FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA MÓDULO Ética, Cultura e Arte Organizadoras: Professora Me. Cristina Herold Constantino Professora Me. Débora Azevedo Malentachi Colaboradores: Mediadores: Professor Esp. Márcio Marosti Professora Esp. Fabiana Caetano Tutoria: Professora Aline Ferrari INTRODUÇÃO Em sua diversidade e multiplicidade, a marcada pelas diferenças dialetais, o cultura brasileira amor ao esporte assimilação da cultura estrangeira. é e a As duas primeiras aparecem como marcas culturais e a última surge como tendência singular do brasileiro. Esta coletânea pretende ser um convite à informação e à reflexão acerca da cultura, da “nossa característica” como povo brasileiro que somos, sobretudo, acerca da diversidade de culturas que enriquecem o contexto brasileiro, acrescentam valores ao universo humano, ampliam conhecimentos e revelam grandes possibilidades de interação. Neste material, você também encontrará conteúdo sobre Olimpíadas, arte contemporânea e livros. No percurso da leitura-estudo dos textos aqui apresentados, são várias as possibilidades de questionamentos. Dentre eles, como ser um cidadão brasileiro que assimila a sua cultura, nutre amor e respeito genuíno por ela, faz parte dela, mas, também, reflete e age eticamente sobre essa cultura? Seja muito bem-vindo(a) ao segundo semestre da disciplina de Formação Sociocultural e Ética e a esta coletânea, em especial! Das organizadoras ÉTICA, CULTURA E ARTE Embora os três elementos - ética, cultura e arte - se relacionem entre si e se completem, começaremos por abordar o tema pelo viés da cultura em uma perspectiva conceitual básica, com a finalidade de refletirmos fundamentalmente sobre a nossa cultura. Segue abaixo uma compilação de textos, os quais dialogam entre si, na medida em que abordam a noção básica de cultura, estendendo-a à perspectiva nacional, possibilitando-nos, sob o olhar dos diferentes autores, refletir, analisar e, quem sabe, modificar nosso posicionamento. TEXTO 1 Cultura (conceito) Meio de expressão dos sentimentos e aspirações do ser humano, a arte surge no período préhistórico. Há dezenas de milhares de anos, o homem pintou, em paredes de cavernas, imagens que chegaram aos nossos dias. As artes plásticas surgem como manifestação cultural humana muito antes da escrita. Desde a Antiguidade, as escolas artísticas tentaram, com os recursos disponíveis à época, abarcar a complexidade da cultura humana. Atualmente, a humanidade conta com diversas formas de manifestação, além das seis artes clássicas – música, dança, pintura, escultura, literatura e teatro. No mundo moderno, surgiram outras, como o cinema (conhecido como sétima arte), a fotografia e a animação. (…) Literatura é a arte de escrever textos em prosa ou verso. São gêneros da literatura a poesia, épica ou lírica, e a prosa, sob a forma de romance, novela, conto, crônica e texto dramático. No entanto, em se tratando de cultura brasileira, segundo Rosa Lydia Teixeira Corrêa (2008), multicultura, infinidade de culturas que se interpenetram. a palavra mais apropriada quando se trata de abordar a cultura brasileira é pois aponta para a composição de uma Um exemplo típico desta linha de raciocínio é a pizza, segundo a autora. A pizza é um prato típico da culinária italiana e, certamente, uma das iguarias que mais têm sofrido adaptações desde que os imigrantes italianos a trouxeram para o Brasil. Um exemplo bastante peculiar vem de Belém (Pará), com a criação da pizza com recheio de jambú (planta comestível da Amazônia, considerada afrodisíaca, que, na tradição local, compõe um prato típico regional: o pato ao tucupi), camarão e mussarela. Nela, tem-se tanto a composição italiana, com o queijo e a massa, quanto a regional, com o camarão e o jambú. Deste modo, pode-se dizer, então, que existem significados e sentidos que se entrecruzam, tanto na composição objetiva deste prato quanto daquilo que desta comida se pode usufruir quando ela for degustada (sabores, odores, a própria estética. Essa prática é denominada de processo de interculturalidade, pois o que há de comum é uma matriz que une diferentes grupos sociais, cujos costumes são diferentes, mas que agregam algo que passa a fazer sentido para um grupo, à medida que este introduz seus próprios elementos. A autora segue afirmando ser a língua a matriz de qualquer cultura, já que traduz o significado dela pelo fato de revelar a obra humana em sentido bem amplo. É, talvez, o referencial mais forte da identidade de uma pessoa, pois a vincula a um país, no sentido de pertencimento e de possibilidades de tradução de elementos que lhe fazem sentido e que, para ela, têm significado. Compreende-se, então, que a língua se vincula à identidade cultural pelo sentimento de pertencimento a uma cultura, nesse caso a cultura brasileira, na qual se fala a língua portuguesa. Ainda que, essa língua seja igualmente falada em outros países, como Portugal, Moçambique e Angola, o sentido de seu uso no Brasil tem suas particularidades, que vão desde a pronúncia até o uso de termos que são especificamente brasileiros. Assim, a identidade cultural não está sendo entendida como uma questão que diz respeito apenas ao indivíduo, mas se refere a grupos sociais. Ainda conforme Cuche, “Todo grupo é dotado de uma identidade que corresponde à sua definição social, definição que permite situá-lo no conjunto social. A identidade social é ao mesmo tempo inclusão e exclusão: ela identifica o grupo (são membros do grupo que são idênticos sob um certo ponto de vista). Nessa perspectiva, a identidade cultural aparece como uma modalidade de categorização da distinção nós/eles, baseada na diferença cultural. A identidade social de um indivíduo se caracteriza pelo conjunto de suas vinculações em um sistema social, isto é, esta está vinculada a uma classe sexual, a uma classe de idade, a uma classe social, a uma classe cultural, a uma nação. A mesma permite que o indivíduo localize-se em um sistema social e que este seja localizado socialmente. No entanto, devemos considerar que a identidade é construída a partir da própria sociedade, sendo esta caracterizada pela multiplicação das referências, emergindo de uma pluralidade de movimentos que procuram salientar questões e lutas em prol das minorias étnicas, regionais e religiosas. A identidade cultural tem o poder de caracterizar as pessoas pelo modo de agir, de falar, isto é, como se as “rotulasse” a partir dos modos específicos de sua cultura. Esta última, no entanto, é considerada como fruto da miscigenação de diferentes povos que introduziram seus hábitos e costumes, com o contato de uma cultura e outra, pode gerar uma cultura ainda mais diferente [...] Nestor Garcia Canclini (antropólogo argentino contemporâneo) destaca em suas pesquisas e escritos a preocupação em analisar as variadas situações onde mostra que a cultura e as identidades não podem ser pensadas como um patrimônio a ser preservado, entretanto ele assinala o intercâmbio e a modificação são caminhos que orientam a formulação e a construção das identidades. O autor conceituou ainda a cultura como um processo em que constante transformação, diferenciando-se da tradicional visão patrimonialista, adotando uma postura de mobilidade e ação. A identidade, no entanto, pode ser entendida como a compreensão que uma pessoa tem de si mesma como simultaneamente sendo um indivíduo e um membro de um grupo social; as pessoas têm variedades de “eus” sociais, ou identidades de grupos, porque estes possuem uma variedade de papéis sociais na vida; essa colocação faz com que a questão da identidade seja incluída no estudo dos grupos sociais e seus relacionamentos, etnicidades e etnocentrismo, e ainda no conflito intergrupal e intercultural. (Fonte: http://www.mundoeducação.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm. organizadoras). Grifos das “o jeitinho brasileiro”? É claro que essa frase nos conotação de contravenção, à falta de ética, ou, o que é pior, E, falando em cultura, o que dizer da frase remete, atualmente, a uma remete-nos à “cultura da corrupção brasileira” instaurada em todos os setores, níveis e camadas sociais. No entanto, o texto a seguir é uma proposta à reflexão e análise da construção da ética na cultura. TEXTO 2 A importância de se construir uma cultura ética Bo Mathiasen As cenas que vemos na televisão, mostrando empresários, políticos e funcionários públicos envolvidos em casos de corrupção, provocam sentimentos de indignação. De fato, esses episódios minam a confiança da população na justiça e nas instituições do país. A corrupção é um fenômeno inerente a qualquer sociedade moderna e até hoje não se conhece país que esteja totalmente livre dela. Em maior ou menor grau, trata-se da apropriação criminosa de recursos públicos que deveriam ser usados na melhoria das condições de vida das pessoas. O Banco Mundial estima que, nos países onde os índices de corrupção são mais elevados, entre 25% e 30% do PIB é desperdiçado. Já em países onde a corrupção encontra-se sob controle, esses índices não ultrapassam 3%. Aí reside a grande diferença. Como em relação a qualquer outro tipo de crime, alguns países têm sido mais eficazes no controle da corrupção do que outros. Medir a corrupção de maneira precisa é uma tarefa complexa. Os dados mais divulgados são rankings que indicam a percepção que os cidadãos têm da corrupção. Este é o caso da ONG Transparência Internacional, que posiciona o Brasil em 69º lugar em um universo de 178 países pesquisados. Apesar de serem importantes para estimular o debate público sobre a corrupção, os rankings de percepção são influenciados por eventos críticos em um determinado momento da história de um país. Nesse sentido, a maior transparência de práticas e eventos de corrupção, alcançada por meio de ações policiais de grande visibilidade midiática, tem um duplo caráter. Por um lado, pode dar a sensação de que a corrupção está crescendo. Por outro, o aprimoramento das ferramentas de transparência e de controle naturalmente confere visibilidade a situações antes escondidas e, por isso, desconhecidas. Talvez a grande diferença entre o passado e o presente é que hoje sabemos muito mais sobre o que ocorre nos bastidores da vida política. A visibilidade desses fenômenos já é um avanço, pois impulsiona setores da sociedade civil a cobrarem mais dos governantes. De qualquer modo, quando a corrupção prevalece numa sociedade, se estabelece uma situação crítica na qual os países e seus governos não conseguem alcançar o desenvolvimento e enfrentam problemas para oferecer serviços básicos como saúde, educação, infraestrutura, entre outros desafios para a construção de uma sociedade igualitária, transparente e democrática. Em todo o mundo, é preciso combinar ações de prevenção e de repressão à corrupção. Os corruptos, independente da área que forem, não podem sentir que há um ambiente favorável à impunidade e, por outro lado, deve-se desenvolver nas pessoas uma cultura ética de intolerância à corrupção. É preciso acabar com a impunidade, tratando o corrupto como um criminoso comum, que se apropriou de bens públicos. Exigir e adotar uma postura ética, no entanto, não deve se restringir apenas ao âmbito político ou É preciso que toda pessoa assuma essa postura no dia-a-dia e procure agir de maneira ética nas situações que pareçam menos relevantes. empresarial. O movimento popular pela Lei "Ficha Limpa" no Brasil é um exemplo claro do papel decisivo que a sociedade pode ter no controle da corrupção. Com quase 2 milhões de assinaturas, o movimento conseguiu encaminhar e apressar a votação do projeto de lei que impediu que candidatos que já haviam sido condenados judicialmente em 2ª instância concorressem a cargos no Senado e na Câmara dos Deputados. O movimento é, pois, um exemplo da força que o exercício da cidadania pode ter no controle dos Poderes, e em que o cidadão chama para si a responsabilidade de combater a corrupção. É nesse sentido que o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) lançou a campanha global "Corrupção: Cada Não Conta". Se todos percebermos a importância de dizer O Dia Internacional contra a Corrupção, celebrado anualmente em 9 de dezembro, é uma oportunidade para refletir sobre o assunto e reafirmar o compromisso de acabar com a cultura da corrupção e criar uma cultura de ética e integridade em todos os setores da sociedade. "não" a pequenos atos de corrupção, seremos capazes de mudar a sociedade. Bo Mathiasen, dinamarquês, é o representante do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) para o Brasil e o Cone Sul. É mestre em Ciência Política e Economia pela Universidade de Copenhague e especialista em Desenvolvimento Econômico pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. (Fonte: http://www.unodc.org/southerncone/pt/imprensa/artigos/2010/09-12-a-importancia-de-seconstruir-uma-cultura-etica.html. Grifos das organizadoras.) Não há como falar de ética e cultura sem falarmos da cultura afrodescendente, de suas influências, parte de sua trajetória, suas lutas e suas conquistas. Na sequência, abordaremos esse assunto sob diferentes perspectivas, com o objetivo de que as informações agreguem conhecimento e, também, (trans) formação de conceitos ou paradigmas. TEXTO 3 Segregação Racial Martin Luther King lutava contra a segregação racial Claramente, a palavra segregação não deixa dúvida quanto ao seu significado mais geral, quando pesquisamos no dicionário: separação; divisão a fim de evitar contato; isolamento. Ao trazermos essa palavra para uma discussão de cunho sociológico, é inevitável pensarmos nos desdobramentos negativos para a vida social, principalmente do ponto de vista das hostilidades e conflitos sociais gerados pela segregação em si. Podemos observar vários tipos de segregação ao longo da história, os quais foram (e ainda são em alguns casos) motivados pelos mais variados fatores. Segundo Ely Chinoy, embora sejam muitas as circunstâncias que possam influenciar na estrutura das relações entre indivíduos de grupos raciais e étnicos diferentes, pelo menos três merecem destaque. O primeiro diz respeito ao tamanho e ao número dos grupos, o que é fundamental para pensarmos em minorias ou maiorias; o segundo ponto diz respeito às diferenças entre esses indivíduos no aspecto físico e também cultural; finalmente, o terceiro aspecto diz respeito à disputa por recursos e por melhores condições de sobrevivência entre tais grupos, sendo que as maiorias almejam, dentro da estrutura social, submeterem as minorias, para delas tirarem vantagem. Se considerarmos o segundo aspecto apontado por Chinoy, nele se enquadra a segregação racial, a qual diz respeito às diferenças físicas e, até certo ponto, também culturais. Obviamente, os demais fatores como ser uma minoria e estar em constante competição por recursos também devem ser considerados. A segregação racial está embasada na intolerância gerada, muitas vezes, por uma visão etnocêntrica de uma maioria em detrimento de uma minoria em um mesmo território. O etnocentrismo vilipendia as formas de organização que se diferem daquela que se tem por referência, gerando os mais diversos preconceitos. Assim, a construção pelo senso comum de alguns estereótipos, isto é, da rotulação de determinados grupos, é, em certa medida, um meio no qual o preconceito consegue se sedimentar. A segregação racial não é um fenômeno social novo, estando presente já dentre as primeiras civilizações, as quais lançavam mão de organizações sociais regidas por castas. Porém, em sociedades como a Índia esse tipo de estratificação social ainda é uma realidade. No século XX, o mundo assistiu um dos maiores genocídios já vistos, fruto da segregação racial e do preconceito oriundos do regime nazista de Hitler, o qual foi responsável pela morte de milhões de judeus em campos de extermínio. Para além da Ásia e Europa, podemos pensar em um exemplo do continente africano. Embora a segregação nesse continente tenha origem no processo de colonização, na África do Sul, ao longo de décadas, prevaleceu o chamado regime de Apartheid, através do qual a segregação racial entre brancos (europeus) e negros (africanos) encontrava amparo até mesmo na lei. Uma fatia expressiva da população africana de cor negra era excluída de vários direitos civis, sociais e políticos, ou seja, alienados de sua cidadania. Porém, a transformação dessa realidade (que perdurou ao longo de boa parte do século XX) se daria mais tarde pela luta política de Nelson Mandela. Da mesma forma, é válido citar outros conflitos, mesmo que gerados menos por questões de raça do que por diferenças étnicas, como os que ocorrem entre palestinos e judeus, as lutas pela emancipação do povo basco no continente europeu, a luta entre católicos e protestantes na Irlanda, o preconceito de franceses contra imigrantes, além, é claro, daquele cultivado por norte-americanos em relação a latinos, árabes e imigrantes em geral. Ainda sobre a segregação racial, é fundamental discorrer sobre a forma como os Estados Unidos lidaram e ainda lidam com o preconceito contra o negro. Para que pudessem ter um presidente afro-descendente, muitas lutas foram necessárias, como a de Martin Luther King, do próprio movimento contracultural, do grupo político dos “panteras negras”, entre outros. Ainda assim, o preconceito e a segregação, em maior ou menor grau, persistem naquela sociedade. Se tomarmos o Brasil como exemplo, a segregação racial contra negros e índios promovida por brancos desde os tempos de colônia foi decisiva na formação da sociedade brasileira. O mito das três raças como explicação do nascimento do homem brasileiro não foi suficiente para acabar com o racismo, o qual agora existe de maneira velada, escondido atrás de uma falsa democracia racial como já apontava Florestan Fernandes. Contudo, vale a pena observar que, embora o racismo não esteja extinto e ainda existam desigualdades sociais alarmantes, não existe uma segregação racial, étnica ou religiosa tão destacada na sociedade brasileira como a que se viu nos exemplos citados anteriormente, ao redor do mundo. Obviamente, não podemos desconsiderar os recentes ataques pela internet aos nordestinos (tema do enredo de uma escola de samba em 2011), as agressões a jovens homossexuais, e este preconceito racial velado, todos indícios da existência de grupos intolerantes e preconceituosos contra minorias (isso sem falar do preconceito contra as mulheres). Porém, daí a comparar a sociedade brasileira com a África do Sul do Apartheid não seria coerente com a realidade nacional. Para termos uma ideia da importância dessa temática, bem como do aceno positivo do Brasil para lutar contra qualquer tipo de segregação, a ONU (Organização das Nações Unidas) e o governo brasileiro criaram um site específico sobre gênero, raça e etnia em março de 2011. O site do PNUD, o Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia foi feito em parceria com outros órgãos vinculados à ONU, como a OIT e UNICEF, tendo como objetivo defender e propagar a incorporação da equidade de gênero e de cor/raça na gestão pública. Obviamente, esse assunto é mais complexo do que pode parecer, principalmente quando traz em sua esteira outras questões como a construção de uma identidade nacional e a ideia de pertencimento à nação, apenas para citar alguns exemplos. Por isso, a promoção de fóruns de discussão por toda a sociedade, para além das escolas e universidades, é uma importante ferramenta na compreensão e formulação de alternativas mais justas e tolerantes para que possamos conviver com a diferença em um mundo que se diz “global”. Paulo Silvino Ribeiro Colaborador Brasil Escola Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas (Fonte: http://www.brasilescola.com/sociologia/segregacao-racial.htm) TEXTO 4 Santos, Ana Katia Alves; Infância afrodescendente: epistemologia crítica no ensino fundamental. Salvador: Editora EDUFBA, 2006. Quais as formas de abordar a África como ponto de origem de determinadas manifestações religiosas e culturais no Brasil? A partir dessa indagação, iniciarei esta análise do livro Infância afrodescendente: epistemologia crítica no ensino fundamental, resultado da dissertação de mestrado defendida por Ana Katia Alves dos Santos em 2005 no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFBA. Infância afrodescendente valoriza uma virada epistemológica na relação dos professores com a experiência dos alunos. No prefácio de Dante Augusto Galeffi, é apresentado o cerne do debate, voltado para intervenção na esfera pública, da importância da "compreensão e valorização do aprendizado multifacetado em detrimento da razão instrumental e monológica". Essa virada epistemológica pretende reduzir a distância entre o cotidiano dos alunos e os conteúdos apresentados em sala de aula pelos educadores. Além da introdução e da conclusão, o livro é dividido em três capítulos. O primeiro, intitulado "O que é isto – a infância?", é voltado para discutir as concepções naturais sobre a infância, assim como para apresentar a proposta de Philippe Ariès acerca da historicidade do tratamento dispensado pelos adultos em relação às crianças, ou seja, a infância como construção social. O segundo capítulo, "Epistemologia, educação e infância afrodescendente no horizonte da contemporaneidade", trata das alternativas à hegemonia da cognição como capacidade mais valorizada no sistema de ensino. A autora discute a relevância de outras vias de produção de conhecimento baseadas na experiência dos alunos, valorizando assim aspectos étnicos, políticos, econômicos e sociais presentes no cotidiano dos alunos. Em "História e cientificidade do ensino fundamental: há lugar para a diferença na escola que fazemos?", terceiro capítulo do livro Infância afrodescendente, a autora apresenta em maior grau o aspecto militante de seu trabalho. Sua análise, baseada na defesa da inserção da experiência dos sujeitos que ensinam e aprendem no âmbito escolar, critica o "processo perverso e excludente" da educação brasileira. A visão europeia e elitizada surge no discurso da autora como barreira à defesa da cultura afrodescendente na Bahia. Dessa forma, a preponderância desse método de ensino promoveu a exclusão da cultura local desde o século XVI no Brasil, devido à presença dos jesuítas na condição de promotores de fundamentos pedagógicos. Devido ao último aspecto destacado acima, considero necessário situar dois pontos negativos do livro: a apresentação dos métodos de pesquisa e o impreciso olhar historicizante sobre os processos de transmissão de conhecimento. O primeiro ponto refere-se à supervalorização do debate sobre a separação sujeito/objeto, influenciada pelas proposições de Heidegger sobre experiência autêntica, a qual deve ser considerada antes de ser transformada em abstração. A apresentação excessivamente longa dos pressupostos heideggerianos em detrimento da análise dos caminhos metodológicos escolhidos durante a pesquisa torna o livro mais semelhante a um ensaio do que a um trabalho acadêmico produzido para comprovação de hipóteses. O segundo ponto diz respeito a um problema encontrado em todo o livro, sobretudo nos capítulos voltados para a discussão da situação de exclusão de elementos da cultura afro-brasileira no ensino fundamental baiano. As generalizações sobre a condição do Brasil no "modelo agrário/exportador, dependente e servil da Europa" não permitem ao leitor identificar os processos de consolidação dos elementos de "fortalecimento do império da cultura moderno-colonialista/ branco-ocidental", os quais levariam ao ajustamento das crianças afrodescendentes ao universo da racionalidade branco-ocidental. Além de apresentar a cultura moderno-capitalista como algo homogêneo, um bloco monolítico, outro equívoco é a ausência de uma reflexão sobre os processos que resultaram na predominância de uma perspectiva que não valoriza o cotidiano das crianças afrodescendentes. Baseado nas propostas teóricas de Paulo Freire, o livro em sua parte final evidencia a defesa da escola solidária. Esse modelo de escola prioriza a importância da inserção da criança a um contexto, diferentemente da escola que "conserva a racionalidade moderna, de fundamentos epistemológicos metafísicos, branco-ocidental." A escola solidária está interessada na realidade dos educandos e seus fundamentos são dialogicidade, alteridade, acolhimento, diferença, diversidade, abertura e curiosidade. Em sua defesa da escola plural, a autora aborda a reelaboração da identidade a partir da tradição mantida na vida em comunidade pela transmissão entre gerações de dança, cantos e mitos. As crianças reelaboram a cultura de matriz africana, principalmente, nos terreiros de Candomblé. A autora, contudo, não apresenta ao leitor as formas pelas quais ocorre essa reinvenção da "tradição". No candomblé, a narração mítica sobre a construção de ser humano está centrada na figura dos orixás. O Anexo A, intitulado "mitologia afro-brasileira", apresenta a teogonia do candomblé, possibilitando assim que sejam identificadas as características dos orixás apresentados no decorrer do livro. No terceiro capítulo, é apresentada a transcrição da conversa realizada dentro de uma das escolas analisadas com os filhos de santo João Roque, uma criança de 10 anos, e sua mãe. A pesquisadora ao comentar uma das respostas dos seus entrevistados indica que o culto aos orixás "vem de uma tradição africana que é nossa, mas que a maioria das pessoas prefere negar." João Roque, em outro momento da entrevista, afirma que "às vezes a professora fala da África, mas não toca no Candomblé". Em seu posicionamento contra a "negação da afrodescendência", a qual promoveria apagamento étnico no ensino, a autora entende as práticas religiosas do candomblé como elemento africano autêntico presente no cotidiano de afro-brasileiros. Salvador, terminal do tráfico de escravos, seria uma síntese da resistência e as religiões afro-brasileiras constituiriam um lugar de memória dos descendentes que sofreram "trágica aventura" durante a diáspora. Apesar de mencionar as denominações dos grupos que foram forjadas no tráfego de escravos como Minas, Jejes, Nagôs, Tapas, Hauças, Calabar e Galinhas, a autora aponta a existência de uma matriz africana comum, capaz de estimular a elaboração de uma identidade afro-brasileira, mas não historiciza o processo de sua criação. Por tratar de uma questão complexa – as relações entre docentes e discentes na abordagem em sala de aula da cultura afro-brasileira –, o livro deveria problematizar a criação dessa identidade. TEXTO 5 Afro-retratos: manifestações livres sobre qualquer assunto Conheci a Renata Felinto em 2004, no Museu Afro Brasil, onde ela integrava a equipe de monitores educacionais e, entre outras atividades, revelava para os visitantes o que havia de história e de informação em cada uma das obras de arte expostas. Desde então a reencontrei em diversas situações e sempre notei as suas transformações. A jovem monitora é, hoje, uma artista plástica talentosa, e que sabe exatamente qual o tratamento e o espaço social que ela quer dar ao seu trabalho. Por isso, não foi surpresa constatar a qualidade dos seus Afros Retratos , um conjunto de doze pinturas constituídas a partir da observação e da pesquisa de imagens de diversos grupos étnicos: do território de Angola, asiáticas, americanas, e europeias. Segundo Alexandre Araujo Bispo, curador da exposição, "Renata Felinto atualiza por meio de uma espetacularização cromática a potência do rosto feminino de fenótipo afro, manipulando um imaginário social que tende a reduzir as culturas africanas e afro-brasileiras à alegria barrococarnavalesca. Mas, para além da beleza plástica de suas atraentes figuras o que se investiga são as possibilidades de muitas mulheres em uma só". Vale muito a pena visitar a mostra e ver, de perto, o talento dessa mulher guerreira, que sabe muito bem quais caminhos quer percorrer, e os espaços que ela ocupará, cada vez mais, neste mundo. Axé! Por aqui, fico. Até a próxima. (Fonte: Afro Retratos, de Renata Felinto, trabalho vencedor do 2º Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-Brasileira, categoria Artes Visuais, edição 2011) TEXTO 6 Racismo: país entra numa nova fase Não há, no mundo, país sem racismo. É provável que este tipo de crime, infelizmente, nunca desapareça, como nunca deixará de haver homicídios, roubos etc. Mas a impunidade, como em todos os outros casos, só o alimenta. O caso abaixo mostra que o país pode estar entrando na quarta fase da sua relação com o racismo. Na primeira, o país praticava o racismo institucional - era o tempo da escravidão e de décadas posteriores; na segunda, a partir dos anos 30, o país quis acreditar na democracia racial e afastava toda e qualquer possibilidade de discussão sobre o tema. Era um modo de perpetuar o "racismo cordial" - mas que, ao fundo, redundava em sofrimento e dor das víitimas. Há alguns setores da sociedade que ainda acreditam nisso, mas vão se tornando minoria. Na terceira fase, o racismo passa a ser discutido, até publicamente, mas sempre acompanhado de ressalvas e atenuantes a favor dos que praticavam e praticam atos de discriminação. Essa fase ainda perdura e, possivelmente, perdurará por muitos anos. Na última década, no entanto, passamos a testemunhar algumas medidas corretivas. Como sempre deixamos claro, não é a judicialização ou criminalização da sociedade que apoiamos, mas o cumprimento de uma lei, dentro dos princípios de um Estado de Direito: com oportunidade de defesa, julgamento racional e, punição, se ficar comprovado o dolo. A matéria abaixo é muito exemplar: durante oito anos, a empresa faz vistas grossas para o que acontecia, sem se preocupar em advertir ou mesmo punir os praticantes. Pelo contrário: demite o reclamante. Ao julgar a ação, em primeira instância, um juiz "naturaliza" a prática. Na instância superior, tomase a decisão acertada. FOLHA DE S.PAULO Funcionário recebe R$ 20 mil de indenização por racismo durante 8 anos Após sofrer oito anos de humilhação por racismo, um funcionário da fabricante de peças automotivas Santa Rita Indústria de Auto Peças, de Blumenau (SC), venceu processo que lhe garantiu uma indenização de R$ 20 mil por danos morais. A decisão é da 4ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho, que manteve a condenação imposta pelo TRT-SC (Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região). Segundo o TST, o trabalhador --um operador de máquinas hoje desligado da empresa-- alegou que sofreu "um grande desrespeito" por mais de oito anos, entre piadas constantes, discriminação, brincadeiras e apelidos por parte de colegas e de seu superior direto. Durante inspeção na empresa, o Ministério do Trabalho e Emprego chegou a encontrar, em portas e peças do banheiro, inscrições depreciativas com relação a negros. O juiz de primeira instância havia negado o pedido de indenização, entendendo que não houve prática de racismo ou discriminação. "Os apelidos, mormente em um ambiente de operários, é perfeitamente aceitável e corriqueiro", disse na sentença. O TRT-SC, entretanto derrubou a decisão da 1ª Vara do Trabalho de Blumenau, afirmando que ela está "na contramão da história" ao considerar normal e tolerável "o que não pode ser admitido em nenhuma hipótese". "A leveza ou até o hábito pode afetar o balizamento da condenação, mas não excluir a ilicitude da conduta", afirmou o TRT. O tribunal catarinense avaliou que foi comprovado, de forma irrefutável, prática discriminatória acintosa com o trabalhador, e que nem mesmo a discriminação de caráter velado ou generalizado pode ser tolerada. "Cabe ao empregador, no uso de seus poderes diretivo, hierárquico e disciplinador, impedir que a dignidade humana dos trabalhadores seja arranhada", defendeu o TRT. 'MULHER NEGRA' O TRT ainda considerou prova de "demonstração cabal" de discriminação racial os documentos usados pela empresa em sua própria defesa --segundo ela, o gerente acusado de fazer as ofensas era casado com uma mulher negra, e por isso não teria porque demonstrar racismo. A mulher, no entanto, não era negra, e sim descendente de italianos. "É fato conhecido no Sul do Brasil, inclusive em Santa Catarina, que, no passado, os racistas mais radicais consideram 'negros' todos os que não são 'arianos', inclusive os italianos, colocando como virtude o fato do trabalhador ser 'filho de colono alemão'", avaliou o juiz em seu texto. JUSTA CAUSA Além dos R$ 20 mil por danos morais, o trabalhador ainda receberá mais R$ 5.000 por ter sido demitido por justa causa após ter aberto a reclação trabalhista, em 2008. Para a Justiça, a demissão foi uma retaliação pelo ajuizamento da ação. Para o tribunal regional, a empresa abusou do direito de demissão "da forma mais mesquinha e reprovável", passando aos empregados a seguinte mensagem: "vou ofendê-lo e destratá-lo o quanto me aprouver e, se você reclamar, vai ainda perder o emprego". OUTRO LADO Procurada pela Folha, a empresa informou que as supostas ofensas ocorriam no ambiente interno de trabalho, e que não tinha conhecimento delas. O mesmo vale para as inscrições nos banheiros, que só foram descobertas junto às inspeções da Procuradoria. "Eram piadas generalizadas, entre todos, e este funcionário se sentiu particularmente ofendido", disse o advogado do grupo, Renato Pasquali. "Ficamos sabendo dos problemas apenas quando o processo teve início, e tomamos as providências para inibi-los." Entre as ações, a direção repintou os banheiros e informou aos coordenadores que seria dura com novos casos similares. A decisão final foi dada pelo TST em março deste ano. A empresa não recorreu e, segundo Pasquali, a indenização já foi paga. (Fonte: http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/15044-racismo-pais-entranuma-nova-fase) TEXTO 7 Albie Sachs e o princípio da diversidade na África do Sul Albert Louis Sachs, o Albie Sachs, era um conhecido advogado militante dos direitos civis na África do Sul que ganhou notoriedade por defender cidadãos negros durante o apartheid. Ele mantinha ligação com o Congresso Nacional Africano (ANC), principal grupo de oposição ao governo segregacionista[1]. Em 1963, Albie foi preso sob o manto da legislação da época que permitia o encarceramento de prisioneiros políticos. Confinado numa solitária por 90 dias, foi solto para, dias depois, ser preso novamente sem qualquer explicação e mandado mais uma vez para a solitária. Em seguida veio a proibição de escrever, falar em público e de se encontrar socialmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Albie Sachs deixou a África do Sul e passou 11 anos na Inglaterra, onde concluiu seu doutorado na Universidade de Sussex, cuja tese deu ensejo à obra Justiça na África do Sul, publicada em 1974. Os outros 11 anos do exílio estavam sendo cumpridos em Maputo, Moçambique, onde era professor de Direito na Universidade Eduardo Mondlane e tinha aprendido a falar português. Dia 7 de abril de 1988, com 53 anos, Albie abria seu carro quando uma bomba, colocada pelas forças de segurança sul-africanas, explodiu. A explosão matou um transeunte e deixou Sachs gravemente ferido. Crivado de estilhaços, com as costelas quebradas, os tímpanos perfurados e o braço direito completamente comprometido, ele se arrastou pela rua até encontrar ajuda e ir, às pressas, para o hospital. Os médicos trabalharam por sete horas. As fotos mostram um Albie sobre a cama hospitalar, com o braço direito decepado, o olho inutilizado e o couro cabeludo queimado, envolto em faixas, esparadrapos e gazes. O atentado fez com que ele nascesse novamente: "mudou minha aparência, mas de certa forma libertou-me. Eu tive que começar a vida mais uma vez, aprender a me colocar acima para ser, para andar, para trabalhar, para escrever com a mão esquerda e para amarrar meus cadarços usando somente uma mão", disse Albie[2]. Em 1990, o governo sul-africano reconheceu a existência legal dos grupos de oposição. Ao mesmo tempo, após 27 anos de prisão, Nelson Mandela estava livre. Tendo cumprido 24 anos de exílio, Albie Sachs retornou ao seu país. Nelson Mandela tinha obtido uma vitória acachapante na disputa para a presidência da República e o nomeou para a Comissão encarregada de redigir uma nova Constituição, acompanhada de uma Declaração de Direitos. Ambos os documentos inspirados nos ideais de Albie foram aprovados pelo Parlamento. Albie Sachs foi nomeado um dos 11 integrantes da nova Corte Constitucional da África do Sul. No ato de posse, ele leu o preâmbulo da Constituição que ajudou a redigir: Nós, o povo da África do Sul, reconhecemos as injustiças do nosso passado; honramos aqueles que sofreram por justiça e liberdade em nossa terra; respeitamos aqueles que trabalharam para construir e desenvolver o nosso país, e acreditamos que a África do Sul pertence a todos que nela vivem, unidos na nossa diversidade. Eis a bandeira pela qual Albie lutaria: o respeito ao princípio da diversidade. Ele ajudou a construir uma refinada jurisprudência das diferenças no âmbito da Corte Constitucional. Valendo-se da Constituição e da Declaração de Direitos, consagrou o princípio da diversidade como algo não que deveria ser 'tolerado', mas celebrado. Em 6 de outubro de 1997, apreciando os casos S v Lawrence, S v Negal e S v Solberg, Albie registrou que as liberdades de opinião e de expressão compõem o cenário constitucional sulafricano no binômio abertura e diversidade, que consagram o direito do indivíduo, de forma isolada ou em comunidade, de ser diferente em suas crenças e comportamentos, sem que sofra a imposição estatal de sacrificar os direitos ínsitos à cidadania, estendidos a todos os sulafricanos[3]. Em 18 de agosto de 2000, apreciando o caso Christian Education South Africa v Minister of Education, Albie liderou manifestação validando a proibição constante da Lei das Escolas da África do Sul de 1996, quanto à aplicação de punições corporais por escolas sul-africanas, autorizadas pelos pais, em atendimento a princípios religiosos. Segundo Albie, estava presente o princípio da diversidade sob os prismas do direito da pessoa humana de se integrar à determinada comunidade religiosa, cultural e linguística e do dever do Estado de assegurar o exercício desse direito individual e de permitir a tais comunidades que pratiquem, de forma livre, sua religião, cultura e idioma, mas sem aviltamentos à dignidade das crianças, abusos físicos e emocionais no ambiente escolar e estímulos a condutas violentas[4]. Em 25 de janeiro de 2002, julgando o caso Prince ν Law Society of the Cape of Good Hope,Albie ficou vencido ao lado de três colegas reputando inconstitucionais dispositivos da Lei de Drogas e Tráficos de Drogas, de 1992, e da Lei de Controle de Substâncias Medicinais e Correlatas, de 1965, que vedavam o uso e posse de Cannabis, na prática da religião rastafári, por adeptos desse credo. Para ele, a maioria estava desconsiderando o peso da decisão "não só sobre os direitos fundamentais do recorrente e de sua comunidade religiosa, mas sobre a noção básica de tolerância e respeito pela diversidade que a nossa Constituição exige de todos em sociedade". Segundo Sachs, "o teste de tolerância, como previsto pela Carta de Direitos, não consiste em aceitar o que é familiar e facilmente adaptável, mas em dar espaço razoável para o que é incomum, estranho ou até mesmo ameaçador"[5]. Em 1º de dezembro de 2005, apreciando o caso Minister of Home Affairs and Another ν Fourie and Another, Albie liderou maioria declarando a inconstitucionalidade do conceito de matrimônio oriundo do common law e amparado pela jurisprudência da Corte, uma vez que impedia casais homoafetivos de desfrutarem do mesmo regime jurídico, direitos e deveres conferidos aos casais heterossexuais[6]. Segundo registrou, o reconhecimento e aceitação da diferença é particularmente importante na África do Sul, onde durante séculos tem se usado como fundamento para grupos gozarem de vantagens ou desvantagens por supostas características biológicas, tais como cor da pele. Desfrutar da cidadania verdadeiramente, e não somente formalmente, "depende de se reconhecer e aceitar as pessoas com todas as suas diferenças, uma vez que até Constituição reconhece, assim, a variabilidade dos seres humanos (genética e sócio-cultural), afirma o direito de ser diferente, e celebra a diversidade da nação". Segundo Albie, há uma série de disposições constitucionais que sublinham o valor constitucional de reconhecer a diversidade e o pluralismo na sociedade sul-africana. Juntos, eles afirmam o direito das pessoas à autoexpressão sem serem forçados a se subordinarem às normas culturais e religiosas dos outros, e destacam a importância dos indivíduos e comunidades gozem do "direito de ser diferente". Albie afirmou que "a força da nação prevista na Constituição vem de sua capacidade de abraçar todos os seus membros com dignidade e respeito. Nas palavras do preâmbulo, a África do Sul pertence a todos que nela vivem, unidos na diversidade". No contexto da diversidade na unidade, não há um modelo hegemônico de casamento inexoravelmente e automaticamente aplicável a todos os sul-africanos. Suas últimas lições indicam o compromisso da Constituição de 1996 de unir e fortalecer a África do Sul por meio do apreço pela diversidade e pelo pluralismo, assim como pela acomodação, de maneira justa e razoável, das intensas e profundas diferenças de visões de mundo, estilos de vida e concepções sobre a natureza humana. Posteriormente a Corte apreciou a constitucionalidade da conduta de uma escola de ensino médio que proibiu a utilização de um piercing nasal por uma aluna. A instituição tinha um Código de Conduta que repreendia o uso desse tipo de adereço. A mãe da aluna, ao fazer sua matrícula, assinou um termo comprometendo-se a seguir o Código. Trata-se do caso MEC for Education: Kwazulu-Natal and Others v Pillay, apreciado em 5 de outubro de 2007. Sunali Pillay era aluna de uma elitizada escola feminina de nível médio da cidade de Durban (Durban Girls' High School), na África do Sul. Por usar um piercing nasal, foi acusada de violar a disciplina exposta no Código de Conduta da Escola. A garota integrava uma comunidade sul-africana originária de imigrações da região sulina da Índia. Tal comunidade era marcada pela mistura de características religiosas, linguísticas, geográficas, étnicas e artísticas. Após a primeira menstruação, as mulheres da comunidade passam a usar um piercing nasal esquerdo, simbolizando a fertilidade feminina e anunciando a caminhada em direção à vida adulta, com a liberdade para o casamento. A aluna não aceitou deixar de usar o adereço na escola. Segundo Sunali, o uso do piercing não era por moda, mas por razões culturais e religiosas. A Corte determinou que o corpo diretivo da escola, em conjunto com os alunos, pais e professores, em tempo razoável, realizasse emendas ao Código de Conduta em vista a providenciar razoáveis conciliações do código a aspectos religiosos e culturais, além de estabelecer exceções que possam ser garantidas[7]. Em 2009, o mandato de Albie Sachs expirou e ele teve de deixar a Corte Constitucional. Contudo, continua escrevendo e falando sobre sua experiência na África do Sul no processo de cura de uma sociedade dividida. Albie Sachs ajudou a mudar a história do seu país, tornando-o mais tolerante às diferenças e estabelecendo respeito ao princípio da diversidade, cuja inspiração vem do preâmbulo da Constituição de 1996. [1] Agradeço ao aluno, que se tornou um estimado amigo, Marcelo Zerbini, por ter me apresentado à obra de Albie ao me dar o livro The Strange Alchemy of Life and Law, de autoria de Albie Sachs, publicado pela Oxford University Press e ganhador do Prêmio Alan Paton em 2010. [2] Em: http://www.achievement.org/autodoc/page/sac0bio-1. Acesso: jul/2012. [3] CCT 38/96, 39/96 e 40/96, §§ 145 e 147. Em: http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm. Acesso: jul/2012. [4] CCT 4/00, § 52 c/c §§ 32, 38, 42 a 43 e 50 a 51. Em: http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm. Acesso: jul/2012. [5] CCT 36/00, §§ 90, a, e 91. Ficaram vencidos, Sandile Ngcobo, Yvonne Mokgoro, Albie Sachs e Mbuyiseli Madlanga. Em: http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm. Acesso: jul/2012. [6] CCT 60/04 e CCT 10/05,§ 162, nº 2, alínea b, c/c §§ 3º, 4º, 118, 120 e 122. Em: http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm. Acesso: jul/2012. [7] CCT 51/06, §§ 11, 50, 58, 60, 85 a 86, 89 a 90 e 106. Em: http://www.constitutionalcourt.org.za/site/home.htm. Acesso: jul/2012. Saul Tourinho Leal é advogado, pesquisador-visitante na Universidade Georgetown. Doutorando em Direito Constitucional na PUC-SP e professor de Direito Constitucional do programa de pós-graduação do UniCeub. (Fonte:http://www.conjur.com.br/2012-ago-06/saul-tourinho-albie-sachs-principio-diversidade-africasul) FIQUE POR DENTRO! http://www.geledes.org.br/patrimonio-cultural/literariocientifico/literatura/15106-negra-sera-tema-no-espacosalao-de-ideias-na-bienal-do-livro Longa Caminhada até a Liberdade - autobiografia de Nelson Mandela, inédita no Brasil - começou a ser escrita às escondidas em 1975, ainda na prisão. O livro mostra o caminho de Mandela desde o interior rural da África do Sul até o seu retorno triunfal à liberdade, culminando com sua vitória na primeira eleição presidencial multirracial da África do Sul, em 1994. Longa Caminhada até a Liberdade é a história de uma das trajetórias mais épicas de nosso tempo. Um testemunho de coragem e persistência mostrando uma luta de mais de meio século pela tolerância e contra a segregação racial. O prefácio desta grande obra fica por conta do sociólogo, cientista político e ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso. Dependendo da cultura de um povo, a leitura encontra ou não o espaço que lhe é devido. Aliás, pensar em leitura e cultura é quase como pensar em sinônimos. Porém, a análise que propomos a partir do texto a seguir não é nenhum tipo de comparação entre os termos. Na verdade, intencionamos levá-lo a pensar sobre que tipo de influência certos valores predominantes na cultura produzem em sua vida, no seu dia a dia. Talvez, o artigo abaixo lhe sirva como inspiração para chegar a algumas conclusões construtivas. Quem sabe você encontre mais motivação para os estudos... De nossa parte, concluímos e partilhamos a ideia de que em meio aos desafios da vida e muito mais que certos (des)valores predominantes em nossa cultura, e até mesmo independente dela, histórias reais testemunham que a iniciativa de cada indivíduo em busca de conhecimentos a partir da leitura é ainda mais forte e o que mais importa para que, de fato, novos horizontes se abram, fazendo com que cada indíviduo avance em direção à realização de seus objetivos. TEXTO 8 Ercília Stanciany, de 41 anos, estudava com livros achados no lixo Ela teve o seu primeiro dia no curso de Artes Plásticas na Ufes, em Vitória. Uma nova jornada começou a ser trilhada pela catadora de materiais recicláveis, Ercília Stanciany, de 41 anos, nesta segunda-feira (5). Ela teve o seu primeiro dia de aula no curso de Artes Plásticas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), após ter sido aprovada estudando com livros que encontrava no lixo. A catadora disse que viveu um misto de emoções tão grande, que não conseguiu explicar o que sentiu quando chegou ao campus da Ufes, em Goiabeiras, na capital do estado, para estudar. Só que em vez de aulas, o primeiro dia foi marcado por confraternização e muitas brincadeiras. "É uma emoção inexplicável, parecia que meu coração ia explodir quando cheguei na Ufes. Realizei meu sonho de infância. Fui para meu primeiro dia de aula e fui pintada pelos meus veteranos no trote, estou cheia de tinta, teve muitas brincadeiras, mas valeu à pena. Agora preciso tomar um banho reforçado para tirar essa tinta toda", disse aos risos, Ercília. Ela conta que mesmo na universidade, vai continuar com os serviços de catadora para auxiliar a renda mensal da família. "No que eu puder ajudar meu esposo, eu vou ajudar. E tenho que ajudar porque vou ter que pagar materiais de estudo e o transporte de casa até a Ufes", conta a catadora, que mora na Serra, Grande Vitória. Mas o marido dela, Everaldo Mozer, de 47 anos, quer que ela foque nos estudos. "Sempre foi o sonho dela estudar, se formar. Sempre apoiei e agora que ela conseguiu quero que ela siga em frente com os estudos", afirma. Reconhecimento na Ufes Logo que chegou na universidade na manhã desta segunda-feira (5), Ercília disse que foi reconhecida pelos colegas de sala e por demais estudantes. "Todos me receberam muito bem, bateram palmas para mim e me cumprimentaram. Não entendi direito, mas todo mundo já me conhecia por causa da história que saiu na mídia. Eu não quero ser o xodó dos meus colegas de turma, mas quero fazer parte da história deles, porque eles com certeza vão fazer parte da minha", diz. Relação com as artes Vivendo boa parte da vida como catadora de lixo, Ercília lembra que sempre foi fascinada pelo mundo das artes. Ela sempre quis ter uma caixa de lápis de cor, mas só teve a primeira aos 19 anos. "Sempre adorei cores, desenhos e artes. Queria ter uma caixa de lápis de cor quando criança, mas só tive quando ganhei de uma moça, e eu já tinha 19 anos. Sempre quis os lápis, mas não tive coragem de usar, a caixa está guardada comigo até hoje e vai para o meu museu", recorda. Apaixonada por livros, ela agora vai ter que se adaptar a estudar artes também por outro meio, o computador. "Estou juntando dinheiro para comprar um computador. Sempre estudei pelos livros achados no lixo, mas na faculdade já me falaram que eu preciso de computador e internet para muita coisa, então vou ter que dar um jeito, mas vai dar tudo certo. Espero que eu sirva de lição para muita gente que acha que não tem condições de estudar, sempre há jeito", finaliza. (Fonte: http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2012/03/catadora-de-lixo-vive-primeiro-dia-deaula-na-universidade-federal-do-es.html) VALE A PENA CONFERIR A REPORTAGEM! http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2012/03/catadora-delixo-vive-primeiro-dia-de-aula-na-universidade-federal-does.html Por falar em conhecimento, leitura e livros, confira a seguir o projeto exposto na Olimpíada Cultural de Londres. artístico criativo e curioso, TEXTO 9 Labirinto de livros Assinado pelos artistas brasileiros Marcos Sabóia e Gualter Pupo, um labirinto composto por 250 mil livros, montado no centro de Londres, convida os visitantes das olimpíadas a se aventurar neste peculiar universo literário, que conta com paredes de até 2,5 metros de altura. Batizado como “aMAZEme“, o projeto faz parte dos 12 mil eventos programados na chamada Olimpíada Cultural de Londres. O labirinto, que está sendo exposto no centro de arte “Southbank Centre”, ao sul do rio Tâmisa, ficará aberto ao público até o dia 26 de agosto. A inspiração veio das narrações sobre labirintos do escritor argentino Jorge Luis Borges, os artistas brasileiros começaram a elaborar esta instalação há dois anos. O labirinto possui uma forma circular e é composto por livros de todos os gêneros, os quais procedem de doações privadas e que, após o termino desta exposição, serão doados à ONG Oxfam International. As paredes que formam esse labirinto também ganham projeções de luzes e versos de poetas de todas as épocas, especialmente de William Shakespeare. Dentro da programação do labirinto, diferentes autores britânicos e internacionais ainda devem comparecer ao local para declamar poemas e manter conversas com o público. Além de percorrer o labirinto, os visitantes também podem extrair livros de suas paredes e sentar para lê-los. Projeto bacana né? (Fonte: http://oblogdastorm.com/2012/08/01/labirinto-de-livros/) Os textos a seguir colocam em destaque o contexto de agitações e contestações Semana de Arte Moderna, dois artistas de suas obras. Por fim, a Arte Contemporânea e meio das quais a política também é contestada. políticas da que marcaram época e algumas algumas de suas vertentes, por TEXTO 10 Semana de Arte Moderna Há 90 anos, o evento foi o marco do modernismo e chacoalhou o panorama cultural brasileiro Ana Maria Madeira Um terremoto de 5,1 pontos na escala Richter atingiu a cidade de São Paulo em fevereiro de 1922. Dois dias depois, começou a Semana de Arte Moderna, ou Semana de 22, que provocou um abalo maior, pois afetou profundamente os padrões estéticos da época, inaugurou o modernismo brasileiro e marcou fortemente a arte contemporânea nacional. A lista de participantes e apoiadores da Semana de 22 é repleta de nomes que, agora, são bem conhecidos: os escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira; os pintores Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti; e o músico Heitor VillaLobos, entre outros. O reconhecimento atual desses artistas nos dias de hoje mostra a enorme importância que o movimento teve, determinando o desenvolvimento da literatura e da arte no Brasil no decorrer de todo o século XX. Por mais que as manifestações inovadoras dos artistas do movimento tenham causado estranheza e até rejeição na época, a mensagem era objetiva: os ideais estéticos do século XIX, ainda muito presentes na cultura nacional, precisavam ser superados. As vanguardas da Europa criavam linguagens diferentes das conhecidas por aqui, como o cubismo, o expressionismo, o dadaísmo e o futurismo, que espantavam o mundo. A Semana de 22 ocorreu em meio a um cenário de agitação política – no movimento tenentista, deflagrado no mesmo ano, jovens oficiais combatiam o modelo autoritário de governo. O Brasil vivia a República Velha, controlada pelas oligarquias rurais e pela política do café com leite. A população urbana crescia, e iniciara-se a implantação de indústrias, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. A classe operária começava a exigir melhores condições de trabalho. O novo homem urbano torna-se objeto de interesse dos artistas. Antes mesmo da Semana de 22, os modernistas já faziam barulho. Um conflito famoso opôs o escritor Monteiro Lobato à pintora Anita Malfatti, que realizara em 1917 uma exposição com uma nova linguagem artística. Os quadros causaram escândalo por suas estranhas formas, e o escritor fez duras críticas à mostra, dizendo que esse tipo de arte resultava de “paranoia ou mistificação”. A Semana de 22 sofreu críticas e teve reconhecimento limitado em sua época, como boa parte dos movimentos de vanguarda. Mas o evento foi um marco na arte e na literatura brasileiras e alcançou proporções que atravessaram décadas. Com a Semana de 22, os modernistas passaram a produzir mais, e muitos que se filiavam a outras correntes artísticas foram estimulados a participar do movimento. Depois, a contestação inicial foi dando lugar a concepções distintas e a diversos movimentos artísticos. (Fonte: https://almanaque.abril.com.br/materia/semana-de-arte-moderna1) TEXTO 11 Anita Malfatti Anita Catarina Malfatti (São Paulo, 2 de dezembro de 1889 – São Paulo, 6 de novembro de 1964), pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora. O início de sua instrução artística e cultural foi iniciada por sua mãe, a americana Betty Malfatti, professora de pintura e línguas. Por causa de uma atrofia no braço e na mão direita, Anita transformou-se em canhota, utilizando a mão esquerda para pintar. Em São Paulo, estudou no Mackenzie; na Alemanha, estudou na Academia Real de Belas Artes de Berlim. Em Nova York, teve aulas de pintura, desenho e gravura com diversos artistas na Arts Students League of New York, na Independent School of Art e trabalhava fazendo ilustrações para as revistas Vanity Fair e Vogue. Passou a ser conhecida após uma de suas exposições (organizada por Di Cavalcanti), quando o escritor Monteiro Lobato fez uma crítica destrutiva da artista que quase acabou com sua fabulosa carreira. Após essa época, alterou sua temática, produzindo, naturezas-mortas, retratos, paisagens e cenas populares. No fim da década de 10, em São Paulo, estudou pintura no ateliê do artista plástico Pedro Alexandrino, onde conheceu Tarsila do Amaral. Lecionou desenho na Escola Americana, na Universidade Mackenzie, na Associação Cívica Feminina e em seu próprio ateliê (este frequentado por inúmeros artistas). Ganhou pelo Pensionato Artístico do Estado de São Paulo uma bolsa de estudos em Paris. Fundou com Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Pichia o Grupo dos Cinco, em 1922, e participou da Semana de Arte Moderna. Anos mais tarde, integrou na Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), na Família Artística Paulista (FAP) e participou do Salão Revolucionário. Em 1942, foi presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Sua primeira retrospectiva aconteceu no Museu de Arte de São Paulo, em 1949. Expôs também no 1º Salão Paulista de Arte Moderna e na 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Após a morte de sua mãe, Anita se afastou do meio artístico por algum tempo, no entanto, quando regressou oficialmente em uma exposição individual de 1955, a artista apresentou suas obras produzidas nesse período de reclusão. Seu novo tema, era exclusivamente a arte popular brasileira, opção esta, considerada por ela e por diversos profissionais sua melhor e mais pura fase. TEXTO 12 Di Cavalcanti Pintor brasileiro nascido no Rio de Janeiro em 1897, que apesar da influência cubista e mesmo surrealista, foi um dos mais típicos pintores brasileiros pela temática popular, que inclui o carnaval carioca, mulatas sensuais, paisagens suburbanas e naturezasmortas com frutas tropicais. Iniciou sua atividade artística como desenhista (1914) fazendo ilustrações, charges e caricaturas. Teve seu trabalho publicado pela primeira vez em uma revista (1914), mas realmente iniciou a carreira publicando charges políticas na revista Fon-Fon (1916), no mesmo ano em que expôs no Salão dos Humoristas uma série de ilustrações sobre a Balada do Cárcere de Reading, de Oscar Wilde. Começou a pintar (1917) sob influência do art nouveau. Realizou sua primeira mostra individual (1917), como desenhista; era então na opinião de Mário de Andrade, o menestrel dos tons velados, e utilizava como meio de expressão predileto o pastel, evocando figuras femininas de angelitude então em voga. Transferiu-se (1921) para São Paulo, onde realizou sua primeira exposição de pinturas, com 12 obras nas quais se observa certa persistência de tendências passadas, como o Impressionismo e o Simbolismo, temperadas com algumas pitadas de Expressionismo, e em seguida participou com da Semana de Arte Moderna (1922), recebendo críticas à sua mudança na arte da época. Viajou para Paris (1923), onde se dedicou exclusivamente à pintura e onde sofreu muitas influências no trabalho. Voltou (1925) com visíveis influências de Picasso e Braque e tomado de admiração pela obra de Ticiano, após passagem pela Itália. Retornando ao Brasil realizou nova mostra e uma exposição individual, onde Mário de Andrade não poupou elogios aos seus trabalhos e à maneira explendida como mostrou o Brasil como ele é. Executou os primeiros painéis modernos do Brasil para o teatro João Caetano, no Rio (1929), e neles deixou as marcas de seu estilo: um cubismo atenuado por curvas barrocas e motivos populares como o carnaval e o samba. Voltou a residir em Paris (1935-1940) e, nesse período, pintou várias obras de temática brasileira, como Scène brésilienne (Museu Nacional de Arte Moderna, Paris) e Ciganos (Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro). Na década seguinte atingiu o apogeu de seu talento e se tornou um dos mais notáveis pintores brasileiros gerados pelo modernismo. Juntamente com Alfredo Volpi, ganhou o prêmio de melhor pintor nacional da II Bienal de São Paulo (1953), arrebatou o primeiro prêmio da Mostra de Arte Sacra em Trieste (1956) e conquistou a medalha de ouro da II Bienal Interamericana do México (1960). Também executou tapetes, para o palácio da Alvorada, em Brasília, e jóias, para a firma Lucien, no Rio de Janeiro, escreveu dois livros de memórias: Viagem da minha vida (1955) e Reminiscências líricas de um perfeito carioca (1964) e morreu na cidade o Rio de Janeiro. Ainda em vida (1971), o Museu de Arte Moderna de São Paulo realizou uma grande retrospectiva de sua obra. Dentre seus diversos álbuns, citem-se Páginas de um álbum de notívago e Realidade brasileira. Há exemplos de sua obra pictórica e gráfica nos principais museus brasileiros, como o Museu Nacional de BelasArtes e o Museu de Arte de São Paulo, e em instituições estrangeiras, como o Museu de Arte Litúrgica de Roma. Morre em sua cidade natal, Rio de Janeiro. (Fonte: http://blogdaglaucia.wordpress.com/category/artes/ Auto Retrato com Mulatas em 1976 TEXTO 13 A Arte Contemporânea no Brasil O Brasil acompanha os movimentos artísticos internacionais com uma menor distância de tempo. Tal qual no exterior, a Arte Contemporânea começa a mostrar-se a partir da década de 50. Na década de 60 surge o Tropicalismo e sua contestação à política vigente através da arte; a década de 70 caracteriza-se pelas noções de conceito e tecnologia a serviço da arte; já na geração 80 produz-se uma arte de caráter festivo e alegre. Em 20 de outubro de 1951, um acontecimento deu abertura a uma grande movimentação no campo artístico brasileiro, a realização da primeira Bienal de São Paulo que contou com 1.854 obras representando 23 países. Uma proposta de Ciccillo Matarazzo para a realização de uma grande mostra internacional inspirada na Bienal de Veneza. A década marca também o ressurgimento, do Abstracionismo: Geométrico e Informal. O primeiro propõe a ruptura com a arte figurativa, baseando-se no neoplasticismo de Piet Mondrian. É adotado em São Paulo pelo Grupo Ruptura, em 1952, e no Rio de Janeiro com o Grupo Frente, em 1954. O segundo, não se organiza em torno de grupos e teorias. Na verdade, seu pressuposto básico é a liberdade individual de cada artista para a expressão de sua subjetividade. Inspira-se nas idéias e experiências do pintor Wassily Kandinsky. O Neo-concretismo foi o movimento das artes plásticas, genuinamente brasileiro, que começa em 1957, no Rio de Janeiro, alguns artistas aliam sensualidade ao Concretismo. Um expoente do movimento é o artista Hélio Oiticica. Os anos 60 favoreceram o declínio da abstração e o surgimento de uma produção artística que capta o consumo e a comunicação de massa, sugeridos pela influência da Arte Pop americana, além de promover opinião política e a militância por conta da repressão, da censura e pela referência do Tropicalismo. A arte da década de 70 afasta-se da política e dos problemas sociais. É caracterizada pela emblematização da reflexão, da razão, do conceito e tecnologia. A Exposição Internacional de Arte por Meios Eletrônicos / Arteônica dá abertura à arte tecnológica, realizada com ajuda de computador. A Fundação Nacional de Arte (FUNARTE) é criada nesse período dando grande incentivo à produção artística brasileira. O momento de transição para a década de 80 foi marcado pela insígnia das diretas já, pela retomada da pintura e pelas mudanças no panorama artístico, marcado por grandes exposições como: Tradição e Ruptura, 1984; A Trama do Gosto, 1987 (organizadas pela Bienal de São Paulo); A Mão Afro-Brasileira, 1988 (organizada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo). A arte efêmera também é fruto desse momento utilizando os mais diversificados materiais para compor o objeto artístico. Para o poeta, ensaísta e crítico de arte, Ferreira Gullar (agosto,2002), [...] A arte conceitual não propõe nada. Apenas adotou, como fundamento ideológico, o caráter efêmero que o consumismo impôs à sociedade atual [...] fazer da arte expressão do efêmero é chover no molhado. Efêmeros somos nós mesmos e quase tudo a nossa volta. A arte contemporânea brasileira dos anos 90 desenvolve características da arte que está sendo feita em outros países, como, por exemplo, fazer o público participar, até mesmo interferir na obra de arte. Atitude apresentada nas diversas feiras internacionais de Artes Plásticas assim como nas diversas bienais. No Brasil, Adriana Varejão pinta fachadas de azulejaria portuguesa sangrando como se em carne viva, criando um potente comentário sobre a história colonial e seus rastros de sofrimento. Ernesto Neto constrói com náilon, espuma e enchimentos, verdadeiras metáforas de nossos órgãos e peles. Em meio a múltiplas possibilidades de usos de materiais, espaços e tempos, a arte contemporânea não separa a rua e o museu. O coreógrafo Ivaldo Bertazzo mescla tradições étnicas milenares com o gestual urbano de crianças e jovens de favelas brasileiras. O músico Naná Vasconcelos utiliza com precisão sons do corpo e voz de milhares de pessoas e afirma que Vila-Lobos é um “genuíno músico popular, já que consegue fazer ecoar os sons do povo, ainda que de forma sinfônica”. Dessa forma, pode-se concluir que todos os fatos sociais que envolvem a humanidade, acabam por refletir na arte. A evolução humana é fator preponderante para o desenvolvimento e até mesmo para a significação deste termo. Até pouco tempo atrás, estas manifestações artísticas que hoje são consideradas arte, não o eram. Prova disso são as Bienais de arte que nos surpreendem a cada nova edição. Como o exemplo da artista paulista Renata Lucas, que interagiu a sua obra com a arquitetura. Para a 27ª Bienal de São Paulo, Renata Lucas duplicou uma calçada na R. Brigadeiro Galvão, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Em cima da calçada original, ela fez outra. Duplicou também a linha de postes de iluminação que já existia no local e o conjunto de arbustos e vegetação já existentes. Diz a artista: “Meus trabalhos partem de uma característica do lugar (forma, material, aspecto uso) e constroem algo quase igual, porém diferente. É uma realidade se sobrepondo a outra em camadas de tempo; os eventos se embaralham, tornando-se mais ou menos reais”. Felizmente, a arte tem essa liberdade, ou melhor, a arte é essa liberdade suprema de manifestação do que se sente, se pensa e se vive. (Fonte: http://proavirtualg19.pbworks.com/w/page/18666840/Arte%20Contempor%C3%A2nea%20no%20B rasil) Uma das nossas manifestações culturais que mais nos identifica como brasileiros, sem dúvida, é a música brasileira marcada por expressões tais como “o samba no pé”, “o ritmo do crioulo doido”, “o gingado” e outras. Os textos a seguir fazem uma retomada das principais produções ao longo das décadas até os dias de hoje e, por último, apresentamos um texto sobre uma manifestação de arte contemporânea que nos faz pensar acerca dos nossos conceitos de arte, de cultura, de ética, sobretudo, de cidadania e humanidade. Afinal, qual o sentido da cultura, da arte, da ética sem a valorização, o respeito e a manutenção da vida? Veja você mesmo e reflita! TEXTO 14 A Era dos Festivais A música (“arte das musas”, em grego) é uma manifestação artística presente em todo agrupamento humano, desde os primórdios da civilização, cumprindo funções de ritual, combate, de narrar histórias ou como entretenimento. https://almanaque.abril.com.br/materia/musica A expressão Música Popular Brasileira, também conhecida pela abreviação MPB, refere-se a todos os gêneros musicais criados ou cultivados no país no decorrer de sua história, a partir da musicalidade inerente à cultura dos diferentes componentes de sua população e dos ritmos e tradições das diversas regiões do Brasil. O samba é, por excelência, a mais forte manifestação musical popular brasileira, mas também o são o choro, a seresta, a marcha-rancho, o baião, a música sertaneja e o frevo. Desde a sua origem, a MPB mistura elementos da música folclórica e incorpora as influências de ritmos estrangeiros. Nestas páginas, abordamos também a evolução da música clássica no Brasil. https://almanaque.abril.com.br/materia/musica-brasileira Um rico universo sonoro forma-se com as contribuições musicais das diversas etnias que compõem o povo brasileiro. Os colonizadores europeus trazem a tradição das peças eruditas europeias e um acervo de cantigas populares. Há as influências da música sacra, que chega com as missões católicas. Os escravos africanos praticam uma música marcada por forte energia rítmica e percussiva. E os indígenas contribuem com uma sonoridade intimamente ligada às cerimônias da vida tribal. https://almanaque.abril.com.br/materia/musica-brasileira-seculos-xvi-e-xvii A ERA DOS FESTIVAIS (DÉCADA DE 60) Década de 1960 • a era dos festivais Músicos ligados à bossa nova iniciam um movimento de revalorização do samba tradicional e da temática dos morros. Nara Leão grava músicas de Cartola e Nelson Cavaquinho. Em 1962, o Festival de Bossa Nova realizado no Carnegie Hall, em Nova York, dá projeção internacional ao gênero. Na mesma época, Celly Campello torna-se a primeira estrela nacional do rock, com os hits Estúpido Cupido e Banho de Lua, que levarão ao movimento chamado de jovem guarda. Em 1965, a TV Excelsior realiza o primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Em 1966 e 1967 são feitos outros dois pela TV Record, ambos em São Paulo. De 1966 a 1972, a TV Globo realiza o Festival Internacional da Canção, no Rio. Esses festivais revelam ao público músicos como Edu Lobo, Chico Buarque, Milton Nascimento e Elis Regina. A Record é palco da estreia do programa Jovem Guarda, que batiza o estilo. Com uma sonoridade próxima à do rock e letras descontraídas, a jovem guarda vira sucesso entre os jovens e destaca Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani, Ronnie Von e Vanusa. O tropicalismo surge no Festival da Record, em 1967, com os baianos Caetano Veloso (concorrendo com Alegria, Alegria) e Gilberto Gil (com Domingo no Parque). As guitarras de rock na apresentação causam rejeição de parte significativa do público. Como a plateia é constituída, sobretudo, de universitários, e os festivais aparecem como um espaço cultural de resistência ao regime militar, a guitarra é vista como apoio à cultura vinda dos Estados Unidos. A polêmica se estende nos meses seguintes com uma contraposição entre o uso de violão e o de guitarra. O disco-manifesto Tropicalia ou Panis et Circencis (1968), com a presença de Nara Leão, Tom Zé, Gal Costa, Os Mutantes e do maestro Rogério Duprat, traz referências ao cantor Vicente Celestino, ao rock e à bossa nova e reafirma a posição do grupo sobre a falsa oposição entre as formas supostamente “puras” da música brasileira e as influências do pop internacional. Na música erudita, os principais compositores são Gilberto Mendes, Willy Corrêa de Oliveira, Júlio Medaglia e Rogério Duprat, os dois últimos com presença importante também na música popular. A ERA DO RÁDIO A expansão do rádio leva ao surgimento dos primeiros ídolos populares. São vários compositores e intérpretes que despontam nesse período: Sinhô, o rei do samba; Ismael Silva, que dá forma definitiva ao gênero; Ary Barroso, autor de Aquarela do Brasil; Lamartine Babo, criador de marchas carnavalescas, como O Teu Cabelo Não Nega; Lupicínio Rodrigues, o compositor das grandes dores de amor; e ainda Jacob do Bandolim e Dorival Caymmi. Desse período, destaca-se o compositor Noel Rosa, de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, que traz maior complexidade para a música popular. Sua cantora preferida é Aracy de Almeida. Noel recria o cotidiano de maneira precisa e densa. No samba, sobressaem, também, os trabalhos de Heitor dos Prazeres, Ataulfo Alves, Cartola, Cyro Monteiro e Geraldo Pereira. Os grandes nomes do rádio são os intérpretes Carmen Miranda, Francisco Alves e Mário Reis. Na música clássica, destaca-se a apropriação de temas nacionais por compositores como Brasílio Itiberê e Luciano Gallet. Na Semana de Arte Moderna de 1922, Heitor Villa-Lobos aponta um novo rumo para a música nacional, trazendo elementos folclóricos e sonoridades diversas. Sua estética inspira compositores como Francisco Mignone, Camargo Guarnieri e Radamés Gnattali. Radicado no Brasil, o alemão Hans-Joachim Koellreutter lança, em 1939, o Movimento Música Viva, em que defende uma estética internacionalista, ligada ao dodecafonismo. SAMBA (1900 – 1920) VELHA-GUARDA - João da Baiana, Pixinguinha e Donga: pais do samba em entrevista em 1970 Crédito: ANTONIO ANDRADE O aparecimento da gravação mecânica possibilita a veiculação do trabalho de vários compositores que criam sobre ritmos e temas populares. Um exemplo é o poeta e músico Catulo da Paixão Cearense, autor de Luar do Sertão, compositor ligado às raízes sertanejas. Também são estabelecidas as condições para a origem do samba. De um lado, os negros pobres – recémlibertos, moradores de cortiços no Rio de Janeiro – continuam exercitando seus batuques e rodas de capoeira. De outro, ocorrem os pagodes nas festas das casas das “tias” baianas (a mais famosa é a Tia Ciata), depois dos ritos de devoção aos orixás. O Carnaval ganha importância e incorpora os blocos dos negros, com suas batucadas, e os ranchos organizados pelos mestiços, que se agrupam em corporações nas quais se desenvolve a marcha-rancho. Em 1917, Donga registra o samba Pelo Telefone, que marca o começo da profissionalização na música popular e o nascimento oficial do samba. É do mesmo ano a primeira gravação de Pixinguinha, que se tornará um dos mais importantes compositores nacionais. Ele instaura as bases da música popular, particularmente do choro, e dá início a uma linguagem orquestral brasileira. Outros nomes ligados à criação e ao amadurecimento do samba são Caninha e João da Baiana. Na música erudita, Leopoldo Miguez, seguidor da escola wagneriana, e Henrique Oswald, influenciado pelo impressionismo musical de Debussy, são os destaques no início do século XX. Nesse período, Alberto Nepomuceno, ao empregar elementos do folclore em suas composições, antecipa a busca de um estilo brasileiro perseguido por Heitor Villa-Lobos na primeira metade do século XX. A MÚSICA DE RAIZ (DÉCADA DE 1940) O rádio torna-se um importante veículo de difusão da música sertaneja de raiz, que, no decorrer da história, revela talentos como as duplas Tonico e Tinoco, Cascatinha & Inhana, Pena Branca e Xavantinho, Alvarenga e Ranchinho, Milionário & José Rico, além de nomes como Teixeirinha, Inezita Barroso e Sérgio Reis. Em 1946 é lançado Baião, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que marca o aparecimento de um estilo com sólidas raízes no folclore rural nordestino. Uma série de canções, como Asa Branca e Assum Preto, consolida o sucesso de Luiz Gonzaga. Brasileirinho (1947), de Waldir Azevedo, torna-se o maior sucesso da história do choro, sendo gravado por Carmen Miranda e, mais tarde, por músicos de todo o mundo. Destacam-se, ainda, Canhoto e Seu Regional (do qual participa o flautista Altamiro Carrilho), Nelson Cavaquinho, Zequinha de Abreu (autor de Tico-Tico no Fubá), Moreira da Silva e Adoniran Barbosa, autor de Trem das Onze. Na música erudita, Claudio Santoro, Guerra-Peixe, Eunice Catunda e Edino Krieger – discípulos de Hans-Joachim Koellreutter – buscam resgatar elementos nacionais nas composições. Guerra-Peixe e Santoro usam recursos da sonoridade regional, o que influencia a música popular instrumental. Outros nomes de destaque são Marlos Nobre e Almeida Prado. Choro animado (1850-1900) Desponta no Rio de Janeiro uma geração de compositores com obras criadas para o teatro de revista, sob a influência dos gêneros europeus de dança de salão, da modinha e do lundu. Trabalham com o choro – termo que, na época, designa grupos instrumentais populares que tocam à base de improvisação. Em 1899, Chiquinha Gonzaga compõe Ô Abre Alas, a primeira marcha carnavalesca. Com dezenas de peças teatrais e mais de 2 mil partituras, ela ajuda a consolidar a música popular brasileira. Outros nomes de destaque, como compositores de choro, foram Joaquim Antônio da Silva Callado e Ernesto Nazareth. BAIÃO E BOSSA NOVA (DÉCADA DE 50) BOSSA NOVA - Miúcha, João Gilberto e Chico Buarque: renovação nos ritmos e na harmonia O prestígio de Luiz Gonzaga abre caminho para que outros aprofundem o movimento de agregar ao sul a rica musicalidade do Nordeste. O baião, o coco e o xaxado são ritmos trazidos por artistas como Jackson do Pandeiro e Alvarenga e Ranchinho. Enquanto, de um lado, firma-se o baião, de outro, aparece o samba-canção. Esse samba mais lento, suave e com orquestração elaborada logo se torna um modismo. Sua temática gira em torno de grandes decepções amorosas. Antonio Maria, Dolores Duran, Marlene, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Angela Maria e Cauby Peixoto, entre outros, consolidam seu sucesso nessa época, marcada pelo apogeu do rádio. A suavização rítmica e as harmonias mais sofisticadas, introduzidas no samba pelo samba-canção, contribuem para o aparecimento da bossa nova. Nesse período, o jazz norte-americano já influencia intérpretes como Dick Farney, Lúcio Alves e Johnny Alf, este também compositor. Um dos marcos desse movimento é o disco Canção do Amor Demais, de Elizete Cardoso. Nele atuam, em especial na faixa Chega de Saudade, os três personagens mais importantes da bossa nova: Tom Jobim (o autor da música), o poeta Vinicius de Moraes e João Gilberto, que cria um estilo muito pessoal de acompanhamento ao violão. Pouco depois dessa gravação, João Gilberto gravou seu primeiro disco, Chega de Saudade. A faixa-título foi sucesso no Brasil, lançando a carreira de João Gilberto e, por consequência, todo o movimento da bossa nova. Outros destaques do movimento são Carlos Lyra, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. NOVOS NOMES (2000 – 2010) Maria Rita, filha de Elis Regina, destaca-se com seu primeiro disco. Bebel Gilberto, também filha de cantores (João Gilberto e Miúcha), consolida seu nome no Brasil e no exterior. O predomínio das vozes femininas na MPB é confirmada pelo surgimento de artistas como Ana Cañas, Ceumar, Fernanda Cunha, Céu, Mariana Aydar, Bruna Caram, Maria Gadú e Vanessa da Mata. DIVERSIDADE MUSICAL (DÉCADA DE 70) O espaço aberto pelos festivais na TV e a disseminação dos televisores e de emissoras de rádio de alta frequência (AM) e de frequência modulada (FM) abrem espaço para uma nova geração de artistas. De Alagoas vem Djavan; do Ceará, Belchior, Fagner e Ednardo; de Pernambuco, Alceu Valença; da Paraíba, Zé Ramalho e Elba Ramalho; da Bahia, os Novos Baianos; do Rio de Janeiro, Luiz Melodia, Beth Carvalho e Luiz Gonzaga Júnior (Gonzaguinha); de São Paulo, Guilherme Arantes; de Minas Gerais, músicos que se ligam a Milton Nascimento, como Beto Guedes, Wagner Tiso, Toninho Horta e Lô Borges. No samba, sobressaem Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Clementina de Jesus, Ivone Lara, João Bosco e Aldir Blanc. Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia e Clara Nunes firmam-se como as cantoras de maior prestígio. No meio da década, há uma onda de rock nacional pós-jovem guarda. Destacam-se Raul Seixas, Rita Lee e o grupo Tutti Frutti, Erasmo Carlos e sua Cia. Paulista de Rock, Made in Brazil, Casa das Máquinas, O Terço (RJ) e Almôndegas (RS). Nesse período, a banda paulistana Secos & Molhados ganha notoriedade. Na música instrumental, destacam-se Hermeto Pascoal, Naná Vasconcelos e Egberto Gismonti, que obtêm público e reconhecimento no Brasil e no exterior. ROCK E VANGUARDA (DÉCADA DE 80) Surge uma vanguarda paulistana, com temática urbana e elementos eruditos e experimentais. Os expoentes são Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e o grupo Rumo. Despontam bandas de rock, como RPM, Legião Urbana, Blitz, Ira, Engenheiros do Hawaii, Capital Inicial, Os Paralamas do Sucesso, Titãs e Barão Vermelho. Surgem também nomes como Lobão, Cazuza, Sandra de Sá, Leo Jaime, Marina Lima, Lulu Santos e Arnaldo Antunes. Na MPB, consolida-se a cantora Simone, além de novos nomes, como Fátima Guedes e Zizi Possi. No fim da década, o grupo paraense Kaoma faz sucesso internacional com a lambada, iniciando uma onda de ritmos dançantes. RITMOS POPULARES (DÉCADA DE 1990) O Brasil volta-se para seus ritmos, e cerca de 80% do que se vende e ouve é música popular brasileira. Os gêneros de maior sucesso são o pagode – Só pra Contrariar, Negritude Júnior, Zeca Pagodinho –, a axé music, com Daniela Mercury e o grupo É o Tchan, e a música sertaneja, com Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó. Surge o rap, um gênero de declamação rítmica e musical que faz parte da cultura do hip-hop, com destaque para o grupo Racionais MC’s e Rappin Hood. Em Pernambuco, emerge o movimento mangue beat, de Chico Science & Nação Zumbi, e, no Rio, o funk carioca, com Claudinho e Buchecha e Latino. Em 1997, a “paradinha funk” é introduzida no Carnaval por Mestre Jorjão, da Escola de Samba Viradouro. No rock, surgem as bandas Cidade Negra, Los Hermanos, Skank, Raimundos, Jota Quest e Charlie Brown Jr. A banda mineira Sepultura consolida nome e carreira no exterior. Na MPB despontam Adriana Calcanhotto, Cássia Eller, Fernanda Porto, Marisa Monte, Chico César, Carlinhos Brown, Zeca Baleiro, Rita Ribeiro, Lenine, Mônica Salmaso, Renato Braz e o virtuose do violão Yamandu Costa. (Fonte: http://historiandonanet07.wordpress.com/2011/06/11/era-dos-festivais/) TEXTO 15 Uma peleja da arte contra as cidades que não sentem Praça da Sé em pleno horário de almoço comercial: paulistanos em sua pressa rotineira e turistas orientais perdidos em suas fotos de monumentos, não reparam em meio à multidão – ou propositalmente não olham – aqueles sentados e deitados em cantos e muretas. Aqueles que sempre estão ali, que moram ali, em todo lugar, ou em lugar nenhum. Os moradores de rua, ou como muitas vezes também são chamados, mendigos. Ninguém os percebe mais, já fazem parte da vista do ambiente. Quem mais os observa, mas com olhos de vigia, são os homens fardados, da Guarda Civil Metropolitana, que ficam dando volta pela praça – feito mariposa em volta da “lâmpida”, como já disse Adoniran. Mas no dia 26 de julho, desta vez bem no meio da praça, outras pessoas começam a sentar e deitar. Mas estas, aos olhos da sociedade, não são invisíveis. São brancas. E estão bem vestidas, com trajes elegantes. Calmamente esticam seus cobertores velhos, feitos de feltro cinza, os mesmos panos usados pelos tais moradores de rua – e ali se instalam. Em fração de segundos, e sobressalto, aparecem as câmeras, em quantidade surpreendente. Rapidamente um aglomerado se forma, algo como 70 pessoas ocupando metade da praça. Alguns leem livros ou papéis, tricotam, muitos conversam entre si, e outros simplesmente se sentam, deitam e se deixam estar. Das centenas de pessoas que por ali passam, muitos observam por alguns instantes e continuam seu caminho, sem vontade de entender, ou tirando suas próprias conclusões. “Ah! Estão fazendo novela!” – uma senhora exclama para outra, aliviada por descobrir o motivo daquele inesperado alvoroço. “Vai sair na internet! Essas fotos vão sair na internet, hein!”, prevê um homem, ironizando os 15 minutos de fama que qualquer um pode ter hoje em dia graças à rede. O primeiro conceito, ou o preconceito: “Burgueses! Passem uma noite na rua pra saber como é bom!” E como deixar de lado o clássico argumento do trabalho, ainda presente: “Bando de vagabundos!”. Me aproximo de Maria Merquido da Silva, 57 anos, que por algum tempo ficou a observar tudo aquilo, de corpo e olhos vidrados, e peço por uma pergunta: “Você sabe o que eles estão fazendo?”. Ela leva alguns segundos para voltar da onde estava até que finalmente se vira pra mim sorrindo: “Acho que sei. Eles estão protestando, não é?”. “Sim”, confirmo, “mas por quê?”. “Acho que é pela liberdade dos moradores de rua”. Maria tem o costume de cumprimentar os mais conhecidos, com a maior naturalidade da gentileza que gera gentileza. Principalmente aqueles que dormem em frente à Caixa Econômica, onde ela trabalha. Ela e seus colegas já viram muitos serem maltratados, e não concorda, procurando compreendê-los: “Nunca se sabe se algum dia sou eu quem vai estar aí, não é mesmo?”. Maria acertou em cheio. Foi exatamente por isso que o coletivo de teatro Cia. Autoretrato tomou a iniciativa do ato. Chamado de Deitaço, contou com a participação de outros coletivos de teatro amigos, como Território B e Núcleo 1408. Como foi divulgado por email e nas redes sociais, convidava toda a sociedade a participar. Depois de começar a frequentar mais o centro de São Paulo para ensaiar uma peça, o coletivo, formado por cerca de quinze artistas, testemunhou uma série de atitudes violentas por parte da Guarda Civil Metropolitana. Entre elas, uma registrada em vídeo, na qual guardas arrancam os poucos pertences que os moradores de rua possuem– papelão, cobertores, e até bolsas com documentos – e levam, sem saber pra onde vai. No mesmo dia do acontecimento, o grupo foi até a Defensoria Pública para denunciar o abuso inconsciente das autoridades. Descobriram, nesse momento, que não eram os únicos que haviam feito uma denúncia, mas que isso não significava muita coisa. Segundos os advogados, a ação pública de nada adianta, se não tiver visibilidade. Foi aí que surgiu a ideia de fazer o Deitaço, com o objetivo de chamar atenção da sociedade e fazer um teste com a polícia. Também aconselhados, pretendem encaminhar e protocolar a denúncia em todas as instâncias. Por mais que pequena e um tanto estática, a cena atraía facilmente a atenção dos que passavam, e muitos não se aguentavam de curiosidade. Construiu-se uma espécie de palco aberto, onde qualquer pessoa podia entrar e interagir como quisesse, deixando muitos à vontade para chegar, perguntar e até opinar. Pelo ouvido de Marina Carazza, atriz do coletivo Autoretrato, infelizmente os pensamentos conservadores foram os mais escutados. Ainda que muitos concordassem que existe um problema, há o juízo de que os mendigos deixam a rua feia e suja e que, por isso, precisam ser retirados dali urgente. Como se realmente fosse algo para ser higienizado – não seres humanos que precisam e têm direito a casa, comida e trabalho. Como o que está sendo feito na gestão municipal que já contabiliza oito anos, entre José Serra e Gilberto Kassab. Tentar esconder os moradores de rua em regiões menos populosas da cidade. Empurrá-los para dentro de albergues que não tem estrutura e não dão o atendimento que deveriam, de saúde e capacitação profissional. Uma verdadeira segregação social. O mais instigante para os observadores pareceu, entretanto, a enorme contradição proposital que ali existia, entre o comportamento daquelas pessoas, como se morassem na rua, e a aparência que elas tinham. “É lógico que a polícia não vai fazer nada com vocês! Vocês são da classe média!”, alguém disse para Marina, sem perceber que a questão central é exatamente essa. O que o coletivo imaginava e queria testar se comprovou: um grupo de pessoas que tem uma melhor situação financeira, ou pelo menos aparenta ter, pode sentar no meio da praça e ficar quanto tempo desejar; alguém em situação de miséria e abandono, não. Eles são menos cidadãos? De qualquer forma, seja lá qual foi a natureza das reações, o que importa é que o debate tomou vida. A rua, que o governo quer esvaziar mais ainda do que ela já é, graças ao individualismo e o medo dos paulistanos, foi ocupada. A arte provou sua força de voz,com seu impacto subjetivo, às vezes muito maior do que de uma passeata, com palavras e barulhos bagunçados. E, apesar da internet ser uma das grandes culpadas pela espetacularização, ela também possui a capacidade de potencializar os pequenos acontecimentos, como diz Gabriel Medina no vídeo abaixo. É a conexão rua e rede, que pode tornar possível a reocupação do espaço público. Que já começou. NÃO DEIXE DE CONFERIR ESTE LINK! http://www.outraspalavras.net/2012/08/01/uma-peleja-da-arte-contra-as-cidades-que-nao-sentem/ Podemos considerar os jogos olímpicos um retrato intercultural e por isso merece a nossa atenção e tem o seu destaque no cenário da cultura. Entender a sua origem, a sua importância, fatos marcantes, a participação brasileira, as olimpíadas de Londres com todas as suas superações e produções, interesses e desinteresses é amplificarmos a nossa lente para além da nossa própria marca e cultura, transpondo-a e transformando-a! TEXTO 16 Origem dos Jogos Olímpicos Os Jogos Olímpicos se originaram em Olímpia (Grécia antiga) em meados de 776 a.C., onde existem registros em pedra em ruínas do templo de Hera que comprova esta data. Naquele período, os jogos eram realizados aos deuses gregos, sendo que Zeus era o mais homenageado, pois na cidade havia um grande templo em homenagem a ele e quando esses jogos ocorriam Zeus era chamado Zeus Olímpico. Como os jogos eram realizados no templo de Zeus, não era permitida a entrada de mulheres no local, Ruínas de Olímpia, antiga sede dos Jogos Olímpicos somente homens participavam e assistiam o evento. Os homens que participavam dos jogos eram escolhidos após rígidas investigações de conduta, sendo que qualquer violação era motivo para que esse fosse punido severamente. Ainda, os participantes chegavam ao templo de Zeus antes da data em que os jogos se iniciavam, pois era obrigatório que os participantes se preparassem físico e espiritualmente para as competições. Apesar dos jogos serem de caráter religioso, também era utilizado para apregoar a paz e a harmonia entre os gregos. Para os vencedores das competições, era entregue uma coroa, alimentação gratuita por toda a sua vida, garantia de seu lugar em teatros e o título de herói de sua cidade. Com a invasão romana sobre os gregos, os Jogos Olímpicos foram perdendo sua força e sua identidade. Os jogos então eram realizados entre escravos e animais selvagens, o que foi proibido em 392 a.C. pelo imperador romano Theodosius I quando se converteu ao cristianismo, proibindo também toda e qualquer manifestação pagã na Grécia. Por Gabriela Cabral / Equipe Brasil Escola (Fonte: http://www.brasilescola.com/educacaofisica/origem-dos-jogos-olimpicos.htm) TEXTO 17 A importância dos Jogos Olímpicos Arcos, símbolos dos Jogos Olímpicos. Desde sua criação, há mais de 2.700 a.C, os Jogos Olímpicos assumiram um papel fundamental na vida dos gregos. Para se ter uma ideia, as competições eram capazes de interromper as guerras entre as cidades, num ritual conhecido por “trégua sagrada”. Posteriormente, após a tentativa do francês Barão de Coubertin em reviver o espírito das primeiras competições, os Jogos Olímpicos passaram a ser um evento globalizado e de grande importância em todo o mundo. Um exemplo disso é sua própria bandeira, que representa a união dos cinco continentes. Quando foram celebrados os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, se pretendia apenas realizar um evento que reunisse algumas centenas de pessoas que praticavam o esporte como atividade de tempo. Mal sabia o Barão de Coubertin que a competição iria se transformar em um dos principais eventos culturais do planeta, ultrapassando, sem dúvida, os limites do esporte. A notoriedade dos Jogos Olímpicos, criada tanto pelo seu caráter simbólico quanto pela sua dimensão material, fez com que o evento se transformasse em palco de diversas manifestações políticas ao longo do século XX. Alguns exemplos: Nas Olimpíadas de Berlim em 1936, Adolf Hitler se recusou a reconhecer as vitórias do atleta norte-americano negro Jesse Owens; nas Olimpíadas de Munique (1972), um atentado de um grupo terrorista palestino matou 11 atletas de Israel; os Estados Unidos se recusaram a participar dos Jogos de Moscou (1980), e a URSS, das Olimpíadas de Los Angeles (1984), em um claro contexto da Guerra Fria. Os Jogos Olímpicos podem proporcionar um significativo avanço econômico para a cidade e o país-sede do evento. Embora o fato de se candidatar ao megaevento exija uma série de responsabilidades, principalmente em relação à infraestrutura das cidades-candidatas, os benefícios econômicos gerados pelos jogos são bem maiores do que os próprios investimentos para sua realização. A projeção da cidade e do país-sede do evento é tamanha, que é capaz de provocar profundas e permanentes mudanças socioeconômicas positivas. A atração de turistas de diversas partes do mundo faz com que melhorias estruturais permanentes sejam feitas, como rede de transporte, moradia e instalações esportivas. Sem contar nos inúmeros novos postos de trabalho que são gerados direta ou indiretamente através do evento. (Fonte: http://www.brasilescola.com/educacaofisica/a-importancia-dos-jogos-olimpicos.htm) TEXTO 18 Fraudes Olímpicas na Antiguidade A ambição de muitos atletas antigos acabava degradando o caráter esportivo e religioso das Olimpíadas Gregas. Ao contrário do que muitos chegam a imaginar, os jogos olímpicos da Antiguidade não envolviam apenas uma celebração aos deuses adorados pelos gregos. Treinamentos exaustivos, alimentação balanceada e a remuneração dos atletas já eram práticas comuns nos jogos disputados na Grécia. Ao longo do tempo, a competição conferia prestígio e poder às cidades-Estado vencedoras, que passaram a patrocinar os atletas que disputariam os jogos. Curiosamente, até a compra do “passe” de determinados atletas era feita pelas cidades-Estado. No ano de 580 a.C., o legislador grego Sólon estipulou uma lei pela qual os vencedores olímpicos teriam direito a um prêmio de aproximadamente 500 dracmas. A quantia era suficiente para, por exemplo, adquirir um considerável rebanho de ovelhas. Além do prêmio, os campeões olímpicos desfrutavam de outras regalias, como a isenção no pagamento de impostos. Ao longo do tempo, o espírito competitivo das demais cidades-Estado impeliu as mesmas a tomar medidas semelhantes às adotadas pelos atenienses. Além de incitar a disputa, o espírito competitivo acabou perdendo lugar para o interesse financeiro. Alguns atletas, interessados por um prêmio mais pomposo, chegavam a se vender para competir por outras cidades-Estado e os atletas começaram a ser treinados e peneirados graças à ação de perspicazes professores de Educação Física. No ano de 388 a.C., o atleta cretense Sotades – que tinha vencido a última competição olímpica de corrida de daulichos – aceitou competir pela cidade de Éfeso. Os cretenses ficaram inconformados com a atitude de Sotades e, por isso, resolveram puni-lo com o exílio. O atleta Astilo de Crotona, uma das mais vitoriosas cidades-Estado da Grécia Antiga, disputou as Olimpíadas de 492 a.C. pela cidade de Siracusa. Esses seriam alguns dos casos onde o espírito esportivo perdia espaço para o interesse material. Na XCVIII Olimpíada, o pugilista Eupolos subornou três de seus adversários para que ele ganhasse a competição. O senado da cidade Olímpia resolveu punir os atletas corruptos com uma multa em dinheiro. Com os recursos arrecadados foram construídas estátuas em homenagem a Zeus, sendo que em uma delas foram registrados os seguintes dizeres: “Não é com dinheiro, e sim com pernas rápidas e um corpo robusto que se alcança a vitória de Olímpia”. Todos estes casos de corrupção acabam com o ideal de que os povos gregos eram honrados e competiam, apenas, em busca da glória e do reconhecimento. Estes personagens históricos não viviam em um tempo em que o interesse e a corrupção estavam radicalmente subordinados a valores morais incorruptíveis. Assim, como nos dias de hoje, a vaidade e o interesse pessoal foram questões presentes nas Olimpíadas disputadas na Grécia Antiga. Por Rainer Sousa Mestre em História (Fonte: http://www.brasilescola.com/educacaofisica/fraudes-olimpicas-na-antiguidade.htm) TEXTO 19 O Brasil nos Jogos Olímpicos O Brasil conquistou suas primeiras medalhas em jogos olímpicos em 1920; desde então, dezenas foram conquistadas, tanto ouro, como prata e bronze. Muito embora os Jogos Olímpicos da Era Moderna tenham tido início em 1896, as primeiras medalhas conquistadas pelo Brasil em Jogos Olímpicos de Verão ocorreram apenas em 1920, nos Jogos de Antuérpia. A seguir será apresentada uma tabela com os Jogos Olímpicos e o quadro de medalhas conquistadas pelo Brasil a cada edição dos Jogos. Ano Cidade-Sede Ouro Prata Bronze 1920 Antuérpia 1 1 1 1948 Londres 0 0 1 1952 Helsinque 1 0 2 1956 Melbourne/Stocolmo 1 0 0 1960 Roma 0 0 2 1964 Tóquio 0 0 1 1968 México 0 1 2 1972 Munique 0 0 2 1976 Montreal 0 0 2 1980 Moscou 2 0 2 1984 Los Angeles 1 5 2 1988 Seul 1 2 3 1992 Barcelona 2 1 0 1996 Atlanta 3 3 9 2000 Sidney 0 6 6 2004 Atenas 5 2 3 2008 Pequim 3 4 8 Jogos de 1920 – As medalhas foram conquistadas por Guilherme Paraense, na pistola rápida (ouro); Afrânio da Costa, na pistola livre (prata); e Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Sebastian Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade, na pistola em equipe (bronze). Jogos de 1948 – Conquistou a medalha de bronze com a equipe masculina de basquetebol, composta por: Alberto Marson, Alexandre Gemignani, Alfredo Rodrigues da Mota, Affonso de Azevedo Évora, João Francisco Brás, Luís Benvenuti, Marcus Vinícius Dias, Massinet Sorcinelli, Nilton Pacheco de Oliveira, Ruy de Freitas e Zenny de Azevedo. Jogos de 1952 – A medalha de ouro foi conquistada no salto triplo por Adhemar Ferreira da Silva. O primeiro bronze também veio do atletismo, no salto em altura, de José Telles Conceição, enquanto o segundo bronze foi conquistado por Tetsuo Okamoto, nadando os 1.500m livres. Jogos de 1956 – A única medalha dessa edição dos Jogos foi conquistada novamente por Adhemar Ferreira da Silva, em prova de salto triplo. Jogos de 1960 – As duas medalhas de bronze foram conquistadas na natação e no basquetebol. Manoel dos Santos venceu a prova dos 100 metros livres. A seleção de basquete, responsável pela aquisição da medalha, foi composta por: Algodão, Amaury, Wlamir, Mosquito, Édson, Fernando, Jathyr, Rosa Branca, Sucar, Moyses, Waldemar e Waldyr. Jogos de 1964 – Mais uma vez o basquete alcançou o terceiro lugar na competição. O time, dessa vez, foi composto por: Amaury, Wlamir, Mosquito, Rosa Branca, Jathyr, Edson Bispo e Sucar, Ubiratan, Friedrich Wilhelm Braun, Victor Mirschawka, Sérgio Machado e Edvar Simões. Jogos de 1968 – O melhor resultado brasileiro veio, mais uma vez, com o salto triplo, mas agora quem disputava era Nelson Prudêncio. Os dois bronzes vieram do boxe, com Servílio de Oliveira, e da vela, disputada por Reinald Conrad e Burkhard Cordes. Jogos de 1972 – As duas medalhas conquistadas foram o bronze. Uma delas por Nelson Prudêncio, no salto triplo, e a segunda com o judô, na categoria meio-pesado, por Chiaki Ishii. Jogos de 1976 – Mais uma vez o salto triplo foi responsável pelo pódio brasileiro, mas dessa vez, com João do Pulo. A outra medalha de bronze veio da vela, com Reinald Conrad e Peter Ficker. Jogos de 1980 – As duas medalhas de ouro vieram da vela, com Alexandre Welter e Lars Bjorkstrom e com Marcos Pinto Rizzo Soares e Eduardo Penido. Os bronzes vieram com João do Pulo, no salto triplo, e com a equipe de revezamento 4 x 200m na natação, formada por Jorge Fernandes, Marcus Mattioli, Ciro Delgado e Djan Madruga. Jogos de 1984 – Ouro conquistado no atletismo, nos 800m rasos, por Joaquim Cruz. O voleibol e o futebol masculinos levaram a prata, assim como Ricardo Prado, nos 400m medley (natação), Torben Grael e Daniel Adler, na vela e Douglas Vieira, no judô. Aliás, o judô também foi responsável pelos dois bronzes, com Walter Carmona e Luís Onmura. Jogos de 1988 – Aurélio Miguel, no judô, foi o responsável pelo único ouro brasileiro. Já as pratas foram conquistadas por Joaquim Cruz, nos 800m rasos, e pelo futebol masculino. Robson Caetano, nos 200 rasos, Torben Grael e Nelson de Barros Falcão, na vela, e Lars Grael e Clinio Freitas, também na vela, ganharam o terceiro lugar. Jogos de 1992 – O vôlei masculino e o judô, com Rogério Sampaio, ganharam ouro. Já a prata foi alcançada por Gustavo Borges, na natação. Jogos de 1996 – Foram muitas as medalhas conquistadas pelo Brasil, em Atlanta. Robert Scheidt e Torben Grael e Marcelo Ferreira conquistaram duas medalhas de ouro, em categorias diferentes da vela, assim como o voleibol feminino de praia. Vôlei de praia feminino também levou a prata, junto com Gustavo Borges, na natação, e o basquete feminino. Os bronzes ficaram por conta do vôlei feminino de quadra, duas conquistas na natação, duas no judô, hipismo, vela, futebol masculino e revezamento 4 x 100m no atletismo. Jogos de 2000 – Nessa edição, o Brasil não conquistou a primeira colocação em nenhuma modalidade, porém levou seis pratas e seis bronzes. As pratas foram no vôlei de praia feminino e masculino, vela, duas no judô e uma no revezamento do atletismo. Basquete, vôlei de praia e vôlei de quadra femininos, vela, hipismo e natação ganharam o bronze. Jogos de 2004 – Ao contrário de 2000, a edição de 2004 teve cinco ouros brasileiros: vôlei de praia e de quadra masculinos, hipismo e duas conquistas na vela. As mulheres se responsabilizaram pelas medalhas de prata com o voleibol e o futebol. Duas medalhas de bronze foram levadas pelo judô e a terceira pela maratona. Jogos de 2008 – Ouro conquistado na natação, no salto em distância e no voleibol feminino. Vôlei de quadra e de praia masculinos, futebol feminino e vela ganharam a prata. E por fim, o judô conquistou três de bronze, junto com a natação, o taekwon-do, a vela, o vôlei de praia masculino e o futebol masculino. (Fonte: http://www.brasilescola.com/educacaofisica/o-brasil-nos-jogos-olimpicos.htm) TEXTO 20 Olimpíadas de Londres 2012 Informações, Jogos Olímpicos, cerimônia de abertura e encerramento, mascotes, foto, modalidades, tocha olímpica, modalidades. Estão sendo realizados na cidade de Londres (Inglaterra), os XXX Jogos Olímpicos. A abertura ocorreu no dia 27 de julho. A cerimônia de encerramento ocorrerá no dia 12 de agosto. O lema dos jogos é "Live is one" ("Viva como se fosse o único"). O estádio Olímpico de Londres foi construído no Parque Olímpico. Sua capacidade é de 80.000 Estádio Olímpico de Londres (foto de janeiro de 2012) espectadores. Com toda estrutura em aço, o estádio recebeu a cerimônia de abertura em 27 de julho. A cerimônia de encerramento (12 de agosto) assim como todas as provas de atletismo ocorrerão neste estádio. As cerimônias de abertura e encerramento serão aproximadamente, 4 bilhões de pessoas no mundo todo. vistas pela televisão por, Mascotes das Olimpíadas de Londres 2012 Wenlock e Mandeville Os mascotes das Olimpíadas de Londres se chamam Wenlock e Mandeville. São duas gotas de aço feitas em animação de cartoon. Tocha Olímpica A Tocha Olímpica foi anunciada em 26 de maio de 2010. Ela passou pelas mãos de, aproximadamente, 8.000 pessoas, durante 70 dias antes do evento. A tocha saiu da Grécia em 18 de maio e chegou em Londres no dia 21 de julho de 2012. Antes da cerimônia de abertura, a tocha olímpica foi conduzida por sete dias dentro da cidade de Londres. Medalhas Olímpicas As medalhas foram confeccionadas pela empresa Royal Mint (situada no sul de Gales). Foram produzidas 4.700 medalhas que teve como designer um artista britânico. Os ingressos Ingressos das Olimpíadas 2012 Os ingressos tem cores diferentes, de acordo com o local onde a modalidade esportiva será disputada. Cada ingresso apresenta também um desenho que simboliza um esporte. Para que não haja falsificações, os ingressos apresentam recursos como, por exemplo, código de barras, holograma e nome do comprador impresso. Participação do Brasil O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) definiu que a delegação brasileira, que participará das Olimpíadas de Londres, será composta por 259 atletas. Serão 136 homens e 123 mulheres que disputarão 32 modalidades olímpicas. Atletas brasileiros que ganharam medalhas nas Olimpíadas de Londres 2012 (até 08/08/2012): Medalha de ouro - Sarah Menezes no judô (categoria ligeiro, até 48 kg). - Arthur Zanetti nas argolas. Medalha de prata - Thiago Pereira na natação masculina (400 metros medley) Medalha de Bronze - Mayra Aguiar no judô (categoria até 78 kg). - Rafael Silva no judô (categoria acima dos 100 kg). - Cesar Cielo na natação (50 metros livres). - Robert Scheidt e Bruno Prada na Vela (classe Star). - Felipe Kitadai no judô (categoria até 60 kg). - Adriana Araújo no boxe (categoria até 60 kg) - Juliana e Larissa no vôlei de praia. Voce sabia? - Durante toda história dos Jogos Olímpicos Modernos, várias modalidades esportivas foram excluídas do quadro de esportes olímpicos. Alguns exemplos: cabo de guerra, croquet, críquete, raquets, esqui aquático, golfe, hóquei sobre patins, patinação artística, pelota basca, motonáutica, pólo equestre, roque e rugbi. - Para participar dos Jogos Olímpicos, um atleta tem que ser aprovado pelo Comitê Olímpico de seu país e também pelo COI (Comitê Olímpico Internacional). Deve também participar de competições oficiais classificatórias (torneios pré-olímpicos). Nestes torneios, o atleta deve obter índices e/ou classificação determinados pelos comitês, de acordo com sua modalidade esportiva, , que lhe garantam a participação. - A expectativa é de que participem, nas Olimpíadas 2012, cerca de 10.500 atletas de 192 países e 13 territórios. (Fonte: http://www.suapesquisa.com/olimpiadas2012/) Por falar em Olimpíadas e para concluir esta coletânea, seguem três charges intituladas Olimpíadas 2016. Para refletir e tirar suas próprias conclusões: A quais temas estas charges fazem alusão? Quais os aspectos sociais, éticos, políticos e culturais direta ou indiretamente ali envolvidos? OLIMPÍADAS 2016 (Fonte das charges: http://www.papodebuteco.org/2011/08/charge-olimpiadas-rio-2016.html)