UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS - LICENCIATURA ANDRESSA MANFIOLETI VITALI CONSTRUINDO OLHARES, AMPLIANDO REPERTÓRIOS: ENCONTROS E (DES) ENCONTROS DOS ALUNOS DA E.E.B. ABÍLIO CÉSAR BORGES COM AS OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA ARTISTA ROBERTA TASSINARI CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010 ANDRESSA MANFIOLETI VITALI CONSTRUINDO OLHARES, AMPLIANDO REPERTÓRIOS: ENCONTROS E (DES) ENCONTROS DOS ALUNOS DA E.E.B. ABÍLIO CÉSAR BORGES COM AS OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA ARTISTA ROBERTA TASSINARI Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do Grau de Licenciada no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador: Prof. Esp. Marcelo Feldhaus CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010 ANDRESSA MANFIOLETI VITALI CONSTRUINDO OLHARES, AMPLIANDO REPERTÓRIOS: ENCONTROS E (DES) ENCONTROS DOS ALUNOS DA E.E.B. ABÍLIO CÉSAR BORGES COM AS OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA ARTISTA ROBERTA TASSINARI Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Licenciada, no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Educação e Arte. Criciúma, 03 de dezembro de 2010. BANCA EXAMINADORA Prof. Marcelo Feldhaus - Especialista em Ensino da Arte - (UNESC) - Orientador Artista Plástica Roberta Tassinari - Especialista em Expressão Gráfica - (PUCRS) Profª. Helene Gomes Sacco Carbone - Mestre em Poéticas Visuais - (UFGRS) 2 Dedico este trabalho à minha família, Valdenir, Hilda e Rodrigo Vitali, ao meu namorado Juliano Bernardino, às amigas de longa data Aline Fenali, Michele Ronchi e Josiane Scussel e as amizades que conquistei neste caminho, em especial à Cristina Américo, e ao meu professor orientador Marcelo Feldhaus. 3 AGRADECIMENTOS Primeiro agradeço a Deus por ter me concebido a oportunidade de realizar este curso, pois sem a força dele acredito que nada é possível. Agradeço a minha mãe e a meu pai, pela oportunidade oferecida. Assim sendo, essa conquista não é só minha, pois eles partilham dela comigo. Ao meu namorado por todo o carinho, compreensão e paciência. Não poderia deixar de agradecer a Escola de Educação Básica Abílio César Borges onde realizei esta pesquisa e que sempre colaborou com a minha formação. Também agradeço a Fundação Cultural de Criciúma e a artista Roberta Tassinari que sempre foram muito prestativas. Com alegria desejo agradecer aos professores que participaram deste caminho, e em especial ao meu professor orientador Marcelo Feldhaus, por toda a colaboração e paciência, e cujo sempre vou me espelhar em seu trabalho e em sua dedicação durante minha jornada. Agradeço às amizades que conquistei ao longo deste caminho, pelas alegrias e aflições compartilhadas, pois todos os momentos vividos fizeram com que chegássemos até aqui. Lembrando que este mérito não pertence só a mim, mas a todos àqueles, que de alguma forma me ajudaram a alcançar este objetivo. Muito obrigada de coração! 4 “As questões de arte contemporânea são complexas, como é complexo o tempo contemporâneo. Ser contemporâneo é caminhar com o tempo. Supõe o presente, o agora a cada momento. Pode-se viver esse tempo passando influenciando-o, ao sendo largo dele ou influenciado e projetando-o para tempos antes e depois”. Lucia Gouvêa Pimentel (2007) 5 RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo realizar reflexões perante a construção do olhar dos alunos do ensino fundamental e médio, dialogando com a ampliação de repertório a partir da Arte Contemporânea. Apresento como problema de pesquisa: “Como os alunos da Escola de Educação Básica Abílio César Borges olham e fruem as obras de Arte Contemporânea da artista plástica Roberta Tassinari?”. A partir da realização de propostas que contemplaram a visitação, contextualização/reflexão e experimentação da Arte Contemporânea busquei compreender como ocorre a ampliação do conhecimento sensível destes alunos, caracterizando-se em uma pesquisa qualitativa, de campo em espaços de narrativa. Fundamento a pesquisa em autores e documentos que norteiam a educação. Abordo concepções de arte, ensino da arte, construção do olhar e ampliação de repertórios. Estabeleço reflexões sobre a Arte Moderna e Contemporânea enfocando a exposição “Plástica” da artista Roberta Tassinari. Autores como Pillar (2003), Ganzer (2005), Loponte (2008), Pimentel (2007), Leite (2005 e 2008), dentre outros fundamentam as discussões apresentadas. Os sujeitos da pesquisa visitaram a exposição e tiveram contato com a artista propositora. A partir da visita registrei os diálogos, expressões e manifestações dos alunos com os quais apresento reflexões acerca do olhar e da fruição dos mesmos diante das obras. Contudo as narrativas e experiências revelaram um olhar limitado, de estranhamento dos alunos em relação as questões que envolvem a arte na atualidade. Outro fator importante revelado foi que a Arte Contemporânea não está presente nos repertórios dos sujeitos da quarta e oitava série do ensino fundamental e da segunda série do ensino médio. Assim, busco apontar meios para que esse repertório seja ampliado, pois é através dos contatos e das experiências estéticas que criamos conexões com o universo da arte produzindo novos conhecimentos. Palavras-chave: Construção do olhar. Arte Contemporânea. Ampliação de repertório. 6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Obras da artista Roberta Tassinari...........................................................25 Figura 2 – Obra “Croma” ...........................................................................................25 Figura 3 – Mapa de localização do município de Nova Veneza ................................31 Figura 4 – Vista da entrada da E.E.B. Abílio César Borges ......................................33 Figura 5 – Fundação Cultural de Criciúma e sua galeria de arte ..............................34 Figura 6 – Alunos da 4ª série em visita a exposição “plástica”..................................45 Figura 7 – Alunos da 4ª série em conversa com a artista Roberta Tassinari ............48 Figura 8 – Alunos da 4ª série em processo de produção ..........................................49 Figura 9 – Produção 4ª série: grupo 1.......................................................................50 Figura 10 – Produção 4ª série: grupo 2.....................................................................50 Figura 11 – Produção 4ª série: grupo 3.....................................................................51 Figura 12 – Produção 4ª série: grupo 4.....................................................................51 Figura 13 – Produção 4ª série: grupo 5.....................................................................52 Figura 14 – Alunos da 8ª série em visita a exposição “plástica”................................57 Figura 15 – Alunos da 8 ª série em processo de produção .......................................59 Figura 16 – Produção 8ª série: grupo 1.....................................................................60 Figura 17 – Produção 8ª série: grupo 2.....................................................................60 Figura 18 – Produção 8ª série: grupo 3.....................................................................61 Figura 19 – Produção 8ª série: grupo 4.....................................................................61 Figura 20 – Produção 8ª série: grupo 5.....................................................................62 Figura 21 – Alunos da 2ª série do ensino médio em visita a exposição “plástica” e em conversa com a artista Roberta Tassinari .................................................................66 Figura 22 – Alunos da 2ª série do ensino médio em processo de produção.............68 Figura 23 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 1 .........................................68 Figura 24 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 2 .........................................69 Figura 25 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 3 .........................................69 Figura 26 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 4 .........................................70 Figura 27 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 5 .........................................70 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS DNPM – Departamento Nacional de Produção de Mineral EEB – Escola de Educação Básica FCC – Fundação Cultural de Criciúma IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MAJ – Museu de Arte de Joinville PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PCNEM – Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio PPP – Projeto Político Pedagógico SC – Santa Catarina UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina 8 SUMÁRIO 1 O INÍCIO DE UM NOVO OLHAR E SEUS DESDOBRAMENTOS ..........................9 2 A ARTE E SUAS RELAÇÕES COM OS SUJEITOS.............................................12 2.1 Falando sobre Arte: expressão e conhecimento............................................12 2.2 Reflexões sobre o Ensino da Arte no Ensino Fundamental e Médio............13 3 ARTE CONTEMPORÂNEA: CONTEXTOS HISTÓRICOS E PERSPECTIVAS ATUAIS .....................................................................................................................17 3.1 Arte Moderna e Contemporânea: ruptura de paradigmas .............................17 3.1.2 A Arte de Roberta Tassinari e a pintura contemporânea............................22 3.2 Arte Contemporânea na escola: possibilidades no Ensino da Arte .............26 4 OS SUJEITOS, OS ESPAÇOS E A CARACTERIZAÇÃO DE UMA PROPOSTA 31 4.1 Situando o lugar onde vivem os sujeitos........................................................31 4.2 A escola: espaço de formação e constituição................................................32 4.3 A Galeria de Arte Contemporânea da Fundação Cultural de Criciúma e a formação do repertório estético ............................................................................33 4.4 Construindo olhares, ampliando repertórios..................................................36 5 METODOLOGIA: CONSTITUINDO A PESQUISA................................................40 6 APRESENTAÇÃO DAS NARRATIVAS: REFLETINDO SOBRE A REALIDADE 43 6.1 Cena 01: os sujeitos da 4ª série .......................................................................43 6.2 Cena 02: os sujeitos da 8ª série .......................................................................53 6.3 Cena 03: os sujeitos da 2ª série do ensino médio..........................................63 6.4 Além das discussões: uma proposta que dialoga com a pesquisa .............71 7 CENA FINAL: CRUZANDO OLHARES, EXPERIÊNCIAS E ENCONTROS.........72 REFERÊNCIAS.........................................................................................................75 APÊNDICE................................................................................................................79 ANEXO .....................................................................................................................86 9 1 O INÍCIO DE UM NOVO OLHAR E SEUS DESDOBRAMENTOS Ao partimos de um propósito que nos leva ao nosso objeto de pesquisa devemos analisar nossa relação com o mesmo, buscando algo que nele nos inquieta, que nos instiga e que nos faz querer abrir novos horizontes, encontrar e produzir novos conhecimentos. Assim é a minha relação com a Arte Contemporânea, onde no primeiro momento minha atenção se voltou a sua abordagem nas aulas de arte, pois muitas vezes o que presenciamos é a repetição de conteúdos e atividades, onde o aluno acaba por não conhecer e desbravar todo o universo de possibilidades que a arte nos trás. Quando escolhi o curso de Artes Visuais Licenciatura meu interesse exato não era o de me tornar uma docente e sim entrar e fazer parte do mundo da arte e suas possibilidades que sempre me instigou, me fascinou e que sempre procurei estar em contato. Aprendi muitas coisas nesses anos, com cada aula, cada professor, cada vivência, cada amigo que aqui fiz e com cada colega que trilhou comigo este caminho. Minha pesquisa parte da experiência dos estágios, onde busquei trabalhar temas diferenciados com alunos, que possibilitassem à eles ressignificar seu olhar sobre a arte, promovendo uma maior reflexão e consequente discussão sobre o que é arte e quais os meios de produzi-la, vindo então ao encontro da Arte Contemporânea. O primeiro grande desafio foi delimitar o foco da minha pesquisa. Parti da certeza e a vontade de explorar o mundo da arte contemporânea, com suas inúmeras possibilidades e seu amontoado de estranhamentos. Pensei primeiramente nos professores de arte, na ideia de compreender porque mesmo a arte contemporânea sendo tão ligada ao cotidiano é tão difícil de ser explorada em sala de aula, mas esse contexto não me instigou. Assim parti para a questão do olhar, do modo como os alunos vêem a arte contemporânea, e por isso escolhi as turmas de 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 2ª série do ensino médio, sendo estas as últimas séries de cada segmento a possuírem a disciplina de Arte em seu currículo e por acreditar que por meio delas conseguiria atingir olhares com diferentes tipos de repertório. Como acadêmica do Curso de Artes Visuais sempre tive contato com a Fundação Cultural de Criciúma, visitando exposições em sua galeria de arte e 10 participando de seus eventos, foi neste percurso que conheci o trabalho da artista Roberta Tassinari e com o qual me identifiquei perante esta proposta. Sendo assim, proponho como problema para a seguinte investigação: Como os alunos da Escola de Educação Básica Abílio César Borges olham e fruem as obras de Arte Contemporânea da artista plástica Roberta Tassinari? Para buscar entender essa questão, fazem-se necessárias outras indagações que norteiam esta pesquisa: Qual a contribuição da Arte Contemporânea para a ampliação do olhar dos alunos do ensino fundamental e médio? Quais as diferenças existentes na compreensão e fruição da Arte Contemporânea entre os alunos do ensino fundamental e médio? Qual a percepção dos alunos e as impressões causadas em seu repertório artístico depois de entrar em contato, vivenciar e produzir a partir da visita a exposição “Plástica” de Roberta Tassinari? Quais são as possibilidades pouco ou não exploradas pelo professor de arte quanto a abordagem da Arte Contemporânea e dos artistas regionais em suas aulas? Como ocorre a formação do olhar estético dos alunos a partir da visita a uma exposição de arte? Como objetivo geral de pesquisa trago o intuito de compreender como se constrói a formação do olhar dos alunos do ensino fundamental e médio quanto a possibilidade de ampliação do conhecimento sensível em propostas que contemplem a vivência da Arte Contemporânea. Para atingir meu objetivo geral trago outros apontamentos para me auxiliar nessa tarefa e proporcionar que esta pesquisa possa: refletir sobre o olhar dos alunos e dos professores quanto à importância da Arte Contemporânea enquanto conteúdo a ser explorado nas aulas de artes; investigar as contribuições que a Arte Contemporânea proporciona aos alunos que entram em contato com essa manifestação de arte; aprofundar teoricamente questões relacionadas a Arte Contemporânea juntamente com o Ensino da Arte nos diferentes níveis de ensino; promover o contato dos alunos de diferentes níveis de ensino com a Arte Contemporânea através de experiências estéticas e sensíveis a partir da análise e apreciação das obras de Roberta Tassinari e reconhecer de que forma acontece a fruição dos alunos da 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 2ª série do ensino médio perante a Arte Contemporânea. Minha pesquisa se apresenta em uma estrutura dividida em seis capítulos, que se subdividem, buscando discutir e refletir questões que permeiam e dialogam 11 com os questionamentos levantados, tendo à luz autores que dialogam com as mesmas. Desta maneira abordo em meu primeiro capítulo reflexões sobre o conceito de arte e sua relação com a humanidade e com a própria vida, também a relacionando com a educação. Tendo como objetivo compreender como se constrói a formação do olhar dos alunos do ensino fundamental e médio, trago reflexões diretamente ligadas a este dois níveis de ensino. No segundo capítulo contextualizo os desdobramentos da Arte Moderna até a Arte Contemporânea, abordando então a pintura contemporânea e o trabalho da artista Roberta Tassinari, para assim chegar até as questões sobre a importância da presença da Arte Contemporânea nas escolas. No terceiro capítulo abordo os sujeitos e os espaços que fazem parte desta pesquisa. Trago assim breves apontamentos sobre o município de Nova Veneza/SC onde está situada a Escola de Educação Básica Abílio César Borges, bem como informações sobre a mesma e também sobre a Fundação Cultural de Criciúma e sua Galeria de Arte Contemporânea, espaço significativo para a proposta desta pesquisa. E enfatizando posteriormente a construção de olhares e a ampliação de repertórios. No quarto capítulo trago esclarecimentos sobre a metodologia aplicada para a realização desta pesquisa, reafirmando seus propósitos. No quinto capítulo são apresentados os dados da pesquisa referentes às três turmas que participaram desta pesquisa, juntamente com a análise dos mesmos. Onde as divido em três cenas, relatando como aconteceram as propostas e discutindo questões relevantes neste percurso, juntamente com o projeto de extensão que segue em anexo e contribui como possibilidade de ampliação de repertório. Ao final, no sexto capítulo, abordo a última cena onde são cruzados olhares, experiências e encontros, refletindo e dialogando toda esta vivência. Abordarei nessa pesquisa considerações, reflexões, sugestões e possíveis encaminhamentos a partir do estudo e da pesquisa deste trabalho. Porém cabe ressaltar que essa pesquisa não tem como objetivo produzir uma concepção finalizada e sim abrir novos olhares frente à Arte Contemporânea e a construção do olhar. 12 2 A ARTE E SUAS RELAÇÕES COM OS SUJEITOS Este capítulo abordará breves reflexões sobre o conceito de arte, dialogando sobre sua influência em nossas vidas e em nossa formação enquanto sujeitos atuantes na história. Estabeleço diálogos com o campo da educação onde surgem apontamentos sobre o que nos trazem os documentos que refletem o ensino da arte nos segmentos fundamental e médio. 2.1 Falando sobre Arte: expressão e conhecimento A arte é uma maneira particular de o homem ver o mundo e se relacionar com ele. Conforme nos fala Zagonel (2008, p. 30) “a arte e a cultura são um meio de expressão humana, um meio de comunicação importante. O indivíduo expressa, por meio da arte, seus sentimentos, suas angústias, suas alegrias e se sente participativo na sociedade na qual está inserido”. Neste sentido a arte é presença marcante na história e na atualidade, conforme nos relata a mesma autora: “Ela faz parte do ser humano. Não há grupo social conhecido sem manifestações artísticas e culturais. Estas permeiam toda a vida humana e formam a identidade de um povo. Por isso, as artes fazem parte de nossa mais antiga memória” (ZAGONEL, 2008, p. 32). É através da arte que o homem se constrói como sujeito, que produz e é produzido pela cultura. Ela tem a capacidade de dividir e agregar, de construir e desconstruir, e de sobretudo nos fazer pensar sobre nós mesmos e sobre o contexto ao qual fazemos parte. Dialogo, assim, com Coli (1990, p. 111) quando nos coloca a refletir que “a arte constrói, com elementos extraídos do mundo sensível, um outro mundo, fecundo em ambigüidades”. Uma característica marcante da arte é a de poder englobar em um único elemento diversos significados, significados estes que são atribuídos de acordo com cada sujeito, sendo assim o que o artista cria é uma extensão de pensamentos, que não cessam nunca, pois sempre que a arte estiver em contato com diferentes sujeitos, novas conexões serão estabelecidas. Nesta perspectiva “a arte é uma 13 manifestação de um dizer fugidio; traz consigo sempre algo irrepresentável, indizível – mesmo pronta, a obra está sempre em vias de se fazer” (Frayze-Pereira, 2004 apud Leite 2008). Também comungo com Coli (1990, p. 80) quando nos coloca que: As artes não são imutáveis. Lembremo-nos antes que elas se modificam incessantemente: é o preço que pagamos por esse “para nós”, que as dispõe sempre ao nosso alcance. Contudo, elas se vingam. O quadro, o concerto, o filme nos pregam peças, através de metamorfoses lentas, mas insidiosas e seguras. E não é tudo. Elas vão mais longe, e nos provocam, nos desafiam, nos iludem. Enquanto forma privilegiada dos processos de representação humana, a arte é instrumento essencial para o desenvolvimento da consciência, pois propicia ao homem contato consigo mesmo e com o universo. Por isso, a arte é uma forma de o homem entender o contexto ao seu redor e relacionar-se com ele. Conforme nos fala Coli (1990, p. 112-113): A arte propõe uma viagem de rumo imprevisto — da qual não sabemos as conseqüências. Porém, empreendendo-a, o que conta não é a chegada, é a evasão. Buscamos a arte pelo prazer que ela nos causa. [...] Transformando nossa sensibilidade, elas transformam também nossa relação com o mundo. Por ser parte integrante de nossas vidas, agente de cultura e de desenvolvimento é que a arte está também presente nas escolas e tem papel fundamental em nossa educação. Gardner (1999, p. 87) em seus estudos nos mostra que “a arte, enquanto linguagem, interpretação e representação do mundo”, é parte integrante de nosso processo de aprendizagem. Sendo assim cabe a nós refletirmos sobre o ensino de arte que estamos oferecendo aos nossos educandos. 2.2 Reflexões sobre o Ensino da Arte no Ensino Fundamental e Médio Pensando sobre a importância do ensino da arte me focarei neste texto nos níveis de educação direcionados ao ensino fundamental e médio, aos quais pertencem os sujeitos desta pesquisa. Nesta perspectiva buscarei refletir e compreender quais são as orientações e sugestões dadas para a área de Arte nos documentos oficiais para estes segmentos. 14 Direcionados ao ensino fundamental foram publicados em 1997 os PCN na área de Arte, sendo dividido em duas partes conforme nos aponta Zagonel (2008, p. 62): A primeira trata do ensino da Arte de maneira geral. Nela é feita uma caracterização dessa área e são mostrados os objetivos e os conteúdos de Arte no ensino fundamental; a segunda aborda, em separado, cada uma das linguagens artísticas sugeridas: artes visuais, teatro, música e dança, além de fornecer orientações didáticas e trazer critérios para as avaliações em Arte. Nesse documento a arte é vista sob dois aspectos: como meio de expressão e como forma de conhecimento. Sendo propostas as quatro linguagens artísticas acima, o PCN deixa claro que a escola não tem obrigação de trabalhar todas de forma simultânea, porém diz que “é desejável que o aluno, ao longo da escolaridade, tenha oportunidade de vivenciar o maior número de formas de arte; entretanto, isso precisa ocorrer de modo que cada modalidade artística possa ser desenvolvida e aprofundada” (BRASIL, 1998, p. 36). Desta forma é a escola quem define o que fará parte de seu currículo, de acordo com suas necessidades e interesses. Comungo da ideia que a escola deve buscar trabalhar um currículo de arte que contemple a diversidade, buscando proporcionar o contato com os mais variados meios de expressão, oportunizando que o aluno tenha experiências variadas e significativas para sua formação humana. Também deve buscar explorar seu contexto, trabalhando com a arte local, e então proporcionando a ampliação e a construção de um repertório baseado no fazer e na reflexão permanente, pois conforme Pillotto (2008, p. 37) “o aprendizado se constitui em real significado quando delegamos esforços na construção reflexiva do conhecimento”. A partir disso o PCN (1998) aponta para cada linguagem sugestões de abordagens, sendo para Artes Visuais: expressão e comunicação na prática dos alunos em artes visuais; as artes visuais como objeto de apreciação significativa; as artes visuais como produto cultural e histórico. Para a Dança: a dança na expressão e na comunicação humana; a dança como manifestação coletiva; e a dança como produto cultural e apreciação estética. Para a Música: comunicação e expressão em música: interpretação, improvisação e composição; apreciação significativa em música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical; e a música como produto cultural e histórico: música e sons do mundo. E para o Teatro: como 15 expressão e comunicação; o teatro como produção coletiva; e o teatro como produto cultural e apreciação estética. Nesta perspectiva Pillotto (2008, p. 44) nos coloca que: “[...] compreendemos as atividades pedagógicas nas linguagens da arte articuladas ao lúdico, ao jogo e ao brincar, pois possibilitam às crianças a construção do conhecimento no aspecto cognitivo e sensível, essencial ao desenvolvimento humano”. E ainda, dá enfoque a imaginação quando afirma que: [...] É a imaginação a responsável direta pela construção da cultura humana, sem a qual não haveria um meio ambiente ao qual pudéssemos nos adaptar. Nada que constatemos ao nosso redor, excetuando os recursos da natureza, foi construído em outro lugar que não na nossa imaginação. (PILLOTTO, 2008, p. 44) Para o ensino médio as primeiras orientações mais sólidas foram divulgadas em 1999, com a edição dos PCNEM, onde são apresentadas as diretrizes gerais sobre o funcionamento do novo ensino médio. Segundo Zagonel (2008, p. 66): “o documento mostra a necessidade de mudar os modelos metodológicos existentes, propondo uma nova concepção curricular para o ensino médio”, já que de acordo com o PCNEM (BRASIL, 2000, p. 11): “deve expressar a contemporaneidade e, considerando a rapidez com que ocorrem as mudanças na área do conhecimento e da produção, ter a ousadia de se mostrar prospectiva”. Segundo este documento agora o ensino visa a formação geral do jovem, buscando “o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular” (BRASIL, 2000, p. 5). Bem como busca desenvolver no indivíduo competências para realizar atividades “nos três domínios da ação humana: a vida em sociedade, a atividade produtiva e a experiência subjetiva” (BRASIL, 2000, p. 15). Este mesmo documento propõe a interdisciplinaridade como meio para a articulação de conteúdos, considerando que, o desenvolvimento pessoal acontece através dos componentes científicos, tecnológicos, socioculturais e de linguagens. Dessa forma estabelece três grandes áreas para a divisão do currículo: linguagens, códigos e suas tecnologias; ciências da natureza, matemática e suas tecnologias; e ciências humanas e suas tecnologias. Contudo, vale destacar que o fundamental para a qualidade da educação de forma geral é compreendermos que: [...] A construção do conhecimento só tem sentido mais amplo quando socializado, compartilhado com as pessoas. Para tanto, é imprescindível 16 que as nossas práticas pedagógicas estejam fundamentadas em ações flexíveis, democráticas e principalmente comprometidas, considerando cada aluno como um ser único num universo de muitas diferenças. (PILLOTTO, 2008, p. 40) A educação que valoriza o sujeito como atuante na história, e que está em constante evolução, consegue perceber o que aborda Pillotto (2008, p. 45): Ter clareza de que no ensino fundamental e médio os alunos continuam construindo conhecimentos e protagonizando histórias individuais e coletivas é básico para que consigamos juntos significar a arte e a experiência em arte. Tão importante quanto os conhecimentos sobre arte, as informações históricas, as produções e experiências artísticas é construir sentido naquilo que realizamos e que lemos sobre o universo e sobre nós mesmos. Em 2000, como complemento ao PCNEM foi publicado o PCN + Ensino Médio, que aborda separadamente cada uma das áreas de conhecimento dos currículos, sendo que o ensino da Arte está inserido na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Zagonel (2008) nos fala sobre esse documento, onde deixa claro que: “as modalidades artísticas podem ser consideradas separadamente ou articuladas entre si” (BRASIL, 2000, p. 178), considerando as seguintes linguagens: arte visuais, artes audiovisuais, música, teatro e dança. Os conteúdos a serem trabalhados não estão relacionados, porém diz que devem “estar em consonância com o projeto políticopedagógico da escola, deverá preservar os temas que alicerçam a área: história da arte, arte e cultura, arte e organizações político-sociais” (BRASIL, 2000, p. 193). Desta forma o ensino da Arte seguindo o que diz os PCNEM deve desenvolver três eixos de competências e habilidades que precisam ser inseridas em projetos interdisciplinares, onde as artes se articulam com outras disciplinas e não entre as diferentes modalidades artísticas. Sendo os eixos: representação e comunicação; investigação e compreensão; e contextualização sociocultural. Estes documentos existem para serem estudados e então nortear a educação como um todo e em especial o ensino da Arte. Porém, deve ser levada em conta a realidade de cada escola, o contexto onde estão inseridos os alunos, onde haja meios de possibilitar “a ampliação desses repertórios, possibilitando aos alunos criar, compreender, imaginar e ressignificar” (PILLOTTO, 2008, p. 50), e para que assim possamos fornecer um conhecimento de qualidade e significativo a cada sujeito. 17 3 ARTE CONTEMPORÂNEA: CONTEXTOS HISTÓRICOS E PERSPECTIVAS ATUAIS A Arte Contemporânea abre para uma experiência de muitas interrogações, de muitas inquietações e estranhamento. Koneski (2008, p.19) Os conceitos de Arte Contemporânea foram construídos historicamente, passando por diversos momentos relevantes até chegarmos a atualidade. Estes momentos são divididos em períodos, que neste estudo estão pautados em uma linearidade européia. Porém neste capítulo centrarei as discussões a partir da arte moderna e contemporânea, cujas dialogam diretamente com o contexto estabelecido nesta pesquisa1. Neste contexto, posteriormente abordo a pintura contemporânea e o trabalho da artista Roberta Tassinari, juntamente com reflexões sobre a presença da Arte Contemporânea na escola, e diretamente no ensino da Arte. 3.1 Arte Moderna e Contemporânea: ruptura de paradigmas Uma das primeiras referências da existência humana na Terra aparece nas imagens desenhadas nas cavernas, que hoje chamamos de imagens artísticas ou expressões de arte. Neste sentido, podemos dizer que a arte está presente no mundo desde que o homem se percebe nele. A arte, portanto, se faz presente, desde as primeiras manifestações de que se tem conhecimento como linguagem, produto da relação homem e mundo. Aqui também devemos incluir os objetos criados neste período, pois de acordo com Santos (2002, p. 7): “[...] O homem cria objetos não apenas para se servir utilitariamente deles, mas também para expressar seus sentimentos diante da vida e, mais ainda, para expressar sua visão do momento histórico em que vive“. 1 Estudos mais aprofundados sobre os diferentes movimentos que compõem a história da arte podemos encontrar em autores como Janson e Janson (1996), Santos (2002), Strickland (1999), entre outros. 18 Estudando e entendendo as transformações da arte percebemos que essas manifestações mudam ao longo do tempo. “Toda obra de arte é filha do seu tempo”, diz Kandinsky (1990, p. 27), “[...] e muitas vezes, mãe de nossos sentimentos. Cada época de uma civilização cria uma arte que lhe é própria e que jamais se verá renascer [...]”. Através de todas as mudanças ocorridas na arte chegamos até a Arte Moderna, onde há uma nova abordagem da arte em um momento no qual não mais era importante que ela representasse literalmente um assunto ou objeto, seja por meio de pinturas ou esculturas. Uma grande responsável por essa mudança foi a fotografia, que fez com que os artistas pudessem repensar sua arte e então abrir novos caminhos, descobrindo novos meios para trabalharem, onde uma dessas primeiras manifestações culminou no Impressionismo. A Arte Moderna objetivou romper com os padrões antigos, os artistas modernos buscam constantemente novas formas de expressão e, para isto, utilizam recursos como cores vivas, figuras deformadas, cubos e cenas sem lógica. O marco inicial do movimento modernista brasileiro foi a realização da Semana de Arte Moderna de 1922, onde diversos artistas plásticos e escritores apresentaram ao público uma nova forma de expressão (FAVARETTO, 1999). Este movimento buscou a valorização dos elementos da cultura local e regional. Não foi fácil para estes artistas serem aceitos pela crítica que já estava acostumada com padrões estéticos bem definidos, mas, aos poucos, suas exposições foram aumentando e o público passou a aceitar e entender as obras modernistas. Muitos consideram que a verdadeira arte, segundo Favaretto (1999), está presente nas obras primas que se encontram nos museus, por acreditarem que elas é que possuem a real beleza, que se busca numa obra de arte segundo este pensamento, contudo, a beleza depende do conceito que estabelecemos para ela. “A arte é história e é social. O gosto não é eterno, é histórico”, nos diz Favaretto (1999). Assim observamos que a sociedade muda seu gosto ao longo do tempo, influenciada por acontecimentos, mudanças e tendências. Um exemplo é a pintura tradição, onde os artistas pintavam de um mesmo modo, num mesmo suporte, obedecendo ao academicismo. As variadas dimensões não eram exploradas, as pinturas eram geralmente planas, ocorrendo uma 19 transformação somente no séc. XX. Assim a Arte Acadêmica foi perdendo seu espaço e surgiu a Arte Contemporânea repleta de inovações. A pintura passa a ser um objeto. Nos anos 60 houve um conjunto de transformações onde as obras de artes abandonam esse significado de obra para o objeto. Assim inúmeras coisas se transformaram em objetos de arte, onde o artista se torna um propositor de situações, onde é o público que compõe a obra (FAVARETTO, 1999). “A arte é simbólica, um simbolismo de vida”, contempla Favaretto (1999). Nela se expressa o cotidiano, as experiências, onde o ver e o sentir são as principais ferramentas de apreciação. O conceito de arte de cada pessoa varia, juntamente com a figura do artista. Pois se leva em conta o modo da arte se apresentar socialmente e assim adquirir seu significado. Nos mais variados autores pesquisados é difícil encontrar o momento preciso em que se dá início a Arte Contemporânea, segundo Cauquelin (2005, p. 127): O que encontramos atualmente no domínio da arte seria muito mais uma mistura de diversos elementos; os valores da arte moderna e os da arte que nós chamamos de contemporânea, sem estarem em conflito aberto, estão lado a lado, trocam suas fórmulas, constituindo então dispositivos complexos, instáveis, maleáveis, sempre em transformação. Quando se fala em Arte Contemporânea não é para designar tudo o que é produzido no momento, e sim aquilo que nos propõe um pensamento sobre a própria arte ou uma análise crítica da prática visual. Como dispositivo de pensamento, a arte interroga e atribui novos significados ao se apropriar de imagens e objetos, não só que fazem parte da história da arte, mas também que habitam o cotidiano. Pimentel (2007, p. 291) diz que: “o belo contemporâneo não busca mais o novo, nem o espanto, como as vanguardas da primeira metade deste século, [...] propõe o estranhamento ou o questionamento da linguagem e sua leitura”. Na Arte Contemporânea estão inseridas manifestações como a instalação, a performance, a vídeo art, entre outras que causam o estranhamento das pessoas, pois “a arte contemporânea é mal apreendida pelo público, que se perde em meio aos diferentes tipos de atividade artística mas é, contudo incitado a considerá-la um elemento indispensável à sua integração na sociedade atual” (CAUQUELIN, 2005, p. 161). 20 Desta maneira a Arte Contemporânea se caracteriza pelo hibridismo2, sendo composta por elementos de diferentes naturezas, mas que se juntam para formar e trazer novas concepções. O artista tem um novo papel diante da arte, onde nos aspectos da produção contemporânea o fazer (manual) deu lugar à invenção e à ideia, e “tudo o que aparece como unitário é fruto de um processo exteriorizado de montagem ou edição” conforme aborda Cocchiarale (2006, p. 20). O mesmo autor ainda nos fala que “se é a invenção ou a ideia que qualifica a autoria (coisa mental) o artista não mais precisa, necessariamente, fazer sua obra com as mãos. Essa é uma possibilidade conquistada desde a apropriação duchampiana [...]” (COCCHIARALE, 2006, p. 32). Por ser assim tão abrangente é que a Arte Contemporânea se faz tão incompreendida. Não há uma obra pronta para simples apreciação e sim um objeto repleto de questionamentos e significados. O artista não busca agradar o público, mas busca um novo olhar, que acaba por compor sua obra. Cocchiarale (2006, p. 14-16) reflete: O artista contemporâneo nos convoca para um jogo onde as regras não são lineares, mas desdobradas em redes e relações possíveis ou não de serem estabelecidas. [...] A arte contemporânea busca uma interface com quase todas as outras artes e, mais, com a própria vida, tornando-se uma coisa espraiada e contaminada por temas que não são da própria arte. Se a arte contemporânea dá medo é por ser abrangente demais e muito próxima da vida. É essa relação com a vida que faz da Arte Contemporânea “a arte de nosso tempo”, segundo Koneski (2008, p. 21). E a nossa vida é atualidade, é o mundo repleto de informações. Dessa forma nosso modo de ver a arte deve estar de acordo também com o nosso tempo. Maddalozzo e Amorim3 refletem sobre essa questão: Mas a que fruição se propõe a arte contemporânea? Certamente não corresponde ao prazer harmônico definido historicamente. Critérios como belo, agradável, correto e harmonioso já não se mostram suficientes para a apreciação da arte de hoje. Tais conceitos foram formulados e estabelecidos a cada civilização em seu determinado espaço-tempo. Diferentes sociedades criaram padrões estéticos distintos, diferentes em 2 Hibridismo segundo Cocchiarelle (2006) é a conexão de diversos elementos que constituem a rede da contemporaneidade. 3 Artigo retirado da internet: http://www.ufsm.br/lav/noticias1_arquivos/arte_contemporanea.pdf. Acesso em 13/09/2010. 21 cada momento, e que foram apreciados ou não, pelo público a que se destinavam. Cocchiarale (2006, p. 14) também dialoga sobre o assunto: O problema é que as pessoas usam um único verbo: entender. Entender significa reduzir uma obra à esfera inteligível. Nunca se ouve alguém dizer: eu não consegui sentir esta obra. Como as pessoas têm medo de sentir, elas entendem, reduzem sua relação ao ato inteligível e, por isso, esperam pelo socorro do suposto farol da opinião do dito especialista em arte. O que falta para as pessoas é um olhar mais sensível diante da Arte Contemporânea, pois como a arte do passado contou a história de diferentes sociedades, ela também está contanto a de nossa sociedade atual. Sendo que a própria arte mudou, de acordo com as prioridades de cada tempo, também deve-se mudar o que se espera da arte hoje, se faz necessária a construção de novos olhares. Maddalozzo e Amorim dialogam com este pensamento afirmando que: Certamente só podemos apreciar a arte contemporânea se desenvolvermos critérios de apreciação contemporâneos. Não podemos nos postar diante de uma obra contemporânea munidos de antigas expectativas, esperando encontrar ali o protótipo do belo universal. Tal conceito se mostrou suficientemente mutante ao longo da história para que pudéssemos supor conservá-lo em uma única e estanque fórmula ainda hoje. Na Arte Contemporânea não podemos esperar uma obra pronta, com uma finalidade, pois a própria arte não é feita disso, ela é marcada pelo inusitado, inconstante, pela mudança, pelo irreal e ao mesmo tempo pela realidade. Desta maneira a obra contemporânea não nos deixa uma mensagem fixa, já incorporada a ela, nem também igual aos seus expectadores, o que nos deixa são mensagens subliminares, que serão agregadas ao nosso eu, e que de certa forma são capazes de nos mudar, nem que seja um pouquinho, por dentro. Acredito que é isto que compõe a arte, a capacidade de nos sensibilizar, onde não seja necessária a razão. Koneski (2008, p. 33) nos diz que: “a fecundidade da obra está, portanto, no que nos assusta, no que nos constrange e aprofunda nossa existência, não porque nos dá soluções para essa existência, mas porque nos expõe à solidão do Infinito”. E a mesma autora nos coloca a refletir: A questão que se coloca está em fazermos um esforço e repensarmos o nosso modo de nos relacionar com a arte, e isso implica uma série de 22 questões: repensar nosso hábito de buscar sempre a “luz”, o esclarecimento em forma de interpretação e verdade, e pensar que a “luz” resolve qualquer problema de comunicação. Trata-se de fazer uma inversão e passar a acreditar que no “murmúrio” do que não se esclarece há uma forma de dizer que se realiza de outro modo que ser. (KONESKI, 2008, p. 32) Onde antes cabia a tinta, a tela e o cavalete, e a parede era o local mais comum de exposição da obra, hoje há um infinito de possibilidades. O artista contemporâneo se apropria dos mais variados elementos e reconstrói o espaço. Tassinari (2001, p. 143) “há um duplo movimento de inclusão e exclusão do espectador diante de uma obra contemporânea. O motivo para tal reside no fato de uma obra contemporânea nunca se destacar inteiramente do espaço e do mundo em comum”. A Arte Contemporânea de uma forma intrigante consegue agregar artista, objeto, espaço e público, despertando novas sensações, nos levando à diferentes mundos e ao mesmo tempo ao nosso próprio mundo. Porém, para que este caminho seja percorrido é necessário estarmos abertos para novas experiências, a fim de adentramos na Arte Contemporânea, nessa arte tão nossa e ao mesmo tempo tão distante de nós. 3.1.2 A Arte de Roberta Tassinari e a pintura contemporânea A artista Roberta Tassinari é nascida em Florianópolis, graduada em Publicidade e Propaganda pela UNISUL-SC e se dedica à pesquisa no programa de pós-graduação em artes visuais na UDESC. Sua exposição “Plástica” realizada da galeria de arte da Fundação Cultural de Criciúma pretendeu abordar questões referentes ao universo da pintura, tais como cor, transparência, camadas, planos e linhas. Porém, não de um modo tradicional, e sim uma pintura que se desprende de seu suporte e seus materiais, se apropriando de objetos, que passam a servir como elementos formais, e perdem suas funções iniciais. Um copo passa ser apenas um elemento volumétrico, próximo a um cone, uma mangueira passa a ser vista como 23 linha, bóias como círculos volumétricos e assim por diante. Cherem (2010)4, crítica de arte, nos fala sobre a arte de Roberta: Trocando a pintura de cavalete e a arte retiniana pelas sutilezas do conceito, a abordagem de Roberta Tassinari escapa da moldura e da própria superfície biplanar, mas faz persistir inquietações pictóricas, desdobradas tanto em termos de poética como de fatura, ou seja, tanto no que diz respeito às noções operatórias, como procedimentos formais e técnicos. Pelo fato de que há em seus objetos e intervenções um pensamento pictórico forma-se assim seu gesto artístico. Desta maneira a distância entre a concepção e à materialização do pensamento artístico, tornou-se parte da questão que tomou para encarar e dar consistência através de seus trabalhos, segundo Cherem (2010). Em suas obras, Roberta leva em conta as características relacionadas ao local onde serão expostas, pois ele se torna determinante para o tipo de pintura que irá surgir. Se formam camadas que se sobrepõem à outras, criando, assim, profundidades diferentes. Através da sobreposição dos objetos na parede branca, é possível visualizar uma certa transparência. Roberta nos coloca que: “esta sobreposição de cores forma tonalidades diferentes muito sutis, e pela sobreposição da matéria, cria outras cores”. Lindote (2010), no texto para a exposição coletiva “Plano e Espaço” no MAJ (Museu de Arte de Joinville), capta a essência dos seus trabalhos: Roberta Tassinari faz a cor inchar, dobrar e redobrar através das estruturas surgidas pela junção de elementos encontrados. Esses elementos, ao se esvaziarem de funções prévias, constituem planos de cor onde o ar mantém em suspensão as veladuras dessas pinturas espacializadas. Os elementos de suas obras saem de dentro da estrutura que as envolvia e ganham o espaço. Roberta também nos fala que: “Situações cromáticas diferentes são dadas ao público, na medida em que este observa o trabalho. Diferentes densidades de transparências são apresentadas. Há trabalhos com uma cor predominante em um determinado tom, e há pequenas variações desta mesma cor”. Os planos da pintura se sobrepõem, através das camadas de objetos. 4 A crítica de arte escreveu um texto especialmente para a exposição “Plástica” de Roberta Tassinari (2010). 24 A artista em release para a impressa fala sobre sua exposição: “Entre os cinco trabalhos apresentados na exposição “plástica” três foram inéditos. Os trabalhos são monocromáticos e criam campos de cor, que oferecem ao espectador pequenas nuances cromáticas, além das veladuras5 que se criam através da sobreposição destes objetos translúcidos, originando assim, outras tonalidades”. Na galeria foram expostos trabalhos que nos remetem à questões relativas à cor e à forma da matéria pictórica, sendo todos eles sem título. Na obra composta por elementos esverdeados surgem composições translúcidas, obtidas com uma bóia vazia e que funciona como sacola, onde se inserem objetos feitos de plástico, acetato e papéis. Surgem planos de cor e veladuras, alterando formas e cores através de novos encontros e combinações. O trabalho composto por elementos em tons de azul é uma combinação de plástico, acetato, fio de metal encapado com plástico e mede 40 x 50cm. O trabalho formado pelos tons de amarelo nasce da combinação entre plástico, acetato, celofane, adesivo vinil e mede 120 x 250cm. O outro composto por tonalidades de roxo se forma a partir de utensílios de plástico transparentes de formas variadas. Sendo que em todos estes trabalhos nos são apresentadas diferentes densidades de transparências, cada cor predominante possibilita variações tonais, segundo Cherem (2010). 5 Veladuras de acordo com o explicado pela artista Roberta Tassinari são camadas de tintas que se sobrepõem, de forma que se transparente a camada inferior, assim a cor que obtemos é o resultado da mistura da cor inferior mais o da veladura. 25 Figura 1 – Obras da artista Roberta Tassinari Fonte: Arquivo imagético da Fundação Cultura de Criciúma Além do espaço da galeria, foi ocupado também o laboratório, com um trabalho chamado “Croma”, que se trata de uma intervenção que incorpora o lugar como obra. Sobre este trabalho Roberta nos fala que: “A obra é composta por elementos coloridos, bóias infláveis translúcidas com dimensões variáveis, da mesma cor, mas com tonalidades diferentes, unidas e penduradas por fios de nylon. Estes bóias perdem sua função inicial, assim como todos os objetos utilizados nos demais trabalhos, e passam a funcionar como círculos volumétricos cromáticos de cor intensa, e assim expandem a cor para todo o ambiente buscando diferentes matizes de cor, através de um jogo entre as incidências de luz e a sobreposição de camadas, fazendo com que estes objetos cor-de-rosa, conforme a posição, tornemse laranja ou lilás, ou ainda, façam surgir um verde refletido na parede branca”. Figura 2 – Obra “Croma” Fonte: Arquivo imagético da Fundação Cultura de Criciúma 26 A artista ainda nos coloca que: “Além da composição de tons através das transparências, as veladuras que se formam entre os círculos cromáticos e a saturação da cor em determinadas áreas, entre outros aspectos, podem ser percebidas diferentemente quando o observador se posiciona a uma certa distância da obra. Este trabalho foi realizado também no Museu Histórico de Santa Catarina, em Florianópolis, mas a cada vez que é realizado, é um novo trabalho, pois suas configurações se alteram conforme o local que será exposto, assim como a luminosidade do local, a coloração do ambiente, entre outros fatores”. Cherem (2010) reflete sobre a arte de Roberta nos fazendo pensar: Embora esteja avançando e amadurecendo em seu pensamento plástico, o que esta jovem artista permite alcançar é também um paradoxo. [...] Ao perseguir suas inquietações plásticas [...] Roberta Tassinari faz voltar na arte contemporânea os mais longínquos problemas da pintura: do que é feita a luz e a cor? Quais são as formas pictóricas e do que elas podem ser feitas? O que uma pintura pode nos fazer ver, o que ela ilumina e até onde ela pode nos lançar? Diante de todas estas questões contemporâneas que o trabalho realizado pela artista é composto, e também do interesse e estimulo para esta pesquisa que ele me proporcionou, busquei perceber e compreender a construção do olhar dos alunos perante ele, enfocando assim a Arte Contemporânea. 3.2 Arte Contemporânea na escola: possibilidades no Ensino da Arte Acreditando que o professor é um agente formador e que a arte tem papel fundamental no desenvolvimento dos alunos de todas as idades, pois envolve os aspectos de aprendizagem, sensibilidade e cultura, pretendo neste texto esclarecer a relevância da Arte Contemporânea estar inserida na educação dos alunos nos mais variados níveis da educação. Assim cabe refletir o porquê da própria arte estar presente na educação, diante disso concordo com Almeida (2001, p. 15) quando ela nos fala que: No meu entender, o motivo mais importante para incluirmos as artes no currículo da educação básica é que elas são parte do patrimônio cultural da humanidade, e uma das principais funções da escola é preservar esse patrimônio e dá-lo a conhecer. As artes são produções culturais que 27 precisam ser conhecidas e compreendidas pelos alunos, já que é nas culturas que nos constituímos como sujeitos humanos. Considerando que o aluno é portador de sua cultura própria, o professor de artes tem um grande desafio ao tentar inserir a arte em seu contexto, ao fazê-lo refletir e atribuir novos significados ao que ela representa em sua educação. O professor, considerando a realidade de seu aluno, deve realizar essa mediação entre o mundo das artes e o cotidiano do aluno, estimulando o seu interesse e proporcionando meios para que ele possa se inserir no contexto da arte, realizando uma junção com a sua cultura e a sua educação artística. O que presenciamos na maioria das vezes nas aulas de arte é o que nos relatam Nardin e Ferraro (2001, p. 183): Pelo que pudemos observar, a seleção das obras e dos artistas a serem trabalhados em sala de aula geralmente recai sobre os mestres do Renascimento e de um salto, pula para o final do século XIX, quando são reiniciados os estudos com o movimento do Impressionismo, as vanguardas históricas e a semana de 22. Já a arte contemporânea raramente marca presença no currículo escolar, com exceção, é claro, da época que coincide com as Bienais de Arte de São Paulo. No processo de docência devemos buscar a construção do olhar dos alunos, pois, pela grande quantidade de informação atualmente recebida por eles, muitas imagens são “lançadas”, porém não são apropriadas. Devemos estimular nossos alunos a aprenderem a pensar, pois essa articulação entre o cotidiano e o conhecimento coletivo produzido historicamente pelo homem torna-se emergente no trabalho artístico. Realizando um trabalho que incentive e valorize a cultura de cada um, proporcionando uma interação entre a arte e a atualidade, onde nesta nova era tecnológica o movimento gestual dos artistas é substituído por diferentes materiais, suportes e infinitas possibilidades, devemos provocar nos alunos a construção de novos olhares e repertórios em relação as possibilidades oferecidas pela arte. Neste sentido concordo com Correia e Matté (2005, p. 208): O futuro docente de Artes Visuais deverá receber, em sua formação inicial, embasamento necessário para elaborar sua arte bem como proporcionar aos seus futuros alunos toda a informação necessária ao novo momento histórico que vivemos. 28 O impacto das novas tecnologias sobre nossa geração e consequentemente dos grupos que freqüentam as escolas, descentralizam os saberes tradicionais do professor e dos currículos escolares, ampliando o repertório cultural do sujeito. Desta forma, o contato com a Arte Contemporânea dentro da sala de aula propiciará aos alunos uma maior integração com a atualidade, através do qual obterão a compreensão do mundo atual. Desta forma dialogo com o que nos propõem Nardin e Ferraro (2001, p. 212): [...] Uma das questões mais interessantes da produção contemporânea, é justamente a ligação que mantém com a vida, com o cotidiano, com a cultura de massa. É daí que podemos estabelecer vários pontos de ligação entre o universo cultural dos alunos e as obras da atualidade. Buscando uma educação em arte de qualidade o professor deve realizar uma conexão do ensino da arte com a vida, propiciando aos alunos vivências significativas e efetivas na construção do conhecimento sensível. Sendo assim, a Arte Contemporânea é muito influente nessa construção. Nardin e Ferraro (2001, p. 184) nos afirmam que: Se continuar a ser negligenciadas pela escola, a arte contemporânea permanecerá acessível a apenas um número restrito de pessoas, um grupo privilegiado que se sobrepõe à grande massa de espectadores impossibilitada de compreender essa tendência artística. Diante da importância da imagem no mundo atual, tornou-se necessário para a contemporaneidade insinuar uma crítica da imagem. Onde o artista contemporâneo reprocessa linguagens aprofundando a sua pesquisa e sua poética. Ele tem à sua disposição como instrumento de trabalho, um conjunto de imagens. A arte passou a ocupar o espaço da invenção e da crítica de si mesmo. Concordo com Pimentel (2007, p. 292) quando ela nos aponta que: As questões de arte contemporânea são complexas, como é complexo o tempo contemporâneo. Ser contemporâneo é caminhar com o tempo. Supõe o presente, o agora a cada momento. Pode-se viver esse tempo passando ao largo dele ou influenciando-o, sendo influenciado e projetando-o para tempos antes e depois. As novas tecnologias para a Arte Contemporânea não significam o fim, mas um meio à disposição da liberdade do artista, que se somam às técnicas e aos 29 suportes tradicionais, para questionar o próprio visível, alterar a percepção, propôr um enigma, e não mais uma “visão pronta do mundo”. Corforme Pimentel (2007), o trabalho do artista passa a exigir também do espectador uma determinada atenção, um olhar que pensa. Um vídeo, uma performance ou uma instalação não é mais contemporâneo do que uma litogravura ou uma pintura. A atualidade da arte é colocada em outra perspectiva. O que vai determinar a contemporaneidade é a qualidade da linguagem, o uso preciso do meio para expressar uma ideia, onde pesa experiência e informação. Não é simplesmente o manuseio do pincel ou do computador que vai qualificar a atualidade de uma obra de arte. Cabe aos professores refletir sobre as mudanças dos materiais na arte, conforme destacam Nardin e Ferraro (2001, p. 183-184): Em substituição ao óleo, ao bronze e a outros materiais artísticos tradicionais, usam-se lama, asfalto, areia, plástico, papelão, néon, cinza, banha, cera, tule, palha, sementes, fogo, água, parafina, fotografia, rótulos de embalagens, vídeo, holografia, xérox, programas gráficos, objetos préfabricados, obras-primas, símbolos da cultura e o próprio corpo como meio de expressão artística. Ao extrair diretamente do cotidiano muitos dos elementos necessários para empreender sua poética visual, os artistas contemporâneos acabam, por assim dizer, contribuindo para dificultar o processo de distinção entre o fato artístico e os outros produtos da cultura humana e da própria natureza. Diante da tecnologia, a arte reconhece os novos instrumentos de experimentar a linguagem, mas os instrumentos e suportes tradicionais estão sempre nos surpreendendo, ao inventarem imagens que atraem o pensamento e o sentimento. Há uma pluralidade de estilos, de linguagens, contraditórios e independentes, convivendo em paralelo, porque a Arte Contemporânea não é o lugar da afirmação de verdades absolutas. Conforme Pimentel (2007, p. 293): O conhecimento da produção humana do tempo passado deve estar comprometido com a produção de um ensino contemporâneo, que leve em conta as manifestações da arte que estamos vivendo, do cotidiano social/ cultural/ individual de quem ensina/aprende. Loponte (2008) nos interroga sobre a necessidade que as pessoas têm de explicar tudo e também a arte, buscando sempre uma “verdade”. O que acaba por fazer com que as imagens na Arte Contemporânea nos pareçam estranhas e desconcertantes, pois não se remetem a nenhuma referência do nosso “arquivo de verdades” já tão conhecido. A autora também aborda a questão da ampliação de 30 repertórios na Arte Contemporânea, onde “a aproximação com o mundo das artes visuais, e em especial com a Arte Contemporânea, pode ampliar os modos de ver a arte, as imagens que nos rodeiam e, de alguma maneira, as imagens produzidas por crianças” (LOPONTE, 2008, p. 113). A ideia das possibilidades criadoras existentes são inúmeras, onde a descontinuidade e a imprevisibilidade são algumas das principais matérias-primas com as quais lida a Arte Contemporânea. São feitas de possibilidades, de invenção, de criação, de ruptura, do imprevisível, do inesperado. Sobre o ensino contemporâneo Nardin e Ferraro (2001, p. 184) colocam que: “em primeiro lugar, o professor precisa estar, ele próprio, familiarizado com a história da arte e com a arte contemporânea”. E complementam ainda: Para que possa desempenhar com segurança o papel de mediador entre o universo cultural do aluno e o universo dos saberes históricos e culturais sistematizados, o educador do ensino fundamental e médio não necessita transformar-se em exímio “conhecedor” de arte. Precisa apenas tomar gosto pela pesquisa e investir na busca de informações e conceitos – muitas vezes escassos, porque muito atuais – sobre o tema, a obra ou artista em estudo. (NARDIN e FERRARO, 2001, p. 184) Loponte (2008, p. 119) coloca que: “não devemos nos deixar dominar pela vontade de verdade, por uma desenfreada ansiedade de atingir a essência das coisas, mas que nos deixemos tomar por uma vontade de potência, pela vontade de reinventar o real, de transfigurar a própria vida”. Para compreender isso é necessário, segundo Nardin e Ferraro (2001, p. 185) que: “o professor esteja ciente do fato de que muitas das reflexões a respeito da arte contemporânea são estruturadas com base em um paralelo que se estabelece com a modernidade que a antecedeu”. Refletindo sobre todas estas questões poderemos então compreender a relevância da Arte Contemporânea estar inserida na escola. Buscando um ensino de arte que parte da totalidade de movimentos e que também privilegia a singularidade. Onde as propostas que contemplam a Arte Contemporânea se façam instrumento de articulação entre a realidade do aluno com a própria arte, produzindo questionamentos, reflexões e aprendizado. Desta forma o aluno poderá se perceber como sujeito que produz e que é produzido pela cultura. 31 4 OS SUJEITOS, OS ESPAÇOS E A CARACTERIZAÇÃO DE UMA PROPOSTA Contextualizando a proposta desta pesquisa abordarei neste capítulo breves descrições sobre o município em que vivem os sujeitos, bem como a escola freqüentada pelos mesmos, assim como a Fundação Cultural de Criciúma e a Galeria de Arte Contemporânea onde os alunos iniciaram suas vivências com a proposta sobre a Arte Contemporânea. Posteriormente trago as discussões que envolvem a construção do olhar e a ampliação de repertório, fundamentais para este estudo e nossa formação estética. 4.1 Situando o lugar onde vivem os sujeitos Com mais de 95% da população descendendo de italianos, Nova Veneza/SC, é a primeira colônia italiana oficialmente instalada no Brasil República (1891). Sua população estimada em 2008 era de 13.032 habitantes, segundo o IBGE. O distrito de Caravaggio possui um importante parque industrial, com destaque para os setores de metalurgia, mecânico e de material elétrico. No campo as principais culturas são o arroz e o milho. A criação de frangos nos últimos anos também se tornou uma das principais atividades do município6. Figura 3 – Mapa de localização do município de Nova Veneza Fonte: http://maps.google.com.br/maps 6 Dados retirados da internet: http://www.portalveneza.com.br. Acesso em 07/10/2010. 32 Nova Veneza investe muito no setor turístico, sendo que seu principal destaque são as Casas de Pedra da Família Bratti, construídas no ano de fundação da colônia. Outros lugares que chamam a atenção dos visitantes são o Monumento dos Imigrantes na entrada da cidade, a gôndola doada pela cidade de Veneza, na Itália e o Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio. A saborosa gastronomia italiana juntamente com a natureza exuberante também ganham destaque dos seus visitantes. Um grande representante das tradições de Nova Veneza é o Grupo Folclórico Ítalo Brasileiro consagrado por suas inúmeras conquistas em festivais de danças. O município é considerado a Capital Catarinense da Gastronomia Italiana, realizando a Festa da Gastronomia Italiana, no mês de aniversário da cidade, junho. O evento resgata a cultura dos primeiros colonizadores, seus hábitos, religiosidade e formas de produção. Uma manifestação cultural e artística que acontece durante o evento e que Nova Veneza está realizando um resgate cultural é o Carnaval de Veneza, representado por suas belas máscaras, proporcionando que essa tradição não morra no tempo e sim seja revivida através de seus descendentes. 4.2 A escola: espaço de formação e constituição A Escola de Educação Básica Abílio César Borges localizada na rua Alfredo Pessi no Centro de Nova Veneza/SC pertence a rede de ensino estadual e tem como diretora Ângela Brognoli da Rosa. Possui 680 alunos distribuídos no ensino fundamental (séries iniciais e finais) e médio. Conta em seu quadro de funcionários com uma diretora e uma vice diretora, uma orientadora, uma secretária, trinta e dois professores, três assistentes pedagógicos e três serviços gerais, sendo todos os seus professores pós-graduados. A escola conta com biblioteca, sala de informática, ginásio de esportes e recursos materiais como: televisor, retroprojetor, aparelho de vídeo e dvd, computadores, data-show, máquina de xérox, entre outros. 33 Figura 4 – Vista da entrada da E.E.B. Abílio César Borges Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Segundo sua coordenação a escola trabalha de acordo com a Proposta Curricular de Santa Catarina e coloca como seu objetivo geral baseado em seu PPP (2010) o “princípio de universalização da igualdade de acesso e permanência com sucesso do aluno na escola”, onde o aluno é valorizado como sujeito atuante da história e faz parte integral do processo educativo. Segundo seu PPP (2010), a escola tem como objetivo: Oportunizar aos estudantes e educadores a apropriação do conhecimento, de forma critica e criativa, favorecendo o desenvolvimento de sua consciência como sujeito histórico, capaz de intervir na realidade e exercer a sua condição de cidadão que questiona as mais variadas situações da vida. Também em seu PPP (2010) a escola trás a arte como instrumento capaz de despertar a sensibilidade estética, também como propiciadora de valores aos alunos, levando em conta a situação histórica de cada indivíduo e do seu meio social, fazendo com que ele se perceba também como um construtor da história. 4.3 A Galeria de Arte Contemporânea da Fundação Cultural de Criciúma e a formação do repertório estético Situada no Centro Cultural Jorge Zanatta, na rua Coronel Pedro Benedet, no Centro de Criciúma/SC a Galeria de Arte da Fundação Cultural de Criciúma é 34 considerada um dos mais importantes espaços de exposições de Arte Contemporânea do sul de Santa Catarina. A galeria tem como objetivo incentivar a pesquisa contemporânea em artes visuais, valorizar e promover a Arte Contemporânea com a intenção de torná-la acessível ao público e apresentar trajetórias artísticas em artes visuais. O espaço físico da Galeria é constituído por cinco salas, sendo uma delas o antigo laboratório de análise de solo, utilizado pela DNPM (Departamento Nacional de Produção de Mineral), que se instalou na cidade, na década de 40, devido a grande demanda na extração de minérios7. Figura 5 – Fundação Cultural de Criciúma e sua galeria de arte Fonte: Arquivo imagético da Fundação Cultural de Criciúma 7 Dados retirados da internet: http://www.galeriafcc.blogspot.com. Acesso em: 22/10/2010. 35 As exposições acontecem mensalmente, e são selecionadas pelo Edital de Exposições Temporárias; as inscrições são abertas anualmente, para todos os artistas e grupos de artistas brasileiros ou estrangeiros. Durante as exposições, a Galeria de Arte oferece visitas mediadas e atividades pedagógicas direcionadas para os grupos visitantes, além de oficinas de aperfeiçoamento para artistas e demais profissionais da área das artes visuais. Tendo a convicção de que é através das experiências que vivenciamos que podemos ampliar nosso olhar, e consequentemente nosso repertório, foi através deste espaço que dei inicio a minha pesquisa de campo, buscando oportunizar aos alunos a possibilidade da experiência estética, explicada por Leite (2008, p. 58) como: [...] A possibilidade que temos de nos defrontarmos com os objetos de cultura ou da natureza de maneira pessoal, autônoma e crítica, e de nos deleitarmos com eles, de irmos fundo, entregues de corpo e alma, vivendo intensamente aquilo que estamos vendo/ouvindo de forma a deixarmos que a emoção, a memória, a atenção e a desatenção, a tensão e a distensão possam apossar-se de nós, e fazermos com que a expressão cultural ou a natureza em questão reverbere e se expanda como em ondas dentro de cada um, afetando-nos e permanecendo em nós, deixando-nos diferentes, marcados para sempre. É por meio deste contato, do estranhamento, do questionamento que nos educamos esteticamente. Não podemos compreender algo se não nos relacionarmos com ele. Leite (2008, p. 63) nos afirma que: “A arte nos leva para outros mundos, outras sensações, outros sentimentos. Ela mexe não só com nossa cognição, mas com nossos afetos e, por isso, nos afeta”. Desta forma, onde dentro de nós se formam novas sensações, novas descobertas, também se produzem novos conhecimentos. A mesma autora (2008, p. 67) nos diz que as “experiências estéticas diversas nos tiram de nossa postura morna, sem graça e tantas vezes automática e corrida do cotidiano e nos levam a refletir de uma outra forma sobre a vida”. Sendo o mais importante nesse processo a significação que o sujeito dá àquilo que teve a oportunidade de estar em contato, não desconectando cognição e afetividade. 36 4.4 Construindo olhares, ampliando repertórios A educação em arte ganha crescente importância quando se pensa na formação necessária para uma adequada inserção social, cultural e profissional do jovem contemporâneo. Ela imprime sua marca ao demandar um sujeito da aprendizagem criador, propositor, reflexivo e inovador. Se hoje o aluno deve ser formado para enfrentar situações incertas e para resistir às imposições de velocidade e de fragmentação que caracterizam a 8 contemporaneidade, a arte pode colaborar e muito. (IAVELBERG, p. 2) É por meio desta fala de Iavelberg que inicio a discussão desse texto que busca estabelecer relações entre o olhar do aluno e seu repertório artístico e principalmente como sujeito inserido e atuante na sociedade atual. Visando esse objetivo e contemplando em especial a Arte Contemporânea, venho destacar a importância do professor que busca com que: “o aluno possa se desenvolver como um sujeito governado por si próprio ao mesmo tempo em que interage com os símbolos da cultura” (IAVELBERG, p. 3). Caminhando nesta direção o professor de Arte, deve orientar os estudantes no sentido de alfabetizá-los para a importância do olhar e da interpretação daquilo que se olha, promovendo sua educação estética e a compreensão das diferentes manifestações artísticas, nos mais diversos contextos. Concordo que: Na construção da identidade artística das crianças e dos jovens que freqüentam as escolas, os professores têm seu papel significativo. Sua colaboração é ainda maior quando sabem respeitar os modos de aprendizagem e dedicar o tempo necessário a fornecer orientações e conteúdos adequados para a formação em arte, que inclui tanto saberes universais como aqueles que se relacionam ao cotidiano do aluno. (IAVELBERG, p. 2). Desta forma, cabe-nos refletir sobre como o olhar do aluno é construído. No primeiro momento vale ressaltar que a visão humana está impregnada de experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias e interpretações. Segundo Pillar (2003, p. 74), “o nosso olhar não é ingênuo, ele está comprometido com nosso passado, com nossas experiências, com nossa época e lugar, com nossos referenciais”. Assim, construir o olhar é uma aventura em que cognição e 8 Artigo retirado da internet: http://www.projetopresente.com.br/revista/rev6_ensino_arte.pdf. Acesso em 18/07/2010. 37 sensibilidade se interpenetram na busca de significados, lançando múltiplos olhares sobre um mesmo objeto. Ganzer (2005, p. 85) nos fala que: A educação do olhar é um exercício, uma construção na qual a percepção e a sensibilidade estão imbricadas na produção do conhecimento. Tornar visível o que se olha é uma concepção do sensível. Pensar a educação do olhar é posicionar-se e questionar-se diante do processo de aprendizagem, para despertar o caráter sensitivo, afetivo e sensorial, como uma viagem ao mundo da imaginação e das informações adquiridas. Pillar (2003) nos mostra através de seus estudos o quanto nossa visão é limitada, pois vemos o que compreendemos e aquilo que temos condições de entender, ou seja, aquilo que nos é significativo. Ela nos diz: “Na verdade, não conseguimos apreender o mundo tal qual ele é, construímos mediações, filtros, sistemas simbólicos para conhecer o nosso entorno e nos conhecer” (PILLAR, 2003, p. 73). Para isso deve-se levar em conta que cada sujeito tem sua própria história de vida e, portanto um modo único de organizar seus referenciais e de apropriação do mundo. Desta maneira acredito que para que haja a ampliação do olhar dos alunos é necessário que o contato que os mesmos têm com as diferentes manifestações artísticas também seja ampliado, pois é conhecendo, experimentado e se apropriando de novos conhecimentos que podemos construir nosso repertório. Se o nosso olhar se conecta com a bagagem que possuímos para se apropriar daquilo que lhe chega aos olhos, é por meio de diferentes experiências que se pode aumentar e dar qualidade a esta bagagem. É desta forma que “ao atribuir e extrair significados das produções de críticos, historiadores da arte, jornalistas, artistas, filósofos, com a mediação do professor, os jovens compreendem e se situam no mundo como agentes transformadores” (IAVELBERG p. 4). Esse contato é defendido por Ganzer (2005), que nos fala da importância de sairmos do ambiente escolar e realizar visitas aos espaços expositivos, alegando que na escola são utilizadas a linguagem verbal e as reproduções de obras, sendo que nesses espaços proporcionamos aos alunos um contato direto com as obras dos artistas, e até mesmo podemos ter o contato com este artista, o que faz com que arte se interligue mais conosco se tornando um “multiplicador de saberes”. Essa experiência gera um “turbilhão de sentimentos e imaginações” como relata a própria autora, pois é capaz de instigar o aluno a fazer parte do mundo da arte através deste 38 deslumbramento diante daquilo que lhes chega ao seu olhar, reforçando e instigando a construção de significações. As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2008, p. 183) entende que: O objetivo último e fundamental da educação – e da presença da arte nos currículos como uma forma particular de conhecimento – é capacitar o aluno a interpretar e a representar o mundo à sua volta, fortalecendo processos de identidade e cidadania. O aluno necessita desse contato para poder ampliar seu repertório, pois desta maneira ele consegue transpor aquilo que já é conhecido, produzindo novos saberes. Devemos levar em conta que a arte busca dizer o “indizível”, assim penso que nem tudo pode ser traduzido em um discurso verbal, mas sim num jogo de sentimentos, formas, cores, emoções, visões e espaço. Apreciar uma obra em sua “pluralidade de sentidos”, seja ela proveniente dos mais diversos lugares e que possam se somar aos nossos conhecimentos. Ganzer (2005, p. 87) nos fala que: Um trabalho educativo que constrói fruidores sensíveis e propõe um novo olhar para as coisas corriqueiras – que podem ir além dos nossos referenciais – privilegia o diálogo entre o visual e o verbal na tentativa de compreender os processos e as relações oferecidas. Ao meu ver é papel fundamental do professor de arte proporicionar que os alunos possam refletir e compreender melhor como a educação do olhar interfere consciente e inconscientemente no processo educacional artístico e também em outras disciplinas e até em vários aspectos de nossa vida. Pillar (2003) nos fala que o professor não ensina como ler, pois não há um modo único para que essa leitura aconteça, levando-se em conta que cada visão é particular, mas também o que ele não deve fazer é deixar com que o aluno tenha uma visão espontaneísta, onde as imagens são meramente expostas aos alunos, sem questionamentos, problematização, sendo então necessária uma reflexão sobre o que está a sua frente. Neste sentido, concordo com Iavelberg (p. 3) quando: “na formação em arte o plano da subjetividade dialoga com as informações e orientações oferecidas pelo professor”. A mesma autora afirma que: Um aluno preparado para o futuro é aquele que acompanha seu tempo, ancorado em uma sólida formação. Nesse aspecto, a arte é, sem dúvida, 39 uma base imprescindível por incluir as formas simbólicas que dizem respeito à humanização de todos os tempos e lugares. (IAVELBERG, p. 4) Dentro de uma visão contemporânea, o ensino da Arte deve buscar proporcionar atividades interessantes e compreensíveis ao aluno, estando adequadas ao seu processo de aquisição da leitura. Desta maneira o papel maior do professor é o de compreender como acontecem esses processos de leitura e promover aos alunos as experiências que possibilitem a construção de novos conhecimentos. Dialogo com o seguinte pensamento: Dominar os processos de criação em arte, construindo um percurso cultivado, ou seja, informado pela cultura requer um professor orientador, que incentiva a produção, ensina os caminhos da criação e solicita do aluno envolvimento e constância. O apoio do professor, por sua vez, é alimentado pela sua atualização permanente, necessária para se ter familiaridade com o universo procedimental da arte. (IAVELBERG, p. 3) Nosso olhar está em constante construção, pois é através do exercício consciente de olhar com atenção que novas percepções podem existir. É o contato direto com a arte, e o impacto que ela nos causa, que faz com que nosso repertório se expanda, criando assim sujeitos capazes de relacionar o seu próprio mundo com o mundo ao seu redor, e o mais importante, dando significado à ambos. Finalizando este pensamento comungo com Hernández (2000, p. 52): A importância primordial da cultura visual é mediar o processo de como olhamos e como nos olhamos, e contribuir para a produção de mundos, isto é, para que os seres humanos saibam muito mais do que experimentam pessoalmente, e para que sua experiência dos objetos e dos fenômenos que constituem a realidade seja por meio desses objetos mediacionais que denominamos como artísticos. 40 5 METODOLOGIA: CONSTITUINDO A PESQUISA Essa pesquisa tem como título “Construindo olhares, ampliando repertórios: encontros e (des) encontros dos alunos da E.E.B. Abílio César Borges com as obras de Arte Contemporânea da artista Roberta Tassinari”. O problema de pesquisa está assim elaborado: Como os alunos da Escola de Educação Básica Abílio César Borges olham e fruem as obras de Arte Contemporânea da artista plástica Roberta Tassinari? Para me auxiliar a encontrar esta resposta trago outras questões que dialogam e contribuem para nortear esta pesquisa: Qual a contribuição da Arte Contemporânea para a ampliação do olhar dos alunos do ensino fundamental e médio? Quais as diferenças existentes na compreensão e fruição da Arte Contemporânea entre os alunos do ensino fundamental e médio? Qual a percepção dos alunos e as impressões causadas em seu repertório artístico depois de entrar em contato, vivenciar e produzir a partir da visita a exposição “Plástica” de Roberta Tassinari? Quais são as possibilidades pouco ou não exploradas pelo professor de arte quanto a abordagem da Arte Contemporânea e dos artistas regionais em suas aulas? Como ocorre a formação do olhar estético dos alunos a partir da visita a uma exposição de arte? Através deste problema de pesquisa apresentado trago como objetivo geral compreender como se constrói a formação do olhar dos alunos do ensino fundamental e médio quanto a possibilidade de ampliação do conhecimento sensível em propostas que contemplem a vivência da Arte Contemporânea. Desta forma desdobrando o objetivo geral, aponto questões específicas que me auxiliam nesta pesquisa: refletir sobre o olhar dos alunos e dos professores quanto à importância da Arte Contemporânea enquanto conteúdo a ser explorado nas aulas de artes; investigar as contribuições que a Arte Contemporânea proporciona aos alunos que entram em contato com essa manifestação de arte; aprofundar teoricamente questões relacionadas a Arte Contemporânea juntamente com o Ensino da Arte nos diferentes níveis de ensino; promover o contato dos alunos de diferentes níveis de ensino com a Arte Contemporânea através de experiências estéticas e sensíveis a partir da análise e apreciação das obras de Roberta Tassinari e reconhecer de que forma acontece a fruição dos alunos da 4ª e 41 8ª séries do ensino fundamental e da 2ª série do ensino médio perante a Arte Contemporânea. Essa pesquisa está dialogando com a linha que reflete sobre Educação e Arte, prevista no ementário do Curso de Artes Visuais da UNESC. A mesma estabelece e evidencia princípios teóricos e metodológicos sobre arte e educação bem como suas relações com a prática pedagógica. Esta é também uma produção de cunho qualitativo, de natureza básica, que segundo Minayo (2004, p. 22): “aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas”. Pois ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, uma vez que busca entender e se aprofundar em um tema específico, sem a intenção imediata de medir ou comprovar fatos, mas sim melhorar o contexto qualitativamente. As informações obtidas nessa pesquisa são como aborda Goldenberg (2000, p. 49), “os dados da pesquisa qualitativa objetivam uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação social”. Também se caracterizando como uma pesquisa descritiva, pois, de acordo com Gil (1994-1995, p. 47): As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial as descrições das características de determinada população ou fenômeno, ou então o estabelecimento de relações entre variáveis. [...] As pesquisas descritivas são, juntamente com as exploratórias, as que habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática. Os dados foram coletados por meio de pesquisa de campo em espaços de narrativa, onde segundo Honorato (2008), ocorreram “espaços de troca entre sujeitos e pesquisador” constituindo assim “uma forma diferenciada de ouvir” onde os envolvidos “deixam de ser objetos de pesquisa para ser sujeitos dela – mais que isso, tornam-se co-autores das investigações, pois mudam seus rumos, apontam novas possibilidades, (re)constroem os caminhos previamente pensados” (HONORATO, 2008, p. 117). E ainda: Esses a que chamo de espaços de narrativa são constituídos por narrativas orais, corporais, gestuais e visuais. Emergem quando se acredita na potencialidade da história de cada um, na constituição de sujeito fazedor de sua cultura, no valor da história narrada, na concepção de história descontínua. (HONORATO, 2008, p. 116). 42 Esta pesquisa foi realizada entre os meses de setembro e outubro de 2010 e teve como foco a Escola de Educação Básica Abílio César Borges do município de Nova Veneza/SC, contando com a participação das turmas da 4ª série vespertina (42), 8ª série matutina (83) do ensino fundamental e 2ª série do ensino médio (102), onde realizei separadamente com cada turma a proposta dos alunos visitarem a exposição “Plástica” da artista Roberta Tassinari que aconteceu na galeria de arte da Fundação Cultural de Criciúma, tendo a oportunidade de ter o contato com a artista em um momento de conversa e questionamentos. Após isto os alunos realizaram reflexões e atividades envolvendo o trabalho da artista, sendo toda esta experiência filmada e registrada para coleta e análise de dados. Desta forma minha metodologia se utiliza de cenas, uma para cada turma, tendo em foco as falas, expressões e produções das três turmas separadamente, e em seguida uma quarta cena dialogando as experiências como um todo resultando nas considerações e resultados deste trabalho. A denominação de cenas foi adotada a partir de leituras de outras pesquisas, em especial de Plácido (2007). Para a 4ª série proponho a Cena 01. A 8ª série é contemplada como a Cena 02 e a 2ª série do Ensino Médio como Cena 03. A partir do material obtido, à luz de teóricos que escrevem sobre o assunto terei subsídios para analisar, contribuir, e sugerir ações e reflexões sobre a prática efetiva da Arte Contemporânea em propostas de ensino da Arte. Os métodos utilizados em uma pesquisa são extremamente relevantes, pois, são eles os responsáveis pela legitimidade da mesma. Segundo Deslandes (1994, p. 35): A pesquisa científica ultrapassa o senso comum (que por si é uma reconstrução da realidade) através do método científico. O método científico permite que a realidade social seja reconstruída enquanto um objeto do conhecimento, através de um processo de categorização (possuidor de características específicas) que une dialeticamente o teórico e o empírico. Cabe ressaltar que o produto final da análise de uma pesquisa não deve ser visto como uma concepção finalizada e sim como algo que se aproxima da realidade e que é provisório, abrindo novos olhares, mas que pode ser superado por pesquisas e afirmações futuras, já que a realidade também sofre muitas mudanças. Dialogo assim com Honorato (2008, p. 111) quando nos fala que: “fazer pesquisa em arte e sobre arte tem em sua essência, uma forte marca da provisoriedade e incompletude, decorrente da característica de transgressão da própria arte”. 43 6 APRESENTAÇÃO DAS NARRATIVAS: REFLETINDO SOBRE A REALIDADE Cada passeio, cada visita, cada experiência suscita no contemplador sensações e indagações únicas; desperta desejos, abre portas para novas buscas – e isso não poderia ser desperdiçado, encolhido. É o ponto central do trasbordamento, tanto de crianças, quanto dos educadores. Leite (2005, p. 46) Para coletar os dados necessários a esta pesquisa não utilizei questionários ou entrevistas, e sim elaborei uma proposta onde os alunos atuassem de forma espontânea, possibilitando que eles no primeiro momento visitassem a exposição “Plástica” da artista Roberta Tassinari exposta na Galeria de Arte Contemporânea da Fundação Cultural de Criciúma, tendo o contato com a artista, e posteriormente produzissem a partir do visto, ouvido e vivenciado na visita à exposição, sendo todo este processo filmado e registrado constituindo-se numa pesquisa em espaço de narrativa. Desta maneira as narrativas se constituem em três cenas, abordando cada turma separadamente. Realizo uma discussão em torno de suas impressões, falas e produções para a compreensão do meu problema de pesquisa. 6.1 Cena 01: os sujeitos da 4ª série Dou início a minha pesquisa com a turma da 4ª série da E.E.B. Abílio César Borges no dia 30 de setembro de 2010 no período vespertino, quando acompanhados da professora titular de Arte da turma realizamos a visita à exposição da artista Roberta Tassinari após breves apontamentos em sala de aula quando apresentei a proposta e encaminhei as autorizações de pesquisa. A caminho pude perceber a euforia dos alunos em sair da escola e conhecer um lugar novo, pois nenhum deles havia visitado a Fundação Cultural de Criciúma. Estes alunos possuem de 9 à 10 anos de idade, são crianças agitadas e 44 curiosas, estão na transição do lúdico para a realidade, alguns usam mais a imaginação, outros questionam mais, procurando dar sentido ao que observam. Quando chegamos formos recepcionados pela coordenadora do local que contou um pouco sobre a história da casa onde hoje está instalada a Fundação. Em seguida os alunos entraram no espaço destinado à galeria de arte. Neste momento a agitação foi intensa, havia curiosidade, estranhamento e euforia. Umas das obras que mais chamou a atenção dos alunos foi a das bóias rosas, sendo que uma das primeiras perguntas realizada por um aluno ao se deparar com elas foi: “isto é uma arte?”. Muitas crianças tiveram a curiosidade em tocar as bóias e também de interagir com elas, passando por debaixo, colocando a cabeça no meio. Na obra amarela o mesmo aluno perguntou apontando: “é arte?”, então a coordenadora respondeu que tudo o que estava ali era arte, e o mesmo aluno retrucou: “então se eu pegar um balão e estourar e botar aqui também é?”. Neste momento pude perceber como a Arte Contemporânea causa estranhamento à maioria dos alunos, ainda mais nas obras da artista Roberta Tassinari em que os objetos são tão comuns ao nosso dia-a-dia. Os alunos tem dificuldade em perceber o que pode ser arte e o que não é, por haver tanta proximidade com o comum, fazendo com que tudo possa ser considerado arte, desvalorizando-a. Neste sentido dialogo com Cocchiarale (2006, p. 66-67): Habituamo-nos a pensar que a arte é uma coisa muito diferente da vida, dela separada pela moldura e pelo pedestal. Aliás, a arte foi mesmo isso durante a maior parte de sua história, pelo menos desde a Renascença. A idéia de uma arte que se confunda com a vida é muito difícil de assimilar porque os nossos repertórios ainda são informados por muitos traços conservadores, alguns deles pré-modernos. Os alunos não permaneciam muito tempo diante das obras, sendo que o trabalho que estava logo na entrada mal foi percebido, sendo um dos últimos a ser observado. O grupo também estranhou a pouca quantidade de obras. Isto acontece pelo fato deles não estarem habituados com o espaço de uma galeria, grande parte do que eles estão acostumados são exposições, feiras, entre outros lugares onde se encontram diversos trabalhos, normalmente perfilados na parede, gerando até certa poluição. Acredito que nesta visão o olhar do aluno se perde em meio há tanta informação e não consegue observar atentamente todos os detalhes e assim ter um 45 dialogo maior com a arte. Sobre esta questão do espaço, onde a obra de arte se encontra no vazio, O’Doherty (2007, p. 3) nos fala que: A galeria ideal subtrai da obra de arte todos os indícios que interfiram no fato de que ela é “arte”. A obra é isolada de tudo o que possa prejudicar sua apreciação de si mesma. Isso dá ao recinto uma presença característica de outros espaços onde as convenções são preservadas pela repetição de um sistema fechado de valores. Um pouco da santidade da igreja, da formalidade do tribunal, da mística do laboratório de experimentos junta-se a um projeto chique para produzir uma câmara de estética única. Dentro dessa câmara, os campos de força da percepção são tão fortes que, ao deixá-la, a arte pode mergulhar na secularidade. Figura 6 – Alunos da 4ª série em visita a exposição “plástica” Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Após a visita, a artista Roberta Tassinari conversou com os alunos, falando sobre suas obras e respondendo aos questionamentos realizados. A primeira pergunta foi realizada por uma aluna: “no que você se inspirou nisto aqui?”, referindo a obra de tons roxos. A artista antes de responder, indagou aos alunos o que eles estavam acostumados a ver em exposições, falando de quadros, esculturas, fotografia... sendo que em sua exposição não haviam telas, mas haviam 46 pinturas. Pontuou que normalmente há numa tela imagens pintadas com pincel e tinta, sendo que às vezes é uma imagem que representa alguma coisa, uma paisagem, uma pessoa, um objeto, e às vezes são coisas sem forma definida, com cores, manchas, e que na exposição, se referindo ao trabalho esverdeado, ele era uma pintura esverdeada, composta por vários elementos esverdeados, sendo que o elemento maior é uma bóia, mas que ali ele não estava cumprindo o papel de bóia, não servindo para tomar banho de mar ou de piscina, mais sim reconstruído, recebendo uma nova função, gerando uma forma que não é definida, com dobras, e dentro dele outros elementos, como copo, papel, plástico, que compõem a obra. Dialogamos também sobre o fato de os trabalhos serem de uma cor só. A artista comentou que todas as suas pinturas não estão representando nada porque elas não querem se parecer nem com um animal, nem com uma paisagem, elas são formas. Relembrou que na história da arte já houve artistas que pintaram somente com misturas de cores, não pintando uma forma que a gente conseguisse identificar o que era, e ali era a mesma coisa, um campo, um espaço. Nesse espaço há cores que são misturadas, neste caso uma cor entra em cada trabalho mudando a tonalidade. Neste sentido na composição de seus trabalhos há locais com mais transparência, com mais brilho ou mais opaco, e o que predomina em sua produção é a transparência, sendo o elemento em comum de todas as obras. Por este trajeto a artista chegou na resposta sobre o trabalho de tons roxos, dizendo que era sua cor preferida, explicando que quando ela vai a qualquer lugar, sempre fica atenta aos objetos roxos, e vai comprando e juntando-os, e quando consegue obter um número grande deles, os junta formando uma pintura como aquela. Desta forma o que a inspira é o fato de gostar muito daquela cor. Surge uma nova pergunta: “o que significa?”, a artista responde que significam pinturas, explicando que não era uma tela que eles estavam acostumados a ver em livros, que geralmente são de forma retangular ou quadrada, e muito dificilmente redonda. Ali não eram nenhum desses formatos, explicando que ela está suspensa por um prego que está fixado na parede, e tem cor, tem forma, tem linha. Falou também que quando a gente faz um desenho pegamos um lápis e vamos riscando. O risco se torna uma linha, e na obra a gente também vê esta linha, só que de uma outra forma, na composição dos próprios objetos, concluindo assim sua resposta, afirmando que são pinturas. 47 Porém o aluno ainda não estava convencido. Queria saber qual figura ela quis representar. Roberta contrapõe e pergunta o que ele vê. Ele responde que para ele era um violão. A artista disse que poderia parecer sim, mas na verdade essa obra não está pretendendo se parecer com nada, não foi o objetivo que ela teve ao fazê-la, acontecendo o mesmo nos outros trabalhos, mas que a interpretação na arte é algo totalmente livre, cada pessoa que enxerga um trabalho de arte tem uma interpretação diferente. Então: “se você enxerga o violão tudo bem, cada um pode enxergar uma coisa diferente, pois tem o que o artista quis dizer com aquele trabalho, isto é uma coisa, e o que cada pessoa (o público) vai enxergar nesse trabalho, e nessas duas coisas há uma distância muito longa, às vezes o artista não consegue exprimir aquilo que ele está sentindo para todo mundo, então a obra não é só o que o artista quis passar, é também o que cada pessoa vai interpretar”. Fica evidente a relação com o figurativo que os alunos possuem, porém este desprendimento à ele não acontece de uma hora para a outra. É por meio das experiências que vivenciamos que somos capazes de ir estabelecendo novas relações, reformulando conceitos e expandindo nosso olhar. Desta maneira é de fundamental importância o contato com a arte, com as suas diferentes manifestações. É visitando, conhecendo, interrogando, imaginando e ressignificando que ampliamos nosso repertório. Concordo com Argolo (2005, p. 81) quando: A construção de conhecimento relevante sobre arte implica a qualidade das experiências estéticas vividas pelo sujeito. Não bastam as informações sobre estilo, épocas e histórias de vida dos artistas. Tampouco bastam os espaços educativos elegerem questões que julgam importante abordar sem considerar a necessidade da construção de conhecimentos e significados pessoais por parte do contemplador. Ao se depararem com a obra de tons roxos, os alunos deram destaque a sombra produzida na parede. Roberta fala que a sombra colorida foi produzida por causa da luz que atravessa os objetos transparentes que foram utilizados, e que isto também compõem a obra. Outro ponto que merece destaque foi o debate sobre instalação. Muitos alunos ainda não haviam ouvido falar neste termo. Perante o trabalho “Croma” o diálogo girou ao entorno de as bóias perderem sua função e que na imaginação da artista elas são como círculos, havendo três tipos (umas mais transparentes, outras de cor néon, outras mais foscas). Estes três tipos de círculos, para ela não são mais bóias, pois ali não há 48 mar, nem piscina, e pelo fato de elas estarem suspensas, assumem função de círculos volumétricos em uma pintura. Ao final da conversa uma aluna perguntou: “Roberta, qual é a próxima obra que você vai construir?”, e a artista respondeu que naquele espaço ela não iria mais colocar obras, pois a exposição estava acabando, mas que ela tinha outras obras, pois o artista está sempre produzindo e mesmo quando ela não está no seu ateliê, sempre elabora, ainda que mentalmente qual vai ser sua próxima obra. A visita encerrou com a turma empolgada no retorno a escola, quando momentos da exposição foram retomados, constituindo-se uma nova experiência estética na vida destes sujeitos. Neste contexto estabelecido comungo com Leite (2005, p. 23): Os sujeitos, em suas interações diversas, circulam em variados espaços culturais e experienciam, também, diferentes formas de produção cultural. É no diálogo com o outro e com a cultura que cada um é constituído, desconstruído, reconstruído, cotidianamente. O acesso aos bens culturais é meio de sensibilização pessoal que possibilita, ao sujeito, apropriar-se de múltiplas linguagens, tornando-o mais aberto para a relação com o outro, favorecendo a percepção de identidade e de alteridade. Figura 7 – Alunos da 4ª série em conversa com a artista Roberta Tassinari Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora No dia primeiro de outubro, em suas aulas de Artes (15h30 às 17h) voltei a me encontrar com os alunos da 4ª série, agora para realizarmos a produção 49 baseada nas obras da artista. Primeiramente retomei com o grupo o observado na exposição, sendo que a obra mais comentada foi a das bóias. Retomei o conceito de instalação9 explicado também pela artista, lembrando que ela ocupa o espaço, e que na exposição cada obra estava num espaço diferente, se apropriando do mesmo. Também utilizei imagens para exemplificar. Relembramos os materiais utilizados por Roberta e expliquei que agora iríamos realizar a nossa instalação. Pedi que os alunos se reunissem em cinco grupos e distribui uma caixa de presente para cada grupo, orientando sobre o que fazer, e indagando a eles sobre o que achavam que essas caixas representavam. Então eles falaram sobre a cor das caixas, que eram iguais as das obras de Roberta. Os alunos ficaram bem entusiasmados e curiosos em relação às caixas de presente, e ao abrirem encontraram em cada uma materiais que se remetiam as obras da artista. Na caixa amarela havia celofane em vários tons de vermelho com transparência. Na caixa roxa, vários recipientes de plástico em tamanhos e formas diversas nas cores amarelo e vermelho. Na caixa rosa haviam balões de vários formatos e cores. Na caixa verde plásticos de diferentes formas e cores. E na caixa azul, latas e fios coloridos. Dentro das caixas também foram disponibilizados alguns materiais para que os alunos pudessem trabalhar, como nylon, tesouras sem ponta e fita adesiva. Figura 8 – Alunos da 4ª série em processo de produção Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora 9 Instalação segundo Lamas (2007) é uma manifestação artística onde a obra é composta de elementos organizados em um ambiente onde a disposição deles no espaço tem a intenção de criar uma relação com o espectador. Nela a arquitetura faz parte da obra, há uma integração com o espaço, onde o público é espectador e interage. 50 Alguns alunos tiveram dificuldade em entender que a produção era conjunta e não individual, então reforcei novamente que o material que estava em cada caixa resultaria numa obra do grupo. Assim os grupos começaram suas produções. O grupo que deveria trabalhar com o celofane não gostou muito do material por achá-lo muito simples em relação aos demais. Houve bastante tumulto nos grupos para decidirem o que iram construir. Um grupo de meninos que eram bastante agitados pegou a caixa com latas e fios, e se interessaram bastante pelo material, entrelaçando os fios e criando uma composição onde as latas ficaram suspensas sendo fixado ao teto da sala com o meu auxílio. Figura 9 – Produção 4ª série: grupo 1 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora O grupo com os recipientes de plástico teve bastante dificuldade em chegar num consenso quanto as disposição dos elementos, e o trabalho final gerou uma composição bastante criativa. Houve mistura de elementos da cor vermelha e amarela, sendo que o vermelho predominou no centro da obra e o amarelo ao redor. O local escolhido foi a parede lateral da sala para ficar exposto. Figura 10 – Produção 4ª série: grupo 2 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora 51 O trabalho produzido com o celofane foi realizado com a junção dos pedaços coloridos, misturando as tonalidades e formando uma espécie de flor, sendo formado três elementos que foram expostos acima do quadro negro. Mesmo com a ênfase na limitação do material as crianças buscaram EVA para produzir o galho e as folhas para as flores construídas com o celofane, onde a professora titular realizou essa interferência permitindo este material. Desta forma ficou perceptível como os alunos se prendem ao figurativo. Figura 11 – Produção 4ª série: grupo 3 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora O grupo dos balões buscou agrupá-los também na forma de flores, e escolheu a janela para expô-los, buscando que a claridade da janela interferisse nos balões como na obra das bóias da artista Roberta Tassinari, havendo certa apropriação entre o visto e discutido na exposição com o produzido pelo grupo. Figura 12 – Produção 4ª série: grupo 4 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Já o grupo com os plásticos realizou uma mistura de elementos, ficando um pouco poluído, pois dividiram o plástico em vários pedaços, porém um aluno do 52 grupo ressaltou que o intuito deles foi o de misturar as cores, dando vida à produção, que foi exposta no próprio quadro negro. Figura 13 – Produção 4ª série: grupo 5 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Após a conclusão das produções iniciei com os alunos uma conversa sobre o trabalho realizado por eles, explicando que como nos trabalhos realizados pela Roberta, o deles também se apropriou do espaço, mas que essa apropriação seria momentânea, sendo esta uma característica da Arte Contemporânea, onde algo é produzido naquele momento com uma intenção, depois ele pode ser montado em outro lugar de uma maneira diferente. Solicitei que cada equipe falasse um pouco sobre o seu trabalho. O grupo dos recipientes de plástico disse que buscou misturar as cores para não ficar tudo igual, o grupo das latas disse que buscou fazer um sino, o grupo do celofane reatou que a ideia inicial era fazer um cata-vento só que eles não conseguiram, então eles fizeram as três flores, e que no começo eles não tinham gostado do material, mas que ao final eles gostaram do resultado. O grupo dos balões disse que queria produzir uma flor, mas que não deu muito certo, então ressaltei que o objetivo não era criar uma figura, e sim novas formas, sendo que o local escolhido para eles (a janela) foi muito criativo, já o grupo do plástico enfatizou a questão de misturar os elementos. Ao final da conversa pedi que os alunos imaginassem que estavam novamente na exposição da Roberta, mas que agora no lugar das cinco obras delas estavam os cinco trabalhos realizados por eles, então os convidei a visitar a sala e observar os trabalhos dos colegas. Um aluno destaca que do seu lugar estava 53 vendo todas as obras, então me aproximei de uma obra e expliquei que o que eu estava vendo na lateral da obra ele não conseguia ver, por isso era necessário olhar de perto, assim estimulei-os a fazer este exercício de olhar, contemplando todos os trabalhos. 6.2 Cena 02: os sujeitos da 8ª série Minha pesquisa com a turma da 8ª série da E.E.B. Abílio César Borges teve início no dia primeiro de outubro de 2010 no período matutino. Esta turma é formada por alunos entre 13 à 15 anos. É uma turma pequena e bastante introspectiva. Após breves apontamentos em sala de aula, sendo apresentada a proposta e encaminhadas as autorizações de pesquisa realizamos a visita à exposição da artista Roberta Tassinari acompanhados da professora titular de Arte da turma. A exemplo da quarta série, fomos recepcionados pela coordenadora da Fundação Cultural que explicou aos alunos um pouco sobre a história e as funções do local, e em seguida os encaminhou para a galeria de arte. Os alunos foram bastante observadores, contemplando as obras com calma e introspecção, trocando impressões uns com os outros. Houve estranhamento no material encontrado nos trabalhos de Roberta, por serem materiais de uso cotidiano. Dentro do trabalho “Croma” os alunos percorreram em volta das bóias, buscando compreender a composição do mesmo. Pude perceber que os alunos pelo fato de não estarem acostumados a visitar espaços como este, sentiram-se um pouco deslocados ao percorrerem as salas onde se encontravam as obras. Diante da obra amarela um grupo de alunos buscou descobrir os materiais que a compunham. Este fato me chamou muito a atenção, pois ocorreu repetidas vezes, onde alguns alunos observavam individualmente as obras, mas a maioria observava em grupos e trocavam ideias diante dela. Depois da visitação demos início ao diálogo com a artista Roberta Tassinari. A professora da turma então comentou que: “eles estão acostumados a ver artistas como Van Gogh, Picasso, Monet, Tarsila, Portinari nos livros, então nada 54 melhor do que vocês na Arte Contemporânea poderem estar de frente com a artista”. Aqui cabe o questionamento sobre o conteúdo de arte trabalhado em sala de aula, do por que se prioriza a arte universal e acaba se deixando de lado a arte regional, tão rica e tão próxima a nós. O aluno precisa sim ter conhecimentos dos artistas ditos consagrados, mas também se faz necessária a compreensão do contexto ao qual ele está inserido, contexto este em que os artistas locais fazem parte. Roberta iniciou sua fala dizendo que era muito bom eles já conhecerem os artistas citados pela professora, pois são uma referência muito importante para entendermos o que temos hoje na Arte Contemporânea. E que em sua exposição não haviam fotografias, nem esculturas, nem quadros, mas haviam pinturas, sendo elaboradas como se fossem pinturas em três dimensões e que se configuram no ambiente onde são montadas, a partir da primeira concepção realizada em seu ateliê. A artista seguiu estabelecendo uma comparação falando que na pintura tradicional existe a linha e então apontou as linhas existentes na obra de tons de azul, também dando destaque a sombra produzida na obra. Pediu para que a luz fosse apagada, e enfatizou que sem a luz a obra não está pronta, e quando acesa há uma diferença muito grande, sendo o trabalho composto por toda essa configuração no espaço. A presença das cores, relacionadas com a pintura, dando ênfase as tonalidades de azul que compôs com os objetos também foram enfatizados no diálogo. Neste momento a professora titular interferiu comentando sobre a questão de comprar uma obra dessas para ter em casa, de como é difícil fazer esta relação de que pelo fato da artista utilizar objetos comuns ao dia-a-dia, o trabalho dela também é uma obra. Ela também comentou que o artista cria a obra, e depois define se ela poderá ser vendida ou somente direciona à exposições, entrando na curiosidade e na dificuldade de estabelecer valores das obras na Arte Contemporânea e que nem todas as pessoas tem a cultura de adquirir obras. Necessitamos refletir que os professores também são agentes de cultura, pois se a arte for vista na escola como algo intocável, pertencente somente as elites, é assim que os alunos irão relacioná-la. Não penso que devemos cultivar compradores, mas sim apreciadores da arte. Por isso se faz tão necessário esse contato com diferentes experiências artísticas, para que a arte cada vez mais possa ser compreendida como parte integrante de nossas vidas. De um modo geral 55 estamos presos a gostar daquilo que combina com o sofá da sala, que poderá fazer parte de nossa decoração, mas a arte vai muito além disso. A Arte Contemporânea não tem o compromisso com o belo e com o harmônico, ela quer explorar os mais variados elementos e construir novas reflexões. Um aluno indagou: “o que significa as bóias ali?”, e então nos dirigimos até o trabalho. Roberta explicou que: “significam um campo de cor, sendo um espaço que tem dentro a cor de alguma forma”. Falou sobre como a cor estava presente naquele ambiente, sendo influenciada pela luz artificial e pela luminosidade do dia, onde a cor se expande, sai dos objetos e toma o ambiente, que favorece este processo por ser um ambiente claro, sendo estas bóias como um cubo, que ao invés ter sido posto como pronto e acabado foi construído através deste único elemento que são as bóias, sendo elas de três tons e três densidades diferentes, formando assim outras tonalidades através das sobreposições. A luz do ambiente foi apagada pra que os alunos pudessem perceber essas diferenças, onde então ressaltei que com a luz apagada a cor se fecha e quando acesa ela se expande, sendo então a luz parte integrante da obra, assim como os fios de nylon que as sustentam. Roberta diante deste mesmo trabalho falou sobre a perfomance do artista, dizendo que o trabalho não vem pronto para a exposição. As bóias vêm vazias e precisam ser enchidas e montadas no espaço e afirmando que “toda vez que ele acontece, porque ele só acontece aqui mesmo no espaço”, ele precisa ser montado novamente e desmontado depois que acaba a exposição, então o trabalho não existe mais até que seja montado de novo num outro espaço. O transitório é marca da Arte Contemporânea, muitos trabalhos existem só num determinado momento, como é o caso da performance, algo que acontece somente uma vez, podendo se repetir, mas que sempre será diferente da anterior. O artista contemporâneo se apropria de diferentes elementos para compor sua obra e do próprio espaço. O ambiente, a parede, o chão, não são neutros a obra, fazem parte dela. Assim se torna necessário o olhar que ultrapassa a matéria e que busca compreender todo o contexto onde ela está situada. Cocchiarale (2006, p. 38) nos diz que: A questão da unidade no mundo contemporâneo, é uma coisa que se dá na chegada e não na origem. Ao mesmo tempo, os nossos fragmentos internos adquiriram autonomia e abriram outras possibilidades de invenção e criação por conexões, como nunca a humanidade teve anteriormente: a 56 possibilidade de celebrar a complexidade da superfície. Tudo hoje em dia é articulado no mundo. Na montagem do trabalho não necessariamente o artista o monta, há ajuda de terceiros que são orientados por ele, sendo esta uma característica da arte contemporânea, ou seja, o artista é quem domina a ideia, a criação do trabalho e não sua execução. Roberta ressaltou que também ela não poderia mandar instruções de como montar o trabalho, pois pelo fato de ser uma pintura a presença dela era importante para compor a obra, no caso pintar do jeito que ela pensou e acompanhar como ele ficará configurado no final de sua montagem. Essa presença caracteriza então a performance do artista perante seu trabalho, sendo o corpo do artista em ação fazendo algum trabalho, mas que o objetivo não era a montagem, pois se não ele precisaria estar em constante montagem para que o público acompanhasse. Desta forma o público tem contado com o resultado dessa performatividade realizada pela Roberta. Depois os alunos se dirigiram à obra composta por tons de amarelo, onde Roberta frisou as características de seus trabalhos. Os celofanes suspensos sobrepostos eram como várias pinceladas num quadro, como se fossem demãos de tinta. A artista explicou como foi realizada a montagem deste trabalho, que também caracteriza a performatividade. Uma aluna a indagou: “tu já tinha a ideia pra fazer ou tu veio e fez?”, Roberta respondeu que já tinha e explicou que os trabalhos dela são assim, pois quando ela quer expô-los precisa mandar imagens dos trabalhos para que eles possam ser selecionados para serem expostos na galeria. No entanto o trabalho pode mudar um pouco para dialogar melhor com o espaço ou se adequar a arquitetura, ao ser desmontado e montando novamente, mas a estrutura será basicamente aquela. Um aluno ainda perguntou: “qual das obras deu mais dificuldade para fazer?”, Roberta citou a obra amarela por ser grande e a esverdeada que mesmo sendo pequena dificulta pelo fato de os elementos estarem soltos nela e assim chegar numa configuração estável. Os alunos desta turma foram mais introspectivos em relação a turma da 4ª série, a professora titular muitas vezes produziu falas tentando instigá-los. Ela também tentou cobrir a falta de repertório deles, reforçando explicações. Na 4ª série houve um olhar mais curioso, já o desta turma foi mais acomodado, diante do estranhamento eles preferiram o guardar para si, ao invés de questioná-lo. Estou 57 ciente de que nesse primeiro contato os alunos pudessem ter essa reação, mas sei que também é desta experiência que os alunos podem se abrir a novos saberes, com certeza algo os incomodou e os fez refletir, constituindo-se em uma aprendizagem estética. Pillar (2003, p. 74) nos diz que: O sentido vai ser dado pelo contexto e pelas informações que o leitor possui. Ao ver, estamos entrelaçando informações do contexto sociocultural, onde a situação ocorreu, e informações do leitor, seus conhecimentos, suas inferências, sua imaginação. Figura 14 – Alunos da 8ª série em visita a exposição “plástica” e em conversa com a artista Roberta Tassinari Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Voltei a me encontrar com os alunos da 8ª série no dia 7 de outubro de 2010 em suas aulas de artes (7h30 às 9h) para então realizarmos o trabalho com base na exposição da artista Roberta Tassinari. No primeiro momento conversamos sobre as impressões dos alunos em relação à visita. Os mesmos comentaram que não estavam habituados com a Arte Contemporânea e por isso não conseguiram compreender bem todos os trabalhos da artista. 58 Por isso acredito na necessidade em trabalhar a Arte Contemporânea em sala de aula. Pois o aluno necessita relacionar os conteúdos da arte universal com seu contexto, se não o conhecimento que eles adquirem será fragmentado. Percebo a dificuldade que os alunos têm em estabelecer relações, eles vêem uma obra e não conseguem ir além dela, ter um olhar mais aguçado, e isso só é adquirido através da experiência, do contato, da vivência. Ter o conhecimento sobre a arte universal é de fundamental importância para compreender a arte de nosso tempo. Mas o que percebo é a prática de conteúdos isolados, sem esta ligação. O aluno precisa reconhecer o que aprende em sua realidade, pois se não esse conhecimento não é válido. Ganzer (2005) nos fala sobre a importância de um trabalho educativo que alimente este novo olhar, onde possamos ir além de nossos referenciais e então compreender os processos e relações oferecidas. Com a mesma metodologia usada com a turma da 4ª série ofereci cinco caixas de presentes, e perguntei aos alunos com o que eles as relacionavam, então eles falaram cada cor das caixas dizendo quais obras elas representavam. Pedi que os alunos se reunissem em cinco grupos e distribui uma caixa de presente para cada um, orientando-os a abri-las após todos os grupos receberem a sua caixa. Houve surpresa ao se depararem com os materiais que se remetiam as obras de Roberta Tassinari. Na caixa amarela havia vários celofanes transparentes com diferentes tonalidades de vermelho, tecidos brancos e pretos e a imagem da obra em tons de amarelo da artista Roberta Tassinari. Na caixa roxa, vários recipientes de plástico em tamanhos e formas diversas e algumas roupas, além da imagem da obra em tons de roxo. Na caixa rosa balões de vários formatos, cores e tecidos, juntamente com a imagem da obra das bóias. Na caixa verde, plásticos de diferentes formas, além de roupas e a imagem da obra esverdeada. E na caixa azul havia latas, fios coloridos e tecidos diversos acompanhados da imagem da obra em tons de azul. Passada a agitação, expliquei que cada grupo deveria produzir com o material de cada caixa uma performance baseada na imagem da obra que recebeu, ou seja, que eles deveriam apresentar uma ação que no final resultasse em um objeto de arte em movimento. Deveriam se organizar para apresentar essa construção que seria apresentada num cenário montado com um fundo preto, podendo deixar algo pré-montado, ressaltando que o objetivo não era realizar uma 59 cópia das obras e sim uma criação inspirada nelas, que fosse algo novo, já que o material também não era o mesmo utilizado pela Roberta, e sim semelhante, criando então suas próprias obras, explorando a criatividade. Os grupos se mostraram bastante dispostos e conversavam bastante entre seus integrantes para definir o que seria produzido. Disponibilizei somente nylon e fita adesiva aos grupos. Figura 15 – Alunos da 8 ª série em processo de produção Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Passado o tempo pedi para que os alunos retornassem para a sala e conforme já havia explicado fomos a sala de informática assistir um vídeo de performance como exemplo, que não pode ser assistido no início do encontro pelo fato da sala estar sendo ocupada. No vídeo haviam ações com tintas que ao final deixavam uma mulher pintada com elas, assim expliquei que seria esse o intuito das performances que seriam apresentadas por eles. O primeiro grupo a se apresentar utilizou celofane e tecidos compondo uma roupa numa das integrantes. Porém a roupa já estava montada e eles somente explicaram a ideia que tiveram para a composição, inspirada nos tempos modernos, 60 dialogando com moda e estilo. Alertados pela falta de ação a integrante com a roupa desfilou diante do fundo preto. Figura 16 – Produção 8ª série: grupo 1 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora O segundo grupo que utilizou os balões e tecidos apresentou uma performance onde colocaram um tecido no chão e com os balões já cheios envoltos num outro tecido de tule vermelho segurado em cada extremidade por um integrante, anunciando que o nome da obra era “a cachoeira das cores” e deram inicio a soltura dos balões que estavam envoltos no tecido, com a queda formaram sua cachoeira. Figura 17 – Produção 8ª série: grupo 2 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Em seguida o grupo que utilizou os recipientes de plástico e roupas apresentou um personagem com uma camisa onde haviam pendurados alguns objetos, sendo que em um deles foi desenhado teclas para representar um telefone e explicado pelo mesmo aluno que este era um personagem que ilustrava o homem 61 do dia-a-dia, que ajuda sua mulher com as louças, apontando para os recipientes pendurados, que trabalhava no escritório, fingindo utilizar o telefone representado, e que anda para frente e para trás, realizando estes movimentos e se referindo ao cotidiano agitado de nossa sociedade. O grupo não utilizou todos os materiais disponibilizados e restringiu a apresentação num único integrante. Figura 18 – Produção 8ª série: grupo 3 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora O quarto grupo que utilizou plásticos e roupas realizou uma ação onde os integrantes separadamente dispuseram os elementos do fundo preto formando uma composição. Ao final os alunos tiveram dificuldade em expressar sua ideia, dizendo ser um abstrato, uma composição com cores, sendo chamada enfim de “a obra do silêncio”, se remendo a dificuldade em se expressar dos integrantes. Figura 19 – Produção 8ª série: grupo 4 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora 62 O último grupo também apresentou um personagem que na sua composição utilizou latas, fios coloridos e tecidos. O grupo relatou que ele era inspirado no futuro, mostrando o cinturão e explicando que haviam fios presos das mãos às pernas pelo fato dele ser agressivo, soltos somente na hora de agir. Figura 20 – Produção 8ª série: grupo 5 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Ao final das apresentações os alunos organizaram os materiais e então conversamos um pouco sobre este processo. Comentei com os alunos a questão da própria maneira com que nós observamos as obras da exposição, sendo obras que se olharmos somente de frente não iremos perceber toda a sua composição, e que assim elas nos convidam a nos mover, a olhar em torno delas. Conversamos sobre as performances apresentadas, comentado que em alguns grupos faltou a ação que caracteriza a performance e que não havia a necessidade de explicação como as realizadas com os personagens apresentados, esses personagens poderiam ter realizado uma performance, que ficou caracterizada nas obras “cachoeira das cores” e “obra do silêncio”. Também comentamos que na Arte Contemporânea não há necessidade de que tudo seja explicado e sim de que alguma forma a obra nos faça refletir. Pillar (2003, p. 79) nos diz que: “é importante lembrar, no entanto, que a marca maior das obras de Artes Plásticas é querer dizer o “indizível”, ou seja, não é um discurso verbal, é um diálogo entre formas, cores, espaços”. Muitas vezes o que ocorre é que limitamos nossa visão, por algo não fazer parte do nosso contexto acaba não nos agradando. 63 Expliquei que o trabalho que busquei realizar com eles foi de proporcionar uma experiência diferenciada que pudesse se somar ao repertório de cada um, ampliado olhares. Neste momento os alunos disseram que gostaram de fazer algo diferente e pude perceber que com o espaço de narrativa os alunos se sentiram livres para criar, se expressando de diferentes maneiras sobre as obras e a contemporaneidade, tendo como instrumento materiais diferenciados e um contexto novo proporcionado pela visita e pelo diálogo com a artista. Pois conforme nos coloca Pillar (2003, p. 72): “compreender o contexto dos materiais utilizados, das propostas, das pesquisas dos artistas é poder conceber a Arte não só como um fazer, mas também como uma forma de pensar em e sobre Arte”. 6.3 Cena 03: os sujeitos da 2ª série do ensino médio Em 30 de setembro de 2010, no período noturno, dei inicio a minha pesquisa com a turma da 2ª série do ensino médio da E.E.B. Abílio César Borges quando acompanhados da professora titular de Arte da turma realizamos a visita à exposição da artista Roberta Tassinari, sendo realizados primeiramente breves apontamentos em sala de aula sobre a proposta e encaminhadas as autorizações de pesquisa. A euforia da turma foi grande durante o caminho, os alunos estavam bem entusiasmados com a oportunidade de poder sair da escola. Esta turma é formada por alunos entre 15 à 18 anos, são agitados e conversam bastante. Poucos alunos já haviam visitado uma exposição de arte. Chegando ao local nos dirigimos diretamente para galeria de arte, e assim iniciamos a visitação. Neste momento o falatório foi intenso, os alunos se deparavam com as obras e realizavam diversos comentários e queriam logo realizar questionamentos, então ressaltei que este momento era para a observação e que depois eles teriam a oportunidade de conversar com a artista e realizar suas perguntas. Percebi que os alunos ficaram um pouco perdidos com o espaço, pelo fato de cada obra estar num ambiente diferente. Um aluno indagou se não haviam mais obras, remetendo-se ao vazio, conforme já discutido em análise anterior. Como a 64 artista já estava na exposição, alguns alunos não se intimidaram e já iniciaram o contato com ela. Na obra da bóias os alunos percorriam todo o ambiente, interagindo com a mesma e explorando todos os espaços, sendo que o laboratório foi o local que mais chamou a atenção dos alunos. Eles também dialogavam bastante com a sua professora titular. Buscaram ler as etiquetas com as descrições das obras e identificá-las com as formas visualizadas. Após a visitação nos reunimos para a conversa com a artista. Onde a coordenadora do local realizou a mediação, falando um pouco sobre a Fundação Cultural de Criciúma e sobre o espaço da galeria em que nos encontrávamos. Roberta iniciou sua fala comentando sobre a questão da exposição de Arte Contemporânea, onde não encontramos quadros, esculturas ou fotografias, e sim estes objetos incomuns. A artista comentou a disposição de seu nome e da exposição, do texto realizado sobre os trabalhos por uma crítica de arte e as etiquetas em cada ambiente se referindo as informações sobre os trabalhos. O diálogo inicial norteou ao entorno do número pequeno de trabalhos, Roberta explicou que há apenas um em cada ambiente devido ao fato da iluminação que produz sombras diferentes em cada trabalho, sendo então a parede e sombra nela parte de cada obra. Falou também que todas as obras ali presentes eram construídas como se fossem pinturas, onde ao invés dela pintar um quadro e fazer vários círculos rosas com tinta e pincel, usando três tons de rosa diferentes, ela pega os objetos prontos e coloca no espaço, sendo com uma pintura 3D, que migra do plano de bidimensional e vem para o espaço tridimensional, caracterizando assim uma instalação. Indagada sobre o que era dimensão a artista explicou que era o tamanho do trabalho e que alguns possuíam dimensões variáveis citando o trabalho “Croma”, afirmando que cada vez que ele é montado ele possui uma configuração diferente, e pelo fato da cor se expandir pela sala o trabalho acaba sendo todo aquele espaço, assim como o trabalho amarelo. Falou sobre a transparência presente em todos os trabalhos, que na pintura se chama veladura, que são camadas sobrepostas, formando assim a composição das obras, realizadas por objetos comuns ao nosso dia-a-dia. Caracterizando assim essas questões as suas produções. Um aluno então perguntou para a artista: “você estava pensando o que quando fez aquela obra?”, se referindo a obra “Croma”. Roberta respondeu: “é que 65 me interessa muito esses campos de cor, o rosa não é somente nas bóias, o nylon que está pendurado também é parte da obra, então o chão que forma um desenho também, a obra é a sala inteira, ... eu queria criar este campo de cor com objetos que expandissem a cor pra fora do objeto e tomassem o ambiente inteiro de cor, era isso que eu tinha vontade de fazer e aí eu encontrei essas bóias que tem três tipos de cor”, o mesmo aluno perguntou novamente: “levasse quanto tempo mais ou menos para fazer esse trabalho?”, ela então falou: “esse trabalho é bem interessante porque eu nunca monto ele sozinha ... a gente trás as bóias vazias, chega aqui no espaço, enche as bóias com bombas, e depois que as bóias estão todas cheias aí eu começo. Primeiro a gente faz uma trama no teto e começa do centro a colocar as bóias e assim vai dispondo o restante, ficando então um dia inteiro para montar o trabalho... então a gente pensa que é só chegar e pendurar um monte de bóias, não, tem uma elaboração pra que fique as bóias bem distribuídas... como se fosse um cubo de cor no meio da sala”. Outra aluna perguntou à Roberta: “as lâmpadas fazem parte da obra ou já é do espaço?”, ela respondeu que as lâmpadas eram do espaço, mas que a iluminação era fundamental para a obra, auxiliando para que o público consiga visualizar melhor a transparência que os trabalhos têm e para que a sombra que é projetada na parede se evidencie, sendo parte da obra. Neste contexto Roberta comentou que busca retirar as funções dos objetos, mas que o público costuma relacionar com o figurativo, e que para compreender os trabalhos era necessário deixar de lado isso e perceber as características dos elementos, suas tonalidades, que juntos formam uma pintura. Também falou que uma coisa é o que ela busca dizer com o trabalho e outra é o que cada um vai interpretar, conforme as suas vivências, sendo duas coisas diferentes onde uma complementa a outra. Um aluno relacionou as obras de Roberta com casa, pelos objetos utilizados, citando a mulher neste contexto. Mas então a artista reforçou explicando sobre a escolha destes objetos, que eram todos com formatos simples, para que sejam vistos apenas como formas geométricas. Pois se ela fosse utilizar objetos com formas mais definidas, como um sofá, o público faria uma relação maior ainda com o figurativo, citando o movimento Cubista que também se utilizou destas formas geométricas. 66 Ao final da conversa os alunos foram convidados pela professora titular a observar novamente os trabalhos com este novo olhar formado com a artista. Este exercício foi muito interessante, pois os alunos buscaram olhar além dos objetos, compondo as formas. Um aluno comentou que olhando de longe ele conseguia visualizar a pintura, imaginando uma tela ao redor da obra. Os alunos buscaram também perceber a transparência e as tonalidades que Roberta explorou. Os alunos voltaram entusiasmados e certamente com várias inquietações no pensamento. Já na escola solicitei que os alunos produzissem uma escrita falando sobre suas impressões diante da exposição e da fala com a artista para discutirmos no próximo encontro. Figura 21 – Alunos da 2ª série do ensino médio em visita a exposição “plástica” e em conversa com a artista Roberta Tassinari Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Encontrei-me novamente com a turma da 2ª série do ensino médio no dia 7 de outubro de 2010 (19h às 20h30). Pedi aos alunos as escritas solicitadas, sendo que apenas alguns alunos me entregaram. Conversamos sobre as impressões que os alunos tiveram sobre a exposição visitada e a conversa com a artista. Os alunos comentaram que esperavam mais obras, mas que acharam os trabalhos bem interessantes, sendo que o trabalho com as bóias rosas e o amarelo foram os que mais chamaram a atenção. Eles também relataram que o diálogo com a artista foi bastante importante para a compreensão dos seus trabalhos. Como nas outras turmas o que pude perceber é a necessidade de ampliação de repertório destes alunos, não há como buscar o entendimento deles, se desconhecem as possibilidades da Arte Contemporânea. Leite (2005, p. 42) nos fala que: “a apreciação de obras não é dom inato – nosso olhar é construído dia a dia e essas possibilidades de experiência estética fazem parte de nossa formação cultural”. 67 Uma aluna relatou a dificuldade em captar nos trabalhos tudo o que Roberta falou. Comentaram sobre a criatividade da artista, sobre as cores, a transparência e sobre a luz que produzia as sombras na parede. Uma aluna citou a obra amarela dizendo que: “se a gente olhasse na parede parecia que tinha outro plástico amarelo, só que não havia”, relatando sua impressão. Retomei com eles a pintura contemporânea que Roberta realiza, onde no lugar das tintas ela insere objetos com as características desejadas, comentando também sobre a instalação e sobre o fato que nem sempre é o próprio artista que executa sua obra, ou seja, ela pode apenas elaborá-la e solicitar que terceiros o auxiliem na produção dela. Neste momento interroguei os alunos se eles já tinham visitado alguma exposição de Arte Contemporânea, recebendo uma resposta negativa. A professora titular comentou que os conteúdos de Arte Contemporânea são trabalhados no final do ensino médio, tentando de certa forma justificar a falta de conhecimento deles. Na minha visão a Arte Contemporânea deve ganhar presença desde o início de nossa educação em arte. É necessário ir estabelecendo relações da arte universal com a contemporaneidade, pois assim o aluno pode ir produzindo conexões, compreendendo melhor todas as manifestações artísticas. Pois se o aluno tem somente conteúdos da historia da arte que não é do seu tempo, como o professor espera que ele chegue ao ensino médio e possa compreender a arte contemporânea, é necessário alimentar este olhar. Depois desta conversa encaminhei a atividade a ser realizada que seguiu a metodologia das produções realizadas com as turmas da 4ª e 8ª séries, distribuindo aos alunos as cinco caixas de presente. Os materiais eram semelhantes a turma da 4ª série, mas com um acréscimo, cada caixa continha um poema retirado do livro “As Cidades Invisíveis” de Ítalo Calvino. Expliquei que cada equipe deveria ler o seu poema e depois construir com os materiais recebidos um trabalho inspirado no poema e nas obras da Roberta, tendo como perspectiva a pintura contemporânea, a partir das relações de transparência, cor, luz e sombra. As equipes então iniciaram a leitura dos poemas e em seguida refletiram sobre o que produzir inspirado neles com os materiais disponíveis, notei que eles procuraram enfatizar as características das cidades de cada poema. Pedi aos alunos que pensassem num lugar na escola pra exporem seus trabalhos, sendo que as obras poderiam ficar expostas em separado ou em conjunto. Conforme os grupos 68 foram acabando suas produções eles se dirigiram em busca do espaço para expôlas. Figura 22 – Alunos da 2ª série do ensino médio em processo de produção Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Iniciamos então as apresentações dos trabalhos. O primeiro grupo que trabalhou com os celofanes realizou uma composição misturando as tonalidades de vermelho e escolheu a porta da sala para expô-lo. Eles contaram a história do seu poema e relacionaram sua produção com a representação que havia do sonho de uma cidade, através de um abstrato. Figura 23 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 1 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora O segundo grupo, dos recipientes de plástico buscou representar figurativamente a cidade de seu poema, compondo os prédios e casinhas citadas nele com os objetos, sendo que não foram utilizados todos os disponíveis, predominando os de cor verde. O local escolhido foi um banco do corredor da escola. 69 Figura 24 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 2 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora O terceiro grupo escolheu o galpão da escola para expor seu trabalho o deixando suspenso, sendo o material utilizado os plásticos e também a caixa em que eles se encontravam, mesmo após orientações sobre a limitação do material. Os integrantes falaram sobre a relação com o poema onde na cidade haviam brinquedos de parque de diversões de um lado e objetos de mármore em outro, e que em determinada época do ano a cidade era desmontada, restando somente o parque de diversões, que eles buscaram representar em sua produção utilizando as cores mais alegres apontando para os elementos que representavam o carrossel, a roda-gigante, entre outros, colocando ao fundo pedaços de plásticos representando o lixo. Figura 25 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 3 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora O quarto trabalho foi exposto numa parede que realiza a passagem do corredor para o galpão da escola e utilizou as latas e fios disponibilizados. O grupo 70 realizou a conexão das latas com os fios, sendo que seu poema contava a história de uma cidade que usava fios de diferentes cores que despendiam da relação entre as famílias para ligar uma casa na outra, quando os fios eram tantos e não havia mais como as pessoas transitarem pela cidade as casas foram desmontadas restando apenas os fios. O poema foi escolhido aleatoriamente, porém o grupo conseguiu explorar o contexto. Figura 26 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 4 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora O quinto grupo que utilizou os balões expôs seu trabalho suspenso no corredor próximo a entrada da escola e relataram que o seu poema falava sobre o planeta Terra. Os balões disponibilizados tinham cores diversas, porém o grupo selecionou somente os azuis, verdes e brancos, para representar a água, as árvores e os prédios, havendo um único balão amarelo representando o sol, que durante o dia dialoga com a construção constante da cidade e sua modernidade, e já na escuridão há a calma relatada no poema. Figura 27 – Produção 2ª série do ensino médio: grupo 5 Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora 71 Ao final desta proposta pude perceber que os alunos podem aprender e refletir muito com a Arte Contemporânea. Mas para que essa compreensão aconteça é necessário trabalhar o olhar crítico deles. É preciso haver um conhecimento baseado na percepção. Não podemos apenas ver uma obra e ela nos agradar ou não, temos que observá-la, inseri-la em nosso contexto, para que assim possamos produzir conhecimentos significativos a cada sujeito. 6.4 Além das discussões: uma proposta que dialoga com a pesquisa Para que esta pesquisa possa gerar por meio de suas discussões apontamentos também para soluções ao problema apresentado trago a proposta de uma oficina de arte onde a Arte Contemporânea esteja presente e que os alunos possam ter contato e vivenciar novas experiências. Visando a construção de olhares e a ampliação de repertórios segue em apêndice o projeto desenvolvido que dialoga com as questões desta pesquisa. Demo (2001, p. 16) nos fala que: Pesquisa não é ato isolado, intermitente, especial, mas atitude processual de investigação diante do desconhecido e dos limites que a natureza e a sociedade nos impõem. Faz parte de toda prática [...]. Faz parte do processo de informação, como instrumento essencial para a emancipação. 72 7 CENA FINAL: CRUZANDO OLHARES, EXPERIÊNCIAS E ENCONTROS A experiência é que abre meios para a construção de conhecimentos e isto ficou bastante evidente durante a realização desta pesquisa. O contato dos alunos da Escola de Educação Básica Abílio César Borges com as obras de Arte Contemporânea da artista Roberta Tassinari possibilitou a ampliação do olhar destes sujeitos. Isto ocorreu mediante a vivência e a produção dos alunos. O estranhamento esteve presente em vários momentos, mas acredito que a partir dele os alunos puderam realizar reflexões que contribuíram para sua formação. A Arte Contemporânea através do inusitado, do questionamento e da reflexão contribuiu para que olhares fossem ressignificados e novos olhares surgissem. Compreendo que os alunos se sentem perdidos diante das inúmeras possibilidades com as quais se constrói a Arte Contemporânea, mas também são essas possibilidades com as quais devemos trabalhar se desejamos formar sujeitos capazes de pensar e atuar sobre seu contexto. Ao trabalhar em minha metodologia com três turmas, de diferentes níveis de ensino, pude perceber diferenças e semelhanças existentes na compreensão e fruição da Arte Contemporânea. Em primeiro lugar ficou evidente que eles possuem um repertório desconhecido para a mesma. O estranhamento se revela em suas falas e a falta de compreensão se expressou em suas produções. A turma da 4ª série teve um olhar mais curioso, a 8ª série contou com a interferência da professora titular, e já a 2ª série do ensino médio produziu mais questionamentos. Porém mesmo com estas distinções o ponto em comum entre as turmas foi o estranhamento diante da Arte Contemporânea. O que ocorre na formação em arte destes sujeitos, de acordo com as narrativas reveladas nesta pesquisa é um conhecimento fragmentado, onde se perpetuam conteúdos sobre a arte universal sem uma relação com a contemporaneidade, onde o sujeito possa dar significado ao que vivencia. Isto se refletiu nas produções realizadas pelas três turmas, onde houve certa limitação em explorar as possibilidades do contexto e dos materiais disponibilizados. Os alunos por terem esta formação em arte fragmentada, têm dificuldade em estabelecer relações entre o que vivenciam e o que já vivenciaram 73 anteriormente. Desta forma os conhecimentos adquiridos neste momento não são totalmente somados aos conhecimentos já existentes, o que forma conhecimentos isolados, onde não há ampliação de repertório e sim acumulo de informações desconectadas. Por possuíram ainda este olhar tímido, a necessidade de explicação, de direção deste olhar se fez sempre presente. Durante a realização da proposta a artista foi bastante didática tendo em vista a necessidade de aprofundar conceitos desconhecidos pelas turmas. Desta forma os alunos não puderam ter um olhar totalmente livre, e sim direcionado, pois com a falta de repertório percebi que o olhar dos alunos era fugidio e evasivo durante muitos momentos. Este fator está relacionado diretamente com a questão de os alunos não estarem habituados a sair do ambiente escolar, freqüentar exposições, visitar museus, ir ao teatro. Entendo que há dificuldades para isto, mas também há acomodação. A falta destas experiências desfavorece a construção do olhar sensível. Pois uma coisa é conhecer por meio de livros e vídeos, outra é estar próximo, vivenciar, experimentar e saborear aquele conhecimento. Acredito que a experiência proporcionada aos alunos pode contribuir para a percepção dos mesmos. Estando ciente das limitações e da falta de repertório, minhas expectativas diante do olhar e da produção dos alunos foram repensadas. Neste único contato não podemos exigir o que ainda não foi construído de modo efetivo, mas tenho a convicção de que tudo o que foi visto, vivenciado e produzido contribui para o repertório artístico desses alunos. As impressões causadas diante da visita a exposição “Plástica” de Roberta Tassinari, contribui para que no futuro, em suas alunas de arte, os alunos possam ter um olhar mais aguçado e questionador diante da própria arte e da realidade, percebendo como sujeitos produtores e produzidos pela cultura. Porém, é necessário para que isto ocorra, que o professor estimule o olhar de seus alunos e proporcione o contato com variadas manifestações artísticas, que sejam significativas ao seu contexto. Na presença da arte universal nos currículos de arte, cabe-nos questionar esta linha européia difundida ao longo dos anos, onde há repetições de conteúdos e quase não se tem espaço para a Arte Contemporânea e para os artistas regionais. Ter conhecimento sobre a arte universal é fundamental para a compreensão da arte que possuímos hoje, porém este conhecimento precisa ser interligado, se não acaba sendo fragmentando e não significativo aos alunos. 74 Trabalhar com a Arte Contemporânea possibilita que os alunos compreendam o tempo ao qual eles atuam e fazem parte. Sendo assim, nesta pesquisa o foco principal se dirigiu a construção do olhar do aluno, que necessita ser repensada e expandida. Busquei trazer por meio desta experiência e seus aprofundamentos uma visão que contribua para a construção de olhar e para a ampliação de repertórios tanto dos educandos quanto dos educadores. Acredito desta forma que pude atingir o foco do meu problema de pesquisa, compreendendo o olhar e a fruição dos alunos diante das obras de Arte Contemporânea da artista Roberta Tassinari, bem como contemplar os objetivos propostos. Contudo finalizo essa etapa sem a perspectiva de apontar culpados, julgar ou mesmo solucionar todos os problemas que surgem durante a pesquisa. O importante é construirmos propostas tendo o aluno enquanto foco de construção e aprendizagem, ou seja, enquanto conteúdo essencial de arte. Desta forma parto do pressuposto que só “doamos aquilo que temos” e isso conota diretamente em nosso repertório estético uma vez que como produtores de cultura, somos responsáveis pela cultura e arte de nossa sociedade. 75 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Célia Maria de Castro. Concepções e práticas artísticas na escola. In: FERREIRA, Sueli. O ensino das artes: construindo caminhos. Campinas, SP: Papirus, 2001. p. 11-38. ARGOLO, Gabriela Salles. Olhares e saberes do encontro com a arte. 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(nº da Identidade), autorizo a acadêmica(a): Andressa Manfioleti Vitali, aluna da 8ª fase do Curso de Artes Visuais – Licenciatura da UNESC, a fazer uma pesquisa com os alunos das turmas 4ª série do turno vespertino (42), 8ª série do turno matutino (83) e 2ª série do ensino médio do turno noturno. Sei que a pesquisa trata sobre “COMO OS ALUNOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ABÍLIO CÉSAR BORGES OLHAM E FRUEM AS OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA ARTISTA PLÁSTICA ROBERTA TASSINARI?” e também sei que isso servirá para uma pesquisa de campo que reunirá informações para análise e reflexões referentes ao ensino da arte (foco na arte contemporânea) sendo parte integrante do Trabalho de Conclusão de Curso da referida acadêmica. Atenciosamente, _____________________________________ Assinatura da Diretora (com carimbo da Escola) Nova Veneza, 27 setembro de 2010. AUTORIZAÇÃO Eu, Roberta Tassinari, RG.................................................................(nº da Identidade), aceito participar de uma pesquisa que trata sobre “COMO OS ALUNOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ABÍLIO CÉSAR BORGES OLHAM E FRUEM AS OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA ARTISTA PLÁSTICA ROBERTA TASSINARI?” Autorizando assim, o uso de minhas falas e imagens para uso desta pesquisa. Atenciosamente, ______________________________________ Assinatura Nova Veneza, 28 de setembro de 2010. 81 AUTORIZAÇÃO Eu,........................................................................................................................ ..., que tenho...........anos de idade, aceito participar de uma pesquisa que busca saber “COMO OS ALUNOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ABÍLIO CÉSAR BORGES OLHAM E FRUEM AS OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA ARTISTA PLÁSTICA ROBERTA TASSINARI?” Autorizo assim a acadêmica Andressa Manfioleti Vitali, aluna do Curso de Artes Visuais – Licenciatura da Unesc a fazer uso de minhas respostas escritas e imagens em sua síntese sobre o processo de pesquisa em arte contemporânea na escola realizado com os alunos da nossa turma. Atenciosamente, ______________________________________ Assinatura do aluno Nova Veneza, 28 setembro de 2010 AUTORIZAÇÃO Eu,............................................................................................................(nome do pai ou da mãe), RG.................................................................(nº da Identidade), autorizo meu (minha) filho(a)...................................................................................(nome do(a) aluno(a)), a participar de uma pesquisa que trata sobre “COMO OS ALUNOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ABÍLIO CÉSAR BORGES OLHAM E FRUEM AS OBRAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA ARTISTA PLÁSTICA ROBERTA TASSINARI?” Autorizando assim, o uso de sua escritas e imagens para uso desta pesquisa. . Atenciosamente, ______________________________________ Assinatura Nova Veneza, 28 de setembro de 2010. 82 APÊNDICE B – Projeto de extensão UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS - LICENCIATURA ANDRESSA MANFIOLETI VITALI AMPLIAÇÃO DE REPERTÓRIOS: CONSTRUINDO OLHARES A PARTIR DE OFICINAS DE ARTE CONTEMPORÂNEA CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2010 83 PROJETO DE EXTENSÃO TÍTULO: Ampliação de repertórios: construindo olhares a partir de oficinas de Arte Contemporânea. EMENTA: Contato e vivências com a Arte Contemporânea. Ressignificações e construções de olhares. Reflexões sobre Arte Contemporânea e o contexto do sujeito. Ampliação de repertórios. JUSTIFICATIVA: Acreditando que é por meio do contato que o aluno amplia seu repertório e que pela reflexão torna esse conhecimento significativo ao seu contexto pretendo com este projeto promover o contato com as mais variadas manifestações de Arte Contemporânea, onde o aluno possa conhecê-las e experimentá-las e então construir novos olhares. Proporcionado este contato através de oficinas e posteriormente realizando visitas a museus, exposições, monumentos artísticos, históricos e assistindo uma peça teatral, para que este novo olhar possa ser ressignificado, buscarei realizar reflexões sobre o visto e vivenciado, para que esta experiência ganhe significado aos sujeitos participantes. OBJETIVO GERAL: Vivenciar e ampliar repertórios dentro da Arte Contemporânea a partir do contato e da reflexão sobre esta manifestação de arte. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: - Possibilitar o contato com diversas manifestações da Arte Contemporânea. - Ressignificar o olhar dos alunos estabelecendo relações da Arte Contemporânea com o seu contexto. - Ampliar repertórios dentro da arte e em especial da Arte Contemporânea. 84 METODOLOGIA: Encontros Horário Carga Proposta Horária 1º 08h às 12h 08h e das - Neste encontro será proporcionado um dia de arte, onde os alunos possam 13h às 17h entrar em contato com diversas manifestações de Arte Contemporânea. Serão oferecidas simultaneamente, diversas para públicos (crianças, jovens), contemplando: oficinas diferentes adolescentes e performance, instalação, vídeo art, artes plásticas e espaços de exposição. 2º 08h às 12h 08h - Após este contato realizaremos visitas e das a museus, exposições, monumentos 13h às 17h artísticos, históricos, e assistiremos uma peça teatral para que este novo olhar possa ser ressignificado. 3º 08h às 12h 04h - Este encontro será para o da troca de experiências, onde refletiremos sobre o processo vivenciado e no que esta proposta acrescentou em nossos repertórios. REFERÊNCIAS: COCCHIARALE, Fernando. Quem tem medo da arte contemporânea? Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Massangana, 2006 GANZER, Adriana Aparecida. Turbilhão de sentimentos e imaginações: as crianças vão ao museu, ou ao castelo... In: LEITE, Maria Isabel F. Pereira; OSTETTO, Luciana E. Museu, educação e cultura: encontros de crianças e professores com arte. Campinas, SP: Papirus, 2005. p. 85-92. 85 LEITE, Maria Isabel. Museus de arte: espaços de educação e cultura. In: LEITE, Maria Isabel F. Pereira; OSTETTO, Luciana E. Museu, educação e cultura: encontros de crianças e professores com arte. Campinas, SP: Papirus, 2005. p. 1954. LOPONTE, Luciana Gruppelli. Arte e metáforas contemporâneas para pensar infância e educação. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 13 n. 37, abril/2008. PILLAR, Analice Dutra. A educação do olhar no Ensino da Arte. In: BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. Inquietações e mudanças no ensino da arte. 2. ed São Paulo: Cortez, 2003. p. 71-82. PIMENTEL, Lucia Gouvêa. Formação de professoras: ensino de arte e tecnologias contemporâneas. In: OLIVEIRA, Marilda de Oliveira (Org.). Arte, Educação e Cultura. Santa Maria: UFSM, 2007. p. 289-291. O’DOHERTY, Brian. No interior do cubo branco: a Ideologia do Espaço da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 86 ANEXO 87 ANEXO A – Proposta elaborada para a execução dos espaços de narrativa. UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS LICENCIATURA - 8ª FASE DISCIPLINA: TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PROFESSOR ORIENTADOR: MARCELO FELDHAUS ACADÊMICA PESQUISADORA: ANDRESSA M. VITALI ESPAÇOS DE NARRATIVA 4ª série do ensino fundamental (turma 42) 30/09 (quinta-feira / tarde) – Antes de nos dirigirmos até a Fundação Cultural de Criciúma realizarei uma conversa com os alunos explicando do que se trata esta visita e sobre a própria exposição, falando um pouco sobre Arte Contemporânea. Assim, os alunos visitarão a exposição “Plástica” da artista Roberta Tassinari, podendo apreciar suas obras e somá-las ao seu repertório, dando seu próprio significado aquilo que vêem. Depois os alunos terão uma conversa com a artista podendo realizar questionamentos diversos e contemplando os seguintes aspectos: cores, formas, materiais utilizados e composição da obra (instalação). Na volta conversaremos sobre as impressões dos alunos e também um pouco sobre o conceito de instalação. Horário previsto para visita e conversa: 14h30 às 16h 01/10 (sexta-feira/tarde – duas últimas aulas 15h30h às 17h) – Neste encontro retomaremos ao conceito de instalação, onde utilizarei imagens para exemplificá-la. Depois de os alunos obterem esta compreensão darei encaminhamento a produção, onde os alunos serão divididos em cinco grupos e cada grupo receberá uma caixa ornamentada para presente. Dentro da caixa serão colocados materiais que se remetam a obra de Roberta Tassinari. Uma caixa terá celofane (vários tons de uma cor, com transparência). Outra caixa terá vários recipientes de plástico em tamanhos 88 e formas diversas. A terceira caixa terá balões de vários formatos e cores. A quarta caixa terá plásticos de diferentes formas e cores. A quinta caixa terá latas e fios coloridos. Nas caixas também serão disponibilizados alguns materiais para que os alunos possam trabalhar, como nylon, tesouras sem ponta, etc. Os materiais presentes nas caixas deverão virar uma instalação. Os grupos poderão interagir entre si, trocando idéias e realizando discussões, pois ao final as próprias instalações interagirão uma com a outra. Os alunos escolherão a forma de como dispor os trabalhos realizados. Realizaremos então a visitação e uma discussão sobre o trabalho desenvolvido por eles e a produção da artista Roberta Tassinari. - Toda a experiência deve ser filmada e registrada para coleta e análise de dados. 2ª série do ensino médio 30/09 (quinta-feira/noite) – Antes de nos dirigirmos até a Fundação Cultural de Criciúma realizarei uma conversa com os alunos explicando do que se trata esta visita e sobre a própria exposição, falando um pouco sobre Arte Contemporânea. Então os alunos visitarão a exposição “Plástica” da artista Roberta Tassinari e terão uma conversa com a mesma podendo realizar questionamentos diversos e contemplando os seguintes aspectos: construção da obra de Arte Contemporânea, produção da artista, materiais utilizados e fruição das obras. Ao retornamos para a escola solicitarei que os alunos realizem uma escrita sobre suas impressões diante desta visita e sobre a fala da artista ao qual discutiremos no próximo encontro. Horário previsto para visita e conversa: 19h45h às 21h 07/10 (quinta-feira/noite – duas primeiras aulas 19h às 20h30) – Neste encontro realizaremos uma discussão com base nas escritas dos alunos e encaminharei a produção plástica. Para a produção os alunos serão divididos em cinco grupos e cada grupo receberá uma caixa ornamentada para presente. Dentro da caixa serão colocados materiais que se remetam a obra de Roberta Tassinari. Uma caixa terá celofane (vários tons de uma cor, com transparência) e um poema do livro “As 89 Cidades Invisíveis”. Outra caixa terá vários recipientes de plástico em tamanhos e formas diversas acompanhados de outro poema. A terceira caixa terá balões de vários formatos e cores juntamente com um poema. A quarta caixa terá plásticos de diferentes formas e cores, juntamente com um poema. A quinta caixa terá latas e fios coloridos acompanhados de um poema. Cada grupo escolherá uma caixa e será orientado a ler o poema. A partir da leitura farão a relação com o observado na visita realizada na exposição. Em seguida desenvolverão suas produções tendo como perspectiva a pintura contemporânea, a partir das relações de transparência, cor, luz e sombra. Concluída as obras os alunos serão motivados a pensar o espaço. Qual o espaço ideal para expor? Existe um espaço a ser descoberto na escola? As obras precisam se relacionar? Estar próximas? Como expor? Após definido estes pontos os grupos deverão expor, visitar e realizar uma reflexão final sobre a experiência. - Toda a experiência deve ser filmada e registrada para coleta e análise de dados. 8ª série do ensino fundamental (turma 83) 01/10 (sexta-feira/manhã) – Antes de nos dirigirmos até a Fundação Cultural de Criciúma realizarei uma conversa com os alunos explicando do que se trata esta visita e sobre a própria exposição, falando um pouco sobre Arte Contemporânea. Os alunos então visitarão a exposição “Plástica” da artista Roberta Tassinari e terão uma conversa com a mesma podendo realizar questionamentos diversos e contemplando os seguintes aspectos: performance da artista na construção de suas obras, materiais utilizados, intuito da artista e apropriação do expectador. Ao retornarmos para a escola conversarei com os alunos sobre a realizada e sobre a impressão deles, assim iniciarei uma explicação sobre o conceito de performance. Horário previsto para visita e conversa: 08h30h às 10h 07/10 (quinta-feira/manhã – 2 primeiras aulas 7h30 às 9h) – Neste encontro retomarei a reflexão sobre o que é performance na Arte Contemporânea, utilizando um pequeno vídeo como exemplo, tentando estabelecer relações com a exposição 90 visitada. Quem chegou perto das obras? Se abaixou? Olhou de longe, de perto? Todos olharam do mesmo jeito? Será que meu corpo interagiu de alguma forma com a obra de Roberta? Após, os alunos serão divididos em cinco grupos e cada grupo receberá uma caixa ornamentada para presente. Dentro da caixa serão colocados materiais que se remetam a obra de Roberta Tassinari e com os quais os alunos possam produzir uma performance baseada no trabalho da artista. Uma caixa terá celofane (vários tons de uma cor, com transparência), tecidos brancos e pretos e uma imagem da obra da artista Roberta Tassinari. Outra caixa terá vários recipientes de plástico em tamanhos e formas diversas e algumas roupas acompanhados de outra imagem de uma obra. A terceira caixa terá balões de vários formatos e cores e tecidos coloridos juntamente com a imagem de uma obra. A quarta caixa terá plásticos de diferentes formas e cores e roupas, juntamente com a imagem de uma obra. A quinta caixa terá latas, fios coloridos e tecidos diversos acompanhados de outra imagem de uma obra. A partir da imagem e dos materiais disponibilizados na caixa de presente os grupos deverão construir uma performance relâmpago, (15min de elaboração). Os alunos deverão criar uma performance envolvendo estes objetos e dialogando de alguma forma com a obra de Roberta. A apresentação ocorrerá em um espaço com tecidos preto de fundo para dar destaque a criação dos alunos. Ao final das apresentações realizaremos a reflexão e avaliação do processo. - Toda a experiência deve ser filmada e registrada para coleta e análise de dados.