Maria de Fátima de Andrade Quintas (Recife, 28 de fevereiro de 1944) é antropóloga, contista e cronista. Membro da Academia Pernambucana de Letras, onde ocupa a cadeira 31, desde 3 de abril de 2003. Em janeiro de 2012, assumiu a Presidência da APL. Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco. É formada em Ciências sociais, na Universidade Federal de Pernambuco, e fez pós-graduação em Antropologia cultural, no Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina, em Lisboa. Publica semanalmente suas crônicas no Jornal do Commercio (Recife). Apresentou o programa radiofônico "Quintas às quintas", na Rádio Universtária AM, no período de julho de 2005 a julho de 2006. Em sua produção como cientista social e cronista, sobressaem-se diversos textos que revisitam a obra de Gilberto Freyre. Confiram a sua autobiografia, publicada no blog: www.fatimaquintas.blogspot.com. “Que direi de mim se me perguntarem quem sou? Quão difícil a resposta! Permito-me confissões desconexas, pensamentos soltos, jorros incontroláveis, mas tudo isso à sombra de uma aguda espontaneidade. E a imaginação flui num desejo incontrolável de transformar a palavra em círios de eternidade, de diluir-se em letras como se a marca da escrita representasse o ponto original da existência, a pedra fundamental de que faço uso, instrumento indispensável à vida, oxigênio puro, ar conveniente à respiração. A escrita me desafiando, minuto a minuto, uma espécie de chamamento do qual não consigo me desvencilhar. Primeiro, as sílabas; depois, os vocábulos; e a idéia se fazendo matéria-viva. Devaneio incendiário ou retraído, a faísca da criatividade navegando em agudas cintilações — o sim e o não. Mãos de artesã em trabalho lento, tijolo a tijolo, a argamassa ao meio, o pincel indefinido entre cores berrantes e um matizado difuso. Recôndita construção, arquitetura indecisa, destroços, ruínas — a magia do cosmos. Sem preconceitos ou vestígios de intolerância, assumindo os gestos com vontade inabalável, ainda que o corpo frágil aparente hesitação; vendo, ouvindo, tateando e, sobretudo, sentindo: uma mania desarvorada de sentir. Trapezista que se equilibra entre o papel e a navalha, entre os fios de aço e a rede esgarçada, entre o parágrafo para concluir e a alucinação do ponto final. A vida, latejando nas veias, a fazer-se múltipla, fragmentada, una; ora uma coisa, ora outra, invariavelmente paradoxal, nunca a mesma. Aceitando os desafios, a curva sinuosa do beco, o breu do corredor, mas com medo da palavra dura pronunciada pelo amigo próximo, incapaz de suportar o halo da agressão ou a dor do sentimento vazio. Sabendo perdoar e pedir perdão. Sem mágoa, nunca rancores, menos ainda desafetos. Compreensiva, porém intransigente diante da deslealdade e das falsas aparências. Solene em picadeiros anárquicos, irreverente em cerimônias protocolares, de braços abertos para o amor e para as adiadas e ensandecidas paixões. Tímida. Com vontade de ser invisível, de fugir para as colinas do Tibet, monja visceral e, no entanto, sujeita às imprevisíveis tempestades, entregue a céu aberto, sozinha, em carne viva. Platéia perdida entre uma multidão de rostos anônimos que se semelham às máscaras da tragédia grega — ao modo de Ésquilo, Sófocles ou Eurípedes. Angustiada e introspectiva, lendo Virginia Woolf e Katherine Mansfield. Albert Camus e Marguerite Yourcenar. Feérica de desencontros interiores e de mudas indagações, quase em delírio por saber-se sangue a correr nas veias sob o impacto de pulsões assimétricas. Mergulhada no intimismo de Clarice Lispector e admitindo que ama mais o que quer do que a si mesma. Uma obstinada no caminho escolhido... sem contudo desviar-se dos perigosos despenhadeiros. Um certo prazer em transitar por estradas incógnitas e por trens em alta velocidade, embora retornando felinamente aos lugares de antes. Loucura? Não. Saudável jogo de incoerências. Sorvendo a poemática de Fernando Pessoa e Florbela Espanca, visitante de Portugal, do Minho ao Algarve, entre vindimas, ventos outonais, tascas noturnas... Dramática, tal qual o fado; como o tango, versátil; sobre o tablado flamenco, a extravasar frustrações retidas. Um tanto ibérica. Dividida entre países, submersa na saudade, estrangeira por natureza e essência. Presa aos espaços e aos tempos, não mais a um que ao outro, a ambos em suaves amplexos ou em confrontos circulares. Acreditando no ato de inventar, sendo pura ficção de uma história ainda não narrada, narrativa improvisada, narradora inexperiente. E o gerúndio se construindo na labuta dos dias e das noites. Sendo, sendo, sendo... na ação da existência. E em paz.” Principais livros publicados ou organizados de Fátima Quintas: Sexo e Marginalidade: Um estudo sobre a sexualidade feminina em camadas de baixarenda. Petrópolis: Vozes, 1986. O cotidiano em Gilberto Freyre. Recife/Brasília: Massangana/CNPq, 1992. O negro: identidade e cidadania. Recife: Massangana/Fundação Ford, 1995. Mulher Negra: preconceito sexualidade e imaginário. Recife: Massangana/Fundação MacArthur, 1995. Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre. Recife: Massangana, 1996. A obra em tempos vários. Recife: Massangana/Embaixada da Espanha, 1999. Novo Mundo nos Trópicos. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 2000. De Névoas e brumas. Recife: Bagaço, 1999. Prece Confessional. Recife: Bagaço, 2002. Discurso de posse na Academia Pernambucana de Letras. Recife: Bagaço, 2003. Segredos da Velha Arca. Recife: Bagaço, 2003. Evocações e Interpretações de Gilberto Freyre. Recife: Massangana, 2003. O Silêncio das Horas. Recife: Bagaço, 2004. Oficina Literária Clarice Lispector. Recife: Bagaço/ Centro Cultural Brasil-Espanha, 2005. A Mulher e a Família no final do Século XX. 2. ed. Recife: Massangana, 2005. As melhores frases de Casa-Grande Senzala. Rio de Janeiro: Atlântica, 2005. A Ilustre Casa dos Fantasmas. Recife: FacForm, 2006. Entrevista-Memória com Manuel Correia de Andrade. Recife: Bagaço, 2007. A Civilização do Açúcar. Recife: Sebrae/Fundação Gilberto Freyre, 2007. Clarice Lispector: Nervo exposto. Recife: Bagaço, 2007. Cultura, Patrimônio, Brasilidade. Recife: Bagaço, 2007. Alfenins e Alfinetes (fragmentos). Recife: Bagaço, 2008. O Recife: Passeio à Antiga. Recife: Bagaço, 2008. Sexo à Moda Patriarcal: o feminino e o masculino na obra de Gilberto Freyre. São Paulo: Global, 2008. Assombrações e coisas do Além. Recife: Sebrae/Fundação Gilberto Freyre, 2009. Realejos e Cristais. Recife: Bagaço, 2010. Joaquim Nabuco em quatro tempos. Recife: Bagaço, 2010. Francisco Mesquita. Em: 8 de março de 2012.