As famílias da elite e suas estratégias de manutenção do patrimônio na primeira metade do século XIX em Guarapiranga Léo Gomes de Moraes Neto,1 Universidade Federal de Viçosa RESUMO: ESTE TRABALHO TEM COMO OBJETIVO ANALISAR AS PRÁTICAS E COSTUMES DAS FAMÍLIAS DE ELITE EM RELAÇÃO AO MATRIMÔNIO E AO PROCESSO DE SUCESSÃO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX EM GUARAPIRANGA. NOSSO CONJUNTO DE FONTES É COMPOSTO POR UMA DISPENSA E VÁRIOS PROCESSOS MATRIMONIAIS CONTIDOS NA CÚRIA ARQUIDIOCESANA DE MARIANA, AS LISTAS NOMINATIVAS DE 1831/32 E 1838/39, UMA ESCRITURA DE PERFILHAMENTO, E POR FIM, OS TESTAMENTOS E INVENTÁRIOS POST-MORTEM DA CASA SETECENTISTA DE MARIANA. A PARTIR DELE PROCURAMOS RECONSTITUIR A GENEALOGIA DE TRÊS FAMÍLIAS: A FAMÍLIA SANDE/VIDIGAL, A FAMÍLIA CARNEIRO E, A FAMÍLIA GONÇALVES HELENO, SALIENTANDO NESTAS FAMÍLIAS AS ESTRATÉGIAS DE MANUTENÇÃO E AMPLIAÇÃO DOS PATRIMÔNIOS. PALAVRAS CHAVES: FAMÍLIA; MATRIMÔNIO; PATRIMÔNIO; HERANÇA; SUCESSÃO. 1. Introdução Conforme o Livro V das Ordenações Filipinas a herança deveria ser repartida igualmente entre os herdeiros legítimos (independente da idade ou do gênero) de um inventariado.2 Para muitas famílias da colônia tal norma poderia causar a ruína familiar, em decorrência da fragmentação de uma unidade produtiva, esta poderia ser um engenho de açúcar ou somente uma porção de terra. Assim, com o intuito de evitar tal fragmentação os patriarcas recorriam aos casamentos consangüíneos ou afins de seus descendentes e a brechas abertas pela própria legislação portuguesa como, por exemplo, a terça3 com o intuito de assegurar a suas famílias o bem estar econômico e o status social após suas mortes. Dessa forma, o artigo em questão, com a técnica de amostragem da agregação, também denominada técnica bola de neve, a qual consiste em agrupar e cruzar o maior número de informações contidas nos processos de casamento, nas dispensas matrimoniais, nos testamentos e inventários post-mortem dos indivíduos ou das famílias selecionadas por nós a partir da transcrição das listas nominativas de 1831/32 e 1838/39, pretende apresentar três casos relativos a famílias de Guarapiranga na primeira metade do século XIX.4 A escolha desse recorte espacial e temporal justifica-se por abordar lacunas historiográficas importantes.5 Ao total utilizamos aqui uma escritura de perfilhamento, uma dispensa, cinco processos matrimoniais, seis inventários post-mortem, quatro testamentos e os dados das listas nominativas de 1831/32 e 1838/39. No mais, agradeço a atenção dos possíveis leitores e peço, antecipadamente, minhas sinceras desculpas por possíveis falhas e omissões aqui cometidas. 2. Discussão Essa foi á origem da monogamia, tal como pudemos observá-la no povo mais culto e desenvolvido da antiguidade. De modo algum foi fruto do amor individual, com o qual nada tinha em comum, já os casamentos, antes como agora, permaneceram casamentos de conveniência. Foi a primeira forma de família que não se baseava em condições naturais, mas econômicas, e concretamente no triunfo da propriedade privada sobre a propriedade primitiva, originada espontaneamente. Os gregos proclamavam abertamente que os únicos objetivos da monogamia eram a preponderância do homem na família e a procriação de filhos que só pudessem ser seus para herdar dele. (ENGELS, 1884-1891, p. 70). Em meados do século XIX, Friedrich Engels escreveu A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado, neste livro o filósofo alemão afirmava que a família monogâmica teve e tem o intuito de garantir ao homem a certeza de que seus ganhos materiais em vida passassem para seus filhos legítimos. Para ele, este tipo de família também estabeleceu a primeira divisão do trabalho e, dessa maneira o primeiro antagonismo de classes, a submissão da mulher pelo homem. Almejamos discorrer sobre a validade de tais afirmações, após apresentarmos os casos relativos á região de Guarapiranga. Genealogia I – Família Sande/Vidigal (yEd)6 Esta Genealogia I refere se aos membros da família Sande/Vidigal, e apresenta um caso bastante significativo de preservação da unidade produtiva entre gerações. O capitão Antonio Gomes Sande morreu em 1807 e deixou para sua mulher e seus cinco filhos um monte mor de 14:570.959 réis constituídos de vários bens móveis e imóveis, entre os quais destacamos: os 52 escravos e a fazenda Pirapetinga, grande propriedade, com duas sesmarias, dois moinhos de engenho de cana e lavras do morro. No entanto, apesar de duas partilhas sucessivas (a do próprio inventario de Antonio Gomes Sande e, a do inventário de sua esposa Francisca Clara Ubelina de Jesus) a fazenda e boa parte de sua escravaria aparecem indivisas no inventário de Antonio Pedro Vidigal de Barros, seu genro, casado com duas de suas filhas, primeiro com Francisca Cândida de Oliveira Sandinha, e depois com Tereza Altina Sande. Vários fatores contribuem para a preservação desse patrimônio: a não divisão da propriedade entre os herdeiros forçados e a marcante endogamia do sucessor, Antonio Pedro Vidigal de Barros. Diante deste último fator, o estudo sobre os casamentos da oligarquia da Paraíba nos séculos XIX e XX de Linda Lewin ganha relevância, pois sugere que ao invés de matrimônio, adotemos a expressão aliança matrimonial acentuando, desse modo, a lógica econômica e social de uniões como essas. (LEWIN, 1993, p. 111-199) Vale ressaltar também que não há o processo matrimonial referente ao segundo casamento, o qual exigiria uma dispensa no 2º grau de afinidade em linha transversal igual, porém o inventário de Tereza Altina Sande Barros legaliza a dita união.7 Soma-se a essas ocorrências o fato de o único herdeiro do sexo masculino, homônimo de seu pai Antonio Gomes Sande, ter sido destinado ao sacerdócio, o que anularia a possibilidade do padre reclamar maior quinhão na sua herança, ou mesmo de querer disputar pelo posto de sucessor da fazenda Pirapetinga, já que não constituíra uma família. Entretanto, ele aparece na Lista Nominativa de 1838/39 como um dos maiores proprietários escravistas do arraial de Guarapiranga, com um plantel composto por mais de 20 escravos.8 Por conseguinte, inferimos que os planos desta família tiveram um resultado satisfatório, visto que, além de manter a propriedade indivisa nas mãos de um dos herdeiros, garantira uma vida confortável para o outro. Passemos, agora, para a família Carneiro cuja genealogia observa-se a seguir: Genealogia II - Família Carneiro, primeira parte (yEd) Aqui, o capitão Antonio Januário Carneiro (1732-1799) e sua mulher Tereza Maria de Jesus Silva morrem em um intervalo de tempo, relativamente curto, (ele em 27/06/1799 e ela em 28/06/1800, um ano e um dia), consequentemente fazem apenas um inventário, no qual deixam para seus filhos um monte-mor de 11:877.477½. Entre os bens deste casal além dos 19 escravos encontramos muitos itens referentes á tecelagem e a fiação como: teares, varas de linha, e de fitas, tecidos de cetim, linho e seda, isso sem contar o alto número de lençóis e vestimentas da família.9 Através disso, podemos muito bem supor a existência de uma indústria doméstica têxtil em Guarapirangua, o que corrobora com a analise de Douglas Cole Libby e Clotilde Andrade Paiva. Estes dois autores argumentam que a decadência do ouro não foi tão forte quanto se imaginava, pois Minas Gerais era quase auto-suficiente em ferro, derivado das numerosas fundições de pequena escala, as quais começaram a se proliferar nas primeiras décadas do século XIX. Simultaneamente, a indústria doméstica têxtil que tivera suas origens no século XVIII, também se desenvolvera tornando-se uma verdadeira protoindústria na primeira metade do oitocentos e a combinação complementar entre essas indústrias domésticas e as atividades comerciais agropastoris criaram um ambiente propicio para o aumento da reprodução natural dos escravos em Minas Gerais. (PAIVA & LIBBY, 1995. p. 203-233). Mas, voltando á família Carneiro, nenhum dos filhos deste casal poderia receber a herança, já que todos eram menores de 25 anos, assim precisavam de um tutor nomeado pelo Estado para reger os bens até que eles atingissem a maioridade. Entretanto, para evitar a vinda desse tutor, Antônio Januário Carneiro (1779-1828), o filho mais velho, escreveu uma carta ao Príncipe Dom João, pedindo como mercê sua própria emancipação, para que ele, então, pudesse receber o que lhe era devido e exercer o papel de tutor de seus irmãos. Conforme a resposta a seguir, notamos Dom João concedeu a desejada mercê: Dom João por graça de Deos Principe Regente de Portugal e dos Algarves, daquem e dalem Marem Africa, Senhor de Guine e da Conquista Navegação, Comércio da Ethiópia, Arábia, Pércia e da Índia; Vossa Alteza. Faço saber a vós Provedor da Comarca de Vila Rica, que Antônio Januário Carneiro, filho legitimo do Capitam Antônio Carneiro e de D. Thereza Maria de Jesus já defuntos me reprezentão per sua petição que vais ao diante escrita a que juntou certidão, e inquirição de testemunhas pelo Juízo de Orfaons, pelo qual mostra ter mais de vinte hum annos de idade e ter juízo e capacidade, para bem reger e governar sua pessoa e bens que lho ficarão pertencendo por falescimento dos ditos seus Paes e visto o que alega; Hey por bem, e mando a vós Provedor da Comarca que depois de feitas perante vós as diligencias percizas solicito, o cumpraez e hajaes per Emancipada e de idade legitima para receber a legitima e mais bens que lhe possão pertencer, e governar sua pessoa visto a sua capacidade. Pagou de [?] [?] seis centos e quarenta réis que se carregão em receita no Alvará de ler a folhas 60 ao Thesoureiro da minha real fazenda, João Carneiro de Almeida e passará pela Chancelaria aonde satisfará o mais que de que se cumprirá, e guardará tam pontuall inteiramente. Como nela se contem, sem duvida embargo, nem contradição alguma. Pagou desta doze mil trezentos e vinte, e do legitimo quatro centos e oitenta réis do regimento do Secretario do Estado Brasil. Rio de Janeiro, des de julho de mil oito centos annos = Eu Antonio Justino de Britto e Lima, Guarda Mor da [?], o fis escrever.10 Infelizmente, ainda não dispomos dos inventários dos filhos, Jose Justiniano Carneiro, João Neponuceno Carneiro e Tereza Maria do Carmo, nem do inventario de Francisca Januária de Paula Carneiro, mãe de dez filhos naturais de Antônio Januário Carneiro (17791828). Entretanto, por uma escritura de perfilhamento de 1821 captamos a tentativa do próprio Antônio (1779-1828) de legitimar os filhos para transmitir lhes seus bens. [...] que vivendo e conformando se no presente estado de solteiro e sem herdeiros forçados por serem falecidos seus pais e avós, teve por sua fragilidade tratos illicitos com D. Francisca Paula, mulher casada vivendo separada de seu marido resultando do mesmo trato os filhos seguintes: Clementina – Jose – Tereza – Francisco = e continuou do dito trato muito depois do falecimento do dito marido de D. Francisca de Paula e estando no estado de Viúva houveram mais os filhos seguintes = Antonio – Joaquim – Joao (?) – Rita – Maria – Justina, e como desejava que todos esses fossem seus herdeiros não tendo ele outorgante [...] algum que lhe possa suceder por serem falecidos seus pais e avós, os queria por isso perfilhar e legitimar implorando para isso a Graça de Vossa Alteza Real e por ser essa a sua vontade.11 Porém, o mais intrigante é que ao invés de casar com a dita Francisca Januária de Paula Carneiro, tornando-a com isso cabeça do casal, caso ele viesse a falecer, e assim transferindo seus bens para ela, e por meio dela á seus filhos, o Capitão Antonio Januário Carneiro (1779-1828) casa-se com Francisca de Paula Magalhães em 1823, inviabilizando tal via de sucessão.12 A partir da Genealogia III, talvez, consigamos visualizar melhor as relações desta segunda geração da família Carneiro. Genealogia III - Família Carneiro, segunda parte (yEd) Em síntese, tivemos nesta família duas estratégias relativas á sucessão dos bens, o pedido de mercê, o qual impediu que um estranho controlasse os bens da família até que os herdeiros atingissem a maioridade, e a segunda, em outro momento, foi á tentativa de perfilhar os filhos tidos através de tratos ilícitos, para que assim eles pudessem ter direito à herança. Genealogia IV - Família Gonçalves Heleno (yEd) Por fim, na família Gonçalves Heleno o alferes Antonio institui como herdeiros de seu monte mor de 3:749.639 réis, composto basicamente por 7 escravos e varias dívidas a serem cobradas, os seguintes indivíduos: João Pinto de Moraes Sarmiento (inventariante e testamenteiro), o tenente Antonio Leandro Ferreira e a sua sobrinha Francisca Claudina de Jesus, todavia, esta ultima só receberia sua parte da herança se casasse com Alexandrino Alves de Neiva. O trecho a seguir demonstra tal condição: [...] Sempre fui solteiro, e não tenho herdeiros legítimos e por isso instituo por meus herdeiros a João Pinto de Morais Sarmiento, ao Tenente Antonio Leandro Ferreira e a minha sobrinha e afilhada Fransisca Claudina de Jesus, filha do meu Irmão o Guarda Mor Luis Gonçalves Heleno, no caso que ela se casse com o Alexandrino Alves de Neiva, e no caso que se não case com o mesmo herdara esta parte o sobredito João Pinto de Morais Sarmiento [...]13 Nem no inventário, nem no testamento é expressa a filiação natural de Alexandrino Alves de Neiva. Mas mesmo incorrendo no crime de incesto pela legislação canônica e pela civil os primos consangüíneos se casam até mesmo antes do falecimento do dito Alferes Antonio Gonçalves Heleno em 1822.14 E é pelo processo matrimonial que descobrimos tal filiação, mas não só, descobrimos também que Alexandrino Alves Neiva foi exposto e criado por seu padrinho o Capitão Manuel Alves Neiva. Conforme o depoimento do próprio João Pinto de Moraes Sarmiento, herdeiro, inventariante e testamenteiro do já mencionado Alferes Antonio Gonçalves Heleno: [...] dice, que tem o ouvido dixer que o orador he filho natural do Alferes Antonio Gonçalves Heleno irmão do Guarda Mor Luis Gonçalves Eleno, pai da oradora, vindo por estar elle orador ligado com a oradora em parentesco de consanguinidade em segundo grao de linha transversal igual = Que tambem por ouvir dizer sabe que o orador he filho natural de Luiza Alves de Neiva prima segunda do mesmo Guarda Mor pai da oradora, por ser a mesma Luisa Alves filha de Luisa Borges de Mansilha, esta Luisa Borges, filha de Donna Izabel, esta Donna Izabel irmam legitima de Anna de Freitas, esta Anna de Freitas mãe do Guarda Mor pai da Oradora, vindo estar elle orador por este outro lado ligado com a oradora, por consanguinidade em quarto grao de linha transversal desigual = Que pello comércio, que tem tido com os mesmos oradores tem alcançado que elles se amão reciprocamente e que não cazando se pode resultar algua infamia a oradora, posto que esteja em casa de seu pai e não tenha sido raptada = Que o orador foi exposto mais he agil e capaz de sustentar com decência a oradora = Que o orador possui hum escravo, e hum cavalo, que tudo poderá chegar a valer cento e secenta e dois réis pouco mais ou menos e mais nam dice. 15 Tal caso nos revela como um “pai” se assim o podemos chamar planejou o casamento e a sucessão de seu filho natural, pois os bens deixados á sobrinha seriam entregues a ele como dote caso o casamento viesse a ocorrer, como de fato ocorreu. Vale ressaltar que não existem referências na dispensa e no processo matrimonial sobre esta herança, ademais não há a partilha no inventário de Antonio Gonçalves Heleno, nem inventário para algum dos contraentes. Entretanto, percebemos uma clara articulação da distribuição dos bens e por esta articulação o fechamento da família em si, isto é, os possíveis casamentos do filho e da sobrinha com indivíduos de diferentes nichos econômicos e sociais são obstruídos pela proposição do casamento entre eles no testamento do “pai”/tio. Vistas todas essas estratégias tendemos a aceitar o ponto de visa de Engels, porém devemos tomar cuidado, pois existem outros fatores não econômicos influentes nas decisões que permeiam os matrimônios e as sucessões nas famílias monogâmicas, como explicar o casamento do Capitão Antonio Januário Carneiro (1779-1828) com Francisca de Paula Magalhães em 1823 e não com Francisca Januária de Paula Carneiro, mulher com a qual possuía dez filhos naturais que tentava legitimar. Além disso, como poderíamos compreender a existência das famílias escravas.16 Por conseguinte, acreditamos que a racionalidade econômica é sim importante e relevante na análise das famílias na primeira metade do século XIX, mas há também toda uma série de fatores culturais, sociais, religiosos e sentimentais que não podemos desconsiderar. Notas 1 Graduando em História pela Universidade Federal de Viçosa, bolsista de iniciação cientifica com o projeto Parentela, alianças matrimoniais e processos de sucessão em Guarapiranga na primeira metade do século XIX , financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais. 2 Livros IV, Título XCVI: Como se hão de fazer a partilha entre os herdeiros. In: Ordenações Filipinas. Disponível em: http://www.iuslusitaniae.fcsh.unl.pt/ Acesso em: 02/06/2010. 3 A terça era uma das três partes em que se dividia o monte mor líquido de um indivíduo, a qual poderia ser legada, livremente, a qualquer pessoa que o testador escolhesse. As outras duas partes deveriam ser repartidas igualmente entre os herdeiros arrolados no inventário. Portanto, com a terça o inventariado, geralmente, beneficiava um dos filhos em detrimento dos outros concedendo a este uma quantidade maior de bens. 4 Das três famílias foco de nosso estudo a família Carneiro e a família Sande/Vidigal provieram dessa técnica de amostragem, contudo a família Gonçalves Heleno é uma exceção, decidimos analisá-la pela relevância do testamento do alferes Antônio Gonçalves Heleno. 5 A primeira metade do século XIX é um período pouco estudado pela historiografia sobre Minas Gerais. Isso porque o foco dos estudos históricos tem se concentrado no século XVIII – em que se estuda majoritariamente a economia mineradora – ou a segunda metade do século XIX – na qual se analisa o revigoramento econômico promovido pela expansão do cultivo do café e, para certas regiões, a ascensão da indústria têxtil. Quanto ao recorte espacial, á região de Guarapiranga (atual Piranga, mas englobando também os atuais municípios de Porto Firme, Guaraciaba, Presidente Bernardes, Senhora de Oliveira, Brás Pires, Cipotânea, Alto Rio Doce, Rio Espera e Desterro do Melo), embora importante centro minerador e de expansão agrária, desde os inícios do século XVIII, é relativamente negligenciada pela historiografia brasileira. Esta ora se contenta com generalizações para toda a Capitania (ou Província), ora tem-se ocupado, preferencialmente, do núcleo administrativo da região mineradora (Ouro Preto e Mariana) e do centro da região cafeeira (Juiz de Fora e imediações). 6 Para construir as genealogias utilizamos o programa yEd Graph Editor, neste os homens são representados através de triângulos e as mulheres através de círculos. As relações matrimoniais são dadas por linhas horizontais, já as relações de filiação legítima ou natural são dadas por linhas verticais, ou diagonais, a diferença é que as últimas relações são tracejadas, vale lembrar que para a relação ilícita entre o Capitão Antonio Januário Carneiro (1779-1828) e Francisca Januária de Paula Carneiro usamos uma linha curva também tracejada. A cor azul de alguns indivíduos indica que possuímos os seus inventários post-mortem, já a cor amarela indica a simples menção desses indivíduos tanto nos inventários, quanto nos processos matrimoniais ou na escritura de perfilhamento. E, para encerrar as circunferências vermelhas sinalizam indivíduos para os quais existem inventários, porém ainda não obtivemos o acesso a eles. 7 Inventário post-mortem de Antonio Pedro Vidigal de Barros. Arquivo da Casa Setecentista de Mariana. Códice 18; Auto 512; 1º ofício. 8 Lista nominativa de Guarapiranga de 1838/39. Flash 2, pacotilha 32, fogo de Antonio Gomes Sande. 9 Inventário post-mortem de Antonio Carneiro e Thereza Maria de Jesus. Arquivo da Casa Setecentista de Mariana. Códice 55; Auto 1227; 1º ofício. 10 Ibidem. 11 Escritura de perfilhamento (?), 23 de agosto de 1821. In: Livro de Notas. Arquivo da Casa Setecentista de Mariana. 12 Processo matrimonial de Antonio Januário Carneiro e Francisca de Paula Magalhães. Arquivo da Cúria de Mariana. Registro 77950; Armário 32; Pasta 7795. 13 Inventário post-mortem de Antonio Gonçalves Heleno. Arquivo da Casa Setecentista de Mariana. Códice 85; Auto 1816; 1°oficio. 14 Segundo o capitulo V do Decreto de Reformulação do Matrimonio: […] As regards marriages to be contracted, either no dispensation at all shall be granted, or rarely, and then for a cause, and gratuitously. A dispensation shall never be granted in the second degree, except between great princes, and for a public cause. “Quanto á contratação do casamento, ou se não conceda dispensa alguma, ou raramente, e esta com causa e gratuitamente. Uma dispensa nunca deve ser concedida no segundo grau, exceto entre grandes príncipes, e por uma causa pública.” Ver: Decree on the Reformation of Marriage. Disponível em: http://history.hanover.edu/texts/trent/ct24.html. Acesso em: 02/06/2010. Já pela legislação filipina devia se aplicar o degredo de dez anos para África para quem cometesse o crime de incesto com tia, ou prima, ou outras parentes em graus mais remotos. Ver: Livro V, Título XVII: Dos que dormem com suas Parentas, e afins. In: Op. cit. 15 Dispensa e Processo matrimonial de Alexandrino Alves de Neiva e Fransisca Claudina de Jesus. Arquivo da Cúria de Mariana. Registro 74307; Armário 31; Pasta 7431. 16 Mesmo não sendo o foco deste estudo é relevante atentarmos as mais de 10 famílias escravas encontradas nos inventários da família Sande/Vidigal. Fontes Manuscritas a) Listas Nominativas - 1838/39 - 1831/32 b) Arquivo da Casa Setecentista de Mariana - Escritura de perfilhamento (?), 23 de agosto de 1821. In: Livro de Notas. - Inventário post-mortem de Antonio Carneiro e Thereza Maria de Jesus. Códice 55; Auto 1227; 1º ofício. - Inventário post-mortem de Antonio Gomes Sande. Códice ?; Auto ? ; 1º ofício. - Inventário post-mortem de Antonio Gonçalves Heleno. Códice 85; Auto 1816; 1° oficio. - Inventário post-mortem de Antonio Pedro Vidigal de Barros. Códice 18; Auto 512; 1º ofício. - Inventário post-mortem de Francisca Cândida de Oliveira Sande. Códice ?; Auto ?; 1º ofício. - Inventário post-mortem de Francisca Clara Umbelina de Jesus. Códice ?; Auto ? ; 1º ofício. c) Arquivo da Cúria Arquidiocesana de Mariana - Dispensa e processo matrimonial de Alexandrino Alves de Neiva e Francisca Claudina de Jesus. Registro 74307; Armário 31; Pasta 7431. - Processo matrimonial de Antonio Carneiro e D. Maria Thereza de Jesus e Silva. Registro 326; Armário 1; Pasta 33. - Processo matrimonial de Antonio Gomes Sande e Francisca Clara Umbelina de Jesus. Registro 615; Armário 1; Pasta 62. - Processo matrimonial de Antonio Januário Carneiro e Francisca de Paula Magalhães. Registro 77950; Armário 32; Pasta 7795. - Processo matrimonial de Antonio Pedro Vidigal e Francisca Cândida de Oliveira Sandinha. Registro 80367; Armário 33; Pasta 8037. Referências Bibliográficas - ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Tradução de Leandro Konder. 14° ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,1997. - LEWIN, Linda. Política e Patronagem na Paraíba. Um Estudo de Caso da Oligarquia de Base Familiar. Rio de Janeiro: Record, 1993. - PAIVA, Clotilde Andrade & LIBBY, Douglas Cole. Caminhos alternativos: escravidão e reprodução em Minas Gerais no século XIX. In: Estudos Econômicos. São Paulo, vol. 25 n° 2, 1995.