ISSN 1516-4349
Agrofloresta para Agricultura Familiar
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A agricultura familiar no Brasil exerce um importante papel como principal fonte de
abastecimento de alimentos do mercado interno. Apesar de representar uma significativa
parcela na produção nacional, os agricultores familiares ainda carecem de sistemas de
produção apropriados à sua capacidade de investimento, ao tamanho de suas propriedades
rurais e ao tipo de mão-de-obra empregada.
A técnica denominada agrofloresta ou sistema agroflorestal (SAF) é interessante para a
agricultura familiar por reunir vantagens econômicas e ambientais. A utilização sustentável
dos recursos naturais aliada à uma menor dependência de insumos externos que
caracterizam este sistema de produção, resultam em maior segurança alimentar e economia,
tanto para os agricultores, como para os consumidores.
Nos sistemas agroflorestais de alta diversidade convivem na mesma área plantas frutíferas,
madeireiras, graníferas, ornamentais, medicinais e forrageiras. Cada cultura é implantada no
espaçamento adequado ao seu desenvolvimento e as suas necessidades de luz, de
fertilidade e porte (altura e tipo de copa) são cuidadosamente combinadas.
Brasília, DF
Dezembro, 2002
Autores
Marcio Silveira
Armando
MSc, Biólogo
Ynaiá Masse Bueno
MSc, Agrônoma
Edson Raimundo da
Silva Alves
Bs, Agrônomo
Carlos Henrique
Cavalcante
Técnico em editoração
eletrônica.
O sistema é planejado para permitir colheitas desde o primeiro ano de implantação, de forma
que o agricultor obtenha rendimentos provenientes de culturas anuais, hortaliças e frutíferas
de ciclo curto, enquanto aguarda a maturação das espécies florestais e das frutíferas de ciclo
mais longo. Assim, o maior número de produtos disponíveis para a comercialização em
diferentes épocas do ano e ao longo do tempo, incrementa a renda e aproveita melhor a
mão-de-obra familiar.
A reciclagem mais eficiente dos nutrientes é uma característica marcante deste sistema de
produção. A biomassa depositada no solo pela queda de folhas, pela poda de ramos e por
resíduos das culturas anuais melhora a oferta de nutrientes aos cultivos e favorece a atuação
de microorganismos benéficos do solo.
Espécies forrageiras perenes permitem a criação de animais, ao mesmo tempo que protegem
o solo das chuvas torrenciais, da insolação direta e dos ventos secos, típicos das regiões
tropicais. A melhor adaptação da agrofloresta ao clima tropical, comparada a outros sistemas
de produção de alimentos, deve ser considerada na tomada de decisão pela sua adoção.
Em suma, a diversificação de produtos, a maior segurança alimentar, a sustentabilidade
ambiental, o incremento na fertilidade do solo e a redução gradativa nos custos de produção
fazem da agrofloresta uma excelente opção para a agricultura familiar no Brasil.
Desenho da Agrofloresta
A reunião de diferentes culturas em um mesmo sistema de produção exige um planejamento
da distribuição espacial das plantas e da sua evolução no tempo.
O planejamento de sistemas biodiversos (com muitas espécies) leva em conta as
necessidades de luz, o porte, a forma do sistema radicular de cada espécie e seu
comportamento no tipo de clima e de solo local. Além disso, é considerado o efeito de cada
espécie no crescimento e produção das demais espécies do sistema ao longo do tempo e
dentro do espaço disponível. Á este processo denomina-se desenho de um sistema
agroflorestal.
Assim, no desenho da agrofloresta pensamos no espaço horizontal (distância entre duas
plantas medida pelo chão) e também no espaço vertical , porque nestes sistemas plantas
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Agrofloresta para Agricultura Familiar
crescendo lado a lado podem ocupar alturas diferentes.
Utilizando-se uma analogia com a construção de um
prédio, as plantas vão ocupar diferentes “andares” no
sistema, e esses andares serão ocupados por diferentes
espécies ao longo do tempo, da mesma forma que em uma
floresta natural. Por exemplo: um mamoeiro aos seis meses
de idade estará ocupando o 2º andar da agrofloresta, com
um ano estará no 3º andar e aos tres anos terá deixado o
sistema (a variedade de mamoeiro utilizada tem um ciclo de
vida útil de dois anos).
Mesmo assim, uma infinidade de desenhos diferentes pode
ser concebida, reunindo as espécies de interesse
econômico, social e cultural de cada território ou
ecorregião.
Agrofloresta da Vitrine de
Tecnologias da Embrapa
A pesquisa, o desenvolvimento e a transferência de
tecnologias agropecuárias que atendam aos preceitos da
sustentabilidade é uma diretriz estratégica da Embrapa.
A inclusão social e uma melhor distribuição de renda
passam, necessariamente, por uma maior facilidade de
acesso à sistemas de produção geradores de renda e de
melhor qualidade de vida para os agricultores e para a
sociedade em geral.
Nesta Circular Técnica são relacionados, de forma sucinta
e objetiva, aspectos do planejamento de sistemas
agroflorestais biodiversos e instruções sobre a implantação
de um módulo de agrofloresta, com seu respectivo custo.
Para finalizar, são feitas algumas recomendações sobre o
manejo do sistema e sobre a evolução da agrofloresta ao
longo do tempo.
O sistema agroflorestal apresentado reúne 36 espécies
diferentes e está exposto à visitação pública na Vitrine de
Tecnologias da Embrapa Sede, em Brasília.
O plantio foi realizado durante o terço inicial da estação
chuvosa em Brasília, em novembro e dezembro de 1999.
Nele estão associados essências florestais, frutíferas,
forrageiras, hortaliças, grãos, plantas medicinais e
biopesticidas (plantas que controlam pragas e parasitas).
Plantas nativas do Cerrado e da Amazônia foram incluídas,
com o intuito de observar seu comportamento em sistemas
agroflorestais no Cerrado.
A Fig. 1 representa, esquematicamente, esse sistema,
onde foram incluídas somente 12 das 36 espécies, para
facilitar a visualização do conjunto.
Os nomes populares e científicos das espécies utilizadas
encontram-se na Tabela 1.
Agrofloresta para Agricultura Familiar
Tabela 1. Nomes populares e científicos das plantas da
agrofloresta
Nome popular
Nome científico
Abacaxi
Açaí
Açoita-cavalo
Amarantos
Ananas comosus
Euterpe oleracea
Luehea divaricata
Amaranthus caudatus,
A.cruentus, A.hypocondriacus
Carapa guianensis
Alpinia purpurata
Musa cavendish, M.paradisiaca
Etlingera elatior
Coffea arabica
Peltophorum dubium
Cedrella odorata
Copaifera langsdorffii
Crotalaria breviflora, C. juncea,
C. paulinea
Theobroma grandiflorum
Phaseolus vulgaris
Canavalia brasiliensis
Canavalia ensiformis
Gliricidia sepium
Heliconia bihai, H. psittacorum,
H. chartacea
Carica papaya
Manihot esculenta
Cucumis anguria
Zea mays
Swiethenia macrophylla
Azadirachta indica
Cucumis sativus
Bactris gasipaes
Zingiber spectabilis
Lycopersicon esculentum
Andiroba
Alpínia
Banana
Bastão-do-Imperador
Café
Canafístula
Cedro
Copaíba
Crotalárias
Cupuaçu
Feijão
Feijão bravo
Feijão-de-porco
Gliricídia
Helicônias
Mamão
Mandioca
Maxixe
Milho
Mogno
Nim
Pepino
Pupunha
Sorvete
Tomate
Dentre estas, temos várias espécies multi-uso, importantes
em sistemas biodiversos por ampliarem as possibilidades
de êxito ambiental e comercial do sistema:
• andiroba: madeira para móveis de luxo, óleo das
sementes repelente de insetos e matéria-prima para
cosméticos;
• açaí: palmito, frutos e atração da fauna silvestre;
• cedro: madeira e folhas repelentes de insetos (gorgulhos
e carunchos);
• copaíba: madeira e óleo medicinal;
• gliricídia: florestal, forrageira, moirão vivo, melífera e
sombreamento para o café;
• plantas de cobertura: incorporação e ciclagem de
nutrientes, proteção do solo, inibição de invasoras,
abrigo e alimento para inimigos naturais de pragas,
associação com microorganismos úteis.
A implantação de agroflorestas é muito facilitada
trabalhando-se em módulos. Apresenta-se a seguir um
módulo básico de 225 m² (15 m x 15 m) que pode ser
repetido quantas vezes for necessário e na medida da
capacidade de investimento do agricultor familiar.
Etapas de implantação de um
módulo de Agrofloresta
A implantação do módulo de agrofloresta inicia-se pela
limpeza do terreno, aração, calagem e gradeação (procure a
orientação de um técnico da extensão rural, em caso de
dúvidas nesta fase). Em seguida, abrem-se covas de
40 cm x 40 cm x 40 cm, adubadas com material orgânico
da propriedade, e realiza-se o plantio de mudas e de
sementes. Estas operações são apresentadas a seguir,
divididas em quatro etapas, para facilitar o trabalho no
campo.
Etapa 1. Espécies florestais e biopesticidas
As plantas utilizadas nesta agrofloresta podem ser
classificadas em oito categorias:
1. Espécies florestais: mogno, copaíba, açoita-cavalo,
cedro e canafístula
2. Biopesticidas: nim, andiroba
3. Frutíferas de ciclo curto: abacaxi, melancia, tomate,
maxixe, pepino, mamão
4. Frutíferas de ciclo médio: cupuaçu, açaí, banana,
pupunha, café
5. Culturas anuais: milho, feijão, mandioca
6. Espécies forrageiras: gliricídia, amaranto
7. Plantas de cobertura: crotalárias, feijão-de-porco, feijãobravo
8. Espécies ornamentais: helicônias, alpínia, bastão do
imperador.
As espécies florestais, plantadas no espaçamento
3 x 3 metros, formam a base do desenho da agrofloresta.
São plantadas, em linhas alternadas:
a) Mogno e andiroba, sendo 2 mudas de andiroba entre
cada mogno
b) Copaíba e nim (alternadamente, ao longo da linha) ;
c)Mogno e gliricídia, sendo 2 mudas de gliricídia entre
cada mogno (igual ao item (a), trocando-se a
andiroba pela gliricídia).
O plantio das mudas ocorre 15 a 20 dias após a adubação
das covas. Logo após o plantio, realizar a cobertura da
coroa (círculo de um metro ao redor das plantas) com
capim seco, palha de café ou com outra cobertura morta
disponível na propriedade.
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4
Agrofloresta para Agricultura Familiar
A altura ideal das mudas para o plantio é em torno de 30 a
40 cm, o que dispensa o tutoramento e facilita o seu
transporte para o campo. As estacas de gliricídia de
2,20 m de altura também são plantadas neste momento,
enterrando-as até a profundidade de 50 cm (apontar as
estacas para que penetrem no solo do fundo das covas,
antes de fechá-las).
Ao final desta etapa ter-se-á linhas de mogno e gliricídia,
linhas de copaíba e nim e linhas de mogno e andiroba.
As mudas de andiroba também podem ser plantadas
intercaladas com as estacas de gliricídia, mantendo-se o
espaçamento de 3 m x 3 m em toda a área do módulo.
Nas falhas das cinco espécies acima descritas são
plantadas, após o 2º ano, mudas de açoita-cavalo,
canafístula e cedro, totalizando oito espécies florestais e
biopesticidas no sistema. A densidade de plantio utilizada
resulta em 1.111 árvores por hectare.
LEGENDA
-
NIM
COPAÍBA
MOGNO
GLIRICÍDIA OU ANDIROBA
- PUPUNHA
- MAMÃO
- CAFÉ
- BANANA
- CUPUAÇU
- AÇAI
- MANDIOCA
- ABACAXI (Fila Dupla)
- MILHO + FEIJÃO
ESCALA 1:100
Agrofloresta para Agricultura Familiar
Etapa 2. Frutíferas de ciclo médio
Nas entrelinhas das florestais são plantadas as frutíferas de
ciclo médio, em linhas alternadas de:
d) Pupunheiras;
e) Bananeiras, açaí e cupuaçu (este último plantado só no
2º ano).
As pupunheiras são plantadas em covas de mesma medida
das anteriores, no espaçamento de 1 metro entre plantas,
em uma linha no centro da entrelinha das florestais já
plantadas. Recomenda-se realizar o coveamento desta
etapa após o plantio das florestais, porque as mudas já
plantadas serão o balizamento das linhas de covas desta
etapa.
As bananeiras são plantadas em covas de mesma medida
das anteriores, no espaçamento de 3 metros entre plantas,
em uma linha no centro da entrelinha das florestais já
plantadas. O açaí e o cupuaçu alternam-se nos espaços
entre as bananeiras, na mesma linha de plantio destas.
O cupuaçu só será plantado a partir do 2º ano, quando as
bananeiras já proporcionarem o sombreamento suficiente.
Ao final desta etapa ter-se-á linhas de florestais a cada
3 metros com linhas de bananeiras e pupunheiras,
alternadamente, ocupando as entrelinhas das florestais.
LEGENDA
-
NIM
COPAÍBA
MOGNO
GLIRICÍDIA OU ANDIROBA
- PUPUNHA
- MAMÃO
- CAFÉ
- BANANA
- CUPUAÇU
- AÇAI
- MANDIOCA
- ABACAXI (Fila Dupla)
- MILHO + FEIJÃO
ESCALA 1:100
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Agrofloresta para Agricultura Familiar
Etapa 3. Frutíferas de ciclo curto, ornamentais e café
As frutíferas de ciclo curto e o café são plantadas:
b) Entre as pupunheiras e as florestais: mamão e café;
c) Entre as pupunheiras e as florestais: ornamentais
(3º ano, após as anuais).
a) Ao longo das linhas de florestais: fileira dupla de
abacaxi;
LEGENDA
-
NIM
COPAÍBA
MOGNO
GLIRICÍDIA OU ANDIROBA
- PUPUNHA
- MAMÃO
- CAFÉ
- BANANA
- CUPUAÇU
- AÇAI
- MANDIOCA
- ABACAXI (Fila Dupla)
- MILHO + FEIJÃO
ESCALA 1:100
Agrofloresta para Agricultura Familiar
Etapa 4. Anuais, forrageiras, hortaliças e plantas de
cobertura
São plantadas nos espaços ao longo das linhas de:
f) Bananeiras, açaí e cupuaçu: mandioca.
g) Nas covas de florestais e frutíferas: melancia, tomate
industrial, maxixe e pepino rasteiro.
d) Pupunheiras: milho e feijão (seguidos de amaranto ou
sorgo na safrinha);
e) Pupunheiras consorciadas com café e mamão:
feijão-de-porco, crotalárias
LEGENDA
-
NIM
COPAÍBA
MOGNO
GLIRICÍDIA OU ANDIROBA
- PUPUNHA
- MAMÃO
- CAFÉ
- BANANA
- CUPUAÇU
- AÇAI
- MANDIOCA
- ABACAXI (Fila Dupla)
- MILHO + FEIJÃO
ESCALA 1:100
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Agrofloresta para Agricultura Familiar
Na Tabela 2, dispõem-se os espaçamentos utilizados na agrofloresta, de acordo com suas espécies.
Tabela 2. Espaçamentos das culturas na agrofloresta.
Florestais
Frutíferas
Mogno 6 x 9m
Cupuaçu 6 x 6m Heliconias
1 m x 1,5 m
Nim6 x 6m
Açaí6 x 6m
Ornamentais
Forrageiras
Anuais
Gliricídia3 x 6m Milho 5 sem / m
Zingiberáceas
1,5m x 1,5m
Copaíba 6 x 6m Pupunha1 x 6 m
Andiroba 3 x 6m Banana3 x 6 m
Feijão-de-porco
5 sem / m
Amaranto
20 sem / m
Mandioca
0,6 x 0,8m
Crotalárias
20 sem / m
Mucunas
10 sem / m
Tomate industrial
12 sem/cova
Mamão 2 x 2
x 10m
Pepino rasteiro
6 sem/ cova
Abacaxi 0,30 m
x 0,40m x 3m
Melancia 6 sem/ cova
Ao implantar vários módulos lado a lado, deve-se manter
uma distância de 3 metros entre os módulos, o que
manterá os espaçamentos referidos na Tabela 1.
Indicadores de custo de implantação de
um módulo de agrofloresta.
Para elaborar o custo de implantação de uma agrofloresta,
realiza-se um levantamento de todos os insumos e
materiais necessários para a sua instalação (Tabela 4).
As operações necessárias para a realização das atividades
também devem ser consideradas, para verificar-se
indicadores de gastos com mão-de-obra (Tabela 3).
Desta forma, para instalar um módulo de 225 m2 de
agrofloresta é necessário investir R$ 219,75, adotando-se
o desenho apresentado neste trabalho. Deste total, os
gastos com insumos, materiais e serviços representam
56,86% e os gastos com mão-de-obra representam
43,14% dos custos diretos.
Cumpre ressaltar que nas Tabelas 3 e 4 são apresentados
coeficientes técnicos e indicadores de preços pagos para
orientar técnicos e produtores no cálculo dos seus
respectivos custos. Estes valores são indicativos porque
podem variar de acordo com o tamanho do módulo, o
desenho do sistema, o nível tecnológico do manejo, as
espécies culturais e operações de cultivo usadas, na
especificidade de cada propriedade rural.
É importante salientar que as espécies podem ser
substituídas, de acordo com sua disponibilidade,
adequando-se seu porte, necessidade de nutrientes e luz
ao desenho do sistema (ver o item Correções e Reforma do
Sistema, no capítulo Manejo do Sistema).
Feijão-bravo 5 sem / m
Feijão10 sem / m
Café 2 x 2
x 10 m
Observação Importante
Pl.cobertura
Em relação à mão-de-obra, a implantação de um módulo de
225 m² exige 7,9 dias/homem. As operações necessárias
para realizar as atividades de implantação foram divididas
em: coleta de amostras para a análise do solo, marcação e
abertura de covas para o plantio de espécies florestais e
frutíferas, distribuição de adubos e semeadura, adubação e
plantio de mudas. Os custos de implantação das
ornamentais não foi computado nas Tabelas 3 e 4, por
serem implantadas só a partir do 3º ano.
MANEJO DA AGROFLORESTA
O manejo da agrofloresta é simples. Veja alguns lembretes
importantes.
Culturas anuais
Nos primeiros anos, enquanto forem cultivados milho,
feijão, mandioca e amaranto, os tratos culturais são os
normais para estes cultivos: adubação orgânica, capinas e
colheita, sempre lembrando de retornar os resíduos de
colheita (palhadas do milho, feijão e amaranto, ramas e
folhas da mandioca) para o solo. Neste sistema de
produção o agricultor deve manter o solo coberto com
palha e folhedo, protegendo-o da insolação e mantendo a
umidade junto às raízes superficiais.
Hortaliças rústicas
As hortaliças rústicas e a melancia são semeadas nas
covas de florestais e de frutíferas, aproveitando a
adubação já feita para as árvores. A cobertura do solo
resultante do seu crescimento é um fator importante para o
crescimento do sistema.
Agrofloresta para Agricultura Familiar
Tabela 3. Indicadores de uso de mão-de-obra para a implantação de um módulo de 225 m² de
agrofloresta (valores em R$ de dezembro de 2.002)
Plantas de cobertura
Após a colheita das culturas anuais de verão pode ser
semeada uma safrinha, sendo interessante incluir
leguminosas nesta fase, para formar uma palhada mais rica
em nutrientes que permaneça cobrindo o solo durante a
estação seca. As espécies mais usadas para este fim são o
feijão bravo, as crotalárias e a mucuna cinza, semeados
depois da primeira capina do milho, do milheto, do sorgo
ou do amaranto de safrinha. A proporção de sementes de
leguminosas deve ser ajustada de forma a permitir a
colheita da safrinha e também produzir um bom volume de
biomassa que cubra o solo durante a seca (Tabela 1).
Em geral a leguminosa é semeada nas entrelinhas da
cultura principal, após a primeira capina, 20 a 30 dias
após o plantio.
A seguir dá-se o exemplo de algumas associações para a
safrinha no cerrado:
• Milho com feijão-bravo;
• Amaranto com feijão-bravo ;
• Sorgo granífero com feijão-bravo.
O feijão-bravo é planta semi-perene que rebrota após a
colheita do amaranto, do sorgo ou do milho, formando
uma cobertura verde sobre o solo durante a estação seca.
Em geral, as plantas de cobertura devem ser cortadas
quando entrarem em floração, deixando-se algumas linhas
para a colheita de sementes. O material cortado não deve
ser incorporado, só espalhado sobre o solo, sendo base
para o plantio direto do ciclo seguinte.
Ornamentais
As plantas ornamentais são incluídas no sistema para
aproveitar um espaço semi-sombreado entre as frutíferas e
florestais, após o 3º ano, quando não há mais luz
suficiente para as anuais. As helicônias e alpínias crescem
bem no sistema e são uma opção interessante para
melhorar a renda do agricultor familiar, devido ao seu ciclo
curto e ao valor de mercado das flores de corte.
Adubação
As fruteiras, o café e as florestais podem ser adubados em
cobertura com biofertilizantes líquidos e farelados
produzidos na própria fazenda. Esta prática reduz os
custos e facilita o trabalho para o agricultor, evitando o
revolvimento do solo por enxada ou trator. A adubação da
agrofloresta também é feita pelas podas e pela capina
seletiva, já que o material resultante da capina seletiva e
das podas é espalhado sobre o solo e, depois de
decomposto, libera nutrientes para os cultivos.
9
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Agrofloresta para Agricultura Familiar
Tabela 4. Indicadores de custo direto de implantação de um módulo de 225 m² de
agrofloresta (valores em R$ de dezembro de 2.002)
Item
Unidade
Quantidade
Preço Unitário
Valor
Feijão-de-porco
Amaranto
Milho
Sorgo
Feijão
Feijão-bravo
Crotalaria juncea
Crotalaria breviflora
Copaíba
Banana
Abacaxi
Mamão
Açaí
Pupunha
Cupuaçú
Café
Mogno
Andiroba
Nim
Açoita-cavalo
Canafístula
Cedro
Gliricídia (estaca)
Esterco de poedeiras
Calcário dolomítico
Arado (3 discos)
Grade (24 discos)
Carreta dist. Calcário
Kg
Kg
Kg
Kg
Kg
Kg
Kg
Kg
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Muda
Kg
Kg
Hora/Máquina
Hora/Máquina
Hora/Máquina
0,5
0,5
0,1
0,5
0,5
0,5
0,5
0,5
6
15
600
10
9
30
9
10
6
6
9
1
1
1
6
50
100
0,07
0,03
0,03
1,80
2,00
2,00
3,00
3,00
2,00
3,00
3,00
0,50
0,50
0,05
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,10
0,10
35,00
35,00
35,00
0,90
1,00
2,00
1,50
1,50
1,00
1,50
1,50
3,00
7,50
30,00
5,00
4,50
15,00
4,50
5,00
3,00
3,00
4,50
0,50
0,50
0,50
3,00
5,00
10,00
2,45
1,05
1,05
—
—
—
—
—
—
Total insumos e serviços
Mão-de-obra (Tabela 3)
Total do módulo
—
—
—
Podas de formação
Cada espécie tem um lugar a ocupar no desenho, de
acordo com sua altura e tipo de copa. Assim, planta-se
gliricídia para sombrear o café e as outras fruteiras de
sombra: pupunha, açaí e cupuaçu. A poda de formação é
utilizada para evitar a competição de duas plantas pelo
mesmo “andar” no SAF. Durante esta prática de manejo,
cortamos galhos de uma planta do segundo andar
(a gliricídia, por exemplo) que estiverem ocupando lugar
no primeiro andar, direcionando seu crescimento para
ocuparem seu lugar de sombreadora, acima das plantas do
andar inferior (acima do café, por exemplo). Esta prática é
sempre acompanhada da capina seletiva.
Capina seletiva
Quando faz-se a poda, aproveita-se para realizar a capina
seletiva, arrancando-se pela raiz todos os capins e as ervas
invasoras em floração. Esta prática é muito importante,
124,95
94,80
219,75
pois evita que haja a concorrência daquelas ervas com as
culturas que serão implantadas após a poda. Durante a
capina seletiva, deixa-se o mato sobre o solo, para
enriquecê-lo com seus nutrientes. Com o sombreamento
progressivo e a cobertura verde das plantas cultivadas e de
suas palhadas, o controle de ervas invasoras é muito
facilitado, tornando a capina seletiva um trabalho cada vez
mais leve.
Deve-se ter o cuidado, durante esta prática de manejo, de
preservar as árvores jovens que estão nascendo,
marcando-as com estacas do próprio material da poda.
Elas são o futuro do sistema e serão manejadas mais tarde,
de acordo com seu porte e função que ocuparão na
agrofloresta.
Agrofloresta para Agricultura Familiar
Evolução da agrofloresta no tempo
Para realizar um bom manejo é fundamental compreender
que os sistemas agroflorestais evoluem no tempo,
obedecendo à uma ordem sequencial natural, chamada de
sucessão ecológica. O processo de sucessão opera
ininterruptamente na natureza e, agindo-se de forma a
favorecê-lo e acelerá-lo, têm-se grandes vantagens no
manejo da agrofloresta.
Um sistema com grande número de árvores e arbustos
jovens em rápido crescimento é a situação ideal a
almejar-se com o manejo, pois nesta há melhor
aproveitamento da energia radiante do Sol pela
fotossíntese e máxima captura de carbono da atmosfera, o
que contribui para reduzir o aquecimento global.
Correções e reformas no sistema
O periódico rejuvenescimento da agrofloresta, através das
podas, da capina seletiva e do plantio das espécies dos
próximos estágios da sucessão mantêm o sistema em
constante evolução, obtendo-se o máximo proveito
agronômico do processo natural de sucessão ecológica.
Quando o crescimento das plantas de andares mais baixos
está sendo prejudicado pelo excesso de sombreamento, ou
quando o agricultor perceber algum erro cometido no
desenho, as correções podem ser feitas em alguns trechos
ou até em todo o sistema, neste último caso trata-se de
uma reforma.
Nas reformas são feitas podas drásticas, seguidas do
plantio de mudas e da semeadura de espécies mais
exigentes em luz e nutrientes, como milho, abóbora,
melancia, hortaliças rústicas e frutíferas, aproveitando a
boa adubação que resulta da matéria orgânica depositada
no solo durante a reforma do sistema. Este é o momento
propício para incluir novas espécies no sistema, quando
percebe-se que há recursos disponíveis (água, solo, luz,
nutrientes) ainda não aproveitados. Esta análise é muito
facilitada pelo surgimento de invasoras. A espécie dita
invasora se instala porque existem recursos disponíveis
Circular
Técnica, 16
Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Serviço de Atendimento ao Cidadão
Parque Estação Biológica, Av. W/5 Norte (Final) Brasília, DF. CEP 70.770-900 - Caixa Postal 02372
PABX: (61) 448-4600 Fax: (61) 340-3624
http://www.cenargen.embrapa.br/publica/
download.html
e.mail:[email protected]
1a edição
1a impressão (2002): 150 unidades
não aproveitados pelas espécies já implantadas. E a maior
parte das invasoras pode ser substituída por outra espécie
com o mesmo tipo de crescimento, porte e ciclo e que
tenha características agronômicas desejáveis.
Assim, pode-se manejar com inteligência o sistema,
incluindo, logo após a capina seletiva ou no momento do
plantio, espécies que cumpram a função das invasoras e
que tragam benefícios adicionais ao sistema. Esta
estratégia da invasora escolhida, portanto, pode ser
preventiva ou corretiva.
Referências Bibliográficas
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publicações
Expediente
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Secretário-Executivo: Miraci de Arruda Camâra Pontual
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Marcos Rodrigues de Faria
Marta Aguiar Sabo Mendes
Sueli Correa Marques de Mello
Vera Tavares Campos Carneiro
Supervisor editorial: Miraci de Arruda Camâra Pontual
Normalização Bibliográfica: Maria Alice Bianchi
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Agrofloresta para agricultura familiar.