DINÂM1CA DE OCUPAÇÃO ESPACIAL/USO DO SOLO EM SÃO LUÍS NO PERÍODO DE 1950 A 2000 Antônio José de Araújo Ferreira' RESUMO Este artigo trata da dinâmica da ocupação espacial e uso do solo na capital do Estado do Maranhão no período de 1950 a 2000. O objetivo, portanto, é contribuir para o debate acerca do crescimento da cidade de São Luís. Palavras-chave: Ocupação espacial; uso do solo; dinâmica; São Luís. ABSTRACT This article concerns to the dinamic of the spatial occupation and land use in capital of Maranhão State in period of 195012000. The objective, therefore, is to contribute to a debate about ofthe growth the city ofSão Luís. Keyword: Spatial occupation; land use; dinarnic; São Luís. 1 INTRODUÇÃO A capital do Maranhão, São Luís, localizada na macrorregião Nordeste do Brasil, é uma cidade de porte médio que se destaca por ser a única do País fundada pelos Franceses, concentrar 867.690 pessoas (BRASIL, 2001) ou 15,39% do total estadual em uma superfície correspondente a 0,25% do território estadual, aglomerar os setores econômicos secundário e terciário, bem como por ser estratégica em relação aos interesses nacionais tendo em vis- ta o complexo portuário da baía de São Marcos. É a partir de 1950, todavia, que em São Luís se intensifica uma gama de conteúdos cuja dinâmica espacial e usos do solo são expressivos indicadores. O objetivo, pois, é explicar como tal dinâmica se materializou e ampliar o debate acerca das repercussões, principalmente espaciais, decorrentes do crescimento da capital maranhense. Isto, nos últimos cinqüenta anos haja vista, também, a instituição da Região Metropolitana da Grande São Luís. • Prof. Msc. do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Maranhão 2 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO E DE PESQUISA b) Ao proceder revisão da literatura internacional e nacional sobre a relevância do espaço (e sua produção) na Geografia, Ferreira (1998) ressalta que ambos emergem de uma gama de debates que enfatizaram a obra marxiana e abrangeram as ciências sociais em que se pode elencar a contribuição de sociólogos, filósofos e geógrafos. Em relação a esses últimos, é na Geografia Crítica que o consenso é maior no que tange à vinculação do espaço à reprodução das relações (sociais) de produção e, portanto, da sociedade. Superou-se, por conseguinte, a arcaica concepção de que o espaço é organizado pela sociedade e adicionouse a que explica que este é essencialmente produzido. Neste caso, surge o binômio ocupação/uso do solo derivado da reprodução do espaço a qual é concretizada mediante a relação sociedade-espaço decorrente da lógica do capital em que o materialismo histórico e dialético é o método de interpretação que se levou a efeito. O método de pesquisa utilizado corresponde a uma gama de técnicas com as quais se alcançou a compreensão da dinâmica de ocupação e uso do solo na capital maranhense, a saber: a) pesquisa indireta em que se incluíram os aspectos documentais, bibliográfico e cartográfico haja vista a análise do processo de ocupação espacial e de sua v inculação com a 26 c) d) e) f) g) heterogeneidade de usos do solo; seleção e análise dos dados e informações obtidas; interpretação visual dos documentos cartográficos selecionados para posterior elaboração de over/ays; confecção da base cartográfica a partir" de duas cartas planialtimétricas da DSG/ME, 1980, escala 1:100.000; interpretação automática do produto cartográfico resultante. Para tanto, utilizou-se o software Spring 3.4 (INPE) com o intuito de se proceder ao tratamento da cena e a classificação dos usos do solo. Isto, apoiado no Maxver com limiar de aceitação de 95%; pesquisa direta, ou seja, verdade terrestre e observação direta intensiva, mais precisamente entre 10 e 16.07.1997 e 21 a 29.11.1997,07 a 16.06.1998 e 10 a 15.10.1998 e de 10 a 16. 10.1999. O objetivo dessa técnica consistiu em se dirimir dúvidas concernentes aos itens c, d e, assim como se complementar dados e informações e ainda se proceder ao registro foto gráfico; sobrevôo nos dias 01.10.1998 e 14.11.2000, mediante uma aeronave bimotor, Senecca. Isto com o propósito de se adicionar informações atinentes a Cad. Pesq., São Luís, v. 13, n. 2, p. 25-36, ju/./dez. 2002. novos conteúdos que através da verdade terrestre não foram identificados e/ou relevados, bem como para se viabilizar reinterpretação e ainda se verificar a tendência do processo de ocupação espacial; h) confecção da carta de uso do solo, escala 1:100.000. e) mapa do zoneamento de São Luís, conforme Lei Municipal n? 3253/1992; f) carta de uso e cobertura da terra da microrregião da aglomeração urbana de São Luís (GERCO/CPE/SEMA, i996); g) 126 Aerofotogramas verticais monocromáticos, escala aproximada 1:8.000, março de 1988, vôo Aerodata S.A.; h) pantógrafo Tridente, modelo PME60, visando à transferência e uniformização da escala; i) imagem analógica do Spot, órbita-ponto 711.355/2, cena de 18/ 08/1991, escala aproximada 1:100.000, composição policromática; j) microcomputador; I) papel milimetrado e poliéster; m) estereosc6pio de bolso; n) régua milimétrica. .. 3 MATERIAL UTILIZADO o material utilizado foi selecionado e analisado com o intuito de se apreender os diferentes momentos concementes ao processo de ocupação espacial/heterogeneidade de usos do solo, sobretudo a partir de 1950. Portanto, refere-se aos produtos e instrumentos cartográficos, como: a) mapa de crescimento da cidade de São Luís (AZEVEDO, 1950-51); b) mapas (até 1950; 1950-1970; e 1970 - 1988) da expansão urbana da ilha de São Luís (JAAKO POYRY ENGENHARIA, 1988); b) carta de crescimento horizontal de São Luís-MA: 1950-1991 (FERRElRA, 1994); c) cartas planialtimétricas referentes às folhas SA. 23-Z-AII (MI-495, AJcântara-MA) e SA-23-Z-A-V (MI-549, São Luís-MA) (DSG-ME, 1980); d) mapa do plano diretor de drenagem de São Lu ís (PROPLAN ENGENHARIA, 1982); Cad. Pesq., São Luís, Y. 4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS As categorias de uso e cobertura da terra definidas originam-se de adaptações assentadas nas classificações de Abrams (1979); Anderson (1979); Niero e Lombardo (1979); Nierro e Foresti (1983); Lindgren (1985); Harris (1987); Sabins (1987); Pinto et ai (1988); Ferreira et ai (1996b). Para tanto, procedeu-se ao reconhecimento das diferentes categorias de uso em que se utilizaram os conceitos de função e forma e o critério que possibilitasse sua agregação. Neste caso, a ocupação 13, n. 2, p. 25-36,jul.ldez. 2002. 27 espacial serviu de base em que os vários usos foram identificados e selecionados os de maior interesse. Vale realçar três ponderações de ordem analítica.A primeira implica que por uso do solo se entende a "utilização cultural" aliada à proeminência de determinados equipamentos. A segunda refere-se ao fato de que a cobertura da terra equivale ao "revestimento" (NOVO, 1993). A terceira trata da dinâmica da ocupação espacial de São Luís a qual, segundo Ferreira (2000), revela que: a) antes de 1970 o quadro era o seguinte: entre 1950-70 à cidade de São Luís foram incorporadas 145.701 pessoas, que em termos cumulativos somavam 265.486 habitantes, em 1970; o desemprego era expressivo; a carência habitacional resultou no incremento de palafitas e áreas de ocupação que, por seu turno, culminou na articulação da. população via associação de moradores; o SFH /BNH através da COHAB-MA produziu três conjuntos que corresponderam a 2.438 unidades e à inversão de US$ 2.742.060 os quais geraram 9.752 empregos. Entre 195170, no entanto, o crescimento horizontal dessa cidade foi de 9,87 km- ou 137,66% em relação ao período de 1612-1950 o que significa que ainda era lento e linear (Tabela 1). 28 Tabela 1- São Luís: crescimento horizontal (1612-1996) Período 1612·1950 1951·1970 1971·1988 1989·1996 Total Area ocupada (km2) 7,17 9,87 233,49 38,71 289,24 I I Taxa de ocuoacão (%) No Sobre as terras período emersas 1,22 137,66 1,69 2.365,70 39,92 16,58 6,62 49,45 Fonte: FERREIRA, Antônio J. deA., 1999. b) após 1970 tem-se como indicativo sete referenciais: - a União concede terras ao Estado e Município para implantação de planos e projetos inerentes à organização do espaço urbano de São Luís os quais, todavia, foram desvirtuados; o Programa Nacional de Capitais e Cidades de Porte Médio materializou-se em três convênios que entre 1976-83 culminaram na inversão de 22.208.749 OTN' s e na melhoria das vias de acesso; a ação de apropriadores de terra é intensificada; a política territorial vinculada ao Programa Grande Carajás é concretizada mediante os empreendimentos da CVRD e ALUMAR, sendo que este último Cad: Pesq., São Luís, v. 13, n. 2,p. 25-36,ju/./dez. 2002. investiu R$ 224 milhões em 1980 os quais corresponderam a 95% do total aplicado nas cidades de porte médio e . a 69% da macrorregião Nordeste; com efeito, o distrito industrial de São Luís é implantado e ocupa 28,39% desse município; - registrou-se a produção de 55 conjuntos habitacionais relativos a COHAB, IPEM , Cooperativas e CEF que se expressaram através de US$ 218.595.950 e 30.409 unidades, sendo que entre 1970/91 houve a incorporação de 429.713 novos indivíduos à capital maranhense o que representou um incremento de 294,93% em comparação a 195070 o qual ampl iou a demanda por moradia e ante a permanência do déficit materializou-se a ascendência de alternativas como palafitas e áreas de ocupação (essas últimas eram 06 entre 1960/70; 27 no período de 1971/ 88; 24 entre 1989-99)Quadro 1; Cad. Pesq., São Luis, Y. /3, n. 2, p. 25-~6,jul.k1..ez. Quadro 1- São Luís: áreas de ocupação (1930-1997) ._- - - .I Ano N" Nom 1930 195.0 1960: 1970 01 Fátima 01 Goiaba --- \"-··Pã',mêTra, Coroado; êõroãdi~ho.-sânta 06 19711988 27 19891999 24 Cruz c Vera Cruz ele. João de Deus, padre Xavier, S. Bernardo V. Brasil, V. dós Frades, Cantinho do Cé~ Divinéia, Nova Divinéia, Pica Pau Amarelo, Rio Anil, Novo Angelim, Santos Dumont, V. Isabel Cafeteira, V. da Paz, Bom Jesus, Menino Jesus de Praga, V. It~mar, V. Janalna, V. Césamo, Vicente Fialho, V. Isabel, Furnacê, V. Nova, V. Bacanga, V. Embratel;Sã Viana, Mauro Fecuri I. Bo~fim, Mauro Fecuryll, D. Luis, S. Rall~undo, V. Conceição, Sitinho, V. Funil, V. Lobão,.v. S. João, V. Forquilha, Brisa do Mar, Sol e Mar. Aynon Senna, V. Luizão, Pavio Filho, S. Clara, S. Efigênia, V. Vitória, Argola e Tambor, V. Ariri, Apaco, Parque Roseana Samey, V. Cascavel e Cidade Olímpica. I Fonte: FERREIRA, Antônio 1.de A. 1999. V*=Vila - 2002. a diversificação do capital é a mais recente face ta desse dinamismo , sobretudo mediante a construção de shopping centers, substituição de usos do solo residencial pelo comercial, predominantemente nas principais avenidas da referida cidade e através da verticalização que é baseada no "novo conceito de moradia"; com efeito, a ocupação espacial (horizontal) registra incremento de 2.382,28% entre 1971-96 uma vez que nesse período a participação sobre as terras emersas foi de 46,54 29 km2 ou 94, 11% sobre o total desde a fundação da cidade (Tabela 1). Em decorrência desses referenciais que imprimiram novos elementos e conteúdos à capital do Maranhão, verificou-se que as categorias de uso do solo registraram crescimento de 250% entre 1950-2000. No primeiro ano, Azevedo (1950/51) identificou somente quatro áreas funcionais: comercial, industrial, residencial e adm inistrativa. A área comercial correspondia ao espaço compreendido entre a Praia Grande e a Rua Antônio Raiol, isto é, "entre o Bacanga, a oeste, a Rua Antônio Raiol, a leste, a Avenida Pedro II e a Rua José Bonifácio, ao norte, e a Rua Jacinto Maia ao sul" (AZEVEDO, 1950/51, p. 36). O capital comercial, neste caso, se apresentava sob a forma de comércio varejista e atacadista. A área industrial equivalia às "pequenas oficinas e três grandes estabelecimento fabris (tecidos e produtos oleuferos", Azevedo (1950/51, p. 38), sendo esses últimos representados pelas Companhias de Fiação e Tecidos Maranhenses (localizada na Carnboa), Cânhamo e a de Fiação e Tecelagem São Luís. A área administrativa concentrava-se na Avenida Pedro II em que se sobressaiam o Palácio dos Leões (sede do Governo Estadual), a Prefeitura Municipal, a Delegacia Fiscal, o Fórum, o Banco do Brasil, a Capitania dos Portos, as empresas de navegação, bem como a Igreja da Sé e o Palácio Arquiepiscopal, além do Palácio do Comércio. A área residencial "mais típica, com seus velhos sobrados, mas 30 também com residências de construção moderna ou mais modesta", Azevedo (1950/51, p. 38) localizava-se ao longo da margem esquerda do rio Anil, acompanhando o traçado da Estrada de Ferro São Luís - Teresina, sendo que da Praça Gonçalves Dias, direcionavase à Quinta do Barão e daí para o "bairro" de São Pantaleão. Em relação a essa última área (residencial), convém destacar que o referido autor se ateve apenas ao que era considerado cidade, isto é, área contígua ao Centro Histórico, pois não levou em conta o distrito do Anil (Lei n" 171/50), assim como as vilas e povoados existentes, a exemplo do Vinhais, Turu, Olho d'Água, Santa Rosa, Tibiri, Maracanã, Maranhão, Maioba, Tguaíba e São José. Portanto, Azevedo excluiu de sua categoria - área residencial - as habitações que justamente mais contribuíam e revelavam os conflitos e contradições de como se processava a reprodução espacial da cidade de São Luís. Tendo em vista a ausência e/ou deficiência de infra-estrutura, o citado autor ressaltou os "subúrbios" do Diamante, Baixinha, Céo, Codosinho, Alto do Bode e Vila Operária que se localizavam em áreas então disponíveis, ou seja, manguezais de um lado, e áreas de terra firme adjacentes a esses, do outro. Essas áreas caracterizavam a segregação sócio-espacial haja vista que lá estavam "as habitações mais pobres - casa de pau-a-pique, cobertas com palhas de babaçu [...], aparecem com freqüência, a atestar o baixo nível de vida de seus moradores, em sua maioria gente de cor negra"(AZEVEDO, 1950/51, p. 39). Cad. Pesq., São Luís, v. 13, n. 2, p. 25-36,juI./dez. 2002. Decerto «jfJ1Ie eessa população 1111\}JSffi era origináriaafi0~istema_escravista (e rque embora liemfua-sido beneficiada ,(mm a liuertação de regime servil e absorwida pela indüsíriajêxtil, o declínio destarevelou os eSC<lSR0S recursos per<Ofiliidosque, somados ao desemprego, agravaram e impediram o acesso à rerra uma 'vez que a mesma adquiriu valer de troca e o Código Civil de 1916 havia definido a figura jurídica da propriedade. Gom efeito, a posse de uma renda monetária passou a ser pré-requisito para se ocupar e viver no espa- ço urbano; daí o porquê dessas pessoas oouparem as áreas de manguezais, onde 'li! Vila das Macaúbas e o Goiabal representavam as palafitas enquanto a área residencial de Fátima relacionava-se ao processo de ocupação espontânea. No ano de 2000, as categorias de uso obtidas corres ponderam a dez: urbanizada, tombada, restrita à ocupação, institucional, jurisdicional, ocupação, aproveitamento econômico primário, lazer, passível de expansão e águas (Quadro 2). Quadro 2 - São Luís: categorias de uso/tipo de ocupação - cobertura vegetal estabelecidos (2000) rC~-tê~~:i;de-r---~~~:~~~~Yc~fcãt~~--~--~~-Á~c~--~:---Á~ea I Residên<:la padronizada, =r ------ ____ urbani21lda __~~:~r;;~~~.;~;.;.~;~~~a __ ~:~ __ .t__~~~~ ----- ----I f- R Área tombada : Conjunto .arqultetonlco com '1,70 ,:~~o_rhlst()~~~~~_lI,It.'!!_~!----T43~48- ! Unidades i . de Conservação I Parque Estadual do Bacanga Restrita à ocupação II i Mata ciliar i i lnstitucional I ! 47,35 1,50 ! APA da Região de Maracanã . _ 029 --i4:'-iõ-- 30,28 1,37 Parque Estadual do Itapiracó I I Parque Ecológico da Lagoa da i Jansen Manguezais ! Area verde Apicum I I· Areas de instituições í <:'ovemamentals I_~:~~ _ i !' 14,20 0,85 89,16 1,88 4,24 17,48 11 27 2,94 b~~SdiCi~~=1iíi;~;;_~ =-_~~j~:J;_i~I:~2?.l~~~ I Ocupação I Areas de ocupação ! . "Cultivo Aproveitarnent . ,. o econômico 'I Estabelecimento agropecuano (primário) , Avícola I Extração de argi Ia plástica I ...........1_~.~~.1~~... . _ Cad. Pesq., São Luís, v. /3, n. 2, p. 25-36,jul.ldez. 2002_ ; : ; i 31,90 13,35 004 5,36 2,24' ' 10,87 0,35 2 09 __:... ' . 31 · Lazer Área passível de expansão Cordão arenoso Clube social 4,04 3,60 I praias 0,44 110,83 4,19 Loteamento Capoeira Floresta Secundária 272,69 246,77 Rios Lagoa de estabilização (Caem a) Lagoa de captação (Alumar) Represa 18,61 13,44 93,20 Mista Territoriais Águas 0,68 4,35' 24,55 0,09 0,24 1,04 595,38 do Batata Total 100,00 Fonte: Carta de Uso e Cobertura da Terra, escala I: I00.000, Gerco-MA, 1996.Atualização: FERRElRA, A. J. de A. julho, 200 I. * Esse percentual não inclui as águas territoriais ** Esse total exclui águas territoriais. Convém, inicialmente, destacar que de uma superfície total equivalente a 831,7 km- Brasil (1996) as águas ocupam 272,69 km2 ou 32,71 % da mesma devido às águas territoriais que são responsáveis por 90,49% do total dessa categoria o que, para efeito de análise, foi desconsiderado haja vista que o objeto de estudo (ocupação/uso e cobertura) atérn-se às terras emersas e águas do entorno imediato da ilha do Maranhão. Ante essa ponderação e tomando-se como referência a superfície municipal atinente às terras emersas e águas internas, além de rios a qual corresponde a 595,38 km2 se sobressaem cinco categorias de uso: 1) ajurisdicional, que se refere ao distrito industrial, abrange 166,05 km2 ou 27,89% desse total e tem uso definido conforme Decreto Federal n° 66.227/ 70 e Lei Estadual n° 3.840/77, combinadas com Decreto Estadual n° 7.632/80; 32 2) a categoria restrita à ocupação equivale a 143,48 km2 ou 24,10% da superfície total e destaca-se por incluir elementos que possuem usos regulamentados ou apre.sentam limitações ao uso, a exemplo de quatro unidades de conservação as quais prescindem de atualização e/ou efetivação de plano de manejo e gestão, além de mata ciliar que constitui o sistema de mananciais, manguezais sob forte degradação, área verde e apicuns; 3) a área urbanizada corresponde a 80,63 km2 o que implica em 13,54% do total considerado e representa com mais propriedade a intensidade da ocupação espacial tendo em vista o predomínio de residências padronizadas oriundas do sistema financeiro oficial (incluindo o particular) e as consolidadas e/ Cad. Pesq., São Luís, V. /3, n. 2, p. 25-36,juUdez. 2002. ou as que concentram atividades terciárias em que se relevam cinco shopping center instalados a contar de 1986; 4) embora seja pequena, a categoria área tombada se sobressai em função do conjunto arquitetônico com valor histórico cultural já reconhecido pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade e que tem sido objeto de intervenções visando ao turismo. Inclui os tombamentos federal e estadual que perfazem 1,70 km2 ou 0,29% da superficie total em referência; 5) a categoria ocupação resulta de uma alternativa (a outra é a palafita, aqui não considerada) da população menos abastada que por ficar à margem das moradias oferta das pelo sistema oficial e particular, revela uma das contradições do capitalismo engendrando conflitos pela posse e uso do solo, o que deriva de uma forma singular e legítima de produzir espaço, sendo que a sua relevância vincula-se ao ritmo com que foram produzidas nos últimos 28 anos (Quadro I), mesmo que corresponda a 31,90 km2 ou 5,36% da superfície total referida. As demais categorias de uso têm pouca expressão decorrente da fragmentação espacial da categoria institucional, reduzida zona rural, poucas áreas de lazer, etc. Exceção pode ser creditada à categoria de uso passí- vel de expansão a qual revela como agravante o fato de que representa 110,83 km2 ou somente 18,61 % da ci'tada superficie municipal. Vale notar que a diferenciação / heterogeneidade de usos do solo revelam conteúdos e movimentos da "produção das relações capitalistas" que se materializa no "modo de ocupação de determinado lugar da cidade, a partir da necessidade de realização de determinada ação, seja a de produzir,.consumir, habitar ou ·viver", Carlos (1994, p.85), o que implica que o solo urbano é essencialmente uma mercadoria cujo valor de troca/uso precisa de maior compreensão haja vista que deriva da ocupação espacial. Neste caso, a articulação de escalas é substancial uma vez que a categoria de análise totalidade deve ser realçada pois convém se aprofundar o conhecimento sobre o uso de território (FERRElRA, 1996a). 5 CONCLUSÃO A referida ocupação espacial e seu dinamismo, pois, decorrem das cumulativas ações do Estado e sua associação com os detentores de capital e outros agentes sociais que adicionaram novos elementos e conteúdos à revalorização do espaço, como bem exemplifica a substituição de uso do solo. A dinâmica de ocupação espacial e uso do solo em São Luís no período de 1950 a 2000, portanto, deve ser analisada como resultado do incremento econômico aliado ao aumento da população, à melhoria das vias de acesso, à incorporação de novas áreas, e ascensão do crescimento horizontal em que Cad. Pesq., São Luís, v. 13, n. 2, p. 25-36,jul./dez. 2002. 33 o uso residencial revela algumas das contradições e conflitos oriundos da reprodução do capital (o preço do m2 na área de verticalização mais recente - São Francisco/Renascença/Calhau varia entre R$ 800 e 1.000, o equivalente ao preço de um barraco nas áreas de ocupação). Ante a conurbação indicada por Ferreira (J 994) e a pouca expressivi- dade da categoria de uso passível de expansão, a capital maranhense tem servido como indutora de usos do solo em Paço do Lumiar, Raposa e São José de Ribamar, o que requer compreensão e que se leve em conta o fato de, legalmente, esses quatro municípios integrarem a Região Metropolitana da Grande São Luís, cujo fato agravante vincula-se à não instituição do plano metropolitano. REFERÊNCIAS ABRAMS, Charles. Los usos dei suei o em Ias ciudades. In: DAVIS, Kingsley. La ciudad: su origen, crescimiento e impacto en el hombre. Madrid: Herman Blume. 1979, p.259-267. .Totalidade e território: uma atualização? In: CARLOS, Ana F. A. (Org.). Milton Santos: obra revisitada. São Paulo: Hucitec, 1996a. p.241-247. O Estado enquanto agente social do urbano. Revista Geousp, São Paulo, n.4, p.27-37, 1998. ___ ANDERSON, James. Sistemas de classificação do uso da terra e do revestimento do solo para utilização com dados de sensores remotos. Rio de Janeiro: IBGE, 1979. 80p. AZEVEDO, Aroldo de. São Luiz do Maranhão: primeiros estudos. São Paulo: AGB, v.5, n.l, p.25-40, 1950/51. o Uma interpretação geográfica para São Luís. Revista Geousp, São Paulo, n.7, p.51-58. 2000. ___ o FERRElRA. et a\. Evolução do uso do solo da folha Pinheiros: 1930-1994. São Paulo. DG-FFLCHlUSP. 1996b. 24p. BRASIL. FIBGE. Área dos municípios da UF: 21 - Maranhão. Rio de Janeiro. 1996.5p. HARRIS, Ray. Satellite remoto sensing: an introduction. New York: Routledge & Leagan Paul. 1987. 220p.i\. Dados preliminares do censo 2000: Maranhão. Rio de Janeiro. DEPISI DEAD. 2001. 20p.i\. LEFÉBVRE, Henri. The production of space. Oxford: Blacwell Publischers, 1994. 454p. CARLOS, Ana Fani A. A (re )produção do espaço urbano. São Paulo: EDUSP, 1994. KOFFLER, Natália F. Técnicas de sensoriamento remoto orbital aplicadas ao mapeamento da vegetação e uso da terra. Geografia. Rio Claro. v.17, n.2, p.I-26, out. 1982. • ___ o FERRElRA, Antônio J. de A. O crescimento espacial de São Luís-MA: 19501991. In: Congresso Brasileiro de Geógrafos, 5., 1998. Curitiba. Anais .,. Curitiba: AGB, 1994. p.l 00. 34 LINDGREN, David T. Land use planning and remote sensing. Cad. Pesq .. São Luís, V. 13, n. 2, p. 25-36, jul.ldez. 2002. Dordrech: Martinus NijhoffPublishers, 1985. 176p.il. MARANHÃO. Secretaria de Estado do . Meio ambiente e Recursos Hídricos. Processo de ocupação espacial/uso e cobertura da Terra da microrregião da Aglomeração Urbana de São Luís. São Luís: GERCO-CPE/SEMA. 1998. 137p.il. NOVO, Evlyn M. L. de M. Sensoriamento remoto: princípios e aplicações. 2.ed. São Paulo: Edgard Blücher. 1993. 308p. NIERO, M; LOMBARDO, M. A. Uso de técnicas de interpretação automática na determinação de classes funcionais do uso da terra no vale do Paraíba. São José dos Campos: INPE. 1979. (INPE - 1426 - RPII001). NIERO, M; FORESTI, C. Uso do solo urbano na área metropolitana de São Paulo através de análise automática de dados LANDSAT. São José dos Campos: INPE. 1983 (INPE - 2788 - RPEI 437). PINTO, D. M. A. et a!. Dinâmica do uso do solo urbano no Distrito Federal: uma contribuição ao estudo de modificações ambientais. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v.49, n.3, p.3968, jul.lset. 1987. SABINS, Floyd F. Remote sensing PrincipIes and interpretation. 2.ed. New York: W.H. Freeman and Company, 1987. 449p.il. Cad. Pesq.. São Luís. v. /3. n. 2. p. 25-36.jul.ldez. 2002. 35