CENÁRIO TECNOLÓGICO DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO CEARÁ COELHO, Luiz Claudio Araújo – UECE [email protected] Eixo Temático: Comunicação e tecnologia Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo: A sociedade contemporânea é marcada pelo uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação. A edificação de condições para que os indivíduos possam desenvolver competências para buscar, selecionar e analisar as informações, matéria-prima na construção do conhecimento, constitui-se etapa imprescindível para o progresso de uma sociedade. A escola, desse modo, tem papel importante na formação dos seus partícipes para lidar com essas tecnologias. Considerando esses aspectos, esta pesquisa de caráter quali-quantitativo analisou os fatores que interferem nas condições de uso das tecnologias como recurso pedagógico nas escolas da rede de ensino do Estado do Ceará. Pode-se perceber que esses fatores se desdobram em três dimensões: a estrutura escolar, a formação docente e o clima organizacional. A base material compreende os aspectos relativos ao espaço físico e à infraestrutura material para que as tecnologias digitais sejam utilizadas na escola. A formação docente engloba desde aspectos ligados à disposição do professor para utilizar essas tecnologias até a formação específica para empregá-las. O contexto de influência compreende os fatores presentes no ambiente escolar que incentivam ou inibem utilização dos recursos digitais como ferramenta pedagógica. A análise das informações coletadas junto à Secretaria Estadual de Educação Básica do Estado do Ceará permite traçar um perfil inicial da dimensão estrutura escolar da rede estadual de ensino. A análise dos dados indica que é possível a integração das TIC ao ensino em 296 escolas, o que significa a cobertura de 46% das matrículas. Em 324 unidades de ensino não há computadores conectados à internet disponíveis para o trabalho docente. Ainda há 64 instituições estaduais desprovidas de recursos digitais. Embora não seja um cenário caracterizado pela oferta universal das tecnologias digitais, percebe-se a presença das TIC no ambiente escolar. Palavras-chave: Escola pública. Tecnologias digitais. Trabalho docente. Introdução A utilização educacional dos recursos digitais é um dos grandes desafios para os profissionais da educação no atual momento histórico. Os atuais dispositivos tecnológicos contribuem para as transformações sociais em curso, alterando o contexto econômico, político e social, interferindo inclusive na educação. 712 Professores e alunos vêem-se diante de novas demandas, elaboradas com o advento da sociedade da informação. O volume de informações disponíveis aumenta as exigências por competências para acessar, trabalhar, codificar, processar e re-significar as informações. Isso faz com que o trabalho docente se desenvolve em outra lógica, com recursos pedagógicos atuais, com posturas inovadoras e criativas, pois os professores dividem a atenção dos alunos com as possibilidades fornecidas pelas tecnologias de informação e comunicação. São realizadas pesquisas com o claro intento de compreender essa complexa temática. As abordagens variam desde a formação do professor para utilizar as TIC em sua prática pedagógica até os investimentos do Estado para disponibilizá-las à comunidade escolar. Desse modo, o presente artigo discute os fatores que influenciam a constituição de um cenário propício à utilização educacional das tecnologias de informação e comunicação nas escolas da rede oficial de ensino do Estado do Ceará. As discussões foram baseadas nas contribuições de Sampaio e Nespoli (2005), Biondi e Felício (2007) e Karsenti (2008). Contextualização Os recursos tecnológicos da contemporaneidade oferecem enorme volume de informações ao homem com fácil acesso e custo relativamente baixo. Não há como retroceder para um momento com quantidade menor de informações disponíveis, pois sua taxa de renovação cresce a cada segundo (CASTELLS, 2003). O avanço das tecnologias de informação e comunicação prossegue em ritmo crescente, com ampliação constante de seu raio de influência sobre todos os setores da sociedade do século XXI, acarretando mudanças permanentes, inclusive na educação. O Comitê Gestor da Internet no Brasil apresentou o relatório da pesquisa anual sobre o uso das TIC, que ocorre desde 2005 e está na terceira versão. Os resultados indicam que o número de usuários da internet atingiu a marca dos 45 milhões de brasileiros. Esse cenário desponta em meio a fatores socioeconômicos adversos. A renda e o grau de instrução da população constituem a principal barreira para redução da exclusão digital. Além disso, o estudo indica que 92% das 2.300 empresas brasileiras pesquisadas contam com alguma forma de conexão à internet e que habilidades genéricas em TIC foram exigidas como pré-requisito para contratação em 40% das empresas (BRASIL, 2008). Por conseguinte, a massificação de habilidades para utilização competente dos recursos digitais, o ajustamento igualitário nas condições de acesso à tecnologia e à cultura do 713 aprendizado permanente fazem parte das demandas da atual conjuntura mundial. A edificação de condições que permitam aos indivíduos desenvolverem competências para buscar, selecionar e analisar as informações, matéria-prima na construção do conhecimento, constituise etapa obrigatória para o progresso de qualquer sociedade. A participação da escola nesse contexto, como sugere Sampaio e Nespoli (2005), torna-se imprescindível: Um país desenvolvido não existe sem um povo desenvolvido e educado. A promoção do desenvolvimento humano, em suas múltiplas dimensões, passa, obrigatoriamente, pela oferta de uma educação de qualidade, acessível a todos e comprometida com as exigências do mundo atual. O desenvolvimento socioeconômico sustentável de uma nação não pode prescindir de uma educação que acompanhe e impulsione as mudanças e, ao mesmo tempo, se aproprie das tecnologias disponíveis – uma educação capaz de contribuir para a inclusão social e para a construção de um saber que dê conta da gigantesca tarefa de imprimir transformações necessárias para a inserção do País, de forma soberana e competitiva, no mercado mundial. (p. 121) A mudança no perfil dos sujeitos do ambiente escolar ocorre por meio do trabalho intencional dos professores, desenvolvido no espaço de cada sala de aula. Assim, é imperioso que a instituição educacional seja uma plataforma privilegiada na implementação de políticas públicas para formação de gestores da informação e não meros acumuladores de dados (MERCADO, 2004). Nesse sentido, a alfabetização científica, tecnológica e computacional desponta como estratégia curricular e pedagógica necessária e imprescindível para inclusão social no atual século, porque “a sociedade da informação globalizada é hoje uma realidade para uns e uma possibilidade factível para outros. Para o resto, é fonte de dominação e desigualdade” (SACRISTÁN, 2007, p. 34). A escola, portanto, pode ser espaço privilegiado para a redução dessas disparidades. A popularização do computador com acesso à internet descortina para escola um mundo instável e veloz, baseado no uso das tecnologias da informação e comunicação. O ambiente escolar, antes padronizado e organizado mediante uma hierarquia didática, exige um redesenho em que o formato matricial deve ser a configuração prevalecente. Por isso, como assevera Perrenoud (2000, p. 125), “a escola não pode ignorar o que se passa no mundo. Ora, as novas tecnologias da informação e da comunicação transformaram espetacularmente não só nossa maneira de comunicar, mas também de trabalhar, de decidir e de pensar”. Um fator preocupante dessa nova realidade se expressa pelo declínio da qualidade da educação, ao menos nos últimos anos (BIONDI; FELÍCIO, 2007). No acirramento da tensão 714 que se estabelece entre as dinâmicas escolares e as possibilidades dos recursos tecnológicos, a escola tem sido preterida. Contudo, como afirma Keski (2007, p. 43), “educação e tecnologias são indissociáveis”. Isso não significa que se deva tão somente integrar o computador e à internet ao currículo, mas mudanças substanciais devem ser promovidas na instituição escolar (Kenski, 2003, 2007). É uma questão que se estende à dimensão constitutiva da própria escola, pois Sabemos que a introdução desse recurso na educação deve ser acompanhada de uma sólida formação dos professores para que possam utilizá-lo de forma responsável e com potencialidade, e não apenas para transmitir informação, informatizando o processo tradicional de ensino existente, ou utilizando-os como máquinas divertidas e agradáveis para passar o tempo (ARAÚJO, 2004, p. 65) Nesse sentido, torna-se fácil entender os esforços de pesquisadores que se debruçam sobre esta temática com o claro intento de compreender os fatores que a compõe e seus mecanismos de interação. Os campos de investigação se estendem desde a formação do professor até os investimentos do Estado para disponibilizar as tecnologias digitais à comunidade escolar. É um tema complexo, permeado por avanços e retrocessos. Torna-se necessário, por conseguinte, investigar que fatores estruturam contextos favoráveis à utilização educacional das potencialidades dos recursos digitais. Itinerários da pesquisa Este texto pretende analisar os fatores que influenciam a constituição de um cenário propício à utilização educacional das tecnologias de informação e comunicação nas escolas da rede oficial de ensino do Estado do Ceará. Embora se reconheça o potencial educativo de outras tecnologias de informação e comunicação, como o rádio, a televisão, o dvd, o gravador, o celular, o ipod, a câmera digital, o projetor multimídia, o cinema, etc., neste trabalho, referese especificamente às recentes tecnologias digitais: o computador e a internet. O estudo tem caráter quali-quantitativo de cunho exploratório. Como apontam Gatti (2007) e Chizzoti (1998), é viável o emprego de dados quantitativos e qualitativos na pesquisa em educação. A partir das informações consideradas, podem-se classificar os fatores que interferem na formação de um quadro favorável à integração das TIC ao ensino em três dimensões: base 715 material, formação docente e contexto de influência. Area (2006) compreende a integração do computador e da internet ao ensino escolar a partir da interação dessas dimensões: O processo de mudança educativa em geral, e de uso pedagógico dos computadores em particular, é lento e gradual. Exige, em primeiro lugar, equipamentos e infraestrutura tecnológica (condição necessária, mas não suficiente) e, paralelamente, a formação dos professores, criação de equipes de apoio, produção de materiais, entre outras medidas destinadas a favorecer e estimular a inovação. (idem, p. 161) Dessa forma, a integração pedagógica dos recursos digitais é função dessas três dimensões, cuja interação engendra a pluralidade de experiências que se estendem desde o uso tradicional até as inovações didáticas, pautadas na formação e criatividade docentes. A dimensão base material compreende os aspectos relativos ao espaço físico e à infraestrutura física para que as tecnologias digitais possam ser utilizadas na escola e consiste na disponibilidade de computadores, periféricos, cabeamento lógico, programas, conexão à internet, dentre outros dispositivos informáticos. Essa dimensão pode ser aferida pelas seguintes evidências: laboratório de informática, conexão com a internet, quantidade de máquinas, programas de uso geral, programas de uso educacional, scanner, tipo de conexão, infra-estrutura de mobiliários, cabeamento lógico, além de outros aspectos. A base material não é suficiente por si só para promover o aprendizado necessário ao contexto histórico atual. Contudo, se essa dimensão estiver ausente, torna-se impossível aos docentes promoverem atividades empregando os recursos digitais. Segundo Sampaio e Nespoli (2005), disponibilizar cadeiras, giz e quadro-negro, suportes materiais presentes em todas as salas de aula, também não assegura a promoção da escolarização e do aprendizado dos alunos. Poder-se-ia afirmar que a base material é condição necessária, mas não suficiente para o uso das TIC como recurso pedagógico. Logo, a integração das TIC ao ensino se assenta na existência, na disponibilidade e na oferta desses recursos no ambiente escolar. A outra dimensão, denominada formação docente, engloba desde aspectos ligados à disposição do professor para utilizar os recursos digitais em sua prática até a formação específica para empregá-los. Essa dimensão pode ser evidenciada pela quantidade e qualidade da formação oferecida (carga horária, conteúdos, estratégias metodológicas, etc), pelos modos como as TIC são avaliadas e utilizadas no ambiente escolar, pelos mecanismos de aceitação docente, pela percepção dos professores quanto às vantagens e limites educacionais dos recursos digitais, dentre outros fatores. É nessa dimensão que a inovação didática pode ser 716 localizada porque depende diretamente da capacidade dos professores fazerem uso pedagógico desses instrumentos, fato que incide na formação docente, apesar de reconhecerse a influência de outros fatores que gravitam em torno dessa questão. A postura do professor diante do aparato tecnológico desempenha papel preponderante para o aproveitamento das potencialidades educacionais desses recursos. Nesse sentido, Karsenti (2008) assevera que mesmo um alto nível de tecnologia disponível na sala de aula não garante a qualidade nem a pertinência educativa do trabalho docente. As práticas tradicionais reduzem o emprego dos recursos digitais à pura sofisticação tecnológica, em nada contribuindo para tornar a aula mais atrativa, dinâmica e motivadora. Tecer essas considerações implica reconhecer, como o faz Pablos (2006, p. 73), que: As potencialidades educativas das redes informáticas obrigam a repensar muito seriamente a dimensão individual e coletiva dos processos de ensino-aprendizagem, os ritmos ou tempos de aprendizagem, as novas formas de estruturar a informação para a construção de conhecimento, as tarefas e as capacidades de professores e alunos, etc. As possibilidades de apoiar nesses recursos as práticas educativas integradoras, de uma perspectiva disciplinar, são evidentes. Mas não podemos esquecer que a tecnologia, em si mesma, não significa uma oferta pedagógica como tal. O que acontece é que sua validez educativa se sustenta no uso que os agentes educativos fazem dela. Assim, a formação pedagógica dos professores em TIC se converte em um dos fatores-chave para seu uso. Por fim, a dimensão contexto de influência compreende os fatores presentes no ambiente escolar que incentivam ou inibem a ação docente diante dos recursos digitais. Cabe ratificar que o foco perseguido neste trabalho se reporta a utilização dos recursos digitais como suporte pedagógico da prática docente no contexto da sala de aula. Em vista disso, os vestígios dessa dimensão podem ser aferidos pelas disposições inscritas no projeto pedagógico da escola, a forma com que a direção percebe o tema, a existência de influências dos pares, a reivindicação dos pais, a cobrança dos alunos, a percepção docente sobre a importância das TIC. Em suma, são aspectos de ordem subjetiva, que exercem alguma interferência sobre a decisão do professor em utilizar os recursos digitais em sua prática. Em razão das limitações de espaço, será apresentada neste artigo somente a discussão referente aos resultados do estudo da dimensão base material. 717 A dimensão base material: dados e resultados Os dados coletados junto à Secretaria Estadual de Educação Básica do Estado do Ceará referem-se à coleta do Censo Escolar 2006 e permitem traçar um perfil inicial da dimensão base material da rede estadual de ensino, que tem 694 escolas, distribuídas nos 184 municípios cearenses. As escolas foram agrupadas conforme a disponibilização dos recursos digitais, ou seja, segundo a existência de computador, conexão à internet e laboratório de informática. Dessa forma, foi possível formar os seguintes grupos escolares: escola conectada à internet e com laboratório de informática, escola somente conectada à internet, escola somente com laboratório de informática, escola sem conexão e sem laboratório. As instituições do primeiro grupo foram denominadas escolas completas; a do segundo grupo, escolas conectadas; a do terceiro grupo, escolas com laboratório; e, por fim, as do quarto grupo, escolas sem TIC. Aproveitou-se a oportunidade para fazer um paralelo entre a situação das escolas do interior do Estado e as da Capital a partir dessa dimensão. A distribuição das escolas da rede estadual segundo os critérios estabelecidos confirma um cenário, em certa medida, favorável à inclusão digital dos alunos via ambiente escolar. No Gráfico 1, pode-se constatar que a associação de laboratório de informática com conexão à internet está presente em 296 escolas (43% da rede). É nesse tipo de escola que se espera encontrar maior número de evidências que possibilitem desvelar as relações entre os fatores que interferem na conformação de um ambiente propício ao uso das tecnologias digitais como recurso pedagógico. 718 Gráfico 1 – Distribuição das escolas cearenses segundo a presença das TIC Observa-se ainda que 324 escolas da rede estão conectadas à internet, embora ainda sejam desprovidas de laboratório de informática. Esse tipo de escola supera as demais formas de disposição das TIC nas escolas cearenses, por reunir o maior número de instituições escolares. Por sua vez, a distribuição das matrículas da rede estadual de ensino conforme a caracterização das escolas fortalece a perspectiva otimista quanto à possibilidade de inclusão digital dos alunos via ambiente escolar, pois a categoria escola completa atende 49% das matrículas da rede, visível no Gráfico 2. Em contrapartida, no grupo das escolas conectadas o número de matrículas atinge o valor de 46% do total. Nota-se ainda que cerca de 4% das matrículas ocorreram em escolas desprovidas de recursos digitais. Embora seja um valor mínimo, em termos absolutos representa um total de 64 escolas estaduais (9% do total), dispersas pelo Estado, que atendem a cerca de 28.500 alunos. Gráfico 2 – Distribuição das matrículas segundo a categorização das escolas cearenses Ao se restringir a análise da distribuição das matrículas na rede estadual de ensino às escolas localizadas no município de Fortaleza tem-se um quadro diferenciado. O contingente de 37,4% das matrículas na rede estadual é atendido nas escolas localizadas na Capital. Enquanto o Ceará apresenta um percentual de 43% de escolas completas, em Fortaleza esse valor atinge apenas 33% da rede, o que significa, considerando a base material, que somente 64 das escolas da Capital dispõem de condições favoráveis à utilização das tecnologias 719 digitais como recurso pedagógico. Há uma diferença da ordem de 10% na proporção de escolas completas instaladas na Capital se comparado com a totalidade de escolas pertencentes à rede. O cenário construído a partir da análise dos dados mostra que as TIC estão mais presentes nas escolas do interior, seja em termos percentuais ou absolutos. Neste ponto identifica-se como conflituosa a percepção segundo a qual as instituições localizadas no interior apresentam maior carência tecnológica. Considerando que a maior concentração populacional do Estado está em Fortaleza (30% da população cearense), depreende-se que as escolas da rede estadual situadas na Capital têm um déficit tecnológico mais intenso, pois representam apenas 28% das 694 instituições estaduais de ensino. A conjugação de laboratório de informática com acesso à internet se limita, nas escolas estaduais situadas em Fortaleza, a 33% do total, que atende a 39% das matrículas. Em escolas conectadas, chega a 59% das matrículas; e, em escolas sem TIC, são reduzidas: a apenas 2% (7 escolas). Apesar das tecnologias digitais estarem presentes em 630 escolas estaduais (90%), somente 43% conta com laboratório de informática e conexão com a internet (grupo das escolas completas), ou seja, apresentam a dimensão base material adequada à integração das TIC ao ensino. As escolas conectadas, que representam 47% do universo, utilizam as tecnologias digitais apenas como recurso de apoio à gestão, para elaboração de expedientes de sua rotina administrativa. Nessas instituições, para que haja viabilidade do trabalho docente com apoio dos recursos digitais é necessária a expansão da base material disponível aos professores e aos alunos. Uma vez que a categoria escola completa, para os contornos desta pesquisa, se refere àquelas que apresentam a dimensão base material com perfil adequado para o desenvolvimento de atividades escolares com emprego dos recursos digitais, evidencia-se o quanto as políticas públicas ainda devem avançar para a promoção da inclusão digital do aluno cearense. A redução da exclusão digital por meio do aparelhamento das escolas pode ainda favorecer a aprendizagem dos alunos, como evidenciam algumas pesquisas. O acesso ao computador, de acordo com Biondi e Felício (2007), tem impactos positivos nos resultados escolares. Ainda que façam ressalvas quanto ao uso do laboratório de informática, as autoras 720 concluem que as escolas conectadas à internet e com professores que integram o computador ao ensino apresentam maior eficiência no desempenho dos alunos. Considerações Finais Conforme os dados analisados, a base material das escolas da rede oficial de ensino do Estado do Ceará viabiliza, grosso modo, a utilização das tecnologias digitais como recurso pedagógico. Em certa medida, o trabalho pedagógico com o apoio desses recursos pode ser realizado em 296 escolas cearenses, sendo que apenas 64 estão localizadas em Fortaleza. Cabe ressaltar que essa dimensão por si só não é capaz de favorecer a integração das TIC ao ensino, mas, sem dúvida, constitui uma importante condição para que a prática docente possa se desenvolver com o auxílio dos recursos digitais. Nota-se a complexidade e amplitude do tema abordado, fato que abre um leque de possibilidades investigativas no intuito de compreender a questão do uso das tecnologias como suporte pedagógico da prática docente. Além disso, possibilita inaugurar vias para o planejamento, elaboração e efetivação de políticas e ações governamentais voltadas para a disponibilização de recursos materiais e formação de profissionais capazes de corroborar aprendizagens significativas por meio desses recursos. Reconhece-se que esta é uma das abordagens possíveis a este instigante objeto de estudo que tem imposto enormes desafios compreensivos e práticos no âmbito social e, sobretudo, educacional. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Maria Izabel Almeida de Melo. Uma abordagem sobre as tecnologias da informação e comunicação na formação do professor. In: MERCADO, Luís Paulo Leopoldo e KULLOK, Maísa Brandão Gomes (Org.). Formação de professores: política e profissionalização. Macéios: EDUFAL, 2004. AREA, Manuel. 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