Meteoro quase atinge paraquedista em Oslo Por Hindemburg Melão Jr. www.saturnov.com Hoje tomei conhecimento de uma notícia que me pareceu duvidosa: https://br.esporteinterativo.yahoo.com/noticias/paraquedista-quase-%C3%A9-atingido-pormeteorito--veja-o-v%C3%ADdeo-170316944.html Então fiz alguns cálculos para verificar se a situação do vídeo é compatível com o que seria esperado de um meteoroide. A pressão atmosférica decresce com a altitude aproximadamente na proporção de P(h) =0.999874786h. Esta fórmula é muito acurada até 5 km de altitude, fornecendo resultados que diferem em menos de 0,29% do correto. Isso acontece porque ao longo de quase toda a troposfera a temperatura decresce quase linearmente com a altitude, em torno de –6,5°C a cada quilômetro. Quando chega à estratosfera, a temperatura quase se estabiliza e começa a subir lentamente até cerca de 20 km, depois vai acelerando o ritmo de aquecimento até cerca de 47 km, então continua aumentando, porém cada vez mais lentamente, até 49 km, e começa novamente a cair quase linearmente até cerca de 91 km, ao rito de –2,0° a cada quilômetro. Tentei modelar esta situação no Excel usando alguns pontos experimentais e um polinômio de ordem 6 (gráfico abaixo). A aderência aos dados ficou muito boa até 52 km de altitude, porém acima disso a modelagem requer um polinômio de ordem maior. Os pontos pretos representam dados experimentais das temperaturas nos pontos críticos de inflexão da curva. A curva é definida pelo polinômio: T(K) = 0.000000038888h6 – 0.000014353525h5 + 0.001515419577h4 – 0.070584833506h3 + 1.669817860238h2 – 19.559077564627h + 305.958082783967 Onde T(K) é a temperatura em Kelvin e h é a altitude em metros. Duas modelagens um pouco melhores, com seleção de pontos experimentais levemente distintas, podem ser feitas com polinômios de ordem 10, conforme os gráficos a seguir: T(K) = 288,172895884112 – 1,75320498170413h – 2,77251113674718h2 + 0,434421922609746h3 – 0,030114290033984h4 + 0,00116869370785473h5 – 0,0000272419196466519h6 + 7 8 0,000000388073776686083h – 0,0000000032973542173267h + 0,0000000000152915201908019h9 – 0,000000000000029641145133688h10 T(K) = 288,172071331152 – 1,95230771658749h – 2,69036067324651h2 + 0,422436761860418h3 – 0,0292334249283271h4 + 0,00113111698917646h5 – 0,0000262523793059255h6 + 7 8 9 0,000000371745176726973h – 0,0000000031329781326504h + 0,0000000000143692659301435 h – 10 0,0000000000000274323630825432h Os meteoroides que penetram na atmosfera terrestre iniciam o processo que leva à sua incineração pouco acima do limite de Kármán, que fica entre 80 e 120 km acima da superfície da Terra e geralmente é arredondado para 100 km. Acima de aproximadamente 90 km, a pressão atmosférica é 76.700 vezes menor do que ao nível do mar, ou 0,00001304 atm. Neste nível e acima, a atmosfera é tão diáfana que as moléculas dos gases que a constituem sofrem tão poucas colisões que sua velocidade média e, consequentemente, sua temperatura média, acabam sendo determinadas por sua massa molecular, fazendo com que os gases se agrupem em camadas, cada qual composta quase exclusivamente por um gás. A região acima desta faixa é chamada “heterosfera”, porque os gases não se misturam de forma homogênea, como acontece nas proximidades da superfície. O nitrogênio e o oxigênio estão entre os gases de maior massa molecular (entre os mais abundantes), por isso acabam se posicionando nas camadas mais baixas da heterosfera. Como o oxigênio é o comburente mais eficiente entre os gases predominantes em nossa atmosfera, quando os meteoros atravessam a camada composta quase exclusivamente por oxigênio, geralmente iniciam o processo de combustão. Além disso, a altitudes muito acima de 100 km, a baixa densidade e a baixa viscosidade do ar não chegam a produzir atrito sensível. Por isso é que raramente o processo se inicia acima de 120 km. Os meteoroides geralmente penetram na atmosfera a velocidades entre 10 km/s e 72 km/s, de modo que numa fração de segundo após o início deste processo, já se encontram abaixo do limite de Kármán. O limite de 72 km/s é imposto pela aceleração gravitacional do Sol nas imediações da Terra, fazendo com que um objeto de pequena massa e com órbita parabólica, ou levemente hiperbólica, ou fortemente elíptica, atingiria no máximo raiz quadrada de 2 vezes a velocidade orbital da Terra, que é cerca de 29,8 km/s, portanto cerca de 42,1 km/s. Se este objeto estiver exatamente passando por seu periélio e num trajeto diametralmente oposto ao movimento da Terra, então a velocidade relativa entre eles chegaria perto de 72 km/s (29,8 + 42,1 = 71,9). Não seria normal uma velocidade muito maior que esta, a menos que outras forças estivessem atuando ou que a excentricidade orbital do objeto fosse muito maior que 1. Isso seria explicável se tivesse passado rasante a Júpiter ou Marte ou a Lua, por exemplo, mas a probabilidade disso ocorrer é baixíssima, porque precisaria quase colidir com algum planeta e depois ser desviado para uma trajetória de colisão com a Terra exatamente de modo que a tangente do movimento da órbita do objeto fosse na direção diametralmente oposta à tangente à órbita da Terra no instante da colisão. Por isso apenas poucas vezes na história de nosso planeta, algum objeto colidiu com a Terra a mais de 72 km/s. Por outro lado, velocidades abaixo de 12 km/s (42,1 – 29,8 = 12,3) são possíveis em diversas circunstâncias, tais como a órbita do objeto sendo quase coincidente com a órbita da Terra e ambos se movendo na mesma direção. Esta situação poderia produzir uma velocidade arbitrariamente baixa, porém a Terra não está próxima nem dentro da zona de asteroides, ou no cinturão de Kuiper, nem possui troianos nos pontos Lagrangeanos de sua órbita, então a probabilidade de objetos co-orbitais é muito baixa. Outras situações com velocidade abaixo de 12 km/s são quando a órbita do objeto é elíptica de baixa excentricidade ou quando o ponto da colisão está angularmente afastado da longitude do periélio ou do afélio do objeto, também possibilitando situações com velocidades arbitrariamente pequenas. Mas qualquer destas configurações é extremamente específica, por isso muito improvável, e a velocidade média dos meteoroides quando penetram na atmosfera terrestre é aproximadamente igual à média aritmética entre a velocidade parabólica e a velocidade circular nas imediações da órbita terrestre: 36 km/s. Para velocidades maiores ou menores que a média, é necessário que um número considerável de fatores assuma valores cada vez mais específicos para que o alinhamento dos vetores das velocidades produza a soma adequada, por isso velocidades abaixo de 25km/s e acima de 50 km/s são raras, e velocidades abaixo de 10 km/s e acima de 72 km/s são muito raras. Nas latitudes mais altas, como no caso de Oslo, que fica a quase 60°N, podem ocorrer também colisões em que o plano orbital do objeto cruza o plano orbital da Terra, somando um mais um componente à velocidade geocêntrica, mas como a velocidade heliocêntrica nas imediações da Terra raramente ultrapassa 42 km/s, e uma trajetória que não fosse paralela à órbita terrestre não somaria (nem subtrairia) integralmente os 29,8 km da velocidade orbital da Terra, então a latitude do local não influi nos limites máximo ou mínimo de velocidade geocêntrica no momento da colisão, embora influa na distribuição das probabilidades de velocidades. Quando um meteoroide inicia sua penetração nas camadas atmosféricas de densidades não desprezíveis, por volta de 160 km de altitude, sofre uma desaceleração cada vez maior, até cerca de 75 km de altitude, que pode chegar a 28.000 m/s2 ou 2.800 vezes mais intensa que a aceleração gravitacional na superfície da Terra. A partir daí, continua desacelerando, porém cada vez mais lentamente. A cerca de 55 km de altitude, a pressão atmosférica já está em torno de 0,1% da pressão ao nível do mar, e em algum ponto entre 50 km e 30 km de altitude, o meteoroide normalmente já atingiu sua velocidade terminal de queda livre. Os saltos típicos de paraquedas costumam ser a altitudes em torno de 3,7 km (12.000 pés). A 3,2 km de altitude, a pressão atmosférica é 2/3 da pressão ao nível do mar, por isso se o salto for a uma altitude muito maior, torna-se necessário o uso de máscaras de oxigênio durante o salto. A esta altitude, uma pessoa com cerca de 80 kg e 1,80 m, com roupas cujo coeficiente aerodinâmico seja perto de 0,5, terá velocidade terminal de queda livre em torno de 215 km/h. Se a pessoa mergulhar de cabeça, seu coeficiente aerodinâmico deve reduzir para cerca de 0,35 e sua área transversal deve cair para cerca de 0,15 m2, o que tornará sua velocidade de queda livre neste ponto em torno de 440 km/h. Já um meteoroide metálico com densidade em torno de 7.900 kg/m3 e 15 cm x 10 cm x 3 cm, como parece ser o objeto do vídeo, teria velocidade de queda livre em torno de 280 km/h, isso supondo que estivesse caindo no pior ângulo aerodinâmico possível, com seus dois maiores eixos paralelos ao plano que tangencia o solo (ou perpendiculares ao vetor gravitacional). Para efeito de comparação, o coeficiente aerodinâmico da Mercedes SLK com a capota fechada é cerca de 0,32 e com a capota aberta cerca de 0,37. Um Boeing 747 tem coeficiente aerodinâmico 0,031 e uma esfera tem cerca de 0,47. Estes valores são válidos próximos à superfície. Para grandes altitudes, torna-se necessário aplicar o coeficiente de Reynolds, bem como é necessário considerar a textura da superfície. Uma esfera rugosa, por exemplo, pode ter quase metade do coeficiente de atrito de uma esfera lisa. Considerando que em Oslo as temperaturas são muito baixas, perto de 5°C na superfície, então a 3,7 km chegariam a cerca de –20°C. Por isso é mais provável que o salto tenha sido a uma altitude menor, talvez 1,8 km, onde a temperatura seria perto de –5°C, mais tolerável e mais razoável. O fato de ele ter acionado o paraquedas rapidamente também sugere que o salto foi de uma altitude relativamente baixa, caso contrário ele teria desfrutado a queda por mais tempo antes de abrir o paraquedas. A 1,8 km de altitude a velocidade de queda livre do meteoroide seria cerca de 315 km/h. Com o paraquedas aberto, supondo que o paraquedas tenha diâmetro de 22 pés e a massa total da pessoa + paraquedas + roupa seja perto de 90 kg, com coeficiente aerodinâmico de 0,5, a velocidade de queda do paraquedista deveria ser cerca de 30 km/h. Então a velocidade do meteoroide em relação ao paraquedista deveria ser perto de 285 km/h. Supondo que a altura entre a borda externa do paraquedas e a câmera do paraquedista seja cerca de 7,5 m, e a velocidade da filmagem fosse 29,7 frames por segundo, como o meteoro levou 7 frames para percorrer a altura da borda do paraquedas até a altura da câmera, então sua velocidade era cerca de 7,5 *29,7 / 7 = 32 m/s ou 115 km/h. Portanto muito menor que a velocidade de queda livre nesta altitude. Ainda que o meteoro fosse rochoso (embora me pareça claramente ser metálico), sua velocidade em queda livre seria cerca de 185 km/h, portanto a menor velocidade possível para um meteoroide nesta altitude seria muito maior que a velocidade observada. Por outro lado, se considerar a possibilidade de a pedra ter sido abandonada do avião, como transcorreram 17 segundos entre o salto e o momento que o paraquedas abriu, a este ponto sua velocidade já deveria ser 94% da velocidade em queda livre, então esta hipótese também não é aplicável, mesmo porque a posição do avião estaria muito à frente e não teria como passar tão perto do paraquedista se ela tivesse sido largada 7 a 10 segundos depois que ele saltou. Logo não haveria como explicar o episódio desta forma. A explicação que me parece mais razoável é que dois paraquedistas saltaram juntos, sendo que o outro paraquedista aguardou cerca de 5,00 segundos a mais até abrir seu paraquedas, e depois este segundo paraquedista largou este objeto. É possível que o objeto seja um meteorito metálico real, comprado no eBay, para aparentar maior autenticidade, e com esta separação entre os dois paraquedistas, o de cima poderia soltar o objeto de modo que este ultrapassaria o primeiro a uma velocidade relativa de 116 km/h, que é praticamente igual à velocidade observada do objeto em queda. A diferença entre o coeficiente aerodinâmico e a massa dos dois paraquedistas, bem como um ligeiro atraso ou adiantamento neste intervalo de exatos 5 segundos poderia explicar a diferença de 115 km/h observada para 116 km/h teórica, bem como a incerteza nas medidas é maior que 1 km/h, portanto a velocidade teórica esperada por esta hipótese é igual à medida, dentro do limite das incertezas nas medidas. Também procurei mais um indício que confirmasse a fraude com base na ausência de emissão de luz pelo objeto. A temperatura máxima que um objeto pode atingir ao penetrar na atmosfera terrestre é quase linearmente proporcional à sua velocidade, sendo cerca de 1 K para cada m/s. Então um meteoroide a 10 km/s deve chegar a cerca de 10.000 K. Isso é maior que o ponto de ebulição de qualquer metal, liga ou rocha conhecidos, portanto os meteoros são violentamente volatizados neste processo, a temperaturas mais altas que a da superfície do Sol e até mesmo mais alta que a temperatura no centro de Júpiter. De 60 a 40 km de altitude, a temperatura do meteoro deveria estar bastante acima de 10.000 K. No percurso de 50 km até 1,8 km de altitude, sua massa deveria ter diminuído um pouco, de modo que sua velocidade média foi perto de 100 m/s ao longo deste trajeto. Então levou uns 500 segundos entre seu ponto de maior brilho até o ponto que cruzou com o paraquedista. A redução na temperatura em função do tempo é uma solução que envolveria conhecimentos de Metalurgia, e não conheço quase nada sobre isso, o que me impede de fazer uma análise mais detalhada neste ponto. Mas tomando por referência um exemplo de resfriamento de ferro fundido, leva cerca de 2 a 3 horas para baixar a temperatura de 700°C a 200°C. Contudo, isso depende da massa do metal (ou liga), da superfície de contato com o meio de troca de calor, da condutividade térmica do metal (ou liga), da condutividade térmica do meio, entre outros fatores. Corpos menores tendem a esfriar mais lentamente do que corpos maiores de mesma massa, porque a maior superfície de contato acelera a troca de calor com o meio. Corpos de densidades iguais e formas iguais, quanto maiores, mais demoram para resfriar porque a relação entre área e massa é inversamente proporcional ao tamanho. Estruturas fractais (porosas) com mesmo diâmetro e mesma massa resfriam mais rápido se menor for a dimensão fractal, porque quanto menor a dimensão fractal, maior é a proporção entre a pseudo-superfície e a massa. Enfim, há muitos fatores envolvidos. Fiz 10 testes com uma lâmpada incandescente de 60 W e 127 V, cujo filamento de tungstênio fica a cerca de 1500 K quando está acesa. Ao ser apagada, demora, em média, 1,256 s ± 0,012 s até que o filamento deixe de emitir luz visível numa quantidade sensível por uma câmera CCD Philips SPC900NC. Um filamento destes tem cerca de 0,0176 g. Daqui em diante, não tenho uma ideia muito clara de como fazer o cálculo de forma precisa, mas, grosseiramente, o tempo necessário para um filamento similar, mantendo proporções na forma, porém com massa de 3.600 g, deveria levar no mínimo 568 segundos até deixar de emitir luz visível, se sua temperatura inicial fosse a mesma e as demais propriedades fossem as mesmas. Porém todos os fatores a seguir tenderiam a prolongar o tempo de emissão de luz: a) A forma muito mais compacta do meteoroide tende a conservar o calor por muito mais tempo. b) A temperatura inicial muito mais alta deveria demorar muito mais até esfriar a ponto de deixar de emitir luz. c) A atmosfera mais rarefeita promoveria uma troca de calor menos eficiente com o objeto. d) O atrito com o ar contribuiria para que a temperatura caísse mais lentamente. Portanto deveria levar muito mais que 500 segundos, talvez mais que 2.000 segundos, até que a temperatura ficasse abaixo do ponto que o objeto deixasse de emitir luz visível. Por outro lado, ainda que atmosfera seja mais rarefeita do que ao nível do mar, a alta velocidade faz com que uma quantidade maior de moléculas de ar colida com o objeto por unidade de tempo, o que pode promover uma troca de calor mais eficiente do que se o objeto estivesse parado. É como se ele estivesse tomando um vento refrescante a 300 km/h, acelerando o resfriamento mais do que se estivesse em repouso no ar. Se levar em conta este fato, talvez ele deixe de emitir luz em menos de 500 segundos e no momento que passou pelo paraquedista, talvez realmente já não estivesse emitindo na faixa do visível. Além disso, como ocorreu durante o dia, a luz solar faz as pupilas se contraírem, reduzindo mais de 50 vezes a área da pupila, deixando somente os cones expostos, e como os bastonetes são cerca de 100 vezes mais sensíveis à luz que os cones, o resultado é uma redução em cerca de 5.000 vezes na sensibilidade do olho em comparação à noite. Como as câmeras modernas ajustam automaticamente a abertura conforme a luminosidade, é aceitável que o objeto não estivesse emitindo luz ao passar pelo paraquedista. Outro indício que se opõe à hipótese de se tratar de um meteoroide em queda natural decorre das estatísticas de meteoros que atingem pessoas, animais, casas ou veículos. Há 3 registros de pessoas atingidas por meteoritos: uma no ano 1511, uma em 1650 e uma em 2009. Apenas o caso de 2009 foi devidamente documentado. Em 1847 e em 1954, há registros de meteoritos que atingiram uma casa cada. Em 1992 há dois registros de meteoritos que atingiram um carro cada. É possível que algumas pessoas, carros ou casas tenham sido atingidos, sem que tenham sido registrados, bem como dois dos registros sobre pessoas (anos 1511 e 1650) são duvidosos. Existiram cerca de 105 bilhões de pessoas desde o surgimento da escrita, 1,017 bilhões de carros e 0,957 bilhão de casas. A superfície de colisão de uma pessoa mediana é cerca de 0,045 m2, a de um carro é cerca de 6,5 m2. A área construída média de uma casa nos Estados Unidos em 1945 era cerca de 102 m2, e em 2002 era de 217 m2. Não há registros detalhados sobre a média mundial, mas deve ser de 30 m2 a 100 m2. Digamos que a média mundial seja cerca de 60 m2. No total, são cerca de 69 bilhões de metros quadrados, dos quais as casas respondem por 85%. Se considerar que as pessoas passam a maior parte do tempo dentro de uma casa ou de algum abrigo, e que boa parte dos carros também, então a área total exposta 24h por dia representa cerca de 60 bilhões de metros quadrados ou 6 x 1010 m2. Pois bem. No Brasil há 275 paraquedistas federados. Nos Estados Unidos são 35.000 federados. Digamos que a média mundial seja a média geométrica entre ambos: cerca de 3.100. A população dos Estados Unidos é de 315.000.000 e a mundial é 7.225.000.000. Então deve haver no mundo cerca de 71.000 paraquedistas, estando a metade nos EUA. Numa estimativa generosa, podemos supor cerca de 100.000 no mundo. Este objeto passou a uma distância de menos de 10 m do paraquedista. Um círculo com raio de 10 m tem área 314 m2. Então a área total dentro da qual poderia passar tal objeto é cerca de 30 milhões de quilômetros quadrados, portanto 20.000 vezes menor que a área de casas, carros e pessoas. Além disso, cada salto de paraquedas a uma altitude de 3.700 m com velocidade média de 7 m/s, dura cerca de 500 segundos. Até descer, arrumar o paraquedas e subir novamente, leva um tempo razoável, o que pode desmotivar a fazer muitos saltos seguidos. Então digamos que, em média, cada paraquedista federado salte 1 vez por semana. Um dia tem 86.400 segundos, portanto uma semana tem pouco mais de 600.000 segundos. Então cada paraquedista federado passa 0,08% de seu tempo descendo de paraquedas. Se somar os não federados, que devem representar uma quantidade maior, porém devem saltar com frequência muito menor, no conjunto eles talvez passem cerca de 0,1% a 0,2% do tempo descendo de paraquedas. Então a probabilidade de um meteoroide passar tão perto de um paraquedista é 10.000.000 a 20.000.000 de vezes menos provável do que um meteorito atingir uma casa, um carro ou uma pessoa. Como há registros de 7 casos de meteoritos que atingiram carros, casas ou pessoas nos últimos 500 anos, entre um total de cerca de 1 bilhão de casas, 1 bilhão de carros e 39 bilhões de pessoas (entre os anos 1500 e 2014), pode-se estimar a probabilidade de que alguma vez na história algum paraquedista tenha passado a menos de 10 m de um meteoroide (ou um meteoroide tenha passado a menos de 10 m dele) é cerca de 1 em 20.000.000.000. Portanto há um argumento físico e aerodinâmico muito forte e um argumento probabilístico fortíssimo contra a alegação deste sujeito. Além disso, creio que minha hipótese sobre como podem ter construído a fraude represente muito precisamente o que pode ter acontecido, já que a simples hipótese de terem jogado a pedra do avião também não seria plausível. Update 8/4/14: Analisando novamente o vídeo, fiz um levantamento sobre mais detalhes para determinar com mais exatidão a forma, tamanho, massa, coeficiente aerodinâmico e área transversal média durante a queda do objeto e do paraquedas, bem como outros detalhes relevantes. Em primeiro lugar, quanto à altitude, ele parece estar um pouco acima de algumas nuvens cumulus nimbus. Como estas nuvens podem se formar a menos de 1 km de altitude, a estimativa de que ele deve ter saltado a cerca de 1,8 km, em vez de 3,7 km, para evitar as temperaturas muito baixas, perto de –20°C, permanece consistente. A estimativa para o diâmetro do paraquedas como sendo cerca de 7 m não se aplica, porque ele está usando um paraquedas do tipo “retangular” ou “asa”. Pesquisando por cores e modelos, para tentar determinar o tamanho dos velames, o que me pareceu mais semelhante ao usado pelo rapaz do vídeo foi este da foto ao lado. Este paraquedas tem 4,46 m ± 0,08 m de distância entre o olho do paraquedista e as bordas externas dos velames, em vez de 7,5 m. O cálculo pode ser feito inicialmente estimando a altura do homem em 1,75 m. Em seguida, pelas posições dos pixels na imagem, pode-se calcular todas as proporções supondo que o ângulo de inclinação seja o mesmo para todos os objetos da imagem e supondo que todos os pontos da imagem estavam quase equidistantes da câmera. Esta última hipótese é razoável se o observador estiver suficientemente afastado do paraquedista. Para testar esta hipótese, bem como para conhecer a altura correta do paraquedista, basta medir a distância entre o nariz do paraquedista e a junção da borda de cada velame. As distâncias se mostram quase iguais, com desvio-padrão 2,3%, para as bordas da frente, porém as bordas de trás se mostram cerca de 25,1% menores, deixando claro que a foto foi tirada a uma distância relativamente pequena, de modo que há um efeito de perspectiva sensível, e este efeito precisa ser considerado nos cálculos. Outra maneira de testar a hipótese sobre os pontos estarem equidistantes seria pelo diâmetro das cordas. Se a parte mais próxima tivesse diâmetro aparente indistinto da parte mais afastada, significaria que todos os pontos estão quase equidistantes do observador. A dificuldade, neste caso, é que o diâmetro das cordas é muito pequeno para que se possa fazer medidas precisas, por isso, em vez de medir as cordas, é melhor medir os velames. Inicialmente se faz o cálculo supondo que todos os pontos da imagem estão à mesma distância, e depois se corrige levando em conta a perspectiva. Isso leva ao resultado de que cada divisão de cor mede cerca de 0,756 m ± 0,010 m. Para ajustar corretamente a altura do homem, basta medir algo razoavelmente preciso e cuja medida seja um número inteiro pequeno. Neste caso, o comprimento das cordas. Ao medir as 5 cordas de cada lado, constata-se que as cordas das bordas são menores, mas outras 8 são praticamente iguais, com desvio-padrão de 1,1%. Então a média da medida das cordas deve apresentar erro perto de 0,35%. Como já sabemos os ajustes necessários para corrigir a perspectiva, encontramos que o tamanho médio das cordas é 4,024 m ± 0,014 m. Isso representa 13,20 pés. O mais provável é que as cordas tenham comprimento de um número inteiro de pés, portanto 13 pés. Então a altura correta do homem deve ser cerca de 1,723 m (1,723=13x1,75/13,20) para que a medida da corda seja 13,00 pés. Com isso se pode ajustar toda a escala conforme a altura correta do homem. Corrigindo a altura do homem nos cálculos iniciais, cada divisão de cor mede cerca de 0,744 m ± 0,010 m e as bordas do paraquedas estão a 4,39 m ± 0,08 m de distância ao olho do paraquedista. É importante enfatizar que o detalhe de o eixo que atravessa longitudinalmente o homem não estar perpendicular ao eixo óptico do observador ou da câmera não é relevante, porque todo o conjunto está inclinado praticamente no mesmo ângulo, de modo que o mesmo cosseno seria aplicado para correção de escala em qualquer parte da imagem, preservando quase exatamente a mesma proporção. A única correção necessária é da perspectiva, conforme descrito no parágrafo anterior. Também é necessário esclarecer como foi estimada a altura do homem: como ele está com os joelhos levemente dobrados e as pernas levemente abertas, o ponto que melhor representa onde estariam as plantas dos pés, se ele estivesse com os pés juntos e as pernas esticadas, foi estimado como sendo o pixel de coordenadas 455x,493y. Não é relevante se este ponto é correto (desde que seja razoavelmente preciso), assim como a altura do homem estimada a priori não precisa estar correta, porque estes números servem para fazer uma primeira estimativa do comprimento das cordas. Se o valor estimado é 13,2 pés e este valor está muito mais perto de 13 do que de 14, e sabemos que geralmente estes valores são redondos, então quando se faz o ajuste do comprimento das cordas de 13,2 m para 13 m, as imprecisões que poderiam estar presentes nestas estimativas (cerca de 2%) são reduzidas a um nível muito baixo, menor que 0,5%. Agora que conhecemos a distância entre cada divisão de cor, podemos usar esta informação para calcular o tamanho do suposto meteoroide. Na imagem a seguir, podemos ver o tamanho aparente de uma divisão de cor e o tamanho aparente do objeto a diferentes distâncias: Esta montagem foi postada por Phil Plait em seu excelente site: http://www.slate.com/blogs/bad_astronomy/2014/04/07/skydiving_meteorite_was_it_an_ob ject_from_space_or_just_a_rock.html Supondo que tanto o paraquedista quanto o objeto estivessem caindo perpendicularmente ao plano que tangencia o solo, com base na variação do tamanho aparente e dos intervalos entre os frames consecutivos, podemos determinar a distância em pixels entre o paraquedista e o objeto em cada ponto, bem como determinar o tamanho do objeto. Em seguida, verificamos que cada divisão de cor mede 95,6 pixels ± 1,8 pixels, e isso corresponde a cerca de 0,744 m ± 0,010 m, e as bordas do paraquedas estão a 4,39 m ± 0,08 m de distância ao olho do paraquedista (centro da objetiva da câmera), podemos calcular a velocidade de queda do objeto. Para determinar o tamanho aparente, foi contado o número de pixels na imagem normal e na imagem com contraste acentuado. Como a área medida varia sensivelmente em função da escolha do critério para delimitar a interface, depois desta medida preliminar é conveniente fazer uma nova medida depois que se conhecer as distâncias, para ajustar as áreas conforme uma função baseada na distância. Como o objeto tem forma aproximadamente tetraédrica, sua área aparente apresenta variações pequenas em função do ângulo de visão. Os resultados das medidas preliminares foram: A área está em pixels quadrados. A forma do objeto, com base nas 7 Posição A posições que ele aparece, se assemelha a um tetraedro com bordas 1 18.8 arredondadas. Uma aproximação razoável para o cálculo do volume é 2 22.6 tratando como um tetraedro que tenha perdido 15% a 20% de cada 3 30.0 vértice. Como cada vértice é um tetraedro pequeno, a proporção de 4 41.6 volume perdida com os vértices é cerca de 0,153×4 ou 0,23×4, portanto 5 62.0 o volume sem os 4 vértices é cerca de 97% a 99% do volume com os 6 125.0 vértices. Então se usar a fórmula para cálculo do volume de um 7 217.5 tetraedro com vértices, para determinar o volume de um sem vértices, cujas extremidades estejam nos mesmos pontos do que teria vértices, o erro é cerca de (1– 0,153×4)/0,853 para o caso de 15% ou (1–0,23×4)/0,83 para o caso de 20%. E isso produz uma diferença bastante significativa, entre 1,61 e 1,89 vezes. Portanto o cálculo feito com base na fórmula para volume do tetraedro com vértices e mesmos limites onde estariam os vértices, precisa ser corrigida por um fator em torno de 1,75. A largura do paraquedas é cerca de 8 pés (2,44 m), ou seja, o centro está a 1,22 m da borda. Se a lente da câmera usada pelo paraquedista estiver a uns 12 cm do eixo e atravessa o centro da estrutura, então a distância entre a lente e a borda é de 1,10 m. Se a área aparente do objeto no ponto em que atinge maior tamanho aparente é 217,5 pixels quadrados, e no ponto que atinge menor tamanho aparente é 18,8 pixels quadrados, a proporção entre as áreas é cerca de 11,57, portanto a proporção linear é cerca de 3,40. Sabendo que ele não perfurou o paraquedas, não pode ter passado a menos de 1,1 m de distância, então qual foi a distância entre as trajetórias quase paralelas de queda do objeto e do paraquedista, para que os tamanhos aparentes em cada momento sejam consistentes com os verificados? A resposta é cerca de 1,35 m, pois assim estaria a 1,35 m ao passar pelo ponto mais próximo á câmera, e estaria a 4,58 m (4,58=4,392+1,352)0,5 ao passar pelo ponto mais alto, portanto com uma proporção de 3,40 entre o tamanho maior e o menor, consistente com a observação. Mas ainda haveria um problema. No ponto mais alto, o objeto aparece 135 pixels distante da borda do paraquedas, o que corresponde a cerca de 3,08 m de distância da borda. Mas se as trajetórias fossem quase paralelas, deveria ter passado a uma distância mínima de 0,25 m da borda, o que não bate com a medida angular observada, que sugere uma distância de 3,08 m. Este tipo de paraquedas é muito manobrável, porém o paraquedista havia recém acionado o artefato, de modo que estava começando a se estabilizar e ainda não estava manobrando. A câmera ainda estava inclinada, o que se pode perceber pelo ângulo que o paraquedista filma em relação ás nuvens, mas o paraquedista estava razoavelmente centralizado abaixo do paraquedas e razoavelmente bem alinhado com o vetor gravitacional, já que não haveria outra alternativa, com as forças atuantes após os primeiros segundos de acionamento. Então, ainda que a premissa de que ambos estivessem descendo quase paralelamente não seja ótima, ainda é uma boa representação. Se o paraquedas já estivesse estabilizado e o paraquedista estivesse descendo bem centralizado abaixo do paraquedas, todo o cálculo seria mais fácil e mais preciso. Mas a indeterminação na posição angular do paraquedista em relação ao vetor gravitacional dificulta o cálculo da distância ao objeto, que por sua vez impede a determinação do tamanho e da massa. Então não é possível, com base nos dados disponíveis, determinar com precisão a distância, o tamanho, a massa e a velocidade do objeto. Quando se chega a este ponto, parece não ser possível resolver a questão sobre ser uma fraude ou não, porque não há elementos suficientes para que se possa determinar a distância, massa e velocidade do objeto... Aí vem a parte mais interessante da solução, porque mesmo não sendo possível determinar com precisão a distância, a massa e a velocidade do objeto, pode-se estabelecer uma relação entre estas 3 grandezas por dois métodos diferentes, e os resultados precisam ser consistentes pelos dois métodos: um dos métodos utiliza os tamanhos aparentes do objeto em cada posição e os intervalos de tempo entre cada posição. O outro método utiliza Gravitação e Mecânica dos Fluidos. Assim, há um caminho engenhoso por meio do qual podemos encontrar a solução, se existir alguma solução, ou podemos mostrar que nenhuma solução satisfaz às condições observadas. A solução (se houver) consiste em encontrar qual é a distância mínima entre o objeto e o observador (ou câmera) de modo que a velocidade medida com base nos tamanhos aparentes do objeto forneça valores para o tamanho, a massa e a área transversal do objeto. Com base nestes 3 parâmetros, calcula-se a velocidade terminal em queda livre, sendo que esta velocidade precisa ser igual à velocidade calculada pelo outro método. Então a solução se obtém ao determinar qual é a distância mínima ao objeto que faz com que a velocidade geométrica medida pela foto seja igual à velocidade terminal calculada usando Gravitação e Mecânica dos fluidos. A tabela ao lado mostra a velocidade real (em km/h), a massa (em g) e a altura do tetraedro (h em mm) que Distância (m) v(real) v(teorica) vt/vr Massa (g) h (mm) melhor representa 0.50 29.3 136.0 4.6416 10.7 11 a forma do objeto, 1.00 58.5 192.3 3.2872 85.3 31 calculados para 1.35 79.0 223.4 2.8278 210.0 41 cada distância mínima. E mostra 1.50 87.8 235.5 2.6822 288.0 46 também a 2.00 117.0 271.9 2.3239 683.0 61 velocidade teórica 3.00 175.6 333.0 1.8964 2,303.0 92 (em km/h) 3.08 180.3 337.4 1.8713 2,493.0 94 calculada com base 5.00 292.6 429.9 1.4692 10,664.0 153 na massa, na área 7.00 409.6 508.7 1.2419 29,263.0 214 média de contato 9.00 526.7 576.8 1.0951 62,194.0 275 com o ar durante a 10.00 585.2 608.0 1.0390 85,315.0 306 queda livre 2 0,5 (A=h ×6,75 /4), no coeficiente aerodinâmico (0,68), na altitude (1150 m), na aceleração gravitacional na altitude (0,9996395g), na aceleração gravitacional na latitude (g=g0×1,00362162), na pressão atmosférica na altitude e latitude (0,865276 atm), na massa do objeto, que neste caso é calculada supondo que seja metálico, predominantemente constituído por ferro, cuja densidade é cerca de 7.874 kg/m3. Como o paraquedista está caindo à velocidade aproximada de 5,8 m/s, é esperado que a velocidade relativa entre o objeto e o paraquedista seja cerca de 21 km/h, portanto a velocidade real (medida pelo método 1) precisa ser em torno de 20,9 km/h menor que a velocidade teórica (medida pelo método 2). Isso só acontece no caso em que a distância mínima é de 10,1 m. O problema é que na foto pode-se observar que o objeto passou a no máximo 3,08 m de distância da borda do paraquedas, portanto a distância mínima precisaria ser menor que 3,08 m. Essa disparidade indica que a velocidade do objeto não pode ser a velocidade que seria esperada para um meteoroide em queda livre que tivesse os tamanhos aparentes e as posições registradas nos fotogramas do vídeo. Se a velocidade medida pelos dois métodos não coincidem, significa que o objeto não pode ser um meteoroide recém chegado do espaço em queda livre, mas sim um objeto lançado pouco acima do paraquedista, e que ainda não teve tempo suficiente para alcançar a velocidade terminal de queda livre. Pode inclusive ser um meteorito comprado no eBay ou Amazon, mas não um meteoroide que tenha penetrado na atmosfera poucos segundos antes. Se o ponto em que as velocidades coincidem pelos dois métodos de cálculo de velocidade é inconsistente com outros fatos observados (como no caso de indicar distância mínima de 10,1 m, embora haja evidência visual de que a distância mínima não pode ter sido maior que 3,08 m), também indica que o objeto não pode ser um meteoroide recém chegado do espaço. O que os fatos revelam é que o objeto observado tinha velocidade real muito menor do que a velocidade que deveria ter um meteoroide àquela mesma altitude e com aquelas propriedades físicas. As distâncias mínimas da câmera que me parecem ter maior probabilidade de serem corretas são entre 1,35 m a 3,08 m. Para tentar determinar o volume e a velocidade do objeto, pesquisei sobre outros artigos, reportagens e vídeos, e encontrei este http://www.nrk.no/viten/skydiver-nearly-struck-by-meteorite-1.11646757 que é bem mais completo do que o link citado no início deste artigo. Apesar disso, também não contém algumas informações fundamentais. Nesta matéria consta que o evento ocorreu entre 1.100 m e 1.200 m de altitude. Um geólogo opina sobre o assunto, estimando a massa em 5 kg e a velocidade em 300 m/s. A jornalista comenta que o objeto passou a centímetros do paraquedista (presumivelmente, ela quis dizer a menos de 1 m). Quase todas estas informações são inconsistentes e provavelmente incorretas. Apenas a informação sobre a altitude acabou tendo utilidade para refinar o cálculo, embora a velocidade terminal seja quase igual a 1800 m ou 1150 m, diferindo em apenas 4,2%. Examinando o vídeo, em vez de examinar a montagem com a sequência sobreposta de posições, podemos perceber alguns fatos fundamentais para a análise: a) A borda do paraquedas não fica no mesmo lugar em todos os fotogramas. b) Os movimentos do paraquedista não são pendulares. Com base em “a”, podemos constatar que as distâncias medidas na montagem estão levemente imprecisas. Por exemplo: na posição 7, se fosse feita uma projeção plana da imagem, o centro geométrico do objeto estaria a 3,9653 m do centro da borda externa amarela. No vídeo parece estar a 3,9659 m. Praticamente mesma distância e a pequena diferente observada pode ser atribuída à diferença na resolução. Portanto a posição das bordas exibida na foto é da posição 7. Nas demais imagens do objeto, as bordas estão numa posição diferente da que é mostrada na fotomontagem. Por exemplo, na posição 6, uma projeção plana da imagem da foto indicaria que o objeto está a 2,6997 m do centro da borda externa amarela, mas no vídeo parece estar a 2,6843 m, uma diferença pequena, mas mensurável. Isso explica dois fatos relevantes. A trajetória do objeto na fotomontagem é levemente curva porque o movimento da câmera não foi compensado. Caso contrário, seria quase reta (pelo menos visualmente seria indistinta de uma reta). O item “b” sugere que esta curva não seja porque o paraquedista estivesse balançando, num processo de estabilização. Não há nenhum sinal de movimento pendular do paraquedista, ele já está razoavelmente firme e estabilizado, quase verticalmente em relação ao solo. Aparentemente sua cabeça é que talvez estivesse inclinada, para conseguir uma imagem de cima, por isso a imagem em relação às nuvens parece inclinada, mas a posição da câmera em relação ao paraquedas é quase centralizadas em relação ao eixo que une o centro do paraquedas ao baricentro da Terra. Estes dois detalhes possibilitam refinar o cálculo, usando as distâncias corretas nas posições 6 e 7, e permitem uma estimativa mais precisa e mais acurada sobre a distância que o meteoroide passou da borda externa do paraquedas e da câmera. A curva que representa a evolução dos tamanhos aparentes lineares (raiz quadrada das áreas aparentes) em função do tempo, com base na fotomontagem, era esta, ao lado. Seria esperado que tanto esta curva quanto as posições aparentes formassem quase uma reta. Isso não acontece porque a câmera se moveu ligeiramente. O fato de a queda do meteoroide ter sido suficientemente lenta para que sua trajetória aparente fosse sensível ao movimento da câmera sugere que estava razoavelmente próximo e não muito rápido. Com estes dados, podemos linearizar os pontos e estimar uma trajetória em 3D, usando os 7 tamanhos aparentes do objeto para definir a coordenada no eixo z (profundidade), e as 7 posições aparentes para definir as coordenadas nos eixos x e y. Na fotomontagem, podemos perceber que com exceção das posições 1 e 2, as outras 5 posições estão quase perfeitamente alinhadas, o que facilita um pouco o trabalho. Isso nos permite resolver o problema de forma definitiva: o objeto passou no ponto mais próximo da borda do paraquedas a cerca de 0,48 m ± 0,07 m, e no ponto mais próximo da câmera a cerca de 1,69 m ± 0,22 m. Isso significa que o objeto, se sua forma for aproximada para a de um tetraedro regular, teria cerca de 6,34 cm ± 0,82 cm de aresta e massa de 414 g ± 162 g. Sua velocidade real em relação ao paraquedista era cerca de 114 km/h ± 11 km/h e em relação ao solo era 135 km/h ± 14 km/h. A velocidade esperada para um objeto com 414 g, forma tetraédrica, em velocidade terminal de queda livre a 1150 m de altitude seria 249 km/h ± 16 km/h. A incerteza na massa é relativamente grande porque depende da incerteza no tamanho elevado ao cubo (que torna a incerteza no volume pelo menos 3 vezes maior). Agora resta aguardar que encontrem uma rocha entre 270 g e 600 g com o formato aproximado do objeto do vídeo, para confirmar se estes cálculos estão certos. A diferença entre a velocidade teórica e a velocidade observada confirmam que o objeto não pode ter sido um meteoroide que chegou há poucos segundos do espaço. Provavelmente foi largado por algum colega paraquedista. Com relação á abordagem estatística do problema, a estimativa de 35.000 paraquedistas federados nos Estados Unidos fazendo 1 salto por semana (1.800.000 saltos por ano), podendo o número total de saltos chegar ao dobro, se somar os não-federados saltando com menor frequência, se mostrou bastante razoável. De acordo com este artigo http://www.planetseed.com/pt-br/relatedarticle/philippe há 130.000 pessoas nos Estados Unidos saltando, em média, 18 vezes por ano (2.300.000). Este total é cerca de 36% menor que a estimativa do dobro de 1.800.000. Mais um detalhe a ser considerado no cálculo da probabilidade é que o objeto não apenas passou pelas imediações do paraquedista, como também passou em frente à câmera. Supondo um FOV de 45° para a câmera, bem como o número de saltos ser 36% menor, então a probabilidade de alguma vez na história um meteoroide ter passado a menos de 5 m de um paraquedista durante o salto e em frente à câmera é cerca de 10 vezes menor. Outro detalhe no cálculo das probabilidades é que a distância ao observador foi inicialmente determinada como menos de 10 m, porém foi menos de 3 m, portanto uma área 10 vezes menor. Logo a probabilidade de um evento com estas características é cerca de 100 vezes menor do que havia calculado em 8/4/14, ou seja, 1 em 2.000.000.000.000 em vez de 1 em 20.000.000.000. Outro ponto importante foi comentado hoje (9/4/14) por José Wilson Neves da Cunha: Ótimo estudo, incrivelmente minucioso e técnico, só uma pequena observação: um meteorito, creio, de uma determinada massa, no seu interior, não chega, acredito , a ter altas temperaturas, porque a queda pela atmosfera é muito rápida, e somente a superficie atinge temperaturas que emitam luminosidade. Portanto , sendo a temperatura media entre o seu interior e a parte externa bem inferior , e sendo assim,muito mais rápido o resfriamento. No mais, estou impressionado com o estudo minucioso. E minha resposta: Obrigado. Gentileza sua. Sim, e equacionar este problema não seria possível com os dados de que se dispõe. A equação T(K)=v(m/s) para estimar a temperatura máxima de um objeto na reentrada, varia de acordo com diversos fatores, inclusive o ângulo, podendo resultar em quase o dobro ou menos da metade da temperatura calculada por este método. A estimativa se aplica a objetos com velocidade perto de 7,8 km/s e com baixo coeficiente aerodinâmico, sendo que a temperatura máxima é atingida só numa pequena área do objeto, enquanto mais de 90% da superfície fica a uma temperatura muito menor. Dependendo da forma, o objeto gira em torno de um ou mais eixos, de modo que a temperatura na superfície acaba se tornando quase homogênea, mas bem diferente da temperatura máxima nos ônibus espaciais Columbia ou Challenger, por exemplo. Então não se tem um valor preciso sequer para a ordem de grandeza da temperatura na superfície. Esta temperatura varia muito, em poucos milésimos de segundo, e não se dispõe de informações para modelar uma curva de evolução da temperatura em função do tempo. No entanto há uma informação decisiva nesta análise: se em algum momento o objeto inteiro alcançasse uma temperatura acima de 2.000°C, ele deveria ser completamente sublimado (a pressões muito baixas, suponho que o ferro sublimaria, sem liquefazer), e com a posterior condensação, não restariam partes sólidas de dimensões relevantes. Então a estrutura remanescente sugere que as partes abaixo daquela superfície não alcançaram, em nenhum momento, temperaturas superiores a 2.000°C ou sequer superiores a 1.500°C.