1 A representação dos conceitos de arte no sistema de organização do conhecimento no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro Carolina Akemi Kano Silva1 Gabrielle Martins Bernardo2 João Paulo Borges Paranhos3 Maria Fernanda Nogueira4 Reinaldo Bruno Batista Alves5 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo apontar algumas incongruências da Classificação Decimal de Dewey (CDD) na classe de Artes (700). Para tanto, a metodologia utilizada é o estudo de caso, realizado em conjunto com o levantamento bibliográfico do tema, técnica que oferece base à fundamentação teórica. São abordados conceitos de Artes e Biblioteconomia, mostrando que deve haver um trabalho interdisciplinar entre profissionais das duas áreas, para uma melhor classificação de documentos relacionados aos movimentos artísticos. São explicitadas algumas adaptações realizadas pela bibliotecária-chefe, em conjunto com os estagiários da Biblioteca MAM RJ a partir de análises práticas de classificação do acervo. Palavras-chave: Classificação Decimal de Dewey. Museu de Arte Moderna. Arte. 1 INTRODUÇÃO O trabalho foi motivado a partir de discusssões no Setor de Pesquisa e Documentação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ), com intuito de possibilitar uma 1 Graduanda, Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected]. Graduanda, Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected]. 3 Graduando, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, [email protected]. 4 Graduanda, Universidade Federal Fluminense, [email protected]. 5 Graduando, Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected]. 2 2 representação mais fidedigna à proposta dos documentos do acervo. Apontando essa importância na classificação, Rodrigues (2005, p.45) indica que o objetivo de uma estrutura de classificação, tal como de um tesauro, é representar o conhecimento de forma organizada para que se possa recuperar a informação de maneira mais ágil. O próprio termo “representar” nos remete à abstração, ou melhor ainda, abstração da realidade. Um termo é um signo no qual o homem tentou representar a maneira mais aproximada de um objeto que ele observou na realidade empírica. Estudando as formas de representação contempladas na linguagem notacional adotada na Unidade de Informação - Sistema de Classificação Decimal de Dewey (CDD) -, foram detectadas algumas impossibilidades de representação de termos relacionados à temporalidade e linhas de pensamento apontado na própria História da Arte, que já contém em sua estrutura epistemológica conceitos que se divergem ao longo de seu estudo. Como a Arte se modifica a partir da mudança de pensamento da sociedade vigente, Machado (2008) ressalta que a História da Arte apresenta problemas particulares, que derivam de um enorme alargamento de campo, da multiplicação dos objectos e, simultaneamente, da necessidade de convergência entre as múltiplas perspectivas de análise, originadas pela evolução dos estudos culturais. A própria designação História da Arte confronta-se hoje com os Estudos Visuais, a Teoria da Imagem e da Comunicação, num alargamento do horizonte teórico. Partindo desse princípio, no trabalho de classificação tornam-se significativas as discussões sobre termos específicos utilizados na história da arte, a fim de melhor adaptação do arranjo, possibilitando relações unívocas entre termos e conceitos, assim como relações filosóficas e técnicas do documento, desvelando a interdisciplinaridade entre Biblioteconomia e Artes, visto que é a interdisciplinaridade que “prepara e engaja os especialistas na pesquisa em equipe, fornecendo-lhes os instrumentos conceituais para que saibam analisar as situações e colocar os problemas.” (JAPIASSU, 1976, p.33) O trabalho apresentará, primeiramente, a história do MAM RJ, a concepção da biblioteca e seus intuitos como Unidade de Informação, tal como os conceitos de classificação voltados para a área de Artes. No desenvolvimento, o cerne do trabalho mostrará o que a Classificação Decimal de Dewey abrange ou falha no que tange à organização da informação dentro da Biblioteca do MAM RJ, através de um estudo comparativo. Por fim, será apresentado um posicionamento crítico a respeito do assunto tratado, assim como as conclusões chegadas a partir de análises práticas de classificação do acervo. 3 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro Para fins metodológicos, e para que se possa tratar acerca da história do MAM RJ, é necessário que se faça alusão a alguns conceitos como: Museus, Arte Moderna e Arte Contemporânea, sendo estes dois últimos definidos por Danto (2006, p.12): Da mesma forma que "moderno" nao é simplesmente um conceito temporal, significando, digamos, "o mais recente", tão pouco "comtemporâneo” é um termo temporal, significando tudo o que esteja acontecendo no presente momento. Por Museu de Arte, Nascimento (apud Suano, 1986, p.5) diz que “cunha-se a expressão museu dinâmico para definir essa instituição que abrigava a obra de arte, arquivos, espécimes raros do mundo mineral, vegetal e animal e que oferecia a sociedade serviços educacionais, concertos de música, desfiles de moda e ciclos de debates.” O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi criado na década de 1940, com o objetivo de proporcionar à população formas de contemplar obras de artistas nacionais e internacionais, de acordo com o tempo e espaço em que ocorriam manifestações artísticas. Seguindo este objetivo, sediou exposições de grande importância, como por exemplo, as do período do abstracionismo geométrico, como a I Exposição Neoconcreta (1959), uma mostra do artista Georges Mathieu, com sua produção voltada para o abstracionismo lírico (1959), Nova Objetividade Brasileira (1967) - exposição na qual Hélio Oiticica apresentou a penetrável Tropicália - entre outras. Dentre suas programações, uma das mais famosas foi o Domingos da Criação (1971), a qual reunia, nos jardins do Museu, público das mais variadas idades para experimentaçõea artísticas com papel, fios, terra e outros materiais. Nesta época (década de 70), renomados artistas também estiveram expondo o seu trabalho, como Ivan Serpa, Lygia Clark, Arthur Luiz Piza, entre outros, representantes da arte abstrata brasileira. Atualmente, o Museu conserva aproximadamente 11 mil objetos, grande parte oriundos da Coleção Gilberto Chateaubriand, depositada em regime de comodato (empréstimo com prazo estipulado) no museu em 1993. Possui inclusive telas de Cândido Portinari, Tarsila do Amaral, Lasar Segall, Di Cavalcanti e gravuras de Oswaldo Goeldi, entre outras. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro possui como missão “difundir a produção moderna e contemporânea, nacional e internacional, não só no Rio de Janeiro como 4 em todo o Brasil e no exterior, através de exposições de sua coleção, publicações e empréstimos de obras”. E como objetivo, dentre outros: formar, manter e preservar a coleção de obras de arte moderna e contemporânea. 2.2 Biblioteca A Biblioteca do MAM RJ tem como objetivo difundir o conhecimento sobre arte e dar apoio informativo às exposições realizadas pelo Museu, através do atendimento ao público em geral e à própria equipe interna. Foi pensada junto à criação do museu, e citada em sua ata de constituição, datada de 03 de maio de 1948. Entretanto, seu acervo foi constituído paralelamente ao desenvolvimento da Instituição, sendo, em 1970, os primeiros registros de organização de tal unidade informacional. Em 1978, foi infelizmente destruída por um incêndio. Porém, com o esforço conjunto de seus funcionários, amigos e usuários, ela foi recomposta e reaberta em dezembro de 1986. No período 1987-1989, por determinação da Diretoria e empenho da Curadoria de Artes, são reestruturados os serviços documentários – Biblioteca e Documentação – que passaram a trabalhar tecnicamente em coordenação com o objetivo de se constituírem em um Centro de Documentação e Informação em Arte que apoiaria as atividades do Museu, a comunidade artística, estudantes e público em geral. A biblioteca ainda sofreu, poucos anos depois, com uma inundação que destruiu parte do seu acervo restante. Atualmente, é integrada ao setor de Pesquisa e Documentação do MAM RJ e seu acervo reúne importantes publicações para subsidiar estudos em Artes Visuais apesar de, devido aos problemas que sofreu, não seja possível precisar quantitativamente quantos volumes possui. A biblioteca é especializada em arte moderna e arte contemporânea. Possui também outras áreas de abrangência como: arquitetura, design, história da arte, teoria da arte e fotografia. Seu acervo é composto por livros, catálogos de exposições, periódicos, monografias e obras de referência. As novas publicações são incorporadas ao acervo através de doação e permuta com outras instituições. A Biblioteca no momento encontra-se fechada ao público. Seu corpo administrativo é composto por uma bibliotecária, um auxiliar de biblioteca, e também uma equipe de sete estagiários, havendo, desta forma, um trabalho intenso visando sua reabertura. Em 2010, a Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (SEC RJ) contemplou o projeto “Biblioteca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro: aquisição de mobiliário e equipamentos”, que foi realizado durante o ano de 2011. Neste ano (2012), a Biblioteca foi novamente 5 contemplada pela SEC RJ, desta vez com o projeto “Biblioteca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro: automação”, com realização em curso para que seja possível à biblioteca ter um catálogo online e, a princípio, atender somente aos funcionários, a fim de subsidiar as atividades do Museu, e ao COMUT. Dentro do projeto de automação da biblioteca há a inclusão de informações do acervo no banco de dados, que trata de todo o processamento técnico do livro, desde sua classificação e catalogação até o preparo para acondicionamento na estante. Sendo o processamento técnico do acervo trabalho dos estagiários sob orientação de uma profissional bibliotecária, sentiu-se a necessidade de realizar um estudo, por parte destes, a respeito do processo de classificação do material bibliográfico. 2.3 Marco Teórico Conceitual É difícil definir Arte, uma vez que ela é dotada de características que lhes são bem peculiares. São diversos os produtos da Arte, assim como cada artista possui a sua individualidade. Atualmente, a idéia de arte difere-se daquela que foi aceita em séculos passados. Dessa forma, as obras são vistas de diferentes ângulos, e conforme Eco (1981, p.136) "a idéia de arte muda continuamente, de acordo com as épocas e com os povos, e o que para uma dada tradição era arte parece desaparecer face aos novos modos de operar e de fruir". Desta forma, percebe-se o quão difícil é a tarefa de classificar um documento da área, visto que ainda não está consolidada. Segundo Tristão, Fachin e Alarcon (2004), “a classificação é um processo mental por meio do qual podemos distinguir coisas, seres ou pensamentos pelas suas semelhanças ou diferenças, estabelecer as suas relações e agrupá-las em classes de acordo com essas relações”. Uma biblioteca especializada na área de artes, porém, distingue-se pela obsolescência da informação que reúne, uma vez que “a dinâmica das rupturas no campo artístico é muito próxima do que Thomas Kuhn chamou de revoluções científicas: os ciclos paradigmáticos guardam, tanto em arte como ciência, muitas semelhanças na sua sistemática de surgimento e ruptura” (ZAMBONI, 1998, p. 112). Desta forma, as modificações conceituais no campo de artes são constantes, o que implica numa atualização periódica do sistema de organização do conhecimento. Sendo o sistema utilizado neste estudo de caso a CDD, pode-se constatar que não é possível, por exemplo, uma relação de assuntos em uma mesma classificação. É possível compreender que um sistema de classificação taxonômico e hierárquico como a CDD não seja capaz de abranger toda a enorme quantidade de 6 movimentos artísticos de locais isolados e curta duração como os surgidos no século XX, uma vez que dentro do questionamento global a que estão sujeitas as ciências sociais, especialmente marcadas por sucessivas derivas teóricas desde os anos de 1960, a História da Arte apresenta problemas particulares, que derivam de um enorme alargamento de campo, da multiplicação dos objectos e, simultaneamente, da necessidade de convergência entre as múltiplas perspectivas de análise, originadas pela evolução dos estudos culturais. (MACHADO, 2008) Porém, para um pesquisador e estudioso da história da arte, os usuários reais e potenciais da biblioteca do MAM RJ, existe estranhamento em representar, por exemplo, documentos de concretismo e neoconcretismo dentro de uma mesma notação. Apesar de possuírem semelhante nomenclatura e base de fundação, cada movimento distinguia-se no conceito essencial do que a própria arte deveria ou não apresentar para ser considerada arte de fato. No manisfesto neoconcreto (1959), lê-se: Trabalhando no campo da pintura, escultura, gravura e literatura, os artistas que participam desta I Exposição Neoconcreta encontraram-se, por força de suas experiências, na contingência de rever as posições teóricas adotadas até aqui em face da arte concreta, uma vez que nenhuma delas “compreende” satisfatoriamente as possibilidades expressivas abertas por estas experiências. Sendo o neoconcretismo, ainda, movimento de exclusivo desenvolvimento brasileiro, sofre do determinismo geográfico da criação da CDD, a qual toma por formação pensamentos norte-americanos e muitas vezes dificulta seu uso em outras realidades culturais. Essa afirmação fica explícita a partir do momento em que a Classificação Decimal de Dewey, a qual trabalha com o viés da da garantia literária6, não contempla tal movimento artístico brasileiro, sendo ele já validado e reconhecido por seus pares. Porém, ao observar essa manifestação artística, podem-se apontar algumas incongruências sobre o termo garantia literária na organização do conhecimento. Uma das justificativas pode estar relacionada a (...) um tratamento esporádico - e muitas vezes superficial - na literatura especializada da área, sendo considerado como carecedor de um marco teóricometodológico que pudesse favorecer sua aplicação sistemática. Assim, nesse tímido e irregular transcurso ao longo de um século, passou por décadas de esquecimento generalizado (...). (Barité, 2010) Ainda esmiuçando o termo em questão, podemos apontar o que Guimarães (apud Miranda, 2011, p.5) afirma, a respeito do conceito de tendenciosidade: “costuma estar intrínseca nos 6 “[...] Se sustenta na ideia nuclear de que a literatura de um domínio deve ser a fonte para extração e validação da terminologia a ser incorporada em um sistema de classificação, ou em qualquer outro sistema de organização do conhecimento.” Barité (2010) 7 sistemas de classificação, nos tesauros e nas listas de cabeçalhos de assuntos, já que esses sistemas são criados por pessoas com visão cultural, política e religiosa próprias.” Cessado o Neoconcretismo, outra manifestação de renome no Brasil, a Tropicália, também é difícil de ser representada com uma classificação. O próprio movimento, com nome colhido de um projeto de Hélio Oiticica na exposição “Nova Objetividade Brasileira”, exposta no MAM RJ em 1967, teve como objetivo romper ligações com produções culturais estrangeiras: A Tropicália veio contribuir fortemente para essa objetivação de uma imagem brasileira total, para a derrubada do mito universalista da cultura brasileira, toda calcada na Europa e na América do Norte, num arianismo inadmissível aqui: na verdade quis eu com a Tropicália criar o mito da miscigenação – somos negros, índios, brancos, tudo ao mesmo tempo – nossa cultura nada tem a ver com a européia, apesar de estar até hoje a ela submetida (...) É a definitiva derrubada da cultura universalista entre nós; da intelectualidade que predomina sobre a criatividade – é a proposição da liberdade máxima individual como meio único capaz de vencer essa estrutura de domínio e consumo cultural alienado. (OITICICA, 1972, p. 86) O Tropicalismo, logo, não se restringia apenas à produção de artes visuais, mas também estava representado na literatura e na música. Sem uma classe específica definida para notacioná-lo, as obras contidas na Biblioteca do MAM RJ sobre o movimento não seriam adequadamente condicionadas apenas às subclasses de pintura, literatura e música. Sobra ao Tropicalismo, movimento rico e de grande importância brasileira, ser classificado apenas como “arte contemporânea”, junto a diversas outras obras gerais de arte. A classe de Artes – 700, portanto, pode ser um exemplo de tendenciosidade a ser explorado, onde os movimentos artísticos norte-americanos e europeus estão em maior ênfase do que os de outros continentes. Seria possível explicar, desse modo, o porquê de movimentos brasileiros como o Neoconcretista e o Tropicalismo não serem abrangido quando o Construtivista, exclusivo da Rússia, tem sua própria notação (709.04057). Para Miranda (apud Beghtol, 2002), por exemplo, a garantia cultural reside na idéia de que um sistema de organização do conhecimento será o mais apropriado possível e útil para os indivíduos de uma cultura apenas se ele for baseado nas suposições, valores e predisposições dessa mesma cultura. Inversamente, se um sistema não é baseado nessas suposições, ele será apropriado e útil a uma menor extensão de indivíduos na cultura. (MIRANDA, 2011, p.5) Muitos outros termos e manifestações artísticas não são contemplados pela CDD, como: arte naif, arte processual, arte relacional, arte híbrida e arte plumária. Além disso, foi percebido um rearranjo dos movimentos dentro da classe de História da Arte na versão atual da CDD (23ª). A kinetic art - arte cinética - (antiga 709.04073, atualmente representado pelo 8 sinal de colchetes “[ ]”), por exemplo, foi diretamente incluída dentro de 709.0407, que representa composite media and sensations. Obras de artistas como Palatnik7 estão condicionadas, então, numa organização que as deixam em igual patamar conceitual a artistas como Hiro Yamagata8, quando, na realidade, nenhum pesquisador de artes equipará-los-ia diretamente. Para fins de definição, a arte cinética , de acordo com verbete retirado da Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais, trata-se de uma idéia de movimento, rompendo assim com a condição estática da pintura, apresentando a obra como um objeto móvel, que não apenas traduz ou representa o movimento, mas está em movimento. Ainda que existam conflitos teóricos entre críticos de arte sobre sua validação como manifestação única e individual, distinguindo-a de outras existentes e semelhantes como arte ótica (OP art) e o abrangente termo “arte composta por mídia e sensações”, houve artistas consolidados e reconhecidos na história pela arte cinética, a exemplo do próprio supracitado Palatnik. Muitos pesquisadores ainda a relacionam inclusive com Alexander Calder ou Marcel Duchamp. Ao invés de ampliar e englobar novas e maiores possibilidades de classificações mais fidedignas aos documentos produzidos, a CDD acabou por enxugar ainda mais sua aplicabilidade em bibliotecas especializadas de artes. Abraham Palatnik - Objeto Cinético, 1964 - Metal, madeira, engrenagens, motor e tinta acrílica, 82,5 x 30,0 x 31,5. Coleção do artista. 7 8 Um dos artistas mais renomados, conhecido exclusivamente pela Arte Cinética. Artista contemporâneo que se utiliza de técnicas como lases e hologramas em suas pinturas, englobado na classificação de Arte Composta por Mídia e Sensações (ao pé da letra). 9 Bridget Riley - Movement in squares, 1961 - Tempera on board 122x122 Outro exemplo a ser analisado são os termos instalação9, intervenção10 e site specific11. Na CDD o termo instalação é indicado pelo volume índex, apesar de não aparecer dentro da própria classe. A notação que o representa (709.0474) compreende happenings, enviromments and events, quando, na verdade, happenings12 estaria muito mais próximo de perfomances (709.0475), que é exemplificado nos anexos A, B, C. Neste mesmo sentindo, pode-se citar o movimento abstracionista, que na CDD (709.0452) engloba o expressionismo abstrato, abstracionismo geométrico e neoplasticismo. Ainda que as três manifestações fundamentem-se de fato no princípio abstrato, suas realizações e motivações possuem diferenças. Talvez fosse mais interessante se o sistema de classificação permitisse um modo de separá-las, a fim de que não fossem alocadas conjunta e intercaladamente nas estantes. Abaixo, verificam-se duas ilustrações que fazem alusão ao que foi comentado acima: 9 Instalação: é designado como ambiente construído em espaços de galerias e museus. É difícil de ser definida, uma vez que essa modalidade de produção artística “lança” a obra no espaço, com o auxílio de materiais muito variados, na tentativa de construir um certo ambiente ou cena, cujo movimento é dado pela relação entre objetos, construções, o ponto de vista e o corpo do observador. 10 Intervenção: como prática artística no espaço urbano, a intervenção pode ser considerada uma vertente da arte urbana, ambiental ou pública, direcionada a interferir sobre uma dada situação para promover alguma transformação ou reação, no plano físico, intelectual ou sensorial. Trabalhos de intervenção podem ocorrer em áreas externas ou no interior de edifícios. 11 Site Specific: liga-se à idéia de arte ambiente, que sinaliza uma tendência da produção contemporânea de se voltar para o espaço - incorporando-o à obra e/ou transformando-o -, seja ele o espaço da galeria, o ambiente natural ou áreas urbanas. É a ideia que se trata de arte fisicamente acessível, que modifica a paisagem circundante, de modo permanente ou temporário. 12 Happening: forma de arte que combina artes visuais e um teatro sui generis, sem texto nem representação. Nos espetáculos, distintos materiais e elementos são orquestrados de forma a aproximar o espectador, fazendo-o participar da cena proposta pelo artista (nesse sentido, o happening se distingue da performance, na qual não há participação do público, porém, são termos próximos). 10 FIGURA 1: Piet Mondrian - Broadway Boogie Woogie, 1943 - Oil on canvas 127 x 127 FIGURA 2: Jackson Pollock - Number 8, 1949 - Oil, enamel, and aluminum paint on canvas 86.6 x 180.9 A figura 1, de Piet Mondrian, é uma representante do abstracionismo geométrico, e a figura 2, de Jackson Pollock, do expressionismo abstrato. Embora ambas não sejam figurativas, uma parte da concepção geométrica enquanto outra parte da intensidade emocional, respectivamente. A notação de abstracionismo, logo, seria viés de uma organização muito mais precisa caso obras oriundas desses movimentos não ficassem misturadas e submetidas a uma simples orientação de “class here abstract expressionism, geometric abstracionism and neoplasticism”. Partindo do princípio de que não são parecidas, e de que o movimento artístico da figura 1 (abstracionismo geométrico) é diferente do apresentado na figura 2 (expressionismo abstrato), não é indicado uma divisão como abstracionismo não possuir as subdivisões expostas anteriormente, embora a CDD possua uma linha de pensamento unificada. 2.3 Metodologia Para melhor compreensão sobre o assunto, foi realizado um levantamento bibliográfico, técnica que oferece uma base à fundamentação teórica. Sendo assim, a principal fonte de informação para a elaboração deste trabalho foi a CDD, visto que a partir dela puderam ser analisadas as incongruências de representação dos termos relacionados à temporalidade e linhas de pensamento apontadas na própria História da Arte. A metodologia utilizada neste trabalho é de estudo de caso, que segundo Gil (1991), “não aceita um roteiro rígido para a sua delimitação, mas é possível definir quatro fases que mostram o seu delineamento: a)delimitação da unidade-caso; b) coleta de dados; c)seleção, análise e interpretação dos dados; d) elaboração do relatório”. A delimitação da unidade-caso foi pensada de acordo com as dificuldades de classificação no dia-a-dia da Biblioteca MAM 11 RJ, e a coleta de dados foi realizada a partir da leitura de teóricos da arte como Danton e Eco e da Biblioteconomia, como Maimone, Tálamo e Miranda, juntamente com a utilização da CDD. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do estudo realizado, que culminou na elaboração deste trabalho, pôde ser constatado que para um profissional que não seja formado na área de Artes, as formas de representação do conhecimento são complexas, pois os conceitos são variados, visto que, ao observar as divergências que envolvem o conceito de Arte e, em certa medida, o confuso histórico do museu, é possível vislumbrar as dificuldades encontradas [...] ao adentrar o campo artístico. Neste contexto, o profissional da informação se depara com diversas variantes que podem se tornar ambíguas ou mesmo paradoxais. Este campo se mostra bastante subjetivo, não palpável, dificultando tanto sua compreensão como estabelecer formas de recuperação de informações. (RODRIGUES; CRIPPA, 2009) No caso da Classificação Decimal de Dewey, foram observadas incongruências quanto à apresentação dos conceitos de arte. Formas de expressões artísticas mais expoentes (como pintura, escultura, fotografia e música) são representados em classes, e as suas subdivisões, em subclasses. Entretanto, tomando como exemplo a subclasse 750 (pintura) e levando-se em consideração o que foi falado no referencial teórico, as suas subdivisões poderiam ser melhor exploradas, uma vez que variadas formas de pintura não são ali expostas. Portanto, pode-se dizer que a CDD é, quanto à classe 700, muito generalizada. Conclui-se também que, ao não permitir relações entre assuntos, a CDD divide na organização física do acervo obras de artistas modernos e contemporâneos, que com grande frequência expressam-se em diversas mídias. Para fins de normalização da Biblioteca MAM RJ, a classificação foi adaptada de acordo com a necessidade da unidade de informação. Por orientação da bibliotecária-chefe, a solução encontrada foi a adaptação da representação dos conceitos (classificação) de acordo com o artista e não com o assunto do livro, pois desta maneira todos as obras relacionadas a um mesmo artista apresentam-se juntas na estante. Corroborando, Maimone, Silveira e Tálamo (2011, p.34) afirmam que “a representação da informação, tanto temática quanto descritiva, utiliza-se de uma linguagem própria para atingir seu principal objetivo, que é proporcionar a comunicação eficaz entre sujeito e objeto (usuário e documento).” 12 Desta forma, é possível crer que para um profissional da área de informação como um bibliotecário, é necessário possuir conhecimentos estruturados quanto ao campo artístico ou ter um trabalho interdisciplinar, pois assim, parte dos “problemas” que são relacionados à organização do acervo, entre outras questões que permeiam o campo, podem ser melhor esclarecidas. Rodrigues e Crippa (2009) afirmam que este profissional deverá saber trabalhar as informações desta área com vistas a organizá-la, torná-la recuperável e disseminá-la. A capacitação desse profissional não deve estar pautada apenas nas funções que realizará, mas principalmente quanto aos conceitos de Arte, histórico do museu e seu funcionamento. Sendo assim, a partir da análise dos conceitos apresentados no trabalho, pôde-se observar a necessidade de uma maior interconectividade entre o profissional de informação e o assunto em questão a área de artes. Espera-se que futuramente todas as incrongruências aqui apontadas e as que virão sejam revistas pelo órgão competente a revisões da CDD, e desta forma, efetive esta pesquisa acadêmica em andamento. 13 REFERÊNCIA ALVARENGA, Lídia; DIAS, Célia da Consolação. Análise de domínio e gestão arquivística. DataGramaZero, Rio de Janeiro, v.13, n.1, fev. 2012. Disponível em: <http://dgz.org.br/fev12/Art_07.htm>. Acesso em: 10 set. 2012. ARTE Cinética. In: ENCICLOPÉDIA Itaú de Artes Visuais. São Paulo: Itaú Cultural, 2005. 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