Professor • Luciano
Aluno (a): _____________________________________
TROVADORISMO
Cantiga de amigo
Canto lírico mais genuíno da região da Galícia e de Portugal, a
cantiga de amigo é anterior a qualquer influência estrangeira. O eu
poemático, o sujeito da enunciação, é uma moça que exprime sua
coita (dor, aflição), a mágoa pela ausência ou pela indiferença de seu
amado. Tal queixa amorosa é dirigida à mãe, a uma irmã ou a uma
amiga com quem o eu poemático estabelece a tenção, um diálogo
acalorado. O ambiente onde se dá tal confissão amorosa é o campo
ou outro espaço da natureza, distinguindo-se, assim, a pastorela (a
moça que fala é uma pastora), a barcarola (a moça dirige-se às ondas
do mar ou às águas do rio), a serranilha (diálogo entre um fidalgo e
uma camponesa), a alva, alba ou alvorada (ao raiar do sol a moça lamenta a ausência do namorado ou regozija-se pela noite de amor), a
bailada (cantiga coral e festiva, predominando o elemento da dança)
e a cantiga de romaria (o cenário é um santuário, onde a moça se
encontra com o namorado ou reza para que ele volte). A este último
tipo pertence a cantiga do jogral galego Martim de Guinzo, apresentada no texto original e na transcrição em português moderno
feita por Natália Correia (129, p. 151):
Cantiga d’amigo
Non poss’eu, madre, ir a Santa Cecilia
ca me guardades a noit’e o dia
do meu amigo.
Non poss’eu, madr’, aver gasalhado,
ca me non leixades fazer mandado
do meu amigo.
Ca me guardades a noit’e o dia;
morrer-vos ei com aquesta perfia
por meu amigo.
Ca me non leixades fazer mandado;
morrer-vos ei con aqueste cuidado
por meu amigo.
Morrer-vos ei con aquesta perfia,
e, se me leixassedes ir, guarria
con meu amigo.
Morrer-vos ei con aqueste cuidado,
e, se quiserdes, irei mui de grado
con meu amigo.
Cantiga de amigo
Não posso, mãe, ir a Santa Cecília,
porque me guardais de noite e de dia
do meu amigo.
Sempre desolada me havereis de ver,
enquanto a vontade não puder fazer
do meu amigo.
Se não me guardásseis de noite e de dia,
com este cuidado eu não morreria
por meu amigo.
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01
18/02/2013
Literatura
Se a sua vontade não puder fazer,
com este cuidado me vereis morrer
por meu amigo.
Com este cuidado eu não morreria,
pois, se me deixásseis, bem me salvaria
com meu amigo.
Com este cuidado me vereis morrer;
mas se me deixardes, feliz hei-de ser
com meu amigo.
Cantiga de amor
Cantiga de amor é a poesia lírica em português arcaico que sofreu as influências da escola provençal. Aqui, o trovador já não fala em
nome da amada, como na cantiga de amigo, mas em seu próprio
nome, assumindo o papel do eu poemático que confessa sua paixão
não-correspondida, pois sua amada é uma senhora casada e pertence à
aristocracia feudal. O costume da vassalagem, próprio do sistema
feudal de vida que existiu na Idade Média, encontra-se espelhado no
convencionalismo da lírica trovadoresca: o menestrel presta seu serviço
à dama (enaltece-lhe as virtudes), sendo obrigado à mesura (o
autodomínio das emoções) e ao segredo (a discrição sobre a identidade
da senhora), merecendo assim o merci (a compaixão da dama que,
mesmo não podendo corresponder ao seu amor, lhe será benévola).
A poesia trovadoresca, como se vê, introduz um novo conceito
de amor, revolucionário e contraditório: de um lado, trata-se de um
amor idealizado, apenas espiritual, pois não há esperança de posse
do objeto amado tido como inatingível; de outro lado, o desejo
amoroso é adúltero, pois a mulher cantada é uma senhora casada.
Na tentativa de explicar as origens dessa surpreendente concepção
amorosa várias teses foram apresentadas: a tese retórica das influências da lírica latina (Catulo, Tibulo, Propércio, Ovídio) nos
cléricos provençais; a tese do conceito platônico do amor como idéia,
introduzido no sul da França pelas traduções árabes dos filósofos
gregos; a tese folclórica das festas da primavera que erotizavam o
amor; a tese litúrgica do culto a Maria, Nossa Senhora: o trovador
prosterna-se perante a amada como o cristão adora a Virgem; a tese
cátara da sublimação do instinto sexual, pois tudo o que é material
provém do princípio do mal.
Todas essas teorias, consideradas separadamente, são falhas,
porque cada qual, embora apresente alguma verdade, por si só não
consegue explicar o complexo fenômeno da concepção trovadoresca
do amor. Recentemente, veio a público uma tese mais sugestiva,
elaborada por Natália Correia, na Introdução à edição dos Cantares
dos trovadores galego-portugueses (129): recorrendo ao mito do
andrógino e à psicologia do subconsciente, ela vê no amor trovadoresco a exaltação da mulher como o elemento estável da natureza, a
que o homem recorre toda vez que sua individualidade está
ameaçada pelas forças castradoras do patriarcalismo machista. O
amor que o trovador sente pela senhora, figura feminina altamente
idealizante, o faz sofrer porque o coloca numa situação dilemática:
de um lado, ele não pode viver sem ela, sendo a razão de sua segurança existencial, a outra metade de seu ser; de outro lado, ele vive
um sonho impossível: a figura do marido, personificação do poder
social inibidor, o impede de aproximar-se da amada. Vejamos um
exemplo dessa modalidade lírica no poema de D. Dinis (1261-1325),
rei de Portugal e um dos mais importantes poetas líricos da península
Ibérica.
1
Cantiga d’amor
Proençais soen mui ben trobar
e dizen eles que é con amor,
mays os que troban no tempo da flor
e non en outro sey eu ben que non
am tam gran coyta no seu coraçon
qual m’eu por mha senhor vejo levar.
Pero que troban e saben loar
sas senhores o mays e o melhor
que eles podem, sõo sabedor
que os que troban, quand’a frol sazon
á e non ante, se Deus mi perdon,
non an tal coyta qual eu sey sen par.
Ca os que troban e que ss’alegrar
van eno tempo que ten a color
a frol consigu’e, tanto que se fôr
aquel tempo, logu’en trobar razon
non an, non viven (en) qual perdiçon
oj’eu vyvo, que poys m’á de matar.
Cantiga de amor
Os provençais que bem sabem trovar!
e dizem eles que trovam com amor,
mas os que cantam na estação da flor
e nunca antes, jamais no coração
semelhante tristeza sentirão
qual por minha senhora ando a levar.
Muito bem trovam! Que bem sabem louvar
as suas bem-amadas! Com que ardor
os povençais lhes tecem um louvor!
Mas os que trovam durante a estação
da flor e nunca antes, sei que não
conhecem dor que à minha se compare.
Os que trovam e alegres vejo estar
quando na flor está derramada a cor
e que depois quando a estação se for,
de trovar não mais se lembrarão,
esses, sei eu que nunca morrerão
de desventura que vejo a mim matar.
Cantiga de escárnio
Em painéis satíricos e humorísticos do cotidiano, a cantiga de
escárnio critica a vaidade feminina, a rivalidade entre trovadores, a
imitação da moda poética estrangeira, a pretensão de ascender na
hierarquia social, a burrice, a feiúra e outros defeitos e vícios humanos. Quando o sarcasmo ultrapassa o plano da generalidade e
ataca diretamente as pessoas, estamos perante a chamada cantiga
de maldizer. Semelhante a esse tipo de cantiga é o serventês, de origem provençal, o canto do servo para defender seu senhor e atacar
seus inimigos.
Vejamos, por exemplo, um poema de D. Pedro, filho bastardo
de D. Dinis, chamado de Conde de Portugal ou Conde de Barcelos.
Cantiga d’escarneo
Natura das animalhas
que son dua semelhança
é de fazerem criança,
mais des que son fodimalhas.
Vej’ora estranho talho
qual nunca cuidei que visse:
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que emprenhass’ e parisse
a camela do bodalho.
As que son dua natura
juntan-s’ a certas sazões
e fazen sas criações;
mais vejo já criatura
ond’eu non cuidei veê-la;
e poren me maravilho
de bodalho fazer filho,
per natura, na camela.
As que son, per natureza,
corpos dua parecença
juntan-s’ e fazem nacença, —
esto é sa dereiteza:
mais non coidei en mia vida
que camela se juntasse
con bodalh’ (e) emprenhasse
(e) demais seer d’el parida.
Cantiga de escárnio
É próprio dos animais
que da mesma espécie são
fazer filhos; para a função
têm órgãos naturais.
Mas vejo eu um caso raro
o qual não cuidei que visse:
que emprenhasse e que parisse
a camela do bodalho.
Os de idêntica natura
juntam-se em certos momentos
para engendrar seus rebentos;
mas eis que uma criatura
vejo onde não cuidei vê-la
e com tal me maravilho:
Bodalho fazer um filho
naturalmente a camela.
Esses a que a natureza
deu igual conformação
unem-se e nessa união
fazem filhos com justeza.
Mas não vi em minha vida
camela que se juntasse
com bodalho, engravidasse
e dele fosse parida.
EXERCÍCIOS
Há, a seguir, duas cantigas: uma, de amigo; outra de amor. Os
textos, escritos em galego- português, são acompanhados de
uma tradução livre, que não mantém as características
estilísticas. Não deixe de ler os textos originais.
TEXTO I
ORIGINAL:
Mandad' ei comigo,
ca ven meu amigo:
e irei, madr' , a Vigo
Comigu' ei mmandado,
ca ven meu amado:
e irei, madr' , a Vigo
2
Ca ven meu amigo
e ven san' e vivo:
e irei, madr' , a Vigo
TRADUÇÃO:
Você me proibiu, senhora,
de que lhe dissesse qualquer coisa
sobre o quanto morro por sua causa.
Mas então me diga,
Por Deus, Senhora: a quem falarei
o quanto sofro e já sofri por você
senão a você mesma?
Ca ven meu amado
e ven viv' e sano:
e irei, madr' , a Vigo
Ca ven san' e vivo
e d' el-rei, amigo:
e irei, madr' , a Vigo
Ou a quem direi o meu amor
Se eu não o disser a você?
Calar-me não é o que quero
Mas dizê-lo também não adianta.
Sofro tanto de amor por você.
Se eu não lhe falar sobre isso
Como saberá o que sinto?
Ca ven viv' e sano
e d' el-rei privado:
e irei, madr' , a Vigo.
TRADUÇÃO:
Tenho notícias
de que hoje chega meu namorado:
e irei, mãe, a Vigo
Ou a quem direi o sofrimento
que me faz sofrer,
se eu não for dizê-lo a você?
Diga-me: o que faço?
E, assim, se Deus lhe perdoa,
coita do meu coração,
a quem direi o meu amor?
Tenho notícias
de que hoje chega meu amado:
e irei, mãe, a Vigo
Hoje chega o meu namorado
e está são e vivo:
e irei, mãe, a Vigo
D. Dinis
01.
O Texto I é uma cantiga de amigo, e o II, uma cantiga de amor.
Comparando os dois textos, responda:
a)
Quem é o eu lírico, isto é, o emissor da mensagem de
cada um dos textos?
b)
Com quem fala e de quem fala o lírico de cada um dos
textos?
c)
Qual dos textos apresenta o emprego da técnica do
paralelismo e do leixa-pren?
d)
Qual dos textos apresenta maior complexidade de ideias
e maior profundidade de sentimentos?
e)
Como é tratado o sentimento amoroso em cada um dos
textos?
02.
Nas cantigas de amigo é comum a presença de uma
confidente, a mãe, ou uma amiga, a quem a jovem namorada
segreda os seus sofrimentos amorosos. Contundo, em razão da
ausência do homem, que ia lutar contra os mouros, por vezes a
mãe aparece com autoridade para vigiar e controlar os
namoros da filha.
a)
No texto I, com que objetivo a jovem informa à mãe que
vai a Vigo ao encontro do namorado?
b)
No mesmo texto, que versos da cantiga poderiam
despertar na mãe o interesse em que a filha fosse a esse
encontro? Justifique sua resposta.
03.
A relação amorosa observada no texto II pode ser associada às
relações de vassalagem existentes na sociedade medieval.
a)
A quem corresponde a figura do suserano, no caso do
texto?
b)
A quem corresponde a figura do vassalo?
c)
Que regra do jogo amoroso foi quebrada?
Hoje chega o meu amado:
e está vivo e são:
e irei, mãe, a Vigo
Está são e vivo
e amigo do rei:
e irei, mãe, a Vigo
Está vivo e são
e é da confiança do rei:
e irei, mãe, a Vigo
Martin Codax
TEXTO II
ORIGINAL:
Vós mi defendestes, senhor,
que nunca vos dissesse rem
de quanto mal mi por vós vem;
mais fazede-me sabedor,
por Deus, senhor, a quem direi
quam muito mal levei
por vós, se nom a vós, senhor?
Ou a quem direi o meu mal,
se o eu a vós nom disser,
pois calar-me nom m'é mester
e dizer-vo-lo nom m'er val?
E pois tanto mal sofr'assi
se convosco nom falar i
por quem saberedes meu mal?
Ou a quem direi o pesar
que mi vós fazedes sofrer
se o a vós nom for dizer,
que podedes conselh'i dar?
E por em, se Deus vos perdom,
coita deste meu coraçom,
a quem direi o meu pesar?
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Há, a seguir, duas cantigas trovadorescas satíricas. Leia-as com
atenção, atentando para as diferenças de linguagem e enfoque
critico.
TEXTO I
Uma dona, não vou dizer qual,
teve um forte agouro,
3
pelas oitavas de Natal:
saia de casa para ir à missa
mas ouviu um corvo carniceiro.
E não quis mais sair de casa.
a)
A dona, de um coração muito bom,
ia à missa
para ouvir seu sermão.
mas veja o que a impediu:
ouviu um corvo sobre si.
e não quis mais sair de casa.
c)
b)
A dona disse: - E agora?
O padre já está pronto
e irá maldizer- me
se não me vir na igreja.
E disse o corvo: - Quá a cá.
e ela não quis mais sair de casa.
07.
Leia os textos a seguir e responda.
Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
Sabe notícias do meu amado?
Ai, Deus, onde está?
Sabe que é o meu namorado?
Aquele que mentiu sobre o combinado...
Ai, Deus, onde está?
TEXTO II
Sabe notícias do meu amado,
Aquele que traiu nosso juramento?
Ai, Deus, onde está?
Quem a sua filha quiser dar
uma profissão com que possa prosperar,
há de ir a Maria Dominga.
que lhe saberá muito bem mostrar.
e vos direi o que lhe fará
antes de um mês lhe ensinará.
como rebolar as ancas.
– Perguntas pelo seu namorado?
E eu bem digo que está são e vivo.
Ai, Deus, onde está?
E eu bem digo que está são e vivo.
E voltará antes do prazo combinado,
E já a vejo a ensinar e sustentar
uma filha sua:
e quem observar bem suas artes
pode afirmar isto:
que, de Paris até aqui
não há mulher que rebole melhor.
Ai, Deus, onde está?
Está vivo e são!
Voltará antes do prazo!
Ai, Deus, onde está?
Sozinho
Composição: Peninha
E quem deseja enriquecer
não ponha sua filha a fazer
trabalhos manuais,
enquanto esta mestra aqui estiver,
ela lhe ensinará a profissão certa
para que seja uma mulher rica.
a não ser que lhe faltem homens.
Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois...
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois.
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho!
Deve-se saber disso.
para aprender essa artes;
além disso, pode-se aprimorar
cada vez mais na profissão;
e, depois que aprender tudo muito bem,
irá sustentar-se como puder
sustentar-se com seu próprio trabalho
Não sou nem quero ser o seu dono...
É que um carinho às vezes cai bem!
Eu tenho meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém!
Pero da Ponte
Ambos os textos fazem uma crítica moral a determinada
senhora da sociedade portuguesa da época. O que se critica
nessas mulheres em cada uma das cantigas?
Embora haja semelhança no assunto, os textos diferem entre si
pela forma como fazem a crítica.
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Sabendo que a cantiga de maldizer é mais agressiva e gorsseira
do que a cantiga de escárnio, e com base nas respostas
anteriores, identifique o tipo de cantiga representado pelos
dois textos.
– Ai, flores, ai, flores do verde pinheiro,
Sabe alguma notícia do meu namorado?
Ai, Deus, onde está?
Joan Airas de Santiago
05.
06.
Ai, flores, ai, flores do verde pino
Nunca vi tais agouros.
desde o dia em que nasci.
como o que ocorreu neste ano por aqui:
ela quis tentar partir,
mas ouviu um corvo sobre si,
e não quis mais sair de casa.
04.
Qual cantiga emprega uma linguagem mais direta e
vulgar? Qual faz uso de uma linguagem cheia de
ambiguidades, trocadilhos e insinuações?
Em qual predomina a ironia leve e sutil? E qual a
zombaria?
Em qual delas o nome da pessoa satirizada é
identificado?
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?
Quando a gente gosta é claro que a gente cuida
Fala que me ama, só que é da boca pra fora
Ou você me engana, ou não está madura!
Onde está você agora?
D. Dinis
4
O segundo texto é a transcrição da letra Sozinho, de Peninha,
compositor de músicas popular brasileira. O primeiro é uma
cantiga medieval, de autoria do rei-trovador português D.
Dinis. Mais de 600 anos separam as duas composições; no
entanto, o tema delas é essencialmente o mesmo. As mesmas
características líricas de manifestação do “eu” vistas na música
contemporânea Sozinho podem ser encontradas nas primeiras
cantigas que dão início à literatura em Portugal.
a)
Qual é a base do questionamento do “eu” nas duas
canções?
b)
Na música de Peninha, um “eu” sozinho conjetura sobre
o futuro de seu relacionamento amoroso. È possível
afirmar que se trata de um “eu” masculino. Na cantiga
de D. Dinis, o “eu” feminino e também apresenta um
quadro de sua relação. Como são os relacionamentos
amorosos evidenciados nessas canções?
08.
Nas ribas do lago, u eu vi andar,
seu arco na mão a las aves tirar,
a las aves, meu amigo.
Seu arco na mão as aves ferir,
e las que cantavan leixá-las guarir,
a las aves, meu amigo.
Seus arco na mão a las aves tirar,
e las que cantavan non nas quer matar,
a las aves, meu amigo.
a)
b)
Leia o texto a seguir e responda.
Não Quero Dinheiro
Composição: Tim Maia
Vou pedir pra você ficar
Vou pedir pra você voltar
Eu te amo, Eu te quero bem
Vou pedir pra você me amar
Vou pedir pra você gostar
Eu te amo, eu te adoro, meu amor!
A semana inteira fiquei esperando
Pra te ver sorrindo
Pra te ver cantando
Quando a gente ama
Não pensa em dinheiro
Só se quer amar, se quer amar, se quer amar
De jeito maneira
Não quero dinheiro !
Quero amor sincero,
Isso que eu espero.
Digo ao mundo inteiro:
Não quero dinheiro,
Eu só quero amar!
Espero para ver se você vem,
Não te troco nessa vida por ninguém !
Porque eu te amo, eu te quero bem !
Acontece que na vida a gente tem
Que ser feliz por ser amado por alguém
Porque eu te amo, eu te adoro, meu amor
Essa letra de música contemporânea apresenta características
de cantiga lírico-amorosa.Tanto podemos classificá-la como
uma cantiga de amor (voz masculina) quanto como uma
cantiga de amigo (voz feminina). Justifique essa dupla
possibilidade com elementos do texto.
09.
a las aves, meu amigo.
Leia atentamente a cantiga de autoria de Fernando Esguio.
Vaiamos, irmana, vaiamos dormir
nas ribas do lago, u eu andar vi
a las aves meu amigo.
Vaiamos, irmana, vaiamos folgar
nas ribas do lago, u eu vi andar
a las aves meu amigo.
Nas ribas do lago, u eu andar vi,
seu arco na mão as aves ferir,
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10.
Classifique a cantiga. Justifique sua resposta.
A moça sofre porque o amigo está ausente. Qual o
motivo da ausência? Quem a moça pega como
confidente?
Leia.
TEXTO 01
Canção da Ribeirinha
No mundo nom me sei parelha,
mentre me for como me vai,
ca ja moiro por vós e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia.
Mao dia que me levantei
que vos enton nom vi fea!
E, mia senhor, des aquelha
me foi a mi mui mal di'ai!
E vós, filha de dom Pai
Moniz, e bem vos semelha
d'aver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós ouve nem ei
valia d'ua correa .
TEXTO 02
Atrás da porta
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
(Chico Buarque & Francis Haime)
a)
Como se classifica a “Canção da Ribeirinha” (texto 01)?
Percebe-se a vassalagem amorosa? Em caso afirmativo,
Justifique sua resposta. Destaque uma passagem que
caracterize a sociedade patriarcal.
5
b)
Relacionando “Atrás da porta” com as cantigas
medievais, como você a classificaria? Justifique sua
resposta?
– Meu senhor Galaaz, sede bem-vindo e bendito
seja Deus que vos aqui trouxe, porque por vós serão
livres as donzelas presas.
Então lhe deu sua espada e disse-lhe:
Novelas de cavalaria.
A seguir você lerá dois textos, ambos fragmentos de
novelas de cavalaria. O primeiro é parte de A demanda do
Santo Graal, obra do século XII, de autoria desconhecida. O
tema central dessa novela é a busca do Graal, o vaso sagrado,
em que, segundo a lenda, José de Arimatéia teria depositado o
sangue de Cristo no momento do martírio.
O segundo trecho foi escrito por Italo Calvino - publicado no
Brasil em 1993 - chamado O cavaleiro inexistente. Nessa novela
são retratadas as aventuras de Agilulfo, um cavaleiro
inexistente (há somente uma amardura, dentro da qual soa
uma voz metálica), servindo nos exércitos de Carlos Magno.
Observe as ações dos cavaleiros que buscam o Santo Graal nos
dois fragmentos.
Texto I
Neste fragmento, os cavaleiros Heitor, Meraugis e Galaaz,
depois de serem traídos, são aprisionados no castelo de Felão.
Galaaz, contudo, faz uma prece Deus pedindo que o liberte.
Depois daquela tempestade e aquele tempo
durou desde a hora de prima até a hora de terça,
aconteceu então uma tão grande maravilha, que bem
deve ser metida em conto, porque, sem falha, foi um
dos formosos milagres, que alguma vez aconteceu no
reino de Logres no tempo das aventuras, pois a torre,
que era forte à maravilha, aquela onde três cavaleiros
estavam, fendeu-se de alto a baixo, assim que uma
parte dela caiu à direita e outra, à esquerda e matou
muita daquela gente má. Quando os três cavaleiros
que na prisão estavam, viram a torre cair, tiveram tão
grande pavor, que caíram em terra esmorecidos. Sabei
que a torre caiu de modo que não fez mal a nenhum
deles. E depois que acordaram e viram que tinham
nenhum mal, e viram que poderiam sair dali, ficaram
de joelhos em terra e estenderam suas mão para o céu
e agradeceram muito de coração a Nosso Senhor. E
depois que ficaram muito em oração, Galaaz lhes
disse:
– Ora para cima e tome cada um suas armas e
matemos quantos acharmos neste castelo, e deixemos
as donzelas que estão presas, porque Nosso Senhor
assim o quer.
[...]
Bem como Galaaz o disse fizeram eles, porque
saíram dali sãos e corajosos e foram para onde
deixaram as armas. E quando chegaram ao paço,
acharam todos os cavaleiros e os homens que jaziam
esmorecidos pelo grande pavor que tiveram.
– Ai, Deus! disse Galaaz, que farei sem minha
espada? Senhor Jesus Cristo, apraza-vos que a tenha.
E isto dizendo, veio a ele uma muito formosa
donzela que lhe disse:
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– Vedes aqui vossa espada, guardai-a bem de
hoje em diante.
E ele tomou sua espada e agradeceu muito. E
depois disse-lhe:
– Sabeis onde estão vossas irmãs?
E ela os levou a uma câmara onde estavam. E
depois que foram armados, voltaram aos do paço, que
se levantaram, e começaram a derribar e a ferir e a
fazer tal mortandade que maravilha. E depois que
mataram todos aqueles, foram à vila e puseram-lhe
fogo de todos os lados, de modo que em pouco tempo
ficou toda queimada e os que escapavam do fogo,
matavam-nos a todos, assim que até a hora de
vésperas não ficou ninguém vivo.
No meio do castelo havia uma grande torre que
tinha muito grande campo. Naquela torre estavam as
donzelas presas; e aquela torre ficou firme e sãs todas
as donzelas que lá estavam, porque o Nosso Senhor
não aprazia que ainda morressem. E quando Galaaz
viu que todas as cousas do castelo estavam destruídas,
menos a torre, disse aos outros:
– Vamos ver o que há naquela torre.
Então foram lá e acharam num paço bem
trezentas donzelas que estavam esmorecidas com
pavor do tempo feio que fizera; e acordaram-nas todas
e disse-lhes que não tivessem pavor, porque havia
acabado o mau tempo e elas estavam livres, e depois
disseram-lhes quem eram e por que chegaram lá; e
depois foram ao outro paço, e acharam lá bem
duzentas donzelas, muitas vivas, muitas esmorecidas e
muitas mortas e acordaram umas e igualmente
confortaram-nas como às outras.
(Heitor Megale, org. São Paulo, Edusp, 1988. p.383-6.)
Texto II
Neste fragmento, o cavaleiro Torrismundo, um dos homens do
exército de Carlos Magno, depois de longa procura, encontra
os cavaleiros do Graal. Seu objetivo é descobrir qual deles
poderia ser o seu pai, possibilidade que põe em dúvida a
tradicional castidade dos referidos cavaleiros.
Torrismundo, arrastado
cavaleiros, estava transtornado.
pela
corrida
dos
– Alguém me diga, por quê? – gritava para o
ancião, indo atrás dele, como se fosse o único que
podia ouvi-lo. – Então não é verdade que estejam
cheios de amor pelo todo! Ei! Atenção, estão atacando
aquela velha! Como têm coragem de investir sobre
restos humanos? Socorro, as chamas atingem aquele
berço! Mas o que estão fazendo?
– Não queira interferir nos desígnios do Graal,
noviço! – advertiu o ancião. – Não somos nós quem
6
faz isso; é o Graal, que está em nós, que nos move!
Entregue-se ao seu amor fuiroso!
I.
Mas Torrismundo descera da sela, preparava-se
párea socorrer uma mãe, devolver-lhe aos braços uma
criança caída.
II.
– Não! Não me levem toda a colheita! Trabalhei
tanto! – berrava o velho.
III.
Torrismundo ficou ao lado dele.
– Largue o saco, bandido! – E atirou-se sobre um
cavaleiro, arrancando-lhe o que roubara.
a)
– Bendito seja! Está conosco! Disseram alguns
daqueles infelizes que ainda tentavam com forcados,
facões e machados, armar a defesa atrás de um muro.
b)
c)
– Coloquem-se em semicírculo, vamos atacá-los
todos juntos! – berrou-lhes Torrismundo e se colocou à
frente da milícia civil curvalda.
Agora expulsava os cavaleiros para fora das
casas. Encontrou-se frente a frente com o ancião e
outros dois armados de tochas.
d)
e)
15.
(São Paulo, Companhia das Letras, 1993. p.117.)
11. A respeito do texto I:
a)
b)
12.
As cantigas de _ são poesias de sabor provençal, em que quem
fala é o apaixonado , que consagra à sua dona um amor
torturado e sem esperança.
As cantigas de _ são poesias de origem nacional (galegoportuguesa), de caráter acentuadamente feminino, com
sentimentos imaginariamente expressos por uma mulher,
geralmente solteira.
AS cantigas de _ são poesias satíricas em que se criticam
pessoas, costumes e acontecimentos. Diz-se mal, mas
encobertamente (sem revelar o nome da pessoa ou pessoas
visadas), com expressões irônicas e ambíguas. Quando se diz
mal abertamente, pondo-se o nome da pessoa ou pessoas
visadas, as cantigas são chamadas de_ .
Destaque uma situação que comprove serem os
cavaleiros do Graal protegidos de Deus.
Aponte algumas características das personagens que
sejam exemplares do comportamento do cavaleiro
medieval.
Compare o tipo de ação dos cavaleiros do Graal dos textos I e II:
a)
Em que se assemelham?
b)
Em que diferem?
c)
Em que aspecto a visão de Italo Calvino modifica a
versão tradicional?
Indique a opção correta sobre os versos.
[...]
Princesa
Surpresa
Você me arrasou
Serpente
Nem sente que me envenenou
Senhora, e agora
Me diga onde vou
[...]
a)
b)
c)
Texto para a questão 13.
d)
Hun tal home sei eu, ai, bem talhada,
que por vós tem a sa morte chegada;
vedes quem é e seed’ em nembrada:
eu, mia dona!
Hun tal home seu eu que preto sente
de si morte chegada certamente:
vedes quem é e venha-vos em mente:
eu, mia dona!
e)
14.
No poema acima o final dos últimos versos mia dona!
Caracteriza um cantar medieval, que se classifica como:
a)
Cantiga satírica
b)
Cantiga de escárnio
c)
Cantiga de amigo
d)
Cantiga de maldizer
e)
Cantiga de amor
Assinale a alternativa que substitui corretamente os _ de forma
a completar as informações abaixo:
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não existe neles a noção da força do poder sedutor
feminino.
A situação da mulher neles referida é a mesma que
encontramos nas cantigas de amigo do Trovadorismo.
Apresentam a mulher com a mesma carga de
sensualidade que lhes atribui boa parte da poesia
parnasiana.
Seguem o modelo descritivo típico do Simbolismo,
apresentando a figura feminina com traços vagos,
imprecisos, esfumaçados.
Lembram-nos aquela situação de vassalagem que marca
as relações amorosas das cantigas de amor do
Trovadorismo.
16.
Assinale a alternativa incorreta a respeito do Trovadorismo em
Portugal.
a)
Durante o Trovadorismo, ocorreu a separação entre
poesia e a música.
b)
Muitas cantigas trovadorescas foram reunidas em livros
ou coletâneas que receberam o nome de cancioneiros.
c)
Nas cantigas de amor, há o reflexo do relacionamento
entre o senhor e vassalo na sociedade feudal: distância e
extrema submissão.
d)
Nas cantigas de amigo, o trovador escreve o poema do
ponto de vista feminino.
e)
A influência dos trovadores provençais é nítida nas
cantigas de amor galego-portuguesas.
17.
Assinale a alternativa INCORRETA a respeito das cantigas de
amor.
a)
O ambiente é rural ou familiar.
b)
O trovador assume o eu - lírico masculino: é o homem
quem fala.
c)
Têm origem provençal.
Hun tal home sei eu, aquest’ óide:
que por vós morr’ e vo-lo em partide;
vedes quem é, non xe vos obride:
eu, mia dona!
13.
cantiga de amor, cantiga de amigo, cantiga de maldizer,
cantiga de escárnio.
cantiga de amigo, cantiga de amor, cantiga de maldizer,
cantiga de escárnio.
cantiga de amigo, cantiga de amor, cantiga de escárnio,
cantiga de maldizer.
cantiga de amor, cantiga de amigo, cantiga de escárnio,
cantiga de maldizer.
Cantiga de amor, cantiga de escárnio, cantiga de amigo,
cantiga de maldizer.
7
d)
e)
18.
Expressam a "coita" amorosa do trovador, por amar uma
dama inacessível.
A mulher é um ser superior, normalmente pertencente a
uma categoria social mais elevada que a do trovador.
Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é INCORRETO
afirmar que:
a)
refletiu o pensamento da época, marcada pelo
teocentrismo, o feudalismo e valores altamente
moralistas.
b)
representou um claro apelo popular à arte, que passou a
ser representada por setores mais baixos da sociedade.
c)
pode ser dividida em lírica e satírica.
d)
em boa parte de sua realização, teve influência
provençal.
e)
as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores,
expressam o eu - lírico feminino.
c)
d)
e)
21.
Assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo.
a)
Um dos temas mais explorados por esse estilo de época
é a exaltação do amor sensual entre nobres e mulheres
camponesas.
b)
Desenvolveu-se especialmente no século XV e refletiu a
transição da cultura teocêntrica para a cultura
antropocêntrica.
c)
Devido ao grande prestígio que teve durante toda a
Idade Média, foi recuperado pelos poetas da
Renascença, época em que alcançou níveis estéticos
insuperáveis.
d)
Valorizou recursos formais que tiveram não apenas a
função de produzir efeito musical, como também a
função de facilitar a memorização, já que as composições
eram transmitidas oralmente.
22.
O Trovadorismo, quanto ao tempo em que se instala:
a)
tem concepções clássicas do fazer poético.
b)
é rígido quanto ao uso da linguagem que, geralmente, é
erudita.
c)
estabeleceu-se num longo período que dura 10 séculos.
d)
tinha como concepção poética e epopéia, a louvação dos
heróis.
e)
reflete as relações de vassalagem nas cantigas de amor.
Textos para as questões de 19 e 20.
Texto I
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus, se verrá cedo!
Martim Codax
Obs.: verrá = virá levado = agitado
Texto II
1. Me sinto com a cara no chão, mas a verdade precisa
2 ser dita ao menos uma vez: aos 52 anos eu ignorava
3. a admirável forma lírica da canção paralelística
4. (…).
5. O “Cantar de amor” foi fruto de meses de leitura
6. dos cancioneiros. Li tanto e tão seguidamente aquelas
7. deliciosas cantigas, que fiquei com a cabeça
8. cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”;
9. sonhava com as ondas do mar de Vigo e com romarias
10. a San Servando. O único jeito de me livrar da
11. obsessão era fazer uma cantiga.
Manuel Bandeira
19.
20.
Leia o texto a seguir.
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
Assinale a afirmativa correta sobre o texto I.
a)
Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta
a Deus seu sofrimento amoroso.
b)
Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino dirige-se a
Deus para lamentar a morte do ser amado.
c)
Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta
às ondas do mar sua angústia pela perda do amigo em
trágico naufrágio.
d)
Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculino dirige-se às
ondas do mar para expressar sua solidão.
e)
Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino dirige-se às
ondas do mar para expressar sua ansiedade com relação
à volta do amado.
No texto II, o autor.
a)
manifesta sua resistência à obrigatoriedade de ler textos
medievais durante o período de formação acadêmica.
b)
utiliza a expressão cabeça cheia (linha 08) para depreciar
as formas lingüísticas do galaico-português, como “mha
senhor” e “nula ren” (linhas 08 e 09).
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relata circunstâncias que o levaram a compor um poema
que recupera a tradição medieval.
emprega a palavra cancioneiros (linha 06) em
substituição a “poetas”, uma vez que os textos medievais
eram cantados.
usa a expressão deliciosas cantigas (linha 07) em sentido
irônico, já que os modernistas consideraram medíocres
os estilos do passado.
De repente, não mais que de repente.
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Releia com atenção a última estrofe:
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
23.
Tomemos a palavra amigo. Todos conhecem o sentido com que
esta forma lingüista é usualmente empregada no falar atual.
Contudo, na Idade Média, como se observa nas cantigas
medievais, a palavra amigo significou:
a)
colega
b)
companheiro
c)
namorado
d)
simpático
e)
acolhedor
8
24.
25.
Os gêneros literários, constituem modelos aos quais se deve
submeter a criação artística. Deles NÃO se deve considerar
como verdadeiro:
a)
Segundo concepção clássica, são três os gêneros
literários.
b)
Embora a obra literária possa encerrar emoções diversas,
podendo haver intersecção de elementos líricos,
narrativos e dramáticos, há sempre.a prevalência de uma
destas modalidades.
c)
A criação poética, de caráter lírico, privilegiará os
diálogos dos personagens.
d)
Novelas, crônicas, romances e contos são espécies
literárias de caráter narrativo.
e)
O discurso literário é considerado dramático quando
permite, em principio, ser representado.
Princesa
Surpresa
Você me arrasou
Texto3
Cantiga da Ribeirinha (versão atualizada)
No mundo não conheço quem se compare
a mim enquanto eu viver como vivo,
pois eu morro por vós - ai!
pálida senhora de face rosada,
quereis que vos descreva (retrate)
quando vos vi sem manto! (saia: roupa íntima)
Infeliz o dia em que acordei,
que então eu vos vi linda!
Paio Soares de Taveirós. In: TAVARES, J.P. Antologia de textos
medievais. Lisboa, Livraria Sá da Costa,1961
Assinale a opção correta sobre os versos.
"(...)
Princesa
Surpresa
Você me arrasou Serpente
Nem sente que me envenenou
Senhora,
e agora Me diga onde vou
(...)"
a)
b)
c)
d)
e)
26.
É evidente a presença da cultura trovadoresca nos nossos dias,
haja vista que:
a)
A "Cantiga da Ribeirinha" é uma cantiga de amigo como
"Atrás da Porta" de Chico Buarque, porque ambas são
escritas por um homem que sofre de amor por uma
mulher.
b)
"Atrás
da porta" de Chico Buarque pode ser
comparada às cantigas de amor: autor masculino, mas
sentimento feminino.
c)
A música "Queixa" de Caetano Veloso apresenta algumas
características das cantigas de amigo: o homem sofre em
consequência de um amor não correspondido.
d)
A "Canção da Ribeirinha" é uma cantiga de amigo
medieval assim como "Queixa" de Caetano Veloso,
porque em ambas se manifesta uma postura servil do
homem diante da mulher.
e)
Os compositores da Música Popular Brasileira escrevem
músicas que se assemelham a cantigas de amigo, como
Chico Buarque ("Atrás da Porta") ou a cantigas de amor,
como Caetano Veloso. ("Queixa")
27.
Ao lermos os textos 1,' 2 e 3, e confrontando essa leitura com
as nossas experiências. cotidianas com à música e a poesia,
concluímos que:
a)
os três textos são líricos; têm sons, melodias, significados
e cadência, elementos da música.
b)
os três textos pertencem predominantemente ao gênero
dramático.
c)
as palavras ganham relevo pela sonoridade, apesar de
pertencerem ao gênero narrativo.
d)
os três textos são escritos em prosa, e pôr isso não
consideram o ritmo e a melodia das palavras.
e)
a comparação entre poesia e música não pode ser feita.
28.
Leia.
(Queixa - Caetano Veloso)
Não existe neles a noção da força do poder sedutor
feminino.
A situação da mulher neles referida é a mesma que
encontramos nas cantigas de amigo do trovadorismo.
Apresentam a mulher com a mesma carga de
sensualidade que lhes atribui boa parte da poesia
parnasiana.
Seguem o modelo descritivo típico do simbolismo,
apresentando a figura feminina com traços vagos,
imprecisos, esfumaçados.
Lembram-nos aquela situação de vassalagem que marca
as relações amorosas das cantigas de amor do
trovadorismo.
Leia.
Texto 1
Atrás da porta
Quando olhaste bem nos olhos meus E teu olhar era
de adeus Juro que não acreditei Eu te estranhei
Me debrucei sobre o teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei e me agarrei nos
teus cabelos
Nos teus pelos
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
(Chico Buarque e Francis Hime)
Texto 2
Queixa
Um amor assim delicado
Você pega e desprezado
Não devia ter desprezado
ajoelha e não reza
dessa coisa que mete medo
pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho certeza
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(Caetano Veloso)
Bailemos agora, por Deus, ai velidas [formosas],
so [sob] aquestas [estas] avelaneiras frolidas [floridas] e
quem for velida, como nós velidas, se amig' amar
só [sob] aquestas avelaneiras frolidas verrá [virá]
bailar!
Bailemos agora, por Deus, ai loadas [louvadas],
só aquestas avelaneiras granadas [em flor] e quem for
loada, como nós loadas, se amig' amar
só [sob] aquestas avelaneiras granadas verrá
bailar!
ZORRO, João. ln:CARDOSO, Wilton; CUNHA, Celso. Estilística e
Gramática Histórica. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1978. p. 300.
9
Acerca do poema, é correto afirmar:
a)
Trata-se de uma cantiga de amor de refrão, visto que o
sujeito é feminino e o objeto, masculino.
b)
Observa-se o acatamento às regras do amor cortês,
sobretudo, no que diz respeito á vassalagem amorosa.
c)
O cenário, extremamente convencional, indica a
presença da cantiga de amor em que a natureza não se
apresenta como amiga e confidente.
d)
Embora haja uma caracterização da donzela como
"velida" [formosa] e "loada" [louvada], o sentimento
amoroso manifesta-se como "coita" de amor e amor
infeliz.
e)
Explora-se a temática da alegria de amar e de ser amada,
ocorrendo o relacionamento entre o sujeito e o objeto
num plano de igualdade.
31.
Assinale a alternativa incorreta com respeito ao Trovadorismo
em Portugal.
a)
Nas cantigas de amigo, o trovador escreve o poema do
ponto de vista feminino.
b)
Nas cantigas de amor, há o ' reflexo do relacionamento
entre senhor e vassalo na sociedade feudal: distância eextrema submissão.
c)
A influencia dos trovadores provençais é nítida nas
cantigas de amor galego-portuguesas.
d)
Durante o trovadorismo, ocorreu a separação entre a
poesia e à música.
e)
Muitas cantigas trovadorescas foram reunidas em livros
ou coletâneas que receberam o nome de cancioneiros.
"Quero eu em maneira provençal fazer um cantar
de amor e quererei mui louvar mia senhor, a quem
prez nem formosura não fal, nem bondade, e mais vos
direi em: tanto a Deus fez comprida de bem que mais
do que todas do mundo val."
29.
Sobre a cantiga é incorreto afirmar:
Há uma visível idealização da mulher amada, a
qual além de muito formosa é também bondosa.
Pode-se perceber a vassalagem amorosa por
meio do tratamento dado à mulher amada. Ela é
tratada como a '"senhora", reflexo da relação de
vassalagem do sistema feudal.
Trata-se de um "cantar de amor" feito por um
homem para louvar a beleza de sua namorada.
O eu-lirico é masculino, o qual pretende fazer
uma cantiga à maneira provençal.
Pode ser percebida uma certa religiosidade, uma
vez que acredita-se que a mulher amada foi muito bem
dotada de beleza por Deus, fazendo com que ela seja
aquela que vale mais do que todas do mundo para ò
amante.
30. Leia a Cantiga reproduzida abaixo e, em seguida, responda à
questão proposta no comando.
Cantiga
D.Afonso Sanches
Dizia la fremosinha "al, deus , vai Com 'estou d'amor
ferida!
Diazia la bem talhada: "ai deus, vai" Com 'estou d'amor
coirada! Ai, deus , vai
Com 'estou d'amor ferida! "Ai, deus, vai!" Nom vem o
que bem queria! Ai, deus, vai!
Com 'estou d'amor coitada!
"Ai, deus, vai!" Nom vem o que muit'amaval! "Ai, deus,
vai"
In Elsa Gonçalves. A lírica galego-portuguesa. Lisboa.
Editorial comunicação, 1983.
fremosinha - formosinha; ai, Deus, vai! - ai, valha-me Deus!; ai,
Deus me ajude!; bem talhada - bem feita, elegante,
bonita; coitada - infeliz, cheia de sofrimento amoroso.
Sobre a cantiga acima, de D. Afonso Sanches, é correto afirmar:
a)
a voz que fala na cantiga é do homem apaixonado que
sofre por amor e dirige-se a Deus.
b)
a fremosinha (formosinha) lamenta seu sofrimento pela
ausência do amado.
c)
o paralelismo "ai, Deus, vai!" (ai, valha-me Deus!) é muito
comum nas cantigas de amor medievais.
d)
o homem sente-se muito ferido pela não correspondência
amorosa da fremosinha (formosinha).
e)
o objetivo da cantiga é elogiar, louvar a mulher amada.
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