AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA DO TESTÍCULO DE RATOS WISTAR SUBMETIDOS A CHOQUE TÉRMICO TESTICULAR E EXPOSTOS AO CAMPO ELETROMAGNÉTICO POR 7, 15 E 30 DIAS. Cristiane Maia da Silva1, Sandra Maria de Torres2, Bruno Mendes Tenório3, Bonifácio Moisés4, Valdemiro Amaro da Silva Júnior5 Introdução A exposição da população a Campos Eletromagnéticos (CEM) de baixa freqüência (50 a 60 Hz) vem crescendo gradativamente. Diariamente grande segmento da sociedade se expõe as linhas de distribuição de energia elétrica e aparelhos eletroeletrônicos, tais como microcomputadores, aparelhos de televisão e rádio, dentre outros [6]. Apesar do crescente interesse da classe científica acerca da possibilidade dos CEM interagir com os sistemas biológicos causando efeitos adversos, a extensão e os mecanismos de ação desta interação ainda não foram esclarecidos (TONINI et al., 2001). Segundo Lee et al. (2004) a exposição a CEM de baixa freqüência (60Hz e 100µT) em ratos adultos durante oito semanas não alterou nem o peso corporal nem dos testículos, porém aumentou a incidência de morte das células germinativas, inclusive células em apoptose, houve decréscimo na quantidade de túbulos seminíferos. Ramadan et al.(2002) observou que ratos expostos a CEM de 50 Hz e 20 mT sofrem alterações na contagem, motilidade e produção diária de espermatozóides, além de alterações como dilatação da largura dos túbulos seminíferos e ausência em algumas regiões de espermatogônias e espermatogênese. Em contrapartida, Chung et al.(2005) não encontrou efeitos deletérios na espermatogênese e fertilidade de animais expostos a doses de 60 Hz e intensidades de 5, 83.3 e 500 mT durante o período de 6 dias de gestação até os 21 dias de idade. Este trabalho tem por objetivo avaliar o efeito do campo eletromagnético de baixa freqüência sobre o parênquima testicular de ratos Wistar submetidos a choque térmico testicular. Material e métodos Foram utilizados 35 ratos machos da linhagem Wistar (Rattus norvegicus, var. albinus), com 120 dias de idade e peso médio 460 ± 5g, mantidos no biotério do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da UFRPE, em ciclo claro/escuro de 12h, água e ração ad libitum. Aos 120 dias de idade os animais foram submetidos a um período de adaptação de 7 dias em bobinas de polietileno por 30 minutos diariamente. No oitavo dia os animais foram anestesiados com anestesia dissociativa de xilazina (6mg/Kg) e cetamina (80mg/Kg) e submetidos a choque térmico testicular utilizando banhomaria a 43ºC por 15 minutos. Após o choque térmico os animais foram divididos em seis grupos experimentais: controle 7 dias (n = 5), exposto por 7 dias (n=5), controle 15 dias (n=6), exposto por 15 dias (n=6), controle 30 dias (n=6) e exposto por 30 dias (n=7). As exposições ao CEM eram realizadas diariamente, três vezes ao dia durante 30 minutos cada. Os grupos tratados com CEM foram expostos a campos gerados por ondas eletromagnéticas de 60 Hz, do tipo senoidal e com intensidade de fluxo em torno de 1mT. A pesagem dos animais foi realizada diariamente, para o acompanhamento do peso corporal. Ao termino de cada período experimental (7, 15 e 30 dias) os animais foram anestesiados com tiopental sódico (50mg/Kg) intraperitonealmente e perfundidos com solução fisiológica a 0,9% de NaCl e solução fixadora de glutaraldeído em tampão fosfato de sódio a 0,01M e pH 7,2. Após este procedimento foi realizada a coleta de órgãos do sistema reprodutivo, como testículos, epidídimo, próstata e vesícula seminal, pesados e refixados para futuras analises histopatológicas. ________________ 1.Primeiro Autor é aluna da Graduação do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE. Rua Dom Manuel de Medeiros,s/n,Dois Irmãos,Recife-PE,CEP:52171-030. 2. Segundo Autora é aluna de Pós-Graduação do Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica de Medicamentos da UFRPE. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP: 52171-030. 3. Terceiro Autor é aluno de Pós-Graduação do Programa de Biociência Animal da UFRPE.Rua Dom Manuel de Medeiros,s/n,Dois Irmãos, RecifePE, CEP:52171-030. 4. Quarto Autor é aluno da pós-graduação do Programa de Ciências Veterinária da UFRPE.. Rua Dom Manuel de Medeiros,s/n, Dois Irmãos,RecifePE, CEP:52171-030. 5. Quinto Autor é Prof° Associado 1 do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da UFRPE.Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n,RecifePE,CEP:52171-030 Resultados e Discussão Histopatologicamente o testículo dos animais do grupo exposto por 7 dias pós-choque térmico (Figura 1A) é possível observar raras células germinativas (espermatogônias e espermatócitos) nos túbulos, enquanto os animais expostos o grau de degeneração foi mais intenso com túbulos seminíferos contendo células de Sertoli e espermatogônias na parte basal dos túbulos seminíferos (Figura 1B). Nos animais avaliados aos 15 dias pós-choque térmico nos grupos controle (Figura 1C) e expostos a campo eletromagnético foi possível notar que os túbulos seminíferos do grupo controle tinham perfil arredondado e presença de células da linhagem germinativa. O espaço linfático estava bem definido, com células de Leydig circundando vasos. Enquanto que o testículo de ratos expostos ao CEM por 15 dias (Figura1D) se observou perfil irregular dos túbulos seminíferos e epitélio seminífero não continha de células germinativas. Constatou-se também aumento do espaço intertubular neste grupo e espessamento de túnica própria. O parênquima testicular dos animais submetidos a choque térmico do grupo controle aos 30 dias possuía túbulos seminíferos com perfil arredondado e presença de células da linhagem germinativa. O espaço linfático estava bem definido com várias células de Leydig de aspecto normal (Figura 1E). Por outro lado, o testículo de ratos submetidos a choque térmico e expostos ao CEM por 30 dias, possuíam perfil irregular dos túbulos seminíferos, ausência de epitélio e células germinativas, vacuolização de células de Sertoli, descamação de células do epitélio. Constatou-se também aumento do espaço intertubular e espessamento de túnica própria (Figura 1F). O CEM não influenciou na recuperação das lesões testiculares decorrentes da realização do choque térmico testicular até o 30º dia após avaliação histopatológica. Pelo contrário, a utilização deste recurso parecer ter retardado o processo de recuperação do processo espermatogênico, uma vez que, se constatou poucas células germinativas nos túbulos seminíferos dos animais tratados com CEM aos 30 dias. O projeto ainda está em andamento restando a realização de avaliações morfométrica. Agradecimentos Agradeço ao professor Valdemiro Amaro da Silva Junior e a Pós–Graduanda Sandra Maria de Torres pela preciosa orientação, a UFRPE que permitiu que as atividades fossem realizadas e a FACEPE pelo apoio financeiro. Referências Bibliográfica [1]ABERCROMBIE, M. Estimation of nuclear populations from microtome sections. Anatomical Records,v.94, p.238-248, 1946. [2]AMANN, R.P.; ALMQUIST, J.O. Reproductive capacity of dairy bulls. VIII. Direct and indirect measurement of testicular sperm production. Journal Dairy Science, v.45, p.774-781, 1962. [3]AHLBOM, A. Neurodegenerative Diseases, Suicide and Depressive Syntoms in relation to EMF. Bioelectromagnetics Supplement, Stockolm: Sweden, v. 5, p. 132-143, 2001. [4]ATTAL, J.; COUROT, M. Developpement testiculaire et etablissement de la spermatogeneses chez le taureau. Ann. Biol. Anim. Biochim. Biophys., v.3, p.219-241, 1963. [5]BALCER, K.; ELIZABETH, K. Gene Expression Flowing 60-Hz Magnetic Field Exposure. Enviromental Health Perspectives, Boston: MA, p. 18-22, 1995. [6]TONINI, R.; BARONI, M.D.; MASALA, E.; MICHELETTI, M.; FERRONI, A.; MAZZANTI, M. Calcium protects differentiating neuroblastoma cells during 50 Hz electromagnetic radiation. Biophysical Journal. v. 81, p. 2580-2589, 2001. TS TS EIT EIT A B EIT TS EIT EIT D C TS TS EIT E F Figura 1: Fotomicrografia de testículos de ratos submetidos a choque térmico e expostos a campo eletromagnético por 7, 15 e 30 dias. Figura 1A. Fotomicrografias do testículo de ratos submetidos a choque térmico do grupo controle 7 dias. Notar túbulos seminíferos (TS) em processo de degeneração, formação de células sinciciais (seta preta), e espaço intertubular (EIT). Aumento 100X. Figura 1B: Fotomicrografias do testículo de ratos submetidos a choque térmico e expostos ao CEM por 7 dias. Observar aumento do espaço intertubular (EIT), túbulo seminífero com degeneração (TS), espessamento da túnica própria (seta amarela) e vacuolização de célula de sertoli (seta preta). Aumento 100X. Figura 1C: Fotomicrografias do testículo de ratos submetidos a choque térmico do grupo controle 15 dias. Notar túbulos seminíferos com perfil arredondado (TS) e presença de células da linhagem germinativa, espaço linfático (EIT) bem definido com células de Leydig circundando vasos (seta). Aumento 100X. Figura 1D: Fotomicrografias do testículo de ratos submetidos a choque térmico e expostos ao CEM por 15 dias. Observar perfil irregular dos túbulos seminíferos e epitélio ausente de células germinativas. Aumento do espaço intertubular (EIT). Aumento 100X. Figura 1E: Fotomicrografias do testículo de ratos submetidos a choque térmico do grupo controle 30 dias. Notar túbulos seminíferos com perfil arredondado (TS), com presença de células de Sertoli (seta amarela) e células da linhagem germinativa (seta preta), espaço linfático (EIT) bem definido com muitas células de Leydig (seta vermelha). Aumento 400X. Figura 1F: Fotomicrografias do testículo de ratos submetidos a choque térmico e expostos ao CEM por 30dias. Observar túbulos seminíferos (TS) organizados irregularmente, ausência de células germinativas, vacuolização das células de Sertoli (seta amarela) e aumento do espaço intertubular (EIT). Aumento 400X.