UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES PÚBLICAS, PROPAGANDA E TURISMO Relações Públicas como uma Função Integradora Ligia Ungaretti Jesus Trabalho apresentado à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Relações Públicas Prof. Dr. Paulo Nassar orientador SÃO PAULO, Outubro/2011 Banca Examinadora ____________________________ Prof. Dr. Paulo Nassar ____________________________ Prof. Dr. Arlindo Ornellas Figueira Neto ____________________________ Resumo A linguagem surge da prática social e é a forma pela qual o indivíduo define e comparte sua percepção da realidade com o mundo. É parte constituinte da cultura, esta entendida como o espírito formador da sociedade, elemento de conexão e construção de significados em comum. A cultura como o que permite que indivíduos se relacionem e dêem origem à práxis social em si. Toda essa análise aplicada ao contexto organizacional amplia os horizontes da atuação do profissional de relações públicas, que tem na cultura organizacional o seu contexto de trabalho. É aí que esse profissional assume a função de mediador na construção de significados da realidade organizacional, ou seja, é parte atuante na gestão dos processos comunicativos que definem as relações no ambiente de trabalho, o que é em si a realidade vivida pelas pessoas que formam a organização. A partir disso, fica claro o potencial da gestão da comunicação organizacional e o poder assumido pelo profissional que o faz. Consequentemente, aflora a consciência da responsabilidade que tem aquele que trabalha com relações públicas e comunicação. Sendo assim, questiona-se: qual a intenção do profissional de Relações Públicas em gerir a comunicação organizacional? A partir dessa pergunta se abre um leque de possibilidades para a atuação em comunicação, as quais são nesse trabalho analisadas através de dois estereótipos em relações públicas aqui denominados função ideológica e função integradora. Enquanto a função ideológica diz respeito ao uso da gestão da comunicação para controle de subjetividade e alienação do trabalhador, a função integradora propõe uma nova forma de atuar em relações públicas, onde interesses da sociedade e do trabalhador, como reconhecimento profissional, responsabilidade socioambiental, necessidades emocionais, entre outros, passam a ser atendidos de forma genuína. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10 1. A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE ............................................................. 13 1.1 O surgimento da Linguagem ................................................................ 13 1.1.2 A percepção da realidade como uma imagem da mesma .............. 14 1.1.3 Importância de um sistema de signos em comum .......................... 15 1.2 Um zoom na organização ..................................................................... 17 1.2.1 A organização como sociedade ....................................................... 17 1.2.2 A organização como indivíduo ......................................................... 18 1.3 A importância da cultura dentro das organizações ........................... 19 1.3.1 Cultura ............................................................................................. 19 1.3.2 Cultura organizacional ..................................................................... 22 1.3.3 Cultura ideal x Cultura real .............................................................. 23 2. A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS .................. 26 2.1 Questionamento por uma nova consciência em Relações Públicas 26 2.1.1 Dois caminhos que servem de estereótipos na atuação do Relações Públicas .................................................... 28 2.1.2 Sobre a intenção do profissional de Relações Públicas .................. 29 2.1.3 A consciência em relação ao potencial da comunicação na construção da realidade ................................... 30 2.2 Uma função ideológica ......................................................................... 32 2.2.1 Controle da subjetividade ................................................................ 33 2.3 Então, por que se faz a gestão da comunicação? .............................. 35 2.4 Função Integradora ............................................................................... 36 2.4.1 Uma Nova Era ................................................................................. 38 2.4.2 O que nasce do novo ....................................................................... 38 2.4.3 O surgimento de uma nova linguagem ............................................ 39 2.4.5 A importância de rever a prática do profissional de comunicação .. 41 2.4.6 Uma nova forma de atuar como Relações Públicas gestor de comunicação...................................... 41 2.4.7 O fazer político em Relações Públicas ............................................ 45 2.4.8 Uma pequena revolução – integração de partes ............................. 47 3. SOBRE PROCESSOS DE TRABALHO ....................................................... 49 3.1 Reflexão epistemológica.......................................................................... 49 3.2 A presença do novo na prática do Relações Públicas ............................ 49 3.3 Levantamento da Memória Organizacional ............................................. 53 3.4 O Relações Públicas como pesquisador ................................................. 58 3.5 A entrevista .............................................................................................. 60 3.6 Identificando os entraves no contexto da comunicação organizacional .. 61 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 63 5. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 64 6. ANEXOS ....................................................................................................... 67 6.1 Roteiro de Entrevista ............................................................................... 67 6.2 Entrevista Gilberto Colorni - Gerente de Design Industrial da Arcor ....... 68 6.3 Entrevista Schuler – anotações ............................................................... 75 Agradecimentos A gratidão bate forte, e eu ponho isso aqui: Grata ao meu pai, Tonico e à minha mãe, Marcia, tanto pela vida quanto pela ajuda na produção desse trabalho. Grata Roseli Figaro, por abrir meus olhos para a responsabilidade em trabalhar com comunicação. Grata aos amigos de jornada na ECA, pelas conversas e devaneios sobre relações públicas. Grata Pedro de Bona, por cada troca e aprendizado sobre o que é a relação humana. Grata Rita Monte, por me lembrar do valor que tem ser genuína comigo em relação ao mundo. Grata Brian Gray, pela torcida na reta final e por me apresentar uma realidade toda nova. Grata Eu, por insistir na busca em servir ao mundo de um jeito delicioso para mim e para o todo. Dedico esse trabalho àqueles que buscam uma forma de servir à construção de um mundo melhor através da comunicação. Por quê eu escolhi Relações Públicas “Do que se trata essa carreira, de Relações Públicas?”, foi o que me perguntei em 2006 quando me inscrevia no vestibular para ingresso na Universidade de São Paulo. Sinceramente nunca tinha ouvido falar dessa profissão e não conhecia suas funções. Mas o nome me chamou a atenção, Relações Públicas. Com certo nível de inocência, que poderia ser melhor denominado de ignorância, entendi que deveria ser algo como o estudo das “Relações Públicas”, ou seja, dos encontros que acontecem entre as pessoas não na vida privada, mas na vida pública? Isso me interessou profundamente, e me lembro do momento em que assumi que tentaria essa carreira. Era algum dia do ano de 2006 e eu estava no carro com meu pai, atravessando a ponte da cidade universitária. Meu coração bateu forte ao imaginar-me ingressando na Escola de Comunicações e Artes. Cursando Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas. Tudo correu como esperado no vestibular e pude começar o curso. E, como acontece na maioria das vezes em que levantamos muitas expectativas em relação a algo, percebi que a formação era muito diferente do que eu tinha imaginado – mesmo porque o imaginado era muito mais próximo de um sonho fantástico que mesclava intervenções artísticas com comunicação, tudo colorido e de pura criação e felicidade, sempre com pessoas incríveis à volta. Sair do abstrato e me deparar com o mundo real resultou em um período de frustração e vontade de abandonar curso. Período esse que durou pouco, pois felizmente tomei consciência do potencial de relações públicas e de tudo que eu poderia realizar a partir dessa formação. Foi assim que tudo mudou e percebi o amplo leque de possibilidades de atuação da profissão. Aquele sonho primeiro que eu tinha de capacitar-me para entender e facilitar o desenvolvimento das pessoas através de suas relações de trabalho era perfeitamente compatível com o curso e que a autonomia concedida a mim nessa fase de meus estudos me permitia sim, focar-me na área que em que eu quero atuar como profissional gestora de comunicação. Essa é minha proposta nesse trabalho de conclusão de curso: aprofundar-me um pouco mais na prática do profissional de relações públicas que atua com o objetivo de integrar o grupo de pessoas no qual está focado, seja esse uma empresa privada, uma ONG, uma equipe de trabalho de um órgão público ou qualquer outro gênero de grupo que tenha a intenção de evoluir enquanto unidade integrada, sempre buscando na prática do trabalho um espaço educativo e de desenvolvimento humano que atenda as necessidades individuais e da organização, desde as financeiras até as emocionais. 10 INTRODUÇÃO O cuidado com a comunicação vem ganhando importância no mundo do trabalho, o que se deve muito ao desenvolvimento de novas tecnologias e à crescente quantidade de troca de informações que geram conflitos e dificuldades de compreensão. Em outras palavras, manter uma boa relação, tanto entre os membros de uma mesma instituição (comunicação interna) quanto entre a instituição e seus públicos (comunicação externa), vem se tornando uma tarefa cada vez mais complexa. Além disso, a capacidade de realização de novos projetos e elaboração de novas idéias vem sendo aprimorada pelos profissionais da área. Um outro ponto que influi para o crescimento da área de comunicação no mercado de trabalho é o refinamento da consciência – tanto do profissional de comunicação quanto da sociedade em geral – em relação à importância da cultura e do potencial da comunicação em si. Por isso se faz importante que tanto os profissionais que se dedicam às relações públicas quanto à sociedade como um todo se conscientizem do poder que tem o conhecimento da gestão da comunicação e o contexto de fluxo de informação dentro do qual o indivíduo esta inserido, uma vez que a partir deste se constitui a realidade percebida pelo Homem e sua subjetividade em relação ao mundo. A partir da relação entre comunicação e subjetividade a atuação do profissional de relações públicas se dá sob o filtro de uma intenção específica, que pode dar maior ou menor peso para fatores como desenvolvimento do trabalhador, harmonia social no grupo, lucro, espaço de educação e criatividade, necessidades emocionais, intelectuais, sociais, etc. A questão da intenção do profissional é no presente trabalho abordada com maior profundidade devido ao objetivo do mesmo em questionar a atuação do profissional de relações públicas no mundo do trabalho de hoje. Com cuidando para fazê-lo de forma abrangente, ou seja, abordando diferentes modelos de atuação no mercado e, portanto, retratando distintas intenções presentes na gestão da comunicação. Uma coisa é certa: a partir do momento em que há a consciência a respeito do poder da comunicação, a atuação do comunicador deixa de ser inocente e esse se faz responsável pelas suas ações. Em outras palavras, aquele que deixa de ser 11 ignorante nao pode mais agir como se não conhecesse seus atos de forma mais ampla. Isso pode surpreender no que diz respeito à comunicação, uma vez que muito do que se faz nesse campo passa a ser quase absurdo quando tomamos consciência do poder do uso da comunicação para controle de subjetividade e alienação do trabalhador e outros públicos organizacionais. A essa função de relações públicas denominamos no presente trabalho de ideológica. Por outro lado, tomar conhecimento do potencial da comunicação abre um leque de possibilidades incríveis para atuação do profissional de Relações Públicas, que pode assumir uma função integradora no contexto organizacional a partir do momento que se propõe a gerir espaços de desenvolvimento e aprendizado no ambiente de trabalho. O afloramento de tal consciência é parte do objetivo desse trabalho, uma vez que busca evidenciar o potencial da gestão da comunicação dentro do contexto organizacional. Além disso, profissionais com cargos como gerente de comunicação, relações públicas ou diretor de relacionamentos são cada vez mais comuns, o que evidencia o crescimento da área profissional como um todo. Isso porque a importância da comunicação, já citadas no parágrafo anterior, é cada vez mais reconhecida pelas empresas e, consequentemente, envolve um número crescente de práticas profissionais que geram demanda de trabalho na área. Dentro desse novo contexto de trabalho em comunicação, o relações públicas entra com um papel importante que tem tanto a função de manter o público consumidor e cuidar para que a empresa gere renda, quanto de colaborar para o desenvolvimento de uma consciência em relação à importância da cultura, do meioambiente e das relações de forma geral no cotidiano de hoje. O que propomos aqui é a possibilidade de relacionar ambas funções de forma integrada, entendendo que é possível cuidar para que o espaço de trabalho seja um espaço de manifestação do indivíduo, onde esse se auto-realize em diversas faces de sua existência. Um espaço onde esse possa servir ao mundo e receber do mesmo. Trata-se de saber que fazer comunicação é uma função que envolve indivíduos, um conjunto de pessoas que receberá aquelas informações e responderá a elas. Um conjunto de pessoas que, por ser parte da sociedade, deve ser considerado como tal e incluído 12 no contexto de trabalho enquanto indivíduos pensantes e com direitos e necessidades financeiras, culturais, emocionais, sociais, legais, entre outras. Sobre o conteúdo desse trabalho Sendo um trabalho de conclusão de curso, o conteúdo deste é formado a partir de todos os estudos e reflexões a cerca da prática do profissional de comunicação que ocorreram durante o período de graduação em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas. Além de conter toda a grade horária de disciplinas da formação, as quais estão presentes em maior ou menor escala nesse trabalho, há uma relação de continuidade do que aqui se apresenta com os estudos realizados na pesquisa de iniciação científica “O Profissional responsável pela Política de Comunicação Organizacional”1, realizada no ano 2009 sob orientação da Prof. Dra. Roseli Fígaro. Esse estudo de iniciação científica fez parte de um conjunto maior, representado pela pesquisa As mudanças no mundo do trabalho nas empresas de comunicação, realizada pelo Grupo Comunicação e Trabalho2, que é coordenado pela Profa. Dra. Roseli Fígaro. Em função dessa relação de continuidade, faz-se nesse trabalho um resgate de alguns conceitos apreendidos na iniciação científica, a partir dos quais se desenvolvem novas reflexões e análises que são apresentadas a seguir. 1 JESUS, Ligia Ungaretti. “O Profissional responsável pela Política de Comunicação Organizacional”. Relatório final com os resultados da pesquisa de Iniciação Científica, Pibic/CNPq-ECA-USP. São Paulo, 2009 2 GRUPO DE PESQUISA COMUNICAÇÃO E TRABALHO. http://www.eca.usp.br/comunicacaoetrabalho. Disponível em 13 1. A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE 1.1 O surgimento da Linguagem O desenvolvimento de uma sociedade depende da comunicação entre os indivíduos, e a linguagem é que serve de ponte entre os conhecimentos de cada um. Mas a questão é como se dá origem à linguagem e como essa se torna de comum entendimento entre aqueles que compõem certa comunidade? Quando uma criança nasce se inicia um processo de contato com um mundo, uma sociedade, uma família as quais ela desconhece, assim como desconhece qualquer tipo de mundo, sociedade ou família. Conforme essa criança cresce, lhe são apresentadas comidas, roupas, animais, tudo com um nome pré-estabelecido. E não para por aí, pois ela aprende que há nomes para as ações, para avaliações e ainda, nomes que ajudam a fazer a relação entre outros nomes. Pouco a pouco essa pessoa tem acesso à realidade e às suas representações e cada vez mais se revela capaz de absorver e desenvolver ideias complexas e abstratas. Tais ideias são, inevitavelmente, baseadas pelas realidades e representações que aprendeu no meio onde vive. A esse aprendizado damos o nome de práxis social. Inicia-se aí um processo contínuo de apreensão e relação entre signos, o que resulta na formação do pensamento em si, assim como do desenvolvimento individual e de novos conhecimentos na sociedade (BAKHTIN, 2002). Detalhando um pouco mais, a práxis social diz respeito à convivência em sociedade, através da qual o indivíduo tem acesso aos chamados signos. Os signos são explicados por uma teoria semiótica, como uma unidade de três faces, o referente, o significante e o significado. O referente corresponde ao dado apreendido na realidade (tal apreensão não é feita de forma livre, e sim por meio de um processo cheio de subjetividade). No caso da criança podemos usar como exemplo de referente uma maçã que lhe é dada. Logo alguém fará com que esse novo cidadão aprenda que aquela fruta se chama “maçã”, e ainda, que pode ser desenhada no papel. Tanto a palavra quanto o desenho são exemplos de significante, ou seja, representações da realidade. Uma vez entendidos e devidamente relacionados pela criança o referente e o significante, um novo 14 conceito será armazenado na sua mente, uma compreensão parcial do que é a maçã. A esse conceito damos o nome de significado. Diz-se compreensão parcial, pois a coisa maçã oferece muitos signos, cuja relação forma o conceito completo de maçã (se é que é possível chegar a tal nível de entendimento). A criança, por exemplo, entenderá melhor o que é uma maçã quando entender o que é uma fruta, o que é uma maçã podre, uma maçã verde ou uma maçã doce. Quanto maior o número de signos aos quais se tem acesso, maior é o nível de abstração ao qual o indivíduo pode chegar com seus pensamentos. Em outras palavras, os signos são a base para a construção do pensamento; quanto maior a complexidade do sistema de signos ao qual se tem acesso, mais complexos os pensamentos formados pela relação entre esses. Não só elementos como os seres vivos, o idioma e o comportamento, mas também noções de espaço e tempo dependem da práxis social. Mas por mais que o pensamento se estruture nos signos, ou seja, na linguagem, sua origem está na percepção, afinal uma pessoa antes percebe que está com frio para depois relacionar as causas, os termos e as prevenções que conhece em relação a essa sensação térmica. Essa percepção é a forma como o indivíduo percebe a realidade e tenta descobrir uma maneira de interagir com esta, surgindo assim os pensamentos. 1.1.2 A percepção da realidade como uma imagem da mesma Será que toda criança que está aprendendo a reconhecer o mundo não recebe os significantes como espécie de instrução sobre como reconhecer as partes da realidade, ou os referentes? Isidoro Blikstein(1990) esclarece isso quando escreve que “(...) o real é o universo desordenado e contínuo (...). O que vemos, na verdade, é um referente (...) balizado pelos estereótipos de percepção”. A realidade é única, nós é que a picamos em pedacinhos, ou melhor, recebemos a realidade já picada pela linguagem. 15 Nesse sentido se faz importante a consciência de que a percepção da realidade é uma imagem resignificada pelo Homem a partir de suas percepções sensoriais e interações social com o mundo(Blikstein,1990). Ou seja, nao é possível ter acesso à realidade em si, mas sim ter uma percepção da realidade que seja, em parte, comum entre um grupo de indivíduos. Tal consciência abre uma série de possibilidades de atuação tanto no âmbito profissional, quanto de relações amorosas ou questões individuais. Enfim, há aplicação para qualquer interação entre Homem e mundo a partir do conceito de que a realidade que percebemos é uma imagem da mesma. E é aí que entra, no campo da comunicação organizacional, a função integradora do profissional de Relações Públicas, cuja intenção de servir a um bom fluxo de informação está paralela à facilitação da construção de significados dentro do ambiente organizacional (ver item 2.4 Função Integradora) 1.1.3 Importância de um sistema de signos em comum Qualquer atividade que envolva duas ou mais pessoas é inerente ao processo de troca de informações entre elas. Em outras palavras, toda atividade em grupo tem a comunicação como elemento essencial à sua viabilização. Para que se possibilite essa comunicação é necessário que exista um sistema de signos de conhecimento comum por parte dos indivíduos constituintes de um mesmo grupo, sendo assim possível a troca de informações entre os mesmos. Na verdade, é impossível que dois indivíduos tenham entendimento único dos sistemas de signos como meio de representação da realidade. Isso porque é impossível que duas pessoas tenham vivências idênticas, conversas idênticas, sensações idênticas, enfim, cada um tem uma experiência individual na práxis social e, sendo essa a base para a formação dos sentidos que adquirem os sistemas de signos, resulta que cada um forma seu próprio sistema de signos. Mas apesar dos sistemas de signos serem individuais, grande parte da construção de significados se dá de forma coletiva, o que permite que nos comuniquemos uns com ou outros. 16 Voltando ao exemplo que parte da construção coletiva do signo “maça”, é a parte em comum do mesmo que permite que o leitor, ao ler essa palavra, imagine uma maçã, assim como imaginamos no momento de produção desses texto. Porém, parte do entendimento desse signo não é compartilhada, o que faz que a imagem de maçã criada por cada indivíduo que lê essa mesma palavra seja, em parte, distinta das demais imagens. A partir disso, para se fazer entender, um indivíduo faz uso de uma relação entre signos, o que origina um conceito; cada um desses signos deve ser de conhecimento das outras pessoas – o que se faz possível apenas em parte, como vimos acima - com quem convive, o que possibilitará ao grupo fazer uso desse conceito para trocar informações. E a troca de informações é essencial para a sobrevivência da sociedade e sua cultura. Fica evidente assim a importância de um sistema de signos comum para que haja comunicação. E quanto mais amplo for esse sistema, mais complexa será a linguagem usada e mais desenvolvido e abstrato o raciocínio construído pelo grupo. Qualquer grupo pode, mesmo sendo formado por indivíduos nivelados por um idioma comum, sofrer dificuldade de comunicação em função de variações significativas dentro do sistema de signos, pois dentro de uma mesma língua e de uma mesma norma ainda existem diferenciações como os dialetos regionais e sociais. Estreitando um pouco mais esse grupo, ainda podemos encontrar níveis distintos de fala, dependentes do grau de intimidade entre os falantes, da situação emocional e do ambiente em que se encontra o indivíduo. 17 1.2 Um zoom na organização Com cuidado para não recortar parte da realidade e analisá-la como elemento desconectado do restante de seu contexto, assumimos nesse trabalho a organização como objeto de estudo, entendendo-a como uma parte de um sistema, mas também como unidade em si. Além disso, assumimos que cada parte tem semelhanças com o todo, o que é explicado pelo conceito de fractal3 aplicado às organizações(Torres, 2010). Isso permite que a organização, parte do objeto de estudo desse trabalho, seja comparada à sociedade ou ao indivíduo. Mais além disso, isso explica porque teorias originalmente aplicadas à sociedade – política – ou ao indivíduo –psicologia – foram adaptadas para a organização e hoje servem de base para práticas do profissional de Relações Públicas. A seguir apresenta-se análise da organização sob o filtro de outras unidades: a sociedade e o indivíduo. 1.2.1 A organização como sociedade É possível entender a organização como uma micro-sociedade com semelhanças em relação à sociedade macro à qual estamos acostumados a nos referir. Uma dessas semelhanças é a existência de uma linguagem específica e, inerentemente, uma cultura organizacional própria de sua unidade. Afinal, assim como na vida em sociedade de forma geral (macro), no mundo do trabalho (micro) se faz necessário o uso de um sistema de signos relativamente comum por parte dos membros de uma mesma equipe profissional, ou ainda, por parte de diferentes equipes profissionais que se relacionem, alcançando assim um maior nível de entendimento por parte dos diferentes públicos, sejam internos ou externos, de uma mesma organização. Isso pelo motivo já citado que se repete aqui: é necessária a comunicação entre os indivíduos que realizam atividade profissional em conjunto. Quanto mais eficiente for tal processo, melhor será o resultado do trabalho e menores serão os 3 O conceito de fractal analisa a formação de unidades a partir de partes que são semelhantes à mesma, ou seja, a soma de partes dá origem a um todo semelhante a cada uma das partes que o compões. Mais em Torres, 2010. 18 conflitos e frustrações em função de erros de comunicação. Paralelamente, quanto mais complexo e comum for o sistema de signos entre as pessoas envolvidas em um mesmo contexto de trabalho, mais eficiente será a comunicação entre as mesmas, resultando em um trabalho cuja efetividade e satisfação são diretamente proporcionais à eficiência de comunicação. A linguagem específica do mundo do trabalho não deixa de se fazer específica em contextos menores, como nas empresas, por exemplo. Afinal não existe um sistema de signos absolutamente padronizado no mundo do trabalho, mas sim uma infinidade de particularidades que podem tanto colaborar para a formação de identidade grupal quanto se tornar um obstáculo na hora da interação com outros públicos ou na inserção de novos membros na equipe. 1.2.2 A organização como indivíduo Não é difícil estabelecer uma forte analogia entre um indivíduo humano e uma empresa. Uma obra que o faz de forma provocadora é o filme “The Corporation”, dirigido por Mark Achbar (2003) e Jennifer Abbott e produzido no Canadá, no ano de 2004. O documentário explicita a personificação de uma empresa, dando ênfase no aspecto legal e de responsabilidade socioambiental em relação ao planeta. Ora, se a unidade formada por um grupo pode ser comparada à unidade de um ser humano, apresenta-se a possibilidade de analogia com um organismo vivo qualquer, o qual é composto pela união de diversas partes com diferentes funções. Freud(1918), ao referir-se a um grupo formado por diversos indivíduos, diz: “o grupo psicológico é um ser provisório, formado por elementos heterogêneos que por um momento se combinam exatamente como as células que constituem um corpo vivo formam, por sua união, um novo ser que apresenta características muito diferentes daquelas possuídas por cada uma das células isoladamente.” Essa declaração foi dada no congresso de Budapeste, em 1918, a cerca da preocupação com os limites de acesso da sociedade à teoria psicanalítica. Talvez caiba aqui uma grande premissa para que o trabalho do relações públicas se dê com sucesso: a consciência de que o grupo deve ser tratado como um todo, pois o é. Indo além, reconhecer que esse todo é formado por partes, e que 19 muitas vezes o diagnóstico, assim como o tratamento, deve ser feito nas partes para que se reflita no todo posteriormente. 1.3 A importância da cultura dentro das organizações 1.3.1 Cultura O entendimento do conceito cultura foi, e ainda é, objetivo de muitos estudiosos. A tentativa de contextualizá-la levaria à percepção de como é complexa a compreensão de cultura. Porém há alguns caminhos que nos distanciam do uso descompromissado e de senso comum que se faz do termo cultura hoje em dia. Segue a definição usada no dicionário Aurélio: “1. Ato, efeito ou modo de cultivar. 2. Cultivo. 3. O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade: civilização. 4. O desenvolvimento de um grupo social, uma nação, etc., que é fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento desses valores; civilização, progresso. 5. Apuro, esmero, elegância. 6. Criação de certos animais, em 4 particular os microscópicos” . A partir dessa, faz-se claro o múltiplo uso do termo “cultura”, uso esse que vale ser analisado para que a palavra seja, dentro do contexto desse trabalho de conclusão de curso, entendida de forma mais alinhada entre aqueles que tiverem acesso a esse conteúdo. O significado original da palavra em questão se referia à cultura de plantas e animais, ou seja, a cultura de algo significava o cuidado e a dedicação a longo prazo para que determinada planta ou animal se desenvolvesse. Ainda hoje a palavra cultura é empregada com esse sentido. Por exemplo, para designar uma plantação de uma espécie única, a monocultura, ou em laboratórios, quando são realizadas as culturas de bactérias. 4 FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980. 20 No livro “Cultura”, Raymond Williams faz uma analogia do significado original com o significado atual, quando cultura passaria não só a designar o cultivo de plantas e animais, mas também o cultivo de mentes. Nesse último argumento, a cultura como a conhecemos hoje passa a ser fundamental para o desenvolvimento do indivíduo humano como ser pensante. Uma espécie de elemento indispensável ao crescimento saudável em sociedade. Nesse contexto se vê a palavra “cultura” ligada a processos de desenvolvimento, como as chamadas “atividades culturais”, nas quais se pressupõem um desenvolvimento de mente e espírito do indivíduo, e os “centros culturais”, que se propõem não só a oferecer esse tipo de atividade, como a transmitir conhecimentos relacionados a uma determinada “cultura”. Esta última implicação do termo nos leva a mais uma de suas definições, onde “cultura” se refere a um conjunto de padrões de comportamento e crenças específico. Aqui se aplicam os conceitos de “cultura indígena” ou “cultura européia”, por exemplo. Um outro significado para o termo cultura se dá quando este é empregado com a finalidade de designar uma pessoa que tem amplo conhecimento, ou conhecimento erudito. Nesse caso o conceito formado é o de “pessoa culta”. Para melhor visualização, apontamos aqui as diferentes aplicações para a palavra cultura: • Cultivo de plantas ou animais • Meio de desenvolvimento de pessoas e sociedades – “atividades culturais” • Padrão de crenças e comportamentos – “cultura indígena” • Indivíduo que dispõe de amplo conhecimento - “pessoa culta” Ainda no livro Cultura, de Raymond Williams, o autor propõe a distinção entre duas definições de cultura: a materialista e a idealista. A principal diferença entre as duas está em ter a cultura como um produto das atividades sociais, ou seja, algo que poderia ser recortado como um elemento resultado da forma como a sociedade funciona, ou entender a cultura como o espírito formador da sociedade, elemento de conexão e construção de significados em comum, o que permite que indivíduos se relacionem e deem origem à práxis social em si. 21 Talvez essas duas definições possam ser reelaboradas e compreendidas de maneira dialética, uma vez que sem atividade o homem não produz sua vida em sociedade e portanto não existiria sequer sociedade humana, tampouco cultura; mas ao produzir-se materialmente e socialmente, o homem produz-se também espiritualmente, intelectualmente, com valores e princípios, os quais também são o fundamento das relações sociais, necessários à vida em sociedade. Raquel Sousa Lima, ao analisar o conceito de cultura materialista de Raymond Williams, coloca como problema que deu origem ao conceito a concepção de cultura como algo dado, fora da realidade social. A partir da discordância com essa definição, o autor propõe o entendimento de cultura como característica da práxis social, inerente ao processo da atividade humana de qualquer espécie. Nesse sentido, cultura se equipara ao conceito de linguagem, a qual está inserida no próprio conceito de cultura. “Williams recuperou os estudos de Mikhail Bakhtin que, segundo ele, seriam originais já que definiram a linguagem como sendo uma atividade social prática, dependente de uma relação social. Bakhtin trabalhou com a idéia de que a linguagem era consciência prática e, como tal, estava saturada por toda atividade social e a saturava, inclusive a atividade produtiva. Nesse sentido, “a linguagem é a articulação dessa experiência ativa e em transformação; uma presença social e dinâmica no mundo”. (WILLIAMS, R. op. cit., p. 11) Bakhtin trabalhou com a idéia de que a consciência era social, mas que deveria ser entendida em um processo dialético, uma vez que ela, em termos práticos, operava na transformação dos seres humanos. Assim, o autor conclui que ela é uma atividade material prática e, portanto, é um meio de 5 produção” . Portanto, a vida na sociedade depende da comunicação através da linguagem. Ela marca o ingresso do homem na cultura, através da convivência entre os indivíduos, por meio da qual são passados conhecimentos e experiências. 5 LIMA, Raquel Sousa . “O conceito de cultura em Raymond Williams e Edward P. Thompson: breve apresentação das idéias de materialismo cultural e experiencia”. Disponível em: http://www.historia.uff.br/cantareira/novacantareira/artigos/edicao8/artigo02.pdf Consultado em: 5/10/2011, p.3 22 O que rejeitamos é a pressuposição de que a vida em sociedade ou a sociedade humana, é um ato de vontade individual que se coloca acima das atividades humanas na sociedade. Assim a cultura é tanto produto das atividades sociais, ou do trabalho remunerado, quanto é a origem da estrutura que pede a produção na atividade social. 1.3.2 Cultura organizacional Nesse trabalho dá-se ênfase na cultura organizacional, que nada mais é do que um conceito que tenta definir um tipo de cultura específico que se analisa dentro de organizações e, como dito anteriormente, pode ser entendido como um microuniverso representativo de uma unidade, uma parte que, para fins didáticos, é aqui recortada do conjunto e sociedade onde está inserida e analisada enquanto campo de atuação do profissional de Relações Públicas. Compreender a importância da cultura dentro de uma determinada organização é extremamente importante para que se entendam as práticas do profissional responsável pelas políticas de comunicação de uma instituição, ou seja, o responsável pelas relações publicas. No artigo “Faces da cultura e da comunicação organizacional”, Marlene Marchiori (2009) chama atenção para o fato de que já se sabe que a realidade das organizações transpassa os limites da empresa e chega aos seus públicos externos como fator determinante da imagem que o cliente concebe a respeito de determinada organização. Portanto, é dedutível que deve-se ter um cuidado especial com tal realidade. Esse cuidado pode ser direcionado para a chamada comunicação interna, cuja definição abrange todas as relações que gerem uma organização no seu âmbito interno, ou seja, toda a comunicação que acontece entre os membros inseridos na organização, além de todas as formas pelas quais essa comunicação pode acontecer. Nesse campo entra a função do gestor de comunicação de colaborar para que a cultura organizacional formada a partir da comunicação interna seja favorável a todos os públicos. 23 Ainda fazendo referência ao artigo de Marchiori(2009), ao abordar a cultura organizacional não se deve de forma alguma subestimar a comunicação externa, pois essa é responsável pelo como a organização é vista, e quando comparada à comunicação interna não perde em importância, pois uma influencia a outra profundamente, uma vez que a imagem depende de ambas, assim como a formatação da identidade organizacional. Esta última, embora sejam todos os aspectos comunicacionais fatores inerentes à sua configuração, depende em grande escala da comunicação interna, pois é a partir dessa que cada indivíduo participante na empresa definirá nada menos que sua realidade no ambiente de trabalho. Afinal é a partir da cultura organizacional e da linguagem presente na mesma que o indivíduo percebe o mundo, se relaciona com o mesmo e se coloca com sua subjetividade na prática social. A partir disso se faz claro o poder que tem o Relações Públicas, o que nos leva a ver a enorme importância da consciência e intenção desse profissional ao propor-se a atuar em gestão da comunicação ( ver item 2.1.2 Sobre a intensão do profissional de Relações Públicas). Sendo assim, há a necessidade de que se continuem os estudos para que os profissionais da comunicação formulem novas formas de atuar nas relações que gerem a organização, agindo de forma ativa perante a realidade e cultura organizacionais (ver item 3.2 A presença do novo na prática do Relações Públicas) 1.3.3 Cultura ideal x Cultura real A principal fonte de pesquisa para esse grande item foi uma dissertação de mestrado com o título “Cultura de Empresa, um estudo de caso”, de Marco A. Oliveira (1995). Nesse trabalho o autor, para analisar o caso específico da empresa na qual trabalha, oferece conceitos gerais que são de suma importância para o entendimento do restante desse trabalho de conclusão de curso. Um deles é a definição de cultura ideal e cultura real, que é explicada a seguir. Segundo Oliveira(1995), a cultura ideal corresponde à utopia organizacional criada na mente do grupo dirigente da mesma. É a empresa perfeita, em que os 24 funcionários trabalham motivados e felizes, mesmo que seus salários não correspondam à sua função e trabalho; a comunicação é fluída e sem conflitos e não existe nada acontecendo na empresa sobre o que ele, o grupo dirigente, não tenha controle. Já a cultura real é o conjunto de pensamentos e comportamentos que se verificam na realidade da empresa. São as condições de comunicação reais, a satisfação ou não no trabalho real, o que a empresa é como um todo. Ela é o todo, incluindo até a cultura ideal, uma vez que essa faz parte da formação real da organização. Enquanto a cultura ideal pressupõe um grupo hegemônico dentro da organização, onde todos ouvem e estão de acordo, sempre, a cultura real admite a existência de grupos heterogêneos, que apresentam características distintas entre si. Esse é um ponto que evidencia a viabilidade da cultura real, admitindo características (inclusive opiniões) distintas. Já a cultura ideal supõe uma só mentalidade, um acordo absoluto entre as partes, uma espécie de conformismo de todo funcionário em relação às imposições do grupo dirigente. Essa suposição da cultura ideal chega a ser classificada por Oliveira como performativa. Fato é que tanto a cultura real quanto a ideal são, em grande parte, formadas a partir do grupo dirigente. A ideal o é por motivos óbvios, afinal o grupo dirigente é que estabelece a cultura supostamente perfeita para os demais componentes da organização. São eles que criam os comunicados, as novas premissas, os concursos e os “cafés da manhã com o diretor”. Já a cultura real é por eles influenciada porque, uma vez detentores do poder, passam a ser observados e respeitados, mesmo que seja um respeito baseado no medo de superiores. Um pensamento equivocado pode levar o pesquisador a concluir que, uma vez representantes tanto da cultura real quanto da ideal, os dirigentes são uma fonte suficiente de pesquisa organizacional. Assim, um profissional interessado em reconhecer a cultura organizacional faria entrevistas com alguns dos dirigentes e se daria por satisfeito... Porém, isso não está correto. A cultura real presente nos grupos heterogêneos que não incluem o grupo dirigente é extremamente significativa para que se compreenda o funcionamento da instituição. E ainda, na maior parte das vezes, o grupo dirigente não toma conhecimento dessa cultura real. 25 Ou por esta não estar ao seu alcance – afinal seria difícil um funcionário dizer o que realmente pensa para seu superior, sabendo que corre o risco de ser despedido a qualquer momento – ou porque simplesmente não lhes interessa ver o que se passa na realidade da empresa. 26 2. A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES PÚBLICAS Nesse ponto do trabalho já apresentamos uma breve análise sobre cultura, contextualizando-a em relação à linguagem e à atividade social como um todo. Verificou-se como esses três elementos estão intrinsicamente ligados e são, em si, parte do contexto de interação entre Homem e mundo, não podendo ser separados da práxis social. Além disso, mostramos que a denominada cultura organizacional pode ser entendida como um micro universo correspondente a uma cultura e uma linguagem específicas, parte de um todo maior, compondo em si uma unidade passível de ser tomada como objeto de estudo. Pode-se concluir a partir disso que a importância da cultura organizacional para a organização é de grande relevância, uma vez que está não só relacionada como é em si parte dos processos e atividades realizadas dentro da organização. Por sua vez, a gestão da comunicação está intimamente relacionada à cultura organizacional, uma vez que atua no contexto da mesma. Em outras palavras, o profissional de Relações Públicas, ao assumir a função de gestor de comunicação, se propõe não só a analisar a compreender a cultura organizacional específica de um ambiente de trabalho, como modificá-la, transformando-a através de sua atividade como profissional. Portanto, gerir a comunicação é, entre outras coisas, gerir a produção de significados dentro de um contexto, o que é nada menos que participar ativamente na construção da realidade específica. 2.1 Questionamento por uma nova consciência em Relações Públicas A pergunta que surge aqui é: qual a intenção de um relações públicas ao gerir a comunicação de uma organização? Que função social tem não só o direito, como o dever de assumir no âmbito social e de trabalho? A que demanda se propõe a atender? A que interesses? Se procurarmos pela definição de relações públicas encontraremos uma série de especificações a cerca do que cabe a essa profissão. Mas de modo geral, define- 27 se que se trata do esforço pela compreensão mútua da organização e seus públicos no processo de comunicação entre os mesmos. No site da Associação Brasileira de Relações Públicas está a seguinte definição: “Entende-se por Relações Públicas o esforço deliberado, planificado, coeso e contínuo da Alta Administração para estabelecer e manter uma compreensão mútua entre uma organização pública ou privada e seu pessoal, assim como entre essa organização e todos os grupos aos 6 quais está ligada direta ou indiretamente” . A partir de “estabelecer e manter uma compreensão mútua” entendemos que a função do profissional de Relações Públicas seja facilitar o entendimento entre as partes de uma organização. Em outras palavras, as Relações Públicas trabalham para que se alcance a harmonia social. Porém, o que se tem por harmonia social no contexto capitalista em que nos encontramos? Afinal é irrefutável o argumento de que o modo que vigora hoje apresenta uma desigualdade extrema entre setores da sociedade. Sendo assim, que tipo de harmonia social objetiva as Relações Públicas? A genuína, na qual todos os setores da empresa, ou da sociedade, têm seu trabalho reconhecido e recompensado – tanto em forma financeira quanto social – ou a mantenedora do modo de vida capitalista, quando o objetivo é provocar o conformismo e a sensação de ser valorizado por parte dos públicos explorados, a fim de manter a “harmonia social” em uma sociedade que de harmônica não tem muito? Abre-se um leque de possibilidades de atuação a partir dessa pergunta, as quais são inúmeras. Afinal, alcançar a harmonia social é o objetivo final, mas o caminho pelo qual fazê-lo pode ser construído de diversas formas. Nesse trabalho definimos dois desses caminhos para fins didáticos, com a intenção de exemplificar duas distintas posturas que pode assumir o Relações 6 Definição de Relações Públicas. Disponível em: http://abrpsp.wordpress.com/about/definicao-rp/ Consultado em: 5/10/2011 28 Públicas. Tais posturas nos servem aqui de estereótipos, facilitando o entendimento da análise proposta nesse trabalho. Porém, mais tarde pode-se concluir que essas duas posturas não são excludentes e sim complementares; que ambos os estereótipos apresentados se relacionam dialeticamente, sendo componentes de um caminho do meio. Eles podem ser abordadas sob a analogia de uma ponte que os conecta (MONTE,2009) e permite que a atuação do profissional de Relações Públicas se equilibre entre as demandas do mundo de hoje, dando espaço para que o novo se manifeste e seja compreendido no mundo da gestão da comunicação7. 2.1.1 Dois caminhos que servem de estereótipos na atuação do Relações Públicas Os dois caminhos que nos servem aqui de estereótipos são: 1- gerir a comunicação organizacional com a intensão de dar participação e igualdade de direitos à informação por parte de todos os públicos da organização e fazer do contexto do trabalho um espaço de desenvolvimento e educação ou 2- fazer uso da comunicação para persuadir públicos específicos a fim de manter a ordem entre explorados e exploradores, criando um clima de boa vontade e alienação dentro da empresa. Para a viabilização da primeira opção é necessária uma mudança nos interesses a partir do diálogo entre as partes, para que todos – gerência, trabalhadores, entre outros - sejam atendidos da melhor maneira possível. Já a segunda exige práticas de persuasão que levem ao conformismo de alguns, quando os que detêm o poder trabalham para que aqueles que são prejudicados não se dêem conta de sua situação e aceitem as ações do grupo dirigente sem questionar qualquer coisa a respeito. Aqui está a perigosa possibilidade de fazer uso da gestão da comunicação com a intenção de controlar a subjetividade dos públicos organizacionais, o que é 7 A proposta de conceptualização do novo é melhor abordada no decorrer do trabalho, principalmente no item 3.2 A presença do novo na prática do Relações Públicas 29 manipulação da subjetividade. Isso se dá quando o objetivo da gerência é único e exclusivamente acelerar o processo produtivo aumentando a produção de maisvalia, onde relações públicas se faz uma função mantenedora e intensificadora do modo de vida capitalista. A essa definição da profissão chamamos nesse presente trabalho de função ideológica. Mas se a intenção do profissional é de gerir os processos comunicativos com a intenção de criar um espaço educativo no ambiente de trabalho, onde todo e cada um dos indivíduos que dela fazem parte sejam contemplados tendo poder de voz de fato, a função de relações públicas se faz integradora. Afinal, através das relações humanas o indivíduo se desenvolve social, espiritual e culturalmente. E por que não fazer do ambiente de trabalho um espaço de desenvolvimento individual e de grupo? Por que não facilitar a resolução de conflitos para que o potencial da organização seja aproveitado, sem que esta estanque em função de obstáculos que, através da gestão da comunicação, podem ser trabalhados e transpassados? O cuidado com a gestão da comunicação permite que uma organização aconteça de maneira mais fluída e consciente de seus processos e desafios relacionados à interação entre os públicos e membros componentes de uma empresa. Mais uma vez vale ressaltar que esses dois caminhos, ou funções denominadas nesse trabalho ideológica e integradora são complementares e estão presentes em toda atividade de relações públicas em diferentes escalas. O recorte desses dois estereótipos se faz com a intensão de facilitar a identificação desses na atividade de gestão da comunicação, o que permite uma ampliação da consciência em relação à atividade profissional de Relações Públicas. 2.1.2 Sobre a intenção do profissional de Relações Públicas Sendo assim, faz-se claro o potencial que tem a gestão da comunicação dentro de um contexto organizacional, uma vez que essa atividade está diretamente relacionada à comunicação interna e externa, à cultura da organização e sua identidade. Em outras palavras, aflora a consciência do poder assumido pelo 30 profissional que tem compreensão e capacidade de atuação nos processos comunicacionais de uma organização. Isso porque o profissional de Relações Públicas, uma vez capaz de entender em parte o funcionamento da comunicação organizacional, identificar o uso e características específicas da linguagem no contexto e levantar um diagnóstico organizacional, entendendo um pouco das necessidades e desejos de cada um dos públicos componentes da organização, tem um poder em relação a subjetividade dos públicos internos e externos e, como em qualquer posição de poder, pode fazer uso do mesmo com distintas intenções e objetivos. Por isso se faz essencial a análise em relação à intenção do profissional. Com que objetivo se assume essa posição, de analisar, compreender e atuar nos processos de comunicação de uma organização? Qual o objetivo do profissional que assume essa função? Entendê-la, somente? Ou atuar frente a ela, propondo ações? Qual o objetivo dessas ações? 2.1.3 A consciência em relação ao potencial da comunicação na construção da realidade Talvez um dos pontos mais graves da questão seja a inconsciência por parte dos comunicadores a respeito do poder e da relevância social que tem a comunicação. Em função disso, verifica-se ainda hoje um alto grau de inocência entre os profissionais e até o discurso de que a boa comunicação organizacional é aquela realizada sem a interferência da subjetividade do comunicador, ou seja, uma comunicação “chapa branca”. Isso sabemos que não acontece, pois qualquer trabalho de comunicação tem na emissão da informação a primeira etapa do processo. Em certo ponto da comunicação há produção de conteúdo por parte daqueles que eram receptores num primeiro momento, mas se tornaram emissores numa nova etapa do processo. Em outras palavras, é necessária a consciência de que processos comunicacionais acontecem entre pessoas, e todas interagem com a mesma a partir de tais processos. Embora esse princípio não vigore no mundo do trabalho de forma geral, muito se deve não às más intenções dos profissionais, mas à inconsciência dos mesmos. 31 Muitas das práticas de comunicação, ou relações públicas que são aqui apresentadas como alienantes e persuasivas são realizadas pelos profissionais de comunicação sem a consciência de que estes estão colaborando para a submissão de uma classe social em relação à outra. Em função disso se faz necessário o maior entendimento do público gestor de comunicação em relação à mesma, para que esse assuma e faça uso consciente do poder que lhe é conferido através do conhecimento, tendo o poder como meio, não como fim na atuação dentro de organizações. Esse público atuante na comunicação, aliás, não é tão específico quanto muitos dos profissionais acreditam. Há aqueles cuja função é gerir a comunicação organizacional, seguramente. Mas a comunicação de forma geral é produzida por todo e qualquer indivíduo que interaja com mais pessoas, seja no contexto social ou do trabalho. Em função disso, faz-se necessária a conscientização ou a educação por parte da população em geral para que esta seja capacitada a interpretar as informações que fluem no cotidiano da sociedade e ainda, seja capaz de interagir com esse processo. Essa é uma das principais propostas da Educomunicação (MONTE,2009), conceito melhor abordado no capítulo 2. Os públicos, de forma geral, não devem se colocar como meros receptores passivos daquilo que é veiculado pelos meios de comunicação. Para tanto, é necessário que cada pessoa exercite sua atitude crítica, filtrando as informações recebidas, questionando-as, fazendo um contraponto e buscando, na opinião pública, uma opinião própria, particular, com a qual se identifique e na qual acredite. Porém, o que normalmente ocorre é o oposto. A mídia costuma distorcer os dados e passa a descrevê-los incompletos transformando-os em “verdadeiros espetáculos”, como avalia Baccega(2009). Nesse sentido entra o gestor de comunicação como um educador no contexto organizacional, que tem a função de fazer com que a comunicação seja um caminho para o desenvolvimento de indivíduos e de grupo dentro do contexto de trabalho específico onde está atuando. Afinal, o profissional de relações públicas que assume o papel de educomunicador, assume a responsabilidade de educar e colaborar para que cada vez mais 32 indivíduos e mais públicos sejam incluídos, verdadeiramente, na produção de conteúdo informacional. 2.2 Uma função ideológica Quando uma empresa prioriza a produção de lucros e deixa de lado a função social que tem, destaca-se o estereótipo denominado no presente trabalho de função ideológica de Relações Públicas, a qual assume a função de pacificar uma situação extremamente conflituosa no mundo do trabalho. Como exemplifica Rebechi(2009), relações públicas podem servir única e exclusivamente aos interesses da gerência: “(!) a partir do momento em que o trabalho foi dividido entre aqueles que administram a maneira de produzir e os que realizam o trabalho, a comunicação acaba tornando-se representante daqueles que possuem mais força nesse processo, ou seja, dos controladores dos modos de produção. Se antes a comunicação existia para possibilitar a ação conjunta entre homens, agora é apropriada como instrumento político no embate de interesses entre aqueles que possuem os meios de produção e entre aqueles que vendem a sua força de 8 trabalho, ou seja, entre organizações e trabalhadores.” Nesse contexto a comunicação é utilizada com o objetivo de controlar a subjetividade dos públicos cuja manifestação de interesses verdadeiros não interessa à gerência, uma vez que isso afeta o perfil de organizações voltadas para a produção de lucro através da exploração de trabalhadores”. 8 REBECHI, Claudia Nociolini. “Comunicação nas relacoes de trabalho: análise crítica de vozes da comunicação organizacional no Brasil. 2009. 145 f. Dissertação (Mestrado em Ciencias da Comunicacao) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009, p.89 33 2.2.1 Controle da subjetividade Nesse ponto volto ao conceito de cultura real e cultura ideal proposto por Marco A. de Oliveira (2009) para associar o conformismo dos trabalhadores almejado pelo grupo dirigente à cultura ideal criada pelos mesmos. Afinal, o que mais desejaria um capitalista além de que os trabalhadores que explora se deixassem explorar sem reclamações? Em outras palavras, faz parte da cultura ideal de muitas empresas que não haja reivindicações trabalhistas de quaisquer gênero. E é aí que entram os serviços de relações públicas quando os mesmos visam criar um ambiente simulado de satisfação e reconhecimento. Claro que essas práticas satisfazem necessidades reais de lazer dos trabalhadores, mas o problema é a função de convencer e distrair o público explorado. Vejamos o caso do famoso concurso de “funcionário do ano”. Quem é ele? Um trabalhador cuja fotografia é pendurada na parede e sua descrição, seguida de seu depoimento são publicados no jornal da empresa. Normalmente se trata do funcionário que “tem garra” – leia-se trabalha além do horário de expediente – é bem humorado – não causa problemas levantando causas trabalhistas – e tem comprometimento com o trabalho – não falta em caso de doença. Ou o café da manhã com o diretor, quando alguns funcionários são sorteados (dependendo da dimensão da empresa) para tomar café da manhã com um representante da direção. A intenção é demonstrar o quão humilde e acessível o grupo dirigente é, mas na prática a coisa é bem diferente, porque no dia seguinte esse homem estará o dia inteiro na sua sala e se algum operador de máquinas tentar ter acesso ao mesmo, o fará sem sucesso. Já os cursos oferecidos pela empresa são claramente embebidos na cultura ideal da empresa. Muitos são técnicos e objetivam melhorar a capacitação de seus funcionários, porém há os que moldam comportamentos. Em entrevista concedida à autora do presente trabalho9, Gilberto Colorni, questionado sobre a atenção da Arcor em manter seus funcionários atualizados, descreveu a promoção de módulos pela 9 entrevista realizada em 2009 como parte de Iniciação Científica realizada por Ligia Ungaretti e utilizada aqui como referencia. A então pesquisa teve como objeto de estudo o perfil do profissional responsável pelas políticas de comunicação organizacional. Tanto a entrevista quanto o questionário estão na íntegra em Anexos 34 empresa. “(...) a empresa está fazendo um trabalho muito interessante para educar, treinar cada gestor. Tem os módulos, inclusive teve um anteontem (...) que era como dar o feedback e desenvolver o personagem. Existem profissionais nisso, é uma coisa que se ensina.” Mais tarde o entrevistado afirmou serem todos os gestores obrigados a cursar esses módulos. Os temas das aulas dizem respeito a como lidar com funcionários sem desagradá-los ou como despedir uma pessoa sem que ela se sinta injustiçada. O problema aqui é a realidade do que acontece. Essa pessoa está sendo injustiçada e merece uma explicação ou receber direitos que lhe estão sendo negados? Se sim, optar pela alternativa de convencer esse ex-funcionário de que está tudo bem e de que ele está sendo respeitado, tudo isso através de jogos de comunicação, faz parte do caráter persuasivo e alienante dos serviços de Relações Públicas. Nesse sentido, pode-se dizer que “(...) as Relações Públicas têm por finalidade fazer com que o interesse privado adquira uma roupagem de interesse público.” (Peruzzo, 1986), uma vez que se procura criar uma atmosfera de coletividade em um contexto extremamente individualista e exploratório. Para isso, as Relações Públicas fazem uso de práticas como as já citadas, sempre cuidando para trabalhar toda a informação passada a fim de alcançar o conformismo almejado. Tudo isso permeado pela persuasão, cujo uso é feito de forma extremamente sutil para que tenha efeito, porém sem ser percebida. Alguns justificam o uso da persuasão como sendo um meio de iniciar o diálogo, para então se iniciar o processo de participação de todos nos processos comunicacionais, mas não é o que se verifica na prática. A persuasão permanece nas informações que chegam aos públicos explorados, seja em forma de aula, de jornal, de concurso ou de premiação. E assim os funcionários são convencidos de que fazem parte da “grande família” que é a empresa, na qual todos são colaboradores e participantes de todos os processos. Proporcionar atividades de lazer e reconhecimento do funcionário são práticas que sim, atendem uma demanda real do indivíduo. Porém para que de fato cumpram essa função devem considerar verdadeiramente todos os públicos envolvidos nesse processo como partes pensantes e com direitos a ter voz e reconhecimento real por 35 seu trabalho. Dessa forma sim, tais atividades podem ter seus méritos em relação ao objetivo de oferecer lazer e reconhecimento, afinal “O lazer satisfaz necessidades físicas e mentais do ser humano. (...)Tudo isso é importante, é um ganho para o trabalhador. Porém, ao mesmo tempo em que essas manifestações inspiram a respeitabilidade por parte da empresa a interesses e direitos do trabalhador, da forma como são trabalhadas são também formas de submissão.”(Peruzzo, 1986). Quando as Relações Públicas assumem a função de controlar a subjetividade de determinados públicos, os resultados não só procuram dar caráter público a interesses privados, como transformar o impulso ao trabalho normal, que é tanto a remuneração quanto a atividade de realização do Homem como ser social participante, em um impulso de prazer. Quando a motivação do trabalhador é ganhar uma premiação ou jogar futebol na quadra da empresa depois do expediente, o efeito final disso é um indivíduo que produz um montante de riquezas e não recebe por seu trabalho o valor real correspondente a elas (o que leva à produção da maisvalia, que é a origem do capital acumulado pelos dirigentes). E para que essa maisvalia seja produzida pelo trabalhador sem que esse se sinta explorado, é necessário criar um ambiente de boa-vontade e alienação. 2.3 Então, por que se faz a gestão da comunicação? Nesse ponto vale resgatar o questionamento em relação à atuação do relações públicas. Assim evidenciamos que mais importante do que as práticas em si do profissional, faz-se necessário perguntar: por quê se faz a gestão da comunicação? Insistimos nesse ponto porque acreditamos que, de fato, é do aprofundamento nessa pergunta que surge uma nova função do Relações Públicas, alinhada com a vontade de servir à sociedade e a si mesmo da melhor forma possível enquanto profissional e indivíduo em interação com o mundo. 36 2.4 Função Integradora “Se o que de fato se deseja é um mundo melhor, por que ignorar o poder da Comunicação nessa construção?” 10 Uma vez consciente do potencial da gestão da comunicação em relação à percepção da realidade e ligação entre as partes – indivíduos, públicos, máquinas, recursos todos – de uma organização, abrem-se possibilidades de atuação que visam nada menos do que a construção de um mundo melhor, onde cada indivíduo seja reconhecido e tenha espaço para desenvolver-se e atender suas necessidades. E porquê não fazer do espaço de trabalho um espaço para que tal desenvolvimento ocorra? Afinal é através do trabalho que o individuo se manifesta no mundo e produz no mesmo, interagindo com a realidade e fazendo parte da construção da mesma. “A atividade humana é essencial para o trabalho ou, melhor ainda, o trabalho é uma atividade humana” (Claudia,2009, p. 73). É através do trabalho que acontece a troca entre Homem e mundo, uma vez que um serve ao outro em forma de produção, dinheiro, aprendizados, desenvolvimento e auto-realização. Tal interação de troca pode acontecer de inúmeras formas, com diferentes níveis de cuidado em relação a fatores como o humano, econômico, social, ambiental, entre outros presente nas organizações. Porém o que se verifica em grande parte do mundo do trabalho é um desequilíbrio entre alguns fatores citados, resultando na frustração do trabalhador. 10 MONTE, Rita. “Educomunicação e Reputação organizacional: Pontes possíveis na Gestão de Comunicação de uma Rede Social no Terceiro Setor”. 2009. Dissertacao (especialização em Gestão de Comunicação: Políticas, Educação e Cultura) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009, p.87 37 "Se por um lado levarmos em consideração que o trabalho faz parte da realização do ser humano como ser social e leva o individuo a sentir-se parte da sociedade em que vive, por outro lado, o trabalhador encontra-se numa dinâmica organizacional que tem lhe causado muitos constrangimentos, sofrimento e pouca visibilidade verdadeira de apropriar-se do trabalho que desenvolve. Ao trabalhador, no geral, há pouco espaço para efetivamente criar e transformar o trabalho que realiza sem receber a interferência da empresa ou organização, com o objetivo principal de direcioná-lo ao que somente interessa ao seu sistema produtivo, ou seja, para a auto-reprodução do capital" 11 Segundo a autora, o trabalho deixou de representar o espaço de manifestação do indivíduo no mundo para tornar-se uma obrigação cujo único fim é a renda, muitas vezes suficiente para sobrevivência, nada mais. Essa situação no mundo do trabalho pode representar o principal campo de atuação do Relações Públicas gestor de comunicação, quando esse assume a missão de dar voz a todos os públicos e mediar a construção de um espaço criativo e de desenvolvimento no ambiente de trabalho. Aqui entra em campo o profissional de Relações Públicas com a função integradora de cuidar para que o espaço de trabalho seja um espaço que integre todos esses fatores de forma equilibrada, servindo a cada uma das necessidades individuais e organizacionais presentes no mundo do trabalho. Para isso, faz-se necessária uma nova postura profissional, a qual passa a considerar não só a produção de lucro, mas o individuo trabalhador de forma holística e integrado à teia de relações no ambiente de trabalho, afinal “(...)é nessa teia que, por meio do discurso e da ação, interconectados uns com os outros, os indivíduos devem poder revelar sua identidade e construir sua história de vida. Trata-se de um contexto no qual a comunicação nas organizações tem uma importante missão a cumprir”12 11 REBECHI, Claudia Nociolini. “Comunicação nas relacoes de trabalho: análise crítica de vozes da comunicação organizacional no Brasil. 2009. 145 f. Dissertação (Mestrado em Ciencias da Comunicacao) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009. p.71. 12 KUNSH, Margarida. “A Comunicação como fator de humanização das organizações”. 1 ed. São Caetano do Sul. São Paulo: Difusão Editoria, 2010. p.57 38 2.4.1 Uma Nova Era Assumir a missão à qual se refere Kunsh pode ser uma tarefa cheia de incertezas, pois a verdade é que há pouco se começou a falar sobre o tema, e pouco foi escrito a respeito. Há teorias que abordam o assunto (crítica, integralista, entre outras) e muito se pode aprender das mesmas, porém o Relações Públicas que assume a função integradora deve estar disposto a caminhar em um terreno desconhecido, deve ter abertura para o novo, o inédito. Aquilo para o qual não há parâmetros, tampouco referências no passado. “No contexto de humanização das organizações, não vejamos as teorias como pontos finais, como afirmações conclusivas ou respostas definitivas. É preciso considera-las loci de descanso temporário que oferecem oportunidades de pensar e agir de certas formas, que irão, em troca, dar lugar a outros vocabulários e outras possibilidades. A certeza leva ao encerramento de uma questão. A dúvida e o pensamento provisório 13 conduzem à abertura e a novas possibilidades para o engajamento com os outros.” Trata-se de uma nova era (Kunsh, 2010), uma nova forma de trabalhar, de gerir, de construir coletivamente considerando fatores que até então não eram considerados. 2.4.2 O que nasce do novo Para compreender o novo no contexto organizacional o profissional de Relações Públicas pode colocar-se disposto a perceber o que não conhece. Isso pode ser entendido como propor-se a desconsiderar todo conhecimento apreendido para então abrir espaço para que algo novo se manifeste. Esse é o processo de 13 MUNBY, Dennis K. “Reflexoes críticas sobre comunicação e humanização nas organizações. In KUNSH, Margarida. “A Comunicação como fator de humanização das organizações”. 1 ed. São Caetano do Sul. São Paulo: Difusão Editoria, 2010, p.37 39 percepção da realidade que propõe a fenomenologia14, onde é necessário partir do zero, permitindo-se conceber o geral da organização como uma massa caótica, para só então entrar em contato com a essência do contexto e fazer os recortes que darão origem aos signos que compõem a configuração organizacional. Isso significa deixar para trás por um momento todo e qualquer recorte da realidade aprendido até então, para poder rever a forma mais adequada de compreender tal realidade. Aí sim, os recortes que melhor servem para a compreensão do que é o contexto organizacional na realidade se apresentarão e poderemos definir novas denominações, dando origem a novos signos que complementam a linguagem correspondente ao mundo da comunicação organizacional. Essa proposta é difícil de se por em prática, uma vez que nossa realidade está profundamente embasada na linguagem aprendida (ver recortes da realidade), porém não invalida as descobertas que podem surgir a partir da proposta do “olhar zerado” do comunicador em relação ao contexto organizacional. Há que praticar, sempre exercitando o olhar fenomenológico para que o novo se apresente. 2.4.3 O surgimento de uma nova linguagem Aos poucos o novo é percebido e nominado, passando a corresponder a novos signos. Alguns destes signos podem corresponder a idéias já existentes, mas outros serão inéditos, e a definição destes é extremamente importante para que o pensamento relacionado ao entendimento do contexto organizacional se estruture adequadamente. Esse processo requer uma lapidação de linguagem que não se alcança rapidamente. Mas há que começar de alguma forma... Iniciam-se as pesquisas a respeito e logo surge uma nova linguagem, específica da prática de reconhecimento do contexto organizacional. 14 Corrente filosófica que propõe a percepção de fenômenos sem subjetividade do observador, num processo que busca o conhecimento da essência do fenômeno através da apropriação da essência do mesmo a partir da observação e abertura entre partes que analisam e são analisadas. Para mais ver PONTY, 1999 40 Essa linguagem passa a ser usada, e logo novos termos surgem e outros, que existiam desde a primeira fase da pesquisa, sofrem alterações. O processo de semiose do signo se repete inúmeras vezes(GINZBURG,1991) e a linguagem pode ser transformada, sempre em vias de alcançar uma representação mais próxima do que seria nossa realidade. Porém esse processo não é linear, o que significa que a mudança de um signo não implicará, necessariamente, na aproximação da representação deste com a realidade. Toda essa procura visa tornar mais complexa e adequada a interação na realidade que vivemos, e no caso visa desenvolver a capacidade do gestor comunicacional de compreender a rede de comunicação que permeia um grupo específico para então analisá-la, fazer um possível diagnóstico de problema e ainda, ser capaz de contribuir para que esse impasse seja superado. Para tudo isso, é importante que nos permitamos descobrir esse “novo”, originando uma linguagem para o mesmo, afinal, “(...) a linguagem é a representação projetiva da realidade(...)”(Wittgenstein, 2004). Quando considerada a linguagem específica do contexto de organização, há referência ao conceito de “jogos de linguagem” fornecido por Wittgenstein. Segundo este, cada linguagem assume uma determinada forma em função do que está ao seu redor, das regras e códigos vigentes no campo semântico em que está inserida. É como uma brincadeira de criança, que tem normas e pressupostos exclusivos que permitem uma determinada compreensão do comportamento dos jogadores. E é exatamente com esse tipo de experiência empírica na infância que o indivíduo adquire a capacidade de reconhecer as regras dos jogos de linguagem. A partir dessa idéia faz-se uma analogia entre o ambiente de trabalho e a brincadeira de criança, uma vez que em ambas as situações há a reunião de várias pessoas em torno de um mesmo objetivo e o respeito implícito a uma série de códigos. Em outras palavras, cada linguagem respeita seu jogo, e dificilmente pode ser dissociada deste sem alterações. 41 2.4.5 A importância de rever a prática do profissional de comunicação Há o risco de se perder no caminho durante essa pesquisa, pois muitas vezes o processo assume significados que não servem ao contexto, mas são de entendimento comum dos que fazem uso dessa. É o que ocorre com algumas teorias e métodos tidos como eficientes na profissão do gestor de comunicação. Existem métodos cuja teoria não foi desenvolvida no contexto atual e local do trabalho desse profissional, mas como há um consenso de que esses métodos funcionam, os manuais mantém seus registros e instruções na direção dos mesmos. Por isso cabe ao Relações Públicas questionar constantemente a eficiência de seus embasamentos teóricos e métodos, visto o momento de construção de uma nova maneira de trabalhar a comunicação. É importante que os processos se constituam com base nesse questionamento e não se cristalizem antes de que o novo presente nesse contexto de trabalho seja adequadamente explorado. Claro que esse processo é continuo e não terá um fim marcado onde se poderá conceber um entendimento final da realidade do mundo do trabalho. Trata-se de um caminho circular de ir-e-vir através do qual o indivíduo apreende e constrói na realidade do mundo do trabalho. O que reforçamos aqui é a proposta de que o Relações Públicas cuide do fator inovação nas suas práticas, visto o momento particular por que atravessa suas profissão. 2.4.6 Uma nova forma de atuar como Relações Públicas gestor de comunicação Se há um novo contexto de trabalho no mundo da gestão da comunicação, surge também uma nova proposta de atuação do Relações Públicas dentro desse contexto. Como é essa nova forma de atuar? A que atenta esse profissional? Uma das bases para o entendimento dessa nova função é a Educomunicação, já citada no início desse trabalho e abordada com maior profundidade nesse capítulo. Segundo a Educomunicação, a comunicação e a educação podem ser integradas e, quando aplicadas à cultura organizacional e a comunicação existente 42 na mesma, resultam em práticas alinhadas com a função integradora de Relações Públicas. Rita Monte(2009) faz uma análise da Educomunicação aplicada à gestão da comunicação, propondo não só uma integração entre esses campos como evidenciando que um contém o outro. A partir de seu trabalho, a função integradora do Relações Públicas ganha traços e sua prática se enche de otimismo, uma vez que se visualiza o potencial da comunicação para a construção de um mundo melhor e pleno de sentido (MONTE,2009). No mesmo trabalho há a seguinte citação ao Prof. Dr. Ismar de Soares quando esse oferece uma definição acerca de Educomunicação: “O conjunto das ações de caráter multidisciplinar voltadas ao planejamento e implementação de práticas destinadas a criar e desenvolver “ecossistemas comunicativos” abertos e criativos nos distintos espaços educativos – dos não formais aos formais –, de forma a garantir condições de expressão a todos os membros das comunidades educativas, envolvendo, em igualdade de condições, gestores, comunicadores, ensinantes, receptores e educandos. Ou seja, a comunicação – promovida a partir da perspectiva da dialogicidade – colocando-se como missão romper fundamentalmente o conceito de verticalidade de relações, possibilitando e ampliando o uso da palavra.” 15 15 SOARES, I.O. Teorias da Comunicação e Filosofia da Educação: fundamentos epistemológicos da educomunicação. Texto apresentado ao Concurso de Professor Titular da USP, em 05 de novembro de 2009. In MONTE, Rita. “Educomunicação e Reputação organizacional: Pontes possíveis na Gestão de Comunicação de uma Rede Social no Terceiro Setor”. 2009. Dissertacao (especialização em Gestão de Comunicação: Políticas, Educação e Cultura) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009, p.22 43 Assim, visualiza-se o papel do gestor de comunicação cuja ação se pauta na Educomunicação, uma vez que “O trabalho de observar, articular e propor processos complexos de comunicação que envolvem subjetividades, objetividades, seres humanos, organizações, em relação uns com 16 outros é exatamente do que a gestão de comunicação se ocupa” . Além disso, “É pela gestão – planejamento, vontade, execução, emoção, avaliação, aprendizagem –, orientada pelos princípios fundantes da Educomunicação (participação, diálogo, igualdade, autonomia, cidadania, solidariedade), que se pode criar ecossistemas comunicativos 17 efetivamente voltados para a “construção de indivíduos e comunidades” . É exatamente esse o papel do gestor de comunicação: o de mediar a construção de espaços criativos onde cada individuo tenha espaço para manifestarse e desenvolver-se enquanto ser participante da realidade. Esse pode ser o filtro do Relações Públicas ao perceber o potencial da cultura organizacional, uma vez que trata-se de um campo fértil, que oferece oportunidades incríveis de vivências e aprendizados para os membros que a compõem. 16 MONTE, Rita. “Educomunicação e Reputação organizacional: Pontes possíveis na Gestão de Comunicação de uma Rede Social no Terceiro Setor”. 2009. Dissertacao (especialização em Gestão de Comunicação: Políticas, Educação e Cultura) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009, p.54 17 MONTE, Rita. “Educomunicação e Reputação organizacional: Pontes possíveis na Gestão de Comunicação de uma Rede Social no Terceiro Setor”. 2009. Dissertacao (especialização em Gestão de Comunicação: Políticas, Educação e Cultura) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009, p.51 44 Uma vez percebida essa fertilidade no ambiente de trabalho, resta ao Relações Públicas capacitar-se para mediar a construção de sentido nesse contexto, fazendo com que a realidade aí constituída permita a auto-realização dos participantes na mesma. “Nesse panorama, o projeto de mundo que a Educomunicação sustenta – autonomia, cidadania e solidariedade, por meio de leitura crítica dos meios; mediação tecnológica; expressão comunicativa através das artes; gestão de comunicação em espaços educativos e reflexão epistemológica – se encaixa sincronicamente nas demandas da era atual e, não só isso, oferece um norte ético para fundar práticas comunicativas e educativas de fato 18 comprometidas com o desenvolvimento humano e socioambiental” . Ao propor “práticas comunicativas e educativas de fato comprometidas com o desenvolvimento humano e socioambiental”, Rita Monte refere-se ao que denomina aproximação de discurso e prática. “Legitimidade e reputação, no entanto, estão longe de serem construídas apenas com discurso. E, em se tratando de “transformações sociais”, o que se espera de organizações e movimentos sociais é a ação transformadora, o exemplo. De modo que o passo-a-passo do gestor de comunicação (!) possa ganhar mais consistência e poder na medida em que as ações de comunicação planejadas, por si mesmas, pratiquem a missão organizacional e aproximem o discurso e a prática organizacionais em qualquer ação de comunicação. Realizar a missão da organização e sua causa em ações de comunicação aumenta dramaticamente a amplitude da causa, porque faz com que ela seja experimentada em maior escala por qualquer pessoa que participe da relação de comunicação. Isto é possível? Sim. E um dos modos de fazer é pela 19 Educomunicação” . 18 MONTE, Rita. “Educomunicação e Reputação organizacional: Pontes possíveis na Gestão de Comunicação de uma Rede Social no Terceiro Setor”. 2009. Dissertacao (especialização em Gestão de Comunicação: Políticas, Educação e Cultura) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009, p.60. 19 Ibden, p.136 45 Segundo a autora, cada vez um maior número de empresas se dá conta de que o consumidor já é capaz de colocar-se crítico frente à imagem organizacional, combinando diversas fontes de informação e formando, assim, uma imagem organizacional que já não é dependente do discurso da organização na mesma escala que era no passado. O público agora é formado por “leitores emancipados de fontes únicas de narrativas”20, o que faz da postura de aproximar o discurso e a prática organizacionais não só o caminho mais embasado para que uma empresa zele por sua imagem, como a forma mais respeitosa e genuína de apresentar-se à sociedade, uma vez que o discurso de imagem verdadeiro é correspondente ao que a organização realiza, e não ao que gostaria de realizar ou acredita que seus consumidores esperam da mesma (MONTE, 2009). 2.4.7 O fazer político em Relações Públicas É de responsabilidade do Relações Públicas selecionar as informações e adequá-las a meios específicos, o que dará origem a uma determinada narrativa dentro da empresa. Tal seleção se dá a partir da já abordada intenção desse profissional e é de enorme importância, uma vez que essa narrativa resulta em construção de sentido e formação de realidade específica dentro do contexto organizacional. O Prof. Dr. Paulo Nassar, ao referir-se ao educomunicador e seu papel de mediar a comunicação, afirma: “Escolher o que narrar é um dos maiores desafios para os educadores e comunicadores contemporâneos. Na atualidade, narrar é um ato radicalmente político, já que as palavras e as imagens em fluxo são organizadoras ou desorganizadoras de cidades, comunidades, grupos, empresas e indivíduos.(!) Nas empresas, um dos aspectos do desafio é entender que a narrativa é uma construção que ganha significado no plano da memória coletiva, transcende a técnica, racionalidade, tempos, controles e temas da administração”.(grifo nosso) 21 20 NASSAR, Paulo. “O que narrar?” Disponível em: http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=593&ID_COL UNISTA=28 Consultado em: 28/8/2011 21 NASSAR, Paulo. “O que narrar?” Disponível em: http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=593&ID_COL UNISTA=28 Consultado em: 28/8/2011 46 Entender o ato de narrar como algo político evidencia, mais uma vez, o poder assumido pelo profissional de gestão da comunicação, que realiza a mediação da construção de sentido a partir da relação social entre partes de um todo, sejam essas pessoas, organizações, cidades ou máquinas. E assim como se espera de um político que atue em prol do bem geral, espera-se do Relações Públicas que suas políticas de comunicação organizacional sejam voltadas para atender o interesse de todos os públicos da organização. Nesse sentido, “O trabalho do gestor de comunicação assemelha-se ao de um tecelão. É seu ofício observar significados e tramá-los em processos de comunicação de acordo com os desenhos que se deseja. Os processos de comunicação, por sua vez, necessariamente se fazem em interação, com o “outro”, na relação. Tais processos são compostos por elementos de alta intangibilidade, o que demanda do gestor sensibilidade e perspicácia para observá-los, apreendê-los e articulá22 los em tramas plenas de sentido.” O “outro” assume então um papel importante, sendo na interação com esse que tudo o que acontece na organização se constrói. No espaço de trabalho acontecem encontros desse gênero entre indivíduos que não interagiriam por outro motivo senão um objetivo profissional em comum, que os leva ao envolvimento num processo de comunicação e construção colaborativa de algo. Esse encontro entre “outros” na comunidade que é o ambiente de trabalho é veículo para aprendizados, tendo um valor enorme cujo cuidado merece atenção do Relações Públicas. Cuidado merecido não só por ser espaço de desenvolvimento humano, mas também por ser fator importante para o bom funcionamento de uma empresa, afinal 22 MONTE, Rita. “Educomunicação e Reputação organizacional: Pontes possíveis na Gestão de Comunicação de uma Rede Social no Terceiro Setor”. 2009. Dissertacao (especialização em Gestão de Comunicação: Políticas, Educação e Cultura) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009. P.136. 47 “(!) muitas – se não todas – as coisas que nós, humanos, fazemos no trabalho, são realizadas colaborativamente. Uma conseqüência disso é que a unidade da comunidade de pessoas que 23 trabalham juntas se torna um importante pré-requisito para o sucesso” . 2.4.8 Uma pequena revolução – integração de partes Até agora, o que denominamos função ideológica e função integradora foram, até certo ponto, apresentadas em diferentes itens. Porém, como já dito anteriormente, tal separação se deu por fins didáticos, uma vez que a construção de tais estereótipos pode facilitar o entendimento da análise proposta. Mas entende-se que ao final, ambas as funções não são opostas, mas sim complementares. Ou seja, a função integradora abarca a função ideológica, isso porque o profissional de Relações Públicas atua num contexto específico de trabalho e, portanto, não faz sentido assumir práticas que o impeçam de trabalhar. Por mais que se visualize um mundo ideal, há que reconhecer a realidade presente e propor-se a mudá-la em pequenos passos. Caso contrário, o próprio sistema expele o profissional que não consegue se adaptar, e esse deixa de ter qualquer atuação na construção do mundo através do trabalho. Trata-se de propor uma pequena revolução, consciente, que sabe das necessidades de atender às demandas do mundo corporativo e, ao mesmo tempo, atende às novas demanda que se apresentam na sociedade atual. Afinal há que considerar que o universo organizacional, muitas vezes, ainda visa único e exclusivamente o lucro. Porém a sociedade, o consumidor e o trabalhador têm novas necessidades, como reconhecimento, espaço de manifestação e crescimento, melhor distribuição de riquezas, voz para todos os públicos e responsabilidade socioambiental verdadeira por parte da organização. Para atender essas demandas, o profissional tem um papel de “regente”, manejando cada um dos elementos presentes numa arte de manter a música 23 VILAÇA, Wilma Pereira. “Comunicação organizacional: um olhar brasileiro sobre o pensamento da Escola de Montreal” Disponível em: http://www.alaic.net/alaic30/ponencias/cartas/com_org_yRP/ponencias/GT2_17 wilma.pdf Consultado em: 4/10/2011 48 tocando e se desenvolvendo numa harmonia possível para o todo organizacional. Em outras palavras, não faz sentido assumir uma postura radical em relação à comunicação organizacional, qualquer que seja o radicalismo, porque isso impediria a prática do trabalho em muitos contextos do mundo de hoje, além de não atender a todas as necessidades do indivíduo. Faz-se viável a atuação através do equilíbrio, da constante reflexão e questionamento a respeito da prática de gestão da comunicação e da proposta de mudar num ritmo saudável. “São pontes delicadas, instáveis – a imagem de uma “ponte pênsil” é perfeita para esta reflexão: uma ponte suspensa, cujo equilíbrio é dinâmico, cujo centro se desloca ora para um lado, ora para o outro e, por isso mesmo, exige atenção e cuidado para cruzá-la. No entanto, a ponte existe, e cumpre seu papel de não só ligar pontos polares, mas possibilitar caminhos 24 entre eles” . Esse caminhar entre pontos polares traça características do mundo em que vivemos e, em menor âmbito, define a forma de relação entre pessoas no trabalho, que é um campo extremamente significativo no que diz respeito à formação da identidade e interação Homem/mundo. Afinal, pessoas se encontram em função do trabalho a partir de um objetivo, mas a partir disso uma série de transformações acontecem em cada uma das partes envolvidas. “É fato que as interações humanas possuem sempre um objeto social ou material, como também o é a premissa de que assim como os sujeitos agem sobre o mundo objetivo, este mundo objetivo também age sobre os sujeitos. O ambiente seria, então, resultado e condição dessas interações. Ao lidar com o complexo meio-ambiente em que vivem, as organizações humanas fazem funcionar a contribuição de muitas pessoas ligadas a uma parte do mundo de 25 maneira especial” . 24 MONTE, Rita. “Educomunicação e Reputação organizacional: Pontes possíveis na Gestão de Comunicação de uma Rede Social no Terceiro Setor”. 2009. Dissertacao (especialização em Gestão de Comunicação: Políticas, Educação e Cultura) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009. P.86 25 VILAÇA, Wilma Pereira. “Comunicação organizacional: um olhar brasileiro sobre o pensamento da Escola de Montreal” Disponível em: http://www.alaic.net/alaic30/ponencias/cartas/com_org_yRP/ponencias/GT2_17 wilma.pdf Consultado em: 4/10/2011 49 3. SOBRE PROCESSOS DE TRABALHO 3.1 Reflexão epistemológica Apresentam-se aqui algumas reflexões e análises a respeito da prática do profissional de Relações Públicas. Esse conteúdo foi elaborado a partir de leituras, entrevistas e orientações recebidas até o presente momento, porém não há um montante de informações suficiente para fechar uma análise a cerca de processos de trabalho desse profissional. Essa consciência a respeito do conhecimento por ser adquirido é animadora e impulsiona para novos estudos. Por isso se elegeu registrar o que já foi analisado, mesmo com a lacuna a ser preenchida em relação às práticas de trabalho. Portanto, há que considerar que o que é apresentado aqui é o momento de um estudo em andamento. 3.2 A presença do novo na prática do Relações Públicas Todo indivíduo se depara, cotidianamente, com situações inéditas na sua vida. Seja um grupo de desconhecidos, um livro recém começado, um mal estar no corpo ou uma comida exótica, esse indivíduo se vê perante o desafio de reconhecer o novo e entendê-lo da melhor forma possível, possibilitando assim um diálogo entre si, enquanto ser humano, e o contexto no qual se está inserido. Para isso bastaria que o indivíduo desse “uma geral” na situação para que a interação entre ambos ocorresse com qualidade, porém essa suposição parte de dois pressupostos: o primeiro é de que o indivíduo possua todo conhecimento a respeito de determinado tipo de situação. O segundo, de que o sujeito tenha livre acesso a toda informação contida no contexto. Tanto um quanto outro são inválidos para a maioria dos casos. Afinal, não há como negar que cada interação é diferente de todas as outras; a possibilidade do sujeito viver duas vezes momentos idênticos é muito pequena, para não dizer nula. E cai por terra o primeiro pressuposto, dando espaço para a definição de que a partir de agora, o mundo cotidiano e científico deve ser 50 considerado a partir do ponto zero, pois o que se apresenta é o novo, sempre. Isso não significa que devemos esquecer todo o conhecimento já produzido e perder base para qualquer análise, mas que criemos novas teorias desvinculadas do paradigma até então vigente. Paradigma esse que foi adequado para a atuação prática/teórica do indivíduo até pouco tempo atrás, mas que se torna ultrapassado no mundo de hoje(Kunsch2010), não só deixando de acompanhar o desenvolvimento humano como limitando este. Se um paradigma se torna obsoleto, é fácil deduzir que um outro surja para substituí-lo. Porém antes de abordar esse ponto há que invalidar o segundo pressuposto, no que não há muita dificuldade, pois para provar que nem toda informação é de fácil acesso basta um exemplo simples que serve de analogia para toda situação relacional indivíduo/mundo: um bolo que assa no forno começa a soltar um aroma específico depois de certo tempo, o que é entendido pelo cozinheiro como sinal de que a hora de retirá-lo do calor está se aproximando. Quem fez o bolo não pode provar um pedaço nesse momento para certificar-se de que o doce está quase pronto, pois queimaria a boca e desandaria a massa. Tampouco precisou vê-la ou checar o relógio para chegar a essa conclusão. Bastou um detalhe do contexto, o cheiro, para que o todo fosse relativamente compreendido. Não satisfeito com o seu entendimento a respeito do que está acontecendo no fogão, o cozinheiro abre o forno e espeta o bolo com um palito de dente, verificando que este sai melado de massa crua. A conclusão de que mais partes do bolo estão por assar não requer que o bolo todo seja espetado, sendo um ponto suficiente para que o forno permaneça aceso. A partir desse exemplo pode-se fazer a prometida introdução do novo paradigma, segundo o qual o entendimento do novo se faz com base em evidências, detalhes, coragem para enfrentar o desconhecido e confiança na capacidade de percepção do contexto. Tudo isso sem menosprezar a importância da base teórica para produzir conhecimento, a qual pode ter origem teórica ou empírica. Voltando à metáfora do bolo: assim como o cozinheiro fez uso do seu conhecimento culinário para reconhecer o todo nas partes, o gestor 51 comunicacional deve ser capaz de deduzir características de um grupo específico com base na experiência e teoria adquiridas anteriormente. Esse profissional passa a ser um detetive dentro da empresa, a procura de pistas e com a missão de traçar o perfil do problema que impede o fluxo ideal de informação. Essa inovação se aplica à comunicação no que diz respeito ao mundo organizacional do trabalho. O desenvolvimento de técnicas comunicacionais que se praticam nesse campo deve mudar, ou melhor, multiplicar suas direções, pois determinados procedimentos vigentes até hoje já não correspondem à realidade, embora continuem a constar no “manual do comunicador”. Porém há profissionais que já aplicam características do novo paradigma às suas práticas profissionais, como é o caso da Prof. Dra. Maria Schuler, a qual cedeu uma entrevista 26 a respeito de sua atuação como publicitária, relações públicas e comunicadora organizacional. A conversa revelou relação direta de seu trabalho com teorias que embasam essa nova forma de lidar com o conhecimento. E é esse trabalho que nos interessa; o de analisar uma organização e fazer, a partir de informações coletadas e conhecimentos pré-adquiridos, um diagnóstico do problema que o grupo apresenta em termos de comunicação. O profissional responsável por tal estudo pode ter vários nomes, visto que a comunicação ganha cada vez mais importância e seu cuidado é assumido por uma crescente variedade de profissionais. “ ‘Comunicação Corporativa é tão importante que não pode ficar nas mãos só de comunicadores’. Para que a expressão não pareça demasiadamente depreciativa para os comunicadores tradicionais - entre eles, os relações públicas, jornalistas, publicitários, designers -, lembre-se do tempo em que tudo o que não fosse publicidade e promoção 27 era assunto menor nas empresas.” 26 Tanto o questionário aberto que serviu de base para a entrevista quanto as anotações feitas a partir da mesma encontram-se em Anexos 27 NASSAR, Paulo. “VIVA A MESTIÇAGEM”. Disponível em: http://www.aberje.com.br/imagens/2004/artigo_mesticagem.pdf Consultado em:29/10/2011, p.1 52 Em função da crescente mestiçagem profissional do campo da gestão da comunicação há que dar menos importância para a denominação do cargo profissional e comemorar a interdisciplinaridade na área, o que abre possibilidades para uma atuação mais completa e holística. Sendo assim, a comunicação pode ser gerida pelo relações públicas, terapeuta organizacional, gestor de comunicação, diretor superior e ainda, se servir de áreas mais heterogêneas como arquitetura, matemática, engenharia, biologia. Segundo o Prof. Dr. Paulo Nassar, “é essa mestiçagem profissional que garante o bom futuro da comunicação corporativa”28 e permite uma evolução na área, para que essa atenda ás novas demandas da sociedade. No caso da profissional entrevistada, Schuler se autodenomina comunicadora organizacional. O serviço prestado é uma consultoria a empresas que percebem a existência de um problema de comunicação dentro de sua organização e por isso procuram profissionais capacitados a solucionálos. A partir daí começam os problemas relacionados ao jeito retrógrado de lidar com a comunicação. Por exemplo, uma empresa solicita o serviço de criação de um “teaser”29. Mas essa seria a solução de um possível problema, que seria a razão para que se executasse o produto. Porém se os responsáveis por tal decisão forem questionados a respeito da razão que os levou a querer esse “teaser”, na maioria das vezes não haverá uma resposta clara. Ou seja, parece que quando sobra uma verba no orçamento da firma, investe-se em comunicação, sem objetivo claro ou o cuidado necessário. Como prestadora do serviço, Schuler faz com que os seus clientes voltem alguns passos e ajudem-na a realizar talvez a etapa mais importante do trabalho, que servirá de base para definir a solução adequada para o contexto daquela empresa: o diagnóstico do problema organizacional. 28 NASSAR, Paulo. “VIVA A MESTIÇAGEM”. Disponível em: http://www.aberje.com.br/imagens/2004/artigo_mesticagem.pdf Consultado em:29/10/2011, p.1 29 Exemplo fornecido em entrevista com Prof. Dr. Maria Schuler, em Anexos 53 Para isso, segundo a comunicadora, é importante o profissional ser capaz de perceber as fendas que revelam o todo, muitas vezes escondido sob a configuração das relações do grupo. Deve-se estar constantemente com o “radar ligado”, percebendo uma conversa aqui, um olhar ali...Tudo isso é extremamente relacionado a um ponto do novo paradigma que diz respeito à importância dos detalhes para a percepção do contexto como geral. Aqui se apresenta a função do comunicador mencionada acima, onde esse assume um papel de detetive cujo objetivo é ter uma compreensão geral da organização e seus fluxos de informação, podendo assim identificar onde estão os entraves desse fluir, os nós que representam obstáculos para o pleno expressar do potencial de cada indivíduo e da organização como um todo. 3.3 Levantamento da Memória Organizacional Entender o valor da memória organizacional igualmente é interessante para o profissional de comunicação, pois muitos dos comportamentos, os quais moldam parte dos processos comunicacionais no ambiente de trabalho, têm origem na memória organizacional. Fazer um levantamento do passado da organização pode ajudar na compreensão da cultura atual, o que aproxima o profissional e os membros da organização da realidade da qual fazem parte. E não só comportamentos podem ser melhor compreendidos com o levantamento dessa memória, mas o próprio conhecimento produzido na empresa pode estar armazenado nesse passado. “o conhecimento prático desenvolvido por meio do trabalho colaborativo de um grupo é guardado, pertence ao grupo como um todo e não a um único indivíduo. (!)coletivamente, sabemos não só mais sobre alguma coisa, mas mais coisas do que qualquer um de nós sozinhos. Assim, o conhecimento subsimbólico não poderia ser facilmente formulado porque ele é parte de um entendimento profundo que temos sobre 30 como realizar tarefas complexas, trabalhando em colaboração” . 30 VILAÇA, Wilma Pereira. “Comunicação organizacional: um olhar brasileiro sobre o pensamento da Escola de Montreal” Disponível em: http://www.alaic.net/alaic30/ponencias/cartas/com_org_yRP/ponencias/GT2_17 wilma.pdf Consultado em: 4/10/2011 54 A valorização do conhecimento produzido dentro da organização nao só se faz válida para que esse conteúdo possa ser usado para uma melhor compreensão da cultura organizacional, mas também consiste parte do fator humano dentro da empresa, o qual ganha cada vez mais espaço dentro do mundo corporativo. “No campo da comunicação empresarial, as narrativas baseadas na memória de inúmeros públicos, em suas formas de histórias, depoimentos e relatos de vida, storytelling, nos suportes oral, escrito e audiovisual é uma das tentativas de responder ao desafio de narrar, avivando e destacando o que é humano no mundo produtivo”. 31 Nesse contexto faz-se válido o cuidado com arquivos históricos da organização, pois muito se perde em função do pouco que é arquivado. Esse cuidado com a memória pode ser também função do Relações Públicas quando esse faz, através da pesquisa de arquivos e entrevistas com membros e ex-membros da organização, um levantamento da memória organizacional. O resultado dessa prática combinado ao reconhecimento do contexto presente no ambiente de trabalho é uma análise da cultura – crenças, comportamentos, processos – dentro da organização. Porém, voltando ao conceito oferecido por Oliveira(1995) de cultura ideal e cultura real, faz-se aqui necessário o cuidado de que o profissional pesquisador saiba reconhecer o que representa cultura real e o que representa cultura ideal no montante de dados coletados. Por exemplo, realizar tal levantamento com base em depoimentos do grupo dirigente, exclusivamente, deixa sérias lacunas no que diz respeito á cultura real, uma vez que esse grupo só reconhece o que está sob seu controle e dificilmente tem acesso ao que os outros grupos têm a dizer, verdadeiramente. Portanto, em termos de entrevista, o correto é que ela seja 31 NASSAR, Paulo. “O que narrar?” Disponível em: http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=593&ID_COL UNISTA=28 Consultado em: 28/8/2011 55 realizada com representantes dos diversos grupos heterogêneos dentro da organização. Outro ponto a ser discutido na prática de levantamento organizacional em relação às entrevistas é o gestor de comunicação dificilmente considerar a possibilidade de entrevistar os funcionários que já não se encontram como membros da organização analisada. As entrevistas são realizadas com os funcionários que permaneceram na empresa; os funcionários que não decidiram sair por alguma insatisfação ou foram despedidos por alguma razão. Isso é uma seleção de informação que pode não interessar ao pesquisador, dependendo do foco de sua pesquisa. Aos dados de profissionais que não se encontram mais empregados o pesquisador dificilmente terá acesso, a menos que se realizem entrevistas com ex-trabalhadores. Afinal, é raro que uma empresa faça registro de informações desse tipo. Aliás, é raro que qualquer tipo de arquivo de informações não diretamente relacionado à área financeira seja feito dentro de uma organização. Porém se apresentam situações em que esse tipo de registro é necessário, e a empresa se vê obrigada a recuperar seus dados por vias externas. Foi o que aconteceu na empresa Arcor, quando essa se propôs a realizar um anúncio que faria uso do histórico de imagens de uma marca de doces que pertencia à própria corporação Arcor. Porém após dar início ao trabalho, os comunicadores verificaram que simplesmente não havia arquivo de imagens de tal marca. Essas imagens não estavam guardadas na empresa e passaram a ser necessárias para a realização de um projeto. “(...)nos demos conta de que não tem nada guardado de imagem, de história, de nada. A gente teve que recorrer a um banco de imagens, pagar caríssimo para ter fotos de anúncios nossos. O cuidado com a memória é um grande problema nas empresas.” 32 trecho de entrevista na íntegra em Anexos 32 56 Esse trecho do depoimento de Colorni deixa clara a necessidade de se fazer um banco de dados de imagens produzidas para anúncios e outros fins dentro da empresa. Porém o que defendemos aqui é que o mesmo se aplica a todo tipo de informação organizacional, ao conhecimento produzido dentro da organização como um todo. Inclusive aos relatos históricos sem aparente importância, uma vez que esses podem vir a representar o fator humano da organização no futuro (NASSAR, 2011). Todo esse cuidado com a memória organizacional se faz mais significativa nos tempos de hoje em função da rotatividade de funcionários que se verifica nas empresas, o que pode ser exemplificado a partir de mais um trecho transcrito da entrevista com Colorni: “(...)eu acredito que muitas empresas têm esse problema, porque hoje as empresas são muito mais rotativas, não existe mais aquele funcionário fiel. O cara que está há muito tempo na empresa tem tudo na cabeça, e quando um funcionário vai embora de uma empresa ele está levando toda a memória da empresa junto. Eu estou aqui na Arcor há 11 anos e do escritório inteiro só tem uma pessoa que está aqui a mais tempo do que eu. Se eu for embora a empresa perde um banco de dados. Tem gerente de produto que às vezes vem me perguntar “já foi feito isso? já foi feito aquilo?”, por que não tem nada guardado, né?” 33 O fato da rotatividade de funcionários ter se intensificado, e combinado à escassa atividade de se fazer arquivo de memória organizacional, dificulta a prática do profissional responsável pelas políticas de comunicação, uma vez que fazer o levantamento da memória passa a depender, em grande parte, do relato oral. Esse é, geralmente, mais próximo à cultura real do que os relatos em documentos escritos. Isso porque os relatos escritos sempre procuram registrar os fatos de acordo com o ponto de vista que mais convém à direção da organização, a qual é apresentada como absolutamente correta. As demissões, por exemplo, sempre são justificadas de acordo com o que convém 33 trecho de entrevista na íntegra em Anexos 57 à cultura ideal. Ou seja, a empresa é sempre apresentada como uma instituição justa nos arquivos, o que esconde a realidade do que aconteceu no passado. Dificilmente um aspecto negativo ou um erro de conduta empresarial será devidamente registrado por documentos. Resta ao pesquisador recorrer ao relato oral através de entrevistas, sempre cuidando para coletar dados de diferentes grupos heterogêneos. Fazer o levantamento da cultura organizacional pode ajudar muito a compreensão de comportamentos dentro de um grupo. Marco A. Oliveira(1995) relata seus estudos numa organização na qual se verificava uma atitude constante entre os funcionários: havia ansiedade em realizar as coisas com praticidade, assim como resistência a planejamentos e reflexões dentro do ambiente de trabalho. Uma vez estudado o passado de tal empresa, descobriuse que por muitos anos essa fora vítima de enchentes que chegavam sem aviso às suas instalações. Quando isso ocorria, todos os funcionários deixavam de ocupar seus postos para dar início a um procedimento que envolvia a todos e tinha de ser realizado extremamente rápido. Caso contrário a água entrava nas instalações da fábrica, causando um prejuízo material e impedia que as atividades continuassem. A partir desse levantamento histórico, Oliveira(1995) teve base para relacionar aspectos da cultura atual da empresa com o passado da mesma. Por exemplo, na organização específica se verificava uma resistência a planejamentos de forma geral. Todos os departamentos partiam rapidamente para a realização dos projetos, aperfeiçoando os caminhos conforme esses se desenvolviam. Nesse sentido também foi atribuída a essa cultura organizacional a praticidade e a resistência à reflexão. Assim, a relação de passado e presente organizacionais se faz clara e a compreensão de comportamentos atuais, assim como da origem passada desses comportamentos, ajuda não só o gestor comunicacional a desenvolver um diagnóstico do contexto analisado como oferece aos próprios trabalhadores componentes da organização uma possibilidade de conscientização de seus comportamentos. Tal processo de conscientização aproxima o indivíduo trabalhador à condição de funcionário com controle sobre suas ações, ou pelo 58 menos conhecimento sobre sua situação na empresa e entendimento sobre sua própria atitude como membro de determinado grupo organizacional. Mas por que não simplesmente constatar os aspectos culturais de uma organização com base em análises do seu presente? Por que se faz necessário um levantamento do passado organizacional? Essa é uma dúvida que surge naqueles cuja mentalidade só vê sentido no conhecimento efêmero, no presente e na busca pelo falsa perspectiva do lucro fácil e rápido. Questionar a validade do estudo da memória organizacional é o mesmo que questionar a validade do estudo de História. Afinal, fato é que a compreensão das sociedades mundiais se vê facilitada através do estudo histórico. O mesmo processo se dá quando é analisada a História de uma determinada organização. No caso da empresa vítima de uma série de enchentes, os aspectos nela verificados talvez fossem igualmente percebidos se os relatos de acontecimentos passados não tivessem sido recolhidos pelo pesquisador. Porém a ligação entre o período de enchentes e o comportamento cotidiano dos funcionários é clara, o que dá méritos ao levantamento de memória e cultura organizacionais. Essa prática vem sendo valorizada no mundo do trabalho e se torna cada vez mais comum entre os profissionais responsáveis pelas políticas de comunicação organizacional. 3.4 O Relações Públicas como pesquisador Como já abordado nesse trabalho, uma das atividade do profissional gestor de comunicação é reconhecer o contexto organizacional no qual vai atuar. E assim se faz possível chamar a atenção para as semelhanças entre as atividades de um pesquisador e as de um profissional gestor de comunicação. Afinal, uma das principais funções do gestor de comunicação é fazer o diagnóstico organizacional, a partir do qual elaborará uma política de comunicação. E esse primeiro passo, de fazer o diagnóstico, é pesquisa. Dito em outras palavras, o Relações Públicas gestor de comunicação é, em grande parte de sua atividade, um pesquisador. Essa capacidade de reconhecer o 59 todo da organização depende de uma série de fatores como disposição para o novo, experiência na área, sensibilidade para captar situações e ainda, facilidade de fazer uma entrevista de boa qualidade. Frequentemente se verifica a subestimação a respeito da complexidade dessa prática; como consequência a pesquisa dentro da organização acaba por ser feita com base em manuais superficiais ou métodos obsoletos. O resultado é a obtenção de dados que não correspondem à cultura real da instituição(Oliveira, 1995) e, portanto, não oferecerão uma base satisfatória para a elaboração de uma política de comunicação adequada. A crença de que modelos de políticas de comunicação podem ser adotados em qualquer contexto deixa de fora a etapa de diagnóstico organizacional, uma vez que pressupõe todo contexto organizacional suficientemente semelhante para que uma mesma conduta em comunicação seja aplicada em todos eles. Isso não é verdade. Cada organização apresenta um conjunto de características muito específicas e o processo de análise delas é extremamente importante para que se reconheça a configuração da organização em questão, assim como os problemas de comunicação na mesma. Portanto, a atividade de pesquisa é uma das principais práticas do profissional gestor de comunicação. Essa é uma importante base para que uma política de comunicação seja elaborada e aplicada com êxito. Fica clara a necessidade da adoção de procedimentos teóricometodológicos bem fundamentados para que a pesquisa possa ser incorporada como ferramenta de trabalho. A partir do momento que este se permitir estudar tais métodos e tomar controle dos processos, ganhará liberdade de atuação; permitindo-se expandir seus limites além dos manuais já escritos a respeito do assunto. Assim o profissional não mantém a prática de seguir manuais automaticamente, mas passa a aproveitar deles o que lhe parece conveniente, adaptando-os ao seu objeto concreto de estudo. Em outras palavras, o profissional pode aproveitar o conhecimento acumulado na área, porém com uma postura crítica perante os conceitos que foram utilizados até então. Além disso, esses modelos já conceituados servem de referência para o 60 desenvolvimento da teoria e prática do profissional responsável pela gestão da comunicação e podem ser atualizados com os novos conhecimentos produzidos pelo profissional-pesquisador em atividade. 3.5 A entrevista Segundo Gómez (1997), uma das principais diferenças entre a pesquisa quantitativa e a qualitativa é que esta última tem como objeto de estudo a linguagem viva, a conversa em si, enquanto a primeira limita-se ao questionário fechado. Este carece de respostas alternativas às imaginadas pelo pesquisador, porém permite que um número grande de pessoas seja questionado. O dilema de escolha entre os métodos qualitativo e quantitativo é, muitas vezes, solucionado pela fusão dos dois processos numa mesma pesquisa, quando tanto um questionário fechado é aplicado quanto entrevistas são realizadas, ambos os processos com foco em um mesmo objeto de estudo. Conhecer profundamente o objeto de estudo pelo prisma qualitativo não é possível em um único encontro. Trata-se de um processo de ir e vir. Verificase então uma das vantagens de se ter um profissional responsável pelas políticas de comunicação da empresa como um funcionário dentro da mesma ou, no máximo, como um consultor cujo tempo de permanência na organização seja suficiente para a elaboração de um diagnóstico organizacional satisfatório.34 34 O vínculo empregatício do profissional gestor de comunicação e a empresa na qual esse trabalha pode se dar de diversas formas, sejam essas fixas, onde o trabalhador é funcionário interno da empresa, ou terceirizadas, onde se encaixam os trabalhadores temporários, consultores e freelancers. Fato é que, para te acesso à cultura da organização, o profissional de comunicação necessita relacionar-se com essa de alguma maneira. Uma análise mais profunda a respeito dessas possibilidades de vínculo é apresentada no relatório de iniciação científica cujo título é “O Profissional responsável pela Política de Comunicação Organizacional” (Jesus, 2009) 61 3.6 Identificando os entraves no contexto da comunicação organizacional É extremamente comum que, uma vez reunidos em torno de um mesmo objetivo e convivendo por um largo período de tempo, indivíduos componentes de um mesmo grupo desenvolvam termos de linguagem específicos e inéditos até então. São palavras, gestos, comportamentos que adquirem um significado específico no contexto daquele grupo. Mas como o passar do tempo os componentes são renovados, substituídos; uma pessoa deixa de fazer parte de um grupo para incluir-se em um novo, e assim se faz necessária a adaptação a novos ambientes e a construção de relações com novas pessoas. Porém muitas vezes surgem disfunções na comunicação. É o clássico problema de comunicação, quando uma mesma mensagem tem um significado para alguns enquanto outros a interpretam de forma radicalmente distinta. Esse tipo de impasse deve ser analisado sob os conceitos da lingüística, uma vez que dizem respeito a desencontros comunicacionais em função de diferentes sistemas de signos adotados. O gestor de comunicação entra nesse contexto com a missão de diagnosticar a incongruência entre linguagens para então fazer ambas as partes compreenderem de fato o que cada uma pretende comunicar. Para exercer tal tarefa é imprescindível que o profissional de comunicação tenha consciência das nuances da linguagem e seu papel na estruturação do pensamento para, a partir desse conhecimento, ser capaz de abstrair seus próprios parâmetros de linguagem, alcançando o funcionamento daqueles que não conseguem se expressar adequadamente por não dominarem o sistema lingüístico do outro. Se esse nó na rede de relações dentro da empresa seguisse um padrão, seria fácil. Bastaria coletar algumas informações, cruzá-las com registros de análises já realizadas e fechar o diagnóstico. Mas o fato é que cada problema apresenta uma configuração específica, portanto não há como procurar um modelo fechado de entrave comunicacional. Aí entra a necessidade de, como já mencionado nesse trabalho, partir do zero quando se trata de comunicação. 62 É preciso chamar a atenção, como o faz M. A. de Oliveira(1995), para o fato de que, no processo do diagnóstico organizacional, o gestor não deve ir em busca de culpados, mas sim de nós que impeçam o funcionamento natural da comunicação no grupo. Esse nó pode, sim, ser representado por uma pessoa, porém muitas vezes trata-se de uma característica que se configurou em função do todo, de uma deficiência na estrutura física da instituição ou ser de outra natureza. As causas possíveis são inumeráveis. Por isso é importante atentar para a limitação de teorias criadas e aceitas até hoje. 63 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O entendimento da cultura organizacional confere ao profissional de Relações Públicas e comunicação um poder de atuação na construção da realidade que, automaticamente, lhe confere também uma grande responsabilidade em relação à sua prática profissional. A que interesses o Relações Públicas vai servir? Com que intensão se propõe a gerir a comunicação de determinada organização? A partir desse questionamento surgem diversas possibilidades de atuação em comunicação, algumas delas sem um montante significativo de referências no passado. Nesse trabalho denominamos uma dessas possibilidades de função integradora do Relações Públicas. Muitos profissionais já se aventuram nessa nova forma de gerir a comunicação organizacional e estão, cada um no seu caminho, desvendando e criando esse novo território profissional. Fazer uma pesquisa mais completa a respeito de suas práticas seria uma forma de dar continuidade a esse trabalho de conclusão de curso, que não só se propôs ao aprofundamento e questionamento da atual forma pela qual se faz a gestão da comunicação organizacional, como espera incitar a reflexão e a coragem de comunicadores que enfrentam o desafio de inovar nessa área. Como são as práticas do profissional de comunicação que atua na função integradora? Como se dá o vínculo empregatício desse com a organização? Como acontece sua remuneração? Na prática, é possível fazer do cotidiano de trabalho um espaço criativo e que gere renda para todos os envolvidos? Essas perguntam ficam em aberto e são um convite para que profissionais de comunicação respirem fundo e assumam o dever de mediar a construção de uma nova realidade, onde todos somos reconhecidos e fazemos juntos. 64 5. REFERÊNCIAS ACHBAR, Mark e ABBOTT, Jennifer. “THE CORPORATION”. Vancouver: Big Picture Media Corporation. 2003. “A Dança dos Estudos da Linguagem pela Semiose de Peirce”. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Sanders_Peirce . Consultado em: 12/06/2008 BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 9a. ed. São Paulo: Hucitec, 2002. BLIKSTEIN, Izidoro. “Kaspar Hauser ou a fabricação da realidade.” São Paulo:CUltrix, 1990. COLORNI, Gilberto. HISTÓRIA, MEMÓRIA E CULTURA EM UMA EMPRESA MULTINACIONAL. Gestão da Comunicação, 2005 COSTA,Cláudio. “Filosofia da linguagem”. 2ed. Jorge Zahar Editor:Rio de Janeiro, 2003. COSTA,Cláudio. “Filosofia da linguagem”. 2ed. Jorge Zahar Editor:Rio de Janeiro, 2003. Definição de Relações Públicas. Disponível em: http://abrpsp.wordpress.com/about/definicao-rp/ Consultado em: 5/10/2011 ECO, Humberto; SEBEOK, Thomas A. (org.) O signo de três. 1ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980. FREUD, Sigmund. “Caminhos da terapêutica psicanalítica”. In: Obras Completas de Sigmund Freud, v. X. Rio de Janeiro: Delta, s.d, 1918. GARETH, Morgan. “Imagens da Organização”. São Paulo: Atlas,1989. GARETH, Morgan. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas,1989. Gestão da Comunicação: epistemologia e pesquisa teórica/Maria Aparecida Baccega, Maria Cristina Castilho Costa (organizadoras). -1. Ed. – São Paulo:Paulinas, 2009. GINZBURG, Carlos. “Chaves do Mistério: Morelli, Freud e Sherlock Holmes”. São Paulo: Perspectiva, 1991 GÓMEZ, G. Orozco. La Investigación en Comunicación desde La Perspectiva Cualitativa. México: IMDEC, 1997 65 GRUPO DE PESQUISA COMUNICAÇÃO E TRABALHO. Disponível em http://www.eca.usp.br/comunicacaoetrabalho. Visistado em: 25/03/2008 INDUÇÃO. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Indu%C3%A7%C3%A3o#Filosofia . Acessado em 8/12/08. JESUS, Ligia Ungaretti. “O Profissional responsável pela Política de Comunicação Organizacional”. Relatório final com os resultados da pesquisa de Iniciação Científica, Pibic/CNPq-ECA-USP. São Paulo, 2009 KUNSH, Margarida. “A Comunicação como fator de humanização das organizações”. 1 ed. São Caetano do Sul. São Paulo: Difusão Editoria, 2010. LEVY, Armando. “As Ideias Da Escola De Montreal sobre Comunicação.” Disponível em: http://www.slideshare.net/ALevy/as-idias-da-escola-demontreal-comunicao Consultade em: 4/10/2011 LIMA, Raquel Sousa . “O conceito de cultura em Raymond Williams e Edward P. Thompson: breve apresentação das idéias de materialismo cultural e experiencia”. Disponível em: http://www.historia.uff.br/cantareira/novacantareira/artigos/edicao8/artigo02.pdf Consultado em: 5/10/2011 MARCHIORI, Marlene. “Faces da cultura e da comunicação organizacional”. Disponível em: http://www.olivreiro.com.br/pdf/livros/cultura/1759360.pdf Consultado em: 12/5/2009 MERLEAU-PONTY, Maurice, “Fenomenologia da percepção”. 2- ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999 MONTE, Rita. “Educomunicação e Reputação organizacional: Pontes possíveis na Gestão de Comunicação de uma Rede Social no Terceiro Setor”. Dissertacao (especialização em Gestão de Comunicação: Políticas, Educação e Cultura) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009. NASSAR, Paulo. “A comunicação - um novo papel”. Disponível em:http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5115775-EI6786,00A+comunicacao+um+novo+papel.html Consultado em: 22/10/2011 NASSAR, Paulo. “O profissional de Relações Públicas no ambiente corporativo global: Uma contribuição para a Comissão de Especialistasi em formação superior de Relações Públicas.” Disponível em: http://www.aberje.com.br/ Consultado em:29/10/2011 NASSAR, Paulo. “O que narrar?” Disponível em: http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=593&ID_COL UNISTA=28 Consultado em: 28/8/2011 66 NASSAR, Paulo. “VIVA A MESTIÇAGEM”. Disponível em: http://www.aberje.com.br/imagens/2004/artigo_mesticagem.pdf Consultado em:29/10/2011 OLIVEIRA, Marco A. Cultura de Empresa, um estudo de caso. Dissertação de mestrado, Depto. Antropologia Social – FFLCH-USP, 1995 OSÓRIO, Carlos Luíz. “Teoria Introdutória da Comunicação Humana. Psicologia Grupal”. Porto Alegre: Artmend, 2003. OSÓRIO, Carlos Luíz. Teoria Introdutória da Comunicação Humana. Psicologia Grupal. Porto Alegre: Artmend, 2003. OSORIO, Luiz Carlos. “Psicanálise Aplicada a Grupos”. Disponível em: http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/monografias/escola_e_familia.pdf Consultado em: 5/5/2011 PERUZZO, Cicilia K. Relações Públicas no Modo de Produção Capitalista. 4° ed. São Paulo: Summus, 2004 REBECHI, Claudia Nociolini. “Comunicação nas relacoes de trabalho: análise crítica de vozes da comunicação organizacional no Brasil. 2009. 145 f. Dissertação (Mestrado em Ciencias da Comunicacao) – Escola de Comunicaçao e Artes, Univesidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 2009. SANTAELLA, Lúcia. “As linguagens como antídotos ao midiacentrismo”. In: Revista Matrizes, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da USP. 2007. THIOLLENT, Michel J. M. CRÍTICA METODOLÓGICA, INVESTIGAÇÃO SOCIAL & ENQUETE OPERÁRIA. São Paulo: Pólis, 1987 TORRES, José Júlio Martins. “FRACTAIS”. Disponível em: http://www.teoriadacomplexidade.com.br/textos/fractais/Fractais.pdf Consultado em: 29/4/2010 VILAÇA, Wilma Pereira. “Comunicação organizacional: um olhar brasileiro sobre o pensamento da Escola de Montreal” Disponível em: http://www.alaic.net/alaic30/ponencias/cartas/com_org_yRP/ponencias/GT2_17 wilma.pdf Consultado em: 4/10/2011 WILLIAMS, Raymond. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. WITTGENSTEIN, L. J. J. “Investigações Filosóficas”. Petrópolis: Editora Vozes, 2004. 67 6. ANEXOS 6.1 Roteiro de Entrevista 1. Histórico Profissional / Pessoal: Dados e fatos marcantes sobre sua carreira - trajetória O que o fez decidir ou trabalhar com comunicação? Quais características pessoais ou profissionais que o fizeram trabalhar na área de comunicação? Se começasse hoje: o O que faria diferente? o O que não deixaria de fazer? 2. O profissional responsável pela Política de Comunicação Organizacional: Qual o perfil do profissional: o No passado o Hoje o No futuro O que define - determina este profissional em cada momento considerado (acima) Quais são / foram / serão os desafios para este profissional? Quem são os profissionais de comunicação que representam bem estes 3 tempos (exemplos e referencias)? Qual e o perfil ideal do profissional de comunicação? o Habilidades pessoais? o Habilidades profissionais? O Profissional de Comunicação e a tecnologia? Com a evolução da tecnologia, o que muda para este profissional? Afinal, atrapalha ou ajuda? Por quê? 3. As Práticas do Profissional responsável pela Política de Comunicação Organizacional: Como acontece o processo de um trabalho de consultoria? ! Como é encontrado pelos clientes ! Quanto tempo dura um projeto o Qual o tempo médio de intervalo entre um projeto e outro Quais são as práticas no cotidiano de trabalho? o Como se faz o diagnóstico da comunicação o Soluções - - Quais são as mais comuns e como são apresentadas o Dá continuidade ao processo ou pára no planejamento o Trabalha sozinho ou em grupo Vínculo empregatício com a empresa ! Vantagens e desvantagens de ser terceirizado o Como acontece a remuneração 4. O trabalho de comunicação e a globalização: Como vê o profissional responsável pela Política de Comunicação Organizacional no Brasil vs. no mundo? Quais os impactos que a globalização traz para esse profissional O que imagina que este profissional esteja fazendo para manter-se atualizado / empregado diante deste cenário? Que impactos a evolução das mídias (Internet, TV digital, telefonia digital) tem no perfil e nas competências deste profissional? 68 6.2 Entrevista Gilberto Colorni - Gerente de Design Industrial da Arcor Entrevistado: Gilberto Colorni - Gerente de Design Industrial da Arcor. Entrevistadora: Ligia Ungaretti Jesus Data: 6/11/2008 Local: Arcor. R. Olimpíadas, 205 Ligia: Como foi a sua trajetória profissional? Gilberto: Eu sou formado em desenho industrial na FAAP. No tempo de faculdade minha vontade era trabalhar com desenho de carro. No período do curso eu fui vendo que era muito complicado, não porque eu não soubesse, mas porque o mercado era muito pequeno. Aí eu comecei a descobrir a parte gráfica, vários ramos, trabalhei num estúdio de design que fazia eletrodomésticos, trabalhei com Internet, com marketing interno e trabalhei com embalagens. Daí que eu vi que embalagem é o que eu acho mais legal, por que se comunica com as pessoas, ou seja, uma coisa que você faz e que tem uma função muito interessante; a embalagem precisa vender o produto. Na Internet é diferente, você faz ali o negócio e ele fica preso, você não pega na mão. Ligia: Você só começou a trabalhar depois de formado na FAAP? Gilberto: Não, eu já trabalhava antes. Quando eu me formei eu já tava no segundo, terceiro emprego. Quando eu entrei na Arcor, em 1997, eu já tinha saído da faculdade em 1995. Ligia: E você acha que foi bom começar a estagiar com a faculdade? Gilberto: A minha decisão foi porque, pensar um pouco o que você quer para a sua vida. Se você quer ser rico, ter uma carreira, você tem que partir para estágio. Mas se os seus ideais são outros acho que você tem que seguir outro caminho. Por que se para a gente que pegando estágio e trabalhando já é 69 dureza para caramba, para quem está seguindo carreira acadêmica é um pouco mais complicado, imagino eu. A gente tem os nossos ideais, né? Mesmo dentro desse mundo aqui, que eu vivo, a Arcor que é uma multinacional, a minha carreira também tem um limite aqui dentro. Porque a empresa é uma empresa de alimentos que tem diretores gerais, marketeros, pessoal de desenvolvimento de produto, pessoal de finanças, pessoal de vendas. Agora, design aqui é um pouco peixe fora d’água. Ligia: Você está sozinho aqui? Gilberto: Não, eu tenho uma equipe de seis pessoas que cuida de toda parte de design gráfico. A gente tem em Manaus um estúdio, eu sou gerente da área. Comecei sozinho e 1, 2,3,4,5,6. Ligia: Se você começasse hoje, faria alguma coisa diferente? Gilberto: Eu sempre me pergunto isso: “Será que eu fiz a coisa certa?” Eu sou um cara que se dedica para caramba e eu vejo que tem carreiras que se eu me dedicasse tanto quanto eu me dedico aqui, talvez eu fosse melhor sucedido. Uma área de vendas, por exemplo. Eu vejo que eles conseguem rapidamente subir, e os salários são melhores. Ligia: E o que você não deixaria de fazer? Gilberto: Experimentar tudo o que eu experimentei. Porque dentro de cada carreira tem várias opções. É meio equivalente a se casar com a primeira mulher que você encontra, você pode até ser feliz, mas sempre com aquela pulga atrás da orelha. “Será que tem uma melhor melhor?” Acho que é legal você conhecer outras coisas. Ligia: Para você, qual o perfil ideal do profissional de comunicação? Gilberto: Pessoas que mexem com comunicação geralmente têm que ser comunicativas, mas passoals que mexem com parte gráfica, como eu, é exatamente o oposto. Essas que trabalham com parte visual são muito 70 introspectivas. Eu sou um cara que consigo lidar bem com isso e, ainda bem, né? Porque eu vejo que na minha equipe tem muita gente introspectiva. A pessoa tem que ser expressiva, né. Ligia: Normalmente os profissionais têm graduação? Gilberto: Da minha área todos têm praticamente a mesma coisa: desenho industrial. Na FAAP, Mackenzie, Belas Artes e Anhembi Morumbi. Nós estamos falando aqui de comunicação visual, né? Não da comunicação verbal, sei lá. Ligia: Esse profissional tem habilidades pessoais ou ele adquire isso? Gilberto: Eu acho que na nossa área tem que ter um dom. No meu curso na faculdade tinha muitas pessoas que você via que não tinha o dom. Você vê, trabalha o outro lado do cérebro. Tem um limite para você se desenvolver. Ligia: Na sua equipe tem homens e mulheres? Gilberto: Eu sempre procuro formar ela de maneira que fique mista. Agora eu tenho três homens e duas mulheres. Até outro dia, quando saiu uma design da equipe, tinha mais mulher do que homem. E as mulheres trabalham bem, trabalham direito. Eu gosto. É um outro perfil, é muito nítido. Ligia: Para você, o que é a comunicação de maneira geral, dentro da Arcor? E da sua equipe? Gilberto: Você diz comunicação minha com eles? Ligia: Isso. Gilberto: Cada gestor de área tem seu jeito de gerir, sua personalidade. Paralelo a isso a empresa está fazendo um trabalho muito interessante para educar, treinar cada gestor. Para que eles consigam se comunicar melhor. É um investimento que a empresa faz. Tem os módulos, inclusive teve um 71 anteontem. Faz dois anos que estamos trabalhando com esses módulos. O primeiro era como dar o feedback e anteontem foi a continuação, que era como dar o feedback e desenvolver o personagem. Existem profissionais nisso, é uma coisa que se ensina. Cada gestor tem suas qualidades nisso, mas isso é possível aprender. È assim,vem um cara, é sempre ele na Arcor. São mais de 40 fábricas, 50.000 funcionários. Ele vai percorrendo aí. A gente faz até um teatrinho, tem uma técnica, coisas chave. Fica um cara que é o chefe e outro que é o funcionário. E se faz uso de técnicas para conversar. Existe essa preocupação. Bom, eu tenho essa preocupação de como me relacionar mas aí vai de cada chefe, né? Valorizar o funcionário, fazer tudo certo, tem chefe que não fala nada, tem outro que só cobra ou só dá bronca. Existe sim uma política. Ligia: Se usa a palavra política? Gilberto: Não se usa abertamente essa palavra, mas eu poderia falar “a minha empresa tem uma política de treinar e se preocupar com isso”. A gente chama isso de programa de liderança. São diferentes módulos; um deles é de como despedir pessoas da forma correta, chega até esse nível. A gente aprende isso, é muito legal. È uma coisa que me fascina e que eu não veria se trabalhasse numa agência só de design, que não tem muito dinheiro. Empresas grandes têm mais dinheiro e te proporcionam isso, e a gente vai aprendendo muito, muito. Ligia: A Arcor tem alguma preocupação em manter os profissionais de comunicação atualizados? Gilberto: Isso aí que eu te falei não é só para comunicação, é para todas as áreas. Fora isso, cada área tem uma verba para cursos técnicos. Esse ano eu tive três mil reais para mim, não é muito dinheiro. Eu posso usar isso para os seis funcionários de design gráfico num cursinho aqui, outro ali. A gente fez coisas legais, dá para fazer. Outra coisa é a verba que eles mesmos têm, e disso a gente não sabe, e eles bancam esses programas de líderes, módulos e tal. Isso é o RH que se preocupa. 72 Ligia: Vocês são obrigados a fazer esses módulos? Gilberto: Sim. Somos obrigados. Ligia: Qual o impacto das novas tecnologias na sua equipe? Gilberto:Hoje só se usa computador, não tem mais nada manual. A única coisa manual que eu faço é montar MoCap, o protótipo. Aí vai lá na pranchinha, corta, cola, monta. Mas muita coisa é repetida, só muda o sabor e a gente já tem o expertise, então não precisa fazer sempre o protótipo. O resto é tudo digital. A gente vai sempre se atualizando de acordo com os softwares que têm, as máquinas também. Aqui existe um bom investimento com isso. E os treinamentos que eu te falei. Ligia: Em relação aos programas de liderança, que não deixam de ser uma mudança na política de comunicação da empresa, como isso é colocado para vocês? È a forma mais correta de agir? Por que isso foi feito? Gilberto: Vamos ser realistas, por que esses programas de lideranças vem sendo feitos de dois anos para cá? Porque a empresa vinha tendo muitos problemas com perdas de funcionários, muita coisa errada, é uma empresa machista que age de forma machista na hora de gerenciar, as pessoas querem sempre mudar, a empresa não tem um afama de pagar muito bem...Você tem três maneiras de segurar um funcionário: salário, que é a coisa menos importante, perspectiva de crescimento dentro da empresa e clima interno da empresa. Então, a Arcor tinha problema com essas coisas, tinha muita rotatividade de pessoal, e o Rh percebeu que se eles não fizessem um trabalho aprofundado com isso, estudar os problemas, ensinar as pessoas, a gente faz às vezes reunião gerencial, vai 70 gerentes para um hotel e fica lá, se une. Esse trabalho tem que ser feito para que você consiga motivar as pessoas. Não é que é tudo uma alegria, é que tinha muito problema. Já estão fazendo esse trabalho a dois anos e as pessoas começam a sentir que tem uma melhora. Já clarificou a política de salário, agora todo mundo sabe como é que 73 funciona. Tem uma política salarial, eles contrataram uma empresa de consultoria que passa um método de como promover uma pessoa sem na base do “ah, você é legal, vou te dar um aumento”. São vários trabalhos paralelos para desenvolver as pessoas e fazer com que elas se sintam satisfeitas, não é tão simples assim. A Arcor é uma empresa de tradição familiar, está se profissionalizando agora, e empresa familiar é uma bagunça. Está se tornando uma empresa multinacional e precisa profissionalizar as pessoas. Para isso tem métodos. Ligia: Tem muita resistência por parte dos gestores em relação a esses treinamentos? Gilberto: Não. Na verdade, a maior resistência vem de cima mesmo. È de cima que vem, tem que mudar em cima para mudar em baixo. Eles, que são os donos, o acionistas e tal, que são os mais resistentes. Não é que eles não queiram mudar, se não não contratavam os treinamentos e consultorias, mas a dificuldade é com eles mesmo, que já estão na empresa a 15, 20 anos. Ligia: Quais são as principais funções de uma política de comunicação. Gilberto: A principal delas é reter pessoas. Isso que eu falei do clima. Também clareza, todo mundo quer saber o que está acontecendo. É compromisso, você não consegue fazer a empresa crescer se as pessoas estão descompromissadas. È igual a uma família. Ligia: Você falou que a Arcor está se tornando uma multinacional. Qual a influência da globalização na empresa? Gilberto: Muito. A globalização acontece e cada vez mais a gente vê que os países em que a Arcor tem empresas estão se juntando. E cada vez tem mais diretorias corporativas, aqui tem uma diretoria de RH e tem um chefão de RH que cuida de tudo. Até marketing já começa a ter uma diretoria desse tipo. Já tem essa coisa de globalizar a empresa internamente mesmo, não se pode pensar individualmente. Sem contar para fora, até pouco tempo a Arcor era 74 “Brasil, Brasil. Argentina, Argentina”. Agora isso já mudou. Minha área, por exemplo, faz embalagens para exportação. (...) Gilberto: A gente foi fazer essa publicação sobre a marca “Amoré” e nos demos conta de que não tem nada guardado de imagem, de história, de nada. A gente teve que recorrer a um banco de imagens, pagar caríssimo para ter fotos de anúncios nossos. O cuidado com a memória é um grande problema nas empresas. Ligia: Alguma coisa foi feita a respeito da memória organizacional depois desse episódio? Gilberto: Não é tão simples assim. O cara que descobriu isso é o gerente de biscoitos da Amoré. O cara da Triunfo não teve esse problema. Ligia: Por que ele tem o arquivo? Gilberto: Não, ele não teve esse problema ainda. Não existe esse cuidado. E eu acredito que muitas empresas têm esse problema, porque hoje as empresas são muito mais rotativas, não existe mais aquele funcionário fiel. O cara que está a muito tempo na empresa tem tudo na cabeça, e quando um funcionário vai embora de uma empresa ele está levando toda a memória da empresa junto. Eu estou aqui na Arcor a 11 anos e do escritório inteiro só tem uma pessoa que está aqui a mais tempo do que eu. Se eu for embora a empresa perde um banco de dados. Tem gerente de produto que às vezes vem me perguntas “já foi feito isso? já foi feito aquilo?”, por que não tem nada guardado, né? 75 6.3 Entrevista Schuler – anotações • surgimento de novas culturas e fronteiras no mundo • cultura espalhada, presente em diversos pontos independentemente da localização geográfica • comunicação organizacional=conjunto de relações que regem a organização • contexto e indivíduo o indivíduo é muito importante, pois dele depende em grande parte o contexto • profissional da comunicação-comunicadora • práticas profissionais, processos o diagnóstico organizacional feito a partir de sensibilidade, “radar ligado” • colocar necessidades de comunicação para o cliente o práticas de conhecimento comum são muito simples e consciência a respeito da importância do cuidado com comunicação ainda nao é grande o exemplo da empresa que solicita “teaser”, mas que pode se beneficiar muito mais se a gestão de comunicação for feita de forma mais ampla