UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS A Música e o professor de Educação Infantil: sentidos, tensões e vicissitudes Leonardo Martins Sperb Santa Maria, RS, Brasil 2014 A MÚSICA E O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL: SENTIDOS, TENSÕES E VICISSITUDES por Leonardo Martins Sperb Monografia de Conclusão apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Música Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cláudia Ribeiro Bellochio Santa Maria, RS, Brasil 2014 Universidade Federal de Santa Maria Centro de Artes e Letras Departamento de Música - Licenciatura A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia de Conclusão de Curso A MÚSICA E O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL: SENTIDOS, TENSÕES E VICISSITUDES elaborada por Leonardo Martins Sperb COMISSÃO EXAMINADORA: Pr.ª Dr.ª Cláudia Ribeiro Bellochio (Orientadora) Pr.ª Dr.ª Luciane Wilke Freitas Garbosa (UFSM) Pr.ª Ms. Maria Del Carmen Cabrera (UFSM) Santa Maria, 10 de dezembro de 2014 RESUMO Monografia de Conclusão de Curso Universidade Federal de Santa Maria A Música e o professor de Educação Infantil: sentidos, tensões e vicissitudes Apresento neste trabalho de conclusão de curso uma parte da pesquisa desenvolvida no grupo de pesquisa FAPEM – Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical, da Universidade Federal de Santa Maria, que teve como objetivo principal compreender os sentidos, tensões e vicissitudes da Música na formação e nas ações docentes de professoras em exercício na Educação Infantil, egressas do curso de Pedagogia da UFSM. Os referenciais teóricos utilizados foram selecionados nos Anais da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), publicados de 2001 a 2011 e dialogaram com entrevistas do tipo semiestruturada, realizadas com seis professoras em atuação na Educação Infantil, que cursaram Pedagogia na UFSM. A análise das entrevistas foi embasada em Moraes; Galliazzi (2011), que preveem três focos para seu desenvolvimento: unitarização, categorização e captação do emergente. As categorias pré-estabelecidas na investigação foram formação musical e práticas musicais, as quais geraram subcategorias, dentre as quais apresento neste trabalho Música no curso de Pedagogia, Música na Educação Infantil e Repertórios musicais na Educação Infantil. Dentre os sentidos, tensões e vicissitudes apontados nesse estudo, destaco: (a) a Música esteve ausente da formação escolar, durante a educação básica, das professoras entrevistadas; (b) a licenciatura em Pedagogia foi o primeiro espaço onde as docentes vivenciaram a Música enquanto disciplina curricular; (c) as professoras entrevistadas não trabalham a Música em suas práticas docentes, mas utilizam a música com diferentes finalidades; (d) a Música, na Educação Infantil, está atrelada à canções com letras, ou seja, à textualidade. (e) as professoras se sentem motivadas a aprender Música, sobretudo a tocarem instrumentos musicais. (f) dois semestres de formação musical e pedagógico-musical não são suficientes para que as professoras internalizem estes conhecimentos; (g) as entrevistadas não viveram experiências que lhes potencializassem a Música a ponto de se sentirem motivadas a buscar individualmente formação continuada; (h) a Música não é trabalhada como área de conhecimento, que possui conteúdos próprios, na Educação Infantil; (i) ainda existe a utilização de palavras no diminutivo, tais como musiquinha e historinha, contribuindo para o desprestígio das áreas. (j) que se tenha um professor licenciado em Música trabalhando colaborativamente ao professor unidocente na Educação Infantil; (k) que se proponham cursos de formação continuada, pelas escolas, pela UFSM ou pelas prefeituras, para que os professores saibam, sobretudo, cantar e tocar algum instrumento musical. Esta pesquisa contribuiu para ampliar os estudos que vem sendo realizados pelo grupo de pesquisa FAPEM, sobretudo em relação à Música e unidocência/curso de Pedagogia. Palavras-chave: Educação Musical, Pedagogia, Educação Infantil. ABSTRACT Undergraduate Final Monograph Federal University of Santa Maria In this final paper, I present the research developed by group FAPEM – Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical from Federal University of Santa Maria (UFSM), which had as main objective to comprehend the meanings, tensions, and vicissitudes of Music in the formation and teaching actions of in service Children Education teachers, graduated in Pedagogy from UFSM. The theoretical framework used was selected in the Proceedings of the Brazilian Association of Music Education (Anais da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM), published between 2001 and 2011 and dialogued with semistructured interviews conducted with six teachers acting in Children Education, who have attended the Pedagogy major at UFSM. The interview analysis was based on Moraes; Galliazzi (2011), who predict three foci of development: unitarization, categorization and capture of the emergent. The established categories in the research were musical formation and music practices, which generate subcategories, within which I present in this paper Music in the Pedagogy Major, Music in Children Education and Musical Repertoire in Children Education. Among the meanings, tensions, and vicissitudes pointed out in this study, I highlight that: (a) Music has been absent in schooling, during the interviewees’ basic education; (b) the Pedagogy major was the first space where the teachers experienced Music as a curricular discipline; (c) the interviewees do not work Music in their teaching practices, but they use it with different purposes; (d) Music in Children Education is related to songs and lyrics, that is, to textuality; (e) the teachers feel motivated to learn Music, especially to play musical instruments; (f) two semesters of music and pedagogical formation are not enough so that teachers internalize knowledge; (g) the interviewees did not live experiences that could potentialize Music to them to the point where they feel motivated to search continued education themselves; (h) Music is not worked as knowledge field that has particular contents in Children Education; (i) there still is the use of words in the diminutive form, such as musiquinha and historinha, contributing to the discredit of these fields; (j) a Music teacher working collaboratively with the primary school teacher is needed in Children Education; and (k) schools, UFSM or the city council must propose continued education courses so that teachers know, especially, singing and playing musical instruments. This research has contributed to increase the studies that have been developed at FAPEM research group. DEDICATÓRIA Agradeço e dedico este trabalho, que significa o fim de uma etapa formativa e o início de outras que virão, à minha luzinha, Iara Cadore Dallabrida, quem me proporcionou forças para buscar o que eu desejava para minha vida. Graças a ela, os muitos obstáculos impostos para mim durante esses últimos anos não foram suficientes para que eu desistisse. Agradeço por tê-la conhecido nesta vida. “Amar não é olhar um para o outro; é olhar juntos na mesma direção.” (Antoine de Saint-Exupéry) SUMÁRIO Contextualizando a pesquisa .......................................................................... 8 Orientações Metodológicas........................................................................... 13 1. Educação Infantil e Música ..................................................................... 18 2. Formação musical e pedagógico-musical no curso de Pedagogia..... 25 3. Práticas musicais do professor de Educação Infantil .......................... 37 Repertórios musicais na Educação Infantil ................................................... 46 Aproximações entre formação musical e práticas musicais do professor de Educação Infantil: sentidos, tensões e vicissitudes .............................. 51 Referências ..................................................................................................... 55 Contextualizando a pesquisa Inicio a escrita desse trabalho de conclusão de curso pensando minha trajetória com a temática tratada neste: as relações entre a Música e a Educação Infantil. Quando optei pela entrada no curso de graduação em Música – Licenciatura Plena pela UFSM, não imaginava que minha escolha, necessariamente, implicaria em ser professor. Assim como muitos graduandos nesta área, ingressei no curso buscando um contato mais estreito com a Música, porém, penso que me faltava clareza quanto à natureza do curso de Licenciatura no qual eu estava inserido, o que resultou, para mim, em momentos de altos e baixos, com muitos dilemas e questionamentos em meio ao meu percurso formativo, inclusive nos momentos de realização da disciplina de Estágio Supervisionado, nos quais eu estava exercendo a docência em turmas escolares pela primeira vez. Neste caso, iniciei dando aulas para crianças de educação infantil e meu desafio foi duplo: trabalhar com a infância e ser estagiário-professor. Por diversas razões, dentre estas a vontade de terminar um curso superior, fui me aproximando do propósito da licenciatura em Música, até me encontrar efetivamente com a docência, palavra que em minha compreensão não significa todo e qualquer processo de ensinar e aprender. Docência, característica essencial do trabalho do professor é um termo amplo, rodeado de significados e endereçamentos. A docência na Educação Infantil, por exemplo, não é a mesma docência do Ensino Fundamental, que também se diferencia da docência no Ensino Médio e, certamente, da docência no ensino superior, em graduação e pós-graduação. Contudo, em minha formação acadêmico-profissional me encontrei como professor na Educação Infantil e decidi que investir na formação docente seria necessário para realizar um trabalho comprometido com as responsabilidades da docência neste nível de ensino que a tem desenvolvida basicamente por um professor, o qual chamo aqui de professor unidocente. No ano de 2012, motivado por um convite para ingressar no mundo da pesquisa, através da iniciação científica, realizado pela professora e hoje 8 orientadora Claudia Ribeiro Bellochio, a qual buscava selecionar bolsista de pesquisa para atuar no Programa de Iniciação Cientifica, iniciei minhas reflexões e leituras as quais me aproximaram do curso de Pedagogia e dos professores certificados por este curso: os unidocentes1. O projeto de pesquisa, no qual desenvolvo Iniciação Cientifica está em andamento e tem como previsão sua conclusão ao final deste ano (2014), é vinculado ao grupo de pesquisa FAPEM - Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical, e conectado ao Laboratório de Educação Musical (LEM) do Centro de Educação da UFSM. Aponto para a importância que o FAPEM representa nas pesquisas que tematizam as relações entre educação musical e unidocência, e apresento brevemente investigações já realizadas no grupo a fim de relaciona-las a uma das pesquisas que desenvolvi na Iniciação Científica, a qual apresentarei neste trabalho de conclusão de curso. O grupo FAPEM é formado por doutores, doutorandos, mestres, mestrandos, graduandos e egressos que pesquisam temas relacionados à Educação Musical. Acadêmicos dos cursos Pedagogia, Música, Artes Cênicas, Dança e Educação Especial participam do grupo, o que nos tem possibilitado diferentes olhares sobre este tema. Dentre as linhas de pesquisa do FAPEM, me afilio ao grupo de acadêmicos e egressos dos cursos de Música e de Pedagogia que pesquisam as relações da Educação Musical com a unidocência, contexto no qual esta pesquisa também se desenvolveu. No grupo de pesquisa trabalhamos com a ideia de um projeto guardachuva, do qual desdobram-se outros projetos de pesquisa. Enquanto grupo, participam destas pesquisas os bolsistas de iniciação científica, os mestrandos e os doutorandos. Neste projeto buscamos investigar sentidos, tensões e vicissitudes da relação entre Educação Musical e Pedagogia/professores não especialistas em Música, segundo discursos produzidos nos Anais da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) nos anos de 2001 a 2011. Toma-se o conceito de sentidos a partir da perspectiva de que o sentido compreende tanto a capacidade de receber sensações, quanto à consciência 1 Utilizarei a expressão unidocente para me referir ao professor da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, também denominados professores de referência, multidisciplinar, generalista, regente de classe, dentre outros. Na produção em educação musical, no Brasil, segundo mapeamento realizado nos anais da ABEM (2001-2011), esta expressão foi inicialmente utilizada por BELLOCHIO (2000) em sua tese de doutorado. 9 que se tem das sensações e, em geral, das próprias ações: capacidade que, na filosofia moderna, é chamada mais frequentemente de S. interno ou reflexão (abbagnano, 2007, p. 874, apud BELLOCHIO, 2010), a tensão é compreendida como uma zona problemática entre a Educação Musical e a Pedagogia. Segundo Abbagnano, (2007, p. 949), “a tensão é o elo entre os opostos como tais, sem conciliação ou síntese. Essa palavra é usada com esse sentido mesmo na linguagem comum, como quando se fala da T. internacional”. No mesmo sentido, fala-se de T. psicológica para indicar um estado latente de conflito. (BELLOCHIO, 2010) e vicissitude pode ser entendida como uma necessidade apontada para a relação Educação Musical e Pedagogia. Enquanto realizávamos o mapeamento nos referidos Anais, percebemos que os professores-pesquisadores que publicaram sobre a temática nos Anais estão em exercício no ensino superior, e que são poucos os professores de educação básica que publicam nestes congressos. Assim, foi necessário desenvolvermos outro projeto, derivado do maior, que visa compreender sentidos, tensões e vicissitudes da Educação Musical segundo professores que estão em exercício na Educação infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, cujo recorte será tema deste trabalho de conclusão de curso. Chamo a atenção para a necessidade de entendermos a relação entre Educação Musical e Pedagogia sob diferentes olhares: do professor do ensino superior, que “forma” o professor unidocente (professor-pesquisador), do educador musical que trabalha conjuntamente ao professor unidocente (no caso dessa pesquisa, eu) e do próprio professor unidocente, quem efetivamente se relaciona com a Educação Musical na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, sendo que não é especialista nesta área. Como expus anteriormente, estagiei na EI em 2011 e venho trabalhando com aulas de Música na Educação Infantil desde 2012. Atualmente estou desenvolvendo um projeto no município de Dona Francisca/RS que busca incluir as professoras unidocentes provocando-as a proporem atividades musicais com os alunos e potencializarem esta área do conhecimento em suas práticas pessoais e profissionais. Este contato com professoras em atuação na Educação Infantil me trouxe inquietações acerca de suas relações com a Música, temática que 10 também é problematizada e vem sendo estudada no grupo FAPEM. No grupo, realizamos um mapeamento de publicações nos Anais da ABEM, de 2001 a 2011, que tematizassem as relações entre Música e Pedagogia, e verificamos que estas apontaram para a necessidade de incluir a Música na formação acadêmico-profissional do pedagogo, como é o caso da UFSM, que oferta duas disciplinas de Educação Musical na matriz curricular do curso de Pedagogia, além de oficinas do Programa Lem: Tocar e Cantar, tais como flauta doce, grupo vocal e violão. Este entrelaçamento de leituras com minhas práticas docentes em Música na Educação Infantil, desde o Estágio Supervisionado I e II, gerou a problemática dessa pesquisa que tem como mote pensar em que medida o professor unidocente em atuação na Educação Infantil, que teve a Música presente em sua formação acadêmico-profissional, se relaciona com a Educação Musical nas suas práticas docentes? Quais os sentidos, tensões e vicissitudes que aponta para essa relação? De modo complementar, a problemática faz emergir alguns subproblemas, dentre os quais: (a) de que maneira o professor de Educação Infantil, egresso do curso de Pedagogia/UFSM, percebe suas experiências com a Educação Musical durante a graduação? (b) como o professor de Educação Infantil, egresso do curso de Pedagogia/UFSM, entende a utilização da Música na Educação Infantil? (c) quais as referências formativas que o professor de Educação Infantil acredita terem contribuído, contribuem, ou poderão contribuir para suas práticas docentes em Música? Assim, como objetivo geral desta pesquisa tomo a ideia de compreender os sentidos, tensões e vicissitudes da Educação Musical na formação e nas práticas docentes de professores pedagogos, egressos da UFSM, em atuação na Educação Infantil. Os objetivos são tomados com a ideia de: (a) identificar como as professoras de Educação Infantil, egressas do curso de Pedagogia/UFSM percebem a Música durante sua formação acadêmico-profissional; (b) verificar como estas professoras entendem a Música na Educação Infantil; (c) identificar as práticas musicais desenvolvidas na Educação Infantil; (d) entender a relação que as egressas do curso de Pedagogia/UFSM, hoje professoras da Educação 11 Infantil, estabelecem entre sua formação musical e suas ações docentes envolvendo a Música. 12 Orientações Metodológicas Para percorrer os objetivos da pesquisa, utilizei a abordagem qualitativa por entender que esta “está principalmente interessada em como as pessoas experimentam, entendem, interpretam e participam de seus mundos social e cultural.” (LANKSHEAR; KNOBEL, 2008, p.66). Segundo os autores, os pesquisadores qualitativos consideram importante que os dados sejam coletados em ambientes naturais – como salas de aulas, nas ruas, pátio da escola, etc. - e contextualizados, levando em consideração a situação socioeconômica, o tipo da escola e até mesmo a comunidade na qual a mesma está localizada, possibilitando novos olhares a partir da perspectiva de outros indivíduos ou um grupo. Stake (2011, p.25) mostra quatro características do estudo qualitativo que se aplicam aos estudos sobre práticas de ensino (um dos focos deste trabalho), quais são: (1) interpretação: respeito à intuição do pesquisador, significados a partir de diferentes pontos de vista, receptividade a acontecimentos inesperados; (2) experiência: empírica, relacionada ao que os sujeitos veem, sem manipulação dos acontecimentos; (3) situação: direcionada aos acontecimentos em contextos únicos, se opõe à generalização, contextos descritos em detalhes; (4) personalidade: empatia para perceber situações individuais, entende a diversidade, busca a singularidade. Para compreender os sentidos, tensões e as vicissitudes da Educação Musical na formação acadêmico-profissional e nas práticas docentes de professoras em atuação na Educação Infantil, que cursaram Pedagogia na UFSM, realizei um estudo com entrevistas. As entrevistas “são usadas para vários propósitos”, sendo que os principais são “obter informações singulares ou interpretações sustentadas pela pessoa entrevistada, coletar uma soma numérica de informações de pessoas, descobrir sobre ‘uma coisa’ que os pesquisadores não conseguiram observar por eles mesmos” (STAKE, 2011, p.108). O tipo de entrevista foi semiestruturada, a qual tem como característica a utilização de um roteiro previamente elaborado, que apresenta tópicos de assuntos, servindo como guia para o desenvolvimento da entrevista. 13 Ainda segundo Stake (2011) interpretação “é um ato de composição. O intérprete seleciona descrições e as torna mais complexas, utilizando algumas relações conceituais.” (STAKE, 2011, p.65) Quando o autor aponta para a pessoa como instrumento, penso nos sujeitos que contribuíram para que essa pesquisa se realizasse: seis professoras egressas do curso de Pedagogia/UFSM, atualmente em atuação na Educação Infantil, que dedicaram seu tempo e disponibilidade para que eu conversasse com elas acerca dos dois focos principais desse estudo: a Música em sua formação acadêmicoprofissional (DINIZ-PEREIRA, 2008) e a Música em suas práticas docentes na Educação Infantil. Essas foram as duas categorias pré-estabelecidas e consideradas no momento de organização dos tópicos de discussão, que posteriormente geraram subcategorias. Um ponto importante, para a compreensão da organização desta pesquisa que apresento, é o fato de que ela corresponde à segunda fase da proposta de investigação vinculada ao projeto Educação Musical e formação acadêmico-profissional na Pedagogia: sentidos, tensões e vicissitudes (BELLOCHIO, 2010). Este projeto envolve dois momentos, um de mapeamento dos discursos produzidos por professores pesquisadores, nos Anais dos Congressos Nacionais da ABEM, de 2001 a 2011, e outro que envolveu entrevistas com professores de anos iniciais do ensino fundamental e educação infantil. A primeira fase, conforme já comentei, foi o desenvolvimento de uma pesquisa que trouxe as relações das professoras dos anos iniciais do ensino fundamental com a música em sala de aula (DALLABRIDA, 2013) Entendendo que estou dando sequência à pesquisa, e que Dallabrida (2013) denominou os sujeitos de Professora A, Professora B, Professora C, Professora D, Professora E e Professora F, segui utilizando letras do alfabeto, na sequência dessas, para nomear as seis professoras que colaboraram para esse estudo: Professora G, Professora H, Professora I, Professora J, Professora K, Professora L. A seleção das professoras entrevistadas seguiu um critério principal: que duas destas estivessem em exercício na mesma escola, ou seja, que três escolas fossem envolvidas pela pesquisa, e todas seriam do município de 14 Santa Maria. A primeira delas corresponde a um colégio particular que oferta todos os níveis da educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), a segunda corresponde a uma escola pública que também oferta esses níveis de ensino e a terceira corresponde a uma escola mantida pela UFSM, específica de Educação Infantil. As diretoras das três escolas foram contatadas e solicitei a elas que estendessem o convite de participação na pesquisa às professoras da Educação Infantil, salientando que eu precisava contar com duas colaboradoras. Algumas já eram minhas conhecidas, o que contribuiu no momento de se disporem a contribuir com essa pesquisa. As seis entrevistas foram gravadas no meu aparelho celular e, posteriormente, foram transcritas integralmente, procedendo à análise, guiada pela Análise Textual Discursiva (MORAES; GALLIAZZI, 2011). Os autores propõem três focos para que se compreenda o que emerge do corpus de análise, ou seja, das entrevistas transcritas: a unitarização, a categorização e a captação do emergente. Segundo Moraes; Galliazzi (2011), a unitarização exige que os textos sejam desmontados, buscando a criação de unidades constituintes as quais são relacionadas, dando origem às categorias de análise (categorização). O estudo das categorias possibilitará a captação do emergente, ou seja, de um novo texto que gera também novas compreensões sobre o corpus estudado (nesse caso, as entrevistas transcritas). Quando realizei o primeiro procedimento, ou seja, a unitarização, eu esperava um processo rápido e prático. Porém, percebi como foi desafiador olhar para todas as entrevistas sem classificá-las, sem induzir a criação de categorias, precisando considera-las como um texto só. Para unitarizar o corpus textual, imprimi as transcrições das entrevistas e li muitas vezes o que elas traziam, sem buscar compará-las, aproximá-las ou distanciá-las umas das outras. Os dois focos pré-estabelecidos na investigação foram formação musical e práticas musicais, os quais me orientaram a prosseguir na categorização, momento no qual busquei nas transcrições das entrevistas palavras-chave que permitissem agrupar ideias relacionadas à formação musical e às práticas musicais das professoras de Educação Infantil egressas do curso de Pedagogia/UFSM. As categorias originaram subcategorias, 15 considerando a amplitude dos termos formação e práticas. Entretanto, devido ao limite extensivo de um trabalho de conclusão de curso, apresentarei aquelas que mais se aproximam dos objetivos postos na investigação e dos trabalhos que atualmente estamos desenvolvendo no grupo de pesquisa FAPEM. Assim, na figura abaixo, os retângulos coloridos representam as categorias e subcategorias apresentadas nesse trabalho, e em cores mais fracas, com margem pontilhada, estão ilustradas as subcategorias que não serão aprofundadas nesse estudo. Figura 1: categorias pré-definidas e sub-categorias emergentes. Assim, a produção de dados para a pesquisa foi ancorada na realização de entrevistas com as seis professoras. Como a investigação relaciona-se ao projeto guarda-chuva do grupo de pesquisa FAPEM, estabelece diálogos com os textos selecionados no projeto, os quais são publicados por professorespesquisadores nos Anais dos Congressos Nacionais da ABEM entre 2001 e 2011. Os próximos capítulos irão apresentar o entrelaçamento das análises das entrevistas com as publicações dos Anais dos Congressos Nacionais da ABEM (2001-2011) que tematizaram a Educação Musical e a Pedagogia. Sobretudo, utilizei textos voltados ao contexto da formação do professor no curso de Pedagogia e das práticas musicais na Educação Infantil, os quais estão incluídos no gráfico a seguir, que expõe a totalidade de textos selecionados referentes a temática e, destes, quantos pertencem à formação no curso de Pedagogia e quantos pertencem ao contexto das práticas musicais na Educação Infantil. 16 CURSO ED. PEDAGOGIA INFANTIL 2 0 ANO TOTAL SELEC. 2001 47 3 2002 87 6 0 1 2003 122 19 3 1 2004 158 15 5 3 2005 265 10 3 3 2006 129 14 2 5 2007 211 8 2 1 2008 179 20 5 3 2009 206 10 2 4 2010 273 17 3 5 2011 268 11 2 3 TOTAL 1688 133 29 29 Tabela 1: Textos mapeados nos Anais da ABEM (2001-2011) 17 1. Educação Infantil e Música No Brasil, apesar da infância ser objeto de estudo desde antes do século XX, o termo Educação Infantil teve sua origem na Constituição Federal de 1988 (CF/88), representando um marco nas políticas públicas para a infância, que passaram a considerar a criança como cidadã, ou seja, como sujeito de direitos (GOMES, 2013). Até o fim do século XIX, o cuidado e a educação estavam a cargo da família, sobretudo da mãe. A partir deste período, surge a creche, uma instituição que visava cuidar das crianças pequenas para que se liberasse a mulher para o mercado de trabalho. As creches, assim como asilos e orfanatos, tinham caráter assistencialista, tendo como função cuidar das crianças enquanto as mães trabalhavam. As creches públicas atendiam às crianças de classe média-baixa, enquanto que creches privadas atendiam aos filhos das classes média e alta. As primeiras apresentavam ênfase assistencialista, enquanto as segundas apresentavam “propostas de cunho pedagógico, dando ênfase à socialização e à preparação para o ensino regular” (SANTOS, 2010, p.13). Essa diferença se manifestou na nomenclatura que, nos anos 70, se dirigiu às creches privadas, agora chamadas de jardim da infância. Outra diferença conceitual, apontada por Gomes (2013), faz referência à creche enquanto substituta do lar materno, enquanto que a pré-escola é entendida como “um período de preparação à escola formal obrigatória” (GOMES, 2013, p.24). Segundo Santos (2010), as lutas feministas intensificadas na década de oitenta visavam a instituição de creches para seus filhos, não somente como direito das mulheres poderem se ausentar de casa para trabalhar, mas também como direito das crianças se desenvolverem em ambientes que atendessem “às suas necessidades físicas e cognitivas, ou seja, um ambiente que complemente a educação familiar.” (SANTOS, 2010, p.15) Neste mesmo período, diversos setores da sociedade, sobretudo ligados à Educação, lutaram para que creche e pré-escola fossem integradas, tendo em vista o desenvolvimento integral da criança. Em 1988, a Constituição Federal determinou que a Educação Infantil, ou seja, a creche e a pré-escola, seria 18 responsabilidade do Estado e da família, abrangeria o cuidado e a educação de crianças de 0 a 6 anos. Em 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) acentuou a ideia de que esses sujeitos possuem direitos humanos, e em 1996 a Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional trouxe que Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 6 (seis) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, Lei de Diretrizes Básicas para a Educação Nacional, 1996.) Posteriormente, com a Lei nº 11.114 de 16 de maio de 2005, alguns artigos da LDB foram alterados2, tendo como objetivo tornar obrigatório o ingresso no ensino fundamental aos seis anos de idade, o que modificou a faixa etária do aluno da Educação Infantil para entre 0 e 5 anos. Essa iniciativa foi tomada para que se regulamentasse o ensino fundamental de nove anos, o que foi realizado com a Lei 11.274, aprovada em 06/02/2006. Assim, o panorama atual da Educação Infantil pode ser entendido como Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e préescolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. É dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção. (BRASIL, Resolução 05/2009) Desta forma, a Educação Infantil abrange a creche (de 0 a 3 anos) e a pré-escola (de 4 a 5 anos) de forma integradas. Importante destacar que a préescola é considerada obrigatória e faz parte da educação básica. A Educação Infantil é de responsabilidade do Estado, que deve garantir a sua gratuidade no contexto das escolas públicas. Outro ponto que merece destaque neste processo da educação infantil remete as reflexões acerca da formação do professor que irá atuar na Educação Infantil, certificado para a unidocência pelo curso de Pedagogia. Este professor apresenta características específicas, sendo estas relacionadas à 2 o A Lei 11.114/2005 alterou os artigos 6 , 30, 32 e 87 da LDB/96. 19 faixa etária, à responsabilidade quanto à vulnerabilidade da infância e dependência da família (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2002) as funções de cuidar e educar, o que envolve “funções pedagógicas e funções de cuidado e custódia” (ibid, p.47), e a integração de conhecimentos, experiências, fazeres e afetos. Como comentei na apresentação inicial da pesquisa, ser professor não tem apenas um sentido e não implica nas mesmas funções e responsabilidades, portanto, como compreender que o modelo de curso que temos hoje, no caso, a Pedagogia, consiga trabalhar com as especificidades do professor que atuará na Educação Infantil e do professor que atuará nos anos iniciais do Ensino Fundamental, sendo que a proposta curricular é a mesma para ambos? Crítica semelhante, mesmo antes do curso de Pedagogia ter assumido a formação unificada da Educação Infantil e Anos Iniciais, foi realizada por Kishimoto (2002), quando a pesquisadora já apontava as dificuldades de o futuro professor compreender que a criança aprende de modo integrado sendo que na sua formação acadêmico-profissional os conteúdos são fragmentados. Além disso, Oliveira (2010) entende que parece haver um reconhecimento de que, em princípio, os cursos que formam professores no Brasil, especialmente para a Educação Infantil, ainda se mostram academicistas, distantes das práticas requeridas para o trabalho com crianças pequenas. (OLIVEIRA, 2010, p.47) Um documento imporante para pensar a Educação Infantil e que não mais está em vigência foi o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)3, elaborado em 1998, para orientar o planejamento, desenvolvimento e avaliação de práticas de professores da Educação Infantil. Este Referencial foi organizado em três volumes. Atualmente este documento foi substituído pelas Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, no entanto, optei por também trazê-lo considerando que ainda faz parte de muitas reflexões importantes acerca deste nível de ensino. 3 Atualmente, o RCNEI não está mais em vigência, sendo substituído pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 20 O primeiro volume dos RCNEI traz esclarecimentos acerca de creches e pré-escolas no Brasil, da criança, da educação e do profissional que atuará nesse nível escolar. Traz o objetivo da prática da Educação Infantil, que é desenvolver oito capacidades (ver RCNEI, 1998, p.62) nos alunos, sendo que destaco “utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação” (ibid), que está relacionada com essa pesquisa por trazer a linguagem musical. Quanto ao perfil profissional do educador infantil, o RCNEI apresenta a nomenclatura de uma docência polivalente, entendendo que Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática direta com as crianças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação. (RCNEI, 1998, p.41) No segundo tomo do RCNEI, intitulado Formação Pessoal e Social, são abordados os processos de desenvolvimento do aluno da Educação Infantil, sobretudo de construção de identidade e autonomia. São estipulados objetivos para alunos da creche (0 a 3 anos), relacionados a oportunidades que serão aprofundadas na pré-escola (4 a 5 anos), constituindo novos objetivos. No terceiro volume, intitulado Conhecimento de Mundo, são apresentados seis eixos de trabalho voltados à construção de linguagens pelas crianças e suas relações com objetos de conhecimento, quais sejam: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. Destaco, tendo em vista a natureza desse trabalho, a Música, e discorro brevemente acerca de sua disposição no documento apresentado. Segundo o RCNEI, a Música é utilizada na Educação Infantil com diferentes propósitos: formação de hábitos, atitudes e comportamentos, comemoração de datas festivas, memorização de conteúdos relativos a 21 números, letras, cores e utilização de bandinhas rítmicas tendo em vista o desenvolvimento motor, audição e senso rítmico. Porém, no documento, práticas que relacionam a Música a posturas mecânicas e meramente imitativas são criticadas, pois “deixa[m] pouco ou nenhum espaço às atividades de criação ou às questões ligadas a percepção e conhecimento das possibilidades e qualidades expressivas dos sons”. (BRASIL, 1998) Segundo o RCNEI III, a Música é compreendida como linguagem e forma de conhecimento, dotada de estrutura e características próprias, sendo considerada como produção, apreciação e reflexão (RCNEI, 1998, p.48). É importante que seja relacionada a outras áreas do conhecimento, sobretudo demais linguagens expressivas, incluindo a organização de projetos integrados, porém, os conteúdos específicos da Música não devem ser abandonados. Os objetivos para sua utilização, na Educação Infantil são: (a) de 0 a 3 anos – desenvolver capacidade de ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais; brincar com a música, imitar, inventar e reproduzir criações musicais; (b) de 4 a 5 anos - explorar e identificar elementos da música para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo; perceber e expressar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio de improvisações, composições e interpretações musicais (RCNEI, 1998, p.55). E como o professor de Educação Infantil se vê diante do trabalho com Música? Saliento que não questiono apenas a relação deste professor com a Música, embora a enfatize. Compreendo que os demais eixos - Movimento, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática – também exigem conhecimentos específicos e práticas que lhes são próprias. Entendo que a Música não deve ser tomada isoladamente, pois pertence à totalidade do desenvolvimento humano, mas o que problematizo aqui são as relações do professor em atuação na Educação Infantil, que educa e cuida estudantes pequenos, a este eixo específico ao qual o Referencial Curricular dedicou 39 páginas de exposição: a educação musical. Somado ao que é exposto no RCNEI III, e mesmo considerando a distância de 10 anos entre uma política e a outra, aponto para a homologação 22 da Lei 11.769/08, que traz a obrigatoriedade do conteúdo de Música na educação básica, e o parecer 07/2010, que atribui ao professor regente de classe (professor unidocente) o trabalho com o conteúdo curricular Arte, na ausência de professor especialista na área. Estas políticas corroboram com a necessidade do professor de Educação Infantil incluir Música, uma das quatro linguagens da Arte, na sua docência. Penso que, para além destas duas regulamentações – Lei 11.769/08 e Parecer 07/2010 – o que se tem verificado é a necessidade de incluir a linguagem musical neste nível de ensino enquanto componente de aprendizagem, “pois o contato intuitivo e espontâneo com a expressão musical desde os primeiros anos de vida é importante ponto de partida para o processo de musicalização” (RCNEI III, 1998, p.48). Tendo em vista os objetivos e orientações didáticas propostos no Referencial Curricular e as indicações legais acerca do professor unidocente ser responsável pelo trabalho com a Música, este professor necessitará de formação musical para que potencialize a Música nos alunos e desenvolva um trabalho comprometido com a área. E onde buscar essa formação? Segundo pesquisa bibliográfica realizada nos anais da ABEM (20012011), o curso de Pedagogia seria um locus indicado para desenvolver conteúdos musicais e pedagógico-musicais com os acadêmicos, futuros professores4 unidocentes. Nesse espaço formativo, no ensino superior, que congrega ensino, pesquisa e extensão, o acadêmico construiria bases que seriam aprofundadas em formação continuada e grupos de trabalho, dando sequência e aprofundamento à sua formação e práticas musicais. Entretanto, sabe-se que a maioria dos cursos de Pedagogia não inclui a Música em sua matriz curricular (FIGUEIREDO, 2001; 2003; AQUINO, 2008; FURQUIM, 2010, CISZEVSKI, 2010), o que dificulta o processo formativo-musical do professor de Educação Infantil. Um acontecimento importante, e que busca criar outras formas de relação entre as políticas públicas e seu estabelecimento nas escolas, foi a construção das Diretrizes para Operacionalização da Música na Educação 4 Figueiredo (2001, 2003); Aquino (2008); Furquim (2010), Ciszevski (2010). 23 Básica, em dezembro de 2013 e que aguardam homologação. Estas Diretrizes buscam orientar as escolas, as Secretarias de Educação, as Instituições formadoras de profissionais e docentes de Música, o Ministério da Educação e os Conselhos de Educação para a operacionalização do ensino de Música na Educação Básica. No que diz respeito às responsabilidades das instituições formadoras, e aqui inclui-se os cursos de Pedagogia, estas devem “incluir nos currículos dos cursos [...] o ensino de Música, visando o atendimento aos estudantes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental” (BRASIL, Parecer 07/2010, inciso 3º, capítulo III). As Diretrizes foram aprovadas pela Câmara da Educação Básica e aguardam homologação. Considerando o que foi exposto até o momento, destacando principalmente a infância e suas relações com políticas públicas no Brasil e a formação de professores para atuação neste nível de ensino, discorro, no próximo capítulo, sobre as relações entre Música e Educação Infantil segundo as entrevistas realizadas com professoras em atuação nesse nível de ensino. Neste momento busco tecer relações entre suas falas e as revisões de artigos selecionados, que tratam da Música na educação infantil, na pesquisa bibliográfica nos Anais da ABEM (2001-2011), apresentando sentidos, tensões e vicissitudes da Música em sua formação acadêmico-profissional e nas práticas docentes na Educação Infantil. 24 2. Formação musical e pedagógico-musical no curso de Pedagogia Como formação musical entendo as experiências musicais que as professoras trazem consigo, sejam estas vividas na infância, em grupo de amigos, familiares, na escola ou durante a graduação. Como formação pedagógico-musical refiro-me à formação que as pedagogas desenvolvem para o trabalho pedagógico com Música na sala de aula. Formar-se musicalmente, nesta pesquisa, não está relacionado somente à sistematização de práticas e conteúdos musicais, mas considera também outras possibilidades de formação, como cantar em grupo, tocar algum instrumento (mesmo que sem ter cursado aulas de Música), ouvir música, dançar, dentre outros. Dito isso, esclareço que ao propor a categoria formação musical e pedagógico-musical do professor da Educação Infantil, considerei para compreensão dos objetivos postos na pesquisa o processo formativo de modo amplo, vivido pelas seis professoras entrevistadas, dentro e fora dos espaços institucionais de formação, seja a escola ou a universidade. Neste trabalho de conclusão de curso apresentarei a subcategoria Formação musical e pedagógico-musical no curso de Pedagogia, que vem diretamente ao encontro das problematizações enfocadas atualmente no âmbito do grupo de pesquisa FAPEM. A história do curso de Pedagogia foi marcada por instabilidades desde sua instituição, em 1939, sobretudo em relação às suas identidades e às identidades dos pedagogos. Entretanto, em 2006, foram homologadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia (DCNP), que resultaram de debates acirrados entre estudiosos da área da Educação (sobretudo representantes da ANFOPE e FORUMDIR), e apontaram definindo a base indentitária deste curso: a docência, sobretudo na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Assim, a partir das diretrizes, o curso de Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na educação infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal e em cursos de Educação Profissional nas áreas de serviços e apoio 25 escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (BRASIL, 2006, artigo 4º) No artigo 7º, as DCNP/2006 apresentam a organização do currículo do curso de Pedagogia, que deverá totalizar no mínimo 3200 horas, organizadas em 2800h de atividades formativas, 300h de estágio curricular supervisionado e 100h de outras atividades de aprofundamento em áreas de interesse dos alunos. Três núcleos orientam a estrutura curricular: (a) o núcleo de estudos básicos, que orienta para a realização de articulações entre literaturas, realidades educacionais, reflexão e ações críticas; (b) o núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos, que investiga, avalia e estuda as áreas de atuação profissional do pedagogo; e (c) núcleo de estudos integradores, que propõe a participação em seminários e atividades que visem o enriquecimento curricular. Destaco que no primeiro núcleo, quando mencionadas doze articulações a serem realizadas no desenvolvimento curricular do curso de Pedagogia, uma delas corresponde à “decodificação e utilização de códigos de diferentes linguagens utilizadas por crianças, além do trabalho didático com conteúdos, pertinentes aos primeiros anos de escolarização, relativos à Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia, Artes e Educação Física” (DCNP, 2006, artigo 6º, inciso I, alínea i) Segundo o exposto, decodificar e utilizar códigos de diferentes linguagens inclui aqui as expressões artísticas, dentre as quais Artes Visuais, Teatro, Dança e Música. Soma-se ainda que, embora os conteúdos relativos às áreas de conhecimento não sejam trabalhados isoladamente, estruturados em matérias curriculares, os mesmos necessariamente compõem a organização do trabalho do professor, de forma interdisciplinar. Assim, o trabalho didático com conteúdos da Arte (e consequentemente da Música) também está (ou deve estar) incluído na organização curricular referente à formação no curso de Pedagogia, que certificará para a docência. Dois anos após a homologação das DCNP, a Lei 11.769/08 reforçou a presença da Música no componente curricular Arte, na educação básica. Assim, na Educação infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, níveis que são caracterizados sobretudo pela unidocência, cujo professor é licenciado em Pedagogia, o trabalho com conteúdos musicais também é obrigatório. Mas 26 quem irá potencializar a Música nos alunos? Respondo: o mesmo professor que potencializa o desenvolvimento da linguagem oral e escrita, dos conhecimentos lógico-matemáticos e das demais área do conhecimento. O professor unidocente. No caso de haver um professor especialista em Música, este irá focalizar conteúdos específicos da área, entretanto, o professor de referência da turma ainda assim irá utilizar a Arte em sua prática pedagógica, o que exige formação na área. Assim, considerando a Música enquanto uma das linguagens das Artes, intui-se que ela deva ser incluída no núcleo de estudos básicos do curso de Pedagogia. Contudo, “embora instituída como conteúdo obrigatório na Educação Básica, a Música não consta na organização curricular da maioria dos cursos de Pedagogia como uma disciplina específica [...]” (FURQUIM, BELLOCHIO, 2009). As pesquisadoras investigaram a formação musical em cursos de Pedagogia de cinco universidades públicas do Rio Grande do Sul, e destas, apenas duas apresentaram a Música em sua estrutura curricular. Segundo mapeamento realizado nos anais da ABEM (2001-2011), durante o período investigado, 29 publicações tematizaram a Música nos cursos de Pedagogia. A tabela abaixo mostra o total de textos de cada Anais, a quantidade de textos selecionados por focalizar as relações entre Música e professores unidocentes e o número de textos pertencentes à categoria Formação musical no curso de Pedagogia. Além desta, mais três categorias emergiram: Formação continuada, Práticas musicais de professores 5 unidocentes e Assuntos correlatos . 5 Por enquanto dialogarei com os textos pertencentes à primeira categoria, por isso as demais categorias não estão apresentadas no gráfico. 27 ANO TOTAL SELEC. Curso de Pedagogia 2001 47 3 2 2002 87 6 0 2003 122 19 3 2004 158 15 5 2005 265 10 3 2006 129 14 2 2007 211 8 2 2008 179 20 5 2009 206 10 2 2010 273 17 3 2011 268 11 2 TOTAL 1688 133 29 A leitura dos textos apontou para a ausência de formação musical nos cursos de Pedagogia no Brasil. Figueiredo (2001; 2003) investigou cursos de Pedagogia em dezenove universidades do Sul e Sudeste brasileiro, a fim de verificar a presença da Música na estrutura curricular destes cursos. Ao pesquisar o componente curricular Arte, que deveria englobar Artes Visuais, Teatro, Dança e Música, verificou que todas estas linguagens estão abrangidas em uma disciplina, ministrada por um único professor que, na maioria das Instituições, é habilitado em Artes Visuais, o que torna esta linguagem predominante em relação às demais. As pesquisas publicadas posteriormente, que também analisaram a presença da Arte em matrizes curriculares de cursos de Pedagogia, corroboram esses resultados: Scarambone (2006), que pesquisou a abordagem da Arte em cursos Normais Superiores ou de Pedagogia de Uberlândia/MG; Furquim (2008), que investigou cinco universidades públicas do estado do Rio Grande do Sul; Aquino (2008), que investigou cinquenta e seis universidades da região Centro-Oestre; Nogueira (2010), que investigou quatro universidades públicas do Rio de Janeiro; e Ciszevski (2010), que investigou os cursos de Pedagogia do estado de São Paulo. O grupo de pesquisa FAPEM, do qual faço parte, tem pesquisado dentre outras temáticas a relação entre Pedagogia e Música, impulsionado sobretudo pelo diferencial apresentado pela UFSM em relação às demais universidades 28 brasileiras: a oferta de duas disciplinas curriculares obrigatórias de Música Educação Musical (60h/a) e Educação Musical para a Infância (30 h/a). A primeira investigação sobre o tema, no grupo FAPEM, corresponde à tese de Cláudia Ribeiro Bellochio (BELLOCHIO, 2000), que realizou uma investigação-ação com professoras unidocentes e estagiárias do curso de Pedagogia, problematizando os limites e possibilidades de atuação do unidocente com a Música. Concluiu que este profissional pode contribuir para a formação musical dos alunos, desde que percorra caminhos formativos em Música. A partir de sua tese, a pesquisadora atuou como orientadora às pesquisas que buscassem investigar as relações entre Educação Musical e unidocência, quais sejam Spanavello (2005); Pacheco (2005); Correa (2008); Werle (2010) e Dallabrida (2013). No ano 2013, Iara Cadore Dallabrida, em seu trabalho de conclusão de curso, investigou sentidos, tensões e vicissitudes da Educação Musical na formação e nas práticas de seis professoras egressas do curso de Pedagogia/UFSM, que estavam em atuação nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Minha pesquisa se aproxima de Dallabrida (2013) pois pertencemos ao mesmo grupo, entretanto, focalizo o professor de Educação Infantil. Em relação à Música na formação acadêmico-profissional do curso de Pedagogia/UFSM, a autora verificou que por mais que o curso tenha ofertado disciplinas específicas de Música em sua matriz curricular, e estas tenham sido importantes na ressignificação de ideias, não foram suficientes para uma efetiva proposição pedagógica em Educação Musical por parte das professoras envolvidas. A pesquisadora trouxe nas falas de suas entrevistadas a importância que estas atribuíram a formação musical e pedagógico-musical proposta nas disciplinas curriculares do referido curso, sentidos que não são corroborados pelas professoras da Educação Infantil que foram entrevistadas nessa pesquisa. Retomo a minha pesquisa na qual foram entrevistadas seis professoras em atuação na Educação Infantil, nomeadas Professoras G, H, I, J, K e L. A Professora G foi licenciada em Pedagogia em 1995, sendo a professora com mais anos de profissão dentre as entrevistadas. Busquei rememorar com ela como foi a presença da Música em sua formação durante o curso de 29 Pedagogia, entretanto, apesar de sua expressividade e facilidade de expor suas ideias em relação aos outros tópicos da entrevista, a professora respondeu brevemente, com respostas rápidas, sobre a formação acadêmicoprofissional: a entrevistada mencionou que em 1995 a Música era abordada no curso de Pedagogia/UFSM de forma superficial, sendo “só uma pincelada e na verdade não dava noção de nada.” (Professora G, p.3) Perguntei quantos semestres de disciplinas envolvendo a Música ela havia cursado e ela respondeu “um semestre e (pausa) foi coral, alguma coisa assim, mas alguma coisa muito vaga” (ibid, p.3). No ano de 1995, segundo Oesterreich (2010), o curso de Pedagogia ofertava 90h de formação musical em uma disciplina: Metodologia do Ensino de Música na Pré-Escola, sendo organizada em 60h/a de atividade teóricas e 30h/a de atividades práticas. A Professora G mencionou a atividade coral ao lembrar da Música em sua formação, referindo-se, nesse caso, a momentos nos quais cantavam e trabalhavam técnica vocal, conteúdos presentes sobretudo nas 30h de atividades práticas. Referente às 60h de atividades teóricas, a professora nada disse. A Professora H foi licenciada em Pedagogia pela UFSM em 2001, isto é, seis anos após a Professora G. Ao conversarmos acerca da Música no curso de Pedagogia, inicialmente apresentou um sentido atrelado à uma tensão: Quanto à minha formação formal, na Pedagogia, nós tivemos um semestre... foi bem interessante, mas desde aquela época já reclamavam que era muito pouco [...]. Mas eu procuro lembrar bastante de tudo o que ela passava para nós, e busco associar essa questão da Música com os conteúdos, com os conhecimentos que a gente tem que trabalhar. (Professora H, p. 2) Ambas as professoras, G e H, relataram momentos de práticas musicais relacionadas ao uso da voz em sua formação acadêmico-profissional. Entretanto, a descrição expressada por elas permitiu verificar que para a Professora H o trabalho com a voz foi mais significativo. Junto às memórias, esta apontou uma vicissitude: Mas assim, atividade prática era na sala de aula, a gente não saiu para a escola... a gente só trabalhava com uma professora e colegas... Eu lembro que ela falava muito no tom agudo, grave... a gente fazia exercícios com a voz, pesquisávamos músicas infantis... mas muito restrito, acho que tinha que 30 explorar mais [...] Então, o ponto negativo é o tempo da disciplina no curso. (Professora H, p.3-4) Esta professora apontou uma tensão no decorrer de suas falas: “a professora tinha que carregar os instrumentos, então precisaria de uma estrutura [...] uma sala específica” (Professora H, p.4) Desde o inicio dos anos de 1990, no conjunto dos Laboratórios de Metodologia do Ensino, o departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação da UFSM conta com o LEM, Laboratório de Educação Musical, onde são realizadas as aulas de Educação Musical e Educação Musical para a Infância atualmente, além de outras aulas do curso de Música e encontros do nosso grupo de pesquisa FAPEM. No meio dos anos 1990 o LEM funcionava junto ao Laboratório de Artes Visuais, tendo no prédio do Centro de Educação atual (prédio 40 da UFSM) seus espaços divididos. Atualmente o LEM ocupa a sala 3368 do Centro de Educação. Duas professoras apontaram para uma vicissitude relacionada aos instrumentos musicais nas disciplinas de Educação Musical do curso de Pedagogia. A Professora J, licenciada em 2007, entende que [...] deveria ter mais aprofundamento, a gente conhecer mais, quem sabe os professores aprenderem a tocar algum instrumento, acho que é tão válido... porque tu chegares em uma sala de aula que tem uma professora tocando violão fascina as crianças, então acho que de repente poderia ser bem mais aprofundada a questão de instrumentos... e não só aprender a fazer instrumentos que é uma coisa que tu trazes em sala de aula para fazer com eles, mas aprender a tocar um instrumento né... que vai fazer com que eles gostem mais[...] (Professora J, p.2) Percebi que a professora apresentou um sentido atribuído para a importância de o professor unidocente aprender a tocar um instrumento: ao dizer que “uma professora tocando violão fascina as crianças” e que tocar um instrumento “vai fazer com que [os alunos] gostem mais”, a Professora J atribuiu ao instrumento musical a função de tornar o professor ou a aula mais atraente para os alunos. Entendo que desenvolver práticas musicais com finalidades de entretenimento e de tornar as aulas mais prazerosas estejam presentes dentre as funções da música na Educação Infantil, entretanto, questiono se os professores unidocentes associam o aprendizado de um 31 instrumento à sua própria formação musical, utilizando-o para desenvolver conteúdos específicos da Música. A Professora I, licenciada em 2012, menciona que não teve contato com instrumentos musicais durante a formação acadêmico-profissional: A gente não tem [contato com instrumento musical]. A gente escuta, as professoras trazem sons para ti identificar, trazem aquelas histórias sonorizadas, fizemos teatro sonorizado também com a minha professora do primeiro semestre. Às vezes tu até vê o instrumento, mas não aprende a tocar, tu não aprendes a passar aquilo para a criança. (Professora I, p. 2) É importante salientar que a partir de 2003, a organização curricular do curso de Pedagogia foi modificada e a carga horária da disciplina de Educação Musical (90h) foi dividida em duas novas disciplinas: Educação Musical I e Educação Musical II, cada uma com 45h/a. Neste mesmo ano, teve início um trabalho compartilhado entre os cursos de Música e Pedagogia, cujo objetivo foi possibilitar um espaço de práticas musicais, ofertado de forma gratuita. Chamou-se LEM: Tocar e Cantar, um programa que ainda está sendo desenvolvido. Aruna Noal Correa, em 2008, investigou as contribuições deste Programa para a formação acadêmico-profissional de professoras egressas da Pedagogia/UFSM. Esse programa é formado por oficinas de Música, na forma de disciplinas complementares que enfocam a formação musical e pedagógicomusical. As primeiras oficinas, em 2003, foram de flauta doce e grupo vocal, sendo que também foram ofertadas posteriormente apreciação musical, vivências musicais, percussão, violão e construção de instrumentos musicais. Segundo Correa (2008), esse momento formativo no Programa LEM contribuiu para que as professoras entrevistadas se sentissem mais seguras no momento de realização de práticas musicais em sala de aula. A professora K foi a única dentre as entrevistadas que cursou dois semestres de flauta doce no Programa LEM: Tocar e Cantar. Segundo ela, realizar a oficina de flauta doce contribuiu para os momentos de estágio supervisionado, pois “a gente tinha vivência musical também” (Professora K, p.1). Ainda complementa O que mais enriqueceu meu trabalho foi o que tive fora da academia. Não que a academia não tivesse um trabalho bom, um trabalho bem bom, mas o que foi enriquecendo foi o que eu 32 procurei fora, entendeu? Essa oficina de flauta doce, no caso, através dessa oficina a gente vivenciava outros momentos musicais, que eu acho que enriqueceu... procurei por conta própria o que não tinha na grade curricular [obrigatória]. (Professora K, p.2) Embora a Professora K atribua o “enriquecimento” de seu trabalho ao que teve “fora da academia”, a oficina de flauta sobre a qual ela discorreu é ofertada pelo Programa LEM: Tocar e Cantar, que está vinculado à Universidade Federal de Santa Maria e, portanto, não existe de forma externa à universidade. Penso que, possivelmente, a professora não teceu relações entre o curso de Pedagogia e o Programa LEM: Tocar e Cantar, o que pode ter acontecido por falta de diálogo entre esses dois espaços formativo-musicais que se complementam. Em 2010, no FAPEM, Kelly Werle apresentou sua dissertação de Mestrado cujo objetivo foi compreender como estagiárias do curso de Pedagogia/UFSM potencializam a Música no processo de construção da docência. Verificou que as acadêmicas, embora ressignificassem concepções que traziam sobre a Música, não efetivavam práticas musicais sistematizadas, durante a realização do estágio supervisionado. Ocorreram atividades musicais pontuais que, apesar de estarem vinculadas aos conteúdos que estavam sendo trabalhados com os alunos, não apresentavam uma ligação ou seguimento das atividades musicais entre si. Mesmo assim, conseguiram realizar inserções da música a partir de outras áreas que estavam sendo desenvolvidas, na tentativa de realizar um trabalho pedagógico articulado como um todo. (WERLE, 2010, p.11) O planejamento de uma aula que inclua a Música e seus conhecimentos específicos foi apontado como tensão por uma entrevistada, diretamente, enquanto que as falas das demais apresentaram tensões implícitas. Ao questioná-las sobre esse tema, o qual eu imaginava pertencer à categoria Práticas Musicais, a Professora I relacionou o planejamento da aula de Música com sua formação acadêmico-profissional: Na minha formação foi bem precária essa parte, a gente não aprendeu nada de como fazer o planejamento para trabalhar com a criança. A gente aprendeu os instrumentos de modo aleatório, não aprendemos assim: “Vocês podem usar para determinada coisa, que histórias vocês podem usar”. Utilizar um planejamento, em si, isso não. Foi uma coisa mais como reconhecimento de sons. Fizemos um planejamento e mesmo 33 assim foi final de semestre e não tivemos retorno para saber se estava bom ou se não estava, se era adequado ou não. (Professora I, p.2) As outras cinco professoras entrevistadas não mencionaram a formação no curso de Pedagogia ao falarem sobre planejamento de uma aula de Música, entretanto, disseram encontrar dificuldades em formular propostas envolvendo essa área específica. Penso que isso seja consequência da falta de clareza em relação à Música enquanto área de conhecimento (ou subárea da Arte) e aos conteúdos que lhe são próprios. Questiono: como planejar objetivos, atividades que desenvolvam determinados conhecimentos, formas de avaliação e uma metodologia de trabalho longitudinal sendo que o objeto do planejamento, no caso a Música, não é compreendido em suas especificidades? Suponho que a falta de abordagem sobre esse tema, no curso de Pedagogia, tenha acontecido porque antes de trabalhar o planejamento de uma aula, a professora responsável pelas disciplinas de Música necessitou discorrer acerca de outros temas mais básicos, como o reconhecimento de sons (p.2), por exemplo. Assim, estudar este tema apenas ao final do semestre (e pelo visto às pressas, tendo em vista a falta de retorno da professora), pode ter sido consequência da falta de tempo necessário ao trabalho com elementos básicos da Música, sem os quais não se poderia dar continuidade ao processo formativo-musical e pedagógico-musical. Percebi que as entrevistas das seis professoras apontam para sentidos, tensões e vicissitudes relacionadas à Música em sua formação acadêmicoprofissional, no curso de Pedagogia, que são comuns a todas as entrevistadas. Dentre estes, discorro inicialmente sobre o que não foi dito, ou seja, sobre o que a ausência de descrições pode significar, quando o tópico abordado na entrevista foram as lembranças da Música no curso de Pedagogia. Com exceção da professora H, que descreveu uma atividade musical praticada no curso, as demais entrevistadas não relataram experiências musicais vividas durante o curso, sejam estas práticas ou discussões teóricas que lhes marcaram. Isso pode significar que a formação musical no curso de Pedagogia/UFSM não tenha produzido sentidos para as acadêmicas, hoje professoras, poque talvez estas não estivessem considerando a Música como parte integrante de sua formação acadêmico-profissional. Assim, esta não 34 estaria compreendida enquanto conhecimento, mas sim como atividade, que torna a aula mais interessante, que é uma espécie de bônus que o professor possui para cativar os alunos. Tal verificação indica que, dentre os sentidos apontados, a Música encontra dificuldades de se constituir em experiências em meio à formação acadêmico-profissional do professor de Educação Infantil, e que seria necessário (vicissitude) mais tempo destinado às disciplinas de Educação Musical no curso para que se iniciasse a desconstrução de concepções e opiniões e se pudesse refletir criticamente sobre o papel da Música na Educação Infantil, para que então as acadêmicas comprendessem a necessidade de aprender sobre Música. Ainda nesse caminho, uma tensão apontada se refere aos momentos práticos envolvendo a Música, que segundo as entrevistadas foram poucos. Considerando a totalidade do curso de Pedagogia, saliento que essa tensão também é presente nos outros componentes curriculares do curso, não sendo restrita à Música. [...] os fundamentos teóricos, em comparação com a experiência prática, obtiveram maior peso na estrutura e na prática curricular do curso. Situar o papel da teoria no curso representou sublinhar a multiplicidade de saberes que constituem a pedagogia, dada sua estreita relação com diferentes frentes disciplinares, sinalizando ora a força, ora a própria fraqueza da pedagogia. (CRUZ, 2012, p. 162) Acredito que trazer a Música para o currículo do curso de Pedagogia, assim como as demais linguagens da Arte, seja desafiador a medida que grande parte dos acadêmicos não teve formação musical durante a educação básica. Isso ainda os faz relacionar Música a entretenimento e, mesmo a reconhecendo enquanto campo de conhecimento, o fato de não a terem experimentado como disciplina curricular na educação básica torna a Música afastada dos “conteúdos sérios”, cujo status já foi naturalizado nas escolas. Esse sentido pode ser lido nas entrelinhas das entrevistas, tendo em vista que ao falarem de Música, as professoras sempre mencionavam frases como “adoro musica”, “Música atrai os alunos”, “ouço música para descontrair”, “música deixa os alunos contentes”, dentre outras. Outro sentido apontado de forma unânime pelas seis entrevistadas foi a vontade de aprender mais sobre Música. Em relação à formação acadêmico35 profissional, a tensão gira em torno do pouco tempo destinado às disciplinas de Música (lembrando que três professoras cursaram apenas uma disciplina, tendo em vista a reforma curricular), e a vicissitude apontada como caminho para este problema está na formação continuada. Entretanto, o significado de formação continuada se apresenta de formas diferentes nas falas da entrevistadas: fazer uma oficina (Professora H), uma professora ensinar a outra aquilo que aprendeu em um curso (Professora J), os professores de Música deveriam trabalhar formação continuada nas escolas (Professora G), cursos como os de Vale Vêneto6 (Professora K) e a formação em Música deveria estar sempre dentro da sala de aula (Professora L). Conforme é possível verificar, a Professora I foi a única entrevistada que não mencionou a formação continuada de alguma forma, e destaco uma de suas frases referentes ao momento formativo no curso de Pedagogia: “quem acaba sofrendo é o aluno [do curso de Pedagogia], no caso, o professor que está em formação [nesse curso], porque depois não tem como voltar atrás.” (Professora I, p.3). A frase dita pela Professora I apresenta, em certa medida, o desconhecimento da ideia de formação enquanto um continuum, tendo em vista que a professora utiliza a expressão “voltar atrás” de forma enfática, como se não fosse possível retomar os conhecimentos musicais e pedagógicomusicais em outro momento do percurso formativo docente. Não irei discorrer nesse estudo a questão da formação continuada, tema que pretendo aprofundar em pesquisa de Mestrado, futuramente. A seguir, apresentarei a subcategoria Práticas Musicais na Educação Infantil, apresentando sentidos, tensões e vicissitudes que as entrevistadas apontam para a temática e dialogando com textos selecionados no mapeamento nos Anais da ABEM (2001-2011), que discorrem acerca das práticas musicais do professor unidocente, sobretudo na Educação Infantil. 6 O curso de formação continuada em Música ao qual a professora se refere aconteceu no Festival de Inverno da UFSM, no município de Vale Vêneto/RS, no ano 2014, e foi ministrado por mim e pela mestranda Iara Cadore Dallabrida. Teve duração de dois dias, somando oito horas. 36 3. Práticas musicais do professor de Educação Infantil Embora a obrigatoriedade do ensino de Música na educação básica tenha sido reforçada pela Lei 11.769/08, cujo prazo legal para cumprimento foi até 2011, antes de sua homologação já se problematizava em âmbito nacional sobre a presença da Música na Educação Infantil. Verifiquei, conforme apontado no gráfico abaixo, que 50% das publicações tematizando a Música na Educação Infantil antecedem 2008, ano da homologação da Lei. Figura 2: Gráfico de publicações anuais nos Anais da ABEM (2001-2011) sobre a temática Música na Educação Infantil A primeira publicação desde 2001 nos Anais de Congressos Nacionais da ABEM referente à temática mencionada é intitulada Usos e funções da Música na Educação Infantil (TIAGO, 2002), que apresentou uma pesquisa em andamento cujo objetivo foi investigar como e quando a Música acontece na Educação Infantil. A autora apontou os diferentes propósitos pelos quais a aquela está presente neste nível de ensino, sobretudo relacionados a atitudes, comportamentos e valores. Exemplifica o que Rosa Fucks (1991) chama de poder-pudor, “que é evidenciado principalmente através da infantilização no vocabulários e atitudes da escola [...]. Musicalmente, este fato pode ser observado através do uso de musiquinhas de comando” (TIAGO, 2002, p.2), tais como canções para lavar as mãos, guardar os brinquedos, ir para o 37 refeitório, dentre outras. O sentido apontado é corroborado por outras pesquisas (NOGUEIRA, 2005; WILLE; OLIVEIRA, 2006; PENNA, 2006; SOLLER; FONTERRADA, 2008; SILVA; BELTRAME, 2010) independente da região brasileira na qual foram desenvolvidas. Nogueira (2005) investiga a Música nas instituições de Educação Infantil de Goiânia/GO, mencionando que as músicas estão presentes no cotidiano das crianças por meio do brincar, de acalantos, parlendas, etc. Na escola, a Música é “reduzida à forma de canção, não tem especificidade ou conteúdos próprios” (NOGUEIRA, 2005, p.2) e serve de estratégia para obtenção de padrões de comportamento. Novamente, os exemplos lanchar e formar fila são mencionados, corroborando as verificações de Tiago (2002), acrescentado ainda a Música no calendário das festividades: Dia das Mães, Páscoa, Dia do ìndio, num infinito rol de comemorações, quase nunca efetivamente significativas para a criança. E, no afá de cumprir com esse extenso calendário, muitas vezes o educador deixa de explorar as possibilidades expressivas da música, deixando de proporcionar à criança um contato mais exploratório e prazeroso com a linguagem musical, cuidando apenas do resultado final a ser apresentado ao término de tediosos ensaios. (NOGUEIRA, 2005, p.3) Entendo que a tensão apontada pela autora remete à supervalorização de apresentações musicais em detrimento de experiências com a Música pela falta de tempo. Acredito que apresentar-se contribua para o desenvolvimento da criança e não deva deixar de ser estimulado, entretanto, os ensaios e preparações para as apresentações em datas comemorativas não são fazem parte dos objetivos das aulas de Música. Se eu, enquanto professor especialista nessa área, enfrento desafios e dificuldades no sentido de conciliar momentos específicos de apreciação, execução e criação musical com momentos de ensaios para apresentações escolares na Educação Infantil, questiono como o professor unidocente, que não possui os conhecimentos e saberes específicos da Música, se sente frente a esses conflitos? Wille; Oliveira (2006) investigaram a atuação do professor da Educação Infantil com o ensino de Música em Pelotas/RS, problematizando as práticas musicais neste nível de ensino, que acabam se resumindo a canções de rotina ou para “preencher o tempo da aula” (WILLE; OLIVEIRA, 2006, p.751). Em 38 sentido semelhante ao já exposto, menciona concepções de professoras em relação à Música, ressaltando que esta “acalma, dá harmonia, ou mesmo é uma terapia” (ibid, p.752). Além do que foi apresentado nas publicações anteriormente citadas, as autoras apontam para a estreita relação que professores unidocentes estabelecem entre Música e desenvolvimento corporal, ou seja, noções de espaço, lateralidade, exercícios corporais, etc. Penna (2006) analisa cenas cotidianas da Música em escolas de Educação Infantil de Campina Grande/PB, retomando os sentidos quanto à utilização da Música como acompanhamento de atividades cotidianas, para acalmar e relaxar e na preparação de apresentações em datas comemorativas. Acrescenta ainda sua utilização no processo de alfabetização. A autora verifica tensões relacionadas ao preparo da voz do professor unidocente, que apresenta falta de conhecimentos acerca da colocação vocal, e na ausência de consonância com as propostas do RCNEI, tendo em vista que a carência de conhecimentos musicais básicos torna o desenvolvimento de práticas em Educação Musical difícil. As professoras relataram que não tiveram oportunidade – na formação inicial ou nas ações de formação continuada – de desenvolver conhecimentos sobre os conteúdos próprios da Música ou sobre seu ensino. Sua atuação é baseada, portanto, nas experiências pessoais ou naquilo que “sempre se fez” nas instituições de Educação Infantil, ou seja, nas práticas reproduzidas “por tradição”. (PENNA, 2006, p,477) Nessa mesma direção, Soler; Fonterrada (2008) investigaram como a Música estava sendo trabalhada em escolas de Educação Infantil de Indaiatuba/SP. Identificaram dentre as práticas musicais dos professores brincadeiras musicais que, entretanto, não são voltadas para a Educação Musical, assim como a organização de rodas cantadas e parlendas que na maioria das vezes orientam canções de comando. Como vicissitude, destacam que 95% dos professores entrevistados acreditam na importância de um professor especialista em Música trabalhando essa área na Educação Infantil. Investigação semelhante foi desenvolvida por Silva; Beltrame (2010) em um centro de Educação Infantil em Maringá/PR. As autoras iniciam a exposição da pesquisa mencionando pressupostos relacionados às contribuições da 39 Música na Educação Infantil, dentre as quais apontam para o desenvolvimento auditivo, motor, cognitivo e social da criança (ILARI, 2005), para a formação da sensibilidade, capacidade de concentração, desenvolvimento do raciocínio lógico matemático, memória, desencadeamento de emoções (URIARTE, 2008) e na Música como um dos principais sistemas simbólicos, mediadora de significações culturais e propulsora de desenvolvimento psíquico (SCHROEDER; SCHROEDER, 2008). Em relação às funções que a Música assume na escola, embora as autoras a reconheçam como área de conhecimento, verificaram que sua utilização, pelas professoras unidocentes, não raras vezes, está relacionada às cantigas de comando. Acrescento, somando às pesquisas anteriores, que as professoras entrevistadas utilizam a Música para desenvolver o gestual da criança, o que elas chamam de atividades de estimulação. A professora organiza as crianças, frente a um espelho, e ao som da música Olha o Passarinho, da Eliana, começam a brincar de ginástica. Dessa forma ela faz gestos e as crianças imitam. Em seguida, a brincadeira é fazer poses para fotos. Todos participam, pullam e dançam, ao som da música.” (SILVA; BELTRAME, 2010, p.313) Expus cinco trabalhos que apresentam sentidos e tensões comuns à Música na Educação Infantil, apontados em artigos publicados nos Anais da ABEM (2001-2011). Além destes, menciono ainda outros que corroboram aos apontamentos realizados, sobretudo às funções da Música na Educação Infantil. Como pode-se perceber, os autores criticam as práticas de professores unidocentes que, por falta de formação musical e pedagógico-musical, se veem limitados em relação a um trabalho significativo com a Música. Retomo as entrevistas realizadas com as professoras em atual exercício na Educação Infantil, egressas da UFSM, colaboradoras dessa pesquisa. Será que atualmente, em 2014, doze anos após a escrita da primeira publicação mencionada (TIAGO, 2002), os usos e funções da Música nas ações docentes destas professoras se modificaram? Como as professoras G, H, I, J, K e L desenvolvem suas práticas musicais na docência na Educação Infantil? Aponto inicialmente para uma observação realizada no decorrer das entrevistas, que foi novamente verificada no momento de análise: quando 40 questionadas acerca da formação musical no curso de Pedagogia, algumas professoras respondiam brevemente, outras não respodiam, sendo necessário repetir a pergunta em algum momento. No bloco de questões que se referiam às práticas musicais na docência, todas as professoras responderam e relataram com mais clareza, sem que fosse necessário que eu repetisse ou pedisse para que elas exemplificassem o que diziam. As informações foram mais espontâneas. O que teria provocado esse contraste entre os momentos de falarem sobre sua formação musical no curso de Pedagogia e sobre suas práticas musicais na Educação Infantil? A Professora J foi quem mais falou sobre a utilização da Música em suas aulas. Assim como mencionado por Tiago (2002), as musiquinhas de comando estão bastante presentes nas práticas musicais da professora: Eu uso a música até para guardar os brinquedos. Guarda, guarda, guarda bem guardadinho (cantando)... aí já sabem que tem que guardar. Logo que iniciou o ano eles não sabiam essa música, aí nas primeiras vezes [fui] cantando e explorando bem devagarinho, porque [os alunos] são bem pequenos. Até para incentivar a gente diz: ahhhhh a profe tem uma musiquinha muito legal! Daí começo a cantar e eles adoram, daí uns já aumentam o timbre de voz, assim, cantam bem alto, vão se envolvendo naquilo ali e todo mundo guarda. (Professora J, p.4) O relato da professora demonstrou alguns sentidos e tensões da Música nas práticas docentes do professor na Educação Infantil. Além da utilização de canções de comando, apresento como tensão a falta de conhecimento de conceitos específicos da Música, tais como timbre de voz e cantam bem alto quando se quer referir a intensidade. A entrevistada demonstrou safisfação ao perceber que os alunos aprenderam a música e a cantam forte, relacionando volume de voz ao grau de envolvimento da criança com a atividade. Essa questão me preocupa pois a relaciono com minhas práticas docentes em Música na Educação Infantil: frequentemente, peço aos alunos para que cantem mais fraco (e não mais baixo), pois percebo que na tentativa de mostrar o quanto aprenderam, eles acabam forçando sua voz na forma de gritos, afastando-se dos propósitos das atividades de cantar. A professora descreve mais uma atividade realizada na Educação Infantil: 41 Aqui na escola eles tem Música com a professora de Música e nós temos na sala de aula, toda hora né, sempre que temos um tempinho. Nós temos a caixa de música que tem uma musiquinha ali dentro, daí cada um tira a musiquinha... Eles já sabem as musiquinhas que tem ali dentro, então é uma maneira também de aprender. (Professora J, p.2) O termo musiquinha também foi recorrente na pesquisa de Spanavello (2005), que ao entrevistar professoras em atuação nos anos iniciais do ensino fundamental, também egressas do curso de Pedagogia/UFSM, verificou a utilização da palavra Música no diminutivo. Entretanto, uma das colaboradoras de seu estudo mencionou: “eu lembro que a gente aprendia assim: não são musiquinhas, são canções! As crianças falam assim: vamos cantar uma musiquinha? E eu falo até hoje para minhas crianças: Não, vamos cantar uma canção!” (SPANAVELLO, 2005, p.85). Esse apontamento indica que no curso de Pedagogia existem advertências quanto ao uso do termo musiquinha, e considerando que a pesquisa foi realizada em 2005, infiro que as colaboradoras de minha pesquisa que egressaram do curso até 2005, incluindo a Professora J, foram advertidas sobre o termo, que segundo Spanavello (2005) “não é a melhor forma de se tratar uma área do conhecimento que busca ocupar seu espaço junto aos demais conteúdos disciplinares” (ibid, p.104). Percebi que, assim como a Professora J, a Professora H também mencionou palavras no diminutivo, tais como historinha, palavrinhas e musiquinha, porém, nenhuma das outras quatro entrevistadas utilizou estes termos. Percebi que estas duas são as docentes com mais tempo de exercício no magistério (sete e doze anos, respectivamente), o que pode ser uma evidência de práticas e costumes tradicionais que não estão sendo ressignificados pelas docentes. Relaciono ao que foi exposto anteriormente em Penna (2006), quando esta menciona que “sua atuação é baseada, portanto, nas experiências pessoais ou naquilo que ‘sempre se fez’ nas instituições de Educação Infantil, ou seja, nas práticas reproduzidas “por tradição”. (PENNA, 2006, p,477) Nesse mesmo sentido, aponto para quatro professoras que não utilizaram termos no diminutivo, o que indica que reducionismos e simplificações estão sendo problematizados na formação destas docentes. 42 Ainda focalizando como a Música é inserida nas práticas das seis professoras da Educação Infantil, egressas do curso de Pedagogia/UFSM, exponho a fala da Professora K, que diz A gente insere diariamente [a Música]. Desde a chegada a gente procura alguma música, a gente percebe a importância da Música para eles. Até se a turma está mais agitada a gente começa a cantar, pára todo mundo e fica olhando assim... A gente cantar o movimento que eles fazem com o corpo... o corpo vai respondendo né? Positivamente! E principalmente nessa faixa etária eu percebo que eles adoram. (Professora K, p.5) A entrevistada utiliza o pronome a gente fazendo referência à participação de outra professora com a qual compartilha a docência na Educação Infantil durante o período matutino, que é “formada em Música” (Professora K, p.2), ou seja, especialista na área. Percebi que estar trabalhando conjuntamente a um especialista em Música trouxe segurança para a Professora K falar sobre suas práticas musicais, o que gera um sentido relevante acerca dessa situação: a professora unidocente se sente mais confiante ao trabalhar conjuntamente ao professor especialista em Música. Ela não hesitou ao se posicionar sobre o quanto pensa ser legal as atividades musicais desenvolvidas: A gente costuma levar os instrumentos musicais para eles [os alunos], também. Vários insturmentos: tambor, chocalho, pandeiro, violão, flauta, o máximo que a gente pode levar para eles. A gente seleciona tons de animais, de bichos assim... Só o tom toca no rádio, [o aluno] esconde o rádio e assim que toca [o aluno] procura onde está... Sabe, bem legal, muito legal. (Professora K, p.5) Até então, pesquisas indicavam como vicissitude, ou seja, como necessidade apontada por professores unidocentes a presença do professor especialista em Música7, entretanto, não apontavam casos nos quais esse trabalho compartilhado acontecesse. Com a fala da Professora K, tem-se um breve relato de experiência entre o professor de Música e o professor unidocente, a qual é considerada como positiva quando a entrevistada 7 Esta vicissitude é apontada em Abrahão (2004); Diniz (2005); Penna; Melo (2006); Schroeder (2007); Tillmann (2008); Kebach; Duarte (2010); 43 menciona “dei sorte de ter uma menina que trabalha comigo [e] ela é formada em Música” (Professora K, p.3) A professora mencionou a utilização de instrumentos musicais, que também foram citados nas outras cinco entrevistas realizadas. “A gente precisa mais de insturmentos diferentes. Então, a gente trabalhava historinha com as crianças... O Soldadinho de Chumbo... e fomos colocando a historinha com instrumentos... e [os alunos] gostaram.” (Professora H, p.2) Sempre quando posso trabalho com as crianças a questão da construção de instruementos musicais. Alguns eles não conhecem então eles constroem... gostam muito de ver os materiais diferentes e saberem que eles irão se transformar em um instrumento musical. (Professora L, p.3) Esse ano, pela manhã, no berçário, a gente teve [...] atividades de música com os bebês, bem legal, bem interessante: a descoberta do som, de como eles exploram sons, mais o básico, [...] e foi bem interessante... e até uma falha minha que nunca tinha feito instrumentos musicais que agora vou fazer com iogurte, fazer os chocalhos, fazer coisas assim. No primeiro momento eles queriam explorar o som, e não queriam fazer a atividade. Foi bem interessante perceber porque eu nunca oportunizei esse ano, mas é uma coisa que vou começar a fazer. (Professora G, p.2) Atento para um sentido presente na fala de todas as entrevistas sobre a utilização de instrumentos musicais confeccionados com materiais reciclados: sua forte relação com exploração sonora. As professoras demonstraram considerar importante no desenolvimento da criança a exploração de sons e, sobretudo, de materiais diferentes. Esses instrumentos são utilizados nos momentos de contarem histórias sonorizadas, como foi o caso relatado pelas professoras J, K, H e I. Entretanto, nenhuma entrevistada relacionou a utilização de instrumentos musicais confeccionados à execução e criação musical. Percebi que a Professora L, ao mencionar que os alunos gostam muito de ver os materiais diferentes e saber que eles irão se transformar em um instrumento musical prioriza o processo de transformação de objetos em instrumento musical, entretanto, não relata o que torna esses objetos musicais, ou seja, como a Música está presente na utilização dos mesmos. Em relação à utilização de instrumentos musicais confeccionados para a contação de histórias, penso que estes enriquecem o momento conhecido 44 como A hora do conto em muitas escolas de Educação Infantil. Sonorizar uma história amplia os sentidos e percepções, assim como estimula a imaginação criativa da criança. Entretanto, penso que algumas vezes a história sonorizada pode acabar substituindo a aula de Música, como se, por estarem manipulando instrumentos musicais e trabalhando diferentes timbres, as atividades de execução e criação musical não fossem necessárias. Percebi nos relatos das professoras que todas se dispõem a aprender e poencializar a Música na Educação Infantil, porém, a falta de experiências musicais anteriores à docência lhes limita à realização de atividades que utilizam músicas, dentre estas contar histórias sonorizadas e colocarem CD´s para que as crianças dancem em frente ao espelho. Penso que as vivências musicais e pedagógico-musicais em disciplinas curriculares no curso de Pedagogia podem ter motivado as ex-acadêmicas, hoje professoras, a se relacionarem com a Música, embora elas mesmas entendam que possuem limitações e necessitariam de mais experiências formativas para trabalharem conhecimentos específicos da Música na Educação Infantil. O próximo subcapítulo corresponde à subcategoria Repertórios musicais na Educação Infantil, e apresentará sentidos, tensões e vicissitudes apontados pelas entrevistadas às músicas que elas trazem presentes nas suas práticas docentes. 45 3.1 Repertórios musicais na Educação Infantil Quando pensamos em uma aula de Música é comum a associarmos ao cantar, tocar e ouvir músicas. Também é usual que se pense em repertórios, sendo que estes são a própria música acontecendo. Na Educação Infantil, como já mencionado anteriormente, é comum a utilização de repertórios para o estímulo de comportamentos, ações, valores e apresentações em datas comemorativas. Embora críticas tenham apresentado aversões a essa utilização, é evidente que a música na escola não deixou de existir devido a esses momentos, tendo em vista que o ensino de Música esteve ausente durante um longo período, sobretudo da Educação Infantil. Entretanto, dizer que os repertórios que as professoras apresentam e interpretam com seus alunos correspondem somente a músicas de comando (FUCKS, 1991) não corresponde às verificações dessa investigação. Assim, apresento a subcategoria Repertórios musicais na Educação Infantil, entendendo a relevância de conhecer (e, em pesquisa futura, analisar) as músicas que compõem a aula de Música ou, na ausência desta, as músicas que perfazem a experiência sonora dos alunos de 0 a 5 anos. Saliento que esta subcategoria emergiu, ainda que de forma discreta, no momento em que pedi que as entrevistadas falassem sobre como incluíam a Música (ou as músicas) em suas práticas. Os repertórios foram citados em meio aos relatos, e como analisá-los não correspondia aos objetivos desta pesquisa, não aprofundei questionamentos acerca dos mesmos. Assim, apresento brevemente apontamentos em relação a este tema. Dentre os 29 trabalhos selecionados do mapeamento nos Anais da ABEM (2001-2011), nenhum discorre acerca dos repertórios utilizados na Educação Infantil, embora, assim como nos relatos das professoras entrevistadas, as publicações citam alguns nomes de músicas recorrentes. Nogueira (2005) relata uma experiência realizada a partir do ano 2002, em parceria com a Secretaria de Educação do Município de Goiânia, que 46 consistiu na aquisição de livros e CDs visando “às crianças e aos educadores o acesso a diferentes compositores e a gêneros musicais diversificados” (NOGUEIRA, 2005, p.5), os quais foram distribuídos às escolas municipais de Educação Infantil de Goiânia/GO. Segundo a autora Com isso, buscou-se equacionar o problema levantado por muitos educadores: o da dificuldade em se adquirir um material musical diferenciado, de forma a oferecer às crianças referências musicais diferentes daquelas massivamente veiculadas pela indústria cultural (NOGUEIRA, 2005, p.5). Conforme exposto, a massiva oferta de música pela indústria cultural também tem suas influências na Educação Infantil. Embora atualmente mesmo as crianças pequenas manuseiam aparelhos eletrônicos e escolhem suas músicas, elas o fazem dentre as possibilidades musicais ofertadas pela mídia, pelos pais ou pelos professores. A Professora J explica [Os alunos] já vem com uma bagagem musical de casa, e então chegam aqui na escola e querem continuar ouvindo aquilo ali. Então a gente continua com algumas que trazem de casa. Às vezes trazem um DVD do Patati Patatá. (Professora J, p.5) A Professora G acrescenta ainda, dentre as músicas trazidas de casa, o CD Carrossel e as “musiquinhas de adolescente que tocam bastante [no rádio]” (Professora G, p.5). “Eles aprendem também na televisão, que tem tantos desenhos com musiquinhas. Eles gostam muito de um personagem e então eles inventam uma música daquele personagem (Professora J, p.4)” As outras quatro entrevistadas não mencionam repertórios trazidos pelos alunos, embora indiretamente relatam momentos nos quais utilizam músicas conhecidas deles (Professora H, p.3), utilizadas sobretudo no período de adaptação, isto é, de iniciação escolar. Conforme apontado, a Música que acontece na Educação Infantil muitas vezes é uma continuidade da Música que acontece nas casas dos alunos, ou seja, estes carregam consigo para a escola suas preferências musicais (cujas opções são disponibilizadas pelos pais ou pela mídia). O professor, nessa situação, é responsável por organizar esse repertório a fim de conjugar as 47 músicas já conhecidas pelos alunos a outras experiências musicais ainda não vividas. Nesse sentido, a Professora K relata: “Em casa ouço [música] muito pouco... Vou te dizer, assim, que escuto mais para fazer seleção, para trabalhar com [os bebês]. Eu escuto mais música infantil, para ter repertório e fazer essa seleção para eles. (Professora K, p.1) A fala da entrevista acentua a responsabilidade que o professor possui ao selecionar o que os alunos irão ouvir (cantar, tocar), e mesmo que se permita ao aluno escolher as músicas que serão apreciadas ou executadas, esta escolha está limitada às opções que o professor lhe disponibiliza ou permite trazer para a aula, indicando a importância de o unidocente buscar repertórios que permitam vivências musicais diferentes daquelas já experimentadas pelo aluno. Eles tem mais facilidade com músicas de cantores como Xuxa, que eles gostam muito, e aí vamos cantando Pandorga da Lua, vamos variando bastante para ampliar aquele conhecimento musical que a gente tem, porque aqui é que começa. (Professora J, p.5) A gente ensina cantigas, resgatando algumas que eles não conheçam, inclusive tivemos a semana do folclore. Trouxemos músicas que eles não conheciam porque não eram da época deles. A gente procura não trazer somente as músicas de agora, mas também aquelas mais antigas, que tem um aprendizado melhor, que tem algum conteúdo... porque às vezes temos músicas que não tem algo que contribua para o ensino delas. (Professora I, p.4) As falas das professoras J e I apontam para um sentido comum: é importante que os repertórios musicais trazidos na Educação Infantil contribuam para novas experiências musicais, não se restringindo àqueles já conhecidos pelos alunos. Entretanto, o modo como o professor escolherá o repertório comumente está relacionado às vivências musicais que ele mesmo possui: Gosto muito de Bach, acho calmante (risos). Utilizo bastante em atividades de relaxamento. [...] Já usei vários tipos de músicas com eles, desde música infantil a forró, até para eles perceberem os ritmos... música gaúcha... Só não trouxe música estrangeira, mas até MPB. (Professora G, p.5) 48 A Professora G entende que sua relação com a música está vinculada à dança, sobretudo aos diferentes ritmos musicais presentes nesta. Quando diz gosto bastante do ritmo, do movimento, da expressão, e acho que esse lado sempre passei para os meus alunos8, ela justifica a escolha do repertório que estimule os alunos a perceberem os ritmos. Nogueira (2005), conforme já apontado, organizou um projeto em parceria com a Secretaria de Educação do Município de Goiânia que visou disponibilizar às escolas de Educação Infantil de Goiânia livros e CDs que lhes oportunizasse o acesso a diferentes compositores e gêneros musicais. Volto a apresentar essa publicação pois, após acompanhar a utilização da coletânea distribuída, a autora verificou que mesmo tendo recebido esse acervo, os CD mais ouvidos, isto é, os escolhidos pelas educadoras para serem executados para as crianças, eram os grandes sucessos comerciais, cujos trabalhos pedagógicos musicais limitavam-se àquilo que é apresentado na TV, inclusive com a reprodução fiel das coreografias e movimentos. Outra forma frequente de utilização dos CDs era como música ambiente, isto é, sem nenhuma preocupação com uma escuta ativa por parte das crianças. (NOGUEIRA, 2005, p.7-8) A verificação de Nogueira (2005), somada ao que venho apresentando desde a categoria formação musical no curso de Pedagogia, provocou alguns sentidos acerca do repertório musical na Educação Infantil: não basta que o professor unidocente tenha a sua disposição coletâneas de músicas ou meios eletrônicos que lhe permitam selecioná-las de forma diversificada; é necessário que este professor, mediante formação musical e pedagógico-musical, possua experiências que lhe permitam organizar suas práticas musicais com esses repertórios, buscando, também, a construção de conhecimentos específicos da Música por meio destes. A seguir, apresento uma tabela que ilustra os repertórios, os quais incluem práticas criadas por elas e a utilização de repertórios de CDs com musicas diversas, citados pelas Professoras G, H, I, J, K e L, presentes em suas práticas docentes. Como relatado até o momento, predominam, na 8 (Professora G, p.2) 49 execução dessas músicas, a utilização de aparelhos que tocam CD ou DVD, evitando assim a necessidade do professor unidocente cantar ou saber tocar algum instrumento musical. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. G H I J K L Canções utilizando nome dos alunos Canções de ninar e relaxamento X X Folclore X X CD Galinha Pintadinha Músicas de J.S. Bach X X X X CD Pandorga da Lua X CD Patati Patatá X X CD Jardim de Cataventos CD Carrossel X X X CD Xuxa Músicas regionais X X X Figura 3: Repertórios citados pelas professoras entrevistadas Assim, encaminho para as considerações finais desse trabalho de conclusão de curso, as quais irão aproximar os sentidos, tensões e vicissitudes da formação musical no curso de Pedagogia aos das práticas musicais do professor em atuação na Educação Infantil. 50 Aproximações entre formação musical e práticas musicais do professor de Educação Infantil: sentidos, tensões e vicissitudes Quando apresentei os motivos que me levaram a construir esse trabalho de conclusão de curso – quais sejam, a participação em um grupo de pesquisa e minhas práticas docentes em Música na Educação Infantil – fui provocado a compreender pela pesquisa os sentidos, tensões e vicissitudes da Música na formação e nas ações docentes de seis professoras em atuação na Educação Infantil, professoras que foram certificadas para a docência pelo curso de Pedagogia da UFSM. Buscando percorrer o objetivo principal, posto para esta pesquisa, questionei inicialmente de que maneira o professor de Educação Infantil, egresso do curso de Pedagogia/UFSM, percebe suas experiências com a Música durante a graduação, concluindo, por meio das respostas das entrevistadas, que elas pouco se envolveram com as disciplinas de Educação Musical e Educação Musical para a Infância, ofertadas na matriz curricular do curso de Pedagogia. As professoras trouxeram poucas lembranças deste momento formativo, e eram recorrentes falas justificando o pouco envolvimento com as disciplinas pela curta duração (dois semestres) que estas tiveram no curso. Penso que o núcleo central desta tensão está no fato das professoras não terem tido formação musical quando eram estudantes, na educação básica, e os momentos onde havia música não eram considerados sérios. Assim, incluir a Música no currículo da Pedagogia em dois semestres pode significar o primeiro contato das acadêmicas com esta área de conhecimento, agora obrigatória e curricularizada, porém não é suficiente. Quando aponto para a Música na formação acadêmico-profissional do pedagogo, não percebo somente dificuldades nas questões musicais, ou seja, nos conteúdos próprios da Música (o fazer música, cantar, tocar, criar, etc.), mas também vejo a necessidade de tornar esta um conteúdo curricular sério, ou seja, de conquistar um espaço para a Música dentre os demais componentes curriculares. Nesse sentido, também propus compreender como o professor de Educação Infantil, egresso do curso de Pedagogia/UFSM, entende a utilização da Música na Educação Infantil. Segundo as 51 entrevistadas, a Música ainda se encontra bastante atrelada a momentos de relaxamento, disciplina, controle da turma, entretenimento e apresentações em datas comemorativas para mostrar aos pais o envolvimento dos alunos com a escola. Não entendo como tensão esse apontamento, pelo contrário, penso que incluir músicas nesses momentos contribui para que sua presença na escola aconteça e para que não se perca “o encantamento que a Música produz nas pessoas” (DALLABRIDA, 2013, p.10). Porém, é necessário que se pense na Música enquanto área que possui conhecimentos específicos, não apenas voltados a contribuírem para o aprendizado de outros conteúdos. Todas as professoras indicaram em suas falas a vontade de aprender Música, seja por meio de cantar ou tocar um instrumento musical, sobretudo em cursos de formação continuada. Quando busquei identificar quais as referências formativas que o professor de Educação Infantil acredita terem contribuído, contribuem, ou poderão contribuir para suas práticas docentes em Música, percebi que as primeiras não foram mencionadas, ao passo que a formação continuada foi indicada dentre as últimas, isto é, como vicissitude apontada para aquilo que poderá contribuir para que as professoras entrevistadas qualificassem suas ações docentes em Música na Educação Infantil. Os repertórios trazidos pelas colaboradoras da pesquisa permitem verificar a predominância da utilização do CD como recurso didático. Nenhuma docente descreveu momentos nos quais canta com os alunos, exceto a Professora J que canta quando quer pedir aos alunos que guardem os brinquedos. Penso que ela faça isso pois não conta com um CD que traga músicas de comando, se vendo na necessidade de ela mesma executar a música. Verifiquei que as professoras entendem a necessidade de levar novos repertórios para seus alunos, na Educação Infantil, e que uma referência de repertório considerado novo, ou seja, além do que os alunos já conhecem, é o CD do grupo musical Pandorga da Lua. Todas as canções possuem letras e são cantadas na gravação, evitando-se assim o uso de músicas instrumentais, o que me leva a entender que Música na Educação Infantil está bastante vinculada ao texto. 52 Relacionando a formação musical e pedagógico-musical no curso de Pedagogia/UFSM às ações docentes em Música das professoras entrevistadas, concluí que as professoras esperavam que o curso lhes proporcionasse mais atividades musicais para serem realizadas com os alunos, ou ainda que lhes possibilitasse a aprendizagem de um instrumento musical, para que pudessem tornar a aula mais prazerosa. Embora tenham relatado a ausência de experiências suficientes com a Música na sua formação acadêmico-profissional, as atividades com música são trazidas em suas ações docentes segundo as lembranças que possuem daquele momento formativo: histórias sonorizadas, canções que priorizam o nome do aluno, canções de relaxamento, a concepção quanto à importância de trazerem repertórios diferentes daqueles já conhecidos pelos alunos, dentre outras. Dentre os sentidos emergentes das análises realizadas nesta investigação, saliento: (a) a Música esteve ausente da formação escolar, durante a educação básica, das professoras entrevistadas; (b) a licenciatura em Pedagogia foi o primeiro espaço onde as docentes vivenciaram a Música enquanto disciplina curricular; (c) as professoras entrevistadas não trabalham a Música em suas práticas docentes, mas utilizam a música com diferentes finalidades; (d) a Música, na Educação Infantil, está atrelada à canções com letras, ou seja, à textualidade; (e) as professoras se sentem motivadas a aprender Música, sobretudo a tocar instrumentos musicais. Como tensões, aponto: (a) dois semestres de formação musical e pedagógico-musical não são suficientes para que as professoras internalizem estes conhecimentos; (b) as entrevistadas não viveram experiências que lhes potencializasse a Música a ponto de se sentirem motivadas a buscar individualmente formação continuada; (c) a Música não é trabalhada como área de conhecimento, que possui conteúdos próprios, na Educação Infantil; (d) ainda existe a utilização de palavras no diminutivo, tais como musiquinha e historinha, contribuindo para o desprestígio das áreas. Finalmente, como tensões, as professoras realizaram dois apontamentos: (a) que se tenha um professor licenciado em Música trabalhando colaborativamente ao professor unidocente na Educação Infantil; 53 (b) que se proponham cursos de formação continuada, pelas escolas, pela UFSM ou pelas prefeituras, para que os professores saibam, sobretudo, cantar e tocar algum instrumento musical. Os sentidos, tensões e vicissitudes apontados permitem verificar que há motivação das professoras pela busca de conhecimentos musicais e pedagógico-musicais que lhes permitam trabalhar com música na Educação Infantil. Entretanto, estes professores não mencionam o desejo de trabalharem conteúdos específicos da Música, mas sim, de aperfeiçoarem suas práticas para que continuem desenvolvendo as ações que já propõem aos alunos, porém, de forma mais bonita, agradável. Os conteúdos próprios da Música, segundo elas, continuam sob responsabilidade do professor especialista nesta área. Compreender os sentidos, tensões e vicissitudes da formação musical e pedagógico-musical e da Música nas ações docentes do pedagogo em atuação na Educação Infantil contribuiu para os estudos que estamos desenvolvendo no grupo de pesquisa FAPEM, tendo em vista que trouxe um panorama atual das pesquisas já desenvolvidas nessa temática, sobretudo acerca da Educação Infantil, especificamente. Em relação à minha formação e prática docente como professor de Música na Educação Infantil, penso que será possível construir, com base no que foi exposto nesse trabalho, uma proposta de trabalho colaborativo entre eu e os professores regentes de classe, na escola onde trabalho. Também, irei focalizar meus estudos futuros na vicissitude apontada pelas professoras: a formação continuada em Música do professor unidocente, tema que pretendo abordar em minha pesquisa de Mestrado, futuramente. 54 REFERÊNCIAS AQUINO, T. L A música na formação inicial do pedagogo: embates e contradições em cursos regulares de Pedagogia da região Centro-Oeste. In: Anais do ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 2008, São Paulo, São Paulo. Porto Alegre, Associação Nacional de Educação Musical, 2008. BELLOCHIO, C. R. A educação musical nas séries iniciais do ensino fundamental: olhando e construindo junto às práticas cotidianas do professor. 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Eu, Leonardo Martins Sperb, matrícula 2815249 (curso de Música – Licenciatura/ UFSM) estou realizando meu trabalho de conclusão de curso, sob orientação da professora Cláudia Ribeiro Bellochio. A pesquisa busca compreender os sentidos, tensões e vicissitudes que professoras egressas do curso de Pedagogia/UFSM, em exercício na Educação Infantil, atribuem à Música em sua formação acadêmico-profissional e em suas práticas docentes. Tendo em vista sua atuação no contexto previsto para a pesquisa, vimos convidá-la para que participe da investigação, contribuindo com suas reflexões acerca da temática Música e Pedagogia/ professores unidocentes. Lembramos que sua participação se dará sob forma de entrevista a ser previamente agendada, e que seus dados serão mantidos sob sigilo. Esperamos contar com sua contribuição, e desde já agradecemos a disponibilidade! Atenciosamente, ___________________ Leonardo Martins Sperb ____________________ Cláudia Ribeiro Bellochio Santa Maria, 15 de setembro de 2014. 59 APÊNDICE 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título do estudo: A Música e o professor de Educação Infantil: sentidos, tensões e vicissitudes Pesquisador responsável: Profª. Draª Cláudia Ribeiro Bellochio Instituição/Departamento: Universidade Federal de Santa Maria / Programa de Pós Graduação em Educação Telefone para contato: (55) 3222 - 6609 Local da coleta de dados: a combinar com as entrevistadas Prezado(a) Senhor(a): Você está sendo convidado(a) a responder às perguntas deste questionário de forma totalmente voluntária. Antes de concordar em participar desta pesquisa e responder este questionário, é muito importante que você compreenda as informações e instruções contidas neste documento. Os pesquisadores deverão responder todas as suas dúvidas antes que você se decidir a participar. Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento, sem nenhuma penalidade e sem perder os benefícios aos quais tenha direito. Objetivo do estudo: Compreender os sentidos, tensões e vicissitudes da Música na formação acadêmico-profissional e nas práticas de docentes em atuação na Educação Infantil. Procedimentos: Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder às perguntas formuladas que abordam a sua formação profissional, suas práticas musicais, práticas enquanto docente e sua visão acerca da relação Música e unidocência. Benefícios: Esta pesquisa trará maior conhecimento sobre o tema abordado, sem benefício direto para você. Riscos: O preenchimento deste questionário não representará qualquer risco de ordem física ou psicológica para você. Sigilo: As informações fornecidas por você terão sua privacidade garantida pelos pesquisadores responsáveis. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados em nenhum momento, mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados em qualquer forma. Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto,eu _________________________________________________, estou de acordo em participar desta pesquisa, assinando este consentimento em duas vias, ficando com a posse de uma delas. Santa Maria ____, de _____________ de 20___ __________________________________________________ Assinatura ___________________________ Pesquisador responsável ______________________________________________________________________ Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em Pesquisa – UFSM Cidade Universitária - Bairro Camobi, Av. Roraima, nº1000 - CEP: 97.105.900 Santa Maria – RS. Telefone: (55) 3220-9362 – Fax: (55)3220-8009 Email: [email protected]. Web: www.ufsm.br/cep 60 APÊNDICE 3: ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA 1. Formação musical 1.1 Por gentileza, tu podes comentar sobre tua formação musical, formal e não formal (na infância, adolescência, na família, na graduação, em cursos, oficinas, etc.)? 1.2 Tu tens o hábito de ouvir, cantar ou tocar músicas? Em quais momentos? 1.3 Comenta um pouco sobre como tu pensas que deveria ser a formação musical para o professor unidocente, sobretudo para o professor que atuará na Educação Infantil. 1.4 Quais são tuas percepções sobre a obrigatoriedade do conteúdo Música na Educação Básica? 1.5 Me fala sobre tuas percepções com relação à Música na formação no curso de Pedagogia (pontos positivos, pontos negativos). 2. Ações docentes em Música 2.1 Tu inseres a Música nas tuas práticas docentes? De que forma? 2.2 Tu podes comentar sobre algumas atividades realizadas com Música na Educação Infantil? 2.3 Em relação ao repertório utilizado, podes comentar? 2.4 Como tu enxergas a Música em relação às contribuições que ela traz ao desenvolvimento das crianças? 2.5 Como tu pensas que deveria ser uma aula de Música no contexto da sala de aula, na Educação Infantil? 3. Outros apontamentos 61