AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DO ALGODÃO (Gossypium hirsitum) SUBMETIDO A DIFERENTES NÍVEIS DE COMPACTAÇÃO DO SOLO João Carlos de Souza Maia (UFMT / [email protected]), Aloísio Bianchini (UFMT), Geovani José da Silva (Escola Agrotécnica Federal de Cáceres), Michely Kim (UFMT), Geison Nicaretta (UFMT), César Augusto da Cunha (UFMT) RESUMO – Avaliou-se o crescimento radicular da cultura do algodão sob dois tipos de solos de cerrados: um Latossolo Vermelho escuro distrófico e um Latossolo Vermelho amarelo distrófico, textura arenosa. O experimento foi conduzido em ambiente protegido (casa de vegetação) e uma camada de solo foi preparada em cada vaso com seis níveis de compactação e cinco repetições totalizando sessenta amostras (vasos). Os tratamentos tiveram as seguintes densidades: 1,0 kg.dm-3; 1,1 kg.dm-3 ; 1,2 kg.dm-3 ; 1,3 kg.dm-3 ; 1,4 kg.dm-3 e 1,5 kg.dm-3 . A matéria seca de raízes analisada sob as condições de diferentes densidades no solo de textura argilosa, apresentou diferenças estatísticas a partir de valores de 1,2 kg.dm-3 . Para o solo arenoso não houve diferenças significativas. A matéria seca da parte aérea das plantas praticamente foi igual em todos os tratamentos. A umidade do solo de textura arenosa foi inferior à verificada para o solo de textura argilosa, apesar de ter recebido as mesmas quantidades de água. A resistência do solo mostrou-se diretamente proporcional às densidades estudadas. Para o solo arenoso, com o passar do tempo de cultivo, essa relação foi diminuída ou seja, os valores de resistência tornaram-se inferiores. Palavras-chave: compactação, resistência do solo a penetração, matéria seca DEVELOPMENT EVALUATION OF COTTON (Gossypium hirsutum) SUBMITTED TO DIFFERENT SOIL COMPACTION LEVELS ABSTRACT – Root growth was evaluated in cotton under two types of cerrado soils: a Rhodic Haplustox and a sandy-textured Typic Haplustox. The experiment was conducted under protected environment (greenhouse) and one soil layer was prepared per pot with six compaction levels and five replicates, totaling sixty samples (pots). The following densities were adopted in the treatments: 1.0 kg.dm-3; 1.1 kg.dm-3 ; 1.2 kg.dm-3 ; 1.3 kg.dm-3 ; 1.4 kg.dm-3 ; and 1.5 kg.dm-3 . Root dry matter, analyzed under different density conditions in the clayey-textured soil, showed statistical differences starting at the 1.2 kg.dm-3 value. There were no significant differences in the sandy soil. Dry matter in the aboveground part of plants was practically the same for all treatments. Moisture in the sandy-textured soil was lower than that verified for the clayey soil, in spite of the fact that both received the same amounts of water. Soil resistance was directly proportional to the densities studied. In the sandy soil, this relationship decreased with cultivation time, that is, the resistance values became lower. Key words: compaction, soil resistance to penetration, dry matter INTRODUÇÃO O diagnóstico da compactação dos solos agrícolas é fundamental para a escolha do modelo de mecanização agrícola. O mesmo deve proporcionar alta produtividade aliada à conservação dos recursos naturais. A cultura do algodão tem ocupado grandes áreas nas regiões dos cerrados mato-grossenses. Com a intensificação da mecanização, proporcionada por estas lavouras, supõe-se um aumento generalizado da densidade do solo e redução da porosidade deste. Isto limita a produtividade das lavouras e acelera a degradação ambiental, principalmente quando se refere aos solos cultivados. Segundo McKyes (1989), a determinação da densidade ótima do solo, para a máxima produção agrícola depende da combinação solo x planta x clima. Este ótimo varia muito, sendo a compactação ideal aquela que permite o máximo de conservação de umidade nas raízes das plantas nos períodos secos. Entretanto, deve haver uma drenagem mínima, o suficiente, para permitir a presença de oxigênio nas raízes durante os períodos úmidos. A caracterização da camada compactada e o comportamento da planta em relação à densidade e porosidade do solo são fundamentais, pois, segundo Lins e Silva (1994), o diagnóstico incorreto e pouco preciso da compactação, tem levado o agricultor a realizar, de forma indiscriminada, a operação de subsolagem, que se apresenta como uma das operações mais onerosas do preparo do solo. Por outro lado, Luchiari Junior et al (1985) afirmam que o cultivo de plantas em solos dos cerrados, provoca profundas alterações nas propriedades físicas destes solos, causando um aumento da densidade e diminuição no volume total de vazios, principalmente na macroporosidade; isto provoca uma sensível redução na permeabilidade do solo, um aumento na resistência mecânica ao crescimento das raízes, com conseqüente aumento dos riscos de erosão sob condições de chuvas de alta intensidade, comuns nos Cerrados. Estes fatores, em interação, provocam a formação deficiente do sistema radicular, que, dessa forma, explora menor volume de solo, tornando as plantas mais vulneráveis aos efeitos dos veranicos dos Cerrados. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi implantado em casa de vegetação localizada no viveiro experimental da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, cujas coordenadas foram de 15°3640,98”S e 56°3’53,58”W, na cidade de Cuiabá/MT. Coletou-se amostra da camada de 0-20 cm de um Latossolo vermelho escuro distrófico (ALVES, 1997), e um Latossolo vermelho amarelo distrófico, com volume aproximado de 2,0 m3 por solo. A umidade do solo foi determinada pelo método descrito em EMBRAPA (1997). Os solos foram secos ao ar e passados por peneira de 4 mm de malha e, em seguida, retiradas amostras para caracterização de seus atributos físicos e químicos, bem como para a realização de ensaio de proctor normal conforme NBR 7182 da ABNT. Em seguida, determinou-se a massa das porções do solo utilizando-se balança eletrônica com capacidade de 10 kg e precisão de 0,1 g e foram acondicionadas em sacos plásticos vedados, mantidos por 48 h, para melhor distribuição e homogeneização do teor de água em toda massa do solo. A densidade do solo da amostra compactada foi calculada pela razão entre o peso seco do solo e o volume do cilindro. A unidade experimental (vaso), representada, foi composta por um cilindro de PVC rígido, com diâmetro interno de 195 mm, constituído pela sobreposição de três anéis. O anel superior, com altura de 165 mm e encaixe fêmea de 5 mm em sua base; o anel intermediário, com altura de 60 mm e encaixe macho de 5 mm nas duas extremidades e o anel inferior, cuja altura foi de 145 mm, com encaixe fêmea de 5mm na extremidade superior e teve sua parte inferior fechada com tela anti-afídeos de malha de 1mm, afixada com anel de borracha e acabamento em fita adesiva. Metade dos anéis inferiores foi munida de sensores (Bloco de Bouyoucos) para monitorar o teor de água abaixo da camada compactada. Para se evitar o crescimento de raízes na região da interface solo/vaso, adotou-se o procedimento modificado de Alvarenga et al. (1996), Silva (1998) e Foloni (1999), em que as paredes internas dos anéis superior e central foram revestidas com uma camada de 2 mm de espessura de caulim, umedecido com água até tornar-se uma pasta cremosa e aplicada com pincel de cerdas macias. Os anéis superiores e inferiores foram preenchidos com as porções de amostra do solo com massa determinada, para que apresentassem densidade de 1,0 Kg.dm-3. Os anéis intermediários acomodaram as amostras de massas respectivas às camadas compactadas de densidades 1,0; 1,1; 1,2; 1,3; 1,4; e 1,5 Kg.dm-3. Uma prensa hidráulica marca Charlott modelo PH5T adaptada com êmbolo de aço de diâmetro com 190 mm foi utilizada para a compactação do solo no anel intermediário. As massas de solo com teor de água corrigido, destinadas ao anel intermediário, foram integralmente adicionadas a este anel, que teve sua capacidade inicial aumentada por um anel de expansão que lhe foi acoplado e, pela ação da prensa, foram compactadas até a acomodação no anel intermediário, obtendo-se, assim, as densidades desejadas. A amostra compactada teve as superfícies levemente escarificadas com estilete, para se eliminar o espelhamento provocado pela prensa. Por ocasião da montagem dos vasos, foram sobrepostos os anéis intermediários, previamente compactados, sobre os inferiores completamente preenchidos um pouco acima da base do encaixe, de modo a se evitar descontinuidade entre as camadas. Sobre os anéis intermediários acoplaram-se os superiores, que foram preenchidos com amostra de solo até a altura de 140 mm, reservando-se 20 mm para receber a água das irrigações. As conexões entre os três anéis foram vedadas com fita adesiva. As unidades experimentais, depois de montadas, se apresentavam com as seguintes características: camada superior com 140 mm de espessura e densidade de 1,0 Kg.dm-3, camada intermediária 60 mm de espessura e densidade conforme o tratamento de 1,0; 1,1; 1,2; 1,3; 1,4; e 1,5 Kg.dm-3, camada inferior com as mesmas características da superior, perfazendo um perfil total de 340 mm, sendo a altura bruta da unidade montada de 360 mm. Os anéis foram desconectados e com o auxílio da lâmina de um facão, procedeu-se ao corte das raízes que transpassaram de uma camada a outra, para a separação dos anéis da coluna. As raízes foram retiradas dos cilindros seccionados juntamente com o solo e separadas do solo por meio de lavagem em água corrente, sobre um conjunto de peneiras de aço inox, de malha de 1 mm e peneira de nylon de 120 mesh. Depois de separadas e limpas, foram conservadas em sacos plásticos, contendo solução de álcool a 30%, até a conclusão dos trabalhos de separação, quando se realizou o escorrimento da solução em peneira de nylon de 120 mesh e as raízes foram acondicionadas em sacos de papel, para secagem em estufa de circulação forçada a 75ºC por 72 horas. Sistematicamente, o desenvolvimento das plantas era registrado através de medidas como altura das plantas, tamanho e número de folhas, diâmetro do caule, consumo de água entre outros. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Tabela 1 apresenta os valores da quantidade de raízes em função dos diferentes tratamentos estudados. Observa-se que os tratamentos com menores densidades (solo textura argilosa) foram aqueles que apresentaram maiores valores de peso seco de raízes sendo que os tratamentos com densidades de 1,0 kg.dm-3, 1,1 kg.dm-3 e 1,2 kg.dm-3 não diferiram estatisticamente entre si, apresentando valores médios de 1,9; 1,6 e 1,5 g de matéria seca por vaso. Tabela 1. Quantidade de matéria seca (em gramas) obtida na camada central dos vasos em dois tipos de solos (textura argilosa e textura arenosa) cultivados com algodão Tratamentos Textura T1 T2 T3 T4 T5 T6 argilosa 1,9 a 1,6 a 1,5 a 1,1 b 0,9 b 1,0 b arenosa 1,0 a 1,2 a 1,0 a 1,1 a 1,2 a 1,2 a Valores seguidos da mesma letra entre os tratamentos, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Peso(g) Tratamentos cujas densidades foram superiores de 1,2 kg.dm-3 apresentaram valores médios inferiores, sendo considerados diferentes estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade. Silva (2004), avaliando a matéria seca de diversas culturas submetidas a diferentes níveis de compactação do solo, constatou que a matéria seca das raízes do algodoeiro tiveram o mesmo comportamento ou seja, diminuíram a medida que se aumentava a densidade do solo. Para o solo de textura arenosa, a quantidade de matéria seca foi praticamente igual em todos os tratamentos. 12 10 8 6 4 2 0 MSRT1 MSRT2 0.9 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 Densidade Figura 1. Matéria seca total de raízes em dois tipos de solo: textura argilosa (1) e textura arenosa (2) O tratamento que apresentou maior teor de matéria seca, nos dois tipos de solos estudados, foi o tratamento 5 que tinha como densidade do solo 1,4 km.dm-3 . Para os demais tratamentos, não foram encontradas diferenças estatísticas significativas. Altura (cm) 80 75 HP1 70 HP2 65 0.9 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 3 Densidade ( Kg/dm ) Figura 2. Altura de plantas de algodão, submetidas à diferentes níveis de densidade do solo: Latossolo Vermelho escuro distrófico (1) e Latossolo Vermelho amarelo distrófico, textura arenosa (2) A resistência do solo foi significativamente superior na camada central do solo, textura argilosa. Os maiores valores de resistência foram atribuídos aos tratamentos 6 e 5 cujos valores foram de 4,49 e 4,15 MPa, respectivamente. Pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, esses valores diferiram estatisticamente dos demais tratamentos. A partir dos dados obtidos, pode-se verificar que os tratamentos com densidades acima de 1,2 kg.dm-3 apresentaram valores de resistência do solo acima de 2,5 MPa ou seja, para a cultura do algodão, foi possível correlacionar densidade do solo e resistência, como dois atributos que influem no crescimento radicular da cultura e que estão diretamente associados. A Tabela 2 registra valores de resistência do solo à penetração em função de diferentes densidades estudadas. Tabela 2. Resistência do solo à penetração em dois tipos de solos: Latossolo Vermelho amarelo de textura argilosa e Latossolo Vermelho amarelo, textura arenosa. Tratamentos RSP T1 Superior 936.3 a Central 952.7 d Inferior 455.5 b SOLO TEXTURA ARENOSA T2 T3 T4 T5 T6 SOLO TEXTURA ARGILOSA 948.7 a 975.0 a 1278.2 a 1252.2 d 1783.5 c 2615.1 b 358.5 c 528.5 b 559.9 b 1368.3 a 4154.0 a 989.1 a 1484.2 a 4496.6 a 1123.7 a Superior 459.4 a 597.1 a 244.2 b 294.0 b 798.7 a 610.4 a Central Inferior 204.7 c 279.3 c 337.0 c 437.8 b 233.7 c 390.7 b 479.3 b 512.3 a 666.1 b 752.0 a 1023.0 a 577.6 a Valores seguidos da mesma letra entre os tratamentos, por camada e por tipo de solo, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. CONCLUSÕES Nas condições em que foi desenvolvido esse trabalho, pode-se concluir: 1. Para o Latossolo Vermelho Escuro distrófico, as densidades mais significativas em termos de produção de matéria seca de raízes foram: 1,0 kg.dm-3, 1,1 kg.dm-3 e 1,2 kg.dm-3 . O aumento da densidade produziu diminuição na quantidade de matéria seca das raízes; 2. Para o Latossolo Vermelho Amarelo distrófico, com textura arenosa, o aumento da densidade do solo não influenciou a produção de matéria seca de raízes; 3. A resistência do solo à penetração, após o desenvolvimento da cultura, foi completamente diferente nos dois solos estudados onde o solo argiloso registrou valores crescentes de resistência com o aumento da densidade e no solo arenoso esse crescimento foi muito inferior quando comparado ao solo argiloso; 4. Houve redução linear na altura das plantas para os dois tipos de solos estudados com o aumento da densidade do solo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVARENGA, R. C.; COSTA, L. M.; MOURA FILHO, W.; REGAZZI, A. J. Crescimento de leguminosas em camadas de solo compactadas artificialmente. Rev.. Bras. Ci. do Solo, v. 20, p. 319-26, 1996. ALVES, O. de A. 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