Sobre a anorexia: da purificação ao transtorno.
O autor Èric Bidaud (1998), em seu livro Anorexia, faz uma incursão sobre as
diferentes formas que a anorexia tomou ao longo dos anos, assim como o histórico
desde as primeiras aparições do termo. Tomaremos aqui o recorte feito pelo autor da
relação com os jejuns religiosos, para contrapor com a anorexia nervosa presente nos
manuais ditados pela psiquiatria atualmente.
Destacamos as palavras de Caroline Eliacheff ao afirmar que: “Pode-se adiantar,
sem grande risco, que sempre ouve anoréxicas, mas pode-se afirmar que elas só
existiram a partir do momento em que foram inscritas num discurso, o de Lasègue, que
constitui um acontecimento no campo da medicina”.
Na Idade Média a privação do alimento conferia às mulheres status de santidade.
Bidaud (1998) nos mostra que a questão alimentar, desde os mitos gregos e o texto
bíblico, está no princípio das relações estabelecidas entre os deuses e os homens.
Afirma que do ponto de vista da antropologia, o jejum absoluto, místico ou profano diz
respeito a marcas culturais e, de certo modo, à subversão da ordem simbólica.
Para Bidaud (1998), ao analisar a história do cristianismo é possível observar a
relação estabelecida entre a privação do alimento e a religião. Por ser uma religião
ascética, que se baseia nos esforços; a renúncia e o sacrifício são vistos como formas de
aproximação do sagrado, através da purificação dos corpos. (BIDAUD, 1998)
Na perspectiva do autor, a própria missão de Jesus, que tem o deserto como
palco de sua renúncia nos mostra isso:
Umas das referências evangélicas essenciais ao deserto relaciona-se ao
episódio da tentação de Jesus. Depois de ter sido batizado por João, o
anunciador, aquele cuja vida é inteiramente posta sob o signo da
ascese e da penitência, Jesus, pleno do Espírito Santo, partiu para o
deserto, a fim de jejuar, sendo ali durante quarenta dias, tentado pelo
diabo. Em seguida, rompe definitivamente com sua família, escolhe
seus discípulos e vai difundir seu ensinamento. Logo, é através de um
jejum que o Cristo se prepara para seu ministério e para a realização
do mistério pascal. Um papel realmente estrutural cabe, assim, ao
jejum na iluminação e santificação cristãs. (BIDAUD, 1998, p. 42/43)
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Bidaud (1998) aponta ainda para a forma radical e obstinada do percurso de
Jesus em direção ao sacrifício:
A fascinação exercida pelo jejum de Cristo vem também do fato de
que ele faz existir a tentação e a força dez vezes aumentada do desejo,
engajando um combate monstruoso com que o asceta não deixa de se
deleitar. O jejum é a condição de uma tentação a ser buscada.
(BIDAUD, 1998, p.43)
A história das religiões marca a cultura contemporânea e influencia os
comportamentos na atualidade. Alguns rituais como a privação a alguns alimentos,
realizada por cristãos em virtude da quaresma, é hábito comum ainda hoje, sob a
justificativa de livrar-se das impurezas e dos exageros que intoxicam o corpo tornando-o
impuro.
A relação do humano com o alimento é historicamente marcada por esse traço
daquilo é capaz de perturbar e interferir na relação do sujeito com seu corpo e com o
mundo. Está para além do ato de ingerir o alimento e para sobreviver, ao comer, comese mais que isso, come-se cultura, signos, que variam de acordo com cada época.
Um fenômeno interessante que é possível observar ainda na atualidade são as
greves de fome, nas quais os sujeitos privam-se da alimentação por um tempo
determinado e denotam a faceta de sacrifício e renúncia. Em geral as greves de fome
duram um tempo determinado e em sua maioria são estabelecidas em função de algum
protesto. Dessa forma, ao recusar a ingestão de qualquer alimento o sujeito parece se
colocar em posição de sacrifício, renunciando ao prazer e se colocando em risco, no
intuito de alcançar seu objetivo.
Vimos recentemente, o caso de um pai sul coreano, que deixou de se alimentar
para protestar em função das mais de 300 vitimas do acidente de avião que vitimou
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também seu filho. Kim Youn-oh, ficou conhecido como “pai coragem” ao passar 46
dias sem se alimentar, sob a justificativa de atrair atenção para as investigações da
queda do avião em que seu filho estava. Segundo divulgado pela mídia, o “pai coragem”
conseguiu mobilizar milhares de pessoas espalhadas pelo mundo, que se solidarizaram
com a causa e acompanharam seu sacrifício através da internet. Young-uh encerrou sua
greve a pedido da família em virtude de seu estado de saúde debilitado..
Assim como o exemplo supracitado tantos outros são divulgados pela mídia e as
motivações são diversas, causas pessoais, manifestações políticas, entre outras. No
entanto, o que nos chama atenção é a obstinação pela privação do alimento como forma
de protesto, sacrifício, o que nos remete ao sacrifício imposto pela religião.
No caso específico da anorexia nervosa, a privação alimentar não tem um tempo
determinado e a decisão por não mais ingerir alimentos leva jovens a um estado severo
de desnutrição que em muitos casos leva à morte. Como vimos no início do trabalho,
nas palavras de Eliacheff, foi Lasègue o responsável por inserir a anorexia no discurso
médico, onde hoje está situada em referência aos manuais da psiquiatria.
Foi o médico francês quem lançou um olhar que mudaria a forma de
compreensão do fenômeno da anorexia, ao afirmar que a questão se passa no esforço
para não ceder à fome, ou seja, não há uma perda de apetite como se acreditava
inicialmente, mas uma decisão de subvertê-lo. Questionamo-nos a respeito das
motivações que levam os sujeitos atualmente diagnosticados com anorexia nervosa a
decidir por não mais ingerir alimentos. Como vimos na historia do cristianismo, as
mulheres nomeadas de santas tinham sua motivação na purificação de seus corpos, o
que faria estarem mais próximas de Deus. Nos casos das greves de fome, existem
motivações pontuais que justificam a privação. E no caso das anoréxicas de hoje?
Na atualidade, a anorexia é tratada como distúrbio, sob a pena do discurso
médico, referido ao discurso científico que as coloca como portadoras de um transtorno,
ou seja, destoando de um padrão normal. As pessoas diagnosticadas com anorexia são
consideradas doentes que precisam ser tratadas, mesmo que em sua maioria resistam ao
tratamento.
Pelo discurso médico-psiquiátrico a anorexia está circunscrita como um
transtorno alimentar que tem como característica predominante a busca incessante pela
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magreza, a partir da qual o paciente passa a perceber o tamanho e a forma do corpo de
maneira distorcida, passando a perceber-se gordo, mesmo estando muito abaixo do
peso. A Associação Psiquiátrica Americana na quarta revisão do Manual Diagnóstico e
Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV, APA, 1994) estabeleceu critérios para o
diagnóstico. São eles:
Recusa a manter o peso corporal em um nível igual ou acima do
mínimo normal adequado à idade e à altura (...); medo intenso de
ganhar peso ou tornar-se gordo, mesmo estando com o peso abaixo
do normal; perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do
corpo, influência indevida do peso ou da forma do corpo sobre à autoavaliação e negação do baixo peso corporal atual; nas mulheres pósmenarca, amenorréia, isto é, ausência de pelo menos três ciclos
menstruais consecutivos.
No manual, há a distinção estabelecida entre o tipo de anorexia, podendo ser ela
de ordem restritiva ou purgativa. Sendo a primeira considerada quando a paciente,
durante o episódio recente de anorexia nervosa, não apresentou regularmente o
comportamento de comer compulsivamente ou de purgação (bulimia), ou seja, indução
de vômitos ou uso indevido de substâncias que provoquem no organismo a expulsão
daquilo que foi ingerido, como laxantes ou diuréticos. O tipo purgativo baseado nessa
definição, como o oposto da privação do alimento, sendo caracterizada primordialmente
pela compulsão pela alimentação, autoindução de vômitos ou uso das substâncias
supracitadas.
Recentemente foi divulgada a quinta revisão do manual, o DSM V, que propõe
algumas mudanças para a anorexia nervosa, e, segundo o texto do próprio manual, “são
mudanças pequenas, porém significativas”. A palavra recusa, que aparecia no DSM IV
como “recusa a manter o peso corporal igual ou acima do mínimo normal adequado à
idade e à altura” foi suprimida e só deve ser utilizada caso implique uma intenção, o que
segundo o manual, é difícil de diagnosticar.
A partir do texto do DSM IV, com a retirada do termo recusa, percebemos a
exclusão de algo que parta do sujeito, no que concerne a uma “escolha”, de alguém que
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decide por alimentar-se ou não. Acreditamos que o termo recusa denotava algo de uma
marca do sujeito que ainda estava ali, algo de singular na relação que cada um
estabelece com a alimentação e a decisão de privar-se dela.
No entanto, com a retirada do termo é retirado também o que resta do sujeito,
fica apenas o rótulo, o diagnóstico que coloca os “portadores” do transtorno como
equiparados, todos portadores de um mesmo conjunto de sintomas.
No caso da anorexia, parece-nos um retrocesso pensá-la na atualidade como um
transtorno, retirar o que resta do sujeito, da sua escolha, ou recusa, - para utilizar o
termo presente no manual - escolha inconsciente, mas ainda assim, escolha. Algo que
marca que ali há algo para além de um corpo emagrecido.
No histórico da anorexia, já em 1873, Lasègue notara que não se trata de uma
disfunção orgânica que acarreta a inibição do apetite, mas, que há um trabalho do
sujeito para evitar a sensação de fome e não ingerir alimentos, ou seja, não há ausência
de apetite e sim uma recusa a ceder a ele, assim como vimos na história do cristianismo.
(BIDAUD,1998).
Pensamos, com as ferramentas da Psicanálise, ser possível restabelecer o sujeito
conferindo-lhe o poder da escolha e a partir da escuta do um a um, colocar em questão
os significantes que permeiam tal recusa e que são absolutamente singulares.
Ao elaborar o conceito de pulsão, em 1915, Freud anuncia o que viria a ser um
conceito imprescindível à Psicanálise. O fundador da Psicanálise aponta o Trieb, como
algo que está na fronteira entre o somático e o psíquico, e que consiste em uma força
constante, mas parcial e ao mesmo tempo inapreensível: “no que concerne à vida
psíquica deve ser considerado como uma medida da exigência de trabalho feita à
mente” (FREUD,1905,p.171).
A partir do conceito construído por Freud, o corpo jamais será o mesmo. O que
anteriormente era pensado como natural, instintual e puramente biológico, é marcado
por um atravessamento da linguagem. Nas palavras de Recalcati: “A pulsão é uma
desnaturalização do instinto, uma deformação do instinto causada pela relação com o
Outro.” (RECALCATI, 2004,p.43)
No que concerne a essa subversão do funcionamento natural do corpo,
destacamos as palavras de Caldas (2008) ao afirmar que:
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A Psicanálise nasceu da problematização do sexual, ampliando a noção de
sexualidade de forma a dar conta de todo o bizarro do humano em relação ao
uso do seu corpo. A partir dela se passa a poder distinguir o organismo,
estudado e compreendido segundo uma bio-lógica, do corpo, que, ao
contrário, implica uma fruição que compreende a dor, o sofrimento e o mal
em coexistência com o contentamento e o prazer. (CALDAS,2008,p.381)
Dessa forma, para a Psicanálise, o corpo é composto por bordas, que irão mediar
a relação do sujeito com o Outro, e, por conseguinte, com o mundo. Segundo Costa
(2001, p.40): “São essas bordas corporais que insistentemente precisamos refazer, elas
não são feitas, constituídas, de uma vez para sempre. O corpo, neste sentido – o corpo
todo – ele não tem apoio na forma como o percebemos, ele tem apoio nas bordas”.
Acreditamos que para melhor compreender o que está em questão no fenômeno
da anorexia, é preciso levar em conta esse corpo pulsional, composto por zonas
erógenas, das quais destacaremos aqui, particularmente, a boca. Esta, a princípio,
encarregada da função de nutrição, mas logo em seguida tem sua função subvertida, e se
apoia na necessidade de nutrir-se para sobreviver, para ser uma via de obtenção de
prazer. Tal zona erógena é especificamente a borda através da qual o sujeito é capaz de
vivenciar uma experiência única, de “encontro” com o objeto que se perderá para
sempre.
Trata-se da primeira experiência de satisfação, como nomeada por Freud
(1950[1895]) em seu Projeto para uma Psicologia, experiência que se faz possível
através da boca que suga o leite, mas encontra ali algo para além do alimento: o prazer.
Esse encontro erótico com o Outro marcará para sempre o sujeito, que seguirá em sua
busca por objetos que possam remetê-lo a esta experiência mítica, cuja inscrição é
grafada no inconsciente nos primeiros tempos da vida.
Apoiada no texto Freudiano, Alberti (2004,p12-13) assinala que:
A primeira, e por isso mais intensa relação de um bebê com o mundo
em que nasce, se dá através de um Outro que o preexiste, faz dele um
objeto privilegiado de seus interesses e influencia o bebê de tal forma
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que ele será necessariamente produto da relação de ambos – o Outro e
ele mesmo. Se o outro preexiste ao sujeito é também por engendrá-lo.
É no encontro com o Outro que a experiência de satisfação se torna possível.
Pois, para que haja a satisfação deve haver uma liberação da tensão interna, que por si
só é incapaz de ser liberada. Ainda no Projeto, Freud (1950[1895]) afirma que é a partir
da ajuda alheia que se efetua essa descarga, para que então possa haver o que nomeou
de ação específica e que só pode realizada por outrem:
Quando a pessoa que ajuda executa o trabalho de ação específica no
mundo externo para o desamparado, este último fica em posição, por
meio de dispositivos reflexos, de executar imediatamente no interior
de seu corpo a atividade necessária para remover o estímulo
endógeno. A totalidade do evento constitui então a experiência de
satisfação (FREUD,1950[1895,p.336]).
Em O Seminário, livro 11, Lacan (1964) nos diz que a pulsão está situada na
ordem do impossível. E salienta que a ideia de que a função do princípio do prazer pode
ser satisfeita pela alucinação é meramente uma ilustração: “A pulsão, apreendendo seu
objeto, aprende de algum modo que não é justamente por aí que ela se satisfaz”
(LACAN, 1964, p.165). Não há objeto da necessidade capaz de saciar a pulsão. Ou seja,
a boca que se abre no registro da pulsão, não se satisfaz pelo alimento que ingere e sim
pelo prazer que encontra nesta zona erógena, nas palavras do autor: “pelo prazer da
boca” (LACAN,1964,p.165).
Massimo Recalcati (2004), afirma que a anorexia não consiste simplesmente em
um desvio do comportamento natural - visto que a condição sine qua non para manterse vivo é que haja a ingestão de nutrientes suficientes para manter o organismo em
funcionamento - senão uma tentativa de recuperar o vazio produzido em virtude da
primeira experiência de satisfação, que através de seu corpo ela denuncia, “como se
encarnasse esse vazio no próprio ser.” (RECALCATI,2004,p.47).
Como outrora exposto por Lacan (1956-57), não se trata apenas de não comer, e
sim de comer nada, termo que faz alusão ao nada como objeto, ou seja, não se trata de
não comer alimentos, mas de comer o objeto causa de desejo, o objeto a. Retirando o
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foco do alimento e da não ingestão deles, para por em evidência a relação do sujeito
com o Outro e com a falta.
No texto A direção do tratamento e os princípios de seu poder, proferido por
Lacan em 1958, no colóquio de Royaumont, Lacan (1958) alerta para a importância de
retomar Freud,
destaca a importância da posição do analista, e aponta para os
problemas acarretados na conduta de analistas americanos e praticantes da psicologia do
ego. É neste contexto, que, ao tecer suas críticas à postura de Ernest Kris na condução
do caso dos “miolos frescos”, faz refência à anorexia mental: “Você trata o paciente
como um obsessivo, mas ele está lhe estendendo a mão com sua fantasia de comestível:
para lhe dar a oportunidade de adiantar um quarto de hora sobre a nosologia de sua
época, diagnosticando: anorexia mental”. (LACAN,1958,p.607)
O caso dos miolos frescos tornou-se conhecido pelos comentários feitos por
Lacan ao longo de seu ensino e refere-se a um jovem cientista atendido por Ernest Kris.
O jovem em questão ocupava um cargo importante na academia, no entanto, não
conseguia ascender em sua carreira em virtude de seu impedimento em publicar suas
pesquisas (KRIS,1997). O que o impossibilitava de publicar suas produções acadêmicas
era sua crença de que suas ideias não eram originais e sim plágios.
Kris (1997) relata que, certo dia o paciente chega ao consultório e confessa que
sempre que sai das sessões, passa por uma rua repleta de restaurantes e procura no
cardápio o prato miolos frescos, seu preferido. No entanto não os come, apenas procura
por eles.
Em O Seminário, Livro 3, Lacan comenta a intervenção realizada por Kris
diante da publicação que seu paciente dissera não poder fazer, pois havia encontrado
publicação idêntica. O analista leu o texto e provou ao paciente que ele não era um
plagiário. Após a intervenção o paciente saiu do consultório e foi a um restaurante
aonde ia frequentemente após as sessões e, desta vez não olhou apenas o cardápio,
comeu os “miolos frescos”.
Kris (1997) avaliou sua intervenção como eficaz, no entanto, o que Lacan
problematiza é o fato de que o paciente não pôde compreender o que se passava e que,
por isso, fez um acting-out. Ou seja, ingerir os miolos foi uma atuação daquilo que
havia se passado na sessão.
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A escolha do termo anorexia mental, feito por Lacan, para nomear o que se
passa com o paciente de Kris, pode remeter, à relação com a alimentação, em virtude da
alusão feita aos “miolos frescos”, prato ingerido pelo paciente. Apesar de estabelecer
uma ligação entre a anorexia citada por ele e a anorexia das jovens que deixam de
ingerir alimentos, acreditamos que o psicanalista estabelece essa ligação em virtude de
outra característica comum aos casos, que não se refere à alimentação: “Anorexia, no
caso, quanto ao mental, quanto ao desejo do qual vive a ideia, o que nos leva ao
escorbuto que impera na jangada em que a embarco junto com as virgens magras.”
(LACAN, 1958, p. 607) Para Lacan, é a relação com o desejo que está em causa.
Mas então, o que há em comum nessas duas formas de ato? Sabemos que o
comer nada na anorexia pode ser uma tentativa de salvaguardar o desejo, e que, dessa
forma, é diretamente endereçado, na tentativa de fazer furo na onipotência do Outro e
cavar a falta. No caso do paciente de Kris, que endereça seu ato ao analista, poderíamos
dizer que essa seria uma resposta à intervenção do analista que tenta apaziguá-lo
autorizando a publicação afirmando que as ideias do texto são dele e não plágios?
Lacan aponta que: “não é o fato de seu paciente não roubar que importa aqui. É
que não...Sem “não”: é que ele rouba nada. E é isso que teria sido preciso fazê-lo
ouvir.” (LACAN,1958,p.606) Como dito anteriormente, na anorexia não se trata da
negação da atividade oral, em outras palavras, que não pode se dizer que a anoréxica
não come, mas, considera-a ativa no processo: ela come nada.
Diante do exposto, como afirma Pollo (2012) a anorexia é uma resposta
subjetiva desejante, por isso, para situá-la é preciso escutar os elementos que compõem
a história do sujeito e do contexto em que esse ato é produzido.
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Referências
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___________ (1958) A direção do tratamento e os princípios de seu poder. In: Escritos.
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___________ (1964). O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da
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POLLO, V. (2012) O medo que temos do corpo: Psicanálise, arte e laço social.Rio de
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RECALCATI, M. (2004) La última cena: anorexia y bulimia. Buenos Aires, Argentina.
Ediciones del cifrado.
R7. Pai coragem do Sewol encerra greve de fome depois de 46 dias.
http://noticias.r7.com/internacional/pai-coragem-do-sewol-encerra-greve-de-fomedepois-de-46-dias-28082014
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Nós, Luciana Costa de Barros Correia e Ana Maria Medeiros da Costa, autoras
do trabalho intitulado “Sobre a anorexia: da purificação ao transtorno” o qual
submetemos à apreciação da Comissão Executiva do VI Congresso Internacional de
Psicopatologia Fundamental e XII Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental,
concordamos que os direitos autorais a eles referentes se tornem propriedade exclusiva
da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental - AUPPF,
sendo vedada qualquer reprodução total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de
divulgação impressa ou virtual sem que a prévia e necessária autorização seja solicitada
por escrito e obtida junto à AUPPF.
Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2014.
Luciana Costa de Barros Correia
Ana Maria Medeiros da Costa
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Sobre a anorexia - Laboratório de Psicopatologia Fundamental