ARTE CONTEMPORÂNEA: O NOVO QUE ASSUSTA
Lucia do Céu Cardoso Agostinetti*
Jardel Dias Cavalcanti**
RESUMO
Este artigo representa a finalização do trabalho produzido como exigência do
Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, que objetiva, como política
educacional, a formação continuada dos professores da rede pública estadual de
ensino do Paraná e encontra-se em processo de construção desde o início do ano de
2008. O objetivo deste trabalho teve como foco refletir e buscar alternativas para as
práticas pedagógicas, procurando desmistificar a arte contemporânea e levá-la ao
aluno a fim de que este possa interpretá-la de tal modo que passe a fazer sentido em
sua vida. Essa necessidade de procurar maiores conhecimentos a respeito da arte
contemporânea brasileira se justifica, pois, antes de 1950 o Brasil tinha uma arte
moderna com critérios bem definidos quanto a sua análise. Já a partir desse período o
expectador encontra certo receio em analisá-la, mas, talvez por estar próxima demais,
desempenha um papel de ‘novo’, e o espectador tende a vê-la como algo
desconhecido por ter uma educação deficiente em relação a este período. Apesar do
grande número de meios de comunicação de massa divulgando a arte atual, o público
ainda parece desnorteado diante da arte contemporânea, sentindo-se pouco
preparado para entendê-la. Esta proposta tem como meta a intervenção nas práticas
pedagógicas usadas em sala de aula, possibilitando, por meio da pesquisa-ação, um
encaminhamento metodológico que possibilite ao aluno um ensino de arte que tenha
significado na sua aprendizagem e que propicie uma formação mais consciente.
Palavras-chave: Arte Contemporânea. Público.
SUMMARY
This artic represents the end of the work produced due to exigence of the Education
Development Program - PDE, it has as focus, as education politics, the continuous
formation of the teachers state public system of Paraná and it is in making since
2008. The objective of this work had like focus to reflect and to look for alternatives
for the pedagogic practices, looking to get rid the contemporary art and carry it for the
student and he/she interprets it, making importance in his/her life. This need of look
more knowledges about the Brazilian contemporary art is justified, because, before
1950 Brazil had an modern art with determined rules. Since that period the spectator
finds with fears in analyse it, but, because it is next, executes a function of “new”, and
the spectator see it as unknown thing because it has a deficient education in that
period. Despite big quantity of the mass media divulging the actual art, the public
*Professora da Disciplina de Arte do Colégio Estadual Marechal Castelo Branco – Ens. Fund., Médio
e Normal do município de Primeiro de Maio, Estado do Paraná e Professora PDE.
**Professor da Universidade Estadual de Londrina, orientador PDE e Doutor em História da Arte pela
Unicamp.
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seems misguided in the presence of the contemporary art, feeling little prepared for
understand it. This proposal has as metal the intervention in the pedagogic practices
used in classroom, making possible, through the researsh, a methodological direction
that it makes possible to the student an art teaching that has meaning in his/her
learning and that it propitiates more conscious formation.
Word-key: Contemporary art. Public.
INTRODUÇÃO
O tema deste trabalho é bastante abrangente e compreender a arte
contemporânea e suas manifestações na sociedade brasileira. É comum professores
de arte ouvirem de seus alunos que “não gostam” da arte atual, ou que “não
conseguem entendê-la”, e quando se fala em arte, preferem Leonardo da Vinci,
Rafael Sanzio entre outros.
Percebe-se também insegurança por parte de alguns professores quando se
fala em trabalhar a arte contemporânea, por ser uma arte muito próxima, por faltar
informações, gerando, por isso, muitas incertezas que dificultam o trabalho em sala
de aula.
Dentro desse contexto surge à preocupação e a necessidade em conhecer e
compreender melhor a arte contemporânea e suas manifestações na sociedade
brasileira, para assim haver maior aceitação por parte de todos, deixando de ser
causa de rejeição e espanto quando abordada.
Primeiramente foi realizado um estudo sobre O Ensino da Arte e a Arte
contemporânea no Brasil onde foram consultadas fontes bibliográficas como Buoro,
Parsons e Barbosa. No segundo momento procurou-se diferenciar a arte moderna
da arte contemporânea no item Moderno ou Contemporâneo?, sendo consultadas
fontes bibliográficas como Cauquelim, Brito, Canongia, Archer, Bandeira entre
outros. Após foi realizada uma pesquisa das principais fontes bibliográficas
procurando relatar de forma simples o surgimento da arte contemporânea e seu
desenvolvimento no Brasil, com o título Arte Contemporânea Brasileira. A
preocupação com a postura do professor de arte em sala de aula foi abordada
consultando fontes de Chiovatto no item Ser professor de Arte Contemporânea.
Finalizando O Aluno de Arte e a Arte Contemporânea foi relatado a
experiência da aplicação do material pedagógico elaborado pelo professor PDE, Arte
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Contemporânea: o novo que assusta, junto a alunos do 3º ano do Ensino Médio.
1 O Ensino da Arte e a Arte contemporânea
O ensino da arte contemporânea dentro das escolas tem sido um problema
entre muitos professores, que encontram dificuldades em abordar este assunto,
talvez por falta de um olhar mais preparado para a tarefa.
Sendo a escola um espaço crítico que deve ajudar o aluno a compreender a
realidade e nela atuar, faz-se necessário um estudo mais aprofundado das
manifestações artísticas e seus modos de ver, perceber e interpretar.
Antes de 1950 o Brasil tinha uma arte moderna com critérios bem definidos
quanto à sua análise, o que levou os professores a ter certa dificuldade em relação
aos critérios que envolvem a arte contemporânea. O modo de ver a arte dos
professores brasileiros permaneceu fundamentada nos critérios da arte moderna,
que não são os mesmos que determinam a arte contemporânea. Assim, a partir
desse período o professor encontra certo receio em analisá-la e tem a tendência de
vê-la como algo desconhecido por ter uma educação deficiente em relação a este
período.
Buoro coloca que:
A imagem ocupa um espaço considerável no cotidiano do homem
contemporâneo. [...] Faz-se necessário uma tomada de consciência dessa
presença maciça, pois, pressionados pela grande quantidade de
informação, estabelecemos com as imagens relações visuais pouco
significativas. Espectadores passivos têm por habito consumir toda e
qualquer produção imagética, sem tempo para deter sobre ela um olhar
mais reflexivo, o qual a inclua e considere como texto visual e, portanto,
como linguagem significante. Somos submetidos às imagens, possuído por
elas, e sequer contamos com elementos para questionar esse intrincado
processo de enredamento e submissão. É imperativo investir numa prática
que transforme esses sujeitos em interlocutores competentes, envolvidos
em intenso e consistente diálogo com o mundo, estimulados para isso por
conexões e informações que circulam entre verbalidade e visualidade.
(BUORO, 2002, p.34).
Segundo Parsons, na visão modernista, as obras eram analisadas através da
compreensão de suas qualidades estéticas, que dependiam de ações da percepção.
Assim, para os arte-educadores, o objetivo era desenvolver o poder da percepção
estética.
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O ensino da arte dentro de uma concepção contemporânea começou a ser
construída no início da década de 60, a partir da reflexão de estudiosos americanos,
canadenses e europeus sobre as funções da arte na educação e sobre seus
métodos de ensino. No Brasil, estas novas idéias sobre ensino da arte a princípio
ficaram restritas a poucos círculos acadêmicos.
No ensino formal, o lançamento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em
1997 e 1998, contribuiu para divulgar a proposta contemporânea.
O ensino de arte contemporânea deve considerar a visão da arte em uma
perspectiva cultural, a valorização da bagagem cultural do educando, a ênfase no
respeito e no interesse por diferentes culturas, a proposta de desenvolver a
capacidade de leitura crítica e atenta de obras de arte e do mundo no qual está
inserida, a ampliação do conceito de criatividade.
O educador tem um papel fundamental dentro da concepção contemporânea
de arte-educação. Cabe a ele traduzir saberes em situações didáticas, que
consigam despertar nos educandos a vontade de apreender, interpretar, elucidar, e
aperfeiçoar-se. Para que estas situações didáticas tenham êxito é necessário
planejar, introduzir, animar, coordenar, conduzir a um fechamento. Todas estas
ações são guiadas por um conjunto de valores. Quando temos clareza sobre os
valores por trás de nossas decisões, podemos direcionar nossos esforços de modo
mais produtivo.
Na visão contemporânea, ao se analisar uma obra de arte, deve-se
considerar as qualidades estéticas e também o conhecimento do seu contexto.
Assim, uma obra de arte contemporânea, é mais um objeto simbólico do que
puramente estético, sendo que a interpretação depende em parte do que pode ser
visto em si e em parte do contexto cultural. A interação do que pode ser visto e um
conhecimento do contexto acontece na interpretação. Assim, a interpretação inclui a
percepção, mas vai além.
O ensino de arte contemporânea requer uma mudança em nossa concepção.
Devemos agora procurar desenvolver habilidades para interpretar obras de arte,
para fazer sentido delas. Ver a maneira como os estudantes a interpretam e não
mais somente como as percebem. A percepção está junto com a interpretação.
Na visão modernista há uma forma correta para se entender uma obra de
arte. Na visão contemporânea pode haver muitas formas significativas. Desde que
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existam diferentes contextos e práticas, pode haver muitas interpretações deles.
Cada interpretação pode se justificar em relação a um contexto e uma prática
diferente. O significado de artefatos artísticos e culturais é instável e, portanto,
vulnerável a deslocamentos e mudanças perceptivos e conceituais, e que a
compreensão crítica da experiência visual está vinculada a experiências subjetivas
incorporadas às práticas culturais.
A sociedade de hoje requer um ser reflexivo, e a arte contemporânea
favorece isso, pois pede uma interpretação ativa, pode unir diversos meios de
pensamento, relacionar-se a vários contextos e é suscetível a múltiplas
interpretações, promovendo o tipo de entendimento exigido por uma sociedade
pluralista, na qual grupos podem coexistir com diferentes histórias, valores e pontos
de vista.
O papel da arte-educação hoje é o de investigar as habilidades e meios pelos
quais os estudantes encontram significados em obras de arte, como eles relacionam
as obras de arte a vários contextos e consideram múltiplas interpretações delas.
Não podemos nos acomodar diante de uma realidade em que o convite é
para que sejamos meros consumidores e não atores; devemos questionar tudo
aquilo que se oferece como forma de pensamento único e estar dispostos a
continuar sempre aprendendo.
2 - Moderno ou Contemporâneo?
Estabelecer uma reflexão sobre moderno e contemporâneo faz-se necessário
para uma maior compreensão do período que está sendo abordado nesta proposta.
Sendo assim, segundo Cauquelin:
Para apreender a arte como contemporânea, precisamos estabelecer
certos critérios, distinções que isolarão o conjunto dito “contemporâneo” da
totalidade das produções artísticas. Contudo, esses critérios não podem ser
buscados apenas nos conteúdos das obras, em suas formas, suas
composições, no emprego deste ou daquele material, também não no fato
de pertencerem a este ou aquele movimento dito ou não de vanguarda.
(CAUQUELIN, 2005, p. 11, 12).
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Estabelecer uma estrutura que opere a separação entre o que é e o que não
é arte contemporânea se faz necessário, reunindo suas manifestações esparsas
segundo determinada ordem.
Para o senso comum “moderno” é algo novo, atual. Já no que se refere à arte,
“moderno” é o nome de um período da história da arte, que se inicia na Europa no
século XIX, com a crise do academicismo, podendo ser marcado pelas obras de
Manet, Olympia e Almoço na Relva, ou com o realismo de Gustavo Courbet e o
impressionismo que se seguiu. No Brasil, a arte moderna inicia-se com Anita Malfatti
e Lasar Segall que antecedem a Semana de Arte Moderna em 1922.
Cauquelin define moderno como:
Nós nos servimos então do termo moderno para qualificar certa forma
de arte que conquista seu lugar (ao mesmo tempo em que adota o nome)
por volta de 1860 e se prolonga até a intervenção do que chamamos de arte
contemporânea. Esse posicionamento histórico, ligado à denominação
‘moderno’, bastará por enquanto para sugerir os conteúdos nacionais (...): o
gosto pela novidade, a recusa do passado qualificado de acadêmico, a
posição ambivalente de uma arte ao mesmo tempo ‘da moda’ (efêmera) e
substancial (a eternidade). Assim situada, a arte moderna é característica
de um período econômico bem definido, o da era industrial, de seu
desenvolvimento, de seu resultado extremo em sociedade de consumo.
(CAUQUELIN, 2005. p. 27)
Assim definida a arte moderna como própria da era industrial, leva-nos a
pensar em arte contemporânea como parte da era tecnológica, da comunicação.
Este pode ser um argumento para situar a arte contemporânea. Mas se observamos
a arte ao nosso redor vemos que há uma mistura de diversos elementos, de valores
que estão sempre se fazendo presente na arte que nos deixa uma interrogação.
A origem da arte contemporânea esta na obra de Marcel Duchamp,
considerado por muitos como o pai da arte contemporânea, acreditava que a arte
não deve ser feita pelo artista e sim pensada intelectualmente por ele. Duchamp cria
os ready-mades dos mais variados objetos, interessando para ele o conceito da
obra, e não mais a obra em si. Desprezando ironicamente a estética clássica, pintou
bigodes na Mona Lisa, tentando abolir a obra de arte e o artista, que era visto como
excepcional, gênio, anulando a idéia de uma carreira artística. As obras acadêmicas
mudam de assunto, de tema, mas possuem a mesma “imagem” grega, obedecem a
um mesmo formato. Para Duchamp, não é mais necessário executar uma obra,
basta selecionar objetos já existentes e elevá-lo à categoria de arte. Lança a idéia
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que arte não é mais um fazer, mas apenas um conceito. Isso leva à negação de toda
tradição. O princípio de sua obra é a negação do sentido na própria obra. Ao
escolher um urinol, A Fonte, para expor no Salon des Independents de Paris em
1917, assinando como Mutt (nome de uma empresa que fabricava artigos
sanitários), anula os princípios estéticos na arte. Isso gerou um grande problema,
pois se tudo é arte, nada é arte. A obra de arte em si mesma não existe neste
contexto. Fator que abrirá o caminho para a arte participativa, como a performance e
a instalação, incluindo outros espaços, além dos museus e galerias. Idéia que busca
romper com o espectador passivo. O ready-made coloca a arte em questão: o que é
arte e o que não é arte?
A rejeição de sua obra A Fonte não impediu Duchamp de criar outros readymades escolhendo os objetos mais insignificantes e transformando-os, dando-lhes
um novo nome. Duchamp exerceu, dessa maneira, grande influência na evolução de
vanguarda artística no século XX. Sua obra está assim, na origem dos movimentos
conceituais e das instalações que marcariam a década de 1970, e também no
trabalho de artistas experimentais e os de meios não convencionais, influenciando
também o conceito da própria arte. Na década de 1960, em substituição ao conceito
de “obra-prima”, passamos a chamar de “objeto” o que os artistas propõem, pois o
termo obra já não suportava mais as transformações da arte do século XX.
Analisando a história da tradição do Cristianismo e do Capitalismo
percebemos que esse desejo de desconstrução ou negação da própria arte,
emplementado por Duchamp, vem refletir as idéias de alguns opositores que
denunciam a opressão desse sistema, propondo novos valores. Isso representou a
autonomia do artista e da arte, ou seja, os valores conformistas da arte acadêmica
não mais serviam por estarem agregados à tradição.
Marx - para ele, na ordem capitalista o trabalho é alienado.
Nietzsche - a religião é um mecanismo imaginado pelo homem que infantiliza
o próprio homem, levando-o a buscar forças sobrenaturais. Para ele o cristianismo é
um “remédio” para suportar a vida.
Freud - a civilização é organizada, porém infeliz, porque reprime seus
instintos. O homem passa a ser um animal neurótico e angustiado dentro de uma
sociedade repleta de normas e padrões de comportamento pré-estabelecidos.
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Foucault - critica o ordem pré-estabelecida que domestica o homem. Para ele
o modelo de escola existente molda o corpo e o espírito, criando “corpos dóceis”.
Darwin - este sinaliza para a manipulação da religião sobre as pessoas
desmistificando a Teoria Criacionista, seus dogmas e simbologias, ao desenvolver a
Teoria Evolucionista.
Os artistas, a partir do século XIX, vão enxergar a arte como repressora e
inibidora de forças inconscientes. Passam a ser subversivos e a negar esta ordem,
por essa razão transgridem (como os românticos), incorporando essa idéia na obra e
no próprio comportamento. A liberdade individual será o fator que mobilizará a arte.
Uma obra de arte é o reflexo de idéias individuais e não mais universais.
No Brasil, Ronaldo Brito aponta que é possível situar o neoconcretismo como
um corte, ponto de ruptura da arte moderna no país. Depois dele, ou melhor, com
ele estavam lançadas as bases de uma produção que Mario Pedrosa chamou de
arte pós-moderna, para distinguir da arte moderna pós-impressionista e pós-cubista.
Tanto pelas questões que levantou como pelo seu próprio modo de inserção na
instituição-arte, e pela maneira como evoluiu enquanto estratégia de grupo, o
neoconcretismo marcou um tipo de indagação nova e diferente no campo cultural
brasileiro no final dos anos 50.
3.Arte Contemporânea Brasileira
Por volta dos anos 50, o ambiente artístico brasileiro era dominado pela arte
figurativa, com Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Segall e Pancetti. Vicente do Rego
Monteiro e Cícero Dias foram os pioneiros brasileiros da abstração, mas, no entanto,
viviam em Paris. No Brasil, os introdutores da arte abstrata geométrica foram Arpard
Szenes e Axl Leskoschek, na década de 1940. A partir daí, algumas exposições
como do norte-americano Alexander Calder no Masp, e do suíço Max Bill dão
impulso a uma nova fase da arte brasileira.
A primeira Bienal realizada no Brasil ocorreu em 1951. Max Bill foi premiado
com a sua obra Unidade Tripartida, o que foi um grande incentivo para a arte
construtivista no Brasil. Após a Bienal, surgem dois grupos incentivados por essa
arte: em São Paulo, o Grupo Ruptura (1951), e no Rio de Janeiro, o Grupo Frente
(1954).
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O Grupo Ruptura reuniu artistas como Waldemar Cordeiro, Hermelindo
Fiaminghi, Judith Lausad, Luiz Sacilotto, Mauricio Nogueira Lima, Lothar Charoux e
Kasimir Fejer. Waldemar Cordeiro é quem vai assumir a liderança desse grupo, que
em 1952 lançam seu manifesto, no qual se posicionam contra a pintura naturalista e
ao não-figurativismo hedonista.
Buscam a renovação dos valores essenciais da arte visual, com uma obra de
caráter geométrico, negavam a intuição, proclamando ser a arte um tipo especial de
conhecimento.
No Rio de Janeiro, a arte concreta não foi tão radical, após a exposição
realizada em Petrópolis, em 1953, forma-se o Grupo Frente, que apesar de ser
formado por artistas abstrato-geométricos, valorizam a liberdade de expressão e
permitem o ingresso de artista de todas as linguagens, desde que não tivessem
compromisso com as gerações passadas. Em 1959, passam a constituir o núcleo
Grupo Neoconcreto.
A I Exposição de Arte Neoconcreta aconteceu no Museu de Arte Moderna do
Rio de Janeiro em 1959. Participaram desta Amílcar de Castro, Ferreira Gular, Franz
Weissman, Lygia Clark, Ligia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanúdis, os mesmo
que assinaram o Manifesto Neoconcreto.
Percebemos que o Concretismo e o Neoconcretismo seguiram curso diverso,
enquanto o Concretismo se voltava para a razão, indo contra a arte como meio de
expressão específica, informado por conhecimentos objetivos, os neoconcretos
optaram pelo caráter expressivo da arte, deslocam-se do eixo funcionalista e
mecânico ao redor do qual giravam as tendências construtivas, buscando uma saída
mais humanista. A sensibilização do trabalho de arte estava associada à intenção de
revitalizar o relacionamento do sujeito com o trabalho e incrementar a participação
do espectador no próprio processo de criação da obra.
Lygia Clark e Helio Oiticica contribuíram muito para o desenvolvimento da arte
contemporânea brasileira. Suas idéias expressas em suas obras apontam o caminho
que a arte deve seguir.
Lygia Clark lutava para eliminar a moldura, invadindo o espaço tridimensional
pelo espaço bidimensional do quadro. A obra Casulo (1959) - chapas de metal que
se dobram e saem de plano do quadro, porém ainda presas na parede, como telas já é uma preparação para os Bichos, que cria em 1960, onde materializa a pintura
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fora da tela. Os Bichos são sensoriais que devem ser manipulados pelo espectador,
introduzindo assim a participação deste na obra de arte.
Um outro projeto, Caminhando Lygia oferece um papel e uma tesoura para ao
espectador, e leva-o ao ato de cortar o papel. Assim o espectador não mais só
interage com a obra, mas cria a própria obra. É o trabalho de criar que se torna obra,
trabalho em processo, como a vida.
Lygia torna pública sua obra agora não mais em galerias e museus, mas nas
universidades, nas ruas e em seu próprio apartamento, onde realiza as seções com
os Objetos relacionais, trabalho que escolhe o corpo do espectador para realização.
Estimula o espectador buscando experiências estéticas e estésicas com materiais
banais, religando arte e vida. Este é sua ultima forma de trabalho.
Helio Oiticica conservou-se fiel aos veículos e suportes tradicionais da
pintura até o ano de 1959. Mas já nesses primeiros quadros via-se a tendência a
superar o plano bidimensional, pela utilização da cor com evidentes intenções
espaciais. Abandonando o quadro, adota o relevo, criando seus Núcleos e
Penetráveis,
placas
tridimensionais
suspensas
por
fios
manipuláveis
pelo
participador.
Os Bólides (1963), pequenas caixas ou peças de vidro, contem pigmentos
que podem ser manipulados, exigindo a mão, o gesto, o corpo, o toque, os sentidos,
as sensações do participante.
Os Parangolés, manifestações ambientais e coletivas, envolvendo capas,
barracas, estandartes e passistas da Mangueira.
Obra feita para dançar,
intercalando corpo, dança e som. O participador penetra nas obras e experimenta,
em cada uma delas, “o dentro” – sente-se nelas.
Em Éden (1969) é um ambiente onde o participador (ex-espectador) anda
com os pés descalços a na areia (molhada ou seca), onde sons e textos são
utilizados para que o espectador viva a situação “andarilhante”, no corpo, a
proposição do artista.
Tropicália (1967) é um ambiente, jardim com pássaros vivos entre plantas e
poemas-objetos, onde o espectador interage, sendo monitorado por um olho
televisivo.
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A obra Ready constructible (1978/79) Hélio se inspira nos ready-mades de
Marcel Duchamp e utiliza-se de materiais, em séries, já prontos para a realização da
obra.
A trajetória do trabalho de Clark e Oiticica é uma busca da ressensibilização
dos sentidos, proporcionando experiências estéticas e estésicas, criando materiais
procurando relacionar suas obras com o corpo humano, ligando arte e vida. O
espectador torna-se ativo e o artista um ser propositor de idéias.
As manifestações artísticas destes dois artistas neoconcretos influenciaram
no surgimento da arte conceitual no Brasil. Uma arte que opera não mais com
objetos ou formas, mas agora com idéias e conceitos, derrubando os princípios que
nortearam a obra de arte moderna.
Nos dizeres de Freire:
A Arte conceitual, de modo geral, opera na contramão dos princípios
que norteiam o que seja uma obra de arte e por isso representa um
momento tão significativo na história da arte contemporânea. Em vez da
permanência, a transitoriedade; a unicidade se esvai frente à
reprodutibilidade; a autoria se esfacela frente às poéticas da apropriação; a
função intelectual é determinante na recepção. (FREIRE, 2006. p. 8)
Essa forma de compreender a arte abala toda a estrutura do sistema de arte,
que caminha para além de formas, materiais ou técnicas.
A arte conceitual no Brasil dá seus primeiro passos, no ano de 1967, com a
exposição “Nova Objetividade” realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro, quando Hélio Oiticica divulga o catálogo da exposição, estabelecendo
alguns pontos que desenvolve dentro de um programa próprio, como: “1 – Vontade
construtiva geral; 2 – Tendência para o objeto ser negado e superado do quadro de
cavalete; 3 – Participações do espectador (corporal, tátil, visual, semântica etc.); 4 –
Abordagem e tomada de posição em relação a problemas políticos, sociais, éticos; 5
– Tendência para proposições coletivas e conseqüente abolição dos “ismos”
característicos da primeira metade do século XX na arte de hoje (tendência que
pode ser englobada no conceito de “arte pós-moderna” de Mário Pedrosa); 6 –
Ressurgimento e novas formulações do conceito de antiarte.
Com estes itens são lançados alguns princípios que vão nortear a arte
conceitual. A participação do público diante da obra cria um espectador que assume
uma posição crítica e atuante em relação à obra e por isso foi estratégico o
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revigoramento do binômio arte-política. A arte estava preocupada em efetuar a
crítica a um país tomado pela ditadura militar, instituída por meio do golpe militar em
1964.
O objeto da arte se desmaterializa e confunde-se com a vida cotidiana, passa
a ser um processo, idéia, conceito, que para seu registro, pois é uma obra
transitória, tem necessidade da utilização de recursos como filmes, vídeos,
fotografias. Surgem novos meios de produção artística para realização das poéticas,
como os happenings, ambientes, performances, instalações, videoarte, internet art,
arte eletrônica, arte postal.
Nos fins dos anos 1970, surge na Itália um movimento de volta aos suportes
tradicionais, chamado na primeira hora de pintura, mas consagrado com o nome de
Transvanguarda, cunhado pelo crítico Achille Bonito Oliva.
O retorno do prazer da pintura rompe com os limites de recursos que
caracterizava a década anterior. A pintura passa a ser concebida a partir de novos
pressupostos: uso abusivo das cores, grandes formatos, uso de objetos do cotidiano
adotados
como
suporte
pictórico
da
obra,
gestualidade,
figurativismo
e
expressionismo. Jovens pintores transitam constantemente entre a tradição da
história da arte e os fragmentos do mundo atual, realizando uma pintura híbrida e
contínua.
Segundo Costa, essa volta à pintura, aproveita o momento histórico, com a
ditadura militar começando a desmoronar, seus artistas, como Jorge Guinle e Beatriz
Milhares, liberam todas suas energias expressando nossa brasilidade por tanto
tempo reprimidas. A retomada a pintura foi a tendência dominante nos cinco
primeiros anos da década de 1980 e teve o impulso inicial de Luiz Áquila e dos
professores da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Em São
Paulo, vários de seus principais expoentes, como Leda Catunda, Mônica Nador, Ana
Maria Tavares, Leonilson e Sérgio Romangnolo, formaram-se na Fundação
Armando Álvares Penteado, onde foram alunos de Regina Silveira, Julio Plaza e
Nelson Leirner, herdando desses mestres uma inegável carga conceitual e inserindo
apropriações e texto em sua pinturas.
Os anos 1980 forma também o momento em que a prática curatorial
se estabeleceu no Brasil, quando Walter Zanini pela primeira vez
formalizou, na XVII Bienal de São Paulo, de 1983, o termo e a atuação do
curador. A história dessa década é, em parte, a historia de suas exposições.
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A mostra Da mancha à figura (MAM-RJ, 1982), reuniu trabalhos de Luiz
Áquila, Dudi Maia Rosa, Jorge Guinle, Ivald Granato e Charles Watson. Em
1984, foi realizada no Parque Lage a coletiva Como vai você, geração 80?,
com 123 artistas, entre eles, Leda Catunda, Leonilson e Daniel Senise. A
exposição, organizada por Márcio Doctors, tornou-se um marco desse
movimento, uma ocasião em que foram lançados muitos novos artistas.
(COSTA, 2006. p. 34).
Analisando a arte contemporãnea brasileira, percebe-se que sofreu várias
mudanças, tanto em recursos utilizados como nas linguagens. Hoje o artista pode
utilizar-se de qualquer tipo de material, técnica ou linguagem, ele não tem mais que
dizer "sou um pintor" ou "poeta" ou "performer" ou “dançarino", ele é simplesmente
"um artista", que habita todas as formas de arte. Essa é uma característica da arte
atual, o hibridismo, que é a impossibilidade de conceituar uma criação artística como
pertencente a uma única vertente, categoria ou cultura, decorrente do ilimitado
experimentalismo da arte contemporânea.
4 Ser professor de Arte Contemporânea
Trabalhar com a arte contemporânea exige do professor uma segurança em
relação ao conteúdo, que conheça o assunto de modo aprofundado para conduzir
discussões produtivas e orientar seus alunos as novas descobertas, pois um dos
aspectos do objeto de arte é que ele seja interpretativo, depende do ponto de vista
do observador, e é impossível o professor de arte abarcar todas as interpretações,
assim considera-se que cada conteúdo tem sua própria gama de informações e
conhecimentos potenciais, que ajudaram o professor a auxiliar seus alunos nos
processos de significação do conteúdo.
O professor deve ser “mediador” entre a arte e o aluno, para assim
transformar a sua prática docente.
Nos dizeres de Milene Chiovatto em seu artigo O Professor Mediador:
“O mediador não só apresenta um determinado conteúdo, mas
estimula seu valor significativo, ajustando-o a cada turma, ‘tramando’, com
eles, respostas produtivas e significantes. Assim, o grupo estará
efetivamente participando de seu processo educativo, ampliando
substancialmente sua posição de ‘depositários’ de conhecimentos e
informações”. (CHIOVATTO, 2000).
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Assim, o professor mediador é responsável por dosar as informações dos
alunos a fim de construir através da interação, um todo compreensível e imparcial. A
ação do professor é ativa na construção de tramas que articulem conteúdos, mundo,
vida, experiências (suas e dos alunos) num todo significante, considerando as
necessidades, respostas, explorando e aprofundando cada descoberta, articulando
todos os aspectos da situação. É ser ponte que interliga os extremos, interagindo,
participando, dando construindo um todo significativo.
Nas aulas de arte, um ponto essencial é a interpretação dos objetos artísticos.
Essa interpretação do objeto depende do ponto de vista do interpretador, das
relações por ele traçadas considerando suas vivências, a interpretação é pessoal,
cada aluno fará a sua. O professor mediador deve assim tornar o encontro com o
objeto (obra, técnica, conhecimento, consigo mesmo) potencial e articular os
conhecimentos derivados desse encontro, interligando-os numa construção coletiva.
Um aspecto importante na figura do professor mediador é o de dominar o
conhecimento, que se sinta seguro frente ao conteúdo a ser trabalhado, para assim
subsidiar o desenvolvimento das percepções, interpretações e reflexões sobre o
objeto artístico.
Segundo Chiovatto:
Um dos exemplos claros acontece frente a obras de arte
contemporânea, normalmente difíceis de aceitar pela maioria das pessoas.
Para aventurar-se no desbravar da arte contemporânea, é preciso que o
próprio professor mediador esteja consciente de que o que chamamos de
Arte não é um único fenômeno, mas um conjunto de variadas
manifestações em diferentes tempos e lugares do mundo, o que implica
falta de unicidade. Por ser também histórica, ou seja, acompanhar o
desenvolvimento do próprio homem, a arte muda tanto de aparência quanto
de função e compreensão por parte da sociedade; assim como mudam as
idéias de beleza a ela associadas.
Tentar explicar porque um bloco de gordura animal colocado sobre
uma cadeira é arte (como na obra de Joseph Beuys) soará um tanto ridículo
frente ao incômodo - para dizer pouco - que tal imagem oferece. Neste caso
é fundamental explorar a sensação de incômodo, ir fundo nos sentimentos e
sensações percebidos e, a partir disso, oferecer dados sobre a vida do
artista, seu momento histórico e sua relação com os materiais artísticos,
bem como sua filosofia em arte que trarão à obra mais sentido, e não
justificativa. (CHIOVATTO, 2000).
Além de dominar os conteúdos, o professor de arte deverá ser dinâmico,
procurando intervir sempre que necessário, potencializando o encontro com o
objeto, incorporando informações que façam sentidos, estimulando a reflexão,
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favorecendo a recriação do objeto, avançando assim em questionamentos estéticos,
juízos de valor, sistemas e critérios críticos de arte. Agindo assim, o aluno sentirá
confiança no sentido de discorrer sobre o assunto, sentindo que é importante sua
participação na construção coletiva do conhecimento, percebendo que sua postura
acrescenta significado ao saber da arte como um todo.
Finalizando, com as palavras de Chiovatto:
O professor mediador encontra-se no meio da ação de educar, e aí
age, garantindo a incorporação das percepções e interpretações individuais,
das informações e conhecimentos (dos conteúdos, seus e dos alunos), das
relações com o mundo em que vivemos, num todo articulado e significante,
que amalgama o conhecimento tornado útil ao fluxo dinâmico da vida.
(CHIOVATTO, 2000).
5 O Aluno de Arte e a Arte Contemporânea
A aplicação do Material Didático “Arte Contemporânea: o novo que assusta”
elaborado como uma das etapas do Programa de Desenvolvimento Educacional
PDE, foi realizado em turmas do 3º anos do Ensino Médio.
Iniciou o trabalho com um questionamento onde os alunos deveriam dizer o
que pensam sobre arte e o que é arte para eles, e estes deveriam ilustrar com uma
imagem que refletisse o seu pensamento. Alguns dos alunos acreditam que arte
pode ser a expressão de sentimentos, outros responderam ser o belo, presos ao
conceito de beleza, e alguns responderam que arte é conhecimento, cultura,
expressão, criatividade, talento, curtição.
Percebeu-se que os alunos já têm "critérios enraizados" - como a beleza, a
simetria, a harmonia - ou se baseiam em questões formais colocadas pela arte
moderna para analisarem a arte em geral. Por isso é imprescindível dar aos alunos
as possibilidades de trabalhar com as linguagens contemporâneas da Arte que são
as suas, com as quais nasceram e que mitificam, por desconhecê-las.
O
ensino
de Arte Contemporânea é mais uma das diversas possibilidades de desmistificar que
a arte só tem valor se tiver um ideal de beleza baseado nas artes de estilo clássico.
Prosseguindo foi realizado um breve relato sobre as mudanças ocorridas com
o conceito da arte: arte como obra-prima – acadêmica – obra como objeto –
moderna – onde foi abordado o artista Marcel Duchamp como pai da arte
16
contemporânea e sua obra e também alguns opositores da tradição e do
Cristianismo como Marx, Nietzsche, Freud e Darwin. Os alunos perceberam bem as
causas e as transformações ocorridas com a arte.
Foi trabalhado o Concretismo no Brasil, auge da Arte Moderna Brasileira, e
em seguida apresentado o Neoconcretismo, com os trabalhos de Lygia Clark e Helio
Oiticica.
Houve certa resistência em relação à obra de Oiticica, principalmente em
Parangolés. Os alunos tinham dificuldade em ver aquilo como arte (foi apresentado
um filme do Arte na Escola: H.O supra-sensorial). Houve grandes questionamentos
e debates sobre essa obra e os alunos aos poucos foram compreendendo,
aceitando, passando a obra a ter significado para eles.
Foi muito importante essa etapa do trabalho, pois os alunos passaram a
compreender mais o papel do artista, do espectador, e o espaço da obra de arte
passando a compreender melhor as transformações ocorridas na arte. No contato
com a obra, a mediação é extremamente relevante, mas esta deve ser provocativa,
"abrir caminhos" para a interpretação frente à obra, só assim a obra se revela.
O objeto estético não se revela no primeiro momento, ele exige um olhar
atento do espectador. O professor, com seus métodos, deve iniciar o aluno nesse
processo, para que então consiga fruir a obra de arte contemporânea e encontrar o
prazer diante dela.
Ao abordar a arte conceitual no Brasil, que coincide com a ditadura militar e a
contingência lhe deu um sentido diferente revigorando o binômio arte-politica, houve
maior compreensão e aceitação por parte dos alunos. O momento histórico que o
Brasil vivia, grandes tensões e perseguições, exigia uma arte diferente, que não
opera mais com objetos ou formas, mas com idéias e conceitos, derrubando os
princípios que nortearam a obra de arte moderna.
Foram abordadas obras de artistas como Cildo Meireles e Arthur Barrio.
Artistas que arriscaram tudo, até a própria vida para criticar e denunciar esse
momento da história brasileira.
Finalizando a aplicação com a Geração 80, período em que o Brasil vive um
momento de grande importância para a arte brasileira, pode-se perceber pela sua
arte, reflexo do momento político que estava sendo vivido ou superado, já que se
trata da pós-ditadura. Seus artistas liberam toda suas energias expressando esse
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desejo de liberdade por tanto tempo reprimida. Essa liberdade está refletida na
produção cultural, não só nas artes plásticas, mas em outras linguagens. Na música,
com o surgimento das bandas brasileiras de rock, cantando em português, formadas
por jovens que buscam a identidade brasileira.
A Geração 80 traz de volta para a arte a prática da pintura e a valorização de
experimentação de novos materiais para a criação.
Foram abordados artistas como Nuno Ramos e Leda Catunda. Artistas
contemporâneos que apresentam uma poética nova, materiais inusitados atraindo
bastante à atenção dos alunos, que na sua maioria se perguntaram: Mas isto é arte?
E coube ao professor mostrar que arte não é enfeite, e sim conhecimento, profissão,
uma forma diferente da palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário e
também é conteúdo.
Também foi trabalhada a obra do artista Vik Muniz, o qual explora diferentes
linguagens artísticas em seu trabalho, sendo que a fotografia tem papel
fundamental, pois por meio dela registra as imagens de aparência realista que cria
desenhando com materiais inusitados como chocolate, açúcar, macarrão, fios de
arame, pó e outros materiais. A obra deste artista abre um leque infinito de idéias
para criação com o aluno, o que motivados e desafiados podem desenvolver um
séries de pesquisas de produção artística.
CONCLUSÃO
O ensino da arte e de qualquer outra disciplina só tem importância se tiver
como objetivo a transformação, que pode ser intelectual, moral, espiritual, cultural,
não importa. Desde que se aprenda algo relevante é muito motivador o resultado de
uma prática educacional onde há crescimento intelectual e da sensibilidade. Como o
grande pensador Heráclito descreveu sobre o valor da transformação. “Um homem
não entra no mesmo rio duas vezes. Da segunda vez não é o mesmo rio e nem o
mesmo homem”.
Trabalhar a Arte Contemporânea é enriquecedor, pois exige idéias novas, que
se relacionem com outras idéias, associações, aguça a curiosidade, exercita a
capacidade de imaginação e de indagação, pois ver uma obra de arte
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contemporânea requer que você se pergunte, se incomode. Exige que você conheça
a obra do artista, os materiais que ele usou as idéias que ele teve e até mesmo o
contexto em que realizou a obra.
A Arte Contemporânea estabele relações entre o mundo e a maneira como o
homem o percebe ao longo do tempo. Ajuda a construir um olhar cada vez mais
sensível e crítico para perceber como os elementos estéticos e artísticos trazem
significados diversos.
O grande desafio dos professores de arte contemporânea é desvincular o “eu
não entendo” do “eu não gosto”, encontrando significados juntos.
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