niigata a Chingchin ou a Lochin e, daqui, pela linha
Kirin-Hueining para a Manchúria setentrional.
4.º - Embarcar divisões de Hokaido e de sendai para Aomori e Hakadoto, e, em seguida,
transportá-las, por navio, a Vladivostok, e, pelo caminho-de-ferro, a Karbine. Poderão
descer para Mukden, apoderar-se da Mongólia e evitar que as forças russas desçam para o
sul.
5.º - Finalmente, estas divisões, partidas de todas as direcções, reunir-se-ão e formarão
dois grandes exércitos. No Sul, protegerão Shanhaikwan contra o avanço das forças
chinesas para o Norte; no Norte, defenderão Tsisihar contra a descida dos russos para o
Sul. Assim, teremos todas as riquezas da Manchúria e da Mongólia à nossa disposição.
Mesmo que a guerra se prolongasse durante seis anos não teríamos que recear da falta de
aprovisionamentos.
Estudemos, mais uma vez, o caminho de ferro kirin-Hueining sob o ponto de vista de
acesso aos nossos portos.
Primeiro, tomaremos Chingchin como ponto de partida:
1.º - De Chingchin a Vladivostok, 130 milhas;
2.º - De Chingchin a Tsuruga, 475 milhas;
3.º - De Chingchin a Moji, 500 milhas;
4.º - De Chingchin a Nagasaki, 650 milhas;
5.º - De Chingchin a Fusan, 500 milhas.
Em seguida, tomemos Tsuruga como porto de entrada e comparemo-lo com Dairen. Neste
caso, consideremos Osaka como centro industrial:
a) De Chanchun a Osaka, via Lochin, a distãncia é de 406 milhas, por terra, e 475
milhas por mar. O tempo de viagem é de 52 horas.
b) De Changchun a Osaka, via Dairen e Kobe, a distãncia é de 535 milhas, por terra, e
870 milhas por mar. Tempo, 92 horas.
Se, em lugar de Dairen, Tsuruga se tornar no traço de união, haverá uma economia de 41
horas. Podemo-nos servir de navios rápidos que fazem 12 milhas por hora e de comboios
expressos com velocidades horárias de 30 milhas. Reduziremos assim a metade o tempo
necessário á viagem.
A Manchúria e a Mongólia são a Bélgica do Extremo Oriente. Durante a guerra, a Bélgica foi
o campo de batalha. Durante a nossa próxima guerra contra a Rússia ou os Estados Unidos,
seremos obrigados a destruir a Manchúria e a Mongólia. Como é evidente que seremos
obrigados a violar a neutralidade destes territórios, não devemos deixar de construir os
caminhos-de-ferro Kirin-Hening e Changchun-Talai, para nos prepararmos militarmente.
Em tempos de guerra poderemos aumentar facilmente as nossas forças e em tempo de paz
enviar milhares e milhares de emigrantes para se estabelecerem nessa região e
trabalharem nos arrozais. Esta linha de caminho-de-ferro é a chave do desenvolvimento
económico e das conquistas militares.
Para empreender a construção do caminho de ferro Kirin-Hueining serão necessárias as
máquinas mais modernas que a montanha cujos túneis atravessar são de formação
granítica. A escolher a estação seca e terminar o trabalho sem qualquer demora. Quanto
às travessas e ás pedras necessárias, elas se encontrarão em abundância ao longo da via.
«Rails», vigas, locomotivas, são as únicas coisas a importar neste país. Assim, poderá
reduzir-se o preço de construção ao mínimo de 30% e o tempo necessário a 40%.
Vejamos agora os interesses económicos que se encontram ao longo desta via. Segundo as
investigações escrupulosas do nosso Estado Maior e as do SMR, a reserva total de madeira
de construção eleva-se a duzentos milhões de toneladas. Se se cortar cada ano um milhão
de toneladas e o exportar para o nosso país, o existente chegará para um período de
duzentos anos. Desta forma, será evitada a importação da madeira americana, que nos
custa cada ano 80.000.000 a 100.000.000 de yens. Embora a nossa informação seja
verdadeira, não podemos divulgá-la ao mundo, porque se a China ou a Rússia sabem que
nós queremos explorar as florestas da linha em questão e que recebemos tantas
quantidades de madeira de construção da América, procurarão provocar uma intervenção
dos estados Unidos para evitar a construção desta linha. Poderiam ainda os Estados
Unidos comprar ao Governo de Mukden todos os direitos de cortar árvores para proteger
o seu comércio com o Japão, para conservar o seu monopólio da venda de madeira e,
finalmente, para matar a nossa indústria de papel.
Já no tempo do imperador Chien Ling, Kirin era conhecida como um «oceano de árvores».
Ajuntai às árvores primitivas o aumento registado com o decorrer dos anos. Imaginai a
imensidão desta riqueza. Para transportar esta madeira de construção de Kirin a Osaka,
via Changchun e Dairen, é preciso vencer uma distância de 1.385 milhas. Por cada metro
cúbico necessitamos despender 34 cents. Em face do alto preço do transporte não
podemos fazer concorrência aos estados Unidos. Quando a linha Kirin-Hueining se
concluir, a distância será reduzida a cerca de 700 milhas. Então poderemos transportar as
madeiras por navios até Osaka ao baixo preço de 13 cents por metro cúbico. Poderemos
seguramente libertar-nos da importação da madeira de proveniência americana.
Admitamos que calculamos um benefício de 5 yens por tonelada de madeira e que existam
dois biliões de toneladas. A construção dos caminhos-de-ferro nos dará facilmente um
lucro de dez biliões de yens. Além disso, estabeleceremos uma barreira à importação da
madeira americana no nosso país. Por outro lado, a indústria de mobílias, s do papel e
outras que o baixo preço da madeira tornará desenvolvidas, ajuntarão ainda 20 milhões de
yens às receitas anuais do nosso país. Existe também a mina de Hsin-Chin que tem uma
reserva de 6.000.000.000 de toneladas de carvão. Este carvão é de melhor qualidade do
que o de Fushun. É fácil de extrair e próprio para a produção de «mazout», de adubos
agrícolas e de outros subprodutos químicos que nos podemos utilizar e vender na China.
Há muitas outras vantagens de que gozaremos graças à construção do caminho de ferro
Kirin-Hueining. É uma receita sem trabalho. Este carvão completará as minas de Fushun.
Com duas minas fiscalizadas por nós, temos a chave de toda a industria da China. No que
respeita ao carvão de Hsin-Chin, retiraremos um proveito de 5 yens em cada tonelada
transportada por mar para o Japão. Com os subprodutos químicos poderemos obter um
lucro de 16 yens por tonelada de carvão. Se calcularmos a média de 15 yens por tonelada,
a receita total elevar-se-á a 200 biliões de yens. Adquiriremos tudo isto como um
subproduto da exploração do caminho-de-ferro Kirin-Hueining. Há, por outro lado, minas
de ouro ao longo do rio Mutan. Os direitos adquiridos pelo SMR para as minas de ouro de
Chia-Pi-Kou, na província de Kirin, e para a madeira de construção, nos seus arredores,
serão possíveis de explorar, uma vez que a linha de Kirin-Hueining começa a funcionar.
Nos arredores de Tunghua, os produtos agrícolas, tais como a aveia, o trigo, o milho e
vimes para a fabricação de vassouras, dão um rendimento anual de um milhão de catties.
Há vinte destilarias, 30 fábricas de óleo produzindo um rendimento anual de 600.000
catties de óleo, aproximadamente, e 600.000 catties de pasta de favas para adubos e
muitas fábricas de massas. Tudo isto depende do novo caminho-de-ferro. Pode-se calcular
O comércio ao longo desta via em 4 milhões de yens por ano. Só os fretes de transporte de
produtos agrícolas cobrirão as despesas correntes, mas também darão um lucro líquido de
200.000 yens por ano. Se ajuntarmos a isto os lucros da madeira de construção, do carvão
e dos sub-produtos transportados pelo caminho de ferro, podemos contar com toda a
segurança com uma receita de 8.000.000 de yens por ano. Existem ainda os lucros
indirectos, tais como o reforço do SMR, a aquisição dos direitos sobre as florestas, as minas
e o comércio e sobre a emigração de um grande número de habitantes da Manchúria
Setentrional. Principalmente a distância entre o Japão e as riquezas da Manchúria
diminuirá. Não serão precisas mais do que três horas para de Chingchin a Hueining, três
horas de Hueining a Safeng e três horas do rio Tumen e Lung-Chingtsun. Em 60 horas
poderemos atingir as riquezas da Manchúria setentrional. Por consequência, nada como o
caminho de ferro K.H. nos permitirá ter á disposição as imensas riquezas da Manchúria do
Norte.
5º - Linha Hunchun-Hailin – esta linha é de 173 milhas e custará 24.000.000 de yens. Ao
longo de toda esta via se encontram espessas florestas. Para reforçar a linha KH e explorar
as florestas e as minas da Manchúria setentrional, esta linha é necessária; para transferir a
prosperidade de Vladivostok a Hareining, esta linha é absolutamente indispensável. A
maior possibilidade de prosperidade reside no facto de que, ao sul de Heiling e ao norte de
Tunhua se encontra o lago Ching-Po, que se pode utilizar para produzir energia eléctrica.
Com ele em nosso poder teremos o domínio sobre todas as empresas agrícolas e industria
Is da manchúria e da Mongólia. A agitação na China nada poderá fazer contra o nosso
desenvolvimento industrial. Segundo as investigações do SMR, a força hidráulica do lago
pode produzir, pelo menos 800.000 CV. Com esta enorme quantidade de energia eléctrica
pode-se facilmente realizar a conquista industrial da Manchúria e da Mongólia. Em volta
desta enorme potente base surgirá um prodigioso aumento de riqueza. Precisamos
construir depressa este caminho-de-ferro, a fim de fornecer facilidades de transporte. O
lago de Hsing-Kai, que possuem conjuntamente a China e a Rússia, pode também ser
utilizado para a produção de electricidade. Para que estes dois países não se coliguem para
prejudicar os nossos objectivos, devemos introduzir uma resolução na Conferência
Internacional de Engenharia Eléctrica, que se realiza em Tóqui no corrente ano, resolução
preconizando que na mesma região de aproveitamento eléctrico não haverá duas bases
produtoras. Por outro lado, nos arredores de Niigata e de Hailin, a fábrica de papel Oju
comprou direitos do corte de árvores e da preparação da madeira. Tem necessidade do
estabelecimento imediato de uma base produtora perto do lago Ching-Po e da rápida
conclusão do caminho de ferro Hunchun-Hailin, afim de transportar para as fábricas do
nosso país as matérias primas que se encontram em estado bruto na Mongólia.
É por isso que as autoridades de Mukden têm a intenção de construir os caminhos-deferro Wuchang-Kirin e kirin-Mukden, com Hulutao ou Tien Tsin como porto de mar para
recuperar a riqueza da Manchúria Setentrional. Construindo o caminho de ferro Hunchun
– Hailin não somente reforçaremos o caminho de ferro KH como também destruiremos o
plano chinês e levaremos as riquezas da Manchúria para o porto de Chingchin. Os fretes de
transporte serão inferiores em dois terços comparando-os com os da linha chinesa e em
um terço na linha siberiana. Desta forma, estas linhas não nos poderão fazer concorrência.
A nossa vitória é uma conclusão que se pode tirar antecipadamente.
O comércio total da Manchúria eleva-se a 7 ou 8 biliões de yens por ano. Tudo está nas
nossas mãos. Os negócios que faremos de lã, de algodão, de soja e de pasta de favas, e o
ferro representam 1/20 do volume total do comércio mundial. Esta proporção vai
aumentar. Mas a «Namihaya Machi 3», em Dairen (a mais opulenta rua desta cidade), é
ainda propriedade de chineses. E esta triste históri vai mais longe. A produção de óleo é
uma industria fundamental da Manchúria, e dela nós só controlamos 6%. Dos 38
fabricantes de óleo de Yangkow, não existe um que seja japonês; dos 29 de Antong, só há
um que seja japonês, e, dos 82 ou 83 de Dairen, só sete fábricas são de propriedade
nipónica. Isto não é uma perspectiva sorridente para nós. Para conquistar o terreno
perdido, precisamos de desenvolver, principalmente, os transportes. Então, tendo o
monopólio, ao mesmo tempo dos produtos fabricados e das matérias primas, ficaremos
em estado de os levar a sucumbir. De mais, devemos ajudar os nossos compatriotas no
comércio do óleo abrindo-lhes créditos financeiros, de forma que a industria chinesa do
óleo seja eliminado do mercado. Há um grande número de mercadores chineses em
Kwaguchi, em Osaka, que vendem as nossas mercadorias fabricadas na Manchúria e na
Mongólia. São concorrentes temíveis dos nossos comerciantes na China. Os nossos
compatriotas são prejudicados pelo facto de o seu nível de vida os obrigar a pedir uma
mais alta percentagem de lucros. Mas, por outro lado, os chineses têm também as suas
inferioridades. As mercadorias que compram são de uma qualidade medíocre, enquanto
que o preço por que as compram é 10% mais caro do que é vendido aos nossos
mercadores. Além disso, são obrigados a pagar 2,70 de yens mais caro por cada tonelada
de mercadoria transportada. E, apesar disso, eles vendem mais barato que os nossos
mercadores na Manchúria. Isto mostra claramente a incapacidade dos nossos
compatriotas. É verdadeiramente patético quando se pensa nisto. Os chineses são sós e
não recebem qualquer ajuda do seu Governo. Em troca os japoneses, na Manchúria, são
protegidos por todas as formas pelo Governo e obtêm um crédito a longo prazo e com uma
baixa taxa de juro. Há ainda muitos casos de falência. No entanto nós devemos organizar
uma associação cooperativa para a China. As carreiras de navios a vapor e o SMR deverão
conceder aos nossos comerciantes dessa cooperativa uma tarifa especial de redução e o
Governo de Kwantung deverá conceder-lhes um crédito com juros baixos. Desta forma
poderemos esperar vencer os mercadores chineses e reconquistar os nossos direitos
comerciais, de maneira que possamos desenvolver as produções especiais da Manchúria e
vendê-las em todas as partes do Mundo.
Um primeiro passo para a fiscalização comercial e industrial da Manchúria e da Mongólia
é o monopólio da venda dos seus produtos. Precisamos absolutamente de obter esses
direitos de monopólio antes de iniciarmos a execução da nossa política continental e
impedir a invasão de capital americano e a influencia dos comerciantes chineses.
Embora os produtos da Mongólia e da Manchúria passem por um destes três portos,
Dairen, Yangkow e Antung, o primeiro possui ainda a chave da situação. Cada ano 7.200
barcos visitam este porto com uma tonelagem total de 11.565.000 toneladas, o que
representa 70% do comércio total da Manchúria e da Mongólia. Quinze carreiras de
navegação fazem ali escala com uma determinada lista de navios. A maior parte deles são
barcos de cabotagem. Nós possuímos todo o sistema de transporte da Manchúria e da
Mongólia. O monopólio de venda de produtos especiais da Manchúria cairá finalmente em
nosso poder. Quando isto se tornar uma realidade, poderemos desenvolver os transportes
oceânicos para vencer Yangkow e Antung. Então, as grandes quantidades de favas, que as
partes central e meridional da China consomem, dependerão inteiramente de nós. Além
disso, o povo chinês é grande consumidor de óleo. Em tempo de guerra poderemos cortarlhe o aprovisionamento de óleo e a vida em todo o país tornar-se-á miserável. A pasta de
fava é um adubo importante para a cultura do arroz. Se dominarmos esta fonte de
aprovisionamento e os meios de transporte, estaremos em condições de aumentar a nossa
produção de arroz por meio de aprovisionamento baratos por pasta de favas e de adubos
fabricados em sub-produtos pelas minas de carvão de Fushan. Assim teremos o trabalho
de toda a China sob a nossa fiscalização em caso de guerra poderemos embarcar a
exportação de pasta de fava e dos adubos minerais para a China Central e Meridional.
Desta forma, a produção dos géneros alímenticios da China ficará muito reduzida. É uma
maneira, que não devemos perder de vista, de edificar o nosso império continental.
Devemo-nos recordar também de que a Europa e a América têm necessidade de grandes
quantidades de fava e de pasta de fava. Quando tivermos o monopólio dos abastecimentos
e o domínio completo dos transportes, em terra e no mar, os países que tiveram precisão
dos produtos especiais da Manchúria e da Mongólia serão obrigados a procurar os nossos
favores. Para obter o monopólio do comércio da Manchúria necessitamos de controlar
todo o sistema de transportes. Só nessa altura teremos os mercadores chineses sob o
nosso domínio.
No entanto, os chineses são muito hábeis, capazes de frustrar os nossos artifícios e de nos
bater servindo-se do nosso próprio jogo. Não encontramos ainda um meio para lutar com
êxito com eles no caso da fabricação do óleo e no transporte de navios à vela. Depois de
concluído o nosso sistema de transportes, a nossa politica será duplamente reforçada. Por
um lado, arruinará o comércio com navios à vela por meio de investimentos consideráveis
de capitais no nosso próprio sistema. Por outro, dará coragem à nossa gente para
aprender tudo o que os chineses sabem da navegação à vela. Uma outra coisa sobre a qual
é preciso reter a nossa atenção é não ensinar aos chineses os nossos processos técnicos.
Antigamente instalávamos fábricas na Manchúria perto das fontes de matérias primas. Isto
deu aos chineses a ocasião de aprender os nossos segredos e de instalar as suas próprias
fábricas para nos fazer concorrência. Agora, devemos transportar as matérias-primas para
o nosso país e lá manufacturá-las. Depois, transportar de novo os produtos já fabricados,
por navios, e vendê-los na China e nos outros países. Fazendo assim ganharemos de três
maneiras:
a) Dando trabalho aos desempregados do nosso país;
b) Evitando que os chineses invadam a Manchúria e a Mongólia;
c) Tornando impossível aos chineses imitar os nossos processos técnicos.
Também o ferro de Penhsihu e de Anshan e o carvão de Fushun deverão ser enviados para
aí serem transformados em produtos manufacturados.
Por todas estas razões, o desenvolvimento do transporte oceânico torna-se necessário. A
companhia «Dairen Kisen Kaisha» deve ser aumentada e o nosso governo conceder-lhe
créditos a juro baixo por intermédio da Companhia SMR. Para o próximo ano devemos
terminar 50.000 toneladas de novos navios para transporte oceânico. Isto chegará para
dominar o comércio no Extremo Oriente, porque, de um lado, possuímos o SMR para o
transporte por terra, e, do outro, fiscalizamos as grandes quantidades de produtos da
Manchúria e da Mongólia. O êxito destas actividades, tendo dairen como centro de tráfego,
está assegurado pelas estritas leis económicas.
F – necessidade de uma moeda de estalão de ouro
Embora a manchúria e a Mongólia estejam na nossa esfera de actividade, a moeda legal
nestes países é ainda a moeda de prata. Isto prejudica muitas vezes a nossa moeda à base
do ouro. O facto de os nossos compatriotas não terem conseguido enriquecer como
desejariam nessas regiões tem por causa o sistema de moeda à base de prata e, por
consequência, é-nos impossível estabelecer solidamente os nossos planos de colonização
sob uma firme base económica. Temos contra nós as seguintes desvantagens:
a) A moeda que levamos para a Manchúria tem por base o estalão de ouro. Quando
dela nos servimos na vida quotidiana ou na industria ou no comércio precisamos
de a trocar em dólares chineses, à base da prata. A flutuação de câmbios vai muitas
vezes até 20% e representa, por consequência, uma perda séria para os nossos
nacionais. A especulação torna-se um negócio regular e os investimentos um jogo.
Quando se projecta um investimento de 200.000 yens pode ver-se este capital,
num momento reduzir-se a 150.000 ou a 160.000 dólares chineses por causa da
diferença de câmbios. Então, o credor vê-se obrigado a recorrer ao empréstimo e
disto resulta, muitas vezes, a falência.
b) Os comerciantes chineses servem-se da moeda de prta em todo o país. Ficam
isentos das flutuações de câmbios. É por isso que o seu comércio é próspero.
Embora eles não tenham qualquer conhecimento científico no que se refere ao
valor de câmbios em ouro ou em prata, ganham sempre nas operações comerciais.
Têm um dom inato para isto e nós sofremos muitos prejuízos. E perdemos, apesar
de fiscalizarmos o tráfego e do apoio particular fornecido aos estabelecimentos de
crédito. Por causa das vantagens do sistema monetário, os habitantes da China
Central e Meridional compram sempre a pasta de fava directamente aos seus
compatriotas. Não temos qualquer possibilidade de nos impor. E desta forma, não
podemos conquistar toda a China.
c) Com o sistema actual da moeda, o governo chinês pode aumentar a circulação de
notas de Banco para contrabalançar as nossas notas representando ouro. Por
consequência, os nossos Bancos não podem cumprir a sua missão nem ampliar-se
a influência do nosso país.
d) Se o estalão ouro for adoptado, podemos emitir livremente notas com o valor do
ouro. Com a confiança das notas ouro podemos comprar propriedades imóveis e
riquezas naturais e destruir a confiança nas notas prata chinesas. Os chineses
ficarão incapazes de nos fazer concorrência; e toda a moeda corrente da
Manchúria e da Mongólia ficará sob a nossa fiscalização.
e) O Banco Governamental das Três Províncias do Leste, o Banco das Comunicações,
o Banco do Desenvolvimento das Fronteiras e a Corporação Geral do crédito e da
Finança têm em circulação notas prata cujo valor se eleva a 38.000.000 de dólares.
Os seus fundos de reserva, sob a forma de edifícios e mercadorias são calculados
em 1.350.000 dólares. É natural que o dinheiro chinês sofra uma depreciação e só
devido aos esforços do governo é que este dinheiro está ainda em circulação.
Enquanto não tivermos totalmente desacreditado as notas prata chinesas não
devemos substitui-las pelas nossas notas ouro na Manchúria e Mongólia, e ainda
menos obter o monopólio monetário e financeiro nestes dois países. Com as notas
pratas depreciadas e inconvertíveis, o governo das Três Províncias do Leste
compra produtos de todas as espécies, ameaçando assim os nossos capitais já
investidos. Quando vender estes produtos pedir-nos-à ouro que guardará para
prejudicar os nossos interesses financeiros e os nossos direitos comerciais para os
produtos especiais. Por estas razões o emprego da nossa moeda continua a
encontrar dificuldades e o estalão ouro para a moeda corrente torna-se
extremamente necessário.
Em consequência das razões apontadas, precisamos de acabar com as notas prata
inconvertíveis na Manchúria e tirar ao governo o seu poder de compra. Nessa altura,
podemos empregar livremente a nossa moeda ouro na esperança de dominas as
actividades económicas e financeiras da Manchúria e da Mongólia. Além disso, poderemos
obrigar as autoridades das Três Províncias do Leste a utilizar conselheiros financeiros
japoneses para nos ajudarem a obter a supremacia em matéria financeira. Uma vez as
notas chinesas anuladas, tomarão em seu lugar as nossas notas ouro.
G- Encorajamento de colocação de capitais por uma terceira potência
Era nossa política tradicional excluir na Manchúria e na Mongólia os investimentos de uma
terceira potência. Mas, depois do tratado das Nove Potências fundado sob o princípio de
«chance igual» para todos a ideia fundamental do consurtium internacional, que considera
a Manchúria e a Mongólia fora da sua esfera, torna-se anacrónica. Nós estamos
constantemente sob a vigilância das potências e cada passo que damos levanta uma
suspeita. Verificando este facto, vale mais fazer um apelo aos fundos estrangeiros para o
desenvolvimento das empresas de centrais eléctricas e de fabricação de alcali.
Empregando capital americano ou europeu podemos realizar os nossos projectos de
desenvolvimento da manchúria e da Mongólia. Agindo desta forma diminuiremos as
suspeitas das nações estrangeiras e franquearemos o caminho para projectos mais vastos,
levando, ao mesmo tempo, as potências a reconhecer o facto da nossa posição especial
neste país. Devemos desejar a prosperidade a todas as potências que queiram investir
capitais, mas não devemos permitir que a China estabeleça, conforme o seu agrado, as
negociações com essas nações. Como temos o que as potências reconhecem como posição
especial na Manchúria e na Mongólia, tanto sob o ponto de vista político como sob o ponto
de vista económico, somos obrigados a interferir e a participar nas negociações
diplomáticas. Eis uma outra política importante para nós.
H – Necessidade de modificar a organização do SMR
A companhia SMR (caminhos de ferro da Manchúria do Sul) tem funções na Manchúria
idênticas às do governador-geral da Coreia antes da anexação deste país. Para edificar o
nosso novo império continental precisamos de nos libertar das dificuldades actuais e
modificar a organização desta companhia. As funções desta companhia são variadas e
importantes. Cada alteração governamental implica uma modificação na administração do
SMR e, inversamente, toda a actividade deste caminho de ferro sul-manchu ser quase uma
companhia do Estado, porque toda a decisão final sobre os seus assuntos depende do
gabinete. Por esta razão, as potências consideram sempre esta via férrea mais como um
órgão puramente político que como uma empresa comercial. Todas as vezes que um novo
movimento se desenha para o desenvolvimento da Manchúria e da Mongólia, as potências
invocam o Tratado das Nove Potências para se oporem aos projectos do SMR. Isto tem
lesado consideravelmente os interesses do nosso império.
Sob o ponto de vista interno, o caminho de ferro da Manchúria do Sul está sujeito a uma
quádrupla fiscalização. O governador do Kuantung, o Chefe do Executivo do Dairen, o
Consul Geral do Mukden e o Presidente do SMR devem reunir-se e trocar os seus pontos
de vista antes de empreender seja o que for. O que se discute durante a reunião, realizada
secretamente, chega muitas vezes ao conhecimento das autoridades das Três Províncias
do Leste. Estas, por seu turno, procuram entravar qualquer processo da companhia dos
camuinhos de ferro da Manchúria do Sul. Quando uma proposta é transmitida a Tóquio a
fim de se obter a autorização final, tem que passar pelos departamentos dos Negócios
Estrangeiros, Caminhos de Ferro, Finanças e Guerra. Se todos estes ministros não estão
unanimamente de acordo, o assunto é abandonado. Agora, o Primeiro Ministro actual
tomou conta da Pasta dos Estrangeiros a fim de que os nossos movimentos possam ser
guardados em segredo e que a execução dos nossos projectos possa ser rápida e decisiva.
Por estas razões, convém reorganizar radicalmente o SMR. Devem-se transformar todas as
empresas proveitosas reunindo-as em companhias independentes, sob a proteção da
companhia SMR, de maneira que possamos dar passos decisivos na conquista da
Manchúria e da Mongólia. Por outro lado, só se deve permitir que chineses, europeus e
americanos coloquem o seu dinheiro no SMR desde que nós tenhamos sempre a maioria
das acções. Desta forma, a fiscalização da dita companhia pertencer-nos-á sempre e
poderemos melhor pagar as dividas da casa que nos foi confiada pelo império. Convidando
as nações estrangeiras a participar no SMR colocamos uma venda nos olhos do Mundo.
Podemos, como quisermos, apressar o nosso avanço na Manchúria e na Mongólia e
livrarmo-nos das restrições impostas pelo Tratado das Nove Potências, reforçando as
nossas actividades nestes países com capitais estrangeiros.
As importantes empresas que dependem do SMR são:
1ª - Ferro e Aço
O ferro e o aço estão estreitamente ligados ao desenvolvimento nacional. Hoje,
todos os países lhes dão grande importância. Mas, em consequência da falta do minério,
nós não encontrámos ainda qualquer solução para este problema. Até agora temos sido
obrigados a importar o aço do vale do Yang-Tsé e da península de Malaca. Mas, segundo
um inquérito secreto do nosso Estado Maior, existe um grande número de minas de ferro
em várias regiões da Manchúria e da Mongólia. Calculam-se estas reservas a um mínimo
de dez biliões de toneladas. No começo das explorações, porque a técnica era defeituosa,
os «Anshan and Steel Works» perderam anualmente 3.000.000 de yens. Mais tarde,
descobriram-se novos processos e aperfeiçoou-se a técnica a tal ponto que, em 1926, as
perdas não passavam de 150.000 yens. Um ano depois houve ganhos de 800.000 yens. Se
os altos-fornos forem aperfeiçoados, ganharemos pelo menos, 4.000.000 de yens por ano.
A qualidade do minério de Penhsihu é excelente. Se combinarmos a exploração destes
minérios com os de «Anshan Iron Works» estaremos em condições de autarquia para o
aço e para o ferro.
Os jazigos de ferro da Manchúria e da Mongólia são calculados em 1.200.000.000 de
toneladas e as minas de carvão em 2.500.000.000 de toneladas. Este carvão é suficiente
para fundir o minério de ferro. Com uma quantidade tão considerável de ferro e de carvão
à nossa disposição teremos possibilidade de abastecimento para um período de 70 anos.
Com um lucro de $100 por cada tonelada de aço, teremos em 350 milhões de toneladas de
aço um ganho de 35.000.000.000 de yens. É uma melhoria formidável para as nossas
receitas económicas. Pouparemos uma despesa de 120.000.000.000 de yens que gastamos
por ano na importação do aço. Quando tivermos suficiente ferro e aço para a nossa
indústria, obteremos o segredo para fazer do Japão a primeira nação do Mundo. Assim
fortalecidos, poderemos conquistar ao mesmo tempo o Ocidente e o Oriente. Para atingir
este objectivo precisamos de separar as fábricas de ferro da companhia do SMR. Uma
fiscalização unificada abrigar-nos-á de todos os esforços que a China tente realizar para
nos impedir que sejamos um país autárquico para o ferro e para o aço.
2ª – Petróleo
Um outro produto que nos falta é o petróleo. Ele é também indispensável à
existência de uma nação. Felizmente, encontram-se as minas de carvão de Fushun, que
fornecem 5.200.000.000 de toneladas de óleo xistoso; pode-se extrair de cem catties deste
óleo seis catties de óleo bruto. Por meio de máquinas americanas, cem catties de óleo
bruto dão nove catties de óleo refinado para automóveis e navios de guerra. No presente
momento, o Japão importa do estrangeiro: 700.000 toneladas de óleo mineral por ano,
calculadas em 60.000.000 de yens. Estes números aumentarão sempre. Como há 50
biliões de toneladas de óleo xistoso nas minas de Fushun, a produção calculada em 5%
seria de 250.000.000 toneladas e em 9% de 450.000.000. tomemos a média das duas
percentagens: a produção seria de 350 milhões de toneladas. Admitamos que o valor do
óleo é de 15 yens por tonelada, o óleo xistoso existente nas minas de Fushun dar-nos-ia
5.250.000.000 yens. Isto representaria para nós uma grande revolução industrial. Sob o
ponto de vista de defesa e riqueza nacionais, o petróleo é um grande factor. Com o ferro e
o petróleo da Manchúria, o nosso exército e a nossa armada tornar-se-iam muralhas
impenetráveis de defesa. Que a Manhúria e a Mongólia são o coração e o fígado do nosso
império – eis uma sentença verdadeira. E devemo-nos felicitar por isso pelo amor ao nosso
império.
3ª – Adubos agrícolas, sulfatos de amoníaco e outros produtos.
Os adubos agrícolas são de uma grande necessidade para a produção de géneros
alimentícios. Os adubos químicos provêm do sulfato de amoníaco extraído do carvão. As
minas de Fushun dão particularmente neste caso bons resultados. No presente momento,
o nosso consumo total de sulfato de amoníaco eleva-se a 500.000 toneladas. Metade,
apenas, é fabricada por nós, empregando o carvão das minas de Fushun ou de Kailan. A
outra metade é importada do estrangeiro, representando uma quantia de 35.000.000 yens
por ano. Com o nosso trabalho dos campos, que aumenta dia a dia e em via do
desenvolvimento do nosso novo império na Manchúria e Mongólia utilizaremos
facilmente: 1.000.000 de toneladas de sulfato de amoníaco por ano, durante os próximos
dez anos. Com a fuligem recolhida durante a combustão do carvão de Fushun e da
fabricação de aço, poderemos produzir grandes quantidades de sulfato de amoníaco. Se a
produção se elevar a 300.000 toneladas por ano ajuntaremos às nossas receitas anuais
mais de 40.000.000 de yens. Em cinquenta anos esta receita elevar-se-á a 2.000.000.000
de yens. Este dinheiro poderá ser empregado em melhoramentos na nossa agricultura. Se
houver um excedente poderemos comprar pasta de fava e depois inundar com este adubo
todas as fazendas da China e das ilhas do Mar do Sul. Para realizar este trabalho
precisamos de separar esta empresa da companhia SMR. Nessa altura ficaremos em
posição de fiscalizar os adubos do Extremo Oriente.
4ª – Soda e cinzas de soda
Importamos 100.000 toneladas de cinzas de soda por ano representando uma
quantia de 10.000.000 de yens. A soda e a cinza de soda são matérias preciosas para usos
militares e industriais. A soda é feita de sal e de carvão, o que não custa caro e abunda na
Manchúria e na Mongólia. Se empreendermos esta fabricação podemos não só abastecernos a nós próprios, mas ainda vendê-la na China, com o objectivo de dominar os seus
produtos agrícolas. Teremos por isto um benefício de, pelo menos, 15.000.000 de yens por
ano. Poderemos igualmente satisfazer as nossas necessidades militares e químicas.
Igualmente, é preciso separar esta empresa da companhia SMR.
5ª – Magnésio e alumínio
Segundo as investigações independentes feitas pela Companhia SMR e pelo dr
Honta, da Tohoku University, o magnésio e o alumínio são negócios cheios de futuro (na
Manchúria). O magnésio encontra-se nos arredores de Tashichiao e o alumínio perto de
Yentai. Esta reserva é uma das mais ricas do Mundo. Uma tonelada de magnésio vale 2.000
yens e uma tonelada de alumínio vale 1.700 aproximadamente. A riqueza destes dois
minérios na Manchúria é calculada em 750.000.000 de yens. Estas matérias-primas são
úteis, principalmente, para a construção de aviões, de talheres, de aparelhos de cirurgia e
outras indústrias importantes. Os Estados unidos possuem uma reserva considerável
destas matérias-primas. A extracção no nosso país é de uma tonelada por ano. Estas
matérias tornam-se cada vez mais procuradas, e as ofertas são insuficientes. As reservas
no nosso território na Manchúria e da Mongólia não são outra coisa que um dom de Deus.
Estes metais são verdadeiramente preciosos, indispensáveis para a nossa industria e para
a nossa defesa nacional. Assim é preciso criar uma empresa independente, distinta da
companhia da SMR. A fabricação destas matérias será feita no Japão de maneira que se
possa impedir, por um lado, que o governo de Mukden nos imite, e, por outro, a vigilância
dos capitais ingleses e americanos. Depois de termos obtido a fiscalização da manchúria,
poderemos utilizar a força hidráulica do rio Yalu para trabalhar estes metais. Tendo em
vista o desenvolvimento da aviação no futuro, o Mundo inteiro procurar-nos-á pedindonos os materiais necessários à aeronáutica.
Se todas as empresas esboçadas se transformarem em empresas independentes o seu
progresso será rápido e dar-nos-ão um lucro anual de 60.000.000.000 de yens. O
desenvolvimento industrial da Manchúria do Sul tem uma importância significativa para a
nossa defesa nacional e para o nosso progresso económico. Ele ajudar-nos-á a fundar um
império industrial. Quanto aos estabelecimentos culturais, como hospitais, escolas e
instituições filantrópicas – servem de torre de comando à nossa penetração na Manchúria
e na Mongólia. São instituições criadas para aumentar o nosso prestígio nacional e a nossa
potência. Mas, particularmente, são iscas para conquistar direitos e privilégios. Separemos
todas estas empresas da companhia do SMR para que possamos redobrar os nossos
esforços e penetrar na Manchúria do Norte e aproveitar as fontes de grandes riquezas.
Quando estas empresas importantes se tornarem independentes e tiverem a liberdade de
se desenvolver sem a intervenção dos nossos funcionários, serão naturalmente os
condutores da nossa prosperidade nacional. Sob o signo do desenvolvimento económico,
poderemos fazer rápidos progressos sem acordar nem as suspeitas das potências nem o
movimento anti-japonês das Três Províncias do Leste. Estes métodos dissimulados
permitem-nos fundar o nosso império com facilidade e eficácia.
Os empréstimos estrangeiros à companhia SMR devem limitar-se às vias já concluídas. As
outras vias que nós já construímos, mas que estão nominalmente sob a fiscalização
chinesa, podem ser ou reunidas às linhas já em actividade ou tornadas independentes
segundo o desejo das nações credoras. A declaração de liberdade de acção ajuda-nos a
obter empréstimos do estrangeiro e a dissipar as suspeitas dos nossos objectivos na
Manchúria do Norte. Em qualquer caso teremos necessidade do capital estrangeiro para
desenvolver o nosso império continental. Quando a companhia SMR estiver aberta aos
investimentos estrangeiros as potências ficarão satisfeitas em nos ceder mais vantagens e
a China nada poderá opor. É um excelente meio de executar os nossos planos na
Manchúria. Não devemos perder tempo para os realizar. Quanto às riquezas concentradas
no Norte da Manchúria e da Mongólia, devemos fazer o mesmo. As duas novas vias-férreas
de Kirin a Hueiling e Changchun a Talai, os assuntos da madeira e das minas devem ser
administrados por instituições separadas.
O SMR ficará consideravelmente enriquecido pela nossa exploração na Manchúria do
Norte. Por isso, é preciso permitir às nações estrangeiras colocar o seu dinheiro no SMR
para que possam participar nos benefícios que a companhia realizar. Enquanto elas
tomam parte nos lucros ninguém se preocupará com as nossas actividades na Manchúria
do Norte. Já os emigrantes chineses vêm em grande número para a Manchúria do Sul. A
sua posição torna-se cada dia mais forte. Não tendo ainda obtido o direito de alugar terras
no interior, os nossos emigrantes perdem terreno pouco a pouco. Mesmo que o apoio do
nosso governo mantenha os nossos compatriotas nesse país, eles não poderão fazer
concorrência aos chineses, porque o nível de vida destes últimos é muito baixo. Agora, a
nossa única possibilidade de bater os chineses é a acumulação de capitais. É preciso, uma
vez mais, recorrer aos empréstimos estrangeiros. Isto é verdade porque, principalmente,
as riquezas da Manchúria do Norte não são acessíveis aos emigrantes chineses.
Precisamos de aproveitar o momento actual para acelerar a nossa emigração e nos
assenhorearmos de todos os direitos de forma a excluir a China deste país. Mas, para
encorajar a emigração, o transporte rápido é indispensável. Ele fornecerá facilidades aos
nossos compatriotas e conduzirá as riquezas naturais aos mercados em perspectiva. Além
disso, a Rússia e o nosso país continuam a aumentar o seu armamento. Em consequência
da posição geográfica, os nossos interesses estão em conflito. Se quisermos obter as
riquezas da Manchúria do Norte e edificar o nosso continente conforme o testamento do
Imperador Meiji, precisamos enviar o nosso povo povo para a Manchúria do Norte e
procurar destruir as relações amigáveis entre a Rússia e a China. Assim, poderemos fruir
as riquezas da Manchúria do Norte e isolar a China e a Rússia. Em caso de guerra, os
nossos emigrantes da Manchúria do Norte reunir-se-ão ás nossas forças na Manchúria do
Sul. E, numa só acção, o problema ficará resolvido para sempre. No caso de isto não ser
possível, poderão sempre manter-se na Manchúria do Norte e fornecer-nos os géneros
alimentícios e as matérias-primas. Como os interesses da Manchúria do Norte e os do
nosso país se confundem, devemos marchar directamente para a Manchúria do Norte e
prosseguir a nossa política determinada.
I – Necessidade de estabelecer um departamento de colónias
A nossa exploração da manchúria apresenta formas variadas. Muitas vezes, aqueles que
exercem o poder Têm poderes de vista tão diferentes que os planos mais proveitosos para
o nosso país não podem ser postos em execução. Como nos falta a rapidez, os nossos
segredos são bastantes vezes revelados e utilizados como material de propaganda pelo
governo de Mukden, com grande prejuízo para o nosso país nos assuntos internacionais.
Todas as vezes que uma empresa nova se projecta em relação à Manchúria e à Mongólia,
ela torna-se objecto de discussões em muitas reuniões e conferências em Dairen. Não só é
precisa a aprovação do governo de quatro cabeças, mas ainda é necessária obter a sanção
do gabinete, no nosso país, antes de empreender alguma coisa. A causa de todos estes
obstáculos é os meses e meses precisos para chegar a um resultado sobre qualquer
empresa. Desta forma, é possível empreguem aventureiros japoneses para desvendar os
nossos segredos, de maneira que, antes de um projecto ser posto em execução, é levado ao
conhecimento dos chineses, e, em seguida, ao do Mundo inteiro. E, de novo estamos sob as
garras da opinião pública mundial. Mais de uma vez temos encontrado dificuldades para
pôr em execução a nossa política referente à Manchúria e à Mongólia. O partido da
oposição explora factos registados nestas regiões para dar o assalto ao governo. Tudo isto
pode ter repercussões muito graves nas nossas relações diplomáticas para o futuro
precisamos de modificar a nossa maneira de proceder, e agir astuciosamente. O centro de
controlo deve estar em Tóquio. Isto terá por consequência: 1º guardar segredo; 2º evitar
que a China tenha prévio conhecimento dos nossos projectos; 3º evitar as suspeitas das
potências, antes de qualquer projecto estar concluído; 4º unificar a fiscalização múltipla na
Manchúria; 5º manter os agentes governamentais na Manchúria e na Mongólia em estreito
contactos com o governo central, para que possamos usar de um poder exclusivo nas
relações com a China. Por todas estas razões devemos seguir o plano original da anexação
da Coreia, plano estabelecido por Ito e Katsura, e criar um departamento de colónias, cuja
função especial será velar pela nossa expansão na Manchúria e na Mongólia. Este
departamento pode, nominalmente, ser encarregado do governo da Coreia, da Formosa e
da ilha Sakalina, mas na realidade ocupar-se-á da nossa expansão na Manchúria e na
Mongólia. Por um lado, isto servirá para fechar os olhos do Mundo e, por outro, evitará a
revelação dos nossos segredos.
Estou pessoalmente convencido de que se a anexação da Coreia não pôde realizar-se no
governo de Ito, a causa deve encontrar-se na falta de uma repartição especial de
fiscalização. Havia sempre opiniões diferentes e a política secreta era impossível. Este
estado de coisas favoreceu a intervenção estrangeira e a oposição coreana. Então,
numerosos propagandistas visitaram a Europa e a América e a própria Coreia e que não
tínhamos qualquer intenção de anexar uma polegada de território coreano. O resultado
deste trabalho foi o restabelecimento da confiança internacional. Depois disto criou-se um
departamento de colónias, sob o pretexto de governar a Formosa. Em seguida, esperámos
a ocasião e a partida foi ganha. Isto prova que para empreender a colonização e a
emigração é absolutamente necessária uma repartição especial. Além disso, a criação do
novo império na Mongólia e na Manchúria é de uma importância capital para a existência
do Japão. É necessária criar uma repartição especial das colónias para que a política destes
dois países possa ser controlada em Tóquio. Os oficiais só têm que receber ordens: não
devem intervir na execução da política. Assim, o segredo será guardado; e as nações
inimigas não terão possibilidade de penetrar no segredo das nossas actividades coloniais.
A nossa conduta na Manchúria e na Mongólia ficará fora da apreciação da opinião pública
mundial e estaremos isentos da sua intervenção.
J – o vale do rio Taling na linha Pequim-Mukden
O vale do rio Taling é uma vasta região de população fraca, mas infestada por bandidos.
Muitos coreanos colocaram ali o seu dinheiro, principalmente em arrozais. A julgar pelas
suas receitas, esta região deve ser próspera. Serve-nos também de ponto de apoio
vantajoso se quisermos estender a nossa penetração à região da província fo Jehol.
Devemos dar toda a protecção aos nossos súbditos coreanos e esperar uma ocasião para
obter da China o direito de colonização, de maneira que os nossos emigrantes possam
estabelecer-se na região e servir-nos de guardas avançados na direcção do Jehol e da
Mongólia. Em caso de guerra, este vale será um ponto estratégico para aquartelar grandes
exércitos. Então, não só evitaremos que os soldados chineses avancem para o Norte, mas
obteremos a chave das riquezas imensas da Manchúria do Sul. Quando os coreanos
vierem para estas regiões devemos fornecer-lhes dinheiro por intermédio dos nossos
«trusts» e outros estabelecimentos financeiros com o objectivo de adquirir, de facto, para
esses estabelecimentos as propriedades, enquanto os coreanos se contentarão apenas com
os seus direitos de arrendamento. Na aparência, é preciso que os coreanos fiquem
senhores das propriedades. É um meio correcto de adquirir os direitos do governo chinês.
De futuro, quando os nossos súbditos coreanos quiserem comprar terrenos, os «trusts» e
os estabelecimentos financeiros devem dar-lhes completo apoio. Se eles tiverem
necessidade de dinheiro para comprar as propriedades agrícolas dos chineses, os
estabelecimentos financeiros devem também ir em sua ajuda. Imperceptivelmente,
obteremos a fiscalização dos melhores arrozais que podemos dar aos nossos próprios
emigrantes. Estes substituirão os coreanos que, por sua vez, irão criar novos campos para
os entregar mais tarde aos nossos compatriotas. É esta a política de colonização no que
respeita aos arrozais e às propriedades de cultura de fava. Quanto à criação de rebanhos, a
«Devolepment Company» deve ser especialmente encarregada da sua gradual expansão, a
fim de colocar sob o domínio do nosso país toda esta riqueza. A mesma companhia pode
ocupar-se da criação de cavalos e escolher os melhores mongóis para a nossa defesa
nacional.
K – Precauções contra a emigração chinesa
Recentemente, os tumultos no interior da China levaram grande número de emigrardes
para a Manchúria e para a Mongólia, ameaçando assim o progresso da nossa emigração.
Para, sob este aspecto, assegurar a nossa actividade, não devemos deixar de tomar
precauções. O facto de o governo chinês acolher bem a emigração, nada detendo para
deter esta verdadeira invasão, prejudica a nossa politica gravemente. Um célebre sinólogo
americano verificou que as autoridades de Mukden realizam uma política tão eficaz que
toda a gente se dirige para o seu território. Desta forma, a afluência de emigrantes
chineses é considerada como uma repercussão da política do governo de Mukden. Isto é
sem dúvida dirigido contra nós. Em menos de dez anos, a nosso própria política de
emigração servirá de instrumento à China para nos esmagar, a menos que não ponhamos
fim a tal estado de coisas. Politicamente, precisamos de empregar a força policial para
evitar, tanto quanto possível, esta tendência.
Economicamente, precisamos que os nossos industriais expulsem os chineses servindo-se
dos mais baixos salários. Depois, devemos desenvolver e vulgarizar a energia eléctrica
para substituir a mão-de-obra humana. Assim, poderemos, ao mesmo tempo, banir os
emigrantes chineses e monopolizar o controlo da força motriz, primeiro passo para a
fiscalização do desenvolvimento industrial desta região.
Hospitais e escolas
Os hospitais e as escolas na Manchúria devem ser independentes do SMR, porque o povo
chinês considera muitas vezes estas instituições como instrumentos de imperialismo e não
quer ter com elas qualquer contacto. Quando estiverem separadas e se tornarem
instituições independentes, poderemos fazer ver ao povo a nossa bondade, de forma que
eles nos fiquem gratos… mas quando fundarmos escolas, devemo-nos ocupar,
particularmente, de escolas normais para professores e professoras. Graças a eles
criaremos entre o povo uma atmosfera de verdadeira benevolência perante o Japão. É este
o nosso princípio para a formação intelectual.
5º CAPITULO
A AGONIA DE UM IMPÉRIO
O Japão começou em 1931 as suas modernas campanhas de conquista no continente
asiático com o objectivo de formar o novo império. Tratava-se da aplicação dos primeiros
pontos do plano Tanaka. O partido do Kuomitang chinês não conseguira ainda realizar a
unificação do país em consequência das suas graves divergências com o partido
comunista, que domina, como se sabe, em várias províncias. Estas desinteligências, que
cessaram pouco depois do começo da actual guerra sino-nipónica, e parece agora terem
voltado a registar-se, são a fraqueza interna da China e constituem, talvez, melhor, que as
armas dos seus exércitos modernos, a grande força do Japão.
Habilmente, souberam os militaristas de Tóquio explorar e acalentar estas divergências,
tal como o haviam feito antes da queda da dinastia manchu, favorecendo e acarinhando os
revolucionários republicanos. Neste último caso, os seus planos malograram-se . a
monarquia milenar caiu, a república tomou conta do poder e, longe de aceitar as
exigências nipónicas, combateu-as com grande vigor. Mas os governantes nipónicos não
desesperaram e, considerando que era de capital importância para os seus projectos
manter a China num estado total de desordem interna, financiaram políticos venais,
compararam governantes, subornaram generais. Mesmo durante as operações militares
de 31-32, quando a China parecia já acordar do seu longo sono confuciano, noticiava-se
com frequência a passagem de um comandante de exército chinês para as hostes inimigas.
Estes deploráveis acontecimentos começaram depois a rarear e, na presente luta,
assistimos ao suicídio de generais quando perdem uma batalha. Este simples confronto
entre o sentido da dignidade e do brio do oficial de ontem e do oficial de hoje, mostra bem
quanto a China tem progredido no sentido da sua unidade e quanto deve aos republicanos
que conseguiram meter ombros a esta tarefa gigantesca de dar uma consciência nacional à
China, retalhada por lutas politicas e por ambições desmedidas de muitos dos seus chefes.
Um outro factor, que impedia – e ainda hoje demora – a conclusão deste trabalho é a
grandeza da China, grandeza que é uma das causas da sua fraqueza, segundo alguns
escritores versados nestes problemas. Na Europa, as revoluções podem firmar-se
rapidamente. Os países são territorialmente pequenos e os meios de comunicação rápidos.
Na China, todos os problemas, ainda que os mais simples, assumem proporções tão amplas
que só longos anos de persistente esforço conseguem solucionar. Os povos que habitam as
províncias do litoral, mais em contacto com a civilização ocidental, compreendem com
maior facilidade as realidades do Mundo actual. Mas, as províncias do interior,
milenarmente rotineiras, aceitam com grandes dificuldades quaisquer inovações no seu
sistema de vida.
Apesar de tudo isto, o Kuomitang realizou já uma obra cujo resultado está agora bem
patente. A China uniu-se contra o perigo comum e resiste desde 1937 à nova agressão
japonesa.
O Japão julgou mal da situação interna e das possibilidades de resistência do seu inimigo?
Assim parece ter acontecido, como dizem os factos. Os seus agentes espalhados aos
milhares pelo continente amarelo não se aperceberam dessa modificação que, lenta mas
seguramente, se fazia em toda a China. Havia, por certo, bastantes razões para crer que
seria impossível uma resistência prolongada aos ímpetos de um grande exército. A China
estava ainda, sob os aspectos técnicos, muito atrasada e os seus problemas políticos longe
de ser solucionados. Os contínuos ataques, mais ou menos disfarçados, à sua integridade
territorial, aos seus direitos de Estado soberano, não haviam criado, depois de 1932, a
necessidade de recorrer a grandes forças militares. A China do Norte passara quase
totalmente para o domínio económico japonês e embora os protestos de Nanquim fossem
violentos, os chineses receavam recorrer às armas, conhecendo nem que, nesses anos,
eram os países agressores que começavam a mandar no Mundo. Submeteu-se às
pretensões nipónicas na província de Xahar, em 1933, e às exigências de Sui Yuan, em
1935. Estes êxitos deram coragem aos militaristas japoneses para desencadearem as suas
operações de 1937, que tinham por objectivo a ocupação económica e politica de todas as
províncias situadas ao norte do Rio Amarelo. Este plano, a realizar-se com êxito, forneceria
ao imperialismo japonês grandes possibilidades de matérias-primas, ao mesmo tempo que
lhe daria um mercado de cerca de cem milhões de homens para o consumo dos seus
produtos manufacturados. Militar e economicamente, o Japão teria uma posição de
privilégio nas futuras guerras em que havia de se meter. Mas, se na agressão de 1931-32 a
resistência chinesa representara um contratempo inesperado, em 1937 este facto foi uma
verdadeira surpresa numa guerra. De facto, embora à custa dos ataques a Xangai e a
Cantão, ao alargamento das operações militares e, por conseguinte, ao enfraquecimento
das suas forças, o Japão conseguiu na prática dominar as regiões referidas. Dominou, mas
não pacificou. Isto é, a ocupação militar teve todas as despesas e sacrifícios de gente de
uma ocupação militar, mas não encontrou nenhuma das suas conveniências. Em lugar de
possuir um grande mercado consumidor e ricas matérias primas, os japoneses fixaram-se
num país hostil em que os seus soldados são assassinados em cada esquina, em que os
habitantes boicotam os seus artigos e em que os guerrilheiros destroem diárimanete
minas e vias de comunicação. Longe de o fortalecer, esta nova campanha da China
enfraqueceu-o. Além disso, a resistência organizada do invadido não cessou nunca e, pare
defender um território que lhe custou milhões de yens e milhões de vidas, o Japão
necessita de manter uma linha de batalha quase continua, de milhares de quilómetros, e
grandes e poderosos exércitos.
O incidente chinês, como lhe chamou o príncipe Konoye, transformou-se numa guerra
lenta de posições, de incursões para que destas lutas, cada vez mais violentas, porque os
chineses melhoram as suas tropas e os seus armamentos, se decida a sorte de qualquer
dos beligerantes. Onde o Japão julgava ir encontrar um arsenal, deu com um vespeiro e
uma sangria. Nesta campanha da china, malograda desde os primeiros tiros na aldeia que
Marco Pólo viu nascer, devem ir buscar-se algumas das razões que deram motivo ao actual
estado do Japão na guerra mundial. Se a China houvesse pactuado com o invasor, ou a sua
resistência não fosse tão brava, que evolução teriam os sucessos do Pacífico? Estas
previsões não são ainda hoje possíveis, mas tudo parece indicar que Mac Arthur ou Nimitz
encontrariam mais violenta oposição às suas actuais conquistas.
Em 7 de Dezembro de 1941, o Japão dá o assalto inesperado a Pearl Harbour e envolve-se
na guerra mundial. O espectáculo do Mundo era bem diferente do que é hoje. A Alemanha
e a Itália venciam em toda a parte. A guerra submarina alemã atingia proporções cuja
gravidade nem os próprios governantes ingleses tinham coragem para esconder. A França
estava batida, aniquilada, com mais de metade do seu território ocupado e a outra metade
sob o pratico domínio alemão. Os revolucionários Balcãs aquietavam-se perante aquele
poder que avassalava a Europa. Os exércitos do Reich estavam às portas de Moscovo e
ocupavam a Ucrânia, e a Turquia tergiversava quando lhe recordavam a aliança com a GrâBretanha. Parecia àqueles que duvidavam do heroísmo do povo londrino e das grandes
capacidades militares e industriais soviéticas que a guerra ia acabar dentro em pouco. O
mito da invencibilidade do soldado alemão espalhava-se pela Europa e fazia recear até a
própria América, já por ser nessa altura uma nação militarmente fraca, comparado o seu
poder com o do Reich, já por as lutas políticas e as campanhas isolacionistas
enfraquecerem ainda mais a sua política externa.
Apesar do cancro chinês, sentiu o Japão que chegara a sua altura. Aliado político e militar
da Alemanha, ia lançar-se na guerra, mas na sua guerra, na guerra Tanaka, e não pode
saber-se ainda hoje se o ataque a Pearl Harbour beneficiou o Reich ou o prejudicou,
lançando na contenda o maior poder industrial do Mundo. É certo que, de começo, a
entrada do Japão na guerra foi para o bloco das Nações Unidas um duro revés. As suas
ainda mal apetrechadas forças eram muito necessárias na Europa. Os ingleses perderam
ao largo da península da Malaca dois couraçados que só muito mais tarde foram
substituídos. Mas mereceu essa atrapalhação de momento a entrada efectiva da América
na conflagração? A América, se não foi o factor decisivo de uma vitória que já se avizinha,
constitui, pelo menos, um dos grandes motivos que permitem a nova fase da guerra. Mas o
Japão não curou dos interesses estranhos. Entendeu que a oportunidade era única. O plano
do domínio da Ásia, já que o plano do domínio do Mundo, ideal de Tanaka, não era de
possível realização sem a ocupação do Pacífico e da China, ia concretizar-se com o
senhorio de Singapura e o assalto à Austrália. «Ou agora, ou nunca.» dissera um político
nipónico. Este mesmo pensamento devia ter determinado a entrada da Itália na guerra.
Ambas as nações se enganaram. A Itália fascista caiu e o Japão começou já a sentir o valor
de uma armada e de um exército tão heróico como os seus, mas possuído da grande
superioridade que dá a razão e de recursos de que o Japão é paupérrimo.
O Japão esperava ocupar, dominar e consolidar as suas conquistas no mais curto espaço de
tempo, porque sabia que não possuía recursos para manter uma guerra a longo prazo.
Assim, a exemplo do que Hitler quase fizera na Europa – e exactamente pelos mesmos
motivos – os comandos japoneses, beneficiando da surpresa, irrompem por todo o
pacífico, depois do assalto aeronaval a Pearl Harbour, feito sem prévia declaração de
guerra. E a guerra do Oriente assemelha-se nestes aspectos á da Europa. Mas o japonês, na
sua ânsia de conquista de posições para operações futuras – Índia e Austrália – alarga-se,
dispersa-se numa frente imensa que só com grandes dificuldades consegue abastecer. Mac
Arthur, recebidos os necessários reforços das Américas, inicia a sua lenta mas proveitosa
campanha, saltando de ilha para ilha, reduzindo os pontos de apoio nipónicos e
transformando-os em pontos de apoios dos Aliados. As esquadras americana e britânica
voltam a sulcar aquelas paragens e a caça à navegação mercante japonesa diminui
assustadoramente a tonelagem útil para o envio de reforços e de armas às posições quase
gratuitamente ocupadas. A China, embora sem armas, obriga o inimigo a manter no seu
território um exército poderoso e o almirante Nimitz com a sua infantaria de marinha
realiza, à força de bombardeamentos, desembarques nas ilhas mais próximas do Japão. Vêse desenhar o cerco e vê-se estreitar o cerco. As bombas transportadas por Fortalezas
Coadoras gigantes começam a cair em Tóqui, em Nagoya, Yawata e Nagasaki. E o Japão fica
forçado a defender-se em quatro frentes: chinesa, de Nimitz, de Mac Arthur e aérea. Na
Europa acontece outro tanto. O Reich luta no Leste, em França e em Itália.
Uma a uma, sem possibilidade de se manter, as posições nipónicas no Pacífico caem depois
de grandes combates dos seus defensores. E o Japão mikadonal começa a sentir o perigo
da grande aventura que começou em 1931 e não teve tréguas até 1944. Mais de dez anos
de guerra enfraquecem uma nação rica. Como não poderiam enfraquecer o Japão, se
durante este tempo todo só tirou proveitos do domínio da Manchúria?
As repercussões das derrotas militares fazem-se sentir em Tóquio. O governo de Tojo, que
se disse ser o mais forte formado no Japão depois da guerra russo-japonesa, não pode
resistir a tantos golpes. Formou-se outro ministério presidido por Koiso, nos mesmos dias
em que, na Europa, um grupo de oficiais alemães atenta contra a vida de Hitler. Também
na Europa os reveses sofridos nos campos de batalha têm repercussões internas no Reich.
O Japão, pode dizer-se, já perdeu a luta. As modificações governamentais não evitam a falta
de matérias-primas para construir armas de guerra. E o Japão, à beira da derrota, combate
ainda, lutará talvez, até ao último alento, mas vê-se já nas suas ilhas reduzido às suas
possibilidades naturais, sem a Coreia, sem a Manchúria, sem a China, sem a Ásia e sem o
Mundo.
Sob os escombros do Japão mikadonial devem encontrar-se as folhas do plano Tanaka. E
todos os programas de domínio do Mundo, por um homem, por uma raça ou por uma
nação tiveram este destino. Tanaka não podia fugir a esta regra sem excepção que vigorou
sempre. Desfez-se em fumo com o fim desta guerra, a ideia de um universo nipónico.
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O Plano Secreto Japonês Para a Conquista do Mundo